Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tom Leão
HEAVY METAL
GUITARRAS EM FÚRIA
editora■34
2 Tom Leão
EDITORA 34
Editora 34 Ltda.
Rua Hungria, 592 Jardim Europa CEP 01455-000
São Paulo - SP Brasil Tel/Fax (011) 816-6777
1ª Edição - 1997
Leão, Tom
I.97h Heavy Metal: guitarras em fúria / Tom leão.
— São Paulo: Ed. 34, 1997
232 p. (Coleção Ouvido Musical)
Inclui bibliografia e discografia.
ISBN 85-7326077-7
1. Rock – História e crítica. 1. Título.
II. Série.
Heavy Metal 3
HEAVY METAL
GUITARRAS EM FÚRIA
1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 8
2. RAÍZES E RAMOS DO HEAVY METAL ................................................. 12
3. MAS ANTES, UMA DÚVIDA ................................................................... 16
4. O PROTO-METAL ..................................................................................... 18
5. O TROVÃO DO HEAVY METAL ............................................................. 26
6. A/Z DAS BANDAS CLÁSSICAS .............................................................. 34
7. MULHERES NO METAL......................................................................... 105
8. ESSE TAL DE HARD ROCK ................................................................... 112
9. A NEW WAVE DO METAL BRITÂNICO............................................... 124
10. PUNK/HARDCORE (UK/USA) ............................................................. 133
11. DEATH METAL ..................................................................................... 145
12. DOOM METAL: POR QUEM OS SINOS DOBRAM............................ 154
13. THRASH METAL: TEMPO DE BATER CABEÇA .............................. 159
14. GLAM METAL: QUANTO MAIS PURPURINA, MELHOR ....................... 182
15. GRUNGE: A VOLTA DA ATITUDE..................................................... 188
16. INDUSTRIAL: O METAL BATE-ESTACA.......................................... 198
17. O METAL NO BRASIL .......................................................................... 207
18. FUSÕES E O FUTURO........................................................................... 220
19. POSFÁCIO .............................................................................................. 226
4 Tom Leão
Heavy Metal 5
HEAVY METAL
GUITARRAS EM FÚRIA
6 Tom Leão
O monstro Godzilla, lançado pelo cinema japonês em 1954,
é uma espécie de ancestral do estilo metal
Heavy Metal 7
1. INTRODUÇÃO
Heavy Metal 9
Acompanhando o som, mudou também o visual das tribos
seguidoras. Para perceber a mudança basta olhar em sua volta. Cadê
aquele roqueiro à moda antiga, aquele tipo andarilho, mochileiro, dos
jeans rasgados e sujos? Se você procurar bem, pode até achar. Mas,
acredite, é uma espécie em extinção. O banger de hoje já admite cor em
seus trajes e o cabelo comprido pode ser apenas um detalhe. Ele pode
ter tranças meio rasta ou raspar a cabeça na base.
Claro que as camisetas pretas (nada a ver com o fascismo, mas com
o estilo bad boy) ainda prevalecem. Mas com a quantidade de fusões e
cruzamentos que o metal sofreu, nada mais é como antes.
Resumindo: se fôssemos fazer um livro especificamente só sobre o
heavy metal em si, se limitando ao estereótipo que se tem deste gênero
musical, sairia curto, pobre e datado. Se antes se podia dividir as bandas
do gênero entre heavy e hard (um mais pesado e outro mais pop e
melodioso), hoje identificar alguma banda mais pesada apenas pelo
termo heavy metal não define nada. “Que tipo de metal?”, perguntarão.
E aí, você vai responder o quê?
Para tentar explicar e traçar sua evolução e mudanças,
aparentemente imperceptíveis para quem não é do ramo, vamos entrar
agora num mundo muito peculiar. Vamos explorar o universo heavy
metal — sempre em expansão — destacando as bandas mais
representativas, e, claro, também investigando suas ramificações por
aqui, no Brasil. Para isso, vamos ter que começar pela raiz da palavra
heavy metal. Porque o rock em si, desde que surgiu, sempre foi
barulhento. Mas ele só se transformou em heavy mesmo nos anos 60.
Tom Leão
10 Tom Leão
Peter Fonda pilotando uma chopper em Easy Rider (Sem Destino), de
1969: na trilha sonora do filme estava “Born to be wild”, da banda
Steppenwolf, onde aparece pela primeira vez a expressão “Heavy Metal
Thunder”, referindo-se ao som das motocicletas
Heavy Metal 11
2. RAÍZES E RAMOS DO HEAVY METAL
Heavy Metal 15
3. MAS ANTES, UMA DÚVIDA
Heavy Metal 17
4. O PROTO-METAL
No começo era apenas rock n' roll. Antes mesmo que alguém
resolvesse empregar o termo cunhado por William Burroughs para
definir o som “selvagem” feito por bandas seminais do rock pesado, o
que viria a ser conhecido depois como heavy metal já florescia através
do trabalho pioneiro de bandas inglesas como The Who, The Kinks e
Yardbirds, por exemplo. O rock sempre foi um ritmo agitado e
primitivo por natureza, desde os primeiros acordes de Chuck Berry, os
gritos de Little Richard e os requebros de Elvis. Mas se os
conservadores dos anos 50 achavam aquilo heavy eles não imaginavam
o que ainda estava por vir. Algo muito mais radical estava por
acontecer. Para desespero dos guardiães dos bons costumes.
E os avanços da eletrônica foram em parte responsáveis por isso. O
que ajudou a impulsionar o gênero musical, até então simplesmente
conhecido como rock, além da vontade de descobrir e experimentar nos
acordes, foi a possibilidade de “brincar” com os novos horizontes
musicais que ofereciam os primeiros amplificadores e os novos modelos
de guitarra. Sem isso, não existe rock pesado.
Prova disso é que mesmo nas canções mais inofensivas dos Beatles,
como, por exemplo, “I feel fine” (1964), já se experimentava o feedback
(ruídos provocados pelas distorções da guitarra e pelo contato desta com
os amplificadores). E todo mundo que faz e conhece heavy metal sabe
que esses detalhes que tanto perturbam pais e vizinhança é que dão a
diferença deste estilo de rock para os outros. Pelo menos era assim nos
primeiros anos do metal, quando ele ainda não era “batizado”.
Seguindo essa evolução, com sucessivos experimentos e
descobertas, as “brincadeiras” musicais viraram coisa séria. E o
primeiro resultado acabado disso veio dos Kinks. Pode-se dizer que os
Kinks simplesmente criaram o primeiro grande hit do heavy metal com
a arrebatadora canção “You really got me” (regravada até hoje pelas
mais diferentes bandas metal e pop).
Na época em que foi lançada, 1964, “You really got me” soava
altamente feroz e agressiva se comparada com o tipo de rock que se
18 Tom Leão
fazia então. Se este livro fosse em CD-ROM vocês iriam ouvir... Se é
que nunca ouviram.
Mas foi o Who que, no mesmo ano de 64, chegou, literalmente,
arrebentando com seu clássico “My generation”, juntando-se aos Kinks
e dividindo as atenções do público com sua barulheira seminal. Embora
menos agressiva musicalmente que “You really got me”, “My
generation” trazia novos sons e ao mesmo tempo já chegava soando a
manifesto nas palavras decididas de Pete Townshend: “Hope I die
before get old” (espero morrer antes que fique velho). Esta simples frase
viria a ser depois um dos lemas básicos do rock em geral, viver dez anos
a mil e morrer jovem. Mesmo que isso seja apenas linguagem figurada,
muita gente já levou ao pé da letra a mensagem. O último foi Kurt
Cobain, do Nirvana.
Em seguida, o Who trouxe a postura destruidora, com seus shows
barulhentos que terminavam com toda a aparelhagem despedaçada. Isso
em 1964, alguns anos antes do Mestre-de-todos-os-Mestres, Jimi
Hendrix, aparecer e, literalmente, botar fogo no rock com sua guitarra
incendiária. Para o bem ou para o mal do metal, foi essa postura
destruidora que fez do rock pesado algo a ser execrado pelos mais
velhos. Mas também foi por esta mesma razão que o gênero virou o
favorito dos adolescentes e predominantemente um reduto de machos
menos sensíveis.
Depois de “You really got me”, dos Kinks, e “My generation”, do
Who, outro clássico hit de uma brit band que marcou por seus acordes
inusitados foi “(I can't get no) satisfaction”, de 1966 dos Rolling Stones.
O curioso é que, vistas e ouvidas pela geração de hoje, nenhuma dessas
músicas ou bandas seria considerada “rock pesado”, e no entanto o eram
até os ossos. Engraçado como o tempo tudo muda.
Os Stones, aqui com o genial Brian Jones (na janela de trás), morto em julho de 1969:
o hit “(I can’t get no) satisfaction” até hoje motiva roqueiros a buscarem novos riffs
distorcidos de guitarra
20 Tom Leão
Eram tempos de experimentos, de vale-tudo. Eram os anos 60. E o
heavy metal só poderia ter nascido naquela época fervilhante e sem
freios ou fronteiras. Ao contrário do que acontece hoje, dava para criar
uma banda nova por dia e ela soar realmente diferente de todas as
outras, porque tudo ainda era novidade, estava fresco. Era tudo
espontâneo. E tinha plateia interessada.
E, seguindo e complementando o esporro dos Kinks e do Who,
destacaram-se duas outras bandas inglesas que mergulharam mais fundo
ainda no mundo das distorções, que só evoluía.
A primeira delas foi o Yardbirds (que tinha em sua formação um
verdadeiro ninho de cobras composto por Eric Clapton, Jeff Beck e
Jimmy Page). A banda fazia da guitarra sua fonte principal e explorava
ao máximo tudo o que ela pudesse tirar em termos de barulhos e acordes
distorcidos. Deixou na história um proto-metal mais bem acabado, e
com um título revelador, “The shapes of things” (a forma das coisas), de
1965. Mais tarde, cada peça deste trio seguiria seu próprio caminho e
contribuiria muito para alicerçar o ainda não batizado heavy metal. Page
a bordo do Led Zeppelin; Clapton em sua jornada metálica com outro
supertrio, o Cream; e Beck em diversos projetos.
