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CÁLCULO DOS COEFICIENTES PARCIAIS DE SEGURANÇA PARA PONTES DE


CONCRETO PROTENDIDO SOB SOLICITAÇÕES NORMAIS COM BASE NA
TEORIA DA CONFIABILIDADE

Conference Paper · November 2017

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Silvia Sarmiento
University of Campinas
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CÁLCULO DOS COEFICIENTES PARCIAIS DE SEGURANÇA PARA
PONTES DE CONCRETO PROTENDIDO SOB SOLICITAÇÕES NORMAIS
COM BASE NA TEORIA DA CONFIABILIDADE
ASSESSMENT OF THE PARTIAL SAFETY FACTORS FOR PRESTRESSED
CONCRETE BRIDGES UNDER NORMAL LOADS BASED ON THE RELIABILITY
THEORY.

Silvia Juliana Sarmiento Nova (1); Maria Cecilia Amorim Teixeira da Silva (2)

(1) Estudante Doutorado, Departamento de Estruturas, Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e


Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas
email: sjsarmiento.n@gmail.com
(2) Professora Doutora, Departamento de Estruturas, Faculdade de Engenharia Civil Arquitetura e
Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas
email: cecilia@fec.unicamp.br
Universidade Estadual de Campinas – FEC - DES, Sala 9.

Resumo
Com o propósito de comparar os coeficientes parciais de segurança atualmente estabelecidos na norma
ABNT NBR-6118/2014 com os obtidos através de uma análise de confiabilidade detalhada para pontes de
concreto protendido, apresenta-se o cálculo do índice de confiabilidade β e da probabilidade de falha Pf
para um caso de estudo de uma ponte de viga-e-laje sob solicitações normais. Os valores do índice de
confiabildade são expressos em termos de coeficientes parciais de segurança para realizar a comparação
com a norma brasileira. Para avaliar a segurança da estrutura, implementam-se dois métodos: o Método de
Simulação do Hipercubo Latino (LHS) e o Método de Confiabilidade de Segunda Ordem (SORM), os quais
são aplicados criando-se uma rotina no programa MATLAB. Da análise de confiabilidade efetuada, conclui-
se que é recomendável realizar uma avaliação da segurança detalhada e específica para pontes em
concreto protendido, com o objetivo de se obter uma possível redução dos coeficientes parciais de
segurança e, portanto, do custo de sua construção, sem deixar de garantir uma margem de segurança
adequada.
Palavra-Chave: Confiabilidade, Pontes, Concreto Protendido.

Abstract
In order to compare the partial safety factors that presently are established in ABNT NBR-6118/2014 with the
factors obtained through a detailed reliability analysis of prestressed concrete bridges, the reliability index β
and the probability of failure Pf for a case of study are found. The case of study consists in a prestressed
concrete bridge under normal loads. The reliability index value is expressed in terms of partial safety factors
to be compared to the Brazilian standard. For the reliability assessment, two methods are implemented: the
Latin Hypercube Simulation (LHS), and the Second Order Reliability Method (SORM), and they are applied
by creating a routine in the software MATLAB. From the reliability analysis carried out, it is concluded that it
is recommendable to use a detailed and specific safety assessment for prestressed concrete bridges, in
order to achieve a possible reduction of the partial safety factors and therefore reduce the cost in their
construction, without setting aside an adequate safety margin.
Keywords: Reliability, Bridges, Prestressed Concrete.

ANAIS DO 59º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2017 – 59CBC2017 1


