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CENTRO UNIVERSITARIO PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO

ITAJAI – UNIDAVI

GISELE HECKE

ABUSO SEXUAL INFANTIL: A palavra da criança vítima de abuso sexual

Rio do Sul
2021
GISELE HECKE

ABUSO SEXUAL INFANTIL: A palavra da criança vítima de abuso sexual

Monografia apresentada como requisito parcial


para obtenção do titulo de Bacharel em Direito,
pelo Centro Universitário para o Desenvolvimento
do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI

Orientador(a): ___________________________
Coorientador(a): _________________________

Rio do Sul
2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA O DESELVOLVIMENTO DO ALTO VALE DO
ITAJAÍ - UNIDAVI

A monografia intitulada MURO DE SILÊNCIO: A PALAVRA DA CRIANÇA VÍTIMA


DE ABUSO SEXUAL, elaborada pelo(a) acadêmico(a) GISELE HECKE, foi considerada
( ) APROVADA
( ) REPROVADA
Por todos os membros da banca examinadora para a obtenção do título de BACHAREL EM
DIREITO, merecendo nota ______________.

____________________________,_______ de ___________________ de __________.

_____________________________________________________
Prof. Mickhael Erik Alexander Bachmann
Coordenador do Curso de Direito

Apresentação realizada na presença dos seguintes membros da banca:

Presidente: _____________________________________________________________

Membro: ______________________________________________________________

Membro: ______________________________________________________________
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando o Centro Universitário para o
Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca
Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Campus de Rio do Sul, _______________.

Gisele Hecke
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................6

1 A PEDOFILIA NA HISTÓRIA E DEFINIÇÕES.........................................................7

1.1 CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAR O PEDÓFILO...............................11

1.2 Perfil do Pedófilo...................................................................................16


5

INTRODUÇÃO

A violência nem sempre é praticada por pessoas desconhecidas que


agridem para roubar ou por vingança. No caso do abuso sexual infantil, em sua
maioria, são pessoas do próprio entorno familiar que cometem tais agressões,
procurando manter-se impunes e incólumes perante a vítima e perante os outros
familiares.

A violência está ligada a causas socieconômicas, mas também a resquícios


culturais de uma sociedade apoiada em princípios machistas herdados dos
colonizadores que impuseram a submissão da figura feminina como padrão de
comportamento.

Essa carga cultural ainda entranhada na sociedade brasileira, sofre


mudanças paulatinas devido à grande pressão de movimentos feministas e outros
movimentos sociais que exigem políticas públicas e legislações que punam os
transgressores e gerem mais segurança às mulheres, às crianças e aos
adolescentes. A Constituição Federal de 1988 ao realçar os direitos da pessoa e a
importância da dignidade humana abriu espaço para a criação do ECA (Estatuto da
Criança e do Adolescente), da Lei Maria da Penha em 2006, que estabelecem as
normas para que tal segurança seja assegurada.

Este trabalho permitiu um aprofundamento na realidade da violência


praticada contra crianças e adolescentes no âmbito do abuso sexual infantil no
âmbito intrafamiliar e, mais especificamente, com relação à pedofilia praticada contra
crianças até os 13 anos de idade. As informações acerca desse assunto provocaram
uma profunda reflexão sobre a eficiência das leis na sociedade e o quanto as leis
devem vir acompanhadas de amplas campanhas de conscientização sobre as reais
consequências de atos praticados contra a pessoa humana. Coube também discutir
sobre a Psicologia e Psiquiatria para a conscientização sobre o tema e para a busca
de novas maneiras de proteger as crianças desses criminosos.

Essa pesquisa tem como objetivo geral investigar sobre a pedofilia tanto no
âmbito intrafamiliar quanto extrafamiliar.

Os objetivos específicos são os seguintes:


6

a) Contextualizar a violência contra as crianças e adolescentes que


envolvem abuso sexual;

b) Conceituar pedofilia, pedófilo e prática pedófila conforme os protocolos da


APA (American Psychiatric Association) que por meio do DSM-IV-TR e DSM-5
estabelece os parâmetros para a avaliação psicológica do pedófilo.