24 Tom Leão
influencia tanto bandas verdadeiramente heavy metal como outras,de
noise music (o Sonic Youth, por exemplo, uma típica banda barulhenta
dos anos 80 que não é considerada heavy metal, embora seja pesada e
esporrenta). A gente fica se perguntando até hoje o que teria acontecido
com o rock, caso Hendrix ainda fosse vivo. Inimaginável.
Foi Hendrix quem instalou o conceito de guitar-hero. E foram os
ingleses que deram a primeira chance a James Marshall Hendrix que,
após penar nos bares do Village, em Nova York (onde conheceu Bob
Dylan), foi tentar carreira em Londres. Lá não só formou uma banda
como deixou de queixo caído o já rock star Pete Townshend, do Who,
entre outros que, certamente, redirecionaram seu modo de tocar guitarra
a partir do contato com o deus da guitarra.
Depois de Hendrix, piloto kamikaze da guitarra, o melhor trabalho
feito com o instrumento em prol do rock pesado foi desenvolvido por
Jeff Beck, a bordo da mítica banda Yardbirds. Se Hendrix era emoção
pura, Beck trouxe técnica e aplicação. Domou o instrumento à sua
maneira. Pena que mais adiante, em meados dos anos 70, Beck tenha se
metido pela trilha do jazz fusion, embora sem perder o brilho. Ao lado
de Beck, nessa incursão mais calculada pelo mundo fascinante da
guitarra elétrica, estava Eric Clapton, que também fez parte de uma
banda mitológica, o Cream. Músicas como “Sunshine of your love” e
“White room” fizeram muito pelo proto-metal.
Assim como Beck, Clapton depois tornou-se apenas mais um bom
guitarrista e nos últimos anos abraçou uma carreira bastante pop. Não
mais um “deus” da guitarra, como chegou a ser chamado, nas pichações
dos muros de Londres. Contudo, um de seus últimos trabalhos, From
the cradle (que, como o nome indica, traz o blues do berço em
interpretações fantásticas) parece que veio para mostrar para os críticos
que Eric não perdeu o dom.
E as bandas americanas mais pesadas, onde estavam? Ali mesmo,
co-existindo com tudo isso. Acontece que, durante algum tempo, as
bandas britânicas monopolizaram as atenções e muitas bandas proto-
metal americanas foram ignoradas, e descobertas só mais tarde. É o caso
de bandas como Blue Cheer, Iron Butterfly, Vanilla Fudge, MC5,
Mountain e outras. Mas isso já era heavy metal de fato, como veremos.
Heavy Metal 25
5. O TROVÃO DO HEAVY METAL
Talvez o melhor disco do Led e um dos melhores de todo o rock pesado, o Physicall Grafitti,
lançado em 1975
28 Tom Leão
Com o estouro do Zep, a partir do Led Zeppelin II, estava aberta a
estrada do heavy metal, que poderia levar tanto ao céu quanto ao
inferno. Enquanto os acordes mágicos da guitarra de Page, o estrondo
de Bonham e a voz de Plant (inspiração para nove entre dez vocalistas
de metal) formulavam os primeiros ingredientes da receita, começaram
a surgir (ou serem notadas) uma nova raça de bandas americanas, como
Mountain e Blue Cheer. Até mesmo um tipo de arremedo de Zep, entre
outras, Iron Butterfly (cujo nome, “borboleta de ferro”, brinca com o do
Zep), que contribuiria de forma marcante para o desenvolvimento do
metal e de todos os seus clichês.
Há quem diga que a americana Blue Cheer é, de direito, a primeira
banda realmente heavy metal (os caras tocavam alto, pesado, eram
cabeludos e balançavam a cabeça como os bangers atuais). Mas, como
heavy metal é mais uma atitude que propriamente um estilo, tanto faz
quem veio primeiro. O fato é que o Zep ajudou a abrir portas e a chamar
a atenção para bandas, como a citada Blue Cheer, que de outra forma
passariam desapercebidas. Contudo, mais destaque teve o Iron
Butterfly, que perpetuou seu nome através de uma obra-prima chamada
In-A-Gadda-Da-Vida, reverenciada até hoje.
O Iron Butterfly teve vida curta mas deixou seu nome marcado
firmemente na história do rock pesado pelo citado disco In-A-Gadda-
Da-Vida (68), cuja faixa-título durava quase 20 minutos e enchia todo
um lado do disco. O álbum, que até hoje está em catálogo, tornou-se um
dos maiores vendedores da história da Atlantic Records, então
especializada em música negra (vendeu três milhões só em compactos).
Pelo menos no tamanho, ninguém pode dizer que o Iron Butterfly não
foi grande. Foi também uma banda misteriosa, já que a cara dos
integrantes não aparecia nos discos e nos shows elas eram cobertas por
projeções psicodélicas. Cool. Mas dizem que, ao vivo, eles não rendiam
tão bem.
Feita a devida honra ao Iron Butterfly, de ter sido, pelo menos
cronologicamente a primeira banda de heavy metal de que se tem
notícia nos Estados Unidos, passemos ao Blue Cheer, outra ilustre
desconhecida que não durou o bastante para ser notada em sua época.
Formado na Califórnia, o Blue Cheer era um trio que ficou famoso
por sua versão do hit rockabilly dos anos 50, “Summertime blues”, de
Eddie Cochran, que também havia sido “coverizado” pouco antes pelo
Who. O sucesso deu à banda até um protótipo de video clip, uma
Heavy Metal 29
Doug Ingle (organista e líder da banda), Lee Dorman (baixo), Ron Bushy (bateria) e o
guitarrista Erik Brann, então com 17 anos, no histórico disco In-A-Gadda-Da-Vida
(1968), do Iron Butterfly, uma das primeiras bandas de heavy metal dos EUA
32 Tom Leão
Da Austrália para o topo das paradas heavy, o culto ao rock n' roll do AC/DC:
da esquerda para a direita, Cliff Williams no baixo, Malcom Young na guitarra base,
Simon Wright na bateria (até 1990), Angus Young na guitarra solo
e Brian Johnson nos vocais
Heavy Metal 33
6. A/Z DAS BANDAS CLÁSSICAS
AC/DC
34 Tom Leão
Mesmo antes do lançamento de High uoltage, ainda em seu
primeiro ano de existência, o AC/DC ganhou rapidamente fama no
circuito metal underground australiano. Shows com casa cheia, fãs
devotados e apoio da crítica local empurraram a banda logo para a
gravação de discos, pelo selo local Albert Records. E os dois primeiros,
o citado High voltage, e TNT, também de 75, venderam juntos mais de
cem mil cópias só na Austrália, o que, na época (sem a ajuda atual dos
video clips e tudo mais), foi considerado um verdadeiro fenômeno
musical, não apenas para o rock.
Por isso, rapidamente a multinacional do disco, Atlantic Records,
um dos braços da poderosa Warner Music, tratou de contratar a banda e
aproveitou a onda lançando logo de saída uma compilação para o
mercado internacional (principalmente o americano) também chamada
High voltage, que misturava as melhores faixas dos dois primeiros
discos do AC/DC (cujo nome foi inspirado nos dizeres que ficavam
atrás do secador de cabelos da irmã, e indica a entrada e saída de
voltagem de aparelhos elétricos, alternated current / direct current).
Um bom começo para uma banda que mal havia estreado.
Logo que o grupo passou a ser conhecido fora da Austrália, a
primeira coisa que chamou a atenção foi o visual e o jeito moleque do
guitarrista Angus Young. Como a banda tinha sido formada
originalmente num colégio, Angus continuou usando em cena o mesmo
uniforme escolar, com o quepezinho, gravatinha, calça curta e coletinho
típicos de escola britânica (pois a Austrália vive sob regime real da
Inglaterra). Fora o visual, a performance elétrica de Angus: sempre
sacudindo a cabeça, saltando, rolando e fazendo molecagens, como
mostrar o traseiro para a audiência (um gesto que para os anglo-saxões
soa como mandar todo mundo à merda). Também a voz rascante de Bon
Scott contribuiu muito para a fama do grupo.
O sucesso continuava. E por causa dele, a banda mudou-se com
armas e bagagens para a Inglaterra baseando-se em Londres, onde
rapidamente conquistou o mercado metal local, com shows de casa
cheia, fãs histéricos e discos vendendo como guarda-chuvas no chuvoso
Reino Unido. Por essa época, 76, a banda já tinha no currículo a
abertura de shows do Rainbow, de Ritchie Blackmore; e uma
participação no famoso festival de Reading.
O primeiro disco com material inédito, já sob contrato, lançado e
gravado na Inglaterra foi Dirty deeds done dirt cheap (76). Mais um disco
Heavy Metal 35
campeão de vendas, que destacou nas paradas músicas como “Big balis”,
“Rocker” e, principalmente, “Problem child”, uma letra que ia bem na veia
do jovem adolescente e rebelde, o público alvo da banda. E do metal rock.
Mas o primeiro disco a ter seu lançamento simultâneo em vários
países (e que por isso foi o primeiro do AC/DC lançado aqui) foi Let
there be rock (que mais tarde seria também o nome de um filme-
concerto lançado pela banda e exibido aqui). O disco abriu as portas
para shows nos Estados Unidos e assim mais um degrau na escadaria da
fama foi pisado pela banda. O álbum apresentava o AC/DC no topo de
sua forma em palco, e destacou músicas como “Whole lotta Rosie”. Foi
o disco mais feroz da banda até então.
Nessa época aconteceu a primeira mudança na formação do
AC/DC. O baixista Mark Evans foi trocado pelo inglês Cliff Williams,
membro original da banda Home, que estreiou tocando no disco
Powerage, de 1978.
Já com o nome bem estabelecido nos dois lados do Atlântico, o AC/
DC sentiu-se seguro para o lançamento de seu primeiro álbum ao vivo,
If you want blood...you've got it. Ele trazia cerca de uma hora de rock n'
roll animal, o que o transformou num dos melhores discos ao vivo do
heavy metal, vendendo um pouco mais que seus antecessores.