1 Introdução
As normas de projeto de estruturas têm passado por diferentes evoluções através do
tempo na medida em que o entendimento do comportamento das estruturas avança. Ao
longo desse desenvolvimento, foi possível observar que uma análise estrutural depende
de diversos fatores, muitos dos quais não podem ser controlados de forma absoluta pois
são passíveis de uma variabilidade, produzida por diversas fontes de incerteza.
Normas como o EUROCODE (2001) e as normas brasileiras NBR 6118(2014) e NBR
8681(2003), que estão relacionadas ao projeto de estruturas de concreto, avaliam a
segurança estrutural através do uso de coeficientes parciais de segurança. Estes
coeficientes são utilizados na majoração dos valores característicos das ações por um
lado e na minoração das resistências dos materiais por outro. Segundo SANTOS e EBOLI
(2006), os coeficientes parciais de segurança das normas são muitas vezes definidos
empiricamente.
Atualmente as incertezas tendem a aumentar devido a que os sistemas estruturais têm se
tornado cada vez mais complexos, conduzindo à necessidade de implementar uma
análise probabilística completa na avalição da segurança estrutural. Em consequência,
algumas normas de projeto passaram por um processo de calibração por meio do qual
estabeleceu-se uma forma rápida e eficaz de introduzir procedimentos probabilísticos em
seus conteúdos. Este procedimento é chamado, na literatura corrente, de calibração de
norma, onde os coeficientes parciais são determinados tomando-se como medida de
segurança uma probabilidade de falha ou um índice de confiabilidade alvo.
Normas como a AASHTO LRFD (2012) passaram por esse processo de calibração e
fatores de resistência e de ações baseados no índice de confiabilidade β foram
estabelecidos. Os coeficientes parciais de segurança das normas brasileiras são
baseados em normas estrangeiras correlatas, e não tem passado por uma calibração com
base em confiabilidade, segundo SOUZA (2008).
Diferentes métodos probabilísticos têm sido desenvolvidos e implementados com o
objetivo de encontrar a probabilidade de falha de uma estrutura. Dos métodos comumente
utilizados destacam-se: 1) métodos analíticos como o Método de Confiabilidade de
Primeira Ordem (FORM) e o Método de Confiabilidade de Segunda Ordem (SORM), e 2)
métodos de simulação como o método de Monte Carlo e o método LHS (Latin Hypercube
Sampling).
Tendo em vista que as pontes de concreto protendido constituem uma grande proporção
da rede viária e que há uma carência de estudos nessa área, no presente trabalho foi
avaliada a segurança de uma ponte de concreto protendido, escolhida como caso de
estudo. O índice de confiabilidade β e a correspondente probabilidade de falha P f da
estrutura são calculados empregando-se duas abordagens: o Método de Confiabilidade
de Segunda Ordem (SORM) e a Simulação do Hipercubo Latino (LHS). Por meio do
índice de confiabilidade, os coeficientes parciais de segurança da estrutura em análise
são calculados e comparados com os coeficientes atualmente definidos na norma NBR
6118 (2014).

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2 Descrição do Problema
2.1 Generalidades
Através de um estudo de caso, implementam-se dois métodos para o cálculo do índice de
confiabilidade β que, por sua vez, é utilizado no cálculo dos coeficientes parciais de
segurança da estrutura.
Os dois métodos empregados são: a Simulação do Hipercubo Latino (LHS) e o Método de
Confiabilidade de Segunda Ordem (SORM). Os valores obtidos pelos dois métodos são
comparados com a finalidade de validar os resultados.
2.2 Características do Estudo de Caso
A estrutura escolhida como estudo de caso compreende uma ponte rodoviária de um
único vão de comprimento L= 26 metros, como é mostrado na Figura 1. A ponte é
constituída por uma laje de 8 metros de largura e por quatro vigas protendidas de seção
variável, mostradas na Figura 2. A Figura 3 apresenta o detalhe da seção transversal de
uma das vigas protendidas e de um guarda-corpo da ponte.

Figura 1 – Vista Longitudinal da Ponte.

Figura 2 – Vista Transversal da Ponte.

Foram estabelecidas como solicitações atuantes na estrutura: o peso próprio dos


elementos estruturais DC e não estruturais DW, a força dos cabos protensão e a carga do
tráfego que é tomada como sendo o peso do veículo de projeto Ve e uma carga
distribuida Ca, segundo definido pela norma AASHTO LRFD (2012) (isto devido a que a
ponte foi projetada segundo essas especificações). Na Figura 4 mostra-se o detalhe da
trajetória parabólica dos cabos de protensão em L/2.

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Figura 3 – a). Detalhe da Viga Protendida sem a laje, b). Detalhe A: Guarda Corpo.

Figura 4 – Detalhe da Trajetória dos Cabos de Protensão em L/2.

