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Ednilson Sergio Ramalho de Souza


(Editor)

1º Volume

PESQUISAS EM TEMAS DE CIÊNCIAS


BIOLÓGICAS

1ª Edição

Belém-PA

2020
4

https://doi.org/10.46898/rfb.9786599152481.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

P474

Pesquisas em Temas de Ciências Biológicas [recurso digital] / Ednilson


Sergio Ramalho de Souza (Editor). -- 1. ed. 1. vol. -- Belém: Rfb
Editora, 2020.
1.920 kB; PDF: il.
Inclui Bibliografia.
Modo de acesso: www.rfbeditora.com.

ISBN: 978-65-991524-8-1.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.

1. Ciências Biológicas. 2. Pesquisa. 3. Estudo.


I. Título.

CDD 570.7

Elaborado por Rfb Editora.


5

Copyright © 2020 edição brasileira.


by Rfb Editora.
Copyright © 2020 texto.
by os autores.

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Prof. Dr. Ednilson Sergio Ramalho de Souza - UFOPA.
Prof.ª Drª. Roberta Modesto Braga - UFPA.
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Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Macedo - IFMA.
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Prof.ª Drª. Elizabeth Gomes Souza - UFPA.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS EM PALMEIRAS BABAÇU (At-
talea speciosa) EM BABAÇUAL NO NORTE DO TOCANTINS: NOTA CIENTÍ-
FICA...................................................................................................................................... 9
OLIVEIRA, Darlan Morais.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.1.

CAPÍTULO 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BAC-
TÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS VIAS AÉREAS............................ 19
VASCONCELOS, Henrique Guimarães.
RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.2.

CAPÍTULO 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia........................................................ 31
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
ARAUJO, Vivianne Ferreira.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
PORTO, Ana Lucia Figueiredo.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.3.

CAPÍTULO 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFAN-
TIL......................................................................................................................................... 45
SILVA, Suéllen Moreira da.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.4.

CAPÍTULO 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FER-
MENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO........................................................................... 57
SANTOS, Amanda Lucena dos.
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.5.

CAPÍTULO 6
LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS NO BRAZIL: UMA REVISÃO SIS-
TEMÁTICA......................................................................................................................... 71
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
SANTOS, Sybelle Montenegro dos.
SANTOS, Amanda Lucena dos.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
7

BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.


PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.6.

CAPÍTULO 7
APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DUAS FASES AQUOSAS NA PURIFICAÇÃO DE
PROTEÍNAS: UMA BREVE REVISÃO......................................................................... 83
NASCIMENTO, Maria Clara do.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
CUNHA, Márcia Nieves Carneiro da.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.7.
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CAPÍTULO 1

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS


EM PALMEIRAS BABAÇU (Attalea speciosa)
EM BABAÇUAL NO NORTE DO TOCANTINS:
NOTA CIENTÍFICA

OLIVEIRA, Darlan Morais.1

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.1.

1  Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA


e-mail: darlan_morais@hotmail.com
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Resumo

E sta nota científica objetiva realizar levantamento florístico preliminar de epí-


fitas de palmeiras babaçu em área de babaçual no norte do Tocantins. Para
isso, fez-se parcelamento da área pesquisada em três blocos correspondentes a am-
bientes antropizados, preservados e nascentes, com posteriores observações, registros
fotográficos, coletas, anotações e identificação in loco de famílias botânicas das epífitas
encontradas. O resultado mostrou a ocorrência de espécies de catorze famílias botâ-
nicas, sendo duas da divisão Pteridophyta e doze da divisão Antophyta, habitando
como epífitas os forófitos de palmeiras de babaçu, principalmente a região da coroa
de bainhas. Concluiu-se, com a pesquisa, que a palmeira babaçu favorece o epifitismo
indicando possível riqueza botânica no ecossistema do babaçual.

Palavras-chave: Epífitas acidentais; Família botânica; Coroa de bainhas.

1 Introdução

Os babaçuais são matas nativas de palmeira babaçu (Attalea speciosa), caracteri-


zados por serem abundantes e homogêneos que se estendem pelos estados do Mara-
nhão, Piauí e Tocantins (SILVA, 2008; ALBIERO et al, 2007). Praticamente apenas se
conhece a importância socioeconômica da palmeira babaçu nesse ecossistema e pouco
se estuda sobre a biodiversidade botânica dos babaçuais.

Contudo, escassos e antigos trabalhos já revelaram uma relação de afinidade en-


tre palmeiras babaçu e certas espécies de epífitas vasculares (MARTINHO FILHO,
1992; SILVA; OLIVEIRA, 1999; FERNANDES et al, 2010), indicando assim riqueza bo-
tânica nas regiões onde há palmeiras babaçu.

Levando-se em conta que o Estado do Tocantins já conta com a Lei do Babaçu


Livre (Lei n.º 1.959/2008) que mantém as matas nativas de palmeiras de coco babaçu
preservadas (TOCANTINS, 2008). Tal fato permite que o estado seja um local propício
para desenvolvimento de pesquisas sobre a biodiversidade dos babaçuais, precisa-
mente no norte do estado onde estes são abundantes.

Desse modo, desenvolveu-se esse trabalho através de observação em campo de


um babaçual no Norte do Tocantins, município de São Miguel do Tocantins, com o
objetivo de realizar levantamento florístico preliminar de epífitas vasculares em pal-
meiras babaçu.

2 Metodologia

OLIVEIRA, Darlan Morais.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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O local escolhido foi o município de São Miguel do Tocantins, situado a uma


longitude 47° 34’ 31” Oeste e latitude 5° 33’ 17” Sul, área total 398,8km² (SÃO MIGUEL
DO TOCANTINS, 2015), cortado pela TO-126 e compõe a microrregião do Bico do
Papagaio cuja vegetação é composta pelo ecótono Amazônia - Cerrado, onde estão
inseridas as matas de babaçu (BELLIA, 2004)

A técnica aplicada foi baseada nos estudos de Hefler e Faustioni (2004), Figuere-
do Junior et al (2013), Nascimento et al (2015) Serafin e Specian (2018), que consistem
em levantamento florístico do tipo preliminar com parcelamento da área e identifica-
ção in loco, portanto, não havendo a herborização de espécimes para esta finalidade.

As matas foram visitadas esporadicamente durante o ano de 2019, perfazendo o


total de cinco visitas. Foram organizadas seis parcelas de 30m x 30m divididas em três
blocos definidos por meio de observação de campo, representando áreas diferentes:
três parcelas em área antropizada (roça, pastagem e quintal), duas parcelas em área de
mata preservada, e uma parcela em área de nascentes e córregos. O único critério de
inclusão adotado para os forofitos é que se tratassem da espécie babaçu (Attalea specio-
sa), as raras arvores e demais espécies de palmeiras foram dispensadas.

As epífitas foram fotografadas com câmera digital; partes como frutos, flores,
folhas e caule foram coletados com auxílio de tesoura de poda e escada para fins de
medição e análise das características botânicas, as quais foram devidamente anotadas
em diário de bordo.

A identificação fora feita in loco por meio da leitura especializada proposta por
Judd et al (2009); Fernandes et al (2010); Zunquim et al (2008); Rocha (2008); Mendo-
ça-Souza (2006). Após identificar as famílias, estas foram categorizadas de acordo com
o padrão de epifítismo em que foram encontradas. As categorias de epifitismo foram
denominadas de acordo com Furtado e Menini Neto (2015) e Bianchi, Bento e Kersten
(2012).

A identificação fora feita em nível de famílias botânicas, poucas espécies pude-


ram ser precisadas, considerando a ausência de herbários com registros na região onde
se deu a pesquisa, bem como devido ao fato de alguns dos espécimes observados não
possuírem flores e frutos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em todas as palmeiras adultas em período de reprodução foi observada ao me-


nos uma espécie de epífita (Figuras 1), o que não ocorria nas palmeiras jovens que não
possuíam coroa de bainhas.

Capítulo 1
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS EM PALMEIRAS BABAÇU (Attalea speciosa) EM BABAÇUAL NO NORTE DO
TOCANTINS: NOTA CIENTÍFICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Figura 1: A - Araceae e Orquidaceae. B - Fabaceae. C - Orquidaceae e Polypodiaceae. D - Lomariopsi-


daceae. E - Amaranthaceae. F – Urticaceae

A B C

D E F

Fonte: Pesquisa de Campo (2020)

Esta relação entre palmeiras portando epífitas foram descritas na literatura no


trabalho de Martinho Filho (1992) onde observou que 86% das palmeiras babaçu de
uma região pantaneira portavam epífitas; enquanto que Fernandes et al (2010) notou
em sua pesquisa que duas espécies de pteridófitas se desenvolviam apenas em palmei-
ras babaçu; de igual modo, Silva e Oliveira (1999) observaram, em uma região do Ma-
ranhão, que três espécies de orquidáceas cresciam somente sobre palmeiras babaçu.

Assim como nos trabalhos citados no parágrafo anterior, nesta pesquisa notou-se
uma relação íntima e diversa entre epífitas e a palmeira babaçu, onde até três espécies
de epífitas vasculares de grupos diferentes, coexistiam harmonicamente, dispostas so-
bre o estipe e principalmente nas coroa de bainhas.

As pteridófitas eram mais abundantes em quantidade, porém em variedade ape-


nas duas famílias foram identificadas na área pesquisada. As demais famílias perten-
ciam à divisão Antophyta, conforme se observa na tabela 1 a seguir:

OLIVEIRA, Darlan Morais.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Tabela 1- Lista de famílias de epífitas sobre palmeira babaçu, seguida das categorias: Hl = holoepífita;
Hm = hemiepífita; O = obrigatória; A = acidental.
Divisão Família Espécie Categoria
Pteridophyta Polypodiaceae Phlebodium sp Hl/O
Lomariopsidaceae Nephrolepis sp Hl/O
Antophyta Araceae sp 1 Hl/O
Araceae Araceae sp 2 Hl/O
Araceae sp 3 Hm/O
Moraceae Ficus sp Hm/O
Fabaceae Fabaceae sp Hl/A
Poaceae Poaceae sp Hl/A
Solanaceae Solanum sp Hl/O
Cecropia sp1 Hl/A
Urticaceae
Cecropia sp2 Hl/O
Orquidaceae Vanilla palmarum Hl/O
Piperaceae Piperaceae sp Hl/A
Amaranthaceae Gomphrena sp Hl/A
Ruscaceae cf* Ruscaceae cf sp Hl/A
Turneraceae Turnera subulata Hl/A
Não identificada - Hl
*De acordo com Ludtke (2015) com base no ICBN, a abreviação cf. = conferatum indica que a identifica-
ção não é totalmente segura, sendo necessária uma confirmação.
Fonte: Pesquisa de Campo (2020)

Apesar de não ter sido feita a identificação de todas espécies, os caracteres dos
indivíduos colhidos ou apenas fotografados indicavam variedades de espécies para
uma mesma família, o que sugere que haja para área pesquisada um total de dezessete
espécies de epífitas vasculares distribuídas em catorze famílias, das quais apenas uma
não foi possível identificar, conforme figura 2:
Figura 2: A - Família de Antophyta não identificada. B - Ruscaceae cf.

A B
Fonte: Pesquisa de Campo (2020)

Capítulo 1
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS EM PALMEIRAS BABAÇU (Attalea speciosa) EM BABAÇUAL NO NORTE DO
TOCANTINS: NOTA CIENTÍFICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Observou-se que indivíduos pertencentes as famílias Lomariopsidaceae, Polypodia-


ceae, Araceae e Orquidaceae foram os mais abundantes e estavam presentes nos três
blocos pesquisados (antrópica; preservada; nascentes e córregos).

Essas quatro famílias são comuns nesse tipo de estudo por se tratarem de famílias
abundantemente compostas por espécies epífitas (KERSTEN, 2010), principalmente as
espécies Phlebodium sp, Nephrolepis sp e Vanilla palmarum as quais já possuem registros
associados à palmeira babaçu (FERNANDES et al, 2010; BARBERENA et al, 2016).

Quanto à espécie Ficus sp da família Moraceae, é comumente conhecida no Brasil


como gameleira, que em termos de levantamento florístico, foi encontrada no estado
de São Paulo por Mendonça-Souza (2006) apresentando hábito de hemiepífita; Mi-
randa e Guarim Neto (2012) no Mato Grosso também encontraram três espécies he-
miepifitas de Ficus, sendo assim ambos trabalhas vão ao encontro desta pesquisa por
também encontrar uma espécie de Ficus também na condição de hemiepifita, exclusi-
vamente na área antropizada.

No que diz respeitos a espécimes de Solanaceae, Urticaceae, Piperaceae, Turneraceae,


Fabaceae, Poaceae, Ruscaceae e Amaranthaceae, estes foram observados apenas nas áreas
antropizadas, presentes tanto nos forófitos quanto no solo da região, por esse motivo
todos foram incluídos com holoepifitcas acidentais. Esse fato levanta a hipótese de
que a interferência humana nessas áreas de florestas através de queimadas, roçados,
pastagens etc, altera a dispersão de sementes fazendo com que plantas dantes terres-
tres possam aderir condição de epífita como meio de se readaptar as alterações no seu
ecossistema.

A literatura não inclui a maioria dessas famílias como epífitas (Judd et al, 2009),
exceto Solanaceae, Urticaceae e Piperaceae as quais Kersten (2010) menciona alguns de
seus gêneros com esse hábito. Fato que é ratificado por Furtado e Menine Neto (2015),
os quais encontraram indivíduos das mesmas famílias como holoepifitas acidentais
em um levantamento florístico na região de Juiz de Fora/MG. Na ocasião, os autores
daquele estudo atribuíram a presença de matéria orgânica nas bifurcações dos caules
dos forófitos como um fator favorável ao crescimento de epífitas acidentais, uma vez
que havia condições semelhantes ao solo para o crescimento das plantas.

Neste trabalho também se atribuiu um motivo semelhante, pois, embora a pal-


meira babaçu não apresente caule bifurcado em razão de sua própria natureza, o acú-
mulo de matéria orgânica é perfeitamente possível na região da coroa de bainhas de
folhas velhas, local onde as epífitas eram mais abundantes.

OLIVEIRA, Darlan Morais.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Esse fenômeno foi demonstrado Martinho Filho (1992) ao estudar a relação pal-
meiras-epífitas-frugivoros, cuja palmeira babaçu também estava inserida em seu tra-
balho. O autor relata que a bainha das folhas velhas das palmeiras sofria decomposição
causando a queda das folhas, entretanto as bainhas e parte dos pecíolos permaneciam
aderidos ao estipe por longos tempos, formando então a coroa de bainhas de folhas
velhas, onde há acumulo de poeira, detritos, serrapilheira e umidade, reunindo assim
condições favoráveis para a germinação de sementes, estabelecimento de plântulas e
crescimento de plantas.

4 Considerações finais

Diante destes argumentos, conclui-se que a estrutura anatômica das palmeiras


adultas de babaçu, localizadas nos babaçuais da região extremo-norte do Tocantins,
favorece o crescimento de diversos tipos de plantas vasculares, sejam elas epífitas obri-
gatórias ou acidentais.

A ocorrência de catorze famílias botânicas com hábito epifítico sobre as palmei-


ras babaçu indica provável riqueza botânica nesse ecossistema pouco estudado no âm-
bito da biodiversidade.

Esse achado torna-se importante para a luta pela preservação dos babaçuais, não
só por questões econômicas e sociais que essas matas já possuem, como também por
motivos de preservação da biodiversidade que elas carregam.

Este estudo, por ser preliminar, não intencionou um levantamento fitossocioló-


gico da área pesquisada, e considerando as limitações do mesmo, sugere-se continui-
dade de pesquisas nesse âmbito com aplicação de mais técnicas e recursos. Bem como
recomenda-se maiores pesquisas sobre a fauna e flora dos babaçuais visando maior
conhecimento e conservação desse ecossistema de transição.

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Capítulo 1
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS EM PALMEIRAS BABAÇU (Attalea speciosa) EM BABAÇUAL NO NORTE DO
TOCANTINS: NOTA CIENTÍFICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Capítulo 1
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DE EPIFITAS EM PALMEIRAS BABAÇU (Attalea speciosa) EM BABAÇUAL NO NORTE DO
TOCANTINS: NOTA CIENTÍFICA
18
CAPÍTULO 2

EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO


DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS
CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS VIAS
AÉREAS

VASCONCELOS, Henrique Guimarães.1


RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.2
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira3

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.2.

1  Universidade de Itaúna
guimaraes.henrique@yahoo.com
2  Universidade de Itaúna
nandasouzarodrigues@hotmail.com
3  Universidade de Itaúna
haendel.busatti@gmail.com
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

20

Resumo

E sse capítulo objetivou analisar a atividade antibacteriana do extrato de pró-


polis verde sobre as bactérias Staphylococcus aureus e Streptococcus pyoge-
nes, ambas causadoras de infecções nas vias aéreas. As bactérias foram semeadas em
placas contendo discos de papel filtro. Para cada espécie foram utilizadas 12 placas,
divididas em 3 grupos. No primeiro grupo, os discos de papel foram embebidos em 1
ml de extrato de própolis puro. Já no segundo grupo, os discos foram embebidos em 1
ml de extrato alcoólico de própolis 10% e, no terceiro grupo, 1 ml de álcool 70% foi adi-
cionado aos discos. Os halos de inibição foram mensurados e os resultados mostraram
maior ação antimicrobiana do extrato em Staphylococcus aureus, mas o crescimento
dos Streptococcus pyogenes também foi prejudicado, o que complementa evidências
científicas de que o extrato de própolis verde apresenta potencial para uso nas aborda-
gens terapêuticas que envolvem o combate de bactérias patogênicas.

Palavras-chave: Própolis. Ação Antimicrobiana. Antibacterianos.

1 Introdução

As infecções das vias aéreas superiores (IVAS) constituem o grupo de doenças


que mais acometem os seres humanos, sendo a população adulta capaz de desenvol-
ver de 2 a 5 episódios anuais, enquanto crianças apresentam 7 a 10 episódios ao ano.
Elas estão entre as causas mais comuns de consulta aos profissionais de saúde e, embo-
ra os quadros da doença sejam caracteristicamente leves, as altas taxas de incidência e
de transmissão as colocam entre as principais causas de absenteísmo no trabalho e na
escola (ZABOT F, 2018; SILVA FILHO EB, et al., 2017).