O problema de pesquisa que norteou o trabalho foi “Quais as causas


principais da prática da pedofilia; existe um perfil padronizado para o pedófilo?”

Metodologicamente, esta pesquisa pode ser classificada como descritiva de


acordo com seus objetivos por descrever as características de um objeto de estudo
específico. É utilizada para revisar as características de um dado grupo social com o
intuito de descobrir a existência de relações entre tais variáveis.

Segundo a natureza dos dados, essa pesquisa é qualitativa ao preocupar-se


em compreender e interpretar o fenômeno; para tanto, considera o significado que
outros pesquisadores dão às suas práticas, impondo ao pesquisador uma
abordagem hermenêutica. (GONSALVES, 2012)
7

1 A PEDOFILIA NA HISTÓRIA E DEFINIÇÕES

Pedofilia1 é um termo cuja etimologia vem da língua grega da junção de dois


termos: paidós, que significa criança e philia que significa amizade, paixão, amor,
atração sexual. Daí a formação do vocábulo pedofilia como atração sexual por
crianças e adolescentes ou, em resumo, por menores de idade. (CARVALHO, 2011,
p. 54)

São comuns as referências à prática pedófila nas sociedades antigas.


Segundo Strecker (2006, p. 33), a sociedade ideal na visão de Platão não é
propriamente democratizada, porque haveria uma hierarquia estática baseada na
formação das pessoas. Na sociedade de Platão, as crianças 2 pertencem à
sociedade e não à família3. Assim, desde o seu nascimento, a criança seria formada
pelo Estado e seriam preparadas para ocupar posições nas três classes existentes:
políticos/filósofos (racional), guardiões (passional) ou soldados e trabalhadores ou
operários (apetitiva ou libidinosa):

Tudo começa já no início da vida. Para que fosse evitada a influência de


maus hábitos, os filhos seriam tirados de suas mães já no momento do
nascimento. Até os 10 anos, as crianças praticariam atividades físicas e
estudariam música – essa como uma maneira de moldar seus sentimentos
e caráter. Dos dezesseis aos vinte anos, o lado religioso seria trabalhado a
partir do entendimento de que Deus está presente em tudo e é o principal
fator de progresso de uma nação, uma vez que dá coragem e calma aos
seres humanos. É importante lembrar que, para Platão, não é possível
provar a existência de Deus, mas que sua suposição só vem para o bem.
(PLATÃO, 380, p. 537a)

1
Contudo, de um modo menos frequente, a literatura também faz uso da expressão efebolia
como sinonímia de pedofilia, em que “efebo” significa jovem, rapaz, moço, púbere. (CASTRO;
BULAWSKI, 2011)
2
“Por conseguinte, meu excelente amigo, não eduques as crianças no estudo pela violência,
mas a brincar, a fim de ficares mais habituado a descobrir as tendências naturais de cada um”
(PLATÃO, 1990, p. 537a). In: MESQUITA; BORDIN, 2007, p. 98.
3
A pedagogia platônica apontava outros objetivos que não os de natureza apenas teórica.
Pensada como “coisa pública” para homens e mulheres, Platão pretendia demonstrar que a educação
é um meio que permite ao indivíduo atingir a plenitude humana, que aconteceria na coletividade ou no
Estado. Por isso, entendia que os primeiros anos de formação das crianças deveriam ser ocupados
por jogos educativos, inicialmente praticados em comum pelos dois sexos, e sob vigilância dos seus
responsáveis. Recomendava que não se usassem exercícios físicos pesados, além da capacidade
das crianças, para não causar danos corporais, sugerindo, num primeiro momento, jogos lúdicos.
(MESQUITA; BORDIN, 2007, p. 99).
8

Após passarem por avaliações eliminatórias de conhecimentos práticos e


teóricos, os menos preparados deveriam exercer as tarefas operacionais como
trabalhadores4. Os demais que obtivessem sucesso nestes testes continuariam a
estudar por mais dez anos e se submeteriam a outro teste eliminatório: os que
obtivessem sucesso poderiam juntar à classe dos políticos, estudando filosofia
integralmente, os outros seriam designados para ocupar a classe de guardiões. No
entanto, os filósofos da época eram pederastas e mantinhas relações amorosas com
seus discípulos como é o caso de Platão.