2.3 Considerações para Análise de Confiabilidade


Para o cálculo do índice de confiabilidade β é necessário que os casos mais prováveis de
falha da estrutura sejam definidos. Para o estudo de caso anteriormente descrito,
assume-se a ocorrência de falha da estrutura quando um dos seus elementos principais
falha, ou seja, quando uma das suas vigas prontendidas atinge um determinado Estado
Limite. Segundo AKGÜL e FRANGOPOL (2004), os casos mais prováveis de falha para
uma viga protendida são: flexão positiva na seção crítica, flexão negativa na seção crítica
e tensão à tração do concreto.
Levando-se em consideração que a ponte do estudo de caso é constituída por vigas bi-
apoiadas, os casos de falha a serem considerados foram reduzidos a: flexão positiva no
meio do vão e tensão à tração do concreto.
2.3.1 Funções Estado Limite
Na determinação das Funções Estado Limite foram considerados os requerimentos
estabelecidos na AASHTO LRFD (2012).
2.3.1.1 Flexão Positiva no Meio do Vão

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A Função Estado Limite G1 para uma viga submetida à flexão é definida através da
Equação 1:
G1  M u  ( M DC  M DW  M LL  IM ) (Equação 1)
sendo,
 a
M u  A ps f ps  d p   (Equação 2)
 2

M LL IM  M ve  1  IM   M ca   DFM (Equação 3)

onde Mu é o momento último resistente, DC e DW são os pesos próprios da estrutura e


dos elementos não estruturais, respectivamente, MDC e MDW são os momentos devidos a
esses pesos próprios, LL e IM representam a carga variável e o fator do efeito dinâmico
chamado de fator de impacto, respectivamente, MLL+IM é o momento devido à carga
variável acrescida do impacto da carga veicular, fps é a tensão média no aço de
protensão, Aps é a área transversal do cabo de protensão, dp é a distância entre a
extremidade à compressão extrema até o centróide dos cabos de protensão, a é a
profundidade equivalente do bloco de tensão, Mve e Mca são os momentos advindos da
carga veícular e da carga distribuida na laje, e DFM é o fator de distribuição dos
momentos.
Substituindo-se as Equações 2 e 3 na Equação 1 obtém-se finalmente a Equação 4 que
define a primeira Função Estado Limite:

 a
G 1  Aps f ps  d p    M DC  M DW  M ve  1  IM   M ca   DFM (Equação 4)
 2

2.3.1.2 Tensão à Tração do Concreto


No presente trabalho foi considerada a Função Estado Limite G2 para a tensão à tração
do concreto de uma viga protendida, mostrada na Equação 5:

G 2  16 f ' c  ( f pb  f DC  f DW  f LL  IM ) (Equação 5)
sendo,

f pb  
P final

P final  ei
(Equação 6)
AG S Gi
M DC
f DC  (Equação 7)
S Gi
M DW
f DW  (Equação 8)
S Gi
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M LL  IM
f LL  IM  (Equação 9)
S Gi

onde f´c é a resistência característica à compressão do concreto (aos 28 dias) em kN/m2;


fpb é a tensão à flexão na extremidade inferior da viga devido à força de protensão; fDC,
fDW e fLL+IM são as tensões à flexão na extremidade inferior da viga devidas à carga
permanente dos elementos estruturais, à carga permanente dos elementos não
estruturais, e às cargas variáveis incluindo o impacto por carga veicular, respectivamente,
Pfinal é a força da protensão após as perdas totais, ei é a excentricidade individual de cada
cabo da armadura de protensão, e SGi é o módulo de seção em relação à extremidade
inferior da viga.
Substituindo-se as Equações 6 a 9 na Equação 1, obtém-se a Função Estado Limite G2
expressa na Equação 10:

  Pfinal  Pfinal  ei M DC M DW M LL  IM 
G 2  16 f ' c         (Equação 10)
 AG S Gi S Gi S Gi S Gi 
 

2.3.1 Variáveis Aleatórias


As variáveis aletórias foram escolhidas seguindo o recomendado por alguns estudos
anteriomente realizados relacionados com a avaliação da segurança de vigas em
concreto protendido. Na tabela 1 são mostradas as variáveis aleatórias escolhidas
juntamente com a distribuição de probabilidade e o coeficiente de variação Vx assumidos.
Na Tabela 1 também são referenciados os trabalhos de onde cada parâmetro foi extraído.
Na Figura 5 algumas das variáveis aleatórias são ilustradas.

