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Saúde e Meio Ambiente

EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Nilza Maria Coradi

Saúde e Meio
Ambiente

São Paulo
2017
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL

C787s
Coradi, Nilza Maria.
Saúde e meio ambiente. / Nilza Maria Coradi. São Paulo: Cruzeiro do
Sul Educacional. Campus Virtual, 2017.
64 p.

Inclui bibliografia

ISBN: 978-85-8456-178-0

1. Meio Ambiente. 2. Saúde. I. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus


Virtual. II. Título.
CDD 577

Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Autoria: Nilza Maria Coradi

Revisão Textual: Vera Lídia de Sá Cicarone, Claudio Brites, Fatima Furlan e Luciano Vieira Francisco

2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual.


www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais.
Plano de Aula

Saúde e Meio Ambiente

SUMÁRIO
Unidade I – Conceitos
9 e Correlação entre Saúde
e Meio Ambiente

23 Unidade II – Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade

39 Unidade III – Epidemiologia

Unidade IV – Políticas
53 de Saúde Pública, Ambiental
e Desenvolvimento Sustentável
PLANO DE
AULA

Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
Assim: de se alimentar
e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.

6
Objetivos de aprendizagem
Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
Unidade I

» Tratar do tema Saúde e Meio Ambiente e discutir os conceitos de saúde e meio ambiente bem como a interdependência
entre essas áreas.
» Verificaremos como o profissional de meio ambiente pode interferir e gerir o meio de modo a proporcionar um ambiente
saudável e equilibrado, com mais saúde e qualidade de vida.
» Dar início, também, ao tema Poluição Ambiental, no qual iremos nos aprofundar no decorrer do curso.

Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade


Unidade II

» Abordar as fontes e os tipos mais comuns de poluição nas águas, no solo e no ar, destacando as características e
propriedades dos principais contaminantes. Estudaremos os aspectos gerais relacionados ao transporte, à reatividade
e aos processos que os poluentes sofrem, e suas consequências na saúde da população.
Unidade III

Epidemiologia
» Nesta unidade, abordaremos os conceitos, fundamentos e métodos da epidemiologia e suas aplicações no âmbito
da saúde coletiva. A epidemiologia é uma disciplina que fornece subsídios para a construção de conhecimentos em
relação à saúde das comunidades orientando as ações em populações humanas e seu ambiente.

Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável


Unidade IV

» Nesta Unidade discutiremos temas relacionados às políticas de saúde pública, ambiental, desenvolvimento sustentável
e qualidade de vida. Para que o profissional obtenha um resultado importante na promoção da saúde e no equilíbrio
ambiental, faz-se necessário uma visão holística.

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I
Conceitos e Correlação entre
Saúde e Meio Ambiente

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nilza Maria Coradi

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicarone
Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
Contextualização
As modificações no meio ambiente decorrentes dos processos antrópicos, que acontecem em escala
global, ocorrem em taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas, resultando no
esgotamento dos recursos naturais e na poluição ambiental.

As modificações ambientais decorrentes dos padrões de consumo e de produção das sociedades


modernas alteram significativamente o ambiente natural, aumentando o risco de doenças e atuando de
forma negativa na qualidade de vida da população.

O mundo moderno apresenta muitas contradições para a humanidade. Se, por um lado, propicia
melhores condições de vida, por outro, cria novos desafios para o homem ao alterar profundamente
seu habitat.

Fica clara a importância de os profissionais de saúde e meio ambiente aprofundarem seus estudos
sobre a epidemiologia ambiental, fazerem uma análise que envolva a importância do saneamento e do
manejo ambiental para a promoção da saúde e suas interações com o meio ambiente, estudarem as
condições sanitárias, doenças infecciosas e parasitárias e as políticas públicas relacionadas.

Assim podemos começar a desenvolver um ambiente sustentável com maior equilíbrio,


proporcionando uma melhora na qualidade de vida da população sem deixar de lado as necessidades
de todos os seres vivos do planeta em que vivemos.

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Introdução

Nesta unidade discutiremos os conceitos de saúde e meio ambiente bem como a interdependência
entre essas áreas. Vamos verificar, também, como o profissional de meio ambiente pode interferir e
gerir o meio, de modo a proporcionar ambiente saudável e equilibrado, com mais saúde e qualidade de
vida. A saúde ocupa uma posição de destaque na vida do indivíduo e da sociedade. Vamos ver como o
indivíduo compõe uma relação com o corpo, consigo mesmo e com o meio em que vive.

As modificações no meio ambiente decorrentes dos processos antrópicos, que acontecem em escala
global, ocorrem em taxas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas, resultando no
esgotamento dos recursos naturais e na poluição ambiental.

As modificações ambientais decorrentes dos padrões de consumo e de produção das sociedades


modernas alteram significativamente o ambiente natural, aumentando o risco de doenças e atuando de
forma negativa na qualidade de vida da população.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a saúde é entendida como um estado de completo bem-
estar físico, mental e social ou, simplesmente, ausência de doença.

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, apresenta um conceito amplo de saúde,


definindo-o da seguinte forma:

A saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde.

Nesse conceito, a situação de saúde é direta ou indiretamente produto das condições da vida
biológica, social e cultural e da interação entre o meio físico e social.

A preocupação com a saúde sempre acompanhou o homem ao longo da história. Os homens


desenvolveram diversas formas de explicar os fenômenos naturais e sociais. A doença, ao longo do
tempo, obteve diversas explicações, algumas atribuídas a causas externas e relacionadas a fatores
ambientais, e para elas, depois de identificadas, foram desenvolvidas práticas curativas incorporadas à
sabedoria popular.

É fácil percebermos que, até hoje, há diferentes concepções do que seja saúde e sobre as causas das
doenças. Esse conceito varia no tempo e no espaço. Cada cultura, cada época tem seus conceitos e
critérios para distinguir o normal do patológico. Daí a importância de incorporarmos os aspectos que
focalizam a posição do indivíduo em relação ao sistema econômico, social e ao meio ambiente no qual
está inserido.

A Epidemiologia, ciência que estuda o processo saúde-doença na comunidade, analisando a


distribuição e os fatores determinantes das enfermidades e dos agravos à saúde coletiva e sugerindo
medidas específicas de prevenção, de controle ou de erradicação, apresentou, ao longo da história,
várias teorias que mostram a origem das doenças. Apresentamos, a seguir, um resumo dos métodos
epidemiológicos convencionais e suas peculiaridades:

Teoria Unicausal: a doença decorre de uma única causa, sempre fora do organismo agredido,
sendo um agente biológico capaz de promover um processo patológico e que penetra no organismo

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
e desencadeia a doença, a qual apresenta sintomas característicos, com causa, patogenia e
patologia. Esse modelo foi reforçado com as descobertas microbiológicas que colocaram, como
foco da causa da doença, o micro-organismo.

Teoria Multicausal: a doença, segundo esta teoria, tem multiplicidade de causas coexistentes,
capazes de produzir alterações físicas, com possível correção a partir de medidas que intervêm na
cadeia causal.

Teoria da Triade Ecológica: o equilíbrio da saúde depende da interação entre o meio ambiente
físico, social e econômico, com os diferentes agentes biológicos e físicos, e o homem, com características
etárias, de raça, sexo, hábitos, fatores genéticos, personalidade e mecanismo de defesa. O mais
interessante deste modelo é que ele apresenta intervenções na promoção da saúde - com ações sobre
o ambiente, educação, alimentação e lazer - na proteção da saúde - com imunizações, diagnósticos
precoces – e na limitação do dano e reabilitação.

A interdependência entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento é reconhecida há muito tempo,


no entanto nosso modelo de desenvolvimento vem provocando danos irreversíveis ao meio ambiente
e, consequentemente, à saúde. Com o rápido crescimento populacional e a urbanização vem toda
espécie de abusos e destruição que colocam em risco não só a qualidade de vida e a saúde das pessoas,
mas também a biodiversidade e os processos naturais que sustentam a sobrevivência na terra.

Em um ecossistema primitivo, o conjunto de atividades antrópicas apresenta uma pequena ou


nenhuma modificação no ecossistema. Entende-se por ecossistema o sistema onde se vive. É uma
unidade natural constituída de parte não viva (água, gases atmosféricos, sais minerais e radiação solar)
e de parcela viva (plantas e animais, incluindo os microrganismos), que interagem ou se relacionam
entre si, formando um sistema estável.

Em um ecossistema rural, já ocorrem mudanças no ambiente. Nesse ecossistema já se observa um


processo de importação energética, com os fertilizantes químicos, combustível para movimentação
de máquinas, plantio e colheita, importação de água. Ocorre também a importação de espécies
vegetais e animais de outras regiões, além da retirada de vegetação primária.

No ecossistema urbano, as alterações ocorridas já se apresentam de forma bem mais significativa,


evidenciando características bastante alteradas em relação aos ambientes primitivos. Nos ecossistemas
urbanos, temos como principais características a alta densidade demográfica, elevado volume de
resíduos, alterações significativas da diversidade biológica natural, impermeabilização do solo, alterações
de cursos de água, etc.

Os diversos estudos mostram diferenças importantes entre um ambiente natural e um ambiente


urbano. Como exemplo, podemos citar a poluição atmosférica, responsável pelo maior risco de
problemas de saúde e pela piora da qualidade de vida da população.

O homem está submetido não só à exposição obrigatória à natureza, ar, água, solo e radiações solares
como também à exposição provocada por outros agentes, como os aditivos alimentares, pesticidas,
agrotóxicos e hormônios. Nas indústrias, moradias e transportes, temos os dejetos, contaminando
solo, ar e água e afetando o meio ambiente e a saúde humana.

Os processos de industrialização e de urbanização desencadearam processos de alteração do


equilíbrio sociedade-natureza e homem-ambiente. Os avanços tecnológicos e os modos de produção
após a Segunda Guerra, com o uso da química e petroquímica, aumentaram a nocividade ambiental.

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O desequilíbrio socioecológico contemporâneo está distribuído de maneira diferente no planeta.
Nos países desenvolvidos, concentra-se a poluição da riqueza, como usinas nucleares, chuva ácida,
montanhas de lixo, doenças provocadas por excesso de alimentos, álcool, drogas e medicamentos. Nos
países em desenvolvimento, concentra-se a poluição da pobreza, como escassez de água potável, falta
de rede de esgoto, lixo sem disposição adequada, com doenças provocadas por esses desequilíbrios,
como diarreias, malária e dengue.

Países desenvolvidos, poluição da riqueza – usina nuclear


Países em desenvolvimento, poluição da pobreza – população sem rede de esgoto
Fontes: Thinkstock/Getty Images

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –, no entanto, sustenta que o
desenvolvimento humano tem consequências diretas sobre a proteção do meio ambiente e adverte que a
pobreza é uma das piores ameaças ao meio ambiente e à sustentabilidade da vida.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, chamada Comissão BRUNDTLAND, em 1987, conceituou
desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”

O Conceito de ECODESENVOLVIMENTO, que tem como foco o desenvolvimento econômico, a


sustentabilidade social e humana e a biosfera, possui um conjunto de seis dimensões da sustentabilidade:
a. Sustentabilidade Social, apoiada nos princípios de distribuição de renda e solidariedade dos
laços sociais;
b. Sustentabilidade Ecológica, apoiada no princípio da solidariedade com o planeta e suas
riquezas e a biosfera;
c. Sustentabilidade Econômica, apoiada no desenvolvimento menos agressivo ao meio
ambiente com base na organização da vida material;
d. Sustentabilidade Geográfica ou Espacial, apoiada no princípio da equanimidade nas
relações inter-regionais e na distribuição espacial mais equilibrada dos assentamentos humanos
e das atividades econômicas;
e. Sustentabilidade Cultural, baseada em uma pluralidade de soluções locais, adaptadas a cada
ecossistema e a cada cultura.

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
Vale a pena ressaltar que o conceito de desenvolvimento sustentável engloba não só o crescimen-
to econômico mas também a igualdade social e o equilíbrio ecológico. Esses princípios apontam para
uma nova forma de ver o mundo, focando na responsabilidade presente e na qualidade de vida das
futuras gerações.

As condições ambientais em que vivem as pessoas têm grande influência na saúde e contribuem
para a incidência de muitas doenças, incluindo câncer, doenças respiratórias e distúrbios mentais.
Em áreas carentes e densamente habitadas, o próprio ambiente de moradia constitui um risco para
a saúde, resultado da falta de saneamento e abastecimento de água inadequado, disposição do lixo e
drenagem impróprias, condições de higiene precárias, entre outros fatores. Pequenas melhorias nesse
ambiente e no entorno exerceriam grandes impactos na redução do sofrimento humano, na melhoria
da qualidade de vida e na diminuição de doenças como diarreias e infecções respiratórias.

Nesse contexto, as concepções de saúde, meio ambiente e desenvolvimento adquirem novas


dimensões: a saúde ambiental, além de envolver aspectos da saúde humana, inclui qualidade de vida,
determinada pelos fatores ambientais físicos, químicos, biológicos e sociais. Para a construção de um
processo sustentável de desenvolvimento econômico e social, o meio ambiente e os efeitos nocivos
desse ambiente na saúde humana e nos desequilíbrios ambientais devem ser considerados.

Para tratarmos dos desafios envolvendo saúde, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, são
fundamentais ações integradas e estratégicas intra e intersetoriais para uma abordagem integral e
interdisciplinar. Só assim teremos resultados mais efetivos.

O desenvolvimento sustentável inclui, entre outros aspectos, abastecimento seguro de água, coleta,
tratamento e destino sanitário dos dejetos e resíduos sólidos, controle dos riscos derivados do processo
de desenvolvimento, como a contaminação por produtos tóxicos utilizados nas atividades humanas,
redução da poluição do ar e do desmatamento, a qual gera o desequilíbrio dos ciclos de vida dos
vetores, aumentando a incidência de outras doenças.

Meio Ambiente e Saúde


A relação saúde e meio ambiente sempre esteve presente no discurso e nas práticas de saúde pública,
mas foi a partir do século XX que a preocupação com as questões ambientais tornou-se evidente em
diversos países. Algumas publicações, como Primavera Silenciosa (Silent Spring), de Rachel Carson e o
relatório Limites de Crescimento (Limits to Growth), e duas grandes conferências mundiais sobre o tema,
realizadas em Estocolmo (1972) pelas Nações Unidas e no Rio de janeiro, em 1992, colocaram um
holofote sobre a necessidade de dar atenção aos problemas ambientais.

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Esquema do crescimento da população e as consequências no desequilíbrio ambiental

Concomitantemente, uma nova saúde pública despontou com um enfoque na saúde preventiva,
passando a direcionar as ações para as dimensões ambientais da saúde. Com essa ideia mais abrangente
de saúde, podemos perceber a importância da qualidade de vida. Entre essas ações, podemos destacar a
educação relativa aos problemas de saúde e os métodos de prevenção, o aporte de alimentos e nutrição
adequada, o abastecimento de água potável e saneamento básico, a imunizações contra enfermidades
infecciosas, o tratamento apropriado das enfermidades e a disponibilidades de medicamentos.