Após essa fase, cada novo disco lançado pelo AC/DC vendia
progressivamente um pouco mais que o anterior, e a fama da banda pelo
mundo afora se espalhava como praga (no Brasil, o grupo tanto era
admirado por metálicos mais atualizados, como por punks em busca de
som energético). Por isso, quando em 1979 a banda convocou o famoso
produtor John “Mutt” Lange para trabalhar em seu próximo disco,
Highway to hell, o sucesso já era uma coisa garantida. E foi mesmo.
Highway to hell foi o álbum best-seller do AC/DC até então e logo
ganhou o disco de platina nos Estados Unidos, estreando na posição 37
da parada geral da Billboard.
Era o auge do AC/DC como banda. Tinham sucesso nas vendas de
discos, tinham excursões sempre lotadas e tudo o que se desejaria ter.
Menos a morte de um membro. E o trágico acidente aconteceu
justamente com o vocalista Bon Scott, que foi encontrado morto em seu
carro no dia 21 de fevereiro de 1980, afogado em seu próprio vômito
(meio parecido com o que aconteceu com o baterista John Bonham, do
Led Zeppelin). Foi um dia negro para o AC/DC e um momento crucial
para a banda que tinha em Scott um de seus ídolos.
36 Tom Leão
Mas o show deve continuar. E sem muita demora, o nome do novo
vocalista foi anunciado em abril do mesmo ano. Tratava-se de Brian
Johnson, que vinha de uma banda chamada Geordie e havia sido
motorista de caminhão do AC/DC em turnês, o que o havia
familiarizado com o repertório.
Com Johnson nos vocais, o AC/DC realizou um disco em tributo a
Bon Scott e também o seu mais popular álbum até então, o primeiro a
conquistar terreno também fora das hordas heavy: Back in black.
Lançado no mesmo ano de 80, o disco chegou na terceira posição da
parada americana e contabilizou mais de dez milhões de cópias
vendidas só nos Estados Unidos e Europa, tornando-se o maior sucesso
do AC/DC em todos os tempos. Além da faixa título, do disco
destacaram-se também “Hell’s bells” e “You shook me all night long”
(este, o primeiro hit single do heavy metal a alcançar também as paradas
pop e entrar nas fechadas listas de rádio). Até aqui no Brasil a faixa
podia ser ouvida nas 'FMs listão' da vida. E também nas festinhas.
Foi o ponto alto da carreira do AC/DC, cujos membros devem ter
pensado que nunca mais conseguiriam emplacar nada parecido, ainda
que sua fama tenha se estabilizado e a banda nunca tenha entrado para a
lista negra do heavy metal por ter guinado para o rock comercial ou
coisa parecida.
AEROSMITH
Heavy Metal 39
Com a formação completa e alguns ensaios, o Aerosmith logo
começou a freqüentar o circuito de bares local. Como a noite de New
Hampshire não era das mais animadas, a banda mudou-se para Boston,
em 1972, onde montaram base (e logo ficaram conhecidos como “The
bad boys from Boston”). Acertada escolha. Em Boston, eles
conheceram a dupla de empresários Leber e Krebs, que os levou para
shows no legendário club nova-iorquino Max's Kansas City (já extinto),
onde foram vistos por um executivo da CBS (atual Sony Music), Clive
Davis. Davis rapidamente descolou um contrato para a banda e lançou
seu primeiro disco, Aerosmith, de 73.
ALICE COOPER
Heavy Metal 45
Tudo isso somado não tardou a destacar o nome de Cooper, que
ficou conhecido internacionalmente. Tanto que na primeira metade dos
anos 70, precisamente em 73, o astro e sua banda vieram ao Brasil (foi,
provavelmente, o primeiro nome do rock pesado americano a pisar, com
suas botas de couro, em nosso país). Seus shows arrastaram multidões
no Rio (apresentou-se no Canecão) e em São Paulo (superlotou o
pavilhão do Morumbi), e deixaram o artista marcado por aqui até hoje
como “aquele maluco da cobra”. Não seria a última viagem ao país. Em
meados de 95 ele bisou no Rio e em São Paulo como uma das atrações
do festival Monsters of Rock II. Contudo, apesar do profissionalismo,
seu teatrinho de horror já se mostra anacrônico e datado.
Enquanto isso, Cooper seguia lançando discos que mixavam a
rebeldia juvenil com toques de terror, como Killer, School's out (um dos
clássicos do rock americano), Muscle of love e Billion dollar babies.
Estes discos deixaram atrás de si hits como “School’s out” (verdadeiro
hino dos colegiais americanos), “Under my wheels” (apontada como
uma das principais músicas a influenciar o Guns N' Roses no início, que
a tocava em seus primeiros shows) e músicas de toques macabros como
“I love the dead” e “Dead babies”.
Na medida em que sua fama aumentava, crescia também a
produção teatral dos shows de Cooper, como as citadas decapitações,
monstros gigantes infláveis de borracha, enforcamentos e todo tipo de
truque visual e efeitos especiais. Por tudo isso, logo Alice Cooper
ganhou a antipatia dos grupos moralistas americanos e foi um dos
primeiros nomes do metal a ser perseguido e ter seus discos queimados
por esses fanáticos em praça pública.
BLACK SABBATH
Heavy Metal 53
O Sabbath, sem Ozzy, só manteve o guitarrista Tony Iommi da
formação original — da esquerda para direita: Vinnie Apice, Ronnie James Dio,
Tony Iommi e Geezer Butler
Neste Enchanted Evening, lançado em 1978 no Brasil, estão os grandes clássicos do B.O.C,
como “R.U. Ready 2 Rock”, “Godzilla” e “Kick Out The Jams” (do MC5)
54 Tom Leão
O primeiro disco da banda, que começou a carreira abrindo shows
para Alice Cooper (tudo a ver), trazia uma mistura de riffs metal com
toques psicodélicos e criava um estilo todo próprio para a banda, que
por isso mesmo era difícil de ser rotulada. Por tudo isso, o B.O.C,
tornou-se a primeira banda metal underground americana, seguida
apenas por um pequeno contigente de fãs fiéis e ainda fora do alcance
do mainstream do metal, que engatinhava.
A fama da banda começaria a crescer para além dos subterrâneos
com os lançamentos dos discos Tyranny and mutation, de 73 (que
trouxe os hits “Hot rail to hell” e “The red and the black”) e Secret
treaties, de 74. Os dois trabalhos traziam muitas novidades e
estranhezas para o metal. Não havia vocais rápidos e gritados, nem
baterias estrondosas ou solos de guitarra. E sim um trio vocal
harmonioso, baterias suaves e bastante profundidade sonora. Mas nada a
ver com progressivo, que fique claro.
O auge da popularidade da banda seria alcançado com o
lançamento do álbum duplo ao vivo, On your feet, on your knees (75),
que deu o primeiro disco de platina (mais de dois milhões de cópias
vendidas nos Estados Unidos) para a banda. A partir daí o culto saía do
porão e alcançava maior plateia, chegando mesmo a emplacar dois hits
em rádio: “Godzilla” e “R.U. ready 2 rock”, ambos do disco Spectres,
de 77, que também foi o disco mais esotérico da banda. Outro grande
sucesso do B.O.C, foi sua versão espetacular para “Kick out the jams”,
do MC5, lançado apenas em compacto.
Heavy Metal 55
DEEP PURPLE
Única banda que conseguiu disputar com o Led Zeppelin, nos anos
70, o posto de maior banda heavy metal em atividade (e, para os fãs do
bom rock pesado, esta disputa acabou em justo empate), o Deep Purple
é uma das maiores bandas HM que já existiu e também uma das mais
influentes. Sem contar com seu elenco de músicos notáveis e que, com o
Purple, solo ou em outras bandas, sempre conseguiram se destacar.
O DP tem suas origens em 1967, quando o baterista da banda The
Searchers, Chris Cutler, estava em busca de outros músicos para formar
com ele a banda Roundabout. Na nova banda, Cutler seria o vocalista.
Atenderam o seu chamado o tecladista Jon Lord e o baixista Nick
Simper. Os dois recomendaram a Cutler o guitarrista Ritchie
Blackmore. Acontece que Cutler logo caiu fora do projeto, que mesmo
assim seguiu em frente. Para o posto de vocalista foi então convocado
Rod Evans (que cantava no Maze), que levou consigo o baterista de sua
ex-banda, Ian Paice. Estava semeado o que viria a ser o Deep Purple.
Pesado, mas melódico, o DP (que quase se chamou Concrete God)
estreiou nas paradas em março de 68 com o single “Hush”, regravação
de uma música de Joe South, que, para surpresa geral, chegou ao quarto
lugar na parada americana. Bom começo. O próximo hit foi outra
regravação (na época, a banda chegou a regravar “Help”, dos Beatles),
desta vez para “Kentucky woman”, de Neil Diamond. Estes hits fizeram
parte do primeiro disco da banda, Shades ofDeep Purple, que era muito
diferente do que veio depois.
O sucesso alcançado foi tão bom que a banda lançou rapidamente
um segundo disco, naquele mesmo ano de 68, The book ofTaliesyn, e já
excursionava com êxito pelos Estados Unidos. Nada mal para uma
estreante banda inglesa. Contudo, o terceiro disco, Deep purple, falhou
nas paradas. Por causa disso, o núcleo base da banda, Lord, Paice e
Blackmore, acharam por bem chutar Simper e Evans da banda, que
foram trocados, respectivamente, por Ian Gillan, nos vocais, e Roger
Glover, no baixo. Agora sim, estava armada a clássica formação com a
qual o Deep Purple ficaria conhecido.
Diferente do Led Zeppelin, que tinha um pé firme calcado no
rhythm & blues americano, o Deep Purple ao vivo soava diferente, alto
e pesado como poucas bandas de sua época. Por causa de suas
intrincadas melodias, o grupo chegou a ser chamado no início de heavy-
56 Tom Leão
progressivo-pop. Mas com a formação clássica da banda eles deram
uma guinada mais em direção ao que ainda seria conhecido como heavy
metal e fizeram história.