O distanciamento da criança de sua família na cidade de Esparta servia para


outro fim. O menino, após os 12 anos era entregue a um militar experiente nas artes
bélicas que com ele manteria uma relação de pederastia 5 além de introduzi-lo nas
artes da guerra. Isso durava até crescerem os primeiros fios de barba, ou seja, até a
adolescência (cerca de quinze ou dezesseis anos). Este ex-discípulo iria, em sua
idade adulta, também iria receber um outro menino para ficar aos seus cuidados.
Essa prática da pedofilia era algo cultural naquela fase histórica naquele contexto
específico.

Dessa forma, os meninos pertencentes às famílias nobres, quando se


tornavam adolescentes, eram encaminhados aos cuidados de homens mais
velhos, considerados sábios e guerreiros, que passariam conhecimento aos
rapazes, esses chamados de “efebos”. Nesse sentido, era uma honra para
os meninos serem escolhidos por esses homens mais velhos, chamados de
“preceptores”, que assumiam o papel de mestres, preparando-os para a
vida pública. Não obstante, somente o polo ativo da relação que era
valorizado e apenas a homossexualidade masculina que era aceita. Como
se pode perceber tratava-se de pedofilia. (DIETER, 2012, p. 2)

Segundo o Kleber Francisco Meneghel Vargas (Presidente da Associação


Sul-mato-grossense de Psiquiatria), o diagnóstico para atestar a personalidade
pedófila é complexa e demanda o conhecimento dos protocolos da APA para
realizá-los. Assim, “não há como padronizar o comportamento de um pedófilo, pois
não há um perfil muito bem definido, mas a maioria dos pedófilos é masculina”.
(ARAUJO, 2012, p. 1)
4
É necessário, portanto, que as pessoas aprendam a executar tarefas distintas, a exemplo da
nutrição, da habitação, do vestuário, daquelas do artesão, do ferreiro, do comerciante, entre tantas
outras, como expressou no livro II da República. (MESQUITA; BORDIN, 2007, p. 99).
5
Pederastia – “Termo esse utilizado para designar o relacionamento erótico entre um homem
e um menino. Atualmente o termo é utilizado para designar não somente o relacionamento erótico
entre um homem e um rapaz, mas também qualquer relação homossexual masculina”. (DIETER,
2012, p. 1)
9

A literatura especializada apresenta a existência de três perfis de pedófilos:


indivíduos que sentem culpa pelos atos cometidos; indivíduos que sentem pouca
culpa e há os que nada sentem de culpa. Os que não sentem culpa podem ser
classificados como psicopatas e a pedofilia neste indivíduo é uma comorbidade.
Todos os que cometem pedofilia têm consciência de que é crime e de que tais
comportamentos são classificados como errados.

Os pedófilos sabem que a criança sofre, sente dor. Mas ele pensa apenas
em satisfazer o desejo sexual dele. Para a pessoa que tem este transtorno
sexual, é possível ter também desejo por pessoas da mesma idade, sexo
oposto ou do mesmo sexo. Mas alguns sentem desejo apenas por crianças.
(ARAUJO, 2012, p. 1)

Carrara (1998, p. 81) afirma que um grande equívoco da psiquiatria


brasileira foi, desde o século XIX, classificar dentro da psicopatologia todos os ditos
“anormais”. No momento em que a psiquiatria adquire o status de ciência fica a seu
encargo descrever em que níveis o indivíduo degenerado demonstra perigo à
sociedade; “é esse processo que provoca a passagem mais sutil realizada pela
psiquiatria em substituir os antigos estigmas ‘físicos’ por estigmas ‘psicológicos’.
Essa mudança parece ser herdeira de toda a discussão da medicina mental sobre
os efeitos dos “tratamentos morais”. (CARRARA, 1998, p. 81)

