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Pedro de Araujo Buzzo Costa Botelho

Trabalho final das disciplinas 1HIS126 e 1HIS127, História


Antiga I e História Medieval I

Londrina
2019

Este trabalho servirá tanto para a disciplina história antiga I (1HIS126), como
para a disciplina história medieval (1HIS127).

O que é história antiga / história medieval?

História Antiga nada mais é do que um conceito historiográfico, esse que


não necessariamente é temporal, mas que é vinculado a época em que é criado:
meados da década de 1680, no Renascimento. Dessa maneira, o conceito de
história antiga busca se enfatizar os espaços com os quais se relaciona; esses
sendo Grécia e Roma. Há ai uma afinidade linguística (Latim – Roma) e cultural,
visto que o neoclassicismo buscava resgatar os ideais greco-romanos. Algo de
se notar é que o continente europeu, nessa época, não tinha acesso abrangente
às informações que circulavam pelo oriente médio; o mesmo ocorre com o
extremo oriente (China, por exemplo). Isso resulta num conhecimento tardio
sobre esses campos do conhecimento histórico, o que os exclui no que se refere
à história antiga, como conceito criado por volta de 1680.

Temporalizando o conceito historiográfico de história antiga, temos,


portanto uma abrangência que “se inicia” por volta do século XII a.C. e se
estende até a queda do Império Romano do ocidente, em 476 d.C.; essa área do
conhecimento histórico enfatiza as Civilizações Grega e Romana, ao passo que
essas se relacionavam diretamente com o momento em que esse conceito foi
criado. Desse modo, entende-se também o motivo de serem pouco pesquisadas
e pouco estudadas as áreas do conhecimento histórico no que se refere ao
extremo oriente, oriente médio, entre outros, fora dos espaços em que se deram
esses conhecimentos.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado para entender o conceito de história


medieval. Tendo o conceito de idade média sua raiz na idade moderna, esse era
utilizado de forma pejorativa; se o então pensamento de época era o de resgatar
os costumes e ideais greco-romanos, a chamada idade média era visto como um
período de retrocesso, no qual o avanço humano havia parado no tempo (dai
também se pode inferir a origem do termo idade das trevas). No que se refere à
relação com o continente Europeu, na época em que esse conceito é criado,
pode-se entender que história medieval se concentra exclusivamente na Europa,
e inclusive, não em sua totalidade (o que é assunto de debates e
questionamentos como: “houve idade média fora da Europa?”).

Desse modo, a relação está contida no espaço geográfico, visto que o


período medieval, como se dando exclusivo da Europa, ocorre no mesmo espaço
em que o conceito de história medieval é criado, já na idade moderna; se
relacionando, inclusive, com a formação do continente europeu como se era e é
conhecido. Colocando o conceito de história medieval num “parênteses
temporal”, temos que esse abrange desde a queda do Império Romano do
Ocidente, em 476 d.C. (Século V d.C.), até a queda do Império Romano do
Oriente, em 1453 (Constantinopla, Século XV d.C.). Novamente, se nota que o
conceito de história medieval se restringe ao estudo do período na Europa, e não
no resto do mundo. O que contribui com a situação que se tem de poucos
estudos em áreas como, por exemplo, o Japão e China feudais, ou os Sultanatos
pelo oriente médio.

A situação da pesquisa e do ensino de história antiga/ história


medieval no Brasil hoje

Para entendermos a situação atual do ensino de história antiga/ história


medieval no Brasil, precisamos voltar para os anos 1970, quando o Brasil ainda
se encontrava em regime militar. Nesse cenário de controle do Estado e
consequente censura, tanto história antiga quanto medieval eram instrumentos
para vangloriar o Estado, algo que acontece frequentemente em Regimes
ditatoriais. Apesar de tudo, o regime militar possuía um projeto para
desenvolvimento nacional, o que implicava na melhoria da infraestrutura e
consequentemente na criação de mais universidades, a exemplo, a própria
Universidade Estadual de Londrina foi criada no regime militar. Já na virada dos
anos 1980/1990, houve um maior foco de capital para pesquisas no ensino
superior, o que beneficiou as áreas da história antiga e medieval, das quais havia
uma grande carência de profissionais. Contudo, quando projeto nacional da lugar
aos projetos de poder (com a ideia do governante se manter no poder), muitas
“universidades” são “fundadas”. “Universidades”, no sentido em que muitas
estruturas foram reaproveitadas para se dizer que fez uma universidade, quando
essa mesma carece de profissionais especializados e qualificados.
Para entender isso, pode-se parafrasear Burke (2012): Burke, em seu
“Uma História Social do Conhecimento II”, nos dá um panorama geral de como a
economia e política do conhecimento afetam as áreas do saber. Nesse sentido,
há sempre um investidor do conhecimento, esse investidor sempre espera um
retorno sobre seu investimento. A partir da segunda metade do século XX, o
Estado se tornou o maior investidor do saber, como já citado acima, inclusive
fundando universidades e investindo em pesquisa científica. No entanto, Burke
também diz que o investidor não investirá naquilo que pode ir contra seu viés
ideológico ou prejudicar sua imagem, Trazendo para nosso caso, hoje o Estado
investe principalmente nas ciências exatas e ciências da natureza, o pouco que
sobra desses investimentos vai para as ciências humanas e desse pouco, a
mínima parcela vai para as áreas de história antiga e medieval. Isso pode ser
entendido da seguinte maneira: o Estado vê, nas ciências exatas e da natureza,
um retorno (seja esse monetário ou tecnológico) muito mais imediato e rentável.
Nas ciências humanas, no entanto, o Estado enxerga pouco ou nenhum retorno,
destinando pouca verba para essa área. Para com a história antiga e medieval, o
motivo da pouca verba pode estar na pergunta “para que serveensinar história
antiga e medieval, no Brasil?”.