Essa nova concepção de promoção da saúde, no campo da medicina preventiva e social, inclusive
com aumento das pesquisas no campo das ciências sociais aplicadas à saúde, trouxe um novo enfoque
calçado nos fatores sociais e ambientais. De uma forma mais abrangente, podemos colocar o entorno
físico e social como determinante na condição da saúde. Aspectos como a violência, acidentes,
contaminação da água e do ar, má alimentação, falta de habitação e hábitos higiênicos, consequências
de ambientes totalmente desfavoráveis, exigem uma ação efetiva que inclua a responsabilidade do
indivíduo e políticas públicas mais eficientes.

Desenvolvimento dos Conceitos Saúde, Ambiente e Sustentabilidade


Foi no século XX, após a Segunda Guerra Mundial – quando houve um pico na taxa de consumo
dos recursos naturais, um processo acelerado de urbanização, aumento dos índices de poluição urbana,
com alterações ambientais na escala global, como aumento do efeito estufa, redução da camada de
ozônio e redução da biodiversidade – que houve a necessidade de iniciar uma discussão a respeito das
questões ambientais e suas consequências para a saúde humana.

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
Na década de 70, iniciaram-se, então, as discussões ambientais de forma mais efetiva. A conferência
de Estocolmo (1972) deu início ao processo de estruturação dos órgãos ambientais. Nesse contexto,
poluir passou a ser crime em diversos países.

Em 1974, a Alemanha aprovou o primeiro SELO ECOLÓGICO, chamado Anjo Azul, para destacar
produtos que se distinguiam por sua qualidade ambiental. Nesse mesmo ano, ficou estabelecida a
relação entre os CFCs – clorofluorcarbonos – e a destruição da camada de ozônio.

Nos anos 80, no Brasil, passaram a vigorar as legislações específicas sobre poluição, com o
objetivo de controlar a instalação de novas indústrias e controlar as já existentes. Para a aplicação
dessa legislação, foram implementados os Estudos de Impactos Ambientais (EIAs) e os Relatórios de
Impactos Ambientais (RIMAS). A partir daí, foi marcante a preocupação com os impactos gerados no
ambiente e na saúde humana.

No entanto, a década de 90, sem dúvida, foi a mais produtiva em termos de preocupação com
a inter-relação saúde e meio ambiente. A conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio 92) mostrou que os problemas ambientais extrapolavam os limites de ações
localizadas e constituíam preocupação para toda a humanidade. Vários documentos foram elaborados,
dentre os quais se destaca a Aprovação da Agenda 21. Esse documento é um orientador para a
integração, em âmbito mundial, de ações articuladas para o desenvolvimento sustentável, a saúde
humana e a proteção ao meio ambiente.

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92)
Fonte: UN Photo/Michos Tzovaras

Testemunhou-se, também, a entrada em vigor das Normas Internacionais de Gestão Ambiental, sob
o título de ISO 14000, coroando o processo de conservação do meio ambiente em bases sustentáveis.

Em 1995, em Washington, durante a Conferência Pan-Americana sobre saúde e Ambiente no


Desenvolvimento Humano Sustentável, a qual objetivava a adoção de políticas e estratégias sobre a
saúde e meio ambiente, concluiu-se que as ações visando à saúde humana ainda eram incipientes em
diversas partes do mundo.

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Não são recentes os problemas relacionados à poluição. Surgiram com o advento da Revolução Industrial,
que acelerou o processo de urbanização, adensou as cidades, aumentando as necessidades de fontes de
energia e promovendo, assim, o maior lançamento de poluentes ao meio ambiente.

Modificações Ambientais e seus Impactos na Saúde


As últimas décadas foram marcadas pelas ações antrópicas e pela destruição ambiental; nunca se
destruiu tanto em tão curto período de tempo.

A exposição do ser humano a poluentes presentes no ar, na água, no solo e nos alimentos contribui,
de forma direta ou indireta, para o aumento da morbidade e da mortalidade. O fator ambiente na
condição da saúde é percebido facilmente quando ocorre a exposição à poluição, tanto na forma
aguda, com altos níveis de concentração de poluentes, como ao longo do tempo, com baixos, mas
constantes, níveis de exposição.

A exposição a poluentes é, normalmente, involuntária; as pessoas não percebem a presença


dos poluentes, e isso faz com que elas não exerçam um controle sobre os riscos da exposição.
Agentes biológicos, químicos e físicos podem ser encontrados nos diversos tipos de ambientes
e são responsáveis por diferentes efeitos à saúde. Esses efeitos vão depender da periculosidade
intrínseca do poluente, da intensidade da exposição e da suscetibilidade do indivíduo exposto.

Os riscos ao meio ambiente e à saúde são diversos e englobam tanto os riscos tradicionais,
representados pelos dejetos humanos em áreas densamente povoadas, como os riscos provocados
por poluentes atmosféricos resultantes do tráfego dos veículos automotores. No entanto, a origem de
todos é similar; o ponto inicial é, normalmente, alguma forma de atividade ou intervenção humana.
Esse processo é chamado de emissão. Uma vez no ambiente, os poluentes são dispersados por meio
do ar, da água, do solo ou dos alimentos.

As atividades humanas geram uma série de resíduos que são dispostos no ambiente. A emissão
de resíduos pode ocorrer durante todo o ciclo de vida de um produto, desde a extração inicial até a
rejeição final. A área de origem de resíduos é conhecida como fonte. Uma grande variedade de fontes
gera a emissão de poluentes, que podem ser classificados como poluentes primários ou secundários.

Os poluentes primários originam-se nas fontes de emissão, as quais podem ser classificadas como:

- pontuais (incinerador);

- lineares (rodovias);

- de área (drenagem urbana);

- estacionárias (refinaria de petróleo);

- móveis (automóveis);

- antropogênicas (lixão).

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
Os poluentes secundários aparecem por meio da condensação de vapores e de reações químicas,
produzindo novos compostos.

Os problemas relacionados à poluição química acabam impactando a qualidade da água, do solo


e dos alimentos, trazendo uma série de riscos associados, como a redução da camada de ozônio,
contaminações atmosféricas, e desencadeando diversos problemas de saúde na população. O problema
da poluição do ar atinge todas as regiões do planeta. Na Índia, respirar o ar de Bombaim é equivalente
a fumar dez cigarros por dia. A OMS calcula que três milhões de pessoas morrem por ano devido à
poluição do ar.

Poluição do ar em Bombaim (Índia)


Fonte: Thinkstock/Getty Images

Pesquisas desenvolvidas nos anos 70 já apontavam a presença, no ambiente, de resíduos de produtos


farmacêuticos (hormônios, medicamentos de uso humano e veterinário) e agroquímicos (pesticidas e
fertilizantes). Tais produtos podem produzir alterações no meio ambiente e nos seres vivos.

Podemos citar, como exemplo, os resíduos do diclofenaco (anti-inflamatório de amplo uso mundial
humano e veterinário) presentes em carcaças consumidas por abutres de uma determinada espécie
acabou levando um grande número de animais à falência renal. Hoje essa espécie encontra-se em
ameaça de extinção no Paquistão.

Os medicamentos têm um importante papel no tratamento e na prevenção de doenças tanto em


humanos como em animais, mas também apresentam outros efeitos no meio ambiente e merecem ser
estudados na área da saúde ambiental.

Dispersão dos Poluentes


Os poluentes são dispersos pelo ar, água, solo, organismos vivos, alimentos. Existem diversas formas
de dispersão, dependendo tanto da fonte do poluente como do próprio poluente. A dispersão da
poluição do ar, por exemplo, depende das condições climáticas, da altura da emissão, das fontes, como
exaustão de veículos automotores, que ficam ao nível do solo, ou como as chaminés de indústrias, que

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estão em níveis altos. A topografia local e regional também influencia o comportamento da dispersão
dos poluentes. No solo, por exemplo, a dispersão ocorre dependendo da estrutura, da textura e da
característica de drenagem.

Os poluentes entram no corpo humano de diferentes maneiras; pode ser por inalação, ingestão ou
por absorção pela pele. A quantidade de poluente que entra no corpo é chamada de dose e depende
da duração e da intensidade da exposição. A quantidade de poluente absorvida pode ser metabolizada,
transportada, acumulada ou eliminada pelo organismo. O poluente absorvido pelo organismo pode
alcançar um órgão, podendo causar efeitos adversos. Os primeiros efeitos podem ser alterações
subclínicas, podendo ser seguidas por doenças e até pela morte.

As Formas mais Comuns de Poluição e seus Efeitos na Saúde


(Ar, Água, Solo)
O ar contaminado entra no organismo por inalação dos poluentes e também por absorção pela
pele. Os efeitos mais comuns estão associados ao sistema respiratório. Em pessoas mais suscetíveis,
como crianças e idosos, o material particulado inalado pode levar à constrição brônquica, bronquite
crônica, agravar as alergias do sistema respiratório, etc.

A água contaminada é absorvida pelo corpo humano por ingestão. Alguns contaminantes ainda
podem ser absorvidos por inalação ou contato dérmico. Dependendo do tipo de contaminação,
diferentes órgãos podem ser atingidos. Alguns contaminantes, como compostos orgânicos voláteis,
podem afetar o fígado e os rins, causando hepatite ou paralisação renal.

A exposição ao alimento ou solo contaminado pode apresentar muitas formas. O chumbo, por
exemplo, pode atingir quase todos os sistemas orgânicos. Efeitos do chumbo podem ser sentidos tanto
no sistema nervoso como na pressão sanguínea.

Um amplo espectro de efeitos adversos à saúde pode ser percebido como resultado de exposição
a ambientes contaminados. Podemos dividir esses efeitos em duas categorias principais: efeitos
agudos e efeitos crônicos. Eles variam de gravidade, podendo ser desde um simples desconforto ou
até a morte prematura.

Água e alimentos contaminados por micro-organismos, por exemplo, podem provocar um


agravamento à saúde pouco tempo após uma exposição. Por outro lado, o arsênico na água pode
levar a um efeito grave após longo período de exposição a níveis baixos, porém constantes, causando
o câncer, por exemplo. O chumbo, por sua vez, pode causar efeitos tanto agudos como crônicos.
Dessa maneira, alguns poluentes provocam um efeito quase imediato após o contato, enquanto
outros precisam se acumular antes de causar qualquer efeito detectável à saúde.

De uma forma geral, as pessoas não são afetadas igualmente pelo mesmo risco ambiental. Existe
uma variação na sensibilidade para determinada exposição devido a muitos fatores. Essa diferença
acontece, além das características genéticas individuais, por conta da idade, do estado nutricional e do
estado geral da saúde. Alguns subgrupos populacionais, como crianças, idosos, gestantes, indivíduos
subnutridos ou doentes, são considerados mais suscetíveis.

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
A vulnerabilidade a esses riscos de agressões ambientais depende, também, das diferentes habilidades
de grupos de indivíduos. A ocorrência e a gravidade de casos de doença devido à contaminação de
água por microrganismos, por exemplo, vai depender do acesso dessa população a fontes de água
alternativas e acesso ao atendimento médico. A condição econômica, muitas vezes, limita a população
e deixa-a mais vulnerável a riscos ambientais.

Para uma avaliação mais ampla e segura dos efeitos da poluição ambiental na população, precisamos
de dados de saúde para estudos. Eles fornecem indicadores dos efeitos à saúde humana de exposições
conhecidas a poluentes ambientais, que, quando relacionados aos dados ambientais, tornam possível
confirmar as associações entre exposição e efeito em uma área específica ou quantificar a contribuição da
exposição para o total de mortes. O monitoramento pode fornecer também informações sobre os efeitos
de mudanças na exposição como resultado de políticas de intervenção ou adoção de novas tecnologias.

O mundo moderno apresenta muitas contradições para a humanidade. Se, por um lado, propicia
melhores condições de vida, por outro, cria novos desafios para o homem ao alterar profundamente
seu habitat.

Nas próximas unidades, iremos aprofundar nossos estudos sobre a epidemiologia ambiental, fazer
uma análise que envolve a importância do saneamento e manejo ambiental para a promoção da
saúde e suas interações com o meio ambiente, estudar as condições sanitárias, doenças infecciosas e
parasitárias e as políticas públicas relacionadas.

20
Material Complementar

Explore
Sustentabilidade - Saúde e Meio Ambiente - Jornal Minas.
https://youtu.be/g1MEqJN1Lh4

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Conceitos e Correlação entre Saúde e Meio Ambiente
UNIDADE
I
Referências

BATTAGLIN, P. et al. Saúde Coletiva: um Campo em Construção. Curitiba: Ibpex, 2006.

PHILIPPI, A; Pelicioni, M.C.F. Educação Ambiental e Sustentabilidade. 2 ed. Barueri:


Manoele, 2014.

_____________. Saneamento, Saúde e Ambiente. Editor. Barueri: Manoele, 2014.

ROSA, A. et al. Meio Ambiente e Sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre:


Bookman, 2012.

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II
Meio Ambiente, Saúde
e Sustentabilidade

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nilza Maria Coradi

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Contextualização
Para termos um desenvolvimento sustentável, devemos equilibrar as atividades antrópicas
suas modificações ambientais e os impactos causados que podem comprometer negativamente
a qualidade de vida presente e futura. Com isso bem claro, podemos propor mudanças
no padrão de consumo com uma maior eficiência no sistema de produção, otimização
dos recursos naturais e minimização da geração de rejeitos. Como resultado, teremos uma
redução na quantidade de poluentes lançados no meio, melhoria da qualidade de vida e da
saúde da população.
Um planejamento ambiental urbano adequado pode trazer um uso mais eficiente da energia,
com um sistema de transporte urbano que estimule a redução de viagens, transportes de
cargas menos poluentes, reduzindo assim a poluição atmosférica.
É necessário que os recursos hídricos sejam utilizados de forma mais consciente, no sentido
de preservar os recursos ainda disponíveis e tratar as águas residuárias, promovendo mais
saúde para a população.
Da mesma maneira a utilização de pesticidas deve ser controlado e medidas mitigadoras
adotadas para minimizar os efeitos na saúde.
Para tanto, o profissional de meio ambiente precisa ter uma formação abrangente e
conseguir gerir uma equipe multidisciplinar, desta forma os resultados serão com certeza mais
eficientes, tanto na preservação dos recursos naturais, na melhor maneira de utilizá-los, como
melhorando a saúde e a qualidade de vida da população.