O que a psiquiatria proporciona com a ideia de patologização da “anomalia


criminosa” é favorecer um discurso que afirma que a degenerescência não
implica necessariamente em ato criminoso. O que se afirma com isso é que
era preciso uma separação mais nítida entre ato e intenção criminosa. Para
a psiquiatria moderna, a degenerescência poderia “produzir tanto o crime,
quanto a loucura, a genialidade, a inversão sexual ou a excentricidade”. Era
preciso mais cautela e cada vez mais o “olhar” atento e científico do
especialista, pois o sujeito degenerado podia ser um “homem honesto”
(CARRARA, 1998, p. 81)

A castração química é praticada nos Estados Unidos e alguns países


europeus no sentido de minimizar o nível de testosterona dos testículos por meio da
administração de hormônios femininos. Essa ação diminui a libido sexual e a ereção
no indivíduo do sexo masculino, causando uma diminuição da agressividade. “Tal
tratamento é utilizado como uma modalidade de pena aplicada aos chamados
crimes sexuais, quais sejam estupro, atentado violento ao pudor e pedofilia, muitas
vezes cometidos em série”. (BANHA, 2008, p. 10)
10

O Brasil ainda não faz uso dessa forma de punição.

Contudo, uma nova linha de realização da Castração Química surgiu na


França, pensada por seu atual presidente, onde para a realização desta,
haveria um centro de acompanhamento médico-psicológico para os
apenados, local este em que receberiam todo apoio necessário, e
passariam por avaliações constantes. Outro ponto fundamental trazido pelo
projeto do presidente Nicholas Sarkozy advém do fato de que esse método
seria utilizado apenas para os reincidentes em crimes sexuais graves, que
cumprissem uma parte de sua pena, e que posteriormente optassem por ser
submetidos voluntariamente ao tratamento. (BANHA, 2008, p. 11)

Esses métodos de interferência no organismo do indivíduo precisam passar


por uma ampla discussão, porque não é uma prática comum de mudança de
comportamento por convencimento ou por tomada de consciência. “Somando-se a
este fato esse método somente seria viável no caso de crimes sexuais, e há
psicopatas que praticam outros tipos de crimes”, afirma Banha (2008, p. 11).

Conforme o procedimento jurisprudencial brasileiro, a Medida de Segurança


tem perdurado pelo tempo máximo permitido pelo art. 75 do CP – 30 anos de
detenção. Quando as avaliações anuais atestam a incapacidade de convívio social,
aplica-se o art. 682, §2º do CPP – Código de Processo Penal, que dispõe sobre a
continuidade da pena do indivíduo após o cumprimento do tempo máximo
possibilitado pela Medida de Segurança, com sua interdição decretado pelo juízo
cível. Sob essas condições, ele poderá voltar ao convívio da sociedade, ficando sob
a responsabilidade de sua família ou continuará internado em Hospital Psiquiátrico
onde receberá o tratamento médico adequado, segundo Banha (2008, p. 11).

1.1 CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAR O PEDÓFILO

Os Critérios diagnósticos elaborados pela APA, o DSM-IV para pedofilia


estipula o prazo das molestações acima de seis meses, sendo que o pedófilo pode
fazer uso de fantasias sexualmente excitantes, que ocorrem com regularidade e são
intensas; também estão classificados como pedofilia os impulsos sexuais ou
comportamentos que envolvam atividade sexual com uma ou mais criança pré-
puberes (normalmente com idade abaixo dos 13 anos. (APA, 2002)
11

Tais fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos geram “sofrimento


clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional em
outras áreas importantes da vida do indivíduo”. (APA, 2002)

Só é considerado pedófilo, o indivíduo com mais de 16 anos que tenha, no


mínimo, cinco anos a mais que a vítima. O DSM-IV apresenta a seguinte nota com
relação a esse critério de idade: “Não incluir um indivíduo no final da adolescência
envolvido em um relacionamento sexual contínuo com uma criança com 12 ou 13
anos de idade”. (APA, 2002)

O diagnóstico tem que especificar se a atração sexual dá-se pelo sexo


masculino, pelo sexo feminino ou por ambos os sexos; especificar se é restrita ao
incesto; e especificar se é de Tipo exclusivo quando ocorre a atração somente por
crianças ou se é do Tipo não exclusivo, quando o abusador tem atração também por
pessoas mais velhas.