Para responder essa pergunta, no que se refere à história antiga, pode-se


citar Funari (2007, p. 16):

A Historiografia passou a interagir cada vez mais


intensamente com as outras Ciências Humanas e Sociais, em busca
de interpretações que superassem as aporias teóricas e práticas do
estudo das sociedades no presente e no passado. A multiplicação
dos movimentos sociais e a explosão de conflitos e de identidades,
com mais força desde a década de 1960, levaria a crítica aos
modelos normativos. A historiografia sobre o mundo antigo não
deixaria de inserir-se nessa renovação, com a multiplicação de
estudos e abordagens contextuais e antinormativas. As leituras
modernas da Antigüidade foram incorporadas à lide quotidiana da
disciplina. A pesquisa de História Antiga no Brasil insere-se neste
contexto. Cada vez mais atenta à sua inserção nas discussões
internacionais, não hesita, também, em mostrar como as
especificidades brasileiras podem ser usadas, de maneira produtiva
e fertilizadora, para contribuir com os debates nos ambientes
hegemônicos. Deve-se também destacar a interação da História
Antiga com o estudo da História de outros períodos e épocas.
Para o caso da história medieval, como é mostrado por Bovo (2017), grande
parte dos estudantes entre 15 e 16 anos entende a idade média como apenas uma
época obscura e supersticiosa, conceito que se assemelha a forma que a idade
média era vista durante o iluminismo, por exemplo. No que tange ao motivo de
ensinar história medieval, Bovo (2017):

O tempo enquanto categoria ordenadora da pesquisa e do


ensino de história, enquanto condição que permite a fundamentação
singular da história frente as outras ciências humanas, precisa das
temporalidades, das cronologias que advém delas e dos ritmos
diferentes das durações, para estabelecer suas singularidades e
também suas relações com o presente de onde se parte para pensa-
las. O que é relevante nessas temporalidades muito recuadas como
a “medieval”, muito distantes do “ser” e “estar” contemporâneos, não
é a busca pelas permanências ou tradições remanescentes por elas
produzidas, mas justamente sua condição de demonstrar a alteridade
extrema que as sociedades humanas mantiveram e ainda mantêm
umas com as outras.

O que é, quais as formas e três exemplos de representações da história


antiga / da história medieval.

Representações, de forma simplória, são reflexões construídas sobre relatos


primários (fontes). Pode-se dizer que as representações são dinâmicas, ao passo
que essas sempre irão refletir o lugar social em que foram criadas. Ao passo que as
representações do passado sofrem das intenções do presente, podemos inferir
também que essas servirão determinados propósitos, por exemplo, nota-se o uso
das representações nórdicas no regime nazista, servindo ao propósito de reafirmar a
superioridade germânica, impactando na verdade que era tida pelo povo alemão.
Sendo as representações dinâmicas, elas consequentemente serão múltiplas, veja
que conforme a inserção social, as representações históricas poderão diferir na
perspectiva pela qual se escreve, bem como na intenção com qual se escreve.
Assim, uma obra escrita sobre o período medieval francês na época da formação
dos estados nacionais certamente irá diferir de uma obra com o mesmo tema, porém
escrita na França após a segunda guerra mundial.