24
Introdução

Nesta unidade, serão abordados as principais fontes e tipos de poluição nas águas, solo e ar,
destacando as características e propriedades dos principais contaminantes. Estudaremos os aspectos
gerais relacionados ao transporte, à reatividade e aos processos que os poluentes sofrem e suas
consequências na saúde da população. Para o profissional que trabalha na gestão do meio ambiente
é importante conhecer as principais fontes de poluição a que estamos submetidos e como isso afeta o
meio ambiente e a saúde. É fundamental que fique claro que os profissionais da área de saúde e meio
ambiente devem unir esforços para manter um ambiente saudável, de modo que todos os elementos
interajam de forma equilibrada e em harmonia.

As modificações nos padrões de consumo em escala global bem como o que seus impactos
alcançaram no último século foram aspectos determinantes para as alterações dos espaços naturais.
Houve um grande pico na taxa de consumo de recursos naturais associado ao processo de urbanização
com o aumento dos índices de poluição urbana, levando a grandes modificações ambientais, reduzindo
a camada de ozônio, aumentando o efeito estufa e diminuindo a biodiversidade, entre outros resultados.

As alterações ambientais decorrentes do processo antrópico de ocupação dos espaços e de


urbanização ocorrem em escalas incompatíveis com a capacidade de suporte dos ecossistemas naturais,
resultando em esgotamento dos recursos e em poluição. Diversos estudos mostram que essas alterações
levaram à poluição do meio ambiente físico, aumentando o risco de exposição a doenças e atuando de
forma negativa na qualidade de vida da população.

Poluição das Águas e Saneamento


A água é a substância mais abundante do planeta e é o elemento mais importante para a
sobrevivência da espécie humana e de toda a vida na terra. A água é um recurso natural essencial, tanto
como componente nos seres vivos, meio de vida de várias espécies vegetais e animais, quanto como
elemento de produção de bens de consumo e produtos agrícolas. A água é o constituinte inorgânico
mais abundante na matéria viva. No homem, representa 60% do seu peso. Como fator de consumo
nas atividades humanas, a água também tem um papel importante, tanto na agricultura, indústria,
quanto no uso doméstico.

Em termos globais, as fontes de água são abundantes, no entanto, quase sempre são mal distribuídas
na superfície da terra. Mesmo no Brasil, que possui a maior disponibilidade hídrica do planeta, os recur-
sos hídricos estão localizados em sua maior parte na região norte (68,5%), onde habita apenas 7% da po-
pulação; na região sudeste, que possui 43% da população brasileira, há apenas 6% dos recursos hídricos.

As águas dos oceanos e lagos salgados correspondem a 98% e são indisponíveis para diversos tipos
de usos. Da água doce restante (2%), cerca de 70% está na forma de gelo, na atmosfera e em águas
subterrâneas, a maior parte em grandes profundidades – isso significa que a quantidade de água doce
que de alguma forma pode estar disponível para o uso é de 0,3%, e se encontra no solo. A parcela

25
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
disponível nos cursos de água é a menor, é de onde retiramos a maior parte que consumimos, para uso
nas mais diversas finalidades – e onde lançamos nossos resíduos.

Nos últimos 50 anos, com o crescimento populacional, ocorreu um aumento da produção industrial
e agrícola por conta da fabricação e utilização de compostos químicos sintéticos (inseticidas, herbicidas,
plásticos, etc.). Os resíduos gerados por esses compostos chegam aos recursos hídricos alterando a qualidade
da água. O conhecimento e a compreensão das fontes de poluição, interações e efeitos dos poluentes são
essenciais para o controle e para a obtenção de um ambiente saudável e economicamente sustentável.

A água potável e de boa qualidade é fundamental para a saúde dos seres humanos, entretanto, a
maioria da população não tem acesso a esse bem tão precioso.

Apesar de ser tão importante para os seres humanos, a água é também um dos meios mais comuns
de transmissão de doenças. Se a água utilizada não apresentar a qualidade necessária, os organismos
que a consumirem serão infectados e alvos de inúmeras doenças. O quadro 1.1 apresenta algumas
doenças infecciosas de veiculação hídrica.

Muitas doenças são transmitidas pela água e podem ser evitadas com um tratamento adequado dessa
água antes do seu uso. As estações de tratamento se utilizam de vários recursos como a decantação,
filtração, cloração, a fim de eliminar os microrganismos causadores das mais diversas enfermidades.

Principais Doenças causadas pela Ingestão de Água Contaminada


Doenças Agente Causador Sintomas

Diarreia abundante, vômitos ocasionais, rápida desidratação, acidose,


Cólera Víbrio Cholera 01
câimbras musculares e colapso respiratório.

Amebíase Entamoeba Histolytica Disenteria aguda, com febre, calafrios e diarreia sanguinolenta

Gastroenterite Viral Rota Vírus Diarreia, vômitos, levando à desidratação grave.

Hepatite Vírus de Hepatite A Febre, mal-estar geral, falta de apetite, Icterícia


Desinteria Bacilar Bactéria Shigella Fezes com sangue e pus, vômitos e cólicas
Fonte: O básico da água - CUNO University - 1997

Fontes e Tipos de Poluição Hídrica


A Lei de Politica Nacional do Meio Ambiente (Lei No 6.938 de 31 de agosto de 1981) define poluição:

[...] a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou


indiretamente:

a. Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;


b. Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c. Afetem desfavoravelmente a biota;
d. Afetem as condições estéticas ou sanitárias do Meio Ambiente;
e. Lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

26
A poluição das águas é consequência principalmente de atividades humanas, como o lançamento
de efluentes domésticos e industriais sem tratamento. A poluição aquática pode ser classificada em:

• Poluição térmica – Proveniente do descarte nos rios de grande quantidade de água aquecida
utilizada em processos de refrigeração em refinarias, siderúrgicas e usinas termoelétricas. Dentre
as várias consequências desse processo tem-se a redução do oxigênio, dificultando a respiração
dos peixes, além de potencializar a ação de poluentes presentes na água, aumentando a
velocidade das reações e a solubilidade de compostos;

• Poluição sedimentar – Acúmulo de partículas em suspensão, geralmente partículas de solo e


produtos químicos orgânicos ou inorgânicos insolúveis, essas partículas bloqueiam a entrada de
raios solares, interferindo na fotossíntese de plantas aquáticas. O assoreamento dos corpos de
água é uma consequência grave da poluição sedimentar;

• Poluição biológica – É a presença de microrganismos patogênicos causadores de doenças


que estão presentes nos excrementos humanos e animais, tais como: Bactérias, que provocam
infecções intestinais epidêmicas e endêmicas; Protozoários; vírus e verminoses. Por meio das
águas residuais, os microrganismos chegam a outros corpos aquáticos podendo contaminar
outros indivíduos. Inúmeras medidas de saúde pública têm sido adotadas para minimizar essa
contaminação, como a desinfecção da água destinada ao consumo humano, a coleta e o
tratamento de efluentes (esgotos);

• Poluição radioativa – A poluição por resíduos radioativos é proveniente principalmente de


resíduos radioativos lançados no mar, afundamento de arsenais nucleares, explosões atômicas
submarinas ou fugas radioativas. Esses compostos radioativos podem ser bem prejudiciais à
saúde, o principal efeito da exposição é o câncer;

• Poluição química – É a presença de compostos químicos na água, tais como: compostos


biodegradáveis (matéria orgânica, sabões, proteínas, carboidratos e gorduras) e compostos
persistentes, são compostos químicos utilizados na produção de plásticos, fibras sintéticas, borrachas,
solventes, agentes preservantes, entre outros. Sua estrutura química é muito resistente, que é uma
característica positiva, no entanto, essa característica tem se tornado um grave problema ambiental,
já que esses compostos não se degradam facilmente. Seus efeitos ainda estão sendo estudados, mas
podem ser carcinogênicos e mutagênicos.

Os poluentes aquáticos podem ser classificados para efeito de legislação como:

• Fontes pontuais – Aquelas de fácil identificação e monitoramento. É possível identificar a


composição dos resíduos e prever o impacto no ambiente e na saúde. Como exemplo, podemos
citar os efluentes industriais;

• Fontes difusas – Que apresentam características específicas e se espalham por diferentes


locais, sendo difíceis de serem identificadas em função da característica de suas descargas e da
abrangência de sua atuação. Exemplo: atividades agrícolas.

27
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Poluição Aquática no Brasil
O termo utilizado para as águas que apresentam suas características naturais alteradas após a
utilização humana é efluente (esgoto). São na sua maioria compostas por excretas humanas e água de
origem doméstica, comercial e industrial.

Um dos principais problemas de poluição das águas no Brasil diz respeito aos efluentes domésticos.
O Brasil enfrenta um panorama bastante crítico em relação à coleta e tratamento de efluentes, onde
apenas 32,5% da população tem seus efluentes tratados, enquanto a maioria, 67,5%, não é beneficiada
com o sistema de tratamento.

Os sistemas locais de tratamento de efluentes são principalmente fossas e sumidouros. A grande


maioria está nas zonas rurais, onde a densidade populacional é baixa, e em zonas urbanas, nas
periferias, onde o nível socioeconômico da população é baixo, não existindo rede pública eficiente de
coleta e tratamento dos efluentes.

Os poluentes que podem estar presentes nas águas podem ser divididos em categorias. Nos
efluentes domésticos, os principais poluentes encontrados são os poluentes orgânicos: matéria
orgânica e organismos patogênicos. Nos efluentes industriais, além da matéria orgânica, também
envolve substâncias metálicas e compostos organossintéticos.

Os poluentes inorgânicos se diferenciam dos orgânicos por não serem degradáveis, fazendo
com que haja acumulação nos diversos compartimentos ambientais. São amplamente utilizados na
indústria, estando presentes na laminação de metais, formulações de pesticidas, em pigmentos como
esmaltes, tintas e corantes. Os metais podem ser distribuídos no ambiente por conta das impurezas
em fertilizantes; formulação de pesticidas; preservativos de madeira; dejetos da produção intensiva de
porcos e aves; entre outros.

Usos e Tratamento de águas residuais


Nenhum recurso natural apresenta tantos usos quanto a água. Essa utilização pode ser dividida nos
seguintes grupos:
• Abastecimento público;
• Abastecimento industrial;
• Atividades agropastoris, incluindo a irrigação;
• Preservação da Fauna e da flora aquáticas;
• Recreação;
• Geração de energia elétrica,
• Navegação;
• Diluição e transporte de poluentes.

Após a utilização das águas, temos a necessidade de tratar os resíduos, isso ocorre principalmente em
virtude das exigências cada vez maiores dos órgãos públicos, como resposta ao interesse popular na saúde
pública e a uma maior cobrança da sociedade em defesa do meio ambiente.

28
Um sistema de tratamento de águas residuais é constituído por uma série de processos, que são
empregados para a remoção de substancias indesejáveis da água ou para adequá-la a padrões aceitáveis.
A remoção de substancias indesejáveis envolve a alteração de suas características físicas, químicas e/
ou biológicas.

• Processos Físicos – Esse processo é utilizado para separar sólidos em suspensão das águas
residuais e para equalizar e homogeneizar um efluente.

• Processos Químicos – São processos nos quais a utilização de produtos químicos é necessária
para aumentar a eficiência da remoção de um elemento ou substância. Normalmente esse processo
é realizado em conjuntos com processo físicos, e algumas vezes com processos biológicos.

• Processos Biológicos – Os processos biológicos são aqueles que dependem da ação de


microrganismos aeróbios ou anaeróbios. Os processos biológicos procuram reproduzir os
fenômenos biológicos observados na natureza.

Os sistemas de tratamento de águas residuais, incluindo um ou mais processos descritos, são


classificados de acordo com o tipo de material a ser removido e da eficiência da sua remoção.

Saneamento Básico
O saneamento básico trata de um conjunto de ações que visam proporcionar níveis crescentes de quali-
dade ambiental em determinado espaço geográfico – em prol da população que habita esse espaço. Essas
ações, se bem aplicadas, produzem efeitos positivos sobre o bem estar e a saúde da população.

Os principais efeitos positivos do saneamento básico, relatado no dossiê do saneamento, são:


melhoria da saúde da população e redução dos recursos aplicados no tratamento de doenças;
diminuição dos custos de tratamento da água para abastecimento; melhoria do potencial produtivo das
pessoas; dinamização da economia e geração de empregos; eliminação da poluição estético visual e
desenvolvimento do turismo; eliminação de barreiras não tarifárias para os produtos exportáveis das
empresas locais; conservação ambiental. O investimento em esgoto sanitário tem um forte impacto
sobre a economia dos municípios como: valorização dos imóveis; crescimento da atividade de construção
civil; criação de novos empregos; etc.

Fica claro que é importante e urgente resolver a crise da água. Esse recurso natural se situa em
uma perspectiva mais ampla de solução de problemas e resolução de conflitos. O desafio para um
desenvolvimento sustentável é unir esforços no sentido de erradicar a pobreza, modificar os padrões
de produção e consumo insustentáveis, e proteger, administrar e recuperar os recursos naturais, para
que possamos ter uma melhor qualidade de vida e mais saúde.

29
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Contaminação dos Solos

O solo é um recurso natural renovável de importância semelhante a da água e, como base de um


ciclo orgânico, é pré-requisito para a existência da vida. Por outro lado, sem vida não existiria solo fértil
e produtivo. A ação dos microrganismos no solo, decompondo a matéria orgânica, é uma condição
fundamental para a fertilidade do solo.

Do solo, vegetais e animais retiram elementos para a manutenção da vida, encontram habitats e,
num processo dinâmico e harmônico de troca de matéria e energia, reciclam os elementos minerais
nos ciclos biogeoquímicos. O solo, portanto, tem vida, sendo necessário conhecer seus mecanismos
e sua dinâmica para o equilíbrio ecológico, manter e preservar sua fertilidade e deixá-lo livre das
contaminações decorrentes do uso inadequado de recursos.

O solo foi definido de diversas maneiras, mas para nosso estudo é importante saber apenas que
é um recurso natural que deve ser bem utilizado para manter em equilíbrio a vida no planeta. O solo
desempenha funções diversificadas e fundamentais, como:

• Substrato essencial a vida na terra;


• Fator de controle natural dos ciclos de elementos e energia;
• Filtro bioquímico nas trocas entre a atmosfera e a litosfera;
• Reservatório natural de água doce;
• Substrato essencial para a produção de alimentos;
• Substrato essencial à vida animal e humana.

Com a revolução industrial, houve um aumento considerável da poluição e da geração de resíduos.


Muitos dos problemas ambientais que encontramos hoje é resultado de mais de 200 anos de má gestão
do lixo industrial, onde as contaminações são consequências frequentes.

Áreas contaminadas representam riscos à saúde pública onde substancias toxicas podem entrar
em contato direto com a pele, serem ingeridas ou inaladas. Odores e gases nocivos podem ser
liberados de terrenos contaminados, infiltrados nas águas subterrâneas, chegando até as redes de
distribuição de água potável. Esses contaminantes podem influenciar negativamente a vegetação, os
animais e o homem.

