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TESTES DE VIDA
Estudos em 1 João
LIÇÃO 9 – TESTADOS, PORÉM ENCORAJADOS
1 JOÃO 2. 12-14

Nesta lição examinaremos o encorajamento que João transmite aos seus leitores,
assegurando-os de que tem certeza de que são crentes verdadeiros, e que vencerão
as dificuldades e as tentações que estavam atravessando no momento.

INTRODUÇÃO
Temos aprendido que o apóstolo João identifica o Cristianismo genuíno diante de seus
leitores mediante algumas das características centrais do Evangelho. O apóstolo faz isto
colocando alguns testes (moral, 1.5-2.6 e social, 2.7-11). Seu alvo é que os crentes da
Ásia, a quem a carta foi dirigida, examinem o ensinamento que mestres gnósticos lhes
estavam apresentando, e que era diferente do ensino apostólico. Os crentes deveriam
também usar os testes para examinar-se se de fato estavam na fé, ou se estavam se
deixando desviar pelo falso ensino. João deseja que os crentes verdadeiros sejam
fortalecidos mais e mais, ao passarem nestes testes.

Os testes que João propõe nesta carta poderiam ter efeito oposto nos verdadeiros crentes.
Em vez de fortalecê-los, poderiam desanimá-los. Como sábio pastor de almas, o apóstolo
“tempera” a penetração da sua mensagem com palavras de ânimo e conforto. Nessa
passagem (2.12-14) ele interrompe a apresentação dos testes e critérios pelos quais
reconhecer o verdadeiro Cristianismo para dar uma palavra de conforto e ânimo aos seus
leitores.

Usando uma linguagem poética que se vale de repetições, João assegura seus leitores de
que está convencido da salvação deles, de que eles são crentes verdadeiros. Ele não os
está acusando de heresia, mas alertando-os a se guardar do falso ensino dos mestres que
procuravam desviá-los da verdade.

Ao mesmo tempo, assim fazendo, o apóstolo João revela o que para ele significa ser
cristão. A descrição que ele faz, portanto, num outro sentido, se constitui em mais um
teste do que seja o verdadeiro Cristianismo.

FILHOS, PAIS E JOVENS


Para podermos melhor entender a mensagem de João, devemos primeiro determinar quem
ele tem em mente. Na passagem, o apóstolo se dirige aos seus leitores chamando-os de
filhinhos, pais e jovens. “Filhinhos” ou “filhos” ocorre várias outras vezes na carta (ver
2.1,18,28; 3.7,18; 4.4; 5.21), enquanto que “pais” e “jovens” ocorrem somente aqui.
Quem são estes filhinhos, pais e jovens? Tem havido algumas diferentes explicações.
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Grupos etários?
Para alguns estudiosos, esses termos devem ser entendidos literalmente. João refere-se
aos grupos dentro da igreja classificados por faixa etária, ou seja, crianças, jovens e
adultos, e a cada grupo ele dirige um encorajamento específico.

A dificuldade é que as bênçãos ou vitórias que João atribui a cada grupo pertencem, na
verdade, aos crentes de qualquer idade. Por exemplo, a vitória sobre o diabo atribuída aos
“jovens” (2.14) é a mesma vitória de todo verdadeiro crente, como o próprio João ensina
no resto da carta, veja 3.8,12; 4.4; 5.4-5,18. Igualmente, não são apenas os “pais” que
conhecem a Jesus e a Deus (2.13), mas todos os crentes verdadeiros (cf. 2.3; 2.20-21;
4.7). Logo, rejeitamos a interpretação acima.

Níveis de maturidade?
Para outros, João está empregando estes termos figuradamente. Ele se refere ao grau de
maturidade de vários grupos dentro da Igreja, os “pais” sendo os mais maduros, e depois
vindo os “jovens”, e finalmente os “filhinhos”, talvez como os recém-convertidos. Essa
interpretação enfrenta o mesmo problema da anterior: João usa o termo “filhinhos” para
toda a Igreja, e não para grupos dentro dela. Além do mais, o que se diz dos “pais” e
“jovens” nesta passagem pode-se dizer de qualquer crente verdadeiro, não importa seu
grau de maturidade.

Todos os crentes genuínos


Talvez a interpretação que acarrete menos dificuldades seja a de que João esteja se
referindo a toda a Igreja, a todos os crentes. Ou seja, estes três grupos na realidade são um
único grupo, aqueles a quem João escreveu. O apóstolo usa estes termos para destacar
alguns aspectos da posição deles em Cristo. Assim, eles podem ser chamados de
“filhinhos”, pois, como João mesmo escreve, os vossos pecados são perdoados por
causa do seu nome (2.12), e assim, haviam sido recebidos como filhos de Deus (cf. João
1.12). São também “pais”, pois conhecem aquele que existe desde o princípio (2.13a;
14), e podiam passar este conhecimento às gerações futuras, como pais transmitem seu
conhecimento aos filhos. E são “jovens”, pois como moços fortes e valentes, têm
vencido o maligno (2.13b; 14b). Esta interpretação nos parece a melhor e é a que
adotaremos em nossa lição.