A escrita da história, por convenção, aderiu por muito tempo o formato de


narrativa. Contudo, a diferença entre história e arte e literatura se dá no método, em
como selecionar, tratar e traduzir a informação material em conhecimento. Portanto,
estuda-se história antiga e medieval a partir de hoje, de modo que o historiador
seleciona o que vale ou não vale a pena preservar do passado, o que é ou não é
importante. A seleção feita pelo historiador é feita sobre os fragmentos (reflexos) do
passado que sobrevivem a ação do tempo; assim, o historiador transforma esses
reflexos do passado em conhecimento, no presente momento em que esse escreve
sua obra. Vejamos um extrato do texto de Funari (1995, p. 18 e 19):

A narrativa, O relato como construção discursiva, passa ao


centro das reflexões. Os termos empregados para referir-se ao
discurso histórico conduzem-nos à diegesis dos gregos:
detalhamento, descrição (Platão, República, 392d.). Assim, Franz
Goerg Maier (1984:89) afirmava que “o texto histórico não é mimesis,
mas diegesis”: não recria, como imitação, a realidade, mas consistem
um trabalho de junção de ações esparsas, por parte do historiador.
Os alemães utilizam-se da expressão Erzaehlung (relato) para
referir-se ao discurso histórico e fazem-no muito apropriadamente
pois o termo compõe-se de zaehlen (contar) e do prefixo er (para
fora): Erzaehlung representa uma narrativa, um conto (cf, tale, em
inglês), fictíci ou verídico. A importância do caráter narrativo da
História ultrapassa a constatação da estruturação lógica da narrativa
(Kocka&Nipperdey 1979:11) e atinge a própria definição ontológica
da disciplina. “A pesquisa histórica e o texto do historiador ligam-se
pela estrutura da narrativa; a narrativa, como forma de organização
histórica, é a base, o princípio estruturador e o objetivo da História,
adquirindo um sentido transcendental” (Baumgartner 1979:289). A
narrativa histórica requer, portanto, habilidades de exposição,
explicação e persuasão através do uso das palavras (Elton
1967:106). Tradicionalmente, a oposição entre estória (res fictae) e
História (res factae) permitia separar a litera- turaficcional da História
(Mommsen 1984:68). Mas ciência e arte, outrora tão opostas,
constituem, nas ciências humanas contemporâneas, as pectos
interligados do discurso (Strasburger 1966:55). A.L. Rowse (1946:55)
chegava a afirmar que “a História está muito mai sperto da Poesia do
que, em geral, se admite; na verdade, penso que, na essência, são
iguais”. Essa aproximação entre a ficção e a História deriva,
justamente, da dificuldade de distinguir, enquanto construções
discursivas, relatos históricos e ficcionais (White 1976:22).Há quem
não hesite em renomear a História: estória (story, Elton 1970:5),
antes de mais nada um gênero literário (un genre littéraire par
excellence, Cizek 1991:136).

Dito isso, as representações são organizadas de quatro maneiras diferentes,


no que diz a sua forma narrativa: narrativa tradicional, narrativa exemplar da ação,
narrativa crítica e narrativa estrutural. As primeiras formas dos discursos
historiográficos se deram pela narrativa tradicional, também conhecida como
historiografia popular, esta que é ligada a uma noção de continuidade, implicando
numa linearidade da narrativa. A narrativa exemplar da ação, que toma uma ação e,
a partir dessa ação, se estende, expandindo-se para diversas direções, de forma
concêntrica, indo, portanto do micro (ação tomada) para o macro. A narrativa crítica,
que coloca, em torno de um problema, diversos questionamentos. E, por fim, a
narrativa estrutural, que se desenvolve em torno de um contexto ou simultaneidade,
de modo que trabalha os aspectos simultâneos de um determinado recorte histórico.
Diferente das outras formas de narrativa, a narrativa estrutural não é contínua,
concêntrica ou necessariamente crítica, mas sim analítica. Dentro das
representações historiográficas e das formas de representação, todos os tipos de
narrativas se entrelaçam.

As representações, de maneira geral, se dividem em investigação ou estudo


de caso, panorama e ensaio. A investigação ou estudo de caso, foca nos detalhes
de recortes históricos, sempre trazendo como resultado da investigação respostas.
Normalmente, esse tipo de representação se encontra em formato de livros e artigos
científicos. O panorama, como o nome indica, busca dar ao leitor uma perspectiva
geral, sem muito aprofundamento, sobre o tema tratado e se encontra em forma de
léxicos, dicionários, livros de história geral e manuais. Os ensaios são estudos
hipotéticos, são levantamentos de questões sobre o passado e instigam a
investigação, porém diferentemente dessa, não trazem consigo respostas, mas sim
questões para reflexão do leitor. Normalmente, os ensaios são encontrados em
forma de livros, conferências e principalmente, artigos.

Como exemplos de representações de história antiga, temos:

A vida em Roma na antiguidade. Grimal, Pierre, Petropolis: Vozes, 1963-


69.

Estudos da alta antiguidade. Tavares, António Augusto. Lisboa:


Presença, [1983].

A estrutura de atitudes e referências do imperialismo romano em


Sagunto: (II a.C - I d.C.) / Carlos Eduardo da Costa Campos. - Campos, Carlos
Eduardo da Costa, Rio de Janeiro: UERJ/NEA, 2014.
Como exemplos de representações de história medieval, temos:

As cruzadas / Jose Roberto Mello. -São Paulo: Ática, 1989.