Apesar de boa parte das infecções respiratórias ter etiologia viral (cerca de 75%),
para as quais o tratamento com drogas antimicrobianas não traz nenhum benefício, a
prescrição de antimicrobianos persiste como prática comum (MONTEIRO AB, et al.,
2011). Ainda nos casos em que a infecção é de origem bacteriana e há indicação para
o uso de antibióticos, os erros nas fases de prescrição, administração, dispensação e
na transcrição dos medicamentos prescritos corroboram para o crescente uso abusivo
dessas drogas (LOUREIRO RJ, et al., 2016).

Como consequência do mau uso dos antibióticos surgem problemas significati-


vos como o encarecimento da terapêutica, o aumento do perfil de efeitos adversos e,
de modo ainda mais importante, o fenômeno descrito como “pressão antibiótica”. Esse
processo se refere à relação entre a extensão do uso desses medicamentos e a seleção
de cepas resistentes e constitui uma alarmante ameaça para a saúde pública em todo o
mundo (SPURLING GKP, et al., 2013).

VASCONCELOS, Henrique Guimarães.


RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

21

Frente aos potenciais desafios desencadeados pelo uso dos antimicrobianos con-
vencionais, têm sido crescentes os estudos que visam analisar a eficácia terapêutica de
substâncias naturais com o objetivo de consolidá-las como alternativa à terapia me-
dicamentosa habitual. Nesse contexto, em especial, a própolis desponta como opção
acessível e benéfica para o tratamento de infecções das vias aéreas superiores causadas
por bactérias (YUSKEL S e AKYOL S, 2016).

Apesar de ser notório o acervo nacional e internacional sobre as propriedades


medicinais da própolis e de ela ser aceita por órgãos regulatórios como produto com
finalidade terapêutica, ainda se faz necessária a determinação de parâmetros que de-
vam ser mensurados para comprovar a atividade farmacológica da própolis comercial.
Também são necessárias pesquisas que estabeleçam a relação entre composição quí-
mica e atividade biológica, o que permitirá correlacionar o tipo de própolis com a sua
aplicação na área da saúde. Uma vez que diversos fatores podem interferir na com-
posição química, a obtenção de tais parâmetros e correlações representa real desafio
(MARIANO MM e HORI JI, 2018).

Diante de todo o cenário apresentado, a presente pesquisa objetivou endossar


os trabalhos científicos publicados até o momento atual e fomentar a elaboração de
novos estudos. A partir de métodos e processos bem delineados e pré-determinados,
foi avaliada a eficácia de diferentes concentrações de extrato de própolis verde sobre
bactérias das espécies Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes, ambas causa-
doras de infecções das vias aéreas superiores, e quantificada sua capacidade de inibir
o crescimento microbiano.

2 Referencial teórico

A própolis, cujo nome é derivado do grego e significa “em defesa da comunida-


de”, é utilizada sob a forma de extrato na medicina popular desde 300 a.C. O primeiro
estudo científico acerca das propriedades químicas e a composição dessa substância
foi publicado apenas no ano de 1908 e, de forma ainda mais tardia, a primeira publica-
ção brasileira sobre a própolis se deu em 1984 e trata-se de um estudo comparativo do
efeito da própolis e dos antibióticos na inibição de Staphylococcus aureus (LUSTOSA
SR, et al., 2008).

Embora esse produto natural tenha demorado para atrair o interesse brasileiro,
atualmente o país assume posição de destaque na produção e comércio da própolis
e possui a quinta maior produtividade científica no assunto. É estimado que o Brasil
produza de 10 a 15% da produção mundial, sendo exportadas 70 toneladas ao ano
para fins medicinais e tendo o Japão como principal mercado importador. Avaliações
realizadas por produtores e exportadores situam a produção brasileira entre 49 e 150

Capítulo 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS
VIAS AÉREAS
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

22

toneladas anuais, o que coloca o Brasil como segundo maior produtor mundial, logo
atrás da China (SILVA RPD, et al., 2016).

A própolis é composta por uma série de substâncias resinosas, gomosas e balsâ-


micas recolhidas, pelas abelhas, de brotos e cascas de árvores ou de outras partes do
tecido vegetal, e transportadas até a colmeia, onde esses insetos modificam sua com-
posição. Tal modificação ocorre através de secreções próprias como a cera e secreções
salivares essenciais ou, ainda, pode resultar do processo de digestão do pólen pelas
abelhas. Dessa forma, a composição média da própolis é de 55% de resinas e bálsamos,
30% de ceras, 10% de óleos voláteis e 5% de pólen (FERREIRA JM e NEGRI G, 2018).

No que diz respeito à composição química da própolis, esta inclui flavonoides


(como a galangina, quercetina, pinocembrina e kaempferol), ácidos aromáticos e éste-
res, aldeídos e cetonas, terpenoides e fenilpropanoides (como os ácidos caféico e clo-
rogênico), esteroides, aminoácidos, polissacarídeos, hidrocarbonetos, ácidos graxos e
vários outros compostos em pequenas quantidades. Elementos inorgânicos tais como
cobre, manganês, ferro, cálcio, alumínio, vanádio e silício também são componentes
importantes. Todavia, há variação na constituição da própolis de acordo com a flora
da região, época da colheita, técnica empregada e a espécie da abelha (SOUSA JPLM,
2019).

Apenas no Brasil são descritas propriedades biológicas e composição química


distintas para amostras coletadas em diferentes estados do país, o que é facilmente
explicado pela grande biodiversidade nacional. Sob esse aspecto, a própolis verde bra-
sileira, produzida em São Paulo e Minas Gerais, é constituída principalmente de de-
rivados prenilados do ácido p-cumárico e possui grande quantidade de flavonoides,
muitos dos quais não estão presentes em própolis da Europa, América do Norte e Ásia
(PEREIRA DS, et al., 2015; LUSTOSA SR, et al., 2008). Assim sendo, em razão de sua
composição diferenciada, a própolis brasileira se mantém atrativa no mercado inter-
nacional e se potencializa como alternativa aos antibióticos convencionais (PINHEIRO
AO, et al., 2018).

De todos os grupos de compostos da própolis, certamente o que chama mais


atenção dos pesquisadores é o dos flavonoides. A eles, bem como aos ácidos fenóli-
cos, são atribuídas propriedades antibacteriana, antiviral e antioxidante (SALGUEIRO
FB e CASTRO RN, 2016). Especificamente, é atribuído à flavonona pinocembrina, ao
flavonol galagina e ao éster feniletil do ácido caféico um mecanismo de ação baseado
provavelmente na inibição do RNA-polimerase bacteriano. Outros componentes como
o ácido caféico, ácido benzoico e o ácido cinâmico possivelmente agem na membrana

VASCONCELOS, Henrique Guimarães.


RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

23

ou na parede celular do microorganismo, causando danos funcionais e estruturais que


levam à destruição do mesmo (MAGALHÃES TV, et al., 2016).

A própolis brasileira estudada apresentou mais atividade do que vários antibió-


ticos testados. Além disso, muitos trabalhos têm relatado a atividade sinérgica dessa
substância quando associada a diversos antibióticos, inclusive contra cepas resistentes
à Benzilpenicilina, Tetraciclina e Eritromicina. Além dessas drogas, outro estudo reali-
zado a partir de dois métodos distintos, observou a existência de sinergismo também
com Cloranfenicol, Gentamicina, Netilmicina, Vancomicina e Clindamicina (SFORCIN
JM, 2009).

Dada a alta incidência das infecções do trato respiratório superior e a ampla dis-
ponibilização de extrato de própolis nos mais variados tipos e concentrações no mer-
cado brasileiro, tal produto natural pode se tornar aliado no combate aos desafios
enfrentados pela antibioticoterapia usual. Muitos estudos sugerem que a combinação
de extratos de própolis com antimicrobianos possa permitir a redução da dose clínica
de determinados antibióticos e, assim, diminuir a incidência de efeitos colaterais e, ao
mesmo tempo, potencializar a antibioticoterapia no tratamento de infecções em que a
resistência bacteriana torna-se fator determinante (RIPARI N, et al., 2019).

3 Metodologia

Trata-se de uma pesquisa experimental em que o objeto de estudo foi o extrato de


própolis verde adquirido em farmácias especializadas em manipulação. As amostras
bacterianas de Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes foram fornecidas por
um laboratório de um munícipio do estado de Minas Gerais e a pesquisa foi realizada
no laboratório de Microbiologia do curso de Medicina da Universidade de Itaúna.

Para a realização da pesquisa, utilizaram-se placas de petri contendo meio de


cultura ágar Mueller Hinton, discos de papel filtro estéreis de 1 cm de diâmetro, pipe-
tas automáticas, alças de platina e estufa de cultura bacteriológica, além do extrato de
própolis verde puro, extrato alcoólico de própolis verde 10% e do álcool 70%.

A análise estatística foi realizada pelo cálculo das médias e desvios padrões dos
valores referentes aos diâmetros dos halos de inibição encontrados nas placas de petri
através do software Microsoft Excel®.

4 Resultados

Inicialmente, as amostras bacterianas de Staphylococcus aureus e Streptococcus


pyogenes recebidas foram cultivadas em placas de petri contendo ágar Mueller Hin-
ton para a obtenção de colônias. Em seguida, as mesmas foram cultivadas em caldo

Capítulo 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS
VIAS AÉREAS
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

24

Tioglicolato por 24 horas e, posteriormente, semeadas em placas de petri contendo


ágar Mueller Hinton e 5 discos de papel filtro de 1 cm de diâmetro.

Para cada espécie de bactéria foram utilizadas 12 placas, sendo estas divididas
em 3 grupos de 4 placas. No primeiro grupo, os discos de papel filtro estéreis foram
embebidos em 1 ml de extrato de própolis verde puro. Já no segundo grupo, os discos
foram embebidos em 1 ml de extrato alcoólico de própolis verde 10% e, no terceiro
grupo, 1 ml de álcool 70% foi adicionado aos discos. Para garantir que a exata quanti-
dade das substâncias fosse adicionada aos discos foram utilizadas pipetas automáticas
(Imagem 1).
Figura 1 - Fotografia dos halos de inibição formados pelo extrato puro de própolis verde em bactérias
da espécie Staphylococcus aureus

Fonte: Vasconcelos HG, Rodrigues FOS, Busatti HGNO, 2019.

Após esse processo, as placas foram colocadas em uma estufa por 48 horas. Em
seguida, os halos de inibição formados nas placas foram mensurados em milímetros
com a utilização de régua adequada a tal finalidade e registrados em tabelas (Tabelas
1 e 2). Para que os resultados fossem analisados, foram calculados as médias e os des-
vios padrões dos halos de inibição observados em cada uma das 12 placas e, ainda, foi
calculada a média de todos os halos pertencentes ao mesmo grupo de placas (1º, 2º e
3º grupo).

Em relação aos testes com Streptococcus pyogenes (Tabela 1), observou-se que os
halos de inibição apresentaram uma média de 4,25 mm de raio quando o extrato puro
de própolis verde foi adicionado aos discos de papel filtro. Quanto ao uso do extrato
alcoólico de própolis verde 10% e do álcool 70%, as médias encontradas foram, respec-
tivamente, 1,15 mm e 0,35 mm de raio.

VASCONCELOS, Henrique Guimarães.


RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

25

Tabela 1 - Tamanho médio dos raios dos halos de inibição em milímetros

Streptococcus pyogenes

Placas Extrato puro de Extrato alcoólico Álcool 70%


própolis verde de própolis
verde 10%

1 5,2 1 0,4

2 4,2 0,8 0,2

3 4,4 1,4 0,4

4 3,2 1,4 0,4

Média ± Desvio 4,25 ± 0,71 1,15 ± 0,26 0,35 ± 0,08


Padrão
Fonte: Vasconcelos HG, Rodrigues FOS, Busatti HGNO, 2019.

Nos testes realizados com Staphylococcus aureus (Tabela 2), obteve-se uma média
de 5,7 mm de raio quando utilizado o extrato puro, 3,45 mm com o uso do extrato de
própolis verde 10% e 0,8 mm ao se adicionar álcool 70% nos discos.
Tabela 2 - Tamanho médio dos raios dos halos de inibição em milímetros

Staphylococcus aureus

Placas Extrato puro de Extrato alcoólico Álcool 70%


própolis verde de própolis
verde 10%

1 6,2 3,4 0,7

2 5,2 4,2 0,9

3 6 3,2 0,9

4 5,4 3 0,7

Média ± Desvio 5,7 ± 0,41 3,45 ± 0,45 0,8 ± 0,1


Padrão
Fonte: Vasconcelos HG, Rodrigues FOS, Busatti HGNO, 2019.

Com base nestes resultados, as propriedades antimicrobianas do extrato de pró-


polis se mostraram mais intensas nos testes com Staphylococcus aureus, nos quais a mé-
dia dos halos obtidos a partir do extrato puro (5,7 mm) foi aproximadamente 1,65 vez
maior quando comparada à média obtida com o uso do extrato alcoólico de própolis
verde 10% (3,45 mm) e 7,13 vezes maior em relação ao valor encontrado com o uso do
álcool 70% (0,8 mm).
Capítulo 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS
VIAS AÉREAS
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

26

No entanto, os extratos de própolis verde também demonstraram considerável


atividade antimicrobiana nos ensaios com Streptococcus pyogenes. Nestes testes, a mé-
dia dos halos obtidos a partir do extrato puro (4,25 mm) foi aproximadamente 3,69
vezes maior quando comparada à média obtida com o uso do extrato alcoólico de pró-
polis verde 10% (1,15 mm) e 12,14 vezes maior em relação ao valor encontrado com o
uso do álcool 70% (0,35 mm) (Gráfico 1).
Gráfico 1 - Tamanho médio dos raios dos halos de inibição em milímetros
7

6
5,7
5

4,25
Milímetros

4
3,45
3

2
1,15
1
0,8
0,35
0
Extrato puro de própolis Extrato alcoólico de Álcool 70%
verde própolis verde 10%
Streptococcus pyogenes
Staphylococcus aureus
Fonte: Vasconcelos HG, Rodrigues FOS, Busatti HGNO, 2019.

5 Discussão

Crescentes pesquisas sobre as propriedades da própolis mostraram que seu ex-


trato cessa o crescimento bacteriano por inibir a divisão celular e por produzir defeitos
na estrutura da parede celular, levando à bacteriólise parcial e desorganizando o cito-
plasma, que passa a apresentar espaços vazios ou estruturas fibrosas. Ainda, o extrato
de própolis pode agir alterando a membrana citoplasmática bacteriana e inibindo a
síntese proteica. Uma vez que esses mecanismos se assemelham àqueles apresenta-
dos pelos antibióticos convencionais, surge a possibilidade de concretizar o uso dessa
substância natural para fins farmacológicos (LOPEZ BG, et al., 2015).

Trabalhos científicos realizados até o presente momento apresentaram resultados


semelhantes ao desta pesquisa. O estudo de Magalhães TV, et al. (2016) demonstrou
que a utilização dos discos de papel filtro com álcool livre de extrato de própolis verde
apresentou menor efeito antimicrobiano nos agentes avaliados em comparação com os
resultados encontrados ao se utilizar discos com extrato puro e extrato alcoólico 10%.

VASCONCELOS, Henrique Guimarães.


RODRIGUES, Fernanda Odete Souza.
BUSATTI, Haendel Gonçalves Nogueira Oliveira.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

27

Com relação ao uso do extrato de própolis verde, a pesquisa realizada por Bosio
K, et al. (2000) também manifestou ação antibacteriana em amostras de Streptococcus
pyogenes, sendo esta ação diretamente proporcional à concentração e à quantidade do
extrato de própolis utilizado.

Estudo de Pinto MS, et al. (2001) encontrou raios de halos de inibição do cresci-
mento do Staphylococcus aureus com tamanhos variando entre 4,33 e 5,58 mm. Essas
dimensões se assemelham àquelas encontradas pela pesquisa relatada neste presente
artigo.

Brumfitt W, et al. (1990), em experimento semelhante, encontraram halos de ini-


bição do crescimento de Staphylococcus aureus com raios que variaram entre 3,5 e 7 mm
ao se utilizar discos de papel de filtro com 6 mm de diâmetro impregnados com extrato
alcoólico própolis na mesma concentração utilizada neste trabalho, ou seja, 10%. Esta
mesma concentração foi utilizada por Bankova V, et al. (1998) que, trabalhando com
amostras de própolis brasileira, encontraram halos de inibição cujos raios variaram
entre 3 e 5 mm.

Kujumgiev A, et al. (1999), estudando estas mesmas amostras brasileiras, obser-


varam halos variando entre 5 e 6,5 mm de diâmetro. Ademais, a pesquisa realizada
com própolis da Polônia por Dobrowolski JW, et al. (1991) encontrou raio médio de
8 mm usando uma concentração de 300 mg/ml de extrato alcoólico de própolis, que
também se assemelha aos valores encontrados pelos demais pesquisadores.

Contudo, ainda que os resultados se assemelhem, é importante destacar que os


métodos utilizados para a avaliação da inibição da proliferação bacteriana podem mo-
dificar significativamente os valores encontrados por cada pesquisador. Além disso,
aspectos associados à técnica de extração da própolis, local de origem e época do ano
em que foi produzida podem ter influência sobre o maior ou menor grau de inibição
da substância em relação às diferentes espécies bacterianas (DALEPRANE JB e AB-
DALLA DS, 2013).

5 Considerações finais

Tanto as bactérias da espécie Streptococcus pyogenes quanto as bactérias da espécie


Staphylococcus aureus mostraram-se sensíveis aos extratos de própolis verde utilizados,
sendo o extrato puro aquele que demonstrou maior atividade antimicrobiana em am-
bas as espécies. Assim, existe a possibilidade de sua indicação médica com a finalidade
de tratar infecções nas vias aéreas superiores se tornar frequente na prática clínica caso
mais estudos sejam realizados. Além disso, os resultados desta pesquisa reforçam e
complementam as evidências científicas de que a própolis apresenta significativos be-

Capítulo 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS
VIAS AÉREAS
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

28

nefícios à saúde humana e que possui potencial para assumir papel de destaque nas
abordagens terapêuticas que envolvem o combate de bactérias patogênicas.