Tabela 1 – Variáveis Aleatórias para G1 e G2 e as respectivas Distribuições de


Probabilidade e os Coeficientes de Variação Vx.
Variável Distribuição de
Vx Referência
Aleatória Probabilidade
Aps Normal 0,0125 AKGÜL E FRANGOPOL (2004)
ybs Normal 0,08 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), STEINBERG (2010)
yGc Normal 0,009 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), STEINBERG (2010)
b Normal 0,004 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), STEINBERG (2010)
AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), NOWAK E
f’c Log-Normal 0,15
COLLINS (2000)
fpu Log-Normal 0,025 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994)
hviga Normal 0,008 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), STEINBERG (2010)
Pinicial Normal 0,05 AKGÜL E FRANGOPOL (2004)
DC Normal 0,1 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994)
Mve Gumbel 0,25 AI-HARTHY E FRANGOPOL (1994), STEINBERG (2010)

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Figura 5 – Ilustração das Variáveis Aleatórias.

3 Cálculo dos Coeficientes Parciais de Segurança


Nas normas de projeto estrutural foram introduzidos os coeficientes parciais de segurança
com o propósito de garantir uma margem de segurança tanto na resistência quanto nas
ações. Portanto, os coeficientes parciais são calculados para as propriedades da
resistência de cada tipo de material que compõe a estrutura, e para cada uma das ações
consideradas na análise.
Junto com os coeficientes parciais de seguraça foi introduzido o conceito dos valores
característicos, os quais são definidos para a solicitação (Sk) e para a resistência (Rk), nas
Equações 11 e 12, respectivamente:
S k   S  uS S (Equação 11)
R k   R  u R R (Equação 12)

onde µS e µR são as médias probabilísticas da solicitação e da resistência,


respectivamente, uS e uR são as variáveis normais reduzidas (as quais estão
relacionadas ao quantil pré-estabelecido) e σS e σR são os desvios-padrão da solicitação e
da resistência, respectivamente.
A margem de segurança que é estabelecida através dos coeficientes parciais pode ser
traduzida pela Equação 13:

Rk
  S S k (Equação 13)
R
Com a intenção de projetar estruturas para uma probabiliade de falha determinada, os
coeficientes parciais de segurança são definidos em função de um índice de
confiabilidade alvo β0, o qual é obtido através da implementação de uma análise de
confiabilidade. Para fins do presente estudo, o índice de confiabilidade é calculado por
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meio do método SORM, e será validado através de uma comparação estabelecida com o
índice de confiabilidade obtido por meio de um método de simlação (LHS).
Pela Teoria da Confiabilidade estrutural, sabe-se que o ponto de projeto no espaço
original é definido pela Equação 14, que estabelece a relação entre o coeficiente parcial
de segurança e o índice de confiabilidade alvo.

xi*  i   i  0 i (Equação 14)

onde αi é o fator de sensibilidade o qual é calculdo através do método FORM. A relação


entre o ponto de projeto e os coeficientes parciais de segurança S e R é estabelecida
através das Equações 15 e 16, respectivamente:

 S  S * S k (Equação 15)
Rk
R  (Equação 16)
R*
onde S* e R* são os valores da solicitação e da resistência no ponto de projeto.
Visto que uma Função Estado Limite geralmente não está constituida por apenas duas
variáveis (R e S), deve-se definir o cálculo dos coeficientes parciais de segurança,
levando-se em consideração todas as variáveis aletórias envolvidas, como foi feito em
VROUWENVELDER e SIEMES (1987). Por exemplo, para o momento resistente de uma
viga protendida definido pela Equação 17, pode ser obtido o valor no ponto de projeto em
função das variáveis aleatórias, como é especificado na Equação 18, e finalmente o
coeficiente parcial da resistência no caso da Função Estado Limite G1 é obtido através da
Equação 19:


M u  Aps f ps d p  a 2  (Equação 17)