O ponto de partida para essa nova jornada foi o disco Deep Purple
in rock, lançado em junho de 70, que em faixas como “Speed king” e
“Into the fire” já adiantavam o que viria dali pra frente. O disco
simplesmente fixou parâmetros para o heavy rock e deu origem a um
monte de bandas que copiaram o estilo do Purple, ainda que não tenha
sido um smash hit nos Estados Unidos.
O disco seguinte, Fireball (71), colocou a banda no topo da parada
britânica e na 32a posição da americana. Parece que os yankees, a
princípio, gostavam mais do Purple menos pesadão. Apesar de não ser
um disco tão bom quanto In rock, Fireball manteve o nome da banda
brilhando e abriu caminho para um verdadeiro marco do heavy metal, o
disco Machine bead (de 72). Foi deste disco que saíram canções
definitivas como “Smoke on the water” (cujo riff ecoa até hoje e inspira
de bandas metal a grupos de rap), “Highway star” (a canção mais
emblemática do heavy metal desde “Born to be wild”) e “Space
truckin”. Todas se tornaram músicas obrigatórias nos shows do DP dali
por diante.
Machine head não apenas repetiu a primeira posição para a banda
na parada britânica como chegou em sétimo na americana e logo se
espalhou pelo mundo, triplicando os fãs do Deep Purple. Em termos
gerais, o disco foi o maior sucesso de vendas na carreira da banda,
vendendo na época cerca de três milhões de cópias e aumentando os
números em suas várias reedições.
Com uma sucessão de turnês acontecendo, a banda não tardou em
lançar seu primeiro álbum ao vivo, Made in Japan, lançado na virada de
72 para 73. O disco serviu para levar aos fãs de países distantes, como o
Brasil, todo o peso e presença do Deep Purple em cena. É um dos
melhores live álbuns do metal.
Contudo, junto com o sucesso veio a batalha de egos inflados
dentro da banda. Isto pode ser sentido com o disco seguinte, o fraco e
apropriadamente batizado Who do we think we are. Por essa época,
Lord e Gillan não mais se falavam e Glover cada vez mais se afastava
da banda. O último concerto com a formação clássica do Purple
aconteceu em 29 de junho de 73, em Osaka.
Heavy Metal 57
Deep Purple In Rock, de 1970, é o primeiro disco da formação que consagraria o Purple:
Ritche Blackmore (guitarra), Ian Paice (bateria), Jon Lord (teclados), Roger Glover
(baixo) e Ian Gillan (vocal)
O disco seguinte Fireball, de 1971, chegou ao topo da parada inglesa — e, em 1972, ainda
viria Machine Head...
58 Tom Leão
Em seguida, o ex-baixista do Trapeze, Glenn Hughes, substituiu
Roger Glover enquanto a banda procurava um novo vocalista. Quem
ocoupou o cargo por um breve tempo foi Paul Rodgers, ex-Free,
conhecido de Blackmore. Um novo vocalista acabaria sendo encontrado
através de anúncios no jornal musical inglês Melody Maker. O felizardo
foi o novato David Coverdale, que entrou oficialmente na banda no final
de 73, a tempo de gravar o disco Burn.
Heavy Metal 59
vez Blackmore brigou com Gillan e o Deep Purple foi engavetado. E
assim permanece, até que alguém o ressuscite de novo. Melhor não. O
Deep Purple sempre estará vivo no coração dos bangers.
DEF LEPPARD
62 Tom Leão
O Def Leppard esteve em 1997 no Brasil e mostrou um som competente
(principalmente o incrível Rick Allen que não perdeu uma nota),
embora bem menos agressivo do que no início
Slash, do Guns N' Roses, toca uma guitarra pesada e melodiosa em meio à
“guerra de egos” da mega-banda americana
Heavy Metal 63
Por causa do enorme sucesso alcançado pelo disco (que só foi
estourar realmente quase dois anos depois de lançado, após forte
burburinho nos undergrounds), o Guns logo virou uma banda de culto,
passou a ser imitada por todas as bandas que surgiram depois e injetou
ânimo na indústria do rock metal americano e mundial. Era quase como
uma revolução.
A demanda pelo som do Guns era tanta que a banda teve que
reeditar o primeiro e independente EP atrelado a faixas ao vivo, que
ganhou o nome de Guns N' Roses lies, e saiu em 91. O disco destacou
canções acústicas como “Used to love her”, e manteve o nome do Guns
circulando mundialmente.
A essa altura, começo dos anos 90, o Appetite... já havia chegado a
barreira dos nove milhões de discos vendidos e o Guns já era
definitivamente uma superbanda. Mas o sucesso trouxe à baila também
um lado arrogante, ridículo e ególatra dos integrantes da banda. Axl
passou a se comportar como a mais odiosa das figuras públicas e a
banda entrou numa trip de rock star babaca.
O segundo disco oficial, na verdade dois álbuns duplos, Use your
illusion, partes 1 e 2 (92), foi um bom exemplo disso. Ouvindo os discos
com atenção e paciência, encontravam-se aqui e ali boas músicas. Mas
na soma, o disco não passava de ilusão mesmo. Não existia como tal.
Mas vendeu bastante.
Com todo o peso da pretensão, logo vieram as crises internas. A
primeira envolveu o baterista Steven Adler, substituído em 90 por Matt
Sorum, ex-The Cult. Meses depois de sair da banda, Adler veio a
público reclamar uma indenização de Axl Rose, que contra-atacou
dizendo que sua saída da banda deveu-se a seu grande envolvimento
com drogas. Uma contradição para uma banda que começou justamente
fazendo apologias do junkie lifestyle.
Um ano depois, foi a vez do cool Izzy Stradlin' pedir as contas. Foi
substituído por um amigo de Axl, o guitarrista Gilby Clarke. Com os
novos integrantes, mais tecladistas, vocalistas de apoio, sopros e o diabo
a quatro, a banda partiu numa megaturnê mundial que começou
dividindo shows com o Metallica e prosseguiu cheia de incidentes pelo
caminho, todos provocados pelo neurótico Axl.
Essa turnê marcou a segunda apresentação do Guns no Brasil, em
92, dois anos depois de shows no Rock in Rio II, que marcaram a volta
64 Tom Leão
da banda à cena após longas férias (eles voltariam ao Brasil exatamente
um ano depois para um show desatroso no autódromo do Rio e dois
outros em São Paulo).
O último lançamento oficial do Guns foi o disco The spaghetti
incidente, no qual a banda tenta recuperar seu lado rebelde do começo
da carreira regravando clássicos de bandas punk, como Damned etc.
Apesar das boas intenções, o disco não convence nem a quem foi fã das
bandas originais e nem aos fãs dos Guns. O único detalhe que chama a
atenção é a inclusão (não creditada) de uma música do maníaco-
homicida Charles Manson, que, obviamente, causou polêmica e levou
Axl de volta à cena. Foi o marketing do disco.
Nesse meio tempo, Izzy Stradlin' lançou seu primeiro disco solo
com sua nova banda, The Ju Ju Hounds; e o baixista Duff — sem deixar
o Guns — também experimentou com um trabalho solo bastante
interessante, Believe in me. Também sem deixar o Guns, o guitarrista
Slash caiu na estrada com sua banda, SnakePit, que inclusive tocou no
Brasil em 95 e lançou um disco homônimo.
Os últimos planos da banda incluíam um projeto megalomaníaco de
um filme, que não foi adiante. Enquanto isso, Axl coleciona beldades do
mundo da moda (como Stephanie Seymour) em casamentos que não
duram mais que alguns meses, e sua relação com os demais membros da
banda reforçam os rumores de que é bem provável que a banda nunca
mais volte a gravar ou excursionar.
A conclusão sobre o Guns N' Roses é que eles poderiam ter sido
uma banda muito maior (fora do sentido comercial) do que conseguiram
ser. Pena que tenham se dobrado ante ao enorme peso de sua pretensão
e se transformado no maior dos clichês que se poderia imaginar para
uma típica banda de rock pesado ao estilo hollywoodiano. Nem o
cinema bolaria roteiro igual.
IRON MAIDEN
Heavy Metal 67
No primeiro disco da banda, Iron Maiden, de 1980 (que tem "Running Free"),
a banda contava ainda com Dennis Straton na guitarra (depois substituído por
Adrian Smith) e Paul Di'Anno no vocal
JIMI HENDRIX
70 Tom Leão
O primeiro disco revelou ao mundo clássicos incendiários e
definitivos como “Hey Joe”, “Foxy lady”, “Fire” e “Purple haze”, além
da faixa-título, que, com o passar dos anos, foram reverenciadas em
tributos por bandas tão diferentes entre si como Nick Cave & The Bad
Seeds, The Cure, Red Hot Chili Peppers e Devo, só para citar algumas
entre as milhares que “coverizaram” o guitarrista. Com a boa
repercussão do disco, Hendrix finalmente voltou à América para fazer
seus primeiros shows e mostrar que era americano afinal. E a estreia não
poderia ter sido melhor: aconteceu no Monterey Festival, em 1967, que
culminou numa versão metálica para “Wild thing”, dos Troggs,
encerrada com a queima da guitarra, uma imagem que marcou sua
carreira.
Daí em diante não havia mais limites entre Hendrix e sua guitarra.
O divino negão provocou uma verdadeira revolução musical e
praticamente definiu dali por diante tudo o que seria feito sob a égide do
rock, metal ou não. Dois anos depois de Monterey, em 1969, em outro
festival, Hendrix perpetuou outra imagem histórica ao tocar o hino
nacional americano de uma maneira nunca antes ouvida no
encerramento do festival de Woodstock.
Com tudo isso acontecendo, só em 1970 viria o segundo LP, Axis:
bold as love, no qual Hendrix apresentaria acentos jazzísticos a seu som
(há quem diga que influenciado por outro negro divino, Miles Davis).
Essas novas influências e misturas seriam mais notáveis no álbum duplo
Electric ladyland, que teria sua capa proibida no Brasil por apresentar
um monte de mulheres desnudas. Infelizmente, seria o último disco de
estúdio realizado por Hendrix em sua curta passagem pela terra e pelo
reino do heavy metal.