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Capítulo 2
EFICÁCIA ANTIBACTERIANA DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE EM BACTÉRIAS CAUSADORAS DE INFECÇÕES NAS
VIAS AÉREAS
30
CAPÍTULO 3

LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia

BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.1


BATISTA, Juanize Matias da Silva.2
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.3
ARAUJO, Vivianne Ferreira.4
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.5
PORTO, Ana Lucia Figueiredo.6

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.3.

1  – UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
2  UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
E-mail juanizematias@yahoo.com.br
3  UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
E-mail kethybarbara@gmail.com
4  UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
E-mail viviannefaraujo@yahoo.com.br
5  UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
E-mail thiago_pajeu@hotmaill.com
6  UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
E-mail analuporto@yahoo.com.br
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

32

Resumo

L ectinas são proteínas conhecidas por sua interação não-covalente com car-
boidratos e glicoproteínas e têm sido isoladas a partir de animais, plantas,
fungos e bactérias. Algumas demonstram atividade contra tumor celular, antimicro-
biana e propriedades na imunidade celular. Este trabalho descreve a purificação de
uma lectina de folhas de Phthirusa pyrifolia, arvore comumente conhecida como Erva-
-de-Passarinho. As folhas foram lavadas, secas, trituradas e o extrato a 10% (p/v) em
solução de NaCl 0,15M foi obtido por agitação durante quatro horas a 4ºC, seguido
de filtração e centrifugação. O sobrenadante resultante foi denominado Extrato Bruto
(EB). O processo de purificação envolveu precipitação salina com sulfato de amônio
e cromatografia de troca iônica em CM-Cellulose. A fração rica em lectina (F20-40%),
quando submetida à eletroforese SDS-PAGE apresentou apenas uma banda com massa
molecular de 15,58 Kda, sob condições nativas, apresentou caráter ácido e a lectina foi
denominada PpyLL. A Atividade Hemaglutinante da PpyLL demonstrou uma maior
afinidade por eritrócitos humanos Tipo O+, e não foi inibida por açúcares simples. En-
tretanto, a AH foi totalmente abolida por ação das glicoproteínas Caseína, Azocaseína
e Albumina de soro bovino (BSA), nas concentrações de 62,5 µg/ml, 125 µg/ml e 125
µg/ml, respectivamente. PpyLL foi estável até uma temperatura de 70ºC e apresentou
maior AH em presença de tampão Tris-HCl 10mM, pH 7,5. Os resultados sugerem a
PpyLL apresenta elevado potencial para aplicações biotecnológicas.

Palavras-chave: Lectina. Phthirusa pyrifolia. Purificação.

Introdução

Atualmente, as plantas medicinais e as preparações fitofarmacêuticas represen-


tam um mercado que movimenta bilhões de dólares, tanto em países industrializados
quanto nos países em desenvolvimento. De acordo com dados da Organização Mun-
dial da Saúde - OMS, cerca de 80% da população mundial faz uso de fitoterapia, seja na
forma de chá ou medicamento industrializado e, 25% dos produtos industrializados
prescritos no mundo são de origem vegetal. Muitas são as plantas utilizadas na medi-
cina popular como tratamento direto ou adjuvante de uma variedade de patologias,
dentre elas, as hepatopatias.

Embora, diversos medicamentos sintéticos sejam recomendados para terapia de


doenças hepáticas, um ponto em comum é que grande parte desses são imunossupres-
sores. Sendo assim, para solucionar esse problema, estudos têm sido realizados em
busca de novas estratégias utilizando drogas terapêuticas, obtidas a partir de plantas.
Um fator premente nas doenças hepáticas tanto agudas quanto crônico-degenerativas
e que também influencia o desenvolvimento fetal é o estresse oxidativo, que pode
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
ARAUJO, Vivianne Ferreira.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
PORTO, Ana Lucia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

33

ser definido como uma descompensação entre espécies reativas de oxigênio (ERO),
ou seja, radicais livres. As buscas para evitar o estresse oxidativo têm direcionado o
uso de grande parte dos compostos isolados de plantas através de suas propriedades
antioxidantes. Muitas funções biológicas, inclusive proteção contra mutação genética,
carcinogênese entre outras, são atribuídas aos efeitos de substâncias antioxidantes.

Lectinas de plantas, proteínas ou glicoproteínas, pertencem à outra classe de


biomoléculas de grande importância para a comunidade científica devido ao seu po-
tencial biotecnológico e suas aplicações na clínica médica. Uma das mais frequentes
aplicações das lectinas é como marcador histoquímico de tecidos que sofreram trans-
formações neoplásicas, bem como na identificação, em modelos experimentais, de ti-
pos celulares específicos como macrófagos/histiócitos, células M intestinais e outras
células das mucosas gástrica e intestinal.

Referencial teórico

As lectinas pertencem a uma classe de proteínas que se ligam reversivelmente a


mono e oligossacarídeos de glicoconjugados eucarióticos, não apresentam atividade
catalítica e ao contrário dos anticorpos, não são produtos de uma resposta imune (Sha-
ron & Lis, 2002). Estão amplamente distribuídas na natureza, sendo isoladas a partir
de plantas, animais, microorganismos, e organismos simbiônticos como liquens. As
plantas constituem ricas fontes de lectinas e a sua estocagem orgânica ocorre principal-
mente nas raízes, folhas, frutos, sementes, tubérculos, bulbos, rizomas e na entrecasca
(Oliveira et al, 2002).

Lectinas simples consistem em um pequeno número de subunidades, não neces-


sariamente idênticas, de peso molecular abaixo de 40kDa. As propriedades químicas,
assim como especificidade para determinados açúcares, estimulação em presença de
íons e estrutura dos domínios ligados aos carboidratos, determinam a classificação das
lectinas em várias famílias (Dong et al., 2004).

A família Loranthaceae reúne, aproximadamente, 70 gêneros e 950 espécies, sen-


do encontrada de forma abundante em regiões tropicais (Ribeiro et al, 1999). Estas
plantas são popularmente conhecidas no Brasil como “Erva-de-Passarinho”, pois de-
pendem dos pássaros para se dispersarem. Há, somente, uma espécie conhecida que
se dissemina utilizando os Marsupiais como vetor (Amicoe & Aizen, 2000). Lorantha-
ceae são espécies hemiparasitas que vivem no alto ou em torno do tronco das árvores
tropicais, por exemplo, Bauhinia monadra (Norton & Carpenter, 1998). Estes parasitas
invadem o xilema do hospedeiro usando uma estrutura especial, o haustório, para
obter água e sais minerais (Calvin & Wilson, 2006). Entretanto, em algumas espécies

Capítulo 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

34

de Loranthaceae há pequena quantidade de corpo vegetal (e.g. Tristerix aphyllus), e


a penetração no hospedeiro ocorre somente na região do floema (Medel et al., 2002).

Apesar de possuírem a propriedade de fotossíntese, a presença de Erva-de-Pas-


sarinho pode causar danos à planta hospedeira afetando qualidade e quantidade de
produção de frutos, e até mesmo a morte da planta (Sinha & Bawa, 2002). Espécies de
Loranthaceae têm sido identificadas como pestes na agricultura e em sistemas agro-
-econômicos em todo o mundo (Norton & Carpenter, 1998). No entanto, vários tipos
podem ser consideradas “espécies chave” para animais que se alimentam de néctar e
frutos (Aukema, 2003). Em 1920, Rudolf Steiner fez uma extraordinária predição sobre
o uso de plantas hemiparasitas, acreditando que através da forma parasitária, proveria
o seu uso, algum valor medicinal contra patologias, em especial o câncer. Desde en-
tão, considera-se o uso de Erva-de-Passarinho na medicina convencional, com muitos
produtos e extratos agora utilizados na terapia do câncer, bem como na hipertensão,
arteriosclerose e artrite. Compostos e produtos (viscotoxinas e lectinas) da Erva-de-
-Passarinho Viscum album têm sido avaliados nas propriedades contra o câncer, ativi-
dade citotóxica e imuno-modulatória (Bussing, 2000).

Phthirusa pyrifolia (H. B. K.) Eichl, planta hemiparasita que pertence à família Lo-
ranthaceae (Erva-de-Passarinho), originária do Brasil, tem seu uso na medicina po-
pular recomendada em tratamento de afecções respiratórias como: bronquite, tosses,
pneumonias, e também para coqueluche e hepatite. Uma característica marcante desta
espécie é observada em seus haustórios, que apresentam plasticidade em suas dimen-
sões e inserções, facilitando sua adaptação em hospedeiros. Estas respostas adaptati-
vas permitem que P. pyrifolia parasite uma grande variedade de plantas (Montilla, M.;
A. A Zocar & G. Goldstein, 1989).

Visando conhecer melhor as substâncias contidas nesta planta o presente traba-


lho teve como objetivo a Purificação e Caracterização parcial da lectina de folhas de
Phthirusa pyrifolia (H. B. K.) Eichl., com vista em futuras aplicações biotecnológicas.

4. Metodologia
4.1 Isolamento da lectina de folhas de phthirusa pyrifolia (h.B.K.) Eichl.
4.1.1 Obtenção da amostra e Preparo do extrato bruto

As amostras de folhas de Phthirusa pyrifolia (H.B.K.) Eichl foram coletadas no


Campus da UFPE, próximo ao Departamento de Farmacologia, Recife-Pernambuco.
As folhas foram lavadas com água destilada e colocadas para secar sob luz natural.
Após secagem, as folhas foram trituradas em multiprocessador até formar uma espé-
cie de farinha. Promoveu-se então, uma suspensão a 10% (p/v) em diferentes soluções

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PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

35

tampão e em NaCl 0,15M. As suspensões foram submetidas à agitação constante por


4 h ou 16 h, respectivamente, a 4 °C. Após a agitação, os homogeneizados foram filtra-
dos em gaze e centrifugados a 10.000 rpm, por 15 min, 4oC.

4.1.2 Determinação da Atividade Hemaglutinante (AH)

A Atividade Hemaglutinante (AH) foi realizada em placas de microtitulação,


constituídas por 8 filas de 12 poços cada, colocando-se 50 µl de NaCl 0,15 M em cada
poço (Correia e Coelho, 1995). Em seguida, a partir do segundo poço, foram adicio-
nados 50 µl da amostra lectínica, procedendo-se diluições seriadas, desprezando os
últimos 50 µl. Em seguida foram adicionadas 50 µl da suspensão de eritrócitos glutari-
zados (Bing et al., 1967) em cada poço e as placas foram mantidas em repouso, durante
45 min, 25oC.

4.2 Determinação da Inibição da Atividade Hemaglutinante (AH)

A inibição da Atividade Hemaglutinante (AH) foi realizada em placas de mi-


crotitulação, onde 50 µl de solução de inibidores, carboidratos ou glicoproteínas, em
NaCl 0,15 M foram adicionados em cada poço. Em seguida a partir do segundo poço,
foram adicionados 50 µl da amostra lectínica. Os carboidratos testados foram N-ace-
til-D-glicosamina, D-arabinose, D-manose, L-fucose, L-rafinose, D-galactose, D-fruto-
se, D-glicose, sacarose, lactose, L-trealose, D-xilose, metil-α-D-glucopiranosídeo. As
Glicoproteínas utilizadas foram asialofetuína, ovoalbumina, fetuína, azocazeína, esta-
chiose, caseína, albumina soro bovino e soro fetal bovino.

4.3 Determinação de proteínas

A determinação quantitativa de proteínas foi efetuada de acordo com Lowry et


al. (1951), utilizando-se uma curva padrão de albumina sérica bovina (BSA), com con-
centrações entre 0.5 µg/ml e 500 µg/ml e a leitura foi realizada em espectrofotômetro
a 720 nm.

4.4 Purificação parcial das lectinas de folhas de Phthirusa pyrifolia (H.B.K.) Eichl
por fracionamento salino com sulfato de amônio

O extrato bruto que apresentou maior AHE foi submetido a fracionamento com
sulfato de amônio (F0-20%; F20-40%; F40-60%; F60-80%), um dos sais de maior solubi-
lidade, o qual em grandes concentrações induz a precipitação das proteínas presentes
no extrato bruto segundo a técnica de Green & Hughes (1955). Após 4 horas de agita-
ção, as amostras foram centrifugadas a 10.000 rpm, por 15 min, 4oC. Esse procedimento
resultou em precipitado (composto em sua maioria por proteínas) e sobrenadante (so-
lução). As diferentes frações (precipitados) com os respectivos sobrenadantes foram

Capítulo 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

36

devidamente identificadas para posterior diálises exaustivas contra água destilada e


NaCl 0,15M, dosagem protéica, avaliação da AH e AHE.

4.5 Obtenção da lectina através de métodos cromatográficos

A amostra oriunda da precipitação salina foi submetida a cromatografias de afi-


nidade (Sephadex; Quitina e Guaram) e troca iônica (CM-cellulose e DEAE-cellulose).
As colunas foram empacotadas em temperatura ambiente (25 °C), e o fluxo foi ajusta-
do por meio de bomba peristáltica para um fluxo de 20 ml/h. A Fração escolhida foi
aplicada à coluna contendo 5mg ou 7mg de proteínas, sendo recolhidos volumes de
2 ml a cada 6 min. As colunas com distintos suportes foram lavadas com NaCl 0,15
M até que o não adsorvido apresentasse uma absorção espectrofotométrica a 280 nm
menor que 0,030. Para eluição do material ligado ao suporte foram utilizadas soluções
variando potencial hidrogeniônico e força iônica. Em cada fração de 2 ml foi realizada
leitura espectrofotométrica a 280 nm, sendo que as amostras com maiores absorções
foram reunidas para dosagem protéica e avaliação de sua AH.

4.6 Caracterização molecular da lectina purificada.

A caracterização molecular da lectina fez-se por meio de técnicas eletroforéticas


para proteínas nativas básicas (Reisfeld et al, 1962), proteínas ácidas (Davis, 1964), bem
como, para proteínas submetidas à condição desnaturante (SDS-PAGE), eletroforese
em gel de poliacrilamida (Laemmli, 1970). A eletroforese baseia-se na migração de
proteínas carregadas por um campo elétrico. Esses procedimentos, em geral, não são
usados para purificar proteínas em grandes quantidades. Sua vantagem é que proteí-
nas podem ser visualizadas e separadas, permitindo a um pesquisador estimar rapida-
mente o número de proteínas distintas em uma mistura, o grau de pureza de uma pre-
paração protéica, bem como massa molecular. Diferentes colorações podem ser usadas
para uma melhor visualização da banda protéica. Cloração com Prata. Componentes:
Reagente de desenvolvimento, oxidante concentrado e solução de prata (Bioagency).
Azul de Comassie. Componentes: Comassie Brilliant Blue R 250 (0,025%), Metanol
(25%), Ácido acético (10%), água destilada (65%). Coloração com Schiff. Componentes:
ácido acético 7,5%, ácido periódico 0,2%, Reativo de Schiff (Pharmacia).

4.7 Efeito da Temperatura e pH

A avaliação da estabilidade térmica foi efetuada mantendo alíquotas da lectina


purificada sob diferentes temperaturas (10ºC a 100ºC) por 40 minutos. Em seguida, foi
determinada AH, sendo expressas após 45 min da adição da suspensão de eritrócitos
de coelho (SHIOMI et al., 1970). A avaliação do efeito do pH na AH da lectina foi rea-

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lizada com diferentes soluções tampão em função do seu pKa (citrato fosfato, pH 3,5 a
6,5; fosfato de sódio, pH 7,0; Tris-HCl, pH 7,5 a 9,5; NaOH-Glicina pH 10 a 12).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Isolamento da lectina

Os resultados da concentração protéica e da Atividade Hemaglutinante Especí-


fica (AHE) frente as diferentes soluções testadas para obtenção dos extratos de folhas
de Phthirusa pyrifolia (H.B.K.) Eichl estão apresentados na Tabela 1. A melhor extração
em relação à Atividade Hemaglutinante Específica foi obtida com a solução de NaCl
0,15M sob agitação de 4h em câmara fria (4oC), sendo este selecionado para os de-
mais estudos e denominado Extrato Bruto (EB). Observa-se também que o tempo de
extração (4h e 16h) não influenciou na AHE, sendo selecionado então o tempo de 4h
para a obtenção do EB. Observa-se ainda, que a solução Tampão Tris-HCl 10mM pH
7,6 promoveu uma maior extração de proteína, contudo, não proporcionou alta AHE,
demonstrando que a maioria das proteínas presentes neste extrato não eram lectinas
ou as mesmas poderiam estar sendo inativadas. Estudos avaliando a composição de
diversos extratos de espécies de Erva-de-Passarinho demonstraram a presença de ri-
bossomos tipo 2 inativando proteínas / lectinas (Voelter et al, 2000)
Tabela 1 – Avaliação dos parâmetros para selecionar o Extrato Bruto. Isolamento da lectina de Phthiru-
sa pyrifolia (H.B.K) Eichl

Soluções Volume (mL) Proteína (mg) AHT AHE


Citrato-Fosfato*
pH 4.5 20 288.74 5120 17.73
pH 5.0 20 288.16 10240 35.53
pH 6.5 20 369.1 20480 55.48
Fosfato de Sódio*
pH 7.0 20 291.42 20480 70.27
Tris-HCl*
pH 7.6 20 382.14 160 0.41
pH 8.5 20 316.74 2560 8.08
NaCl 0.15M
Tempo 4h 20 303.02 40960 135.17
Tempo 16h 20 308.74 20480 66.33
AHE = Atividade Hemaglutinante Específica [AH/proteína (mg/ml)]; AHT = Atividade Hemaglutinante
Total (AH x volume); * Tampões em concentração 10 mM .

O EB foi testado quanto à especificidade para diversos eritrócitos Humanos e de


diferentes tipos de animais (tabela 2). Os melhores resultados foram obtidos com Eri-
trócitos Humanos tipo O+ (4096 AH) e Eritrócitos de Coelho (2048 AH), demonstrando
maior especificidade. Em decorrência da facilidade de obtenção e segurança de manu-
seio, os Eritrócitos de Coelho foram selecionados para serem utilizados nos estudos
posteriores de AH.

Capítulo 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

38

Tabela 2 - Atividade Hemaglutinante do Extrato Bruto obtido de folhas de Phthirusa pyrifolia em NaCl
0,15M, frente a distintos eritrócitos.