M u*  A*ps f ps* d *p  a 2  (Equação 18)

Mu
R  (Equação 19)
M u*

4 Métodos de Avaliação da Segurança Estrutural


Como mencionado anteriormente, o presente trabalho implementa dois métodos de
avaliação da segurança estrutural, os quais tem como medida da segurança o índice de
confiabilidade β e a respectiva probabilidade de falha Pf.
4.1 Simulação do Hipercubo Latino LHS
O método de simulação do Hipercubo Latino (LHS) é uns dos métodos de simulação
utilizados para avaliar a segurança de uma estrutura. O método LHS é utilizado nos casos
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em que um grande número de simulções é requerido para se chegar a uma resposta
razoável.
Em NOWAK E COLLINS (2000) foram definidos os pasos básicos que descrevem o
método, os quais são aqui resumidos:
1. divide-se a distribuição de probabildiade de cada variável aleatória em N intervalos,
sendo que cada intervalo deverá ter a mesma probabilidade (1/N);
2. escolhe-se aleatoriamente um valor representativo das variáveis aleatórias em
cada intervalo, obtendo-se N valores representativos para cada uma das K
variáveis aleatórias. Existem NK possíveis combinações desses valores
representativos. O objetivo do método é obter N combinações de tal forma que
cada valor representativo apareça uma única vez nessas N combinações;
3. para se obter a primeira combinação, seleciona-se aleatoriamente um valor
representativo dos N valores para cada variável aleatória. Para a segunda
combinação seleciona-se um valor aleatório dos N-1 valores restantes para cada
variável aleatória, e assim sucessivamente;
4. avalia-se a função estado limite em cada combinação;
5. a probabilidade de falha é obtida pela formulação expressa na Equação 20, sendo
n o número de vezes em que a Função Estado Limite alcançou um valor menor ou
igual a zero (G≤0):

n
Pf  (Equação 20)
M

A técnica do método LHS é ilustrada na Figura 6.

Figura 6 – Representação do Método LHS (CHAKRABORTY, 2014).

No presente trabalho foi utilizado o programa MATLAB®, por meio do qual é possível
gerar valores aleatórios para uma determinada variável empregando-se diretamente o
método LHS, sendo possível atribuir a cada uma das variáveis a distrubuição de
probabilidade, a média e o desvio-padrão.
4.2 Método de Confiabilidade de Segunda Ordem SORM

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Para uma Função Estado Limite constituída por uma ou mais variáveis aleatórias não
normais, afirma-se que essa é uma função altamente não linear no espaço normal
padrão, o que leva a concluir que uma aproximação de primeira ordem pode causar um
erro significativo na avaliação da segurança de uma determinada estrutura. Para esse tipo
de situação, a utilização do método SORM permite uma análise mais precisa,
comparativamente ao método FORM, devido a implementação de termos de segunda
ordem na aproximação da função estado limite.
Uma Função Estado Limite g expressa em termos da Série de Taylor de segunda ordem
é apresentada na Equação 21:
g
   
n
g  X 1 , X 2 ,, X n   g x1* , x2* ,, xn*   xi  xi*
i 1 X i
1 n n 2 g
 
2 i 1 j 1 X i X j
 
xi  xi* x j  x*j    (Equação 21)

Para estimar a probabilidade de falha utilizando a expansão de segunda ordem,


BREITUNG (1984) sugeriu uma aproximação assintótica mostrada na Equação 22, a qual
utiliza o índice de confiabilidade estimado através do método FORM (βFORM):

n 1
    FORM  1   FORM k i 
1

Pf SORM
2 (Equação 22)
i 1

onde ki a curvatura da superficie do estado limite no ponto de projeto.