A contaminação de origem industrial, quando se manifesta no solo, tende a ser localizada, afetando
normalmente as regiões industrializadas e as concentrações urbanas. A falta de esgotamento sanitário
adequado nas zonas rurais e o uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes também são agravantes
na contaminação dos solos.

A ideia de que a qualidade do solo também pode significar um problema de saúde pública e
representar riscos para o ecossistema surgiu depois que a contaminação da água e do ar já eram objeto
de vasta legislação. A poluição ambiental permitiu que as preocupações com a qualidade dos solos e
sedimentos se tornassem presentes no cotidiano de pesquisadores do assunto.

30
A contaminação do solo tem características como caráter cumulativo e baixa mobilidade dos poluen-
tes, no entanto, em algumas situações do solo com valores de pH baixos, ou com grandes quantidades
de areia, essa mobilidade se torna maior, fazendo com que os elementos tóxicos tenham sua solubilida-
de facilitada, ficando mais suscetíveis à lixiviação para lenções subterrâneos e outros corpos de água.

O termo “contaminação do solo” se refere à presença de substâncias tóxicas como: hidrocarbonetos,


óleos pesados, subprodutos petroquímicos, metais pesados, elementos inorgânicos, solventes, compostos
clorados, pesticidas, entre outros. Os poluentes inorgânicos são conhecidos como “elementos tóxicos”
e compreendem elementos metálicos e metaloides da tabela periódica. Incluem-se nessa denominação
elementos que em baixa concentração são essenciais aos organismos vivos, mas quando se apresentam
em concentrações mais elevadas, provocam desequilíbrio, oferecendo certa toxidez – elementos como
mercúrio, chumbo, cadmio e arsênio são altamente tóxicos aos seres humanos, mesmo em baixas
concentrações, e são causadores de doenças e anomalias.

Elementos tóxicos no solo


Alguns elementos quando presentes, mesmo em baixas concentrações, são muito tóxicos aos se-
res humanos, animais e plantas. Falaremos a seguir de alguns elementos cuja toxicidade é um risco
para a saúde.

• Cadmio (Cd) – Muitas atividades humanas resultam em lançamentos significativos desse


elemento no meio ambiente. O cádmio é liberado no ar, solo e água por atividades antrópicas,
as principais fontes de contaminação são a produção e o consumo de metais não ferrosos pela
indústria automobilística em pigmentos, estabilizantes para plásticos, baterias, além de uso em
foto e litografia, borrachas e fungicidas.

• Chumbo (Pb) – O chumbo tetraetílico foi considerado a maior fonte antropogênica desse
elemento no ambiente, por ter sido adicionado à gasolina na década de 1920.

• Cromo (Cr) – O cromo hexavalente é altamente móvel no solo. Algumas fontes de contaminação
do solo por cromo são: mineração, produção de ligas resistentes à corrosão, cromagem
eletrolítica, adição de cromo a tijolos refratários, produção de óleos lubrificantes, curtimento de
couro, produção de pigmentos de cromo.

Contaminantes Biológicos (resíduos domésticos)


A partir do ponto de vista da saúde pública, discutiremos os riscos da contaminação do solo pelos
resíduos domésticos. Estima-se que um grama de fezes pode albergar 10 milhões de vírus, 1 milhão
de bactérias, mil cistos de parasitas e 100 ovos de parasitas. Portanto, a presença desses seres no solo
pode trazer sérias consequências aos humanos.

31
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Vários fatores influenciam no transporte desses organismos no solo. Vírus e bactérias são facilmente
adsorvidos pela argila, quanto maior o teor de argila no solo, maior a capacidade de atenuar a presença
desses seres patógenos. O pH ácido favorece a adsorção dos vírus, enquanto solos com pH básico
propiciam a adsorção desses seres.

A velocidade do fluxo de água possibilita que os microrganismos penetrem mais intensamente. Depois
de uma intensa chuva, há a possibilidade de haver desadsorção das bactérias e dos vírus retidos na superfí-
cie, por essa razão, é recomendado que os sanitários (tipo fossa seca) sejam construídos pelo menos a 1,5m
de distância do aquífero ou lençol freático e a 15-30m do poço de água de abastecimento.

O lixo doméstico, se disposto a céu aberto em barrancas de rios, lixões, encostas de montanhas,
etc., constitui uma via de acesso a agentes patógenos para o homem. Esse acesso pode ser direto –
quando o ser humano entra em contato com os resíduos – ou indireto – por meio do transporte por
insetos, roedores, suínos, aves. O lixo doméstico e dos serviços de saúde podem apresentar vários
seres patológicos que sobrevivem até 10 dias no lixo.

Fonte: IBGE, 1989/2000

Pesticidas no solo e suas consequências na saúde


Com a produção de alimentos em larga escala em função do aumento da população, torna-se
indispensável o controle de pragas e doenças com a utilização dos pesticidas.

Pesticidas são definidos como substâncias químicas ou biológicas que são utilizadas no controle
de pragas e doenças que afetam a agricultura, e para prevenir, destruir ou repelir insetos, fungos,
nematoides, ervas daninhas, etc.

O uso indiscriminado com ausência de critérios é um problema sério para o meio ambiente e,
consequentemente, para saúde. A principal consequência é o aumento dos riscos de contaminação de
produtos da agropecuária com resíduos químicos prejudiciais a saúde. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) afirma que aproximadamente três milhões de pessoas são intoxicadas por ano em consequência
da utilização de agrotóxicos – destas, 220 mil morrem e 750 mil adquirem doenças crônicas.

32
Com o intuito de controlar o uso de pesticidas e o nível desses resíduos nos alimentos, órgãos
internacionais e nacionais têm estabelecido os chamados Limites Máximos de Resíduos (LMR). No
âmbito internacional, esses limites são estipulados pelo Comitê para Resíduos de Pesticidas Codex
Alimentarius (CCRP). Nacionalmente, os limites são estabelecidos pelos governos durante o processo
de registro do produto. No Brasil, a legislação federal de agrotóxicos foi regulamentada em 1990.

Os pesticidas representam os produtos mais encontrados em corpos hídricos, em função de seu


uso amplo em áreas agrícolas e urbanas. Eles englobam uma variedade de compostos químicos com
diferentes propriedades com diversos graus de persistência ambiental e potencial tóxico, carcinogênico,
mutagênico, com efeito endócrino em diversos animais e seres humanos.

Em virtude da gravidade do uso de agrotóxicos e suas consequências na saúde humana, é urgente e


necessário que se realizem estudos mais aprofundados e medidas mitigadoras para diminuir e eliminar
os efeitos nocivos dessas substâncias para o meio ambiente e seres humanos.

Poluição Atmosférica – Qualidade do Ar

As atividades antrópicas e sua intensificação ao longo da história são as responsáveis pela grande
emissão de gases e partículas na atmosfera. Como resultado, a atmosfera vem sendo modificada na sua
composição. Com o aumento de gases e partículas, diferentes efeitos surgem: mudança da qualidade
do ar que respiramos, modificações no ambiente físico em escala regional – como a chuva ácida – e
escala global – como o efeito estufa, que pode levar ao aquecimento do planeta com alterações no
clima, resultando em um risco para a vida do homem no planeta.

As emissões provenientes dessas atividades, como a queima de madeira, carvão e demais com-
bustíveis fósseis, nos processos industriais, nas atividades agropecuárias, visando atender os pa-
drões de consumo e produção, têm provocado impactos na saúde pública, na qualidade de vida e
no meio ambiente.

A atmosfera é um recurso natural, recebe concentrações de substâncias em processos naturais – tais


como as erupções vulcânicas, decomposição de vegetais e animais, incêndios florestais, entre outros.
Porém, com o crescimento dos espaços urbanos, houve um aumento considerável dessas emissões,
agora com origem antrópica, elevando a poluição atmosférica tanto local como globalmente. Podemos
perceber um processo de exaustão da capacidade de suporte dos ecossistemas, principalmente onde as
aglomerações urbanas se instalaram. Como consequência, temos alterações significativas na atmosfera:
aumento dos gases do efeito estufa, redução da camada de ozônio, chuva acida, entre outros.

Pesquisas mostram que milhares de pessoas morrem anualmente como consequência da poluição
atmosférica em áreas urbanas, principalmente em decorrência de doenças respiratórias. Diante disso,
são necessários esforços no sentido de reverter esse quadro, que resulta em impactos econômicos para
as nações, para o bem estar das comunidades e, claro, para o meio ambiente. Para tanto, devemos
focar em algumas medidas como:

33
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
• Politicas que priorizem as ações na reversão dessa problemática;
• Programas de educação ambiental com foco na questão da qualidade do ar e nas medidas
mitigadoras;
• Minimização na produção de resíduos com mudanças nos padrões de consumo e produção;
• Aplicação de procedimentos adequados para tratar os resíduos gerados;
• Definir formas de ocupação e uso do solo, respeitando os limites de capacidade de suporte e do
tempo de autodepuração dos espaços.

Poluentes Atmosféricos
A poluição do ar pode ser definida como: presença de matéria ou energia na atmosfera, de forma
a torná-la imprópria, causar prejuízos aos usos antrópicos, à saúde pública e ao ecossistema natural
(PHILIPPI, 2014).

Os poluentes atmosféricos podem ser classificados de acordo com sua forma e emissão:

• Poluentes Primários – Poluentes emitidos diretamente pelas fontes. Exemplo: emissões de


veículos movidos a gasolina que englobam, entre outros, o dióxido de carbono (CO2), monóxido
de carbono (CO), hidrocarboneto (HC);

• Poluentes Secundários – Não emitidos diretamente por fontes, mas formados a partir de
reações ocorridas na troposfera. Exemplo: o ozônio.

Existe poluentes na atmosfera que resultam de reações ocorridas na própria atmosfera. Um exemplo
de reação que ocorre em uma atmosfera poluída é a fotoquímica, onde alguns elementos como óxido de
nitrogênio e hidrocarbonetos, na presença da luz, produzem os oxidantes fotoquímicos que são tóxicos.

Principais Poluentes Atmosféricos


Alguns poluentes atmosféricos são emitidos em maior quantidade e por um grande número de
fontes, estando mais presentes em áreas urbanas poluídas, oferecendo grandes riscos à saúde, flora e
fauna. Entre eles, podemos destacar: as partículas em suspensão, o dióxido de enxofre, os óxidos de
nitrogênio, os hidrocarbonetos, o monóxido de carbono e os oxidantes fotoquímicos. Devemos citar
também os poluentes que apresentam grande impacto na saúde pública e ocupacional, dentre eles: o
cloro e seus compostos, as névoas acidas, os odores, as fumaças, o mercúrio, partículas de chumbo,
amianto, partículas radioativas, etc.

Efeitos da Poluição do Ar na Saúde e no Meio Ambiente


Diversos efeitos são observados e sentidos na poluição atmosférica, tanto na saúde quanto no meio
ambiente. Uma das alterações causadas pela poluição do ar é a deterioração da visibilidade. Esse
efeito tem um impacto no bem estar das pessoas, aumentando os riscos de acidentes. A redução da
visibilidade ocorre por conta de partículas sólidas e líquidas suspensas na atmosfera, que absorvem e
dispersam a luz.

34
Na vegetação, alguns efeitos dos poluentes podem ocorrer: redução na penetração da luz –
reduzindo a capacidade de fotossíntese – por sedimentação de partículas nas folhas, deposição de
poluentes no solo, penetração dos poluentes pelos estômatos das plantas, interferindo na troca de
gases. Essas alterações podem ocasionar alterações no crescimento e na produção das plantas, com
prejuízos na agricultura.

Os efeitos na população podem ser divididos em dois grupos: efeitos agudos e efeitos crônicos. As
pessoas não são afetadas igualmente pelos poluentes, diversos aspectos devem ser considerados: os
biológicos, físicos e sociais no contexto do indivíduo e da população expostos.

Em relação aos impactos na saúde pública, estudos encontraram uma associação entre a
concentração média de determinados poluentes e indicadores de mortalidade e morbidade. Conforme
observado, doenças respiratórias apresentam-se como um dos principais efeitos na saúde humana
da poluição do ar.

Impactos econômicos também são observados em função da poluição atmosférica, podemos


destacar os custos na saúde pública e na gestão dos espaços em função da contribuição no aumento
da mortalidade e morbidade, bem como de maiores custos de manutenção de equipamentos urbanos,
patrimônios históricos, etc.

A quaidade do ar e a proteção da saúde pública são direitos da sociedade, garantidos pela Constituição
Federal Brasileira de 1988, cabendo à sociedade atuar no sentido de eliminar ou reduzir os efeitos
negativos à saúde agravados pela poluição do ar.

Para tanto, a capacitação de recursos humanos para a atuação na gestão da qualidade do ar, pesquisas e
estruturação do sistema de monitoramento tornam-se ações prioritárias. A mudança nos padrões de consumo
e de produção, otimizando os recursos naturais e minimizando a geração de resíduos, também, pois terá como
resultado a diminuição do consumo de combustíveis fósseis e de recursos naturais e, consequentemente, a
redução na quantidade de poluentes lançados na atmosfera.

Um planejamento ambiental adequado pode resultar no uso mais eficiente da energia. Parte desse
planejamento deve pensar em transporte urbano mais funcional, que reduza o número de carros
particulares na rua.

É necessário que a sociedade repense os modelos de desenvolvimento para um consumo


sustentável, buscando alternativas que façam com que suas atividades sejam menos impactantes.
A conscientização da comunidade para a importância da questão da poluição do ar resultará na
tomada de decisão, considerando as questões de desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Considerações Finais
Para termos um desenvolvimento sustentável devemos equilibrar as atividades antrópicas,
suas modificações ambientais e os impactos causados que podem comprometer negativamente a
qualidade de vida presente e futura. Com isso bem claro, podemos propor mudanças no padrão de
consumo, alcançando maior eficiência no sistema de produção, a otimização dos recursos naturais
e a minimização da geração de rejeitos. Como resultado, teremos uma redução na quantidade de
poluentes lançados no meio, melhoria da qualidade de vida e da saúde da população.

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Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Como dito anteriormente, o planejamento ambiental urbano adequado pode trazer um uso mais
eficiente da energia, o estabelecimento de um sistema de transporte urbano que estimule a redução de
viagens, o uso de transportes de cargas menos poluentes. Essas ações reduzirão a poluição atmosférica.

É necessário que os recursos hídricos sejam utilizados de forma mais consciente, no sentido de
preservar e tratar as águas residuais, promovendo mais saúde para a população.

Da mesma maneira, a utilização de pesticidas deve ser controlada e medidas mitigadoras adotadas
para minimizar os efeitos ruins para saúde.