Contudo, mais um disco inédito seria lançado, o ao vivo Band of
gypsies, gravado na véspera de ano novo no Fillmore East, no
Greenwich Village, Nova York. Daí em diante, todos os discos lançados
com o nome de Hendrix na capa foram póstumos, com sobras de
material, fitas perdidas, compilações e coisas do tipo, numa extensa
discografia que chega até os dias de hoje. Lamentavelmente, Hendrix
morreu cedo, aos 27 anos, sufocado pelo próprio vômito devido a uma
overdose de drogas.
Heavy Metal 71
JUDAS PRIEST
72 Tom Leão
K. K. Downing na guitarra, Ian Hill no baixo, Rob Halford nos vocais, mais
o outro guitarrista, Glen Tipton (e uma sucessão de bateristas desde 1969
até hoje) formam o Judas Priest: couro preto e metal cortante
Heavy Metal 73
intermediária, entre o culto e o grande sucesso, foi atravessada pelo
magnífico aibum ao vivo Unleashed in the East, gravado no Japão. O
disco estourou com a faixa “Sinner”.
Com a bola cheia, o Judas Priest entrou nos anos 80 cheio de panca
e com o disco British steel (o famoso disco da gilete, 80), que emplacou
o primeiro single da banda, “Living after midnight”, bem como o
clássico “Breaking the law” com seu refrão marcante. Foi o primeiro
disco de ouro. E também o primeiro com o novo baterista, Dave
Holland, que ficaria no posto até 1989.
A banda alcançaria o superestrelato com os discos Point of entry
(81), Screaming for vengeance (82) e Defenders of the faith, todos
produzidos por Tom Allom, e que alcançaram a marca de platina (mais
de dois milhões vendidos). Talvez por causa de tanto sucesso, a banda
deu um passo em falso com o disco Turbo, de 86. Nele, o poderoso som
metálico do Priest deu lugar a baterias programadas, sintetizadores,
ritmos dance e canções pop. Para se desculpar, lançaram dois discos
bem pesados logo depois, Priest live e Ram it down, que marcariam os
primeiros anos de declínio e de problemas.
Foi mais ou menos por aí que o Judas Priest foi acusado por duas
famílias americanas de ter levado dois jovens a se suicidarem,
inspirados em músicas do disco Stained class. O processo se arrastou
por alguns anos e deixou a banda fora dos palcos até o começo dos anos
90. Felizmente, a sentença foi favorável à banda, que conseguiu provar
que os dois garotos eram desajustados e vinham de famílias
problemáticas. Mais uma vez tentaram pegar o metal pra Cristo.
Para comemorar, o JP lançou seu disco mais pesado dos últimos
anos, Painkiller (90), que trouxe a banda ao Brasil para o segundo Rock
In Rio no mesmo ano, e apresentou mais um novo baterista, Scott
Travis. Foi também a última turnê com Rob Halford, que decidiu se
afastar do Judas para começar uma carreira solo com sua nova banda,
Fight, que já lançou dois dicos desde 93 e por conta do primeiro, War of
words, se apresentou por aqui no começo de 94.
Depois da saída de Halford, o Judas Priest não anunciou um novo
vocalista e nem lançou mais nenhum novo disco.
74 Tom Leão
KISS
78 Tom Leão
1994, Kiss my ass apresenta bandas diversas como Anthrax, Lenny
Kravitz, Extreme, Lemonheads, Dinosaur Jr, Mighty Might Bosstones,
Faith No More e Gin Blossons, entre outras, relendo hits do Kiss, cada
uma à sua moda.
Em agosto de 1994, o Kiss voltou ao Brasil para encabeçar a
primeira versão nacional do Monsters of Rock, que aconteceu em São
Paulo, onde tocou ao lado de bandas como Black Sabbath, Slayer e
Suicidal Tendencies. Enquanto isso, os fãs esperam o novo disco, que
provavelmente se chamará Head.
Num resumo de carreira, o Kiss chegou aos 20 anos de estrada com
mais popularidade que grandes bandas contemporâneas, como Iron
Maiden e Judas Priest, justamente por ter mantido seus dois integrantes
originais, Simmons e Stanley, no comando e sem a pose arrogante que
atinge a alguns.
God gave rock n’ roll to Kiss. E eles passaram de volta pra gente.
MOTÖRHEAD
Heavy Metal 79
Para muitos, o Motörhead é considerado o pai legítimo do speed-thrash
e death metal desenvolvido nos anos 80 e intensificado nos 90.
Rótulos à parte, é indubitável que o Motörhead faz um rock básico
e honesto, que nunca navegou por ondas do momento, embora nos
últimos discos tenha arrefecido um pouco sua fúria. E, o principal,
Motörhead é praticamente um estilo de vida para o seu baixista,
vocalista e fundador, Ian “Lemmy” Kilmister. O ex-roadie, que foi
baixista da banda Hawkind, ao ser chutado desta em meados dos anos
70, decidiu formar sua própria banda. O resultado foi o Motörhead.
O estilo de vida de Lemmy, um cara interessado apenas em rock n'
roll, bebidas e mulheres, é o que dá credibilidade à banda até hoje e fez
com que ela sempre fosse aceita pelas diversas facções do rock barulho.
Do metálico mais cabeça dura ao punk mais radical, todos apreciam o
Motörhead igualmente. Por isso, a banda passou incólume por
movimentos abaladores como o punk, a new wave do metal britânico, o
thrash, e, mais recentemente, o grunge rock.
Sem formação estável (os músicos que ficaram mais tempo na
banda foram o baterista Philty “Animal” Taylor e o guitarrista Phil
“Wurzel” Campbell), o Motörhead gravou seu primeiro disco,
Motörhead, em 76. Contudo, devido a inúmeras complicações da
gravadora United Artists (inclusive o processo de falência da própria), o
disco só foi lançado oficialmente cinco anos depois.
Desse modo, o disco seguinte, Motörhead (77), lançado pela
independente Chiswick Records, pode ser considerado o disco oficial de
estreia. Por sua postura um tanto diferente da média das bandas metal e
sua atitude bastante anárquica, o Motörhead logo ganhou a simpatia dos
punks da época.
Heavy Metal 81
Ace of spades foi também o disco que levou o nome do Motörhead para
o mercado mundial e lhe proporcionou sua primeira turnê americana,
pois a Europa já estava ganha.
O auge da banda aconteceu com o disco ao vivo No sleep 'til
Hammersmith, um dos itens indispensáveis em qualquer discografia
alive que se preze. O disco foi direto para o primeiro lugar da parada
britânica, em 1981, ao mesmo tempo em que o Motörhead gravava um
EP ao lado das garotas do Girlschool, o raro St. Valentine's day
massacre EP. Lemmy, sozinho, fez um trabalho em conjunto com outra
banda na época, ao gravar um dueto com Wendy O' Williams, a cantora
dos Plasmatics, na canção-piada “Stand by your man”.
Nos anos 80, o status de banda cult crescia para o Motörhead
proporcionalmente em que começava a acontecer um declínio de
qualidade, devido a inúmeros problemas judiciais com membros da
banda que entravam e saiam em velocidade máxima, sem contar os
problemas com gravadoras. Depois que saiu da Bronze, onde gravou
seus melhores discos, a banda não esquentou lugar em mais nenhuma,
ganhando a fama de “banda difícil de se lidar e trabalhar”. Seria culpa
do genioso Lemmy?
Nesse período, o único disco digno de nota foi Orgasmatron
(produzido por Bill Laswell, da banda Material), cuja faixa-título se
transformou mais tarde num dos maiores hits do Sepultura. O disco,
apesar de bem barulhento, apresentava elementos novos ao som do
Motörhead, como o uso da eletrônica.
OZZY OSBOURNE
86 Tom Leão
Entre suas resoluções, ele incluiu a de não deixar os palcos, como
tinha anunciado durante a turnê No More Tours, em 92.
— Decidi mudar de ideia após alguns dias “aposentado” em casa.
Cheguei a conclusão que a música é minha vida e o palco meu destino.
QUEEN
Ainda que o Queen tenha uma limitada relevância para o metal nos
dias de hoje, é inegável que a banda deu sua contribuição ao gênero em
seus primórdios. Se não por seus shows impecáveis, que serviram de
parâmetro para os de muitas outras bandas pesadas, pelo menos por seus
primeiros discos e pela presença do extraordinário guitarrista Brian
May. Ninguém pode negar que músicas como “Sheer heart attack” (do
homônimo disco de 74) ou “We will rock you” (um verdadeiro hino do
rock pesado) foram contribuições importantes da banda para o metal
como um todo, independente do que a banda faria depois.
Com uma carreira construída ao longo de 20 anos, sempre pela
mesma gravadora, a EMI, o Queen se tornou um símbolo de banda
pesada britânica e foi uma das que mais experimentaram nos anos 70,
como provam seus discos mais aclamados como A night at the opera
(de onde saiu “Bohemian rhapsody”) e News of the world (que abre com
“Will we rock you” e tem ainda “Get down make love”). Embora a
banda tenha virado depois sinônimo de medalhão e coisas do tipo, o
Queen deu sua contribuição ao HM. Boa o bastante que a faz
merecedora de verbetes em todos os dicionários do gênero.
Infelizmente, a banda, que veio duas vezes ao Brasil (a primeira em
82, em São Paulo; e a segunda em 85, no Rock in Rio), encerrou
carreira no final de 1991 quando o vocalista Freddie Mercury morreu de
Aids. Contudo, Mercury deixou algumas bases prontas que deram
origem ao disco Made in heaven, lançado no final de 95. Este sim, o
último álbum do glorioso Queen.
RAINBOW
RUSH
Heavy Metal 91
de ouro nos Estados Unidos (um milhão) e manter o disco no Top
100 da Billboard por pelo menos um mês. É assim até hoje.
