O problema que sempre existiu ao se estudarem os povos tribais foi o risco do exotismo e da comparação depreciativa. Se, por um lado, as pessoas se encantam e se surpreende com os estranhos rituais e convicções míticas das tribos, por outro lado, não relutam em considera-las inferiores, atrasadas. Toda análise, inclusive a científica, sempre foi feita a partir de nossas categorias.Dessa forma, costuma-se definir a tribo como sendo a sociedade que “não tem escrita”, “não tem Estado”, “não tem comércio”,”não tem história”; para Lévi-Bruhl, antropólogo francês estudioso de antropologia, o primitivo teria uma “mentalidade pré-lógica”. Segundo o etnólogo Pierre Clastres, se explicamos as sociedades tribais pelo que lhes falta, tendo como ponto de referência a nossa sociedade, deixamos de ter uma melhor compreensão da sua realidade, o que, em muitos casos, tem justificado a atitude paternalista e missionária de “levar o progresso, a cultura e a verdadeira fé” ao povo “atrasado”. A abordagem mais adequada seria a de considerar esses povos diferentes, e não inferiores. A tendência de considerar esses grupos como inferiores vem da tradição da colonização e a justifica. Quando a Europa iniciou a expansão ultramarina nos séculos XV e XVI, procurava superar a crise econômica feudal. A preocupação predominante era a obtenção de metais preciosos e a busca de novos caminhos para as Índias. Daí a denominação índios, dada aos nativos americanos, que se supunha pertencer às terras do Oriente.