Em resumo, de acordo com o DSM-IV (APA, 2002), a pedofilia é classificada


como impulsos ou excitação sexual recorrentes e intensos relacionados a crianças
de até 13 anos de idade durante seis meses ou mais. Para ser classificado como
pedófilo, o indivíduo deve ter pelo menos 16 anos de idade e no mínimo ser cinco
anos mais velho que suas vítimas. “Quando o perpetrador é um adolescente
envolvido em um relacionamento sexual com uma criança de 12 ou 13 anos de
idade, o diagnóstico não é feito”. (COSTA; COSTA, 2013, p. 634)

Cerca de 25 a 30% dos pedófilos sofreram abuso sexual na infância. Quanto


aos transtornos psíquicos nem todo pedófilo é portador desses transtornos da
mesma maneira que nem todos os que têm transtornos psíquicos são pedófilos.
Carvalho (2011, p. 54) esclarece que:

[...] o adulto, quanto tem uma predisposição psicopatológica, não distingue


as brincadeiras, então, acredita que a criança é um ser dotado de
maturidade sexual e logo comete abuso sexual intrafamiliar, de modo a não
pensar nas consequência. Esses abusos podem acontecer tanto numa
relação hetero como homossexual. Como resultado desse trauma, a criança
passa a agir com medo, ficando vulnerável às investidas do adulto e se
submetendo de modo automático à vontade do agressor. Logo, esquece-se
de si e identifica-se com o agressor que deixa de existir na realidade
externa, tornando-se intrapsíquico.
12

No âmbito da Psicanálise, Sigmund Freud foi pioneiro na determinação da


sexualidade condicionada a uma infância bem sucedida ou mal sucedida. Freud
afirma que a pedofilia é uma prática de pessoas frágeis e mal resolvidas
sexualmente. “Freud classificou a pedofilia como sendo a perversão dos indivíduos
fracos e impotentes. Por se tratar de uma pessoa sexualmente inibida, o agente
tende a escolher como parceiro uma pessoa vulnerável, possuindo sobre ela uma
ilusão de potência”. (CASTRO; BULAWSKI, 2011, p. 16)

Segundo Hisgail (apud CASTRO; BULAWSKI, 2011, p. 6):

[...] a pedofilia representa uma perversão sexual que envolve fantasias


sexuais da primeira infância abrigadas no complexo de Édipo 6, período de
intensa ambivalência das crianças com os pais. O ato pedófilo caracteriza-
se pela atitude de desafiar a lei simbólica da interdição do incesto. O adulto
seduz e impõe um tipo de ligação, na tentativa de mascarar o abuso sexual.
(...) Sem defesa, a criança reage até onde pode, mas, uma vez submetida
ao gozo do pedófilo, cumpre a fantasia inconsciente da cena primária, isto é,
da participação sexual da criança na relação dos pais.

A maior parte dos perpetradores de violência sexual com crianças utiliza


toques genitais ou sexo oral. No entanto, quando se trata de incesto, a penetração
vaginal ou anal ocorre com maior frequência. (COSTA, 2013, p. 634)

No seio da Igreja Católica, tanto em seminários quanto em paróquias, a


prática de pedofilia tem vindo à baila por meio da mídia nacional e internacional,
quando as instâncias superiores não conseguem abafar o caso e afastar os clérigos
com conduta desviada para clínicas que a Igreja possui para tratar de casos de
padres com problemas de alcoolismo, pedofilia, estupros.