Durante os anos 80, o Rush abriu um pouco suas portas para estilos
musicais menos densos, como no disco Moving pictures (81), que
expandiu ainda mais o público da banda e a levou até mesmo a tocar no
rádio. Esse flerte com o pop logo daria lugar a mais uma trinca de
discos sofisticados, Signals (82), Grace under pressure (84) e Presto
(89), todos milionários em vendas e que levaram o Rush a monumentais
turnês pelos quatro cantos do planeta. Infelizmente a banda nunca veio
ao Brasil, onde tem um fã-clube imenso e fidelíssimo. Mas quem sabe
isso não acontece num Hollywood Rock da vida?
Enquanto os fãs se dividem entre os que gostam mais da fase
teclados e os que preferem a fase com mais guitarra, o Rush segue
lançando discos que alternam os dois momentos, sendo os dois mais
recentes Roll the bones (91) e Counterparts (93), este último, um de
seus mais pesados trabalhos em anos.
SCORPIONS
94 Tom Leão
o Scorpions se estabeleceu como uma banda vendedora de discos e foi
aos poucos amaciando seu som, principalmente após o estrondoso
sucesso da balada “Still loving you”.
Nesse meio tempo, mais uma mudança: Bucholz cedeu lugar no
posto de baixista para Ralph Rieckermann antes da gravação do último
disco do Scorpions até o momento, Face the heat (que os trouxe de
volta ao Brasil em 93), também um dos únicos discos da carreira da
banda que não foi produzido por Dieter Dierks. E os Scorpions
continuam firmes, ainda que menos pesados.
URIAH HEEP
VAN HALEN
Uma das grandes bandas surgidas nos anos 70 e das mais originais
que o hard-metal rock já viu, o Van Halen deve muito de seu sucesso ao
extraordinário e inventivo (sem ser pentelho) guitarrista Eddie Van
Halen e ao espalhafatoso cantor mestre de cerimônias e original Dave
Lee Roth. Com a saída de Roth, em meados dos anos 80 (substituído
por Sammy Hagar), a banda manteve seu nome, mas nunca mais foi a
mesma (e nem a carreira de Roth deslanchou).
96 Tom Leão
O Van Halen em sua primeira formação, ainda com Dave Lee Roth (vocais)
entre os irmãos Alex (bateria) e Eddie Van Halen (guitarras), e, à direita,
Michael Anthony (baixo)
Heavy Metal 97
Formada em 1974 por quatro amigos de escola que juntos já
haviam tocado em bandinhas colegiais, a raiz do Van Halen brotou
quando Eddie, seu irmão Alex (bateria) e os amigos Dave e Michael
Anthony (baixo) resolveram começar a tocar pra valer com uma banda
chamada Mamoth, nome que teve de ser mudado logo porque já havia
uma outra banda usando o mesmo título.
Assumiram o nome de família dos dois irmãos holandeses,
naturalizados americanos, Alex e Eddie, e, com uma fita demo de 14
faixas, produzida por ninguém menos que Gene Simmons, do Kiss,
foram bater na porta da gravadora Warner Bros. que os contratou no ato,
e na qual gravam discos até hoje.
Em 78, lançavam seu primeiro e homônimo disco, que foi sucesso
instantâneo e dividiu águas no rock pesado. De um lado, as letras
falando do trinômio carros-mulheres-diversão inspirou mais da metade
das futuras bandas glam e hard dos anos 80. Do outro, o virtuosismo de
Eddie Van Halen na guitarra, que lhe valeu, por vários anos seguidos, o
título de melhor guitarrista segundo a revista americana Musician. E os
shows do Van Halen sempre foram uma festa total, com direito a muitos
efeitos especiais e clima circense.
O primeiro disco vendeu mais de três milhões de cópias e levou a
banda a uma excursão (abrindo para o Black Sabbath). Depois veio Van
Halen II (79), e mantendo a trilha de discos de platina (mais de dois
milhões de cópias vendidas), os álbuns Women and children first (80),
Fair warning (81) e Diver down (82). O grande atrativo destes discos
para os fãs da banda era o clima ao vivo que eles passavam. De fato, a
maioria deles foi gravado em curtas sessões, praticamente sem
repetições de takes. Fora isso, cada um dos discos trazia pelo menos
dois hits, que extrapolavam as linhas do metal.
Essa fase “amadora” acabaria com o disco 1984, o maior sucesso
comercial da carreira do Van Halen e que levou o som da banda para as
paradas radiofônicas e para o sucesso internacional. O disco trouxe o
megasucesso “Jump” e também marcou a saída, por divergências
pessoais, de Dave Lee Roth. Para os fãs, foi um baque. Era praticamente
impossível imaginar a banda sem ele (como nós pudemos constatar,
quando o Van Halen esteve aqui em 82).
Mas, após uma paradinha de dois anos para se reestruturar, o Van
Halen voltou à cena com o novo vocalista, Sammy Hagar, que tinha
carreira solo e já havia cantado no Montrose. Hagar não possui o
98 Tom Leão
mesmo carisma e nem a voz de Roth, mas soube imprimir sua
personalidade ao som da banda e aos poucos foi conquistando os fãs. Os
resultados podem ser sentidos e ouvidos nos três discos que Hagar
gravou com a banda, 5150, OU812 e For unlawful carnal knowledge
(FUCK), nos quais o Van Halen mostra um som mais agressivo e menos
festeiro de seus primeiros discos.
Felizmente, a mudança de vocalista não significou queda de
qualidade, nem de sucesso, para o Van Halen, muito pelo contrário.
Dave Lee Roth, por sua vez, após uma estreia calorosa com o EP Crazy
from the heat (85), vem experimentando uma decadência cada vez mais
acentuada. Talvez por causa de seu gigantesco egocentrismo, que o fez
crer que só seu nome seria o bastante para garantir o sucesso. Ele
esqueceu que tinha uma grande banda por trás e que a química só
funcionava quando ele estava com o Van Halen.
O último disco do Van Halen foi o duplo ao vivo Live - right here,
right now (93), inexplicavelmente o primeiro disco ao vivo da carreira
da banda, que se consagrou basicamente por suas inesquecíveis
performances em palco. Pena que ele não registre os momentos de ouro
da banda.
WHITESNAKE
Um dos destaques da carreira do Whitesnake é o álbum Ready an’ Willin, de 1980, que
trazia Jon Lord, o tecladista do Deep Purple
THE WHO
E não apenas por ser uma pioneira entre machos, mas também por
ainda estar na ativa e lançando disco, vai para Joan Jett a coroa de
rainha das metálicas. Ou a mega babe do rock, como diriam Wayne &
Garth.
Uma das três baixistas da banda (que, apesar disso, ainda contava
com baixistas convidados para gravar faixas de seus discos), Laurie
McCallister, chegou a fazer parte de outro projeto de Kim Fowley, o
frustrado The Orchids. Outra das baixistas, Vicki Blue, chegou a ensaiar
um projeto de banda com a guitarrista do Girslchool, Kelly Johnson. A
Heavy Metal 107
vocalista Cherie Currie gravou dois álbuns solo que não deram em nada
e sumiu do mapa.
Quem acabou se dando bem mesmo, depois do fim das Runaways,
foi Joan Jett, pelo visto a única realmente interessada em rock'n roll do
time. Tanto é que seu maior sucesso até hoje é justamente “I love rock'n
roll”, lançado em 1982 e que ficou durante várias semanas no topo da
parada de sucessos americana. A música, que Jett disse ter escrito como
uma espécie de resposta para “It's only rock'n roll”, dos Stones, assim
como esta, virou um clássico. Tanto que foi relançada recentemente
com nova mixagem.
Nascida na Filadélfia, em 22 de setembro de 1960, Joan Jett sempre
teve vontade de formar uma banda. Por isso, quando veio o convite para
integrar as Runaways, ela o agarrou com unhas e dentes. A despeito das
qualidades da banda, foi a partir dela que seu nome e sua figura foram
projetados.
Logo após o fim das Runaways, Jett, uma amante de punk rock e fã
dos Sex Pistols (ela costumava posar para fotos usando uma camiseta da
banda), ensaiou um projeto com Steve Jones e Paul Cook,
respectivamente o baixista e o baterista original dos Pistols. Juntos
chegaram a lançar um compacto, You don’t own me, que atualizava um
hino feminista americano. Mas foi só um ensaio para o que ainda viria.
Em seguida, 1980, formou a banda The Blackhearts (com o
guitarrista Ricky Byrd, o baixista Gary Ryan e o baterista Leer Crystal),
com a qual lançou seu primeiro álbum solo, Bad reputation. O disco,
que tinha participações especiais dos Pistols Cook e Jones, foi um
sucesso alternativo e também o primeiro de seu próprio selo (o
Blackheart, que negocia os discos de Jett com grandes gravadoras até
hoje).
Mas, para provar que não seria apenas uma banda de baladas,
Nazareth lançou em seguida um disco mais pesado, Hair of the dog
(75), cuja faixa-título fez muito sucesso no Brasil e teve uma versão
nacional cujo refrão era um palavrão cabeludo. Contudo, foi a partir
deste disco que a fase de declínio do Nazareth começou. E para piorar,
em 1977, o empresário da banda morreu num acidente aéreo e eles
ficaram sem saber o que fazer da carreira.
Após alguns discos mais ou menos significativos, como o ao vivo
Snaz (81) e 2 SX (82), a banda perdeu a banca no Reino Unido e sumiu
de cena para o grande público. Mas continuou fazendo sucesso em
países como o Canadá (e aqui ainda possui fãs fiéis); e, assim como
aconteceu com o Uriah Heep, teve grande cartaz na União Soviética e
outros países da antiga Cortina de Ferro.
A história do Quiet Riot é muito louca. Embora a banda só tenha
aparecido para o grande público no início dos anos 80, através de uma
regravação de sucesso para um dos maiores hits do Slade, “Cum on feel
the noize”, ela já existia antes. Mas apenas no Japão. Pois é. Entre 1977
A muito falada e pouco conhecida irlandesa Thin Lizzy, do vocalista e baixista Phyl Lynott,
na época do lançamento do álbum Renegade, de 1982
Por fim, mas não por último, e mesmo fora da ordem alfabética,
uma das maiores promessas do hard rock dos anos 80, o Mötley Crüe.