Para tanto, o profissional de meio ambiente precisa ter uma formação abrangente e conseguir gerir
uma equipe multidisciplinar. Dessa forma, os resultados serão com certeza mais eficientes, tanto na
preservação dos recursos naturais, na melhor maneira de utilizá-los, quanto para melhora significativa
da saúde e da qualidade de vida da população.

36
Material Complementar

Explore
Assistam dois vídeos que abordam algumas consequências da intervenção humana sobre o ambiente.

• Resíduos sólidos urbanos e áreas contaminadas: https://goo.gl/z3cSsU


• Poluição do Ar: https://goo.gl/GDFH6z

37
Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade
UNIDADE
II
Referências
BATTAGLIN, P. et al. Saúde Coletiva: um campo em construção. Curitiba: Ibpex, 2006.

PHILIPPI, A; Pelicioni, M.C.F. Educação ambiental e sustentabilidade. 2. ed. Barueri:


Manoele, 2014.

_____________. Saneamento, saúde e ambiente. Barueri: Manoele, 2014.

ROSA, A. et al. Meio ambiente e sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre: Bookman, 2012.

38
III
Epidemiologia

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nilza Maria Coradi

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fatima Furlan
Epidemiologia
UNIDADE
III
Contextualização

Nesta unidade, focalizamos resumidamente alguns aspectos da epidemiologia. Diante desse


vasto campo que é essa disciplina, vamos construir um raciocínio crítico a ser aplicado por
aqueles que estão trabalhando na área de meio ambiente.
Enquanto a ciência médica atua principalmente no organismo, a saúde publica é detentora de
uma visão ecológica, procurando compreender as relações que se estabelecem entre populações,
comunidades e ecossistemas. Os seres humanos ao interagir com outras espécies e com o ambiente
recebem as influências que podem definir seu estado de saúde. A forma de interação do homem
com o meio passa a ter uma relação muitas vezes direta entre saúde-doença.
Diante disso, destaca-se a importância da epidemiologia ambiental, cuja ênfase está na
discussão dos fatores do meio, físicos, químicos, biológicos e psicossociais que atuam nas
causas das doenças.
O objetivo é refletir sobre a causa de uma doença, na epidemiologia a questão é ampliada,
pois a doença é multicausal e a questão da causalidade não é linear ou simplista. Se a ocorrência
da doença é devido à influência de muitos fatores, então cabe à epidemiologia investigar
para entender melhor a rede multicausal. Ela pode ser explicada como uma série de fatores
determinantes que, atuando em determinado espaço e tempo leva a ocorrência do agravo.
Com o intuito de prevenir as doenças, os estudos devem levar em consideração fatores
genéticos e a suscetibilidade a exposição de fatores. Ao investigar a etiologia da doença,
investiga-se o quanto uma doença se deve a fatores genéticos e o quanto a fatores ambientais
e como essa interação aumenta o risco da doença.

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Introdução

Nesta unidade, serão abordados os conceitos, fundamentos e métodos da epidemiologia


e suas aplicações no âmbito da saúde coletiva. A epidemiologia é uma disciplina que
fornece subsídios para a construção de conhecimentos em relação à saúde das comunidades
orientando as ações em populações humanas e seu ambiente Em uma dinâmica ecológica,
a existência de alguns seres vivos depende muitas vezes da existência de outros seres vivos.
Na saúde, a história de cada doença também está atrelada à história de todas as doenças. O
ciclo de doenças infectocontagiosas coloca em evidência a fragilidade do equilíbrio ambiental.
A epidemiologia, disciplina que estrutura a saúde pública, ajuda a desvendar as relações
ecológicas, reposicionando as implicações entre homem e a natureza.
Em todo o planeta, a área da saúde apresenta fenômenos preocupantes. Além dos riscos
potenciais, a saúde vem se agravando resultando em riscos cada vez maiores à integridade
individual e coletiva, causando consequências desastrosas nas populações. Podemos citar o
retorno de antigas infecções e o aparecimento de novas.
A maior parte desses problemas é consequência da ação do homem sobre o meio ambiente,
dentre os quais, a exploração de ecossistemas, a migração de homens e mulheres por toda
parte do planeta, desenvolvimento industrial, resistência a antibióticos etc. Todos esses
aspectos fazem parte de um quadro complexo da saúde da população e sua relação com o
meio ambiente.
É neste contexto que se faz necessário o estudo das intervenções do homem no ambiente e
nas populações. Uma das formas de compreender o processo são as ações de saúde, aquelas
voltadas à coletividade. A saúde coletiva é o caminho para entender a ação do ser humano
sobre populações diversas, tanto humanas com as da natureza: animais, vegetais, vírus e
bactérias. A saúde une homens e ambiente, natureza e sociedade.

Epidemiologia – Conceitos

Trocando Ideias
A epidemiologia é uma disciplina que surgiu para cumprir a tarefa de produzir conhecimentos
científicos acerca da distribuição e determinação do processo saúde-doença em populações humanas
e fornecer subsídios aos serviços de saúde para o controle de doenças. A epidemiologia fornece
subsídios para a construção de conhecimentos em relação à saúde das comunidades orientando as
ações em populações humanas e seu ambiente.

Existem muitos conceitos sobre epidemiologia girando em torno de uma mesma ideia. Nesta
disciplina, trabalharemos a epidemiologia como um conjunto de conceitos, teorias e métodos que
permitam estudar, conhecer e transformar o processo saúde – doença na dimensão coletiva (Franco,
L. J. et al, 2011).

41
Epidemiologia
UNIDADE
III
Outro conceito diz que a epidemiologia tem como objeto de estudos os fenômenos de saúde de
populações e em populações (Castellanos, 1997 apud Lanni, 2005) e por conta disso tem sido definida
como a ciência que estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações humanas. A
epidemiologia estuda também a ausência ou presença de enfermidades dos seres humanos como
doenças infecciosas (malária, dengue etc.), não infecciosas (diabetes, obesidade etc.) e danos à
integridade física (contaminações, homicídios, alcoolismo etc.). Portanto, a epidemiologia examina o
corpo populacional, apontando as causas e orientando os meios de controle e profilaxia.

Desde os primórdios, muitos estudos já demonstraram as relações existentes entre problemas


de saúde de populações e suas condições de vida, relativos basicamente às condições sanitárias,
formas de alimentação e condições de trabalho. Na América Latina, por exemplo, podemos citar os
trabalhos que demonstraram o papel dos mosquitos na transmissão da febre amarela. Esses estudos
e muitos outros serviram para demonstrar que a relação entre saúde e as condições ambientais estão
intimamente ligadas.

No século XIX, com as descobertas de Pasteur e o advento da bacteriologia, tornou-se possível


provar que microorganismos eram responsáveis por doenças nos seres humanos. A partir daí, criam-se
as bases para a busca incessante dos agentes que causam as doenças e seus mecanismos de transmissão.

A medicina cabe à tarefa de resolver os problemas que, direta ou indiretamente, atuam no


processo saúde-doença do homem, embora, muitas vezes, tanto o problema como a solução
estejam fora da área médica. Normalmente, esses problemas estão concentrados na relação
homem-natureza.

Epidemiologia – Usos
Com a compreensão do processo saúde-doença, a epidemiologia apresenta vários usos, dentre eles:

1 - Estudos históricos;
2 - Diagnóstico de saúde da comunidade;
3 - Identificação de síndromes;
4 - Pesquisa de causas;
5 - Investigação etiológica;
6 - Determinação de riscos;
7 - Determinação de prognósticos.

A epidemiologia tem como base para ser aplicada os seguintes elementos: determinantes, distribui-
ção e frequência. A distribuição e a frequência descrevem o estado de saúde das populações, essa parte
da epidemiologia é chamada de descritiva. Portanto, a epidemiologia descritiva investiga o fenômeno
de saúde em evidência, realizando uma exploração para entender quais grupos o evento em saúde
(agravo, doença, características etc.) está presente, de acordo com as diferentes variáveis e também
quantos são afetados. A partir disso, são elaboradas questões primárias que dão suporte a essa inves-
tigação. De acordo com a abordagem escolhida, aparecem as proposições com questões relativas à
distribuição, como quem, quando e onde.

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• Quem . São as pessoas afetadas pelo evento suas características como gênero, grupo
etário, nível educacional, renda etc.
• Quando . Período de tempo definido pelo investigador na análise epidemiológica.
• Onde . Estabelecimento da relação entre o evento de saúde e o espaço geográfico a ser
analisado ( cidade, país, bairro etc.).

A epidemiologia descritiva produz a base para outros fundamentos utilizados em pesquisas acadêmicas
ou em serviços em saúde. No final do século XX, os conceitos de doenças emergentes e reemergentes
difundiram-se. As doenças emergentes são aqueles agravos novos que passam a estar presentes nas
populações como a gripe aviária. É aquela proveniente de um agente de identificação recente, antes
desconhecido. As reemergentes são as doenças que voltam a estar frequentes nas populações depois de
estarem ausentes por um período, como a dengue. É aquela que reaparece de maneira a atingir outras
regiões que antes estavam isentas da sua presença.

A epidemia é o aumento inesperado da frequência de eventos num período e numa determinada


região, podendo classificar então um surto. Endemia é quando um agravo persiste numa região
mantendo sua frequência estabilizada quantitativamente. Pandemia é o termo utilizado para a ocorrência
de muitos casos em grandes proporções territoriais.

Acredita-se hoje que muitos fatores são responsáveis pelos efeitos na saúde. Fatores próximos ao
indivíduo sempre associado a um determinado ambiente ou cultura podem gerar condições favoráveis
que influenciam no seu estado de saúde. Esse entendimento, conhecido como “determinante social”
no processo saúde-doença vai ao encontro da realidade que vivemos hoje, pois os estados tem um
importante papel no desenvolvimento da saúde das populações.

A Epidemiologia é constituída de duas etapas principais, a analítica e a descritiva. A etapa analítica


da epidemiologia se dedica a elucidar os fatores de risco associados aos efeitos em saúde, o objetivo é
identificar ou destacar aqueles fatores que possam estar ajudando ou protegendo o aparecimento de
doenças. A etapa descritiva gera os dados acerca das condições de saúde das populações. Utiliza dados
secundários, geralmente dos sistemas de informação em saúde, com o objetivo de construir o perfil de
saúde dos indivíduos em seus territórios. Uma etapa depende da outra, uma hipótese é gerada na etapa
descritiva e testada pela analítica.

Tanto a fase analítica quanto a descritiva empregam a compreensão da noção de risco. Hoje em dia, o
conceito de risco tem a conotação de ganho ou perda, mas com um sentido negativo do perigo. É usual o
termo risco nos processos que envolvem saúde-doença, principalmente na mudança do estado de ausência
para a presença de doença. Essa mudança é conhecida em epidemiologia como causalidade. O conceito de
causa é utilizado para associar suposta causas a seus efeitos.

Os fatores ambientais são responsáveis por grande parte dos fatores de risco, sendo considerado
um fator multicausal. É parte de um todo que interage com outros fatores, como a genética, estilo de
vida, biologia humana, acesso a serviços de saúde, entre outros. O meio ambiente envolve um espectro
amplo de correlações, como espaço social, economia, infraestrutura urbana entre outros. É neste
contexto que as ciências da saúde encontram seus principais desafios.

43
Epidemiologia
UNIDADE
III
Dentre os inúmeros riscos que influenciam as causas das doenças, temos:
Riscos de controle individual, representado pelo estilo de vida.
Riscos conhecidos de controle coletivo, representado pelas
politicas públicas.
Riscos conhecidos de controle institucional, representados pela
organização dos serviços de saúde e suas relações com outros serviços.
Riscos conhecidos de ação sinérgica de controle multidimensional,
representado através de ações individuais, coletivas interssetoriais.
Riscos não conhecidos.

Na busca de categorizar o processo saúde-doença, diferentes campos na saúde são apontados:


biologia humana, estilo de vida, ambiente e serviços de saúde.

A biologia humana envolve as características imutáveis do individuo, como: idade, sexo, raça,
patrimônio genético e constituição do individuo. Acredita-se que o individuo não tem controle sobre
esses fatores de risco. O estilo de vida engloba hábitos e comportamentos adquiridos social ou
culturalmente, tais como: tabagismo, alcoolismo, alimentação, medicações, drogas, falta de exercícios,
utilização de proteção no setor ocupacional, adesão ou não de medidas preventivas e tratamentos,
opção de lazer etc. Acredita-se que os indivíduos tenha controle sobre esses fatores.

O campo da saúde que diz respeito ao meio ambiente implica a parte física, psíquica e social. O
ambiente físico abrange entre outras coisas o relevo, a hidrografia, o clima, os poluentes ambientais
do ar, água e do solo. Na dimensão social incluem-se as múltiplas causas das doenças crônicas não
transmissíveis como: nível sócio econômico, escolaridade, processo de migração etc. A psíquica
envolve as tensões sociais e individuais que inclui as relações, a informação, o preconceito e todos
os componentes da sociedade moderna que refletem na saúde mental dos indivíduos. No campo
ambiental estão os eventos externos ao corpo sobre os quais o individuo tem pouco ou nenhum
controle. É importante ressaltar que quando o impacto ao meio ambiente é revertido é porque houve
alguma forma de controle mesmo que coletivo.

Epidemiologia e Riscos
Conforme observamos, o risco está diluído nos meandros da sociedade. Como saber se a exposição
a um risco especifico é suficiente para um efeito nocivo ao meio ambiente ou à saúde? Como isolar um
possível fator causal dos demais? Usando a epidemiologia como exemplo, conclui-se que uma doença
não pode ser causada por um fator de risco apenas, sendo resultado de um conjunto multicausal de
fatores, acentuado por um fator de risco, mas não apenas ele. A epidemiologia faz a análise comparativa
entre indivíduos ou grupos expostos e não expostos ao fator de risco, mas quando se trata de elucidar
questões como o aquecimento global, mostra-se limitada, sem dispor de meios comparativos entre os
grupos expostos e não expostos.

Em um entendimento mais amplo da saúde humana, em que as doenças e os agravos são apenas uma
faceta do processo saúde – na doença, observamos que os determinantes sociais incluem o meio ambiente,
as relações econômicas, o desenvolvimento, os meios de produção etc. Então a saúde não se restringe a

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ação curativa e sim é um resultado das macro relações globais que incidem sobre o local e o individual,
portanto um processo multifatorial, que engloba, entre outros o meio ambiente.

Nas discussões ambientais e de saúde, medidas de controle são compensatórias e a relação saúde e
ambiente é deixada de lado, por isso, o sistema deve incorporar uma nova articulação entre natureza,
ciência e sociedade.

Metodologia Epidemiológica
A epidemiologia nasceu com uma forte ênfase nas doenças transmissíveis e com a evolução dessa
disciplina foi incorporado elementos das doenças não transmissíveis, causas externas, ocupacionais,
entre outras.