Eritrócitos AH (título)
A 128
B 512
AB 2048
O+ 4096
Eritrócitos de Coelho 2048
Eritrócitos de Galinha 0
Eritrócitos de rato 0

5.2 Purificação parcial por precipitação com sulfato de amônio

A Tabela 3 apresenta os resultados obtidos pela precipitação salina, onde pode


ser constatado que a fração 20-40% apresentou melhor rendimento. Observa-se ainda
que todos os fracionamentos apresentaram dosagem protéica e AHT relevantes, su-
gerindo que no EB pode conter mais de uma lectina ou Isoformas. Segundo Correia e
Coelho (1995) é comum observar-se mais de uma lectina ou isoformas em extratos ou
frações salinas.
Tabela 3 - Purificação parcial por precipitação com sulfato de amônio da lectina de Phthirusa pyrifolia.

Amostras Volume (mL) Proteína (mg) AHT AHE P R


(%)
Extrato bruto 100 1515,1 204800 135,17 1
100
Fração 0-20 6.5 106,53 3328 31,24 0,23
1,625
Fração 20-40 9 251,28 18432 73,35 0,55
9,00
Fração 40-60 8 239,04 8192 34,27 0,25
4,00
Fração 60-80 8 220,32 8192 37,18 0,27
4,00
Fração 0-60 10 193,00 10240 53,05 0,39
5,00
Fração 0-80 15 192,00 7680 40,00 0,29
3,75
AH = Atividade Hemaglutinante; AHE = AH Específica (AH/proteína (mg/ml)); AHT = Atividade
Hemaglutinante Total (AH x volume); F0-20, F20-40, F40-60, F60-80 e F0-60 = (frações obtidas
do fracionamento com sulfato de amônio 0 a 20%, 20 a 40 %, 40 a 60%, 60 a 80%, 0 a 60% e 0-
80% de saturação, respectivamente); P = vezes de purificação (relação entre a AHE das frações
e a AHE do extrato); R = rendimento (considerando 100% a AHT do extrato); a Proteína foi
mensurada pelo método de Lowry et al, 1951; b Atividade Hemaglutinante medida com eritrócitos
de coelho “glutarizados”.

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5.3 Determinação da Inibição da Atividade Hemaglutinante do Extrato Bruto e


da Fração 20-40%

A Atividade Hemaglutinante do Extrato Bruto e da Fração 20-40% foi avaliada


em presença de vários açúcares e glicoproteínas. Não houve especificidade por mo-
nossacarídeos e/ou dissacarídeos para ambas as amostras. Na Tabela 4 pode-se obser-
var que Soro fetal bovino, BSA, Caseína e Azocaseína nas concentrações em 500µg/
ml, 125µg/ml, 125µg/ml e 250µg/ml, respectivamente, conseguiram inibir a AH do
Extrato Bruto.

Tabela 4. Efeito de Glicoproteínas na Atividade Hemaglutinante induzida por lectinas presente no


Extrato Bruto.
Glicoproteínas 500 250 125 62,5
(µg/ml)
Asialofetuína - - - -
Ovoalbumina - - - -
Fetuína - - - -
Soro fetal + - - -
bovino
Estachiose - - - -
(BSA) + + + -
Caseína + + + -
Azocaseína + + - -

* +, Inibição da Atividade Hemaglutinante. -, não inibiu a Atividade Hemaglutinante. AH inicial de


2048

Diferentemente do Extrato Bruto, as lectinas da Fração 20-40% não foram inibi-


das por Soro Fetal bovino (Tabela 5). No entanto a Caseína foi capaz de inibiu a AH até
uma concentração de 62,5µg/ml, apresentando assim uma alta afinidade das lectinas
desta fração por essa glicoproteína. Resultados semelhantes foram obtidos para extra-
to e fração de cascas de Sebastiana jacobinenses, os quais foram inibidos por glicoproteí-
nas, e não por açucares simples (Vaz, 2007)
Tabela 5. Efeito de Glicoproteínas na Atividade Hemaglutinante induzida por lectinas presente na
Fração 20-40%.
Glicoproteínas (µg/ml) 500 250 125 62,5
- - - -
Asialofetuína - - - -
Ovoalbumina - - - -
Fetuína
- - - -
Soro fetal bovino
- - - -
Estachiose
+ + + -
Albumina soro
+ + + +
bovino
+ + - -
Caseína
Azocaseína

*+Inibição da Atividade Hemaglutinante, não inibiu a Atividade Hemaglutinante.


AH inicial de 2048.

Capítulo 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

40

.5.4 Purificação da lectina por Cromatografia

Dentre os diferentes tipos de cromatografia de afinidade e troca iônica com di-


ferentes suportes (Sephadex; Quitina e Guaram; CM-cellulose e DEAE-cellulose, res-
pectivamente), o melhor método Cromatográfico aplicado para purificar a lectina da
Fração 20-40% foi obtido pela cromatografia de troca iônica utilizando o CM-Cellulose
(Figura 1). Este tipo de suporte também foi utilizado como método para purificação da
lectina de casca de Sebastiana jacobinensis (Vaz, 2007), lectina de entrecasca de Crataeva
tapia (Araújo, 2004). Cromatografias de troca iônica são excelentes para purificar bio-
moléculas carregadas positivamente ou negativamente (Cui-Luan Yao, 2007).
Figura 1. CROMATOGRAFIA EM CM-CELLULOSE. Eixo X: Frações de 2ml coletadas a cada 6 min.
Eixo Y: Medida da absorbância por espectrofotometria a 280nm. Eixo Y’: Log da Atividade Hemaglu-
tinante.
1,8 2,5
1,6
1,4 2
1,2
Abs 280nm

1,5 NaCl 0,15M

Log AH
1
0,8 Tris 0,5M pH 8,5
1
0,6 Lo g A H
0,4 0,5
0,2
0 0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31

5.6 Caracterização parcial


5.6.1 Atividade Hemaglutinante das lectinas frente a distintos eritrócitos

As lectinas aglutinaram eritrócitos humanos do sistema ABO, com exceção ao


tipo AB (Tabela 6). Os eritrócitos dos animais testados, apenas os de coelho foram
aglutinadas. A maior AHE foi obtida com eritrócitos humano tipo O+, seguido dos
de coelho. A lectina de Splenostyles stenocarpa também apresentou uma preferência
para o eritrócito humano tipo O+ (Machuka, 1999).
Tabela 6. Atividade Hemaglutinante Específica da lectina frente a eritrócitos humanos e eritrócitos de
animais.
Eritrócitos AHE

Humano
A+ 80
B+ 20
AB 0
O+ 1280
Animais
Coelho 640
Rato 0
Galinha 0

* Atividade Hemaglutinate Específica (SHA) é definida através da relação AH/


mg/ml. A concentração protéica inicial foi de 0,2 mg/ml. Após diluição ½, realizou-
se diluições seriadas da amostra.

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BATISTA, Juanize Matias da Silva.
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41

5.16.2 Determinação da inibição da AH da PpyLL

A especificidade de lectinas para moléculas de carboidratos é um passo impor-


tante para o desenvolvimento de biosensores específicos para açúcares. Entretanto,
essa característica não faz parte de todas as lectinas (Sadik, 2007). Os açúcares sim-
ples não foram capazes de inibir as lectinas presentes nas frações. Caso semelhante foi
reportado para lectina de Armillaria luteo-virens (Feng et al, 2006). As glicoproteínas
Caseína, Azocaseína e Albumina de soro bovino foram capazes de inibir a AH, sendo
a Caseína a mais eficaz podendo inibir com uma concentração mínima de 62,5 µg/ml.
Uma lectina obtida de Arion empiricorum por cromatografia de troca iônica também
apresentou grande afinidade pela Caseína (Habets, 2003).

5.6.3 Estabilidade térmica

O efeito da temperatura na Atividade Hemaglutinante das lectinas está apresen-


tado na Figura 4, onde se verifica que a lectina foi estável até 70ºC, demonstrando ser
termoresistente. Resultados semelhantes foram descritos para a lectina de Armilliria
luteo-virens (Feng et al, 2006) e para lectina de Litopenaeus vannamei (Jie Sun et al, 2006).
A 80ºC, a AH das lectinas foi totalmente abolida. Sitohy et al (2007) reportou dados
similares para a lectina de Pisum sativum.

Figura 4. Estabilidade Térmica da Atividade Hemaglutinante. Atividade hemaglutinante inicial 256.


Concentração: 0,306mg/ ml.

2,5

2
Log AH

1,5

0,5

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Valores de Temperatura (ºC)

5.6.4 Determinação de pH ótimo

O efeito do pH na Atividade Hemaglutinante das Lectinas foi avaliado por incu-


bação da amostra por 20 minutos em diferentes valores de pH (3,5-12). Os resultados
demonstraram que a lectina foi sensível a valores de pH ácido (Figura 5.). O pH ótimo
foi observado em solução Tris-HCl 10mM pH 7,5. Resultados similares foram obtidos
para a lectina de Litopenaeus vannamei (Jie Sun et al., 2006) e para a lectina de Fennero-
penaeus merguiensis (Rittidach, 2006).

Capítulo 3
LECTINAS DE FOLHAS DE Phthirusa pyrifolia
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

42

6. Conclusão

A presente pesquisa evidenciou a presença de lectinas no extrato aquoso de fo-


lhas de Phthirusa pyrifolia com elevado potencial para aplicações biotecnológicas uma
vez que houve reconhecimento de diferentes eritrócitos, bem como a afinidade por
glicoproteínas de interesse biomédico.

7. Referências bibliográficas.
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Capítulo 3
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BATISTA, Juanize Matias da Silva.
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
ARAUJO, Vivianne Ferreira.
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PORTO, Ana Lucia Figueiredo.
CAPÍTULO 4

A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SILVA, Suéllen Moreira da.1

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.4.

1 Suh251086@hotmail.com
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

46

Resumo

O objetivo do presente artigo é discutir sobre a importância do ensino da Edu-


cação Ambiental no campo da Educação Infantil. Entendemos que o prin-
cipal desafio a enfrentar nessa empreitada é articular associar o ensino da Educação
Ambiental a uma perspectiva de ensino transversal, ou seja, evitando compor projetos
isolados de ensino. A pesquisa contou com a aplicação de questionários para profes-
soras da educação infantil. A aplicação do instrumental de coleta de dados continha
como uma das finalidades, obter das profissionais a importância que elas atribuem
ao ensino da Educação Ambiental para crianças da Educação Infantil. Trabalharemos
com a pesquisa bibliográfica, tendo como aporte de pesquisa, as contribuições teóricas
de Maria Beatriz Junqueira1, Dias2, Leff3, dentre outros autores.

Palavras-chave: Educação Ambiental; Educação Infantil. Ensino Transversal.

1 Introdução

Entre as questões mais relevantes que circundam a esfera pública na atualidade


está a preservação ambiental. Especialistas criam discordâncias entre si acerca da exis-
tência ou não da tão discutida mudança climática. À revelia de qualquer interpretação
que demonstre a maior ou menor gravidade das mudanças climáticas, entendemos
que a necessidade de zelar pela preservação ambiental deve ser compreendida por
toda sociedade, até mesmo pelas crianças, que estão em processo de desenvolvimen-
to cognitivo. Isto posto, a presente exposição textual busca associar a importância da
Educação Ambiental na Educação Infantil aos atuais procedimentos que agridem o
meio ambiente.

Logo, destacamos que não basta discutir a Educação Ambiental em sala de aula
sem minimamente resgatar os graves problemas ambientais que cercam o cotidiano
das indústrias, da agricultura, dos rios e das cidades brasileiras. As crianças que com-
põem a Educação Infantil demandam intervenções pedagógicas criativas para que
possam criar conscientização acerca das questões ambientais. Para tanto, o corpo do-
cente precisa estar antenado aos reais problemas que cercam a trama dessas questões.

As contribuições do artigo estão divididas em três partes temáticas. A primei-


ra abordagem trata do conceito de Educação Ambiental, estando acompanhada pela
discussão sobre a Educação Ambiental no Contexto da Educação Infantil. A segunda
parte deste artigo compreende a demonstração da síntese das respostas obtidas a par-
tir da aplicação de questionários em instituições de ensino. A partir daí, as professoras
1 BERNARDES, Maria Beatriz Junqueira; PRIETO, Élisson Cesar. Educação Ambiental: disciplina versus tema transversal. REMEA-
Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 24, 2010.
2 DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.
3 LEFF, H. Epistemologia Ambiental. Ed. Cortez, São Paulo, 240pp. 2002.

SILVA, Suéllen Moreira da.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

47

entrevistadas puderam revelar um pouco da realidade do ensino da Educação Am-


biental no contexto da Educação Infantil. O terceiro tópico de discussão discute as con-
tribuições das entrevistas no tocante à busca de conhecimentos relacionados ao tema
e em relação ao cumprimento dos dispositivos legais que versam sobre a Educação
Ambiental no âmbito escolar.

A seguir, trataremos brevemente sobre a metodologia dessa pesquisa. Minayo4


define metodologia da seguinte forma:
a) como a discussão epistemológica sobre o “caminho do pensamento” que o tema
ou objeto de investigação requer; b) como a apresentação adequada e justificada dos
métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser utilizados para as
buscas relativas à indagação; c) e como a “criatividade do pesquisador”, ou seja, a
sua marca pessoal e específica na forma de articular teoria, métodos, achados ex-
perimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo específico de respostas às
indagações específicas.

Foi adotada a pesquisa bibliográfica, que por sua vez “explica um problema a
partir de referências teóricas publicadas em documentos [...] busca conhecer e analisar
as contribuições culturais ou científicas sobre um determinado assunto, tema ou pro-
blema”5. Utilizamos um questionário como instrumento de coleta de dados, contendo
questões semiestruturadas. De acordo com Gil6,um questionário compreende um con-
junto de questões elaboradas para gerar os dados necessários à obtenção dos objetivos
delimitados pela pesquisa.

2 Educação ambiental

A Educação Ambiental compreende uma das ferramentas existentes para a sen-


sibilização e tomada de consciência da população no que tange os problemas ambien-
tais. Por meio dela, podem ser criadas ferramentas para melhorar o aproveitamento
dos recursos naturais, tornando esse aproveitamento sustentável com vistas a inovar
as práticas cotidianas de relação com o meio ambiente, tornando-as menos agressivas.

Para Dias7, a Educação Ambiental envolve um conjunto de conteúdos e práticas


voltados à resolução de problemas concretos do meio ambiente através do enfoque
disciplinar e da participação ativa e responsável da sociedade. Já para Leff8, a Educa-
ção Ambiental exige a integração de conhecimentos, considerando que a reorganiza-
ção do saber disponível não é suficiente para tratar do assunto. Para o autor, a questão
ambiental requer novos conhecimentos teóricos e práticos, devendo passar, necessa-
riamente, pela interdisciplinaridade, para que seja possível assimilar novos conheci-
mentos acerca da temática.

4 Cf. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21ed. Vozes: Petrópolis, 2007. p. 44.
5 Cf. CERVO, Amado L; BERVIAN, Pedro A; DA SILVA, Roberto. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall,
2007
6 Cf. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 46.
7 Cf. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998. p. 22.
8 Cf. LEFF, H. Epistemologia Ambiental. Ed. Cortez, São Paulo: 2002. p. 220.

Capítulo 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO NFANTIl
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

48

Para fins didáticos, Leff9 divide a Educação Ambiental em duas categorias bási-
cas: educação formal e educação informal. A primeira envolve estudantes, compreen-
dendo a educação infantil, o ensino médio e o ensino universitário, além de profis-
sionais da educação envolvidos em cursos de capacitação em Educação Ambiental.
A educação informal envolve movimentos sociais da causa ambiental, profissionais
liberais, jovens, trabalhadores e demais segmentos.

A preocupação com a problemática ambiental surge apenas nos anos 1970. A


partir de então, verifica-se o surgimento de vários acontecimentos debruçados sobre
a questão ambiental, dentre os quais destacam-se a Conferência de Estocolmo (1972);
a primeira Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental realizada pela
Unesco (1977), em Tbilisi; e a Conferência Rio-92 (1992) realizada no Rio de Janeiro,
que estabeleceu a Agenda 21, um importante plano de ação cuja finalidade é propor-
cionar a sustentabilidade para a vida na terra.

No Brasil, a preocupação com a finitude dos recursos naturais e com a preserva-


ção ambiental também data da década de 1970. Neste período, o Brasil vivenciou um
grave cenário de crise na área petrolífera, episódio que ficou conhecido como “choque
do petróleo”. As autoridades governamentais perceberam que os combustíveis fósseis
eram limitados. Estava na ordem do dia a preocupação com a finitude das fontes não
renováveis de energia. Logo, estratégias e esforços em torno do desenvolvimento de
sistemas de energia fotovoltaica foram iniciados.

A partir do século XX, a preocupação com a diversificação da matriz energética


apresenta relação não apenas com a limitação da disponibilidade dos combustíveis
fósseis, mas com o reconhecimento de que as fontes não renováveis de energia alteram
as mudanças climáticas, devendo, portanto, ser substituídas por fontes menos danosas
ao meio ambiente.

Seguindo as diretrizes do Programa Internacional de Educação Ambiental de


1975 e da Conferência Intergovernamental Sobre Educação Ambiental realizada pela
Unesco, o poder público brasileiro buscou incluir a Educação Ambiental como uma
ferramenta da política educacional em consonância com as orientações internacionais.

Em dezembro de 1994, o governo criou o Programa Nacional de Educação Am-


biental – PRONEA, o qual se configura como um importante esforço do poder públi-
co federal no estabelecimento de condições necessárias para a Política Nacional de
Educação Ambiental, fortalecendo as atividades educativas direcionadas à proteção,
recuperação e melhoria do meio ambiente.

9 Cf. LEFF, H. 2002. p. 220-221.

SILVA, Suéllen Moreira da.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

49

O Programa Nacional de Educação Ambiental apresenta como eixo orientador


a perspectiva da sustentabilidade ambiental na construção de um país comprometi-
do com a valorização dos recursos naturais. Suas ações são destinadas a assegurar,
na esfera educativa, a interação e a integração equilibradas das diferentes dimensões
da sustentabilidade, sejam elas ecológica, social, ética, econômica, espacial e política.
Entretanto, a Educação Ambiental apernas torna-se lei no dia 27 de Abril de 1999, com
a promulgação da Lei N° 9.795 – Lei da Educação Ambiental, a qual afirma em seu Art.
2°, que a “Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalida-
des do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.