Escrevo, escrevi...
Ainda um ponto interessante são os tempos verbais diferentes que João usa com o verbo
“escrever”. Nos versos 12 e 13 ele usa eu vos escrevo... por 3 vezes. Mas, no v. 14, ele
muda para eu vos escrevi... (também 3 vezes). “Escrever” é um dos verbos prediletos de
João nesta carta. Ele o usa 13 vezes! E o que é curioso, as 7 primeiras vezes todas no
presente (escrevo, escrevemos), e isto até 2.13. A partir de 2.14, ele usa mais 6 vezes, e
todas no passado (escrevi)!

Não sabemos ao certo se estes fatos indicam alguma coisa importante. Para alguns, é
possível que João tenha escrito a carta em duas etapas, a primeira até 2.13, e a segunda,
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de 2.14 ao fim. Mas, é só especulação, nada sabemos com certeza. Talvez João realmente
não quis dizer nada com a mudança dos tempos do verbo “escrever” a certa altura da
carta. Muitos acham assim, até mesmo tradutores da Bíblia. Algumas versões traduzem
todas as ocorrências do verbo escrever nesta carta simplesmente no presente “eu
escrevo...”, mesmo quando no original grego o verbo está no passado. Como é quase
certo que João não se refere a alguma outra carta que porventura haja escrito antes desta
aos moradores da Ásia, cremos que o sentido é mesmo “eu escrevo”.

O Encorajamento para Continuarem Firmes


O ensinamento dos falsos mestres provavelmente estaria lançando muitos cristãos em
dúvidas e desânimo. Era necessário não somente combater o erro como também fortalecer
e confirmar os crentes. O apóstolo procura encorajá-los assegurando-os da posição deles
em Cristo Jesus. Vejamos os argumentos de João:
1. Os pecados deles haviam sido perdoados por causa do nome de Jesus Cristo
(2.12). Este é o primeiro motivo pelo qual o apóstolo está escrevendo. João está
seguro de que eles foram perdoados e recebidos como filhos por Deus mediante
Jesus Cristo. Esse perdão não fora concedido ou obtido mediante um
conhecimento secreto, conforme os gnósticos pregavam, mas mediante o nome de
Jesus, no qual aqueles crentes haviam crido.
2. Eles conheciam a Deus, aquele que é desde o princípio (2.13,14). Este é mais um
motivo pelo qual João lhes escreve. O conhecimento do Deus eterno que eles
haviam recebido não era o conhecimento secreto e místico propalado pelos
gnósticos, e que segundo eles pertencia a uns poucos iluminados, mas era o
conhecimento de Deus revelado em Cristo Jesus e anunciado ao mundo pelos
apóstolos.
3. Eles haviam vencido o Maligno (2.13,14). É nesta certeza que João lhes escreve.
Aqui João se refere ao diabo como o Maligno, aquele que é expressão maior do
mal. A vitória dos cristãos sobre o Maligno consiste em diversos pontos: (a) Eles
não vivem mais na prática do pecado, que é característica dos filhos do diabo
(3.8); (b) Eles não são mais do Maligno, como Caim que odiava seu irmão e
acabou por matá-lo (3.12); (c) Estão protegidos do Maligno por Jesus Cristo
(5.18); (d) Eles foram libertados do domínio e do poder que o Maligno exerce
sobre o mundo (5.19). Tal vitória foi concedida mediante Jesus Cristo e não por
acesso a conhecimentos secretos propalados pelos gnósticos.
4. Eles eram fortes e a Palavra de Deus neles permanecia (2.14). Este é o último
motivo pelo qual João lhes escreve. A sua fortaleza era espiritual e resultava da
habitação da Palavra de Deus neles. A expressão “palavra de Deus” refere-se não
somente às Escrituras do Antigo Testamento (Jo 10.35), mas também às palavras
do próprio Jesus (Jo 8.31; 15.7) e à mensagem apostólica (1Ts 2.13). Esta palavra
permanecia naqueles crentes, pois não haviam abandonado a verdade do
Evangelho nem seguido a mentira dos mestres gnósticos. A palavra de Deus os
tornara fortes e prontos para resistir.

O encorajamento oferecido pelo apóstolo João aos crentes da Ásia consiste em reafirmar
a certeza do apóstolo de que eles estavam, de fato, na verdade do Evangelho. Os testes
aos quais ele os está submetendo têm como alvo confirmá-los ainda mais nesta verdade e
prepará-los para rechaçar os falsos mestres.
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Conclusão
1. Não devemos desanimar quanto somos testados e provados pelos padrões e
critérios da Palavra de Deus e percebemos que fomos reprovados. Se formos
crentes verdadeiros, despertaremos para uma vida mais santa e devotada ao
serviço de Cristo.
2. Um dos maiores encorajamentos que podemos receber em tempos de desânimo é
rever aqueles pontos básicos e fundamentais da nossa posição. Quando nos
lembramos que conhecemos a Deus, que nossos pecados foram perdoados, que
vencemos o Maligno e que a Palavra de Deus está em nós, recobramos as forças
para continuar, apesar das dificuldades.
3. O evangelho nos concede tudo que precisamos para viver de forma agradável a
Deus neste mundo e para sermos felizes: perdão, conhecimento de Deus, firmeza,
vitória. Membros professos de igrejas cristãs que abandonam o Evangelho em
busca de outros ensinamentos, nunca realmente experimentaram estas coisas
durante o tempo em que estiveram na igreja. Examinemos nosso coração!

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