Essa transição da epidemiologia mostra que a frequência das doenças e das mortes ao longo do tempo
foi mudando de acordo com fatores econômicos, sociais, ambientais e comportamentais. Peste e fome
matavam mais pessoas que outras etiologias, doenças infecto contagiosas predominavam no século XIX,
diferente do final do século XX e inicio do século XXI, onde predominam as doenças produzidas pelo
homem e as doenças não transmissíveis. A transição demográfica também tem seu papel nesta mudança,
se no passado o contingente de população jovem era maior, hoje houve um aumento significativo da
população idosa, com isso os agravos referentes a essa população passam a figurar outro perfil. Algumas
mudanças como a nutricional e a de risco também aparecem à medida que a sociedade obtém novos
índices de desenvolvimento.

Em relação à transição nutricional, existem pontos relevantes como o aumento do consumo de


alimentos industrializados, com maior concentração de conservantes, acidulantes, colorantes, sódio
etc. Isso trouxe novos hábitos de dietas e consumo. Como resultado, temos uma desproporção entre
obesos e desnutridos com um aumento nos dois grupos.

As transições não devem ser analisadas separadamente, pois a sociedade vive também em transição.
A sociedade convive com riscos antigos e modernos, riscos identificáveis e não identificáveis riscos
conhecidos e riscos desconhecidos.

O pesquisador precursor da epidemiologia John Snow experimentou um método de teste para


verificar o risco do adoecimento por cólera, com isso nasceu a hipótese epidemiológica para relacionar
a água a essa doença. Utilizando o elemento contraste a comunidade foi exposta a água limpa ou
contaminada para concluir que o fator de risco estava associado ao efeito saúde. A partir dai estabeleceu-
se uma ordem de investigação respaldando metodologicamente a epidemiologia a partir do método
cientifico. As etapas da investigação são:

1 -Detectar o efeito em saúde;


2 - Estabelecer o perfil epidemiológico;
3 - Formular a hipótese;
4 - Testar a hipótese;
5 - Concluir.

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Epidemiologia
UNIDADE
III
Nesta primeira etapa, temos a detecção do agravo sugerindo a necessidade de investigação para
detectar o efeito em saúde. Passamos então para a segunda etapa onde o perfil epidemiológico se
estabelece. A partir deste perfil, os grupos de interesse se definem em um espaço e num período
determinado. Todos esses elementos são a base para identificar as propriedades em saúde e com essa
informação tomar a melhor decisão. A partir deste momento, se pergunta onde e quando acorreu o
evento e qual a população mais afetada, essa etapa cabe também identificar a magnitude do evento e
o quanto se é afetado.

Os indicadores em epidemiologia são divididos em absolutos e relativos, sendo os relativos mais


apropriados à comparação. Esses indicadores se dividem em dois tipos: índices de distribuição
proporcional e os coeficientes de probabilidade de risco. Esses coeficientes se agrupam em:

Incidência – probabilidade do risco de adoecer;


Prevalência – probabilidade do risco do agravo se instalar;
Mortalidade – probabilidade de risco de morrer na população geral;
Letalidade – probabilidade do risco de morrer entre os doentes.

A terceira etapa acontece após o perfil estar estabelecido pela frequência e distribuição oferecendo
subsídios para uma hipótese. O grupo mais afetado pode acrescentar elementos comuns podendo ser
o fator de risco o que gera uma relação causal. Nesta etapa, os estudos descritivos apresentam maior
utilidade, de modo a estabelecer, uma relação causal entre os fatores de risco e os efeitos em saúde,
embasando assim uma hipótese.

A Quarta etapa concentra-se no teste da hipótese causal a partir dos elementos das investigações
anteriores. A última etapa do estudo são as conclusões acerca das relações causais, que não devem
ser restritas a um estudo, mas a um conjunto de resultados. É sempre importante manter uma postura
crítica com relação a uma conclusão de relação direta entre causa e efeito e adotar uma visão mais
ampla, questionando tanto os resultados como os métodos e o processo.

A Epidemiologia é uma ciência importante para estudar, quantificar e tabular, no entanto não deve
reduzir-se a conceitos e métodos, deve abrir-se em direção às necessidades globais, ao desenvolvimento
e à sociedade.

Epidemiologia no Brasil
No Brasil, a epidemiologia originou-se a partir dos naturalistas e da medicina tropical, que de forma
sistemática, descreveram a ocorrência de diversas doenças infecciosas, vetores e agentes. Em meados
do século XIX, três médicos estrangeiros criaram a Escola Tropicalista Baiana, embora não sendo uma
instituição formal de ensino, a escola se dedicou à prática médica e à pesquisa da etiologia das doenças
tropicais que acometiam os homens livres e os escravos.

46
A metodologia utilizada pelos pesquisadores da escola compreendia as mais modernas técnicas
da medicina cientifica europeia. Esse grupo de pesquisadores rejeitou o determinismo racial e de
clima das doenças, pois acreditavam na universalidade das doenças e que a umidade e o calor apenas
conferiam características peculiares a elas. Os tropicalistas associavam as doenças tropicais à pobreza,
desnutrição, falta de saneamento e às péssimas condições de vida. Esses pesquisadores desenvolveram
importantes trabalhos sobre a ancilostomíase, tuberculose, hanseníase, entre outras.

No final do século XIX, houve várias tentativas de análise quantitativas de ocorrência de doenças no
Brasil, sem empregar técnicas estatísticas já utilizadas na Europa e nos Estados Unidos. Foi em 1903,
que o presidente da República Rodrigues Alves nomeou o médico Oswaldo Cruz para a diretoria da
saúde pública. A tarefa inicial era sanear o Rio de Janeiro e combater as epidemias que tomavam
a cidade como a febre amarela, peste bubônica e a varíola. Houve uma campanha bem rigorosa
para combater a febre amarela com medidas como aplicação de multas, intimação aos proprietários
de imóveis insalubres etc. Na sequência, Oswaldo Cruz começou a trabalhar para combater a peste
bubônica, com notificação compulsória dos casos, combate aos ratos da cidade, entre outras medidas
de saneamento. Em 1904, o Rio de Janeiro é acometido por uma epidemia de varíola, fazendo com
que o governo obrigue por meio de um projeto de lei que a população se vacine, com pena de sanções
para quem não cumprisse a lei. Isso gerou muita insatisfação popular originando a Revolta das Vacinas,
deixando um saldo de 30 mortos em uma semana, tempo que durou a revolta.

Outro médico, Carlos Chagas em 1905 conseguiu controlar um surto de malária no interior de
São Paulo, tornando uma referência para o combate desta doença no mundo todo. Esse mesmo
médico descobriu o protozoário causador da tripanossomíase americana, denominada por ele como
tripanossomíase Cruzi, em homenagem a Oswaldo Cruz. Essa é conhecida como doenças de chagas.

Após o termino da segunda guerra mundial, surgiu a ideia de que as doenças endêmicas poderiam
ser controladas e até erradicadas. Durante a guerra, os sanitaristas norte americanos usavam essa ideia
como um trunfo na busca de aliados. Desta forma, com o incentivo do governo norte americano, a
organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial da Saúde empreenderam muitas ações
globais com o objetivo de erradicar diversas doenças. No Brasil, houve duas campanhas de erradicação
da malária com um sucesso parcial e da erradicação do Aedes Aegypti, com um sucesso pleno, embora
não definitivo.

Na organização do ensino, duas instituições de pesquisa e formação na área da saúde coletiva foram
criadas na metade do século XX: Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro e a Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo.

Em 1942, após um acordo com o governo americano criou-se o Serviço Especial de Saúde Pública
(SESP). O SESP priorizava ações para o controle da malária e outras doenças endêmicas da região
amazônica, posteriormente esse serviço se expandiu para outras regiões. Após 1960, o SESP se
transformou em fundação exercendo um importante papel na normatização de muitas atividades de
saúde e saneamento até o final da década de 1970.

47
Epidemiologia
UNIDADE
III
O Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no Brasil se consolidou a partir das campanhas de
erradicação da varíola na década de 1960 e da poliomielite na década de 1970. Foi na década de 70
que houve um esforço para construir novas teorias, enfoques e métodos da epidemiologia, buscando
aplicar métodos da planificação da saúde, que no Brasil ganhou o nome de saúde coletiva.

No processo de desenvolvimento da saúde coletiva, vários núcleos de pesquisas foram criados


e consolidados nas principais instituições de ensino e pesquisa do país. A pesquisa epidemiológica
no Brasil vem se consolidando de forma muito consistente, ganhando respeitabilidade no cenário
mundial. A pesquisa brasileira tem dois conjuntos temáticos que lhe conferem uma identidade, como
o desenvolvimento de aplicações para o planejamento e a gestão de sistemas e serviços de saúde e
a investigação de problemas de saúde de grande importância social com ênfase nos determinantes
políticos, sociais, econômicos e culturais dos fenômenos da saúde-doença.

Epidemiologia e Meio Ambiente

Objetivos de aprendizado
Neste item, vamos focalizar resumidamente alguns aspectos da epidemiologia. Diante deste vasto
campo que é essa disciplina, vamos construir um raciocínio crítico a ser aplicado por aqueles que
estão trabalhando na área de meio ambiente.

Enquanto a ciência médica atua principalmente no organismo, a saúde pública é detentora de


uma visão ecológica, procurando compreender as relações que se estabelecem entre populações,
comunidades e ecossistemas. Os seres humanos ao interagir com outras espécies e com o ambiente
recebe as influências que podem definir seu estado de saúde. A forma de interação do homem com o
meio passa ter uma relação muitas vezes direta entre saúde-doença.

Diante disso, destaca-se a importância da epidemiologia ambiental, cuja ênfase está na discussão
dos fatores do meio, físicos, químicos, biológicos e psicossociais que atuam nas causas das doenças.

O objetivo é refletir sobre a causa de uma doença, na epidemiologia, a questão é ampliada, pois a
doença é multicausal e a questão da causalidade não é linear ou simplista. Se a ocorrência da doença
é devido à influência de muitos fatores, então cabe a epidemiologia investigar para entender melhor
a rede multicausal. Ela pode ser explicada como uma série de fatores determinantes que, atuando em
determinado espaço e tempo leva à ocorrência do agravo.

Com o intuito de prevenir as doenças, os estudos devem levar em consideração fatores genéticos e
a suscetibilidade a exposição de fatores. Ao investigar a etiologia da doença, está investigando o quanto
que uma doença se deve a fatores genéticos e o quanto a fatores ambientais e como essa interação
acaba aumentando o risco da doença.

Com a evolução da epidemiologia, chegou-se a três fatores principais: agente, hospedeiro e


ambiente. Entende-se que a saúde e a doença estão na dependência das interações estabelecidas
entre esses fatores. Acredita-se que o equilíbrio dessas três partes leva à saúde, no entanto, qualquer
desequilíbrio no sistema seria suficiente para gerar um estado de doença.

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Na epidemiologia, o hospedeiro que ocupa a discussão central é o homem. Muitas características do
ser humano ajudam a constituir os fatores que podem levar à doença como o sexo, a idade, condições
de vida, raça, credo, entre muitas outras.

Diante disso, o ambiente é um importante componente do sistema. Entre o agente, o hospedeiro e


o ambiente qualquer desequilíbrio pode gerar consequências, fatores ambientais associados a doenças
podem ser de origem física, biológica e social.

Variações anuais de temperatura podem influenciar várias doenças. As transmitidas por vetores
têm nos períodos mais quentes do ano um aumento da transmissão. Insetos proliferam-se mais em
temperaturas elevadas. Agentes patogênicos são transmitidos com mais facilidade em razão do maior
contato do homem e desses vetores, isso normalmente acontece quando as temperaturas são mais
elevadas. Muitos agentes responsáveis por infecções respiratórias tem seu aumento no inverno. Em
temperaturas baixas, a tendência é das pessoas ficarem mais fechadas e ambientes sem circulação de
ar favorecem a transmissão dos agentes biológicos. Até as doenças não infecciosas tem relação com
a temperatura. Nos trópicos, onde as temperaturas são mais elevadas, as pessoas normalmente se
expõem mais ao sol, podendo desenvolver, por exemplo, câncer de pele. Nas regiões onde o inverno
é muito prolongado, as pessoas podem estar sujeitas a outros tipos de agravos, inclusive de ordem
psicológica, pois ficam muitos meses sem a luz do sol e em ambientes confinados. A pluviosidade
também influencia no aparecimento ou não de certas doenças. Em ambientes antrópicos, sem
saneamento adequado, pode ocorrer maior contaminação das fontes de água. Águas contaminadas
colocam a população em risco de diversas enfermidades. Chuvas intensas também podem provocar
inundações nas áreas urbanas, muitas doenças se proliferam nessa situação, podemos citar o caso
da leptospirose, uma zoonose que contamina os ratos que eliminam o agente através da urina. A
inundação espalha o agente pela área e o homem se contamina ao entrar em contato com essa água
através de algum ferimento na pele. É uma doença bem característica das áreas de inundação.

Outro fator que pode influenciar o aparecimento de determinadas doenças é a topografia. A malária,
por exemplo, está ligada aos charcos que se formam próximos ao leito dos rios. Esses charcos são
criadouros dos mosquitos vetores da doença. As montanhas com altitude elevada, onde a pressão
atmosférica é menor, favorecem as pessoas que sofrem de pressão baixa, já os terrenos baixos, com
uma maior pressão atmosférica, favorecem a saúde dos hipertensos.

No mundo contemporâneo, a preservação do meio ambiente já é vista como um fator importante


para a sobrevivência humana. Muitos esforços foram e são feitos no sentido da preservação da
biodiversidade. Nas áreas urbanas, a manutenção dos espaços verdes torna-se cada vez mais necessária
para contribuir com o equilíbrio do clima e da poluição.

Quando o ambiente natural é modificado por ações antrópicas, geralmente com a exploração
de recursos naturais e desmatamentos ocorre a quebra do equilíbrio aumentando a possibilidade de
transmissão de agentes que causam doenças. Desta maneira podem surgir novas doenças. Nesses
ambientes impactados pela ação do homem é comum haver o desequilíbrio do componente biológico.
Espécies antes raras podem se tornar abundantes e vetores como os da malária, quando proliferam
aumentam o risco de transmissão.