Em face de tais situações, o Papa, recentemente, desculpou-se


publicamente pelos escândalos sexuais que estariam sendo praticado por
integrantes da igreja que coordena. Contudo, uma questão importante volta
a ser questionada aqui: seriam esses indivíduos realmente pedófilos, de
acordo com as classificações técnicas, ou novamente estaria a mídia
claudicando a respeito de tais informações? Este é um questionamento que
fica em aberto, tendo em vista que as notícias de abusos são extremamente
recentes, ficando impossibilitada, pelo menos por ora, uma análise mais

6
Complexo de Édipo: desenvolvido por Freud, é fase em que os meninos focalizam o seu
desejo e prazer na mãe e as meninas no pai. É nessa fase também que a criança distingue a
diferença dos sexos masculino e feminino e determina sua fixação pela pessoa mais próxima do sexo
oposto. Tal complexo surge em meninos através de desejo sexual pela mãe, a criança vê o pai como
ameaça e deseja se livrar dele, buscando, ainda, se identificar com o mesmo. Em meninas, o
complexo surge com o desejo de ganhar um bebê do pai e como não consegue, tende a se desiludir.
(CASTRO; BULAWSKI, 2011, p. 6)
13

atenta aos casos que envolvem os sacerdotes. (CASTRO; BULAWSKI,


2011, p. 17)

O reconhecimento do Papa com relação a sacerdotes pedófilos iniciou-se


com o Papa Bento XVI que publicamente pediu desculpas pelos erros da Igreja
Católica com relação a esses crimes praticados por alguns padres. Atualmente, o
Papa Francisco tem tomado posturas firmes frente aos bispos italianos que fazem
vista grossa à ocorrência de pedofilia relatada pelas famílias de crianças abusadas
por sacerdotes:

Mas o chefe da Vaticano foi mais direto ao analisar o comportamento dos


bispos diante de algumas tentações. “A falta de vigilância torna um pastor
morno, distraído e até indiferente (...). Ele corre o risco de ser seduzido pela
perspectiva de uma carreira, a tentação do dinheiro, e os compromissos
com o espírito do mundo”, alfinetou. Segundo Francisco, os que se deixam
influenciar por esse fatores “tornam-se preguiçosos” e “se transformam em
funcionários públicos preocupados mais consigo mesmo, com a
organização e estruturas, do que com o verdadeiro bem do Povo de Deus.”
Estremecidos por conflitos internos e escândalos, os bispos italianos são
conhecidos por seu poder e suas ligações com o mundo da política local.
(RFI, 2013, p. 1)

Em 2012, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé no Vaticano


admitiu que houve nos últimos dez anos, 4.000 denúncias de pedofilia praticada por
padres na Igreja Católica às quais a igreja respondeu de forma inadequada e
insuficiente, porque a igreja deve colaborar com as autoridades locais para a
realização das investigações necessárias e punição dos padres pedófilos, porque o
abuso sexual de menores de idade é um grave delito religioso e um crime que não
pode ficar impune. (VATICANO, 2012, p. 3)

Apesar das leis civis variarem de país para país, a Igreja não se deve
imiscuir de colaborar ativamente para a apuração de práticas de pedofilia pelos
sacerdotes católicos.

Em dezembro de 2013, o Papa Francisco decidiu criar uma comissão para


proteger crianças vitimadas por pedófilos. Tal atitude vem no seguimento de uma
preocupação manifestada pelo Papa Bento XVI pela existência de pedófilos entre os
sacerdotes da Igreja Católica espalhada pelo mundo. (ADITAL, 2013, p. 1)

A finalidade da comissão é aconselhar o empenho da Santa Sé na proteção


das crianças e na atenção pastoral às vítimas de abusos. Especificamente,
14

haverá referências sobre o estado atual dos programas para proteção da


infância, sugestões para novas iniciativas por parte da Cúria em
colaboração com os bispos, conferências episcopais e superiores religiosos.
(ADITAL, 2013, p. 1)

A Declaração da APA no DSM-5 considerou que a pedofilia era


erroneamente classificada no DSM-IV como desordem de orientação sexual. O
DSM-5 da APA considera, antes, a pedofilia como uma parafilia 7.

Essa declaração da APA (American Psychiatric Association) foi publicada no


Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5 em outubro de
2013, como resultado de uma investigação abrangente de vários anos e como
revisão de todas as suas categorias de diagnóstico.