Oficialmente formado em janeiro de 1981, a banda teve em sua primeira
formação Vince Neil, nos vocais; Nikki Sixx, no baixo; Mick Mars, na
guitarra; e Tommy Lee, na bateria. Depois de um ano e meio de ensaios
e shows pelo circuito de clubes de Hollywood Boulevard, em Los
Angeles, a banda lançou seu primeiro e independente disco, Too fast for
love, pelo selo próprio Leathur Records.
O disco caiu nas mãos de empresários da Elektra Records (a mesma
que teve visão ao contratar o Metallica) e logo a banda estava com um
bom contrato e, conseqüentemente, uma melhor divulgação de seu
trabalho. A Elektra pegou o primeiro disco da banda, remixou-o e o
relançou em 1982.
O segundo álbum, e o primeiro trabalho superproduzido, foi Shout
at the devil (83), que chamou a atenção de público e critica com seu
apelo primal e balanço rocker. O disco emplacou um hit, “Looks that
kill”, e a banda tirou o pé da lama. O sucesso do início de carreira do
Crüe foi tanto que eles só foram lançar um novo disco em 1985. O título
foi Theater of pain, que direcionou o foco da banda para o glam metal,
então o estilo do momento entre as bandas americanas da Califórnia.
Alguns fãs reclamaram da experiência.
Mas a estratégia deu certo e o MC virou um dos grupos mais
quentes da cena de L.A., suplantando concorrentes diretos como o
Twisted Sister. Entretanto, logo eles perderiam o trono glam para
bandas realmente afetadas como Poison.
Rápido como seu nome indicava, o Fastway foi, talvez, a mais pop
das bandas consideradas “menores” do NWOBHM. Surgida já na
rabeira do movimento, em 1982, talvez por isso o Fastway não tenha
utillizado tanto a estética punk-heavy das bandas pioneiras do
movimento. Formada por um ex-guitarrista do Motörhead, “Fast” Eddie
Clarke, o Fastway começou gravando de cara por uma major, no caso a
CBS (hoje, Sony Music), que lançou seus discos também no Brasil.
Eddie preferiu montar sua própria banda, recusando na época o
convite para participar da banda de Ozzy Osbourne. Bem mais
comercial do que outras bandas de sua geração, o Fastway, no entanto,
mostrou-se uma boa banda metal nos poucos discos que gravou.
Mesmo dentro do punk rock houve um racha. Dois anos depois dos
Sex Pistols anarquizarem geral o rock, e com o final da banda, foi
anunciado que o punk estava morto. Mas algumas bandas como GBH,
Exploited e Anti-Nowhere League, entre outras, não deram ouvidos a
este epitáfio e trataram de espalhar o mote “Punk's not dead” (o punk
não morreu). Este segundo fôlego sustentou o punk por mais algum
tempo e foi o que realmente inspirou as primeiras bandas punk
brasileiras, que surgiram em São Paulo, Brasília e Rio.
Mas, punk morto ou não, quem marcou mesmo foram os Sex
Pistols. A banda, não bastasse os escândalos em que se envolvia e
provocava (alguns cuidadosamente preparados por McLaren, como, por
exemplo, o dos contatos milionários com as majors do disco, depois
sempre quebrados e dos quais a banda sempre saía com uns bons
trocados), ainda criou o primeiro mártir punk, Sid Vicious.
Heavy Metal 135
O baixista dos Pistols, que substituiu o integrante original do posto,
Glen Matlock, pouco tempo depois do término da banda, em 1979,
morreu de overdose num quarto do Chelsea Hotel, em Nova York, após
ter matado sua namorada, Nancy Spungen (essa história até hoje não
está bem explicada, alguns dizem que ela se matou, outros, que também
morreu de overdose). O punk que já tinha um ídolo, Johnny Rotten.
Ganhou um mártir.
Mas o fim trágico de Vicious não ofuscou a figura carismática de
Johnny Rotten. Ele foi o maior ídolo e ícone punk, imitado por nove
entre dez cantores punks que vieram depois, inclusive no seu jeito
curvado de cantar, o que era, na verdade, uma deformidade física de
Rotten, que é meio corcunda. Johnny Rotten (na verdade John Lydon),
um carismático e esperto duble de cantor — que, diz a lenda, foi
encontrado por McLaren enquanto fazia ponto na frente da loja Sex,
insultando os fregueses e cuspindo na rua — que logo que sentiu que os
Pistols estavam indo para o buraco, largou a banda durante a única e
última malfadada turnê da banda nos Estados Unidos (o que impediu
sua vinda ao Brasil para participar de cenas do filme The great rock'n
roll swindle) para formar com alguns amigos a (então) banda de
vanguarda Public Image Ltd, ou PiL.
O disco Utopia Banishedi, do Napalm Death (1992) fala de arianismos, demência, exílio e
miséria — em alta velocidade e com muito barulho
No final dos anos 80, a cena thrash americana perdeu seu embalo.
A maioria das bandas já havia assinado com grandes gravadoras e se
tornado mainstream, ou mais conhecidas e não tão underground como
no início. Os clips não eram mais barrados na MTV e o thrash, de
oposição, passou a situação. Era hora (mais uma vez) de renovação.
E essa troca de guarda novamente aconteceu nos Estados Unidos,
que, de meados da década de 80 para cá, teve sua cena rock
superfortalecida e quase abafou as bandas britânicas que reinavam até
então, tanto no metal e no pop, quanto no rock pós-punk e new wave. O
elemento de mudança foi um tipo de rock de garagem bem barulhento
apelidado de grunge rock.
Os bangers cederam seu espaço para o grunge (barulho) rock, outra
manifestação pós-punk tão ou mais forte quanto fora o thrash. E como
Heavy Metal 165
acontecera no thrash, que descentralizou a cena rock americana do eixo
Los Angeles-Nova York, as bandas grunge vinham, na sua maioria, de
Seattle.
Mas o thrash ainda continuou forte na Europa. Das bandas thrash mais
recentes, as que conseguiram mais destaque foram Possessed, Cannibal
Corpse, Deicide, Morbid Angel (que também já veio ao Brasil) e Death.
Mas, como o nome sugere, elas mais se parecem com bandas death metal.
Outra banda thrash europeia que incorreu no mesmo erro do
Helloween foi o Celtic Frost. Após algum tempo gravando
independentemente, bastou conseguir um contrato com uma grande
gravadora para decepcionar os fãs. O Celtic Frost transformou-se numa
irreconhecível banda “farofa”. Vendida mesmo.
Nos anos 90, apenas duas bandas thrash conseguiram se destacar e
cavar seu espaço na cena rock geral: os brasileiros do Sepultura e os
texanos do Pantera (uma banda originalmente glam que mudou
radicalmente quando assumiu os vocais o feroz Phil Anselmo). E da
Escócia, quem diria, a banda Almighty, que vem aumentando sua
popularidade passo a passo. Soando como uma espécie de Pantera da
Europa, o Almighty veio ao Brasil no final de 94 a bordo de uma turnê
do Megadeth. Não se pode negar as qualidades da banda.
Voltando ao thrash em si, nesse meio tempo (de 1982 até os dias de
hoje), várias bandas thrash foram e voltaram, mas nenhuma se tornou
tão grande e popular, sem perder o fio da meada, como o Metallica.
Após vários anos de militância independente — e mesmo assim
conseguindo colocar seus discos entre os 100 mais vendidos da parada
da revista Billboard, termômetro da indústria musical — o Metallica
acabou ganhando um contrato interessante com a gravadora americana
Elektra Records, tornando-se assim a primeira banda thrash a assinar
com uma major (grande gravadora com distribuição internacional). Um
grande feito que abriu caminho para as outras.
Muitos não hesitam em afirmar que o Metallica é o Led Zeppelin
das bandas thrash. Comparações à parte, não deixa lá de ter seu fundo
de verdade. A própria trajetória da banda, com altos e baixos e voltas
por cima heróicas, criou uma imagem mítica para os fãs. Fãs estes que
ajudaram a consolidar o prestígio do Metallica. E por isso a banda até
hoje promove shows e eventos exclusivamente dirigidos aos fãs. Como
na turnê de 92/93, na qual eles armaram um mosh pit no meio do palco
só para fãs e convidados.
166 Tom Leão
Filha dileta da Bay Área de São Francisco, na costa oeste
americana, o Metallica formou-se em 1981 através do encontro do
baterista dinamarquês e residente nos Estados Unidos, Lars Ulrich, com
o guitarrista e vocalista James Hetfield. Completava o time na primeira
formação o baixista Ron McGovney e o guitarrista Dave Mustaine. O
Metallica nunca negou que sua principal influência era o Motörhead.
Contudo, eles misturaram essa influência com toques pessoais, que
ajudaram em muito a definir o conceito de thrash.
Os primeiros cinco anos da caminhada do Metallica rumo ao
estrelato foram bastante duros. A banda começou a carreira musical
com uma música, “Hit the light”, incluída numa coletânea chamada
Metal massacre I, lançada pelo selo independente Metal Blade, de Los
Angeles. Após gravarem algumas fitas demo, o Metallica mudou de
baixista, convocando Cliff Burton, que vinha da banda Trauma, de São
Francisco, e que era um fã a distância e um skatista amigo de Hetfield.
Da Sunset Strip, Hollywood, o Poison do “bonitão” Brett Michaels fez o maior sucesso com
o estilo glam — aqui, conhecido como heavy farofa
Psalm 69, como seu pré-título indica, abre e fecha com um clima
meio bíblico, meio apocalíptico, para depois descer, sem escalas, direto
para o inferno numa trip metálica-eletrônica até então inédita. Músicas
como “Hero”, com sua levada básica de metal e refrão glorioso; ou
“Jesus built my hot rod” (que, à sua maneira, reinventava o rock'n roll
ao resgatar palavras sem sentido, assim como Little Richard fizera nos
seus primórdios com seu indecifrável grito de guerra “a wop-bop-a-
lula”), simplesmente deixavam sem palavras os que acharam que depois
do thrash o metal não tinha mais nada de novo para dar. Tinha. E muito.
Basta ser ousado.