A Lei Nº 9.795 cria a Política Nacional de Educação Ambiental, apresentando-se


como um componente fundamental do campo educativo e buscando a construção de
valores, habilidades e conhecimentos consistentes para a preservação do meio am-
biente para a garantia da qualidade de vida e para o alcance da sustentabilidade. O
Brasil, dessa forma, torna-se o único país da América Latina a possuir uma política na-
cional específica para a Educação Ambiental. A Educação Ambiental apresenta caráter
interdisciplinar, devendo ter o seu conteúdo diluído entre as disciplinas estudadas na
escola. Mostra-se como um importante componente para se repensar as teorias e prá-
ticas que fundamentam as ações educativas. As estratégias utilizadas no exercício da
Educação Ambiental devem ser condizentes com o público alvo que se deseja atingir.

Os problemas ambientais devem ser compreendidos primeiramente localmente,


e em seguida em seu contexto global. É imprescindível a combinação dos recursos in-
formativos com as práticas educativas. Desta forma é possível desenvolver uma cons-
ciência crítica acerca da problemática ambiental.

2.1 Educação Ambiental na Educação Infantil

Partindo do pressuposto de que as questões relacionadas ao meio ambiente vêm


adquirindo importância crescente na sociedade, as escolas devem compor espaços de
criação de consciências críticas no tocante à preservação ambiental. Essa consciência
somente é formada a partir de uma Educação Ambiental integrada e transversal, ou
seja, aplicada de maneira contínua e em consonância com diferentes propostas de en-
sino, uma vez que, de acordo com Bernardes e Prieto10, é comum, em muitas escolas,
o ensino sobre questões ambientais estar associado a projetos isolados, fragmentados
e superficiais, que não contribuem para um processo consistente de aprendizagem
acerca do meio ambiente.

10 Cf. BERNARDES; PRIETO, 2010, p. 49.

Capítulo 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO NFANTIl
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

50

De acordo com o artigo 9º da Lei N° 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a


Política Nacional de Educação Ambiental, a Educação Ambiental deve envolver:
I – educação básica:
a. educação infantil;
b. ensino fundamental e
c. ensino médio
II – educação superior;
III – educação especial;
IV – educação profissional;
V – educação para jovens e adultos.

Para Bernardes e Prieto11, a Educação Ambiental deve ser uma aliada do currí-
culo escolar, de modo a buscar um conhecimento integrado capaz de superar a frag-
mentação. Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais e as resoluções do Conselho
Nacional de Educação reconhecem a Educação Ambiental como temática de aprendi-
zagem que deve ser inserida no currículo escolar de modo diferenciado, não se estabe-
lecendo como nova disciplina, mas como um tema transversal.

Conforme preconizam os Parâmetros Curriculares Nacionais12:


Ambas – transversalidade e interdisciplinaridade – se fundamentam na crítica de
uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de da-
dos estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam
a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os
seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que
a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de
conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente à dimensão
da didática.

Na educação infantil, de acordo com Dias13, os educandos devem ser estimula-


dos a participarem das atividades voltadas para a conscientização ambiental, o que
demanda criatividade e atividades propositivas por parte dos docentes. A escola apre-
senta grande responsabilidade na formação de uma consciência ecológica em relação
ao meio ambiente.

O âmbito escolar conforma um espaço de formação de cidadania, valores éticos e


de compromisso com a melhoria das relações entre o homem e o meio ambiente. Sendo
assim, os textos normativos que regulamentam o ensino das questões ambientais nas
ecolas não garantem a prioridade a efetividade da implantação da Educação Ambien-
tal nas escolas, cabendo ao corpo docente o compromisso de enriquecer o processo de
ensino-aprendizagem com a introdução de uma temática de suma importância para a
sociedade e para a preservação da vida humana, e dos demais seres vivos.

11 Cf. BERNARDES; PRIETO, 2010, p. 49.


12 BRASIL, 1998, p. 29.
13 Cf. DIAS, 2005, p. 48.

SILVA, Suéllen Moreira da.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

51

Acumular esforços para potencializar o aproveitamento dos recursos naturais e


criar mecanismos de preservação do meio ambiente não constitui compromisso exclu-
sivo do poder público, mas, deve ser compartilhado com a sociedade como um todo.
Desta forma, os educadores devem orientar os educandos sobre a natureza social do
compromisso com a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais, ou seja,
sobre um compromisso coletivo que gera resultados para a própria população e para
a biodiversidade.

Por meio de discussões atinentes às questões ambientais, constrói-se com os alu-


nos a consciência sobre a importância da formação cidadã, de um desenvolvimento
sustentável, solidário e justo. Os conteúdos ensinados só farão sentido para educandos
e educadores se estiverem associados a um projeto mais ambicioso de ensino, para
além do ensino de conteúdo informativo, mas integrado a uma dinâmica de transfor-
mação.

Entendemos que a compreensão dos educadores no que tange à Educação Am-


biental não deve ser limitada à interpretações superficiais. Para além da preservação
ambiental, a Educação Ambiental apresenta como um dos principais objetivos, a for-
mação de cidadãos comprometidos com o presente e com o futuro dos seres humanos
e demais seres vivos.

Embora os educadores não possam avançar em termos de metodologias mais


complexas para lidar com o assunto com crianças da educação infantil, compreen-
demos que é possível articular, por exemplo, a devastação ambiental com o próprio
egoísmo humano. A realidade dos acontecimentos que acometem o meio ambiente
está exposta na próxima discussão do presente artigo, demonstrando que uma das
atividades que mais movimentam a economia brasileira é a que mais causa danos ao
meio ambiente.

2.2 Resultado das Entrevistas

Buscando investigar mais de perto essa realidade, decidiu-se por fazer uma pes-
quisa de cunho qualitativo, que consiste em um método de investigação científca que
foca no caráter subjetivo do objeto analisado em suas experiências individuais.

Usamos, como instrumento, a entrevista, a qual nos permitiu coletar dados sobre
o assunto proposto. Para Chizzoti14, “a entrevista é uma forma de colher informações
baseada no discurso livre do entrevistado”. Sendo assim, os resultados da pesquisa se
deram através de respostas obtidas pelas entrevistadas.

14 Cf. CHIZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 3. Ed. Sâo Paulo: Cortez 2005 pag. 84.

Capítulo 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO NFANTIl
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

52

A pesquisa foi feita no estado do Espírito Santo, precisamente nos municípios


de Cariacica e Vila Velha, situados na região metropolitana de Vitória. Foram entre-
vistadas dez profissionais da Educação Infantil, sendo que cinco lecionam em uma
instituição privada; cinco lecionam em uma instituição municipal; oito são graduadas
em pedagogia; dois c ursaram o magistério; quatro trabalham com crianças de 3 anos;
três trabalham com crianças de 4 anos; três trabalham com crianças de 5 anos; cinco
possuem distintos cursos de pós-graduação; e cinco tiveram algum contato com a for-
mação de Educação Ambiental. As identidades das entrevistadas foram preservadas,
assim como as instituições onde trabalham.

Na entrevista em questão, propomos um questionário com uma coletânea de per-


guntas específicas onde o objetivo geral se concentrou em perceber qual era o entendi-
mento dos professores sobre Educação Ambiental, o que significa trabalhar Educação
Ambiental na Educação Infantil e quais são as dificuldades encontradas na prática da
Educação Ambiental na Educação Infantil. Ultilizaremos como embasamento teórico
para a pesquisa a obra de Dias15.

A seguir, estão a íntegra dos questionamentos e as respostas das entrevistadas:

Pergunta de nº 1: O que se entende por Educação Ambiental?


Entrevistada 1: É o processo no qual no qual o indivíduo constrói valore sociais e na
construção da ideia de preservação da natureza.
Entrevistada 2: É uma ação educativa com a tomada de consciência global da con-
servação do meio ambiente.
Entrevistada 3: É o ato de ensinar a preservar a natureza, contribuindo para o de-
senvolvimento para uma consciência crítica em relação ao meio ambiente.
Entrevistada 4: É um conjunto do preocessos que contribui para que a coletividade
construa conhecimentos e valores sociais a uma prevencão ambiental.
Entrevistada 5: É uma atividade educativa que tem como objetivo proporcionar in-
formações sobre o meio ambiente.
Entrevistada 6: É o estudo que relaciona homem e meio ambiente.
Entrevistada 7:Trabalha a conservação do meio ambiente.
Entrevistada 8: É aquela que é destinada a desenvolver nas pessoas conhecimentos,
habilidades e atitudes voltada a preservação ambiental.
Entrevistada 9: Trabalha assuntos relacionados a natureza.
Entrevistada 10: É o equilibrio entre o homem e o meio ambiente com vista a cons-
trução do futuro é uma das ferramenta para a educação da pratíca social.

Pergunta de nº 2: O que significa trabalhar a Educação Ambiental na Educação


Infantil?
Entrevistada 1: Demonstrar atitudes de cuidados na interação com
os elementos da natureza, respeitar as regras básicas de leis valorizando o lugar em
que vivemos, a Educação Ambiental estimula a criança a criar hábitos de preservar o
15 DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.

SILVA, Suéllen Moreira da.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

53

meio ambiente.
Entrevistada 2: Trabalhar Educação Ambiental com as crianças significa ensinar a
respeitar a natureza e os recursos naturais, visando a preservação dos mesmos.
Entrevistada 3: Demonstrar desde cedo atitudes corretas com o meio em que vive.
Entrevistada 4: Promover a conscientização da necessidade de se preservar a
conservar os recursos não renovaveis.
Entrevistada 5: Significa desenvolver a consciência ecologica da criança.
Entrevistada 6: É um processo que visa desenvolver na criança a consciência preo-
cupada como ambiente e os problemas que são associados.
Entrevistada 7: Significa ensinar a criança a como preservar o meio ambiente.
Entrevistada 8: É trabalhar com a criança ensinando como respeitar o meio ambien-
te e mostrando a como e importante conserva lo.
Entrevistada 9: É iniciar a formação de crianças conscientes com a preservação do
meio ambiente.
Entrevistada 10: É formar cidadãos críticos em relação ao meio ambiente, e cons-
cientizar da importância que o meio ambiente tem.

Pergunta de nº 3: Quais são as dificuldade para se trabalhar a Educação Ambien-


tal na Educação Infantil?
Entrevistada 1: Não preocupação enfática dos gestores Municípais Estaduais e bra-
sileiros que muito se fala e pouco se faz, e a falta de recursos financeiros.
Entrevistada 2: Falta de recursos financeiros e falta de material didático pe-
dagogico.
Entrevistada 3: Poucos materiais disponíveis para a faixa etária da Educação
Infantil e a falta de cursos de capacitação que o governos não nos oferece.
Entrevistada 4: A parte prática por exemplo, como passeios para conhecer
alguns projetos desenvolvidos pelo Município onde moram e de Município
vizinhos e a falta de recursos financeiros.
Entrevistada 5: A falta de recursos financeiros que nós das escolas Municípais pas-
samos e a falta de capacitação adequada que os professores não tem.
Entrevistada 6: Falta de iniciativa por parte do governo e também por parte
de toda comunidade escolar no geral principalmente dos professores.
Entrevistada 7: A má qualificação dos professores, uma vez que o governo não prio-
riza esse tema os professores não se preocupam e se qualificar nessa área.
Entrevistada 8: Falta de iniciativa do poder público em colocar a educação ambien-
tal como um foco nas escolas, hoje a educação ambiental é um tema obrigatório na
interdiciplinaridade mas isso só funciona nos documentos, nossa prática e bem dife-
rente, não estamos qualificados para passar esse tema para nosso alunos.
Entrevistada 9: Aqui na escola até temos o incetivo por parte da escola, ela nos
oferece um bom espaço, temos animais, plantas tudo favorável para trabalharmos a
educação ambiental, porém pouco se usa esse espaço, vejo que a maior dificuldade e
mesmo por parte dos professores que não se interessam em passar esse tipo de ensino
de forma mais ampla, a educação ambiental até é lembrada quando tem alguma data
comemorativa como por exemplo dia da árvore,
Entrevitada 10: Minha maior dificuldade é de encontrar material didático adequado
para as ciranças.

Capítulo 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO NFANTIl
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

54

3. Análise de dados e discussão

Quando perguntadas acerca do entendimento que possuem sobre Educação Am-


biental, foram unânimes em responder que se trata de um recurso por meio do qual
se aprende a preservar e a conservar os recursos naturais como uma prática social. Em
vista dos argumentos já apresentados no primeiro tópico, as respostas foram consi-
deradas satisfatórias. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Ambiental16,
A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da
prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social
em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potenciali-
zar essa atividade humana. com a finalidade de torná-la plena de prática social e de
ética ambiental.

Chamaram atenção as respostas advindas do questionamento sobre o que signi-


fica trabalhar Educação Ambiental na Educação Infantil. Todas as entrevistadas apon-
taram para a criação de uma consciência cidadã, deixando evidente que a preocupa-
ção com a preservação presente e futura do meio ambiente constitui um elemento
fundamental da cidadania. Neste contexto, as respostas das entrevistadas foram bem
interessantes, pois de alguma forma articulam-se com o contexto do referencial teórico
estabelecido para pesquisa. Dias17 aponta:
No Congresso de Moscou (1987) chegou-se à concordância de que a EA deveria,
simultaneamente, preocupar-se com a promoção da conscientização, transmissão
de informações, desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores,
estabelecimento de critérios e padrões, e orientações para a resolução de problemas
e tomada de decisões.

Em relação às dificuldades para se trabalhar Educação Ambiental na Educação


Infantil, foram apontadas a falta de recursos financeiros a carência de iniciativa por
parte dos poderes públicos e a ausência de material didático e pedagógico foi nas
escolas públicas. Já as entrevistadas que atuam lecionando em instituição de ensino
privada apontaram a timidez das iniciativas oriundas dos poderes públicos no tocante
à conscientização acerca da preservação dos recursos naturais e a falta de qualificação
por parte dos professores. Além disso, este tópico revelou uma preocupação muito
grande em relação à formação das entrevistadas, que assumem não ter preparação
qualificada para abordar o tema proposto em sala de aula.

Dias (1998, p. 88) 18 afirma que é fundamental que os profissionais sejam capacita-
dos para que assim consigam transmitir o conhecimento de forma correta.
O treinamento do pessoal docente é o fator principal no desenvolvimento da EA. A
aplicação de programas de EA e o próprio uso adequado dos materiais de ensino
só serão possíveis se os docentes tiveram acesso a treinamento, tanto em conteúdos
quanto em métodos [...].

16 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 2°.


17 Cf. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998 pag. 87
18 Cf. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998 pag. 88

SILVA, Suéllen Moreira da.


PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

55

5 Considerações finais

A gravidade dos problemas ambientais não é um assunto que se encerra para es-
pecialistas do tema, mas deve compor o arcabouço de discussão e preocupação de toda
a sociedade. Por tal razão, os espaços de formação de opinião e de consciência, como
a escola, devem somar estratégias para construir um ambiente cada vez mais sólido
de aprendizagem e práticas coletivas de preservação e conservação do meio ambiente.

Buscamos discutir a importância da Educação Ambiental no âmbito da Educação


Infantil a partir de recortes bibliográficos, legislações e coleta de dados. Percebemos
que o Brasil dispõe de textos normativos que regulamentam o ensino da Educação
Ambiental nas escolas, mas, para que seja efetivado, deve contar com a iniciativa dos
profissionais de educação e de toda equipe pedagógica.

As entrevistadas associaram a Educação Ambiental à preservação e conservação


dos recursos naturais, o que constitui uma interpretação ainda tímida de um conteúdo
mais complexo, uma vez que a Educação Ambiental implica na criação de valores, no
compromisso com a justiça, na formação de uma consciência cidadã, na promoção do
equilíbrio entre economia, meio ambiente e sociedade. Todavia, forneceram respostas
satisfatórias ao delimitar os motivos pelos quais a Educação Ambiental para a educa-
ção infantil mostra-se importante. Desta forma, demonstraram reconhecer a Educação
Ambiental enquanto mecanismo capaz de formar consciências cidadãs, comprometi-
das com as gerações futuras.

Essa realidade obstaculiza a construção de propostas de preservação ambiental


mais abrangentes, fazendo com que o conteúdo disseminado nas escolas não atinja
um público maior. Essa proposta coletiva não é viabilizada, principalmente, em razão
da ausência de iniciativa do poder público. Sua concretização constitui uma estratégia
de construção de diálogo entre as instituições de ensino e a comunidade, de modo a
elaborar uma importante rede de conscientização ambiental que se estende da escola
para a sociedade.

Referências
CHIZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 3. Ed. Sâo Paulo: Cortez
2005.

BERNARDES, Maria Beatriz Junqueira; PRIETO, Élisson Cesar. Educação Ambien-


tal: disciplina versus tema transversal. REMEA-Revista Eletrônica do Mestrado em
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BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Educação Ambiental. 3ª


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Capítulo 4
A IMPORTANCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO NFANTIl
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

56

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nais: Temas Transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Senado Federal. Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999: Dispõe sobre a Educa-
ção Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras provi-
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BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 2, de 15 de junho de 2012. Estabelece


as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Brasília, 2012.

CERVO, Amado L; BERVIAN, Pedro A; DA SILVA, Roberto. Metodologia científica.


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GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas,
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LEFF, H. Epistemologia Ambiental. Ed. Cortez, São Paulo, 240pp. 2002.

MEDEIROS, Monalisa Cristina Silva; RIBEIRO, Maria da Conceição Marcolino; FER-


REIRA, Catyelle Maria de Arruda. Meio ambiente e Educação Ambiental nas esco-
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MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade.


21ed. Vozes: Petrópolis, 2007.

SILVA, Suéllen Moreira da.


CAPÍTULO 5

PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES


POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM
ESTADO SÓLIDO

SANTOS, Amanda Lucena dos.1


CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.2
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.3
BATISTA, Juanize Matias da Silva.4
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.5
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.6
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.7

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.5.