Para o cálculo do índice de confiabilidade βFORM, pode ser implementado o processo


iterativo de Rackwitz-Fiessler (HALDAR e MAHADEVAN, 2000). Esse processo permite
calcular, além do índice de confiabilidade, também o ponto na superfície de falha onde se
obtém a maior densidade de probabilidade, chamado de ponto de projeto.
Uma vez obtido o ponto de projeto, o índice de confiabilidade é calculado através da
Equação 23:

 FORM 
Gt u * 
(Equação 23)
Gt G
onde {G} é o vetor das derivadas parciais da Função Estado Limite avaliadas no ponto de
projeto, e {u*} é o vetor das variáveis aleatórias no espaço normal padronizado no ponto
de projeto. O sufixo t denomina a transposta do vetor.
O vetor {G} é definido pela Equação 24:

 
G   g*  (Equação 24)
 xi 

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Através do método FORM também é possível conhecer os cossenos diretores   do
ponto de projeto implementando-se a Equação 25:

   G
(Equação 25)
Gt G
Uma vez aplicado o método FORM, é possível calcular a curvatura ki através dos passos
definidos por CHAKRABORTY(2014):
1. calcula-se a matriz T0 definida na Equação 26, a qual é composta pelos cossenos
diretores (ou também chamados coeficientes de sensibilidade i) que foram obtidos
através do método FORM;

1 0  0
0 1  0 
T0   (Equação 26)
    
 
 1  2  n 

2. modifica-se a matriz T0 utilizando-se o procedimento ortogonal Gram-Schmidt,


implementado pela Equação 27, obtendo-se uma matriz final T:

t i t 0t k
n
t k  t 0k   t ti (Equação 27)
i  k 1 t i t i

onde tk é o vetor horizontal da matriz ortogonal modificada T  t1 , t 2 ,, t n t , a variação
de k é definida como: n, n-1, n-2,…, 2,1;

3. a tranformação ortogonal das variáveis aleatórias X é chamada de Y e é obtida


utilizando-se a Equação 28:
Y T X (Equação 28)

4. novamente fazendo-se uso da matrix T, outra matriz, denominada A, é obtida


através da Equação 29:

A  a  
THT  t
ij
i, j  1,2,, n  1
ij * (Equação 29)
G
onde H representa a matriz das derivadas parciais de segunda ordem da Função Estado
Limite avaliadas no ponto de projeto.
5. a última linha e a última coluna da matriz A e a última linha da matriz Y são
eliminadas para levar em consideração que a última variável yn coincide com o β
determinado no FORM. Então essa última variável fica definida pela Equação 30:
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1 t
yn    y A y (Equação 30)
2

6. agora a matriz é de ordem (n-1) e a curvatura ki é obtida calculando-se os


autovalores da matriz A.
Finalmente a probabilidade de falha da estrutura é calculada utilizando-se a Equação 22 e
o índice de confiabilidade βSORM é calculado através da Equação 31:


 SORM   1 Pf SORM  (Equação 31)

5 Resultados
5.1 Avaliação da Segurança do Estudo de Caso
Os resultados obtidos através da análise de confiabilidade são resumidos nas Tabelas 2 e
3 para o método LHS e SORM, respectivamente.

As Figuras 7 e 8 foram obtidas através do método LHS com auxílio do programa


MATLAB, e mostram a sobreposição tridimensional dos histogramas das variáveis
aleatórias, para as funções G1 e G2, respectivamente. Nessas figuras estão também
ilustrados os respectivos planos de falha (G=0). Assim, é possível ter uma noção sobre a
distância de cada plano de falha à origem da sobreposição dos histogramas das variáveis
aleatórias. Como o índice de confiabilidade é menor para a função G 2, o plano de falha
encontra-se mais próximo, tornando a região de falha maior do que a relativa à função G1.

Tabela 2 – Resultados da Anáilse de


Confiabilidade do Método LHS.
Método SORM
G1 G2
β 4,42 2,23
Pf 4,94E-06 1,29E-02

Tabela 3 – Resultados da Anáilse de


Confiabilidade do Método SORM.
Método SORM
G1 G2
β 4,417 2,213
Pf 5,00E-06 1,34E-02

5.2 Cálculo dos Coeficientes Parciais de Segurança


Os coeficientes parciais de segurança para a estrutura do estudo de caso são resumidos
na Tabela 4, tanto para G1 quanto para G2. Na tabela 5 são mostrados os coeficientes
parciais de segurança estabelecidos pela norma NBR 6118 (ABNT, 2014).

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Figura 7 – Histograma tridimensional Resistência x Solicitação da Função Estado
Limite G1, e plano de falha, obtidos através do programa MATLAB.