No caso de desordem pedófila, os critérios de diagnóstico permaneceram


essencialmente os mesmos do DSM-IV-TR somente alterando a denominação do
distúrbio que foi alterado de pedofilia para desordem pedófila para manter a
consistência com outras listas de transtorno do respectivo capítulo.

Atualmente, orientação sexual não é um termo usado nos critérios de


diagnóstico para a doença de desordem pedófila e seu uso no DSM-5 encerra a
discussão quanto à denominação e terminologia utilizadas. O novo texto DSM-5
considera a desordem pedófila como uma parafilia e não uma orientação sexual.
(APA, 2013)

A APA está firmemente por trás dos esforços para processar criminalmente
aqueles que abusam sexualmente e exploram crianças e adolescentes e dá apoio
ao desenvolvimento de tratamentos para pessoas com transtorno pedófilo com o
objetivo de prevenir futuros atos de abuso. (APA, 2013)

1.2 Perfil do Pedófilo

7
Parafilia é um padrão de comportamento sexual no qual a fonte predominante do prazer não se
encontra na cópula, mas em outra atividade. Em determinadas situações o comportamanto sexual
parafílico pode ser considerado perversão ou anormalidade. Existem muitas práticas que podem ser
consideradas como uma parafilia ou não, sendo assim é impossível elaborar um catálogo das
parafilias, mas podemos citar as mais comuns: o sadismo, o masoquismo, o exibicionismo, o
voyerismo, o fetichismo, a urofilia, etc.
15

O papel da família é bastante significativo nos casos de violência sexual


infantil, e isso é preocupante, porque este deveria ser um grupo social de segurança
e acolhedor; no entanto, torna-se um ambiente de terror e sofrimento. Na ocorrência
de casos de violência sexual constata-se que a dinâmica familiar é desorganizada,
confusa e doentia. (FURLAN et al., 2011, p. 201)

Os indivíduos que recebem cuidados de distintas pessoas na infância têm


propensão a ser agressor por meio de violência sexual em sua fase adulta e isto
explica-se pela “inconstância de pessoas envolvidas nos cuidados primários da
criança, que, por consequência, pode tornar-se um adulto ansioso, desconfiado e
com sérios problemas relacionais, sendo assim mais propenso ao envolvimento
sexual com crianças” segundo Furlan et al. (2011, p. 201).

Atuar como pedófilo pode vir em decorrência de algum evento muiito


estressante que detone sua propensão à ansiedade, desconfiança e comportamento
retraído; atingindo seu limiar de frustração. Assim, devido à exposição a
determinado evento estressor que o conduza a grande pressão psíquica (demissão
do trabalho, problema conjugal) tende a tornar realidade suas fantasias sexuais com
menores. (FURLAN et al., 2011)

[...] os indivíduos que cometem a violência sexual possuem distúrbios de


ordem moral, social e psicológica, tornando-se incapacitados para
apreender as representações, os sentimentos e os pensamentos do outro,
constituindo-se assim como pessoas passíveis de tratamento. [...] a
formação da estrutura psicopatológica do abusador se desenvolve
geralmente a partir de vivências de maus-tratos na infância e na
adolescência. (FURLAN et al., 2011, p. 201)

Carvalho (2011, p. 9) realizou um estudo com o intuito de investigar a


existência de um perfil ou mais perfis do pedófilo. Para tanto, valendo-se de
instrumentos (Psicodiagnóstico de Rorschach e roteiro de entrevista
semiestruturado) de mensuração do sentimento de culpa por meio de entrevistas
com acusados e incriminados (um indivíduo acusado e dois sentenciados) por
crimes de abuso sexual chegou à seguinte conclusão:

Os resultados mostram que não foi encontrada uma marca ou perfil


segundo o qual possamos definir o que é o pedófilo, ou seja, não
encontramos uma configuração subjetiva específica entre aqueles que são
acusados e /ou condenados por abuso sexual tal qual aparece nas
definições clínicas psiquiátricas. (CARVALHO, 2011, p. 9)

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