200 Tom Leão
“Jesus...”, de quebra, ainda tirou do ostracismo uma banda texana
de “esporro music” (eles são inomináveis, mas fazem um esporro dos
infernos), o Butthole Surfers, já que o refrão embolado e nonsense foi
feito pelo vocalista dos Surfers, Gibby Haines. Por causa da
participação de Haynes no disco, os B-Surfers até descolaram um
contrato com a Capitol Records, após dez anos de carreira como
independentes.
E como nasceu esta que é, sem dúvida, a melhor faixa do disco?
— Nós encontramos Gibby num bar, botamos ele de porre e quando
ele notou já estava em frente ao microfone. Aí saiu improvisando
loucamente em cima de uma base que já tínhamos gravada, enquanto eu
dedilhava uma slide guitar e Paul tocava seu baixo — contou Al
Jourgensen numa das inúmeras entrevistas que deu para explicar como
surgiu essa doideira — com o aval de Barker, que esteve no Brasil em
92, junto com Jello Biafra, durante a Eco 92, no Rio de Janeiro.
A esta altura, para pegar um clima mais cowboy, o Ministry já tinha
se mudado de mala e cuia para Dallas, no Texas (onde uma cena metal
industrial estava se formando, para desespero dos puristas caipiras
locais), e lá deu mais corda para o Revolting Cocks, seu projeto mais
levado a sério, depois do Ministry. Para evitar problemas, a imprensa
americana grafa RevCo, o que, ao pé da letra, seria os “Caralhos
Revoltados”.
Levou muito tempo para que o rock fosse aceito no Brasil como um
ritmo musical a mais. Como já cantou Rita Lee, “roqueiro brasileiro
sempre teve cara de bandido”. Adepto do metal, então, era o próprio
demo. A garotada que hoje anda rasgada, com seu cabelão e brinco no
nariz nem imagina como era barra pesada ser rocker por aqui. Até para
arranjar namorada era difícil. O preconceito com os adeptos do rock
pesado em geral ainda existe, mas é bem menos explícito.
Em termos gerais, o heavy metal no Brasil é uma coisa recente,
embora já existissem na década de 60 bandas consideradas pesadas
(como o Made in Brazil, por exemplo que começou em 67 fazendo
covers de Troggs e Kinks), na mesma época, portanto, em que o próprio
heavy metal começou.
Pode-se usar como marco básico o primeiro Rock in Rio, em 1985,
quando a tribo metálica realmente mostrou sua cara e compareceu em
peso às noites pauleiras do evento, que trouxe ao Brasil AC/DC, Ozzy
Osbourne, Whitesnake e Scorpions. Antes disso, tudo por aqui era
genericamente conhecido como “rock n' roll”. Após o festival, bandas
passaram a pipocar em todos os cantos do país e os headbangers
(pejorativamente chamados de “metaleiros”) se multiplicaram em escala
geométrica, para desespero dos carolas em geral. Foi o momento em
que todos saíram dos subterrâneos.
Claro que muito antes disso existiram bandas pesadas (em relação
ao que se fazia na época) por aqui. A citada Made in Brazil, por
exemplo, já está beirando os 30 anos de existência, sempre guiada pelos
irmãos Celso e Osvaldo Vecchione. Entre outras pioneiras podemos
citar Bixo da Seda do Rio Grande do Sul, Tutti Frutti (que acompanhou
Rita Lee na fase pós-Mutantes), Casa das Máquinas, Patrulha do Espaço
(de Arnaldo Batista), estas todas paulistas; e as cariocas A Bolha e
Vímana, esta última, antes de se enveredar pelo rock progressivo que foi
moda aqui em meados dos anos 70.
Todas tinham a atitude rock'n roll, mas não abraçavam o metal pra
valer. Transitavam entre um estilo pós-Stones e o blues. Era o que os
malucos por aqui gritavam nos shows “rock n' roll” (o que quer que isso
Heavy Metal 207
ainda signifique hoje em dia). Por estes, outros tipos de rock como o
metal e o punk eram discriminados e vistos com desdém.
O grande pulo do metal no Brasil aconteceu mesmo nos anos 80.
Uma nova geração que cresceu ouvindo os clássicos, como Led
Zeppelin e Deep Purple e também o punk inglês e bandas como
Motörhead e Iron Maiden, começava a ter acesso a coisas mais recentes
— como o thrash e o death metal — e misturava isso ao seu som,
criando uma amálgama barulhento e diferente.
Os primeiros anos da década de 80 foram uma verdadeira floração
metálica brasileira. Foi no período 1983-85 que aconteceram os
primeiros lançamentos nacionais do gênero, de bandas que já estavam
na ativa, mas ainda não tinham gravado. Foi a época em que apareceram
a banda Karisma, que gravou Sweet revenge (83); Ultimatum (85), da
Dorsal Atlântica e do Metalmorphose; a Stress (banda do Pará, que
lançou um disco com a capa patrocinada pela Pepsi, em 83, e que existia
desde 75, com o nome Pingo D'Água); e o álbum Século XX, o primeiro
da mineira Cogumelo Records — a gravadora pioneira do metal no
Brasil —, que trazia de um lado o disco Século XX (85), do Overdose; e
do outro, o Bestial devastation, do Sepultura, então apenas mais uma
banda de metal local.
Mas, se já era difícil para o povo pop-rock arranjar gravadora, para
os metálicos era ainda mais duro. Daí a proliferação de coletâneas
nacionais. A primeira delas foi a série SP metal, que em 84 lançou seu
primeiro volume com faixas das bandas paulistas Avengers, Centúrias,
Vírus e Salário Mínimo. No ano seguinte, saiu o volume 2 com as
bandas Santuário, Korzus (até hoje na ativa e lançando discos no
exterior), Abutre e Performances. Ambas as coletâneas foram lançadas
pelo selo independente paulistano Baratos Afins e podem ser
encontradas na loja da matriz paulista.
Foi por este selo independente, que também lança outros tipos de
bandas (tipo rockabilly e guitar-garage bands), que o Korzus editou toda
a sua discografia. Em 1987 saiu Sonho maníaco; em 89 o EP Pay for
your lies; e, em 1991, Mass illusion, que teve também distribuição
internacional. Por conta disso, tanto o Korzuz quanto o Viper (leia
adiante) conquistaram fãs até no Japão.
Curioso é o caso de outra banda paulista muito popular, o Viper
(que começou fazendo um som tipo Iron Maiden). A banda, que
debutou em 88 pelo selo Rock Brigade, com o disco Soldiers of sunrise,
bem mais pesado que seus trabalhos atuais, virou coqueluche entre o
público japonês a partir de seu segundo LP, Theatre of fate (Eldorado,
90). A fama do Viper é tanta no Japão que a banda passa longos meses
excursionando pela terra do sol nascente e quando do lançamento de seu
último disco, Evolution (Eldorado, 93), o Viper (mais para o hard rock
atualmente) entrou no top ten geral japonês e disputou vaga com
medalhões do pop rock mundial ficando na frente de nomes como
George Michael, Metallica e outros do mesmo top. Por isso, o trabalho
seguinte do Viper foi gravado nos Estados Unidos para soar mais
internacional.
Hoje o Viper é visto como uma banda pop metal — embora
queiram fugir do rótulo —, mas isso não tira o mérito de seus
integrantes, que batalharam pela fama e conseguiram alcançá-la às suas
próprias custas. E fizeram escola. Na cola do Viper, e também de olho
no mercado japonês, surgiu o Angra. A banda foi montada com o
objetivo de agradar aos nipônicos e não depende do mercado brasileiro
para sobreviver. Já apareceu com gravadora e tudo.
Heavy Metal 213
Fecha a trinca de bandas paulistas com carreira internacional (no
caso, Europa e Japão) e que seguem uma linha mais pop, o Dr. Sin,
banda formada pelos irmãos Ivan e Andria Busic, que antes trabalharam
na banda Rosa Branca, de Wander Taffo.
O Living Color não durou tudo o que os fãs gostariam — mas, no fim das
contas, revelou ao rock o grande guitarrista Vernon Reid, que toca com a
mesma categoria em qualquer praia
Já Madball, Black Train Jack e Dog Eat Dog têm em comum, além
da cidade natal, a gravadora RoadRunner. Das três, a que está melhor na
cena é Black Train Jack. A exceção do Madball (bastante thrash), as
duas outras fazem um rock menos agressivo e o Dog Eat Dog chega a
fazer uso (muito bem) de um naipe de metais (sopros) muito criativo.
Ponto para Nova York.
Heavy Metal 223
O Helmet, da safra de bandas de Nova York
Dog Eat Dog e Black Train Jack (assim como o Mad Ball): bandas da gravadora
RoadRunner em busca de novos caminhos para o metal
BIBLIOGRAFIA
BASHE, Philip. Heavy Metal Thunder. Omnibus Press, Reino Unido, 1986.
C OON , Caroline. 1988: The New Wave Punk Rock Explosion. Omnibus Press, Reino
Unido, 1978.
DOME, Malcom. Thrash Metal. Omnibus Press, Reino Unido, 1990.
MARIYN, Lee. Masters of Metal. Cherry Lane Books, E.U.A., 1984.
SUTER, Paul. HM A-Z. Omnibus Press, Reino Unido, 1985.
E meus arquivos secretos, é claro.
DISCOGRAFIA SELECIONADA
A seleção foi baseada em clássicos inegáveis, discos de sucesso no Brasil ou que foram
importantes em sua época como influenciadores de novas tendências. O gosto pessoal do
auror contou menos que a frequência dos títulos em outras listas semelhantes.
Roberto Muggiati
Blues: da lama à fama
Arthur Dapieve
BRock: o rock brasileiro dos anos 80
Carlos Calado
A divina comédia dos Mutantes
Dominique Dreyfus
Vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga
Luiz Galvão
Anos 70: novos e baianos
Tom Leão
Heavy Metal: guitarras em fúria
A sair:
Carlos Albuquerque
O eterno verão do Reggae
Carlos Calado
Tropicália: uma revolução musical
Zuza Homem de Mello e Jairo Severiano
O tempo e a música: 85 anos de canções brasileiras (vol. 1: 1901-1957)