1  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife


amandalucena17@gmail.com
2  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
kethybarbara@gmail.com
3  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
thiago_pajeu@hotmail.com
4  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
juanizematias@yahoo.com.br
5  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Campus Recife
a.gabriellydneves@gmail.com
6  Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Recife
romero_brandao@yahoo.com.br
7  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
analuporto@gmail.com
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

58

Resumo

P roteases constituem um grupo de grande importância biológica e industrial,


estando entre as principais enzimas comercializadas. Uma alternativa para
obtenção dessas proteínas são os microrganismos, dentre estes se destacam os fungos
filamentosos do gênero Aspergillus. Uma das técnicas na produção de enzimas por
esses organismos é a Fermentação em Estado Sólido (FES), que apresenta como vanta-
gem a semelhança com o habitat natural de Aspergillus ssp. Tendo em vista a importân-
cia das proteases e a demanda crescente do mercado global, faz-se necessário a busca
por novas fontes, métodos de produção e de purificação mais eficientes. Dessa forma,
o presente trabalho objetiva revisar os artigos publicados entre 2010-2020, que tenham
utilizado Aspergillus ssp. sob FES. A busca foi conduzida usando as bases de dados Sco-
pus, Science Direct e PubMed utilizando os descritores: (protease OR enzyme) AND
(Aspergillus) AND (production OR synthesis) AND (solid state fermentation OR SSF)
AND (purification). Baseado nos critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados
quatorze artigos. No total, foram investigadas sete espécies diferentes, principalmente
A. oryzae e A. niger. Diferentes substratos sólidos foram utilizados, destacando-se o
farelo de trigo, testado em quase todos trabalhos. Foram produzidas proteases ácidas
e básicas, encontrando-se ativas desde o pH 3,5 ao pH 12. Já a temperatura ótima ficou
entre 35 e 60°C. Apesar do gênero Aspergillus ser bastante conhecido no campo da bio-
tecnologia, nota-se carência de estudos quanto à produção e purificação de proteases
obtidas pela FES.

Palavras-chave: Bioprocesso. Biotecnologia. Enzima. Fungos filamentosos. Peptidase.

1 Introdução

A Biotecnologia Industrial beneficia-se da produção de proteases por sua ampla


aplicação em produtos de limpeza, alimentos, bebidas, medicamentos, kits laborato-
riais, cosméticos, produção têxtil, dentre outras (GURUMALLESH et al., 2019). Entre
os produtores de proteases para fins industriais destacam-se os microrganismos, visto
que possuem rápido amadurecimento, não necessitam de grandes áreas de cultivo,
apresentam alta eficiência e são capazes de produzir enzimas capazes de atuar nos
mais diversos ambientes (AGUILAR & SATO, 2018).

Os fungos filamentosos vêm ganhando destaque na obtenção de enzimas, uma


de suas vantagens é a possibilidade do uso de Fermentação em Estado Sólido (FES).
Este tipo de fermentação possibilita o uso de resíduos sólidos agroindustriais para
obtenção de produtos de interesse biotecnológico, mitigando os impactos negativos ao
meio ambiente que esses resíduos poderiam provocar (SOCCOL et al., 2017), além de
apresentar maior fator de recuperação.
SANTOS, Amanda Lucena dos.
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Tendo em vista o crescente mercado e suas inúmeras aplicações, é essencial a


busca por novas fontes de proteases, condições ideais de fermentação e métodos efi-
cientes de purificação. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo revisar os
artigos publicados entre 2010-2020 sobre a produção de proteases por Aspergillus ssp.
sob FES, caracterizando esses estudos quanto às espécies e substratos utilizados, otimi-
zação da produção, processo de purificação, dentre outros parâmetros.

2 Referencial teórico

As proteases são enzimas da classe das hidrolases, caracterizadas por promover a


clivagem de ligações peptídicas, convertendo proteínas em peptídeos ou aminoácidos
livres (BARRETT, 1994). Essas enzimas têm um papel fundamental na atividade catalí-
tica de vários processos metabólicos dos seres vivos, tendo como funções a digestão de
proteínas, participação na cascata de coagulação sanguínea, apoptose celular, dentre
outras funções (GURUMALLESH et al., 2019; NASCIMENTO et al., 2015; SILVA et al.,
2016). Além da importância biológica, as proteases também são extremamente impor-
tantes do ponto de vista comercial, chegando a englobar 60% do mercado das enzimas
(SAWANT & NAGENDRAN, 2014).

Enzimas proteolíticas são amplamente utilizadas nos setores de processamento


de alimentos e bebidas, papel, couro, biocombustíveis, produtos de limpeza, indústria
farmacêutica, setores de biologia molecular, dentre outros (BANERJEE & RAY, 2017;
GURUMALLESH et al., 2019). Embora tenham vastas aplicações, a produção de pro-
teases ainda não é suficiente para atender a demanda crescente do mercado mundial
(SUNDARARAJAN et al., 2011). Segundo relatório da FiorMarkets (2019) é esperado
que o mercado global de enzimas cresça de US$ 8,18 bilhões em 2018 para US$ 13,79
bilhões até 2026, com previsão de alta de 8,83% para o segmento de microorganismos.

Tendo em vista sua grande importância biológica, a ocorrência de proteases é


relatada em uma ampla diversidade de fontes, podendo ser produzidas por animais,
plantas, fungos e procariontes (AGUILAR & SATO, 2018). Contudo, os microrganis-
mos representam a principal fonte de proteases de aplicação industrial, pois sua pro-
dução é mais vantajosa em relação às de origem vegetal e animal. As vantagens in-
cluem rápido crescimento, espaço reduzido para cultivo, possibilidade de produção
em larga escala em fermentadores industriais, manipulação genética e ausência de
efeitos provocados pela sazonalidade (SAWANT & NAGENDRAN, 2014; AGUILAR
& SATO, 2018).

Os fungos filamentosos merecem destaque como microrganismos de uso indus-


trial por serem capazes de crescer em substratos de baixo custo e de fácil remoção celu-
lar quando comparado com bactérias, o que torna o processo mais econômico (SOUZA

Capítulo 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO l
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

60

et al., 2015). A importância dos fungos filamentosos como produtores de proteases é


constantemente relatada na literatura. Nascimento et al. (2015) reportaram a produ-
ção de proteases com atuação trombolítica, as proteases fibrinolíticas, usando o fungo
filamentoso Mucor subtillissimus. Wanderley et al. (2017) examinaram a utilização de
fungos para produção de colagenases, destacando o potencial do fungo filamento-
so Penicillium aurantiogriseum. Outros trabalhos também enfatizaram o potencial dos
fungos filamentosos como produtores de proteases. Silva et al. (2016) avaliaram trinta
e quatro linhagens do gênero Aspergillus e todas apresentaram atividade proteásica.
Alhelli et al. (2016) produziram e purificaram uma protease de Penicillium candidum,
estes autores apontaram sua possibilidade de utilização na indústria de laticínios.

Outra vantagem na utilização de fungos filamentosos é que eles são reconhecidos


por secretar enzimas no meio extracelular, facilitando a extração e purificação uma
vez que não há necessidade de lise celular (BATISTA et al., 2020; CHANGYOU-SHI et
al., 2010). Segundo Pessoa-Jr et al. (2020a), o rompimento celular apresenta o inconve-
niente de tornar o processo de purificação mais complexo, pois o lisado terá um maior
número e diversidade de moléculas contaminantes, além do aumento da viscosidade
do meio. Ainda segundo estes autores, a lise celular traz como resultado um maior nú-
mero de operações durante a purificação, tornando, consequentemente, o custo final
mais elevado do que os de produtos extracelulares.

Apesar das vantagens, levando em consideração a diversidade de fungos fila-


mentosos encontrados na natureza, poucas espécies são exploradas comercialmente.
Dentre os fungos filamentosos, os pertencentes ao gênero Aspergillus se destacam, uma
vez que apresentam distribuição cosmopolita e são capazes de secretar uma gama de
enzimas de interesse biotecnológico (SANTOS et al., 2020; CHANGYOU-SHI et al.,
2010), fazendo deste um dos gêneros mais estudados (SANTOS et al., 2018).

Um aspecto fundamental a ser considerado na produção de proteases por micror-


ganismos é o tipo de fermentação adotada. Dentre as técnicas de fermentação estão a
Fermentação Submersa (FS) e a Fermentação em Estado Sólido (FES), sendo a princi-
pal diferença entre elas a quantidade de água livre presente. Na FS os microrganismos
crescem em meios líquidos com bastante água livre, já na FES os microrganismos cres-
cem em substratos sólidos com ausência total ou parcial de água livre (SOCCOL et al.,
2017; SILVA et al., 2016; SANTOS et al., 2018).

A FES vem se mostrando uma técnica interessante porque apresenta a produ-


ção de diferentes enzimas de interesse biotecnológico de forma mais concentrada, tem
uma menor demanda energética para esterilização visto que é necessário menos ener-
gia para alcance de 121°C (temperatura geralmente utilizada na esterilização), reduz a

SANTOS, Amanda Lucena dos.


CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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possibilidade de contaminação bacteriana por conter baixa ou nenhuma concentração


de água livre e simula o ambiente natural de fungos filamentosos, favorecendo o seu
crescimento (SOCCOL et al., 2017). Além disso, a FES apresenta benefícios ambientais,
uma vez que pode ser aplicada no reaproveitamento de resíduos sólidos agroindus-
triais e assim reduzir os impactos negativos ao meio ambiente (SANTOS et al., 2018;
SILVA et al., 2016).

Para que a produção de proteases sob FES seja eficiente, é essencial determinar
as condições ótimas de fermentação por meio de variáveis, que podem ser qualitati-
vas ou quantitativas. Dentre as variáveis qualitativas estão tipo de substrato, espécie
utilizada e presença ou ausência de luz (CHIMBEKUJWO et al., 2020; SILVA et al.,
2016; SOCCOL et al., 2017). Já em relação às variáveis quantitativas estão a quantidade
de substrato, grau de umidade, temperatura, concentração de microrganismos, entre
outras (MAMO et al., 2020; ESPARZA et al., 2011; SETHI et al., 2016). Nascimento et al.
(2015), por exemplo, realizaram um planejamento fatorial 2³ para avaliar as melhores
condições de fermentação de Mucor subtilissimus, tendo investigado o tipo e quantida-
de de substrato, umidade e temperatura.

A pesquisa por novos produtos bioativos envolve algumas etapas, sendo a pu-
rificação uma fase importante desse processo. Nem todas enzimas produzidas por
indústrias biotecnológicas requerem alto grau de pureza, com exceção das enzimas
usadas em produtos farmacêuticos, fins médicos e de pesquisa (BANERJEE & RAY,
2017). Em geral, o método de purificação de proteases envolve mais de uma operação,
sendo necessário a aplicação de diferentes técnicas. As principais metodologias adota-
dos são: precipitação salina, cromatografia de afinidade e gel filtração, cromatografia
de troca iônica, sistema de duas fases aquosas, entre outros (BANERJEE & RAY, 2017).

3 Metodologia

Foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados: Scopus (ht-


tps://www.scopus.com/home.uri), ScienceDirect (https://www.sciencedirect.com)
e PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov) utilizando os seguintes descritores:
(protease OR enzyme) AND (Aspergillus) AND (production OR synthesis) AND (solid
state fermentation OR SSF) AND (purification). Os critérios de inclusão foram arti-
gos de pesquisa original, publicados entre 2010-2020 na língua inglesa, que tenham
realizado a produção de proteases sob fermentação em estado sólido e purificação da
enzima, utilizando fungos filamentosos do gênero Aspergillus. O critério de exclusão
aplicou-se aos trabalhos que não atendessem às exigências dos critérios de inclusão.

4 Resultados e discussões

Capítulo 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO l
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

62

De acordo com a metodologia aplicada, foram analisados 204 artigos potencial-


mente elegíveis, dos quais 101 encontrados na Scopus, 70 na PubMed e 33 na Science
Direct. Desses, 14 atenderam os critérios de inclusão e exclusão, sendo selecionados
para o presente trabalho (Tabela 1).

No total foram investigadas sete espécies diferentes do gênero Aspergillus. Ape-


sar desse gênero estar entre os mais estudados do ponto de vista da FES e serem re-
conhecidos produtores de proteases (SOCCOL et al., 2017), nota-se, de acordo com o

Tabela 1 – Relação de artigos originais que utilizaram espécies de Aspergillus para a produção de pro-
teases por Fermentação em Estado Sólido (FES).

Substrato da FES com Temp. ótima


maior produção da (°C)
Espécie protease pH ótimo Referência

A. oryzae Farelo de trigo 6,3 55 Vishwanatha et al. (2010)

A. niger Gérmen de trigo + 4 50 Esparza et al. (2011)


Farelo de trigo

A. flavus Farelo de trigo + 8-12 40 Yadav et al. (2011)


Espiga de milho

A. oryzae Arroz koji 8-9 40 Marui et al. (2012)

A. fumigatus Resíduo de beterraba 9 50 El-Ghonemy & Fadel (2015)

A. terreus Casca de ervilhaca - - Sethi et al. (2016)

A. niger Farelo de trigo - - Changyou-Shi et al. (2016)

A. tamarii Farelo de trigo 9 40 Silva et al. (2018a)

A. tamarii Farelo de trigo - - Silva et al. (2018b)

A. oryzae Mesocarpo do café 3,6 35 Murthy et al. (2019)

A. niger Farelo de trigo 3,5 60 Purushothaman et al. (2019)

A. oryzae Farelo de trigo - - Mamo et al. (2020)

A. brasiliensis Casca de laranja 5 40 Chimbekujwo et al. (2020)

A. terreus Farelo de trigo 9,5 50 Abu-Tahon et al. (2020)

SANTOS, Amanda Lucena dos.


CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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presente trabalho, que nos últimos dez anos relativamente poucos estudos investiga-
ram a produção e purificação de proteases por Aspergillus ssp. sob FES. As espécies
mais estudadas foram A. oryzae (28,6%), investigada em 4 artigos, e A. niger (21,4%),
investigada em 3 artigos. Um aspecto a ser considerado na escolha da espécie utilizada
é a sua patogenicidade. Microrganismos patogênicos são menos interessantes do pon-
to de vista industrial, pois podem tornar o processo mais oneroso para garantir uma
segurança do bioproduto (WANDERLEY et al., 2017; KILIKIAN et al., 2020). Dentre as
espécies utilizadas nos artigos selecionados, A. flavus é conhecido como produtor de
micotoxinas, como aflatoxina B1, G1 e G2 (GEORGIANNA, 2010).

A FES é uma técnica que permite a utilização de diferentes substratos (Figura 1),
incluindo resíduos agroindustriais e produtos de baixo valor agregado como cascas,
farelos, rejeitos industriais e caseiros de infusões como café e chás, entre outros (SOC-
COL et al., 2017; SANTOS et al., 2018; PANDEY et al., 2000). O substrato mais testado
e que possibilitou maior produção de proteases, nos artigos selecionados, foi o farelo
de trigo. Mamo et al. (2020) obtiveram uma atividade proteásica de 1000 U/mL com o
fungo Aspergillus oryzae DRDFS13, utilizando o farelo de trigo enriquecido com mine-
rais. Abu-Tahon et al. (2020) testaram vários substratos sólidos e tiveram uma maior
produção de protease com o farelo de trigo, que teve atividade proteásica de 30 U/mL
utilizando o fungo A. terreus. Murthy et al. (2019) por outro lado apresenta o mesocar-
po do fruto do café como substrato ótimo para a produção de proteases por A. oryzae,
entretanto utiliza farelo de trigo para produção em larga escala de extrato bruto para
purificação e caracterização da enzima por este ser mais facilmente encontrado.

Esses dados são animadores, principalmente para países cuja economia é alta-
mente dependente da agricultura, como o Brasil, onde somente em 2019 produziu
cerca de 5,2 milhões de toneladas de trigo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2019). No geral, quando realizada FES há utilização de rejeitos de
outras indústrias, nos trabalhos analisados foi encontrado como melhores substratos
para FES casca de laranja, espiga de milho, casca de ervilhaca, gérmen de trigo, arroz
koji e o mesocarpo do fruto do café, dentre estes, os três primeiros são usualmente
descartados, entretanto apresentam enorme potencial para aplicação em fermentação
em estado sólido.

Além do tipo de substrato, outras variáveis também influenciam na eficiência da


produção de proteases por fungos filamentosos sob FES. Nos estudos selecionados,
dentre os parâmetros da otimização do processo fermentativo estavam: temperatura;
umidade; pH inicial do meio; tempo de fermentação; tamanho do inóculo e enrique-
cimento nutricional do meio. Chimbekujwo et al. (2020) otimizaram a produção de
proteases por Aspergillus brasiliensis BCW2 e verificaram que a melhor condição foi a

Capítulo 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO l
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

64

Figura 1 – Relação dos substratos mais presentes em fermentação em estado sólido (FES) de fungos do
gênero Aspergillus nos últimos 10 anos.

pH 9, temperatura de 30°C, utilizando casca de laranja à 10% como fonte de carbono,


2% de leveduras como fonte de nitrogênio, 60% de umidade e 72 horas de incubação.

Em relação a purificação, foi observado que o procedimento foi composto, em


geral, por mais de uma etapa e que em 85,7% dos estudos selecionados o processo foi
iniciado pela operação unitária de precipitação da amostra, utilizando principalmente
sulfato de amônio (58,3%) ou acetona (33,3%). 2 trabalhos não realizaram a precipi-
tação, tendo adotado outras técnicas de purificação, correspondendo a ultrafiltração
(CHANGYOU-SHI et al., 2016) e imobilização proteica (VISHWANATHA et al., 2010),
enquanto em 2 artigos a precipitação foi a única técnica de purificação adotada (YA-
DAV et al., 2011; MAMO et al., 2020). De fato, a precipitação de proteínas é um dos mé-
todos mais tradicionais de concentração e purificação de amostras, sendo amplamente
utilizada, mesmo sendo de baixa resolução (PESSOA-JR et al., 2020b).

As técnicas cromatográficas foram adotadas por 71,4% dos pesquisadores, que


utilizaram coluna de troca iônica ou filtração em gel (também conhecida como croma-
tografia de exclusão molecular). Entre as resinas utilizadas estavam DEAE-Sephadex,
Sephadex G-100 e G-200. Resinas de troca iônica apresentam excelente perfil de purifi-
cação e conseguem atuar em diferentes faixas de pH, além de possibilitarem seu reuso
sem perder a capacidade de adsorção. Marui et al. (2012) aplicaram a coluna Superdex
200 na purificação da protease alcalina de A. oryzae, utilizando o sistema FPLC-AKTA.
Além da purificação da enzima, outra aplicação da filtração em gel é o seu uso para
determinar a massa molar ou para analisar a distribuição de massas molares de uma
dada macromolécula (MORAES et al., 2020).