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Epidemiologia
UNIDADE
III

No ambiente antrópico rural, o homem acaba facilitando o aparecimento de riscos epidemiológicos


por meio das suas atividades. Na agricultura, para manter a plantação produtiva, aduba o solo com
produtos químicos e combate às ervas daninhas com herbicidas e para evitar o ataque dos insetos
usa os inseticidas. Ao manter sua plantação produtiva, o agricultor acaba contaminando seriamente
o meio ambiente colocando em risco a sua saúde, de seus trabalhadores e de toda a população que
vai ingerir o alimento contaminado. Situação parecida é observada na pecuária intensiva, com os
animais confinados há o acúmulo de esterco e com um manejo inadequado ocorre a proliferação das
moscas, que acabam chegando às comunidades humanas. Muitas espécies dessas moscas servem
de vetor a inúmeras infecções. Para combater esses insetos que atacam os rebanhos, venenos são
aplicados contaminando os animais e seus produtos. Nas áreas urbanas, outros riscos relacionados ao
meio ambiente surgem como a falta de áreas verdes, por exemplo. Em áreas de clima quente, o calor
torna-se insuportável e a radiação do calor liberado pelas superfícies pavimentadas eleva a temperatura
em vários graus, provocando as ilhas de calor. As altas temperaturas contribuem para a multiplicação
de insetos e outras pragas urbanas. As áreas verdes por sua vez, ajudam amenizando a poluição,
diminuindo o ruído e melhorando a qualidade de vida.

Nosso meio urbano comporta muitas espécies indesejáveis chamadas de pragas. São animais que
evoluíram, passando a viver no próprio ambiente humano, essas espécies quase sempre representam riscos
à saúde. É o caso de ratos, pombos, baratas, aranhas, escorpiões, mosquitos, moscas etc. Toda essa fauna
está relacionada com doenças como leptospirose, infecções diversas, acidentes por picadas etc.

A humanidade vive, em sua quase totalidade, em um meio modificado. O ambiente antrópico


exerce uma notável influência sobre a saúde e o bem estar dos seres humanos. A melhora da qualidade
de vida, e isso inclui claro ter saúde, tem muito a ver com a consciência, valores, atitudes e ações frente
aos problemas ambientais que se apresentam na modernidade.

Portanto, no cenário atual o homem convive com as doenças infecciosas e as não infecciosas;
com um agravamento das doenças ligadas aos hábitos de vida. Nesse quadro, o entendimento da
saúde da população torna-se complexo, temos então como instrumento de planejamento e gestão
do ambiente a Epidemiologia.

50
Material Complementar

Explore
Para complementar seus estudos, segue sugestão de link para ampliar seus conhecimentos:

https://youtu.be/KQSfGXuBgf4

51
Epidemiologia
UNIDADE
III
Referências
ALMEIDA, N; Barreto, M. L. Epidemiologia e saúde: fundamentos, métodos e aplicações. Rio de
Janeiro. Ed. Guanabara Koogan, 2011.

BATTAGLIN, P. et al. Saúde coletiva: um campo em construção. Curitiba: Ibpex, 2006.

FRANCO, L. J. et al. Fundamentos de epidemiologia. 2. ed. Barueri: Manoele, 2011.

IANNI, A. M. Z. Biodiversidade e saúde pública: questões para uma nova abordagem. Saúde. Soc. v.
14 n. 2 São Paulo. 2005

PHILIPPI, A; Pelicioni, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. 2. ed. Barueri:


Manoele, 2014.

_____________. Saneamento, saúde e ambiente. Editor. Barueri: Manoele, 2014.

ROSA, A. et al. Meio ambiente e sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre: Bookman, 2012.

52
IV
Políticas de Saúde Pública, Ambiental
e Desenvolvimento Sustentável

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Nilza Maria Coradi

Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
Contextualização

Objetivos de aprendizado
Nesta Unidade será abordado os temas de saúde coletiva, meio ambiente e desenvolvimento
sustentável, refletindo como esses caminhos podem nos levar a atingir uma melhor qualidade de
vida em um ambiente ecologicamente equilibrado. Aqui fica visível a importância do profissional da
gestão ambiental para o atingimento desses objetivos.

Um mundo rápido e em permanente processo de mudança foi o cenário das ultimas décadas. Ao
promover um crescente enriquecimento dos países a economia global deixou inúmeros passivos sociais
e ambientais. Tal cenário traduz os desafios para a gestão dos espaços antrópicos e naturais, induzindo
situações de conflito entre as prioridades políticas.

O panorama que se apresenta quanto a gestão dos espaços antrópicos e naturais mostra um rol de
dificuldades dentro de um círculo vicioso. Nesse há um sistema de planejamento que não acompanha a
dinâmica das cidades; descontinuidade das políticas, planos e projetos, fazendo com que os resultados
esperados pelos investimentos em infraestrutura e operacionalização dos assentamentos urbanos não
apareçam; além disso, ainda é tímida a participação social nesse processo de gestão.

Diante desse quadro, reconhece-se a prioridade da promoção de mudanças, entendendo as inter-


relações dos ecossistemas naturais construídos, além da urgência no envolvimento comunitário no
processo de gestão de seu espaço, nas dimensões local e global.

54
Introdução

Nesta Unidade discutiremos temas relacionados às políticas de saúde pública, ambiental, além de
desenvolvimento sustentável e qualidade de vida. Para conseguir um resultado importante na promoção
da saúde e no equilíbrio ambiental faz-se necessário uma visão holística, principalmente para os
profissionais que trabalham na área. É importante, sobretudo, priorizar sistemas autossustentáveis,
onde os princípios ecológicos sejam otimizados e não contrariados.

Em síntese, a questão da saúde ambiental é interdisciplinar e complexa, exigindo um esforço


conjunto de instituições com diferentes perfis e de profissionais com diversidade de formação.

O caráter essencialmente interdisciplinar da questão ambiental requer um tratamento que envolva


aspectos econômicos, tecnológicos, culturais, políticos, enfim, todos os relacionados a atividade
humana com a base que a sustenta.

As ações dos diversos profissionais e instituições para a promoção da saúde têm como resultado a
prevenção de doenças e a melhora da qualidade de vida da população. Sem dúvida, a melhor forma de
prevenir inúmeras doenças é garantir um ambiente que proporcione condições básicas de vida.

Ideias-chave
Nesse sentido, a saúde pública é definida como a Ciência de evitar doenças, prolongar a vida e
desenvolver as saúdes física e mental. Para tanto, faz-se necessário o saneamento do meio ambiente;
o controle das infecções na comunidade; a organização dos serviços médicos, diagnósticos e
tratamento preventivo das doenças.

A gestão ambiental é um conjunto de medidas e procedimentos que visam reduzir e controlar os


impactos referentes a empreendimentos sobre o meio ambiente e que envolve um grande número de
variáveis. Para gerenciar as atividades humanas tendo como foco a questão ambiental, não se pode
perder a visão do todo. Tal gestão deve garantir a utilização dos recursos ambientais de forma que
sejam observados os limites de sua exploração.

Este início de milênio é o momento para concentrarmos esforços no sentido de rever os atuais
padrões de consumo e produção, além de reavaliar o impacto que o atual modelo de desenvolvimento
tem sobre nossa saúde e meio ambiente.

O entendimento dessas questões sob o enfoque da promoção da saúde pública deve culminar em
um conjunto de ações preventivas e de recuperação da saúde e do meio ambiente, além de desenvolver
políticas públicas para alcançarmos um desenvolvimento sustentável.

55
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
Políticas de Saúde Pública

O conceito de políticas públicas é compreendido como o conjunto de princípios, normas e diretrizes


que orientam as ações tomadas e implementadas pelo Estado (PHILIPPI, 2014).

A Constituição de 1988, dentro das políticas públicas estabeleceu a política de meio ambiente.
Ao instituir a política ambiental, é necessário estabelecer os objetivos, definir as estratégias e criar as
instituições para sua aplicação. Esse universo de implementação da política se refere à gestão ambiental.
A gestão ambiental é, portanto, a implantação pelo governo da sua política ambiental.

Nesta perspectiva, a gestão ambiental desenvolve-se a partir de uma política ambiental e como
elementos dessa, devem ser definidos também os critérios de uso, manejo e controle das qualidades
dos recursos ambientais.

Ultimamente, o conceito de gestão é aplicado também por empresas e instituições não


governamentais, no sentido de proteção ao meio ambiente. Nesse sentido, o conceito de gestão
ambiental tem evoluído com a ideia que a responsabilidade pela proteção do meio ambiente é de toda
a sociedade e não somente do governo, buscando uma postura proativa de todos os agentes inseridos
na administração da política ambiental.

A questão ambiental deu um salto significativo desde 1972, quando aconteceu a primeira Conferência
Mundial das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que orientou o controle da poluição em escala mundial.
Em 1973 foi criada no Brasil a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), que recebeu as atribuições
de coordenar as ações governamentais relativas à proteção ambiental e ao uso dos recursos naturais.

Com a rápida e desordenada industrialização na década de 1960, aconteceu uma rápida


deterioração das condições sanitárias dos centros urbanos. Em decorrência desse processo houve um
direcionamento nesse período para o controle da poluição provocada pelas indústrias. Mesmo sem
uma política formalizada nessa época, havia claramente uma preocupação em controlar a poluição
industrial, em especial a qualidade do ar e da água.

Os primeiros programas de controle ambiental passaram a vigorar e ser aplicados pela SEMA e nesse
período foram criados órgãos estaduais de meio ambiente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Entre os anos de 1975 e 1979, a política governamental definiu como prioridade o controle da
poluição industrial e a necessidade de ordenamento territorial através do zoneamento das atividades
industriais. Para dar andamento a esse objetivo foram elaborados sistemas de licenciamento ambiental.
Em São Paulo foi criada a Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Básico e Defesa do Meio
Ambiente (CETESB) que, a partir de 1976, ainda que a sigla tenha se mantido, passou a ser chamada de
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Desde então a CETESB se caracterizou como
uma importante agência de controle ambiental.

Paralelamente às políticas ambientais, diferentes ações para a promoção da saúde foram desen-
volvidas a partir da década de 1970 em diferentes países, com o objetivo de conseguir mais saúde
para todos. Em 1974 foram realizados estudos no Canadá para identificar e analisar as causas deter-
minantes da morbidade e mortalidade da população e como essas influenciavam os níveis de saúde.

56
Pela primeira vez foi realizado o paralelo entre saúde e meio ambiente, quando foi formulada
a correlação de problemas relacionados com a poluição. Foram avaliados outros fatores, como a
incompetência dos serviços de saúde; os comportamentos e o estilo de vida que geravam inúmeras
doenças; bem como as causas socioeconômicas, políticas e culturais.

Como já discutido, grande parte dos agravos da saúde está relacionada com a degradação ambiental,
pois as alterações no meio interferem de forma incisiva na saúde e qualidade de vida da população,
com destaque para as poluições do ar, água e solo.

Sendo a saúde e o meio ambiente indissociáveis, a devida manutenção implica na preparação


do Estado para cumprir o papel que a Constituição Federal de 1988 lhe atribui, assim como da
sociedade exercer o controle social, a fim de que ambos desenvolvam um sistema de políticas públicas
de prevenção, tratamento e recuperação das doenças e manutenção da saúde.

Desde a década de 1980, oito conferências internacionais foram realizadas para a promoção da
saúde com a participação de inúmeros países, resultando em cartas, declarações e recomendações
sobre esse tema.

Na primeira conferência, realizada em 1986 em Ottawa (Canadá), surgiram as bases de discussão


da promoção da saúde, cujas recomendações vigoram até hoje.

De acordo com a carta de Ottawa, a promoção da saúde é uma forma de consegui-la para todos
por meio de um processo voltado para a capacitação da população, ou seja, ensinar os povos a obter
saúde, segundo as suas diferentes realidades.

Foram estabelecidos como requisitos fundamentais para a manutenção da saúde: a paz; a educação; a
moradia e alimentação; um ecossistema equilibrado; a conservação dos recursos e justiça social. Portanto,
o atendimento das necessidades básicas à saúde, das quais um meio ambiente saudável é imprescindível,
a partir desse evento teve seu conceito ampliado, sendo resultante das condições de vida.

Nesse mesmo evento ficaram estabelecidas algumas áreas de intervenção social prioritárias para
a promoção da saúde com a criação de políticas públicas voltadas à saúde, criação de ambientes que
favoreçam a saúde, o fortalecimento das ações comunitárias e a reorientação dos serviços de saúde.

Para a obtenção desses resultados foram definidas as seguintes estratégias: uma ação coordenada
entre as organizações governamentais e não governamentais, empresas e mídias, capacitação de todas as
pessoas no sentido de realizar seu potencial e defesa de saúde com a divulgação das ideias da promoção.

Os participantes também se comprometeram a olhar para o tema ecologia e combater a produção


de substâncias prejudiciais à saúde; a depredação dos recursos naturais; as condições ambientais de
vida não saudável e a má nutrição, entre outras.

Em 1988 foi realizada a segunda Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde em


Adelaide (Austrália). A discussão se concentrou na importância das políticas públicas de saúde e meio
ambiente, priorizando a saúde da mulher; a nutrição e segurança alimentar; a prevenção ao tabagismo
e ao alcoolismo, que cada vez mais provoca mortes e degradam o meio ambiente.

A terceira Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde ocorreu em Sundsvall (Suécia) em


1991 e o tema foi a criação de ambientes físicos, sociais e econômicos favoráveis à saúde e compatíveis
com o desenvolvimento sustentável. Os tópicos saúde, ambiente e desenvolvimento humano foram

57
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
tratados conjuntamente. Desenvolvimento envolvendo melhoria da qualidade de vida e da saúde,
conservação, proteção e sustentabilidade ambiental.

Em Jacarta (Indonésia) foi realizada em 1997 a quarta edição da Conferência. Foi a primeira a ser
realizada em um país em desenvolvimento. Nessa ocasião o tema adotado foi Novos protagonistas
para uma nova Era: orientando a promoção da saúde no século XXI. O evento incluiu o setor
privado como apoio na promoção da saúde, estabelecendo como prioridades:

· Promover a responsabilidade social em saúde;


· Aumentar o poder das comunidades e do individuo;
· Formar e consolidar alianças em favor da saúde;
· Aumentar os investimentos para o desenvolvimento da saúde;
· Garantir a infraestrutura para a promoção da saúde.

Mais uma vez concluiu-se que a saúde é um direito humano reconhecido e é essencial para o
desenvolvimento social e econômico de um país e que a pobreza ameaça a saúde e o meio ambiente,
pois usa indiscriminadamente os recursos naturais.

Em 2000 a quinta Conferência sobre a Promoção da Saúde foi realizada na Cidade do México
(México). Essa edição procurou consolidar as ideias geradas nas conferências anteriores, entre outros
pontos, permitindo a análise das estratégias e diretrizes das medidas de controle das desigualdades no
âmbito mundial. O aspecto mais relevante desse evento foi a assinatura inédita de uma declaração por
ministros da saúde de diversos países, comprometendo-se com diretrizes para a promoção da saúde
em suas nações.