Figura 8 – Histograma tridimensional Resistência x Solicitação da Função Estado


Limite G2, e plano de falha, obtidos através do programa MATLAB.
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Tabela 4 – Coeficientes Parciais de Segurança do Estudo de Caso.
Coeficientes Parciais de Segurança
G1
Resistência
(kN/m) Nominal Ponto de Projeto γR
Mu 6371,29 6606,17 0,96
Solicitação
(kN/m) Nominal Ponto de Projeto γS
MDC 1313,94 1445,68 1,10
MLL+IM 2066,47 5035,44 2,44
G2
Resistência
(kN/m2) Nominal Ponto de Projeto γR
ftr 2993,33 3375,54 0,89
Solicitação
(kN/m2) Nominal Ponto de Projeto γS
fpb 29116,02 30671,66 1,05
fDC 10132,11 1099,89 1,10
fLL+IM 15939,44 22021,72 0,72

Tabela 5 – Coeficientes Parciais de


Segurança da Norma NBR 6118.
Coeficientes Parciais de Segurança NBR6118.
G1 G2
Resistência γR Resistência γR
Mu 1,4 ftr 1,00
Solicitação γS Solicitação γS
MDC 1,4 fpb 1,00
MLL+IM 1,4 fDC 1,00
fLL+IM 0,5

As Equações 32 e 33 expressam as combinações dos momentos e das tensões de


tração, respectivamente, para as quais foram aplicados os coeficientes parciais de
segurança para as duas Funções Estado Limite:

1
M u   S M DC  M DW   S M LL  IM (Equação 32)
R
1
f tr   S f pb   S f DC  f DW   S f LL  IM (Equação 33)
R

Nas Equações 34 e 35 os respectivos coeficientes parciais de segurança, calculados para


o estudo de caso, são substituídos. Nas Equações 36 e 37 são substituídos os
coeficientes parciais definidos pela norma brasileira NBR-6118:
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1,04 M u  1,05M DC  1,05M DW  2,44 M LL IM (Equação 34)
1,12 f tr  1,05 f pb  1,10 f DC  1,10 f DW  0,72 f LLIM (Equação 35)
0,71M u  1,4M DC  1,4M DW  1,4M LL IM (Equação 36)
1,00 f tr  1,00 f pb  1,00 f DC  1,00 f DW  0,5 f LLIM (Equação 37)

6 Conclusões
A avaliação da segurança de uma ponte de concreto protendido é realizada por meio de
duas abordagens que têm como medida da segurança o índice de confiabilidade β e a
respectiva probabilidade de falha Pf da estrutura. A definição das Funções Estado Limite,
assim como das variáveis aleatórias juntamente com os dados probabilísticos, foi feita
com base em trabalhos anteriomente publicados na área de confiabilidade de estruturas
aplicados ao concreto protendido.
Os métodos de confiabilidade LHS e SORM foram implementados para avaliar a
segurança de uma ponte de concreto protendido. Com base nos resultados alcançados
do índice de confiabilidade e da probabilidade de falha, foi possível observar que para o
estudo de caso em questão, um método de simulação como o LHS proporciona valores
muito próximos àqueles obtidos através de um método analítico baseado na Teoria de
Confiabilidade.
Em função do índice de confiabilidade β obtido para a estrutura em análise, foram
calculados os coeficientes parciais de segurança para cada uma das variáveis que
representavam a resistência da estrutura e as ações em cada Função Estado Limite
estabelecida. Os coeficientes parciais de segurança foram comparados aos atualmente
definidos na norma NBR 6118(2014).
Com base nos resultados apresentados no item 5.2, pode-se afirmar que para o caso
particular da ponte em estudo, os coeficientes parciais de segurança poderiam ser
calibrados de forma a otimizar o projeto da estrutura, ainda mantendo uma margem de
segurança adequada.
Da comparação entre as Equações 34 e 36 destaca-se que, para a norma NBR-6118, os
coeficientes parciais de segurança são uniformes para cada uma das ações e, dos
coeficientes obtidos através do trabalho, observa-se uma diferencia significativa entre as
ações permanentes e as ações variáveis.

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