SANTOS, Amanda Lucena dos.


CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NEVES, Anna Gabrielly Duarte.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Durante o processo de purificação, apenas 30% dos artigos utilizaram mais de


uma coluna cromatográfica, sugerindo que os métodos utilizados resultaram em pu-
rificação eficiente, estes dados são extremamente importantes visando a aplicação
destas moléculas, especialmente as proteases que podem ser utilizadas nas indústrias
alimentícia e farmacêutica, dentre outros setores que para utilização necessitam de
enzimas que apresentam um alto grau de pureza.

O fator de purificação variou de 1 a 34 vezes em relação ao extrato bruto, enquan-


to o rendimento foi entre 3% e 72%. O menor rendimento foi o da protease purificada
por Sethi et al. (2016), utilizando o fungo Aspergillus terreus NCFT 4269.10 que teve ati-
vidade específica de 344.1 U/mg. Já o maior rendimento foi obtido por Vishwanatha
et al. (2010), que utilizaram a imobilização proteica com CaCl2 para purificação da pro-
tease obtida de Aspergillus oryzae MTCC 5341, contudo, teve uma atividade específica
de apenas 2.1 U/mg, menor do que do extrato bruto. Outro trabalho com rendimento
alto (62%), mas que teve uma atividade específica considerável, foi obtido pela produ-
ção e purificação da protease de um fungo isolado do solo da Caatinga, o Aspergillus
tamarii URM4634 por Silva et al. (2018a; 2018b), correspondendo a uma atividade espe-
cífica de 2983.8 U/mg, indicando o potencial biotecnológico dos fungos dessa região e
a eficiência do processo de purificação adotado.

A imobilização proteica, adotada por Vishwanatha et al. (2010), é uma técnica


que apresenta como vantagens uma maior estabilidade frente a diferentes valores de
pH e temperatura, e, como foi demonstrado pelos autores, pode promover um ótimo
rendimento. Contudo, uma das desvantagens é a queda na atividade enzimática. Ou-
tro método pouco adotado foi a ultrafiltração, utilizado por Changyou-Shi et al. (2016).
Embora esses autores tenham atendido os critérios de inclusão do presente trabalho,
eles não tinham como objetivo único avaliar a atividade proteásica do Aspergillus ni-
ger, mas várias moléculas secretadas no meio extracelular por essa espécie na FES,
provavelmente por essa razão há ausência de dados sobre rendimento do processo de
purificação.

A caracterização físico-química da protease é essencial para definir as suas pos-


síveis aplicações biotecnológicas. Dentre as variáveis que influenciam na eficiência da
catálise das proteases produzidas por fungos filamentosos estão temperatura e pH
ótimo. A espécie Aspergillus niger foi capaz de produzir a protease com maior termoes-
tabilidade dentre os artigos, tendo maior atividade a 60°C. As espécies A. oryzae, A.
fumigatus e A. terreus também tiveram temperatura ótima relativamente alta, a 50°C.
As demais espécies ficaram entre 35 e 40°C.

Capítulo 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO l
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

66

Em geral, as proteases dos fungos A. niger, A. brasiliensis e A. oryzae tiveram me-


lhor atividade em pH ácido, com exceção de Marui et al. (2012), que obteve protease
alcalina a partir da FES de A. oryzae, destacando que um mesmo fungo pode produzir
enzimas diferentes a partir das condições de fermentação utilizadas, realçando a im-
portância de uma avaliação das variáveis no processo de fermentação. Outros fungos
capazes de produzir proteases alcalinas foram A. terreus, A. fumigatus, A. tamarii e A.
flavus, que tiveram melhor atividade em pH básico, no caso de A. flavus, a protease
apresentou 100% de atividade de pH 8 a pH 12 (YADAV et al., 2011). Proteases ácidas
podem ser aplicadas na indústria alimentícia por exemplo, enquanto proteases alca-
linas são ótimas candidatas a serem utilizadas na fabricação de couro e detergentes
(ABU-TAHON, ARAFAT & ISAAC, 2020).

5 Considerações finais

Bastante conhecido no campo da biotecnologia, o gênero Aspergillus vem sendo


pouco utilizado quanto à produção e purificação de proteases por fermentação em es-
tado sólido, técnica que possibilita maior recuperação de moléculas, dentre as espécies
mais utilizadas encontram-se o A. oryzae e o A. niger. Em relação aos substratos utili-
zados destaca-se o farelo de trigo, entretanto nota-se a utilização de diversos substra-
tos recuperados da agroindústria, demonstrando que a FES é uma excelente maneira,
além de ecológica e econômica de agregar valor ao produto.

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SANTOS, Amanda Lucena dos.


CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
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BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.
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Capítulo 5
PRODUÇÃO E PURIFICAÇÃO DE PROTEASES POR Aspergillus ssp. SOB FERMENTAÇÃO EM ESTADO SÓLIDO l
70
CAPÍTULO 6

LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS


NO BRAZIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.1


SANTOS, Sybelle Montenegro dos.2
SANTOS, Amanda Lucena dos.3
BATISTA, Juanize Matias da Silva.4
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.5
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.6
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.7

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.6.

1  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife


kethybarbara@gmail.com
2  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
sybellemontenegro11@gmail.com
3  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
amandalucena17@gmail.com
4  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
juanizematias@yahoo.com.br
5  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
thiago_pajeu@hotmail.com
6  Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Recife
romero_brandao@yahoo.com.br
7  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
analuporto@gmail.com
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

72

Resumo

L ectinas são proteínas capazes de formar ligação com carboidratos específicos


de maneira reversível sem alterar sua estrutura, constituindo um grupo com
variados usos industriais e científicos. Podem ser encontradas em diferentes partes das
plantas, mas principalmente em sementes. As lectinas extraídas de sementes apresen-
tam atividade antimicrobiana, reconhecimento de tipo sanguíneo, marcador tumoral
e modulação imunológica. Diante disso, o objetivo do trabalho foi realizar uma revi-
são bibliográfica sobre lectinas de sementes e suas propriedades biológicas, reunindo
artigos recentes realizados no Brasil. Foi realizada uma busca em diversas bases de
dados, para artigos entre 2015-2020 utilizando descritores predeterminados. No total
foram selecionados 18 artigos e estes foram avaliados quanto as famílias de plantas
utilizadas, a extração de lectinas e sua caracterização bioquímica. É possível observar
a presença de cinco famílias vegetais, com predominância da Fabaceae. Os artigos ana-
lisados apresentaram variadas características nas lectinas encontradas, apresentando
opções ativas do pH 2 ao pH 11 e temperatura ótima de 40°C a 70°C. Em relação à li-
gação com carboidratos, nota-se um padrão de inibição com monossacarídeos. Assim,
conclui-se que as lectinas apresentam grande variedade e podem ser amplamente en-
contradas em sementes de plantas encontradas no Brasil, evidenciando a necessidade
de maiores pesquisas na área e exploração de plantas regionais ainda não estudadas
que apresentam grande potencial.

Palavras-chave: Aglutinina. Bioativo. Biotecnologia. Proteína. Semente.

1 Introdução

As lectinas são glicoproteínas, com a capacidade de reconhecer especificamente


mono e oligossacarídeos de forma reversível, sem modificar sua estrutura. Encontram-
-se amplamente distribuídas na natureza e podem ser obtidas através de diferentes
organismos (PEUMANS e VAN-DAMME, 1995; VAN-DAMME et al., 1998), sendo
mais extraídas as de origem vegetal. As lectinas de plantas podem ser encontradas em
diversas partes do vegetal como: folhas, frutos, rizomas, raízes, mas principalmente
em sementes (NASCIMENTO et al., 2020).

Devido suas características bioquímicas, apresentam uma grande variedade fun-


cional e atividades biológicas como: reconhecimento de tipo sanguíneo, antimicrobia-
na e modulação imunológica (CAVADA et al., 2020). Tendo em vista o seu amplo
espectro de aplicabilidade e o alto valor biotecnológico, se faz necessário a busca de
novas fontes e melhores condições para a extração e purificação das lectinas. Neste
contexto, o presente trabalho teve como objetivo analisar o estado da arte em relação
à extração, caracterização e purificação de lectinas de sementes reunindo artigos de
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
SANTOS, Sybelle Montenegro dos.
SANTOS, Amanda Lucena dos.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

73

2015 a 2020 realizados no Brasil, caracterizando estes estudos quanto a sua extração,
caracterização bioquímica e atividades específicas.

2 Referencial teórico

Carboidratos presentes na superfície celular, ligados a proteínas ou lipídeos de-


sempenham importantes papéis no reconhecimento celular, diferenciação, crescimen-
to e proteção (LORIS, 2002). Proteínas presentes em extratos de plantas possuem a
capacidade de interagir com carboidratos formando ligações que resultam na agluti-
nação das células com este determinado carboidrato, como por exemplo os eritrócitos.
Devido a esta característica peculiar estas proteínas são denominadas “fitoaglutini-
nas”, “hemaglutininas” ou “lectinas” (GORAKSHAKAR E GHOSH, 2016)

Sendo assim as lectinas são proteínas de origem não imune, ligantes a carboidra-
tos ou a glicoproteínas, capazes de aglutinarem células e/ou precipitarem glicoconju-
gados. Em geral, uma molécula de lectina apresenta pelo menos dois sítios de ligação
para carboidratos, permitindo a realização de ligações cruzadas entre células ou saca-
rídeos, o que confere a lectina sua habilidade de aglutinação (GUPTA et al., 2020).

Estas características possibilitam a aplicação de lectinas em áreas médicas, clí-


nicas e biológicas, realizando a função de identificar grupos sanguíneos, marcador
celular para obtenção de diagnósticos, agente mitogênico, purificação, quantificação e
análise de glicoconjugados, estudo de tumores, atividade antimicrobiana, análise de
mecanismos celulares, dentre outras (CAVADA et al., 2020).

As lectinas podem ser encontradas em vegetais superiores, algas, fungos, ani-


mais (vertebrados e invertebrados), bactérias e em vírus. Em vegetais, elas são detecta-
das em centenas de espécies de plantas (HONG et al. 2015), tendo sido mais estudada
em sementes de leguminosas e centenas dessas proteínas tem sido isoladas e extensi-
vamente investigadas em relação as suas propriedades químicas, físico-químicas, es-
truturais e biológicas (SUN et al., 2011). Entretanto podem ser encontradas em vários
tecidos vegetais como: raiz, folha, talo, vagem, frutas, flores e casca (COELHO e DA
SILVA, 2000; WU et al., 2000).

Em plantas estas proteínas atuam como mecanismo de defesa contra patógenos e


reserva de nitrogênio, sua alta distribuição nas mais diversas espécies vegetais indicam
que são essenciais para a sobrevivência da planta (CHARUNGCHITRAK et al., 2011).
O consumo de lectinas por alimentos pode ser toxico, visto que não são degradadas
durante sua passagem pelo trato digestivo e podem reconhecer carboidratos presen-
tes nas células intestinais, ligando-se a eles e dificultando a absorção e utilização de
nutrientes, levando a perda de peso e inibição do crescimento, podendo ser letal para

Capítulo 6
LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS NO BRAZIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

74

animais de pequeno porte. Além dos efeitos degenerativos nas membranas celulares,
as lectinas mostraram a capacidade de inibir várias enzimas intestinais (VASCONCE-
LOS e OLIVEIRA, 2004). Desta forma, apesar de estar presente em diversos vegetais, é
necessário a realização de etapas de purificação e caracterização para melhor aprovei-
tamento e aplicação destas moléculas.

A busca de produtos naturais, que possam apresentar aplicações biotecnológicas,


como as citadas anteriormente é extremamente relevante, a extração de lectinas de se-
mentes de plantas no Brasil é importante tendo em vista o número de espécies ainda
não exploradas neste sentido e a importância biotecnológica destas moléculas.

3 Metodologia

A revisão sistemática foi realizada através da busca nas bases científicas: Scopus
(https://www.scopus.com/home.uri), ScienceDirect (https://www.sciencedirect.
com), PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov) e Web of Science (https://www.
webofknowledge.com/) utilizando como descritores: “(seed or plant) and (lectin) and
(production or extraction) and (purification of filtration) and (characterization) and
(Brazil)”. Foram selecionados artigos de pesquisa original publicados entre 2015-2020.
Trabalhos que não apresentavam extração, purificação e algum tipo de caracterização
bioquímica foram excluídos, assim como artigos que usavam outras partes da planta
ou que não foram realizados no Brasil. Artigos cujo foco principal era avaliar a carac-
terização estrutural também não foram incluídos. Os critérios de seleção dos artigos
foram definidos para avaliar as melhores condições de extração e purificação de lecti-
nas com potencial aplicabilidade biotecnológica e qualidade metodológica.

Os artigos foram avaliados seguindo metodologia proposta por Greenhalgh


(1997) e receberam pontuações para os seguintes critérios: extração (até 1 ponto), ca-
racterização físico-química (até 2 pontos) e atividades específicas (até 1 ponto). To-
talizando no máximo 4 pontos. Para esta avaliação foram considerados os seguintes
critérios: (i) Processo de extração: trabalhos que estudaram as melhores condições de
extração, usando a atividade hemaglutinante (AH) como parâmetro e variando em
fatores como composição da solução de extração, tempo de extração e agitação, recebe-
ram 1 ponto, enquanto aqueles que não realizaram a otimização da extração não pon-
tuaram. (ii) Caracterização físico-química: trabalhos que apresentavam caracterização
bioquímica completa, compreendendo avaliação de pH e temperatura ótimas e sua
estabilidade, inibidores e peso molecular, receberam 2 pontos. Os que não apresenta-
ram estas atividades em sua totalidade receberam 1 ponto. (iii) Atividade específica:
trabalhos que realizaram algum tipo de atividade específica, como toxicidade, antimi-
crobiana, anti-inflamatória, antitumoral, entre outros, receberam 1 ponto. Aqueles que
não realizaram nenhum tipo de atividade específica não foram pontuados. Por fim, foi
CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.
SANTOS, Sybelle Montenegro dos.
SANTOS, Amanda Lucena dos.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

75

elaborada uma tabela com os artigos que receberam as maiores avaliações e realizada
discussão sobre os tópicos acima relacionados.

4 Resultados e discussões

De acordo com a metodologia utilizada para a busca de artigos, foram encontra-


dos 392 artigos, dos quais 285 são encontrados na base de dados ScienceDirect, 92 na
PubMed, 9 na Scopus e 6 na Web of Science. Foram selecionados um total de 18 artigos.
Desses, nenhum obteve a pontuação máxima. Entretanto, como pode ser observado
na Tabela 1, foram encontrados seis artigos capazes de emplacar 3 pontos. Dentre os
outros artigos estudados, nove estabeleceram-se com 2 pontos, em sua maioria obtidos
a partir da junção de 1 ponto proveniente de caracterização parcial e 1 ponto de ativi-
dades específicas, e três artigos pontuaram apenas 1, referente à caracterização parcial
aplicada em sua metodologia.
Tabela 1 – Avaliação das metodologias propostas pelos trabalhos publicados entre 2015-2020 sobre
extração de lectinas de sementes, em relação à extração, caracterização bioquímica e realização de ati-
vidades específicas.
Avaliação das
Caracterizaçã Atividades
Lectina condições de Total Referência
o bioquímica específicas
Extração

PpaL 0 1 0 1 Cavada et al. 2020

Carvalho et al.
ApulSL 0 1 1 2
2015

PELa 0 2 0 2 Araripe et al. 2017

LCaL 0 1 1 2 Pires et al. 2019

CNA 0 2 1 3 Alves et al. 2015

MaL 0 2 1 3 Santos et al. 2019

Vasconcelos et al.
CML 0 1 0 1
2015

DdeL 1 1 1 3 Torres et al. 2019

Lacerda et al.
PLUN 0 2 1 3
2017a

Cvill 0 1 1 2 Lossio et al. 2017

VML 0 1 1 2 Santos et al. 2019

Lacerda et al.
AEL 0 1 1 2
2017b

Cramoll Nascimento et al.


0 1 0 1
1,4 2020

WSMoL 0 1 1 2 Moura et al. 2016

WSMoL 0 1 1 2 Moura et al. 2017

LAL 0 1 1 2 Pires et al. 2016

DlyL2 0 2 1 3 Cavada et al. 2020

Nascimento et al.
AAL 0 2 1 3
2016

Capítulo 6
LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS NO BRAZIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

76

A ausência de artigos com a pontuação máxima indica deficiência em estudos


lidando simultaneamente com a otimização da extração e caracterização completa
de lectinas. Por ser um processo inicial, é comum que não seja incluído em artigos
originais, entretanto a otimização de condições de extração é importante para obter
maiores rendimentos e reduzir os custos de produção, o que é relevante do ponto de
vista industrial, principalmente quando se trata de uma nova semente sendo explo-
rada (RIBEIRO et al., 2018). Dos artigos revisados considerou-se que apenas Torres et
al. (2019) analisaram as possíveis variáveis para extração de lectinas de sementes de
Dypsis decaryi que analisou a obtenção destas proteínas a partir de partes diferentes
da semente, obtendo maior atividade em amostras do tegumento (196.03 HA/mg) e
nenhuma atividade em amostras do endosperma.

As espécies de plantas utilizadas nos trabalhos analisados variaram, com apenas


uma repetição, Moringa oleífera, evidenciando seu potencial biotecnológico (MOURA
et al. 2016; MOURA et al. 2017). Algumas das lectinas vegetais mais estudadas fo-
ram encontradas em sementes de plantas pertencentes a família das Fabaceae , onde
compreendem um total de 10% a 15% das proteínas solúveis (SHARON e LIS, 1990;
VAN DAMME et al. 1998; MOUREY et al. 1998). Dentre os trabalhos analisados, as
mais encontradas foram Fabaceae com 12 artigos (66,7%) seguida por Moringaceae e
Dalbergieae com 2 (11,1%) como pode ser observado na Figura 1, corroborando com a
ideia de que as lectinas extraídas de sementes estão distribuídas em diversos grupos
botânicos, especialmente na família das Fabaceae e evidenciando a importância de
plantas facilmente encontradas no brasil como a Acácia-branca (Moringa oleífera), Pal-
meira-triângulo (Dypsis decaryi), Camaratuba (Cratylia mollis) e embira-de-sapo (Lon-
chocarpus campestres) (MOURA et al., 2017; TORRES et al., 2019; NASCIMENTO et al.,
2020; PIRES et al. 2019).
Figura 1 - Relação das famílias botânicas mais presentes nos trabalhos analisados.