A sexta Conferência Internacional para a Promoção da Saúde foi realizada em Bangkok (Tailândia)
em 2005 e o tema foi a Promoção da Saúde em um Mundo Globalizado. A carta de Bangkok deixa
claro que as políticas e parcerias devem dar poder às comunidades, melhorar a saúde e a igualdade,
além de dar prioridade aos projetos de desenvolvimento global. Reconheceu que a saúde é um direito
de todos, sem discriminação de raça, cor, sexo ou poder socioeconômico, além de ratificar de forma
positiva o conceito inclusivo de saúde, incluindo o bem-estar mental e espiritual.

Promover a saúde é aumentar o controle dessa e de seus determinantes, levando toda a comunidade
a se mobilizar para melhorar a saúde e o meio ambiente. Por sua vez, a função da saúde pública tem
como meta o enfrentamento das doenças transmissíveis e não transmissíveis.

Em Nairóbi (Quênia) foi realizada a sétima Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde,
que teve como tema A chamada para a ação, com o objetivo de estabelecer compromissos para
diminuir as dificuldades de implementação em saúde, destacando-se as metas de desenvolvimento do
milênio. Ao se implementar a promoção da saúde, tem-se uma sociedade mais justa, de modo que as
pessoas podem levar uma vida mais saudável, aumentando o controle sobre sua saúde e os recursos
para o bem-estar da comunidade.

A oitava Conferência Internacional para a Promoção da Saúde foi realizada em 2013, com dezenas
de delegados representando países de todo o mundo. Essa discussão abordou como as decisões
políticas sobre saúde são implementadas na prática. O principal tema foi sobre como incluir a saúde
como prioridade em todas as políticas.

58
Colocar a saúde em todas as políticas é a solução para aumentar as chances para uma vida
saudável. Essa abordagem pode influenciar de forma positiva fatores relevantes relacionados à
saúde, como a pobreza, o saneamento básico, a sustentabilidade econômica e o equilíbrio ambiental.

Políticas de Saúde Pública no Brasil (Vigilância Ambiental)

A década de 1990 foi importante para a reflexão acerca da relação saúde e ambiente. A noção
de vigilância ambiental se iniciou nessa época. Trabalhos voltados à construção de indicadores de
desenvolvimento sustentável contribuíram para que fossem verificados indicadores de saúde ambiental,
incluindo o contexto sociodemográfico, as condições de saneamento, os riscos ocupacionais, a
segurança alimentar, a poluição do ar, água, solo etc.

Esses indicadores de saúde ambiental trazem uma visão abrangente e integrada da relação entre
saúde e ambiente. A vigilância ambiental é um processo contínuo de coleta de dados e análise de
informação sobre saúde e meio ambiente, com o objetivo de esclarecer a execução de ações no
controle de fatores ambientais que interfiram na saúde e contribuam para a ocorrência de doenças.

Com o objetivo de preservar a qualidade de vida por meio da vigilância dos fatores de risco ambiental
e embasada pelo Decreto n.o 3.450/2000, a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) assume como
competência institucional a gestão nacional do sistema de vigilância ambiental, a qual está associada
à Regulamentação Normativa n.o 1/2001, do Ministério da Saúde (MS), que define as competências no
âmbito federal. Com o fim de proteger a população dos riscos ambientais, a FUNASA tem como prioridade
a intervenção sobre os fatores ambientais de riscos biológicos (vetores, hospedeiros, reservatórios e
animais peçonhentos) e os fatores de risco não biológicos (qualidade da água, do solo, do ar, desastres
naturais e acidentes com produtos perigosos).

Para promover a saúde, prevenir e controlar as doenças, a vigilância ambiental é um campo vasto
de ação local para equipes multidisciplinares, levando a uma responsabilidade compartilhada no
gerenciamento dos problemas de saúde relacionados ao meio ambiente, no sentido de mitigá-los,
preveni-los e até eliminá-los. Para tanto, o campo de atuação em vigilância ambiental está intimamente
ligado aos estudos epidemiológicos, sanitários e de saúde do trabalhador, uma vez que os antecedentes
mostram a relação entre os sistemas produtivos, o meio ambiente e os processos de saúde e doença.

O Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde (SINVAS) requer articulação de diversos


ministérios e secretárias estaduais e municipais no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Os indicadores de vigilância ambiental são utilizados como suporte para tomadas de decisão. Essas
informações chegam através de diversas fontes, tais como estatística, epidemiologia e Sistemas de
Informação Geográfica (SIG). O SINVAS é alimentado por inúmeros sistemas (relacionados entre si)
de informação em saúde, incluindo fatores biológicos; contaminantes ambientais; qualidade da água
para o consumo humano; qualidade do ar e solo; desastres naturais; produtos perigosos, entre outros.

Com a operação do SINVAS em todo território nacional, conta-se com uma ferramenta valiosa para
que seja alcançada a qualidade de vida, minimizar impactos relacionados à saúde e ao meio ambiente,
além de atingir alguns princípios estabelecidos nas diversas cartas de promoção à saúde.

59
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
Como visto, entre saúde e meio ambiente há uma forte relação. O processo de saúde e doença
não pode desconsiderar as interações do homem com o meio – tanto o natural como o que sofre
seu impactado. Como um conceito em construção, a saúde ambiental tem novos métodos, teorias e
abordagens, enriquecidos por outras disciplinas e com o envolvimento de toda a sociedade.

Promover a saúde, construir meios mais saudáveis e em equilíbrio, compatibilizar os desenvolvimentos


econômico, social, sustentável e humano é, sem dúvida, o maior desafio para a humanidade neste século.

Desenvolvimento Sustentável, Gestão Ambiental e Qualidade de Vida

O desenvolvimento sustentável pressupõe o atendimento às necessidades atuais, sem comprometer


a possibilidade das gerações futuras a atenderem suas próprias necessidades.

A gestão para o desenvolvimento sustentável inclui o entendimento dos fatores econômicos,


sociais, políticos, tecnológicos e ambientais, possibilitando uma reflexão sobre os diferentes modelos
de desenvolvimento e definindo as direções para o século XXI.

Os estudos mostram que as alterações ambientais provocadas pelas ações humanas, maculando os
ambientes naturais, poluindo o meio físico e consumindo os recursos naturais, aumentam o risco de
exposição a doenças, atuando de forma negativa na qualidade de vida.

O tema desenvolvimento sustentável está presente em nossa sociedade, representada por um


conjunto de discussões e por projetos internacionais e locais que dialogam sobre o tema.

A sustentabilidade é uma questão complexa, o que aumenta a necessidade de ações de todos os


setores da gestão ambiental. Para buscar soluções sustentáveis deve-se priorizar a compreensão das
questões sociais, econômicas, ambientais e políticas, presentes na sociedade e no ambiente aos quais
estão inseridas.

Inúmeros trabalhos são elaborados na área do desenvolvimento sustentável. Em sua maioria possuem
como objetivo a colaboração à reversão dos processos de degradação ambiental e ao consumo elevado
de recursos naturais, almejando a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos de forma sustentável.

No processo de gestão ambiental um dos principais problemas encontrados é a falta de


reconhecimento da importância das políticas ambientais e o despreparo de órgãos públicos de gestão
frente à complexidade dos temas ambientais.

Com pouca disponibilidade dos dados relativos à situação social, econômica e ambiental, aumenta
a dificuldade da gestão do meio ambiente e da conscientização popular. Além disso, a ausência de
ações interdisciplinares e interinstitucionais se apresentam como mais uma dificuldade no momento
da implementação de projetos voltados ao desenvolvimento sustentável. É fundamental, no entanto, a
criação de um sistema de indicadores para a orientação da tomada de decisões dentro dos princípios
deste desenvolvimento.

60
Alguns indicadores ambientais são utilizados nos sistemas de planejamento e gestão urbana
como ferramentas de diagnóstico e monitoramento da qualidade ambiental. Todavia, com a
incorporação dos princípios de sustentabilidade, faz-se necessário à adequação dessas ferramentas
convencionalmente utilizadas, pois com indicadores adequados torna-se possível a apresentação
de uma forma mais transparente e acessível da complexidade das questões presentes no processo
de gestão do meio, possibilitando que a população e tomadores de decisão se conscientizem do
panorama socioeconômico e ambiental.

Assim, os indicadores são fundamentais não apenas nas fases de mobilização e conscientização,
mas também na elaboração de um plano de desenvolvimento sustentável, no monitoramento e na
avaliação da implantação. Em síntese, a gestão do meio ambiente com foco na sustentabilidade requer
uma atuação dinâmica e contínua.

Em função da complexidade dos temas envolvidos na gestão para um desenvolvimento sus-


tentável é necessário não só mais pesquisas sobre as modificações ambientais que o atual desen-
volvimento vem causando, mas também que os resultados sejam incorporados como políticas de
desenvolvimento sustentável.

Ainda ocorre uma defasagem na qualidade, na padronização e no acesso à informação entre


os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Para que um indicador ambiental consiga medir o
desenvolvimento sustentável, é necessário que esse possibilite uma relação entre as atividades antrópicas
e os impactos que são causados e que podem influenciar de forma negativa na qualidade de vida
presente e futura.

Com as informações dos indicadores é possível estabelecer as metas para o gerenciamento do


futuro e, com isso, as mudanças do padrão de consumo poderão ser atingidas por meio de maior
eficiência no sistema de produção através da otimização no uso dos recursos naturais e a minimização
da geração de resíduos.

Como resultado, espera-se a diminuição do consumo de recursos naturais como uma natural
consequência na redução da quantidade de poluentes lançados no meio, agregando mais saúde e
qualidade de vida.

Portanto, de posse dessas informações estratégicas, os indicadores proporcionam o envolvimento


da comunidade no processo de gestão, na sua qualidade ambiental. Como resultado, a gestão adequada
da qualidade ambiental reduz os riscos à saúde humana, provocados pela poluição, podendo dar um
suporte à proteção de grupos mais vulneráveis, inclusive.

Um bom planejamento urbano, entre outras características, traz um uso eficiente de energia. Os
indicadores adequadamente escolhidos e aplicados podem indicar a tendência de melhora ou piora
da qualidade de vida e ambiental e, com isso, permite avaliar se a comunidade está na direção do
desenvolvimento sustentável.

Portanto, entende-se que a inserção dos indicadores de desenvolvimento sustentável como ferramenta
de gestão ambiental é de suma importância, pois possibilita que se faça a conexão das atividades diárias
da população com o desejado desenvolvimento sustentável.

61
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
Considerações Finais

Nesta Unidade discutimos a saúde coletiva, meio ambiente e desenvolvimento sustentável, refletindo
como esses caminhos podem nos levar a atingir uma melhor qualidade de vida, com saúde e em um
ambiente ecologicamente equilibrado. Neste texto ficou visível a importância do profissional da gestão
ambiental para o atingimento desses objetivos.

Um mundo em rápido e permanente processo de mudança foi o cenário das últimas décadas.
A economia global com o crescente enriquecimento dos países deixou inúmeros passivos sociais e
ambientais. Esse contexto se traduz em desafios para a gestão dos espaços antrópicos e naturais,
induzindo a situações de conflito pelas prioridades políticas dentro de um círculo vicioso.

Temos um sistema de planejamento que não acompanha a dinâmica das cidades, com descontinuidade
das políticas, planos e projetos; fazendo com que os resultados esperados pelos investimentos em
infraestrutura e operacionalização dos assentamentos urbanos não apareçam. Paralelamente, há uma
participação discreta da sociedade nesse processo de gestão.

Diante desse quadro fica reconhecida a prioridade de promoção das mudanças mencionadas,
entendendo as inter-relações dos ecossistemas naturais e construídos, assim como na urgência do
envolvimento comunitário no processo de gestão ambiental, nas dimensões local e global.

Para dar suporte a essas mudanças há o conjunto de princípios propostos do desenvolvimento


sustentável. Essas premissas possuem a necessidade de estabelecimentos de metas para dar subsídios às
políticas públicas e tomadas de decisão, incluindo a reflexão sobre os padrões de consumo e produção,
tais quais seus impactos, uma vez que o consumo dos recursos naturais em bases insustentáveis resulta na
degradação dos sistemas físico, biológico e social, além de ter forte relação com o agravo da saúde pública.

As modificações ambientais, como a disposição inadequada de resíduos e lançamentos de efluentes


sem tratamento adequado nos cursos de água podem criar ambientes propícios para a existência de
vetores de interesse em saúde pública.

Os determinantes sociais, como hábitos, estilos de vida e aspectos de organização ganham cada vez
mais espaço nos projetos de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida. Nesse sentido, a saúde
pública deve ter como objetivo a busca de soluções para os problemas que levam ao agravamento da
saúde e da qualidade de vida comunitária. Compreende-se como ações de saúde pública as medicinas
preventiva e social e as atividades de saneamento do meio.

Em 1998 o Banco Mundial gerou um relatório de gestão dos problemas de poluição no Brasil,
que em ordem de importância incluem: a falta de abastecimento de água potável e coleta segura
de esgotos; a poluição atmosférica; poluição das águas superficiais em áreas urbanas, essas com
impactos visuais, de odor e restrição às atividades de lazer; gestão inadequada dos resíduos sólidos,
o que aumenta a proliferação de vetores potenciais de agravo à saúde e à poluição. Esse conjunto
causa danos reais à saúde humana, qualidade de vida e perdas ambientais em toda a sociedade
brasileira, o que aumenta a responsabilidade do País no processo de desenvolvimento sustentável.

62
Ademais, esta Unidade também dedicou atenção às políticas de implementação para um
desenvolvimento sustentável com o objetivo de atingimento de maior qualidade de vida, saúde e um
ambiente ecologicamente equilibrado, visto que tais questões estão interligadas, de modo que o êxito
de um aspecto depende do sucesso dos demais.

Gestão, planejamento, informação, epidemiologia, ética, meio ambiente e políticas são os campos
essenciais para a reflexão social, construindo o conhecimento na saúde coletiva. Somos responsáveis
por construir e preservar a saúde coletiva, com responsabilidade social e atenção no equilíbrio ambiental,
buscando sempre o desenvolvimento sustentável.

63
Políticas de Saúde Pública, Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
UNIDADE
IV
Material Complementar

Explore
• A água como recurso cada vez mais limitante: https://goo.gl/URg80s
• Aula aberta sobre a realidade da saúde pública no país: https://goo.gl/Zr8tsO

64
Referências

BATTAGLIN, P. et al. Saúde coletiva: um campo em construção. Curitiba, PR: Ibpex, 2006.

PHILIPPI, A. Saneamento, saúde e ambiente. Barueri, SP: Manole, 2014.

_____________. PELICIONI, M. C. F. Educação ambiental e sustentabilidade. 2. ed. Barueri, SP:


Manole, 2014.

ROSA, A. et al. Meio ambiente e sustentabilidade (recurso eletrônico). Porto Alegre, RS:
Bookman, 2012.

65
São Paulo
2017
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