CARDOSO, Kethylen Barbara Barbosa.


SANTOS, Sybelle Montenegro dos.
SANTOS, Amanda Lucena dos.
BATISTA, Juanize Matias da Silva.
NASCIMENTO, Thiago Pajeú.
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

77

Em relação ao processo de purificação, 38,9% dos trabalhos utilizaram precipita-


ção do extrato bruto (obtido por extração salina) com sulfato de amônio (na concentra-
ção de 0 a 60%), embora seja um processo demorado e com baixo rendimento ainda é o
mais tradicional (Jiang et al., 2017). apenas 5,5% dos trabalhos utilizaram precipitação
cetônica, e a maior parte dos trabalhos 55,55% não realizaram ou não incluíram eta-
pas de pré-purificação, novamente evidenciando a escassez de trabalhos completos na
área.

Em geral foi realizada de uma a três etapas cromatográficas, sendo a mais co-
mum coluna de afinidade (70% dos trabalhos). Cavada et al., (2020) utilizaram a co-
luna de afinidade Sepharose-4B-Lactose e obtiveram um rendimento de 88,33 vezes
em relação ao extrato bruto, sendo o maior rendimento entre os artigos selecionados,
seguido por Alves et al. (2015) com rendimento de 70,35, que também utilizou croma-
tografia de afinidade, em matriz de goma de guar. Houve apenas 1 trabalho (5,5%) que
apresentou como única técnica de purificação o sistema de duas fazes aquosas (SDFA),
Nascimento et al. (2020) utilizou sistema PEG/fosfato para obtenção de lectinas de
sementes de Cratylia mollis, que particionou par a fase rica em sal, obtendo fator de
purificação de até 5,02. Em relação às outras a técnicas mais refinadas de purificação,
apenas 38,9% dos trabalhos fizeram uso de sistema HPLC ou FPLC.

A caracterização bioquímica completa (compreendendo avaliação de pH e tem-


peratura ótimas e sua estabilidade, inibidores e peso molecular) foi realizada por 6
dos trabalhos analisados. Em geral, o pH em que apresentaram estabilidade variou
bastante, encontrando-se lectinas ativas desde o pH 2 ao pH 11, assim como a maioria
mostrou atividade completa em temperaturas variando de 40 a 70°C, perdendo com-
pletamente a atividade acima de 100°C. Araripe et al. (2017), apresentou lectina capaz
de atuar na faixa de pH de 6 a 10 com atividade máxima em pH 9-10, 75% maior que
a obtida em pH 6-8, revelando que PELa é mais ativo quando submetido à condições
básicas. Em contrapartida Torres et al., (2019) obteve lectina (Ddel) capaz de expressar
maiores atividades em pH alcalino (pH 5-6). Estes dados comprovam as variedades
existentes de lectinas, e a necessidade da realização de caracterizações completas, in-
clusive no âmbito molecular.

Dos 11 artigos que investigaram o efeito de agentes quelantes e de íons, 8 obser-


varam dependência de cátions divalentes, como Araripe et al. (2017) que estudou lec-
tina extraída de sementes de Platypodium elegans que apresentou aumento na atividade
com a adição de Ca2+ e Mn2, caracterizando uma metaloproteína. O peso molecular
das lectinas de sementes encontradas nos diferentes artigos apresentam padrões hete-
rogêneos. O menor valor foi de 10 kDa para a lectina LcaL (Lonchocarpus campestris),

Capítulo 6
LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS NO BRAZIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

78

encontrada por Pires et al., (2019), e o maior valor foi de 128 kDa para a lectina PLUN
(Phaseolus lunatus L. var. cascavel), isolada por Lacerda et al., (2017).

A avaliação do carboidrato de afinidade é essencial para compreender as funções


e aplicações biotecnológicas da lectina (HONG et al., 2015). Essa análise foi realizada
por quase todos os estudos selecionados (89%). Segundo Lis e Sheron () as lectinas
podem ser classificadas de acordo com o monossacarídeo por quem tem afinidade. As
lectinas em geral apresentam maior afinidade por polissacarídeos ou monossacarídeos
terminais presentes em glicoconjugados, entretanto ao observar açúcares capazes de
inibir diferentes lectinas nos estudos, nota-se que em sua maioria são monossacarí-
deos. Entre os carboidratos testados que apresentaram afinidade nos estudos analisa-
dos estão N-acetyl-D-glucosamine, D-mannose, D-glucose, α-methyl-D-mannoside e
galactose.

A maioria dos artigos selecionados (79%) avaliaram algum tipo de atividade


específica, como: antinociceptiva, bactericida, anti-inflamatória, antitumoral e antio-
xidante. Os que apresentaram melhores resultados foram WSMol obtida através de
Moringa oleifera atuando na permeabilidade da membrana, conferindo atividade bac-
tericida (CORIOLANO et al., 2019) e LCal (Lonchocarpus campestris) através de me-
canismos periféricos associados a eventos celulares apresentou inibição da inflamação
(PIRES et al., 2019). Essas atividades se mostram relevantes perante seu alto potencial
biotecnológico com aplicações na agricultura, indústria alimentícia e médica.

5 Considerações finais

Existe uma variedade de lectinas extraídas de sementes que apresentam grande


valor biotecnológico devido às suas características particulares. Apesar de existirem
em grande quantidade, há uma lacuna nos trabalhos publicados até o momento no
âmbito da otimização dos parâmetros de extração de lectinas, como tempo de extração
e agitação, estes fatores podem influenciar o rendimento e atividade biológica destas
moléculas. Também se nota deficiência na caracterização completa. Entretanto, os mé-
todos de purificação se mostraram eficientes, obtendo-se altos fatores de rendimento.
Desta forma conclui-se que apesar de bastante presente na literatura as pesquisas refe-
rentes à extração de lectinas de sementes precisam ser aprimoradas, especialmente na
questão de otimização dos fatores de extração.

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Capítulo 6
LECTINAS DE SEMENTES ENCONTRADAS NO BRAZIL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
82
CAPÍTULO 7

APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DUAS FASES


AQUOSAS NA PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS:
UMA BREVE REVISÃO

NASCIMENTO, Maria Clara do.1


NASCIMENTO, Thiago Pajeú.2
CUNHA, Márcia Nieves Carneiro da.3
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa.4
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo.5
BATISTA, Juanize Matias da Silva.6

DOI: 10.46898/rfb.9786599152481.7.

1  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife


maria.claranas@gmai.com
2  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
thiago_pajeu@hotmail.com
3  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
marcianieves@yahoo.com.br
4  Universidade de Pernambuco (UPE), Campus Recife
romero.brandao@upe.br
5 analuporto@gmail.com
6  Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Campus Recife
juanizematias@yahoo.com.br
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

84

Resumo

A etapa de purificação ainda é um dos maiores desafios na indústria biotec-


nológica, neste ponto destaca-se o uso de sistema de duas fases aquosas
(SDFA), que são formados pela mistura de um polímero geralmente polietilenoglicol
(PEG) e um sal (citrato, sulfato, fosfato, por exemplo) ou até mesmo dois polímeros
(PEG e dextrana), pois apresentam ótimos resultados na partição/purificação de pro-
teínas, principalmente na diminuição das operações unitárias de purificação e conse-
quentemente maior rendimento. O SDFA apresenta diversas vantagens como: evitar a
desnaturação e funcionalidade da proteína por adaptar a uma condição estável seme-
lhante ao ambiente biológico, especialmente por ser formado de até 90% de água e se-
rem ecologicamente corretos. O mecanismo de partição é complexo, no entanto algu-
mas previsões são possíveis devido à hidrofobicidade dos aminoácidos na superfície,
força iônica, condições do meio experimental e pH. A literatura mostra o potencial da
aplicação do SDFA na área industrial por proporcionar altos rendimentos e níveis de
purificação em diferentes tipos de biomoléculas, em especial proteínas.

Palavras-chave: Purificação; Proteínas; Sistema bifásico; PEG.

Introdução

Um dos grandes obstáculos das aplicações biotecnológicas de enzimas é a via-


bilidade econômica devido às técnicas de produção e purificação. Pois, desenvolver
processos adequados capazes de preservar a estrutura e função das proteínas é um re-
quisito essencial para sua inserção nas indústrias (ANTOV et al., 2006). Quando se tra-
ta de recuperação e purificação de proteínas diversas etapas são acopladas e inclusas,
precipitação com solventes orgânicos e/ou sulfato de amônio, centrifugação, filtração
e diálise, seguidas por técnicas de separação por cromatografias: troca iônica, exclu-
são molecular, afinidade e/ou interação hidrofóbica (RAGHAVARAO et al., 1995; PR-
ZYBYCIEN et al., 2004; NADAR et al., 2017). Esses procedimentos para purificação e
recuperação das enzimas tem um impacto relevante no custo final (70-80%) do possí-
vel produto, por isso, há uma necessidade de desenvolvimento de novas técnicas de
separação e purificação mais viáveis economicamente e verdes (NADAR et al., 2017).

Os sistemas de duas fases aquosas (SDFA) tradicionais são compostos de dois po-
límeros e água, ou um polímero, um sal inorgânico e água (FU et al., 2019). Atualmente
os sistemas de duas fases aquosas estão sendo constituídos além de polímeros por
água e um sal/açúcar, está esse tipo de purificação em ascensão devido à florescente
produção de bioquímicos e biocombustíveis a partir de recursos renováveis. Diversos
autores sugerem que as interações entre a superfície da proteína e os íons aquosos de-
sempenham um papel indispensável para a partição de proteínas no SDFA que podem
NASCIMENTO, Maria Clara do
NASCIMENTO, Thiago Pajeú
CUNHA, Márcia Nieves Carneiro da
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo
BATISTA, Juanize Matias da Silva
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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ajudar no projeto da partição de proteínas para purificação e enriquecimento (CHIKA


et al., 2019). Dessa forma este sistema já vem sendo utilizado em várias metodologias
analíticas para a extração e/ou determinação de várias biomoléculas, tais como proteí-
nas, pigmentos, DNA, nanopartículas, corantes e metais (ASSIS et al., 2019).

Objetivo

Esta revisão discute os aspectos importantes relacionados à aplicação e efeito da


metodologia sistema de duas fases aquosas na purificação de proteínas.

Metodologia

Para essa breve revisão de literatura foi necessária uma pesquisa bibliográfica
utilizando as palavras-chaves: sistema de duas fases aquosas, partição, proteínas e
purificação em dois idiomas inglês e português. A pesquisa foi feita nas bases Scielo e
Science direct e os anos das buscas escolhidos foram: 2000-2019.

Revisão de literatura
Sistema de duas fases aquosas (SDFA)

As principais questões nas primeiras etapas do processo de purificação são a re-


dução rápida de volume e a concentração do produto, sendo assim reduzindo os cus-
tos de recuperação. Os processos convencionais como adsorção e filtração irão atingir
seus limites na economia, processamento, velocidade e escala. Portanto, a técnica que
pode solucionar estes obstáculos é o sistema de duas fases aquosas (SDFA), o sistema
é composto basicamente de polímero-sal convencionais, para a produção industrial
são substâncias relativamente baratas em comparação aos materiais cromatográficos
(BENSCH et al., 2007).

O SDFA é uma técnica muito suave de purificação de proteínas em comparação


a utilização de solventes orgânicos, e a desnaturação ou perda de atividade biológica
não são normalmente vistas, este fato pode ser justificado pelo alto teor de água (65-
90%) formando um ambiente delicado para que as biomoléculas e/ou proteínas se se-
parem e os polímeros estabilizem sua estrutura e atividades biológicas podendo gerar
uma baixa tensão interfacial dos sistemas que protegerão as proteínas. Os próprios po-
límeros presentes no SDFA podem ter também um efeito estabilizador. Também como
vantagens têm alta biocompatibilidade, baixo custo, capacidade de operação contínua
e facilidade de expansão (NADAR; PAWAR; RATHOD, 2017).

Os sistemas bifásicos mais comuns são formados de polímero-polímero (por


exemplo: polietileno glicol [PEG] e dextrana) ou polímero-sal (por exemplo: fosfato,
citrato e magnésio) todos solúveis em água, no entanto a dextrana não é usualmente
Capítulo 7
APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DUAS FASES AQUOSAS NA PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS: UMA BREVE REVISÃO
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

86

utilizada devido a sua viscosidade e alto custo, portanto o sistema polímero (PEG)-sal
é mais comumente utilizado (Figura 1). O SDFA pode ser utilizado para separar pro-
teínas de detritos celulares ou para purificar proteínas de outras proteínas. A maioria
das partículas solúveis irá deslocar-se para a fase mais baixa, mais polar, enquanto as
proteínas se dividirão na fase superior, menos polar e mais hidrofóbica, geralmente no
PEG (IQBAL et al., 2016).

Figura 1 - Ilustração esquemática do sistema bifásico polímero-sal (Fonte: Adaptado de NADAR;


PAWAR; RATHOD, 2017).

O funcionamento do SDFA é caracterizado por três forças: gravitacional, flutua-


ção e fricção que atuam sobre uma queda durante a coalescência (Figura 2). O movi-
mento de uma partícula depende do equilíbrio entre essas forças. A força gravitacional
depende da densidade das partículas, as forças de flutuação ou de fricção dependem
das propriedades reológicas das fases. A força de atrito sempre impede o movimento
de queda. Estas forças, juntamente com a tensão interfacial, determinam o comporta-
mento de coalescência e as características da fase dispersa. No SDFA as densidades
das fases são muito semelhantes e as forças da flutuação que determinam o comporta-
mento das partículas. A proporção das viscosidades do polímero e da fase salina pode
ser muito grande (5-50 vezes), sendo a fase de sal muito menos viscosa do que a fase
polimérica. Quando a fase inferior é menos homogênea, as partículas coalescentes de-
vem descer através da fase polimérica. Como a fase polimérica tem uma viscosidade
mais elevada, o atrito entre as partículas e a fase é elevado, pelo que o tempo de se-
paração é mais longo. Quando a fase inferior é mais homogênea, as partículas da fase
superior deslocam-se através da fase inferior, a qual tem uma viscosidade muito mais
baixa, favorecendo a coalescência (ASENJO e ANDREWS, 2012).

Figura 2- Diagrama explicando as diferentes forças atuando sobre o funcionamento do SDFA (Fonte:
Adaptado de ASENJO e ANDREWS, 2012).

NASCIMENTO, Maria Clara do


NASCIMENTO, Thiago Pajeú
CUNHA, Márcia Nieves Carneiro da
BRANDÃO-COSTA, Romero Marcos Pedrosa
PORTO, Ana Lúcia Figueiredo
BATISTA, Juanize Matias da Silva
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

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Mesmo assim, o processo de separação de proteína por SDFA ainda é complexo,


acredita-se que as propriedades dos polímeros (tipo do polímero, concentração e peso
molecular), pH, a força iônica da fase salina, adição de sal como NaCl para aumentar
a resolução hidrofóbica do sistema são os fatores mais importantes que afetam a sepa-
ração das proteínas. Babu et al. (2008), representou esquematicamente (Figura 3) com
esses possíveis fatores que podem interferir no SDFA para partição das proteínas. Por-
tanto, coeficiente de partição (K) é definido como a razão da concentração de proteínas
ou da atividade enzimática entre as duas fases e poderá proporcionará uma distribui-
ção desigual da proteína estudada (NADAR; PAWAR; RATHOD, 2017).
Figura 3. Representação esquemática dos possíveis comportamentos da partição das biomoléculas no
SDFA. (a) sistema polímero/sal; (b) efeito do aumento da concentração de polímero; (c) efeito do au-
mento do comprimento da cadeia ou do peso molecular do PEG; (d) efeito do aumento da concentra-
ção de sal; (e) exclusão de volume combinado e efeito de salting out. ( ) Polímero; ( ) biomolécula;
( ) sal; VT: volume da fase “top”; VB: volume da fase “bottom” (Fonte: Babu et al., 2008 modificado).

Com objetivo de recuperar e purificar diversos tipos de produtos biológicos o


SDFA tem sido utilizado em diferentes bioprocessos. Na literatura este método já foi
empregado para purificação de colagenase, lectina (NASCIMENTO et al., 2013), pro-
tease (NASCIMENTO et al., 2016) e tanase (RODRÍGUEZ-DURÁN et al., 2013), ácidos
clorogênicos (YANG et al., 2016), íons (JIMENEZ et al., 2016), vírus, organelas, frag-
mentos de membrana (COELHO et al., 2019), ascorbato oxidase (PORTO et al., 2010)
entre outros.

Processos fermentativos baseados em Sistemas de duas fases aquosas oferecem a


substituição de separações mecânicas complexas das células por sistema de particiona-
mento em fases opostas (ALBUQUERQUE et al., 2017). Cultivo de células microbianas
em (SDFA) foi demonstrado para a produção de protease alcalina e enzimas fibrinolí-
ticas. Os (SDFA’s) predominantes são os compostos por PEG (polietileno glicol) e um
sal, como o sistema PEG- sulfato de sódio.

SDFA fornece uma alternativa eficiente para a purificação de biomoléculas por


partição entre duas fases líquidas. Esses sistemas contêm cerca de 80-90% de água e,
assim, proporcionam um excelente ambiente para células, organelas celulares e subs-
tâncias biologicamente ativas. Na Fermentação Extrativa utilizando SDFA, as células
Capítulo 7
APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DUAS FASES AQUOSAS NA PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS: UMA BREVE REVISÃO
PESQUISA EM TEMAS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

88

são mobilizadas em uma das fases do sistema e o produto desejado é particionado


para a outra fase. Uma vez que os processos de produção e separação do produto
estão ocorrendo simultaneamente, a compreensão dos mecanismos é essencial para a
concepção de um sistema bem sucedido.

Conclusão

Nesse sentido o sistema de duas fases aquosas mostra se como uma alternativa
viável e de sucesso no particionamento de biomoléculas, podendo obter altos valores
de rendimento e até mesmo de clarificação e purificação de diferentes tipos de amos-
tras. Assim, sendo um método competitivo e possivelmente aplicado na indústria.

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Capítulo 7
APLICAÇÃO DE SISTEMA DE DUAS FASES AQUOSAS NA PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS: UMA BREVE REVISÃO

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