Os processos da intolerância: Os templários; Calas / escrito sob a


direção de Claude Bertin. -São Paulo: Otto Pierre, [19--].

História da idade média.Rio de Janeiro: vitória, 1960.

O que é, quais as formas e três exemplos de coleções de fontes para a


história antiga / história medieval

Para responder a pergunta “o que são fontes?”, deve-se primeiro entender o


que pode vir a ser fontes. Por exemplo, documentos, monumentos, relatos orais,
etc., podem vir a serem fontes. Mas onde está o vínculo que “transforma” esses
vestígios do passado em fontes? Esse vínculo é a figura do historiador. Assim,
podemos definir fonte como um vestígio do passado, eleito pelo historiador, para
tratar do mesmo. Um exemplo para ilustrar a situação é um livro caixa. Esse livro
caixa, por si só, tem o mero fim de registrar as entradas e saídas de um caixa. Como
esse livro caixa se torna uma fonte histórica? Digamos que o historiador, ao
encontrar esse mesmo livro caixa, o eleja como uma fonte para um ensaio sobre
história econômica. Esse historiador definiu que o livro caixa possui uma relevância
histórica para o assunto que é de seu interesse tratar, no caso o ensaio sobre
história econômica, podendo assim, extrair informações desse livro, tais como o
preço de pregos na época em que o livro foi escrito, e assim as utilizar em seu
estudo.
É importante salientar que, para o caso das fontes abstratas (caso da tradição
oral), o historiador deve desabstrair a fonte. Um exemplo seria o uso de um
gravador, tornando a história oral em um relato histórico. É também importante notar
que
a

fonte não é um fato ou passado, assim como a fonte não é única. Como ilustra o
diagrama a seguir, há uma “barreira” entre o fato e a primeira percepção da
testemunha (a sensorial). Dada a primeira percepção, temos então a segunda
percepção (já conceitualizada). Ambas as percepções, ou seja, desde o que a
testemunha vê, ouve, sente e reflete, são afetadas pela cultura, pelos conceitos e
experiências, pelo lugar social em que está inserida a testemunha. Infere-se,
portanto, que o elemento cultural influência o horizonte do relato. De mesmo modo,
deve-se notar que o historiador não tem acesso a percepção sensorial da
testemunha, ou seja, se chega sempre ao relato (esse que, por muitas vezes, é falho
ou parcial), porém nunca ao fato propriamente dito.

Portanto, fontes são “vestígios” do passado, cuja finalidade e relevância como


fonte histórica é definida pelo historiador que faz uso das mesmas. Ainda é de se
entender que as fontes são relatos primários, ou seja, sendo elas escritas ou
transmitidas oralmente, são tidas como fontes, na condição de que quem as escreve
ou relata (primeiro relato) são contemporâneos a época tratada. Um exemplo é o
relato de Julio Cesar sobre a conquista da Gália, esse relato pode ser usado como
fonte, visto que Julio Cesar foi contemporâneo a conquista da Gália, estando
presente na mesma.

As fontes, quanto a sua narrativa, podem ser classificadas em cronísticas,


analísticas, vitae, gesta ou origines. As fontes cronísticas por sua vez, são
classificadas em: história universal, analíticas, salvificas (de salvação pela
divindade), escatológicas (daquelas que preveem o fim do mundo pré-definido),
cronológicas, compilações, autorais (de autores conhecidos) e educacionais. As
fontes analísticas se dividem em: annales (as notícias anuais), resumos, fontes
anônimas, fontes de múltiplos autores e fontes de aspecto tabular (organizadas
em tabelas). As fontes vitae abrangem fontes teológicas e biografias. As fontes
gesta se dão em “feitos”, coleções e livros eclesiásticos. As origines se dividem
em crônicas, “origem” dos povos, “etrografia” e “origo gentis”.
Para o que se entende como fonte, no estudo da história medieval, ainda
se podem classificar fontes da seguinte maneira: Como aquelas de caráter
jurídico, caráter administrativo, fontes epistolares, liturgias, fontes acadêmicas ou
científicas, fontes literárias, inscrições e fontes materiais. Dentre as fontes de
caráter jurídico, podem-se citar os diplomas, que explicitam as práticas jurídicas
da época, explicando como as ações de caráter legal se concretizam. Os
diplomas são atos jurídicos concluídos e tratam de ordenamentos a serem
seguidos. Eles ainda se dividem em régios, papais e privados (no que se diz, por
exemplo, a condes e duques). Alguns exemplos de diplomas são as
constitutiones (contratos políticos, de caráter “estatal”), testamentos e
formulários. Ainda podem ser citadas as legislações, que seriam a teoria das
práticas jurídicas. As leges são legislações vinculadas a determinados povos
(fracos, nórdicos, germânicos, etc.) e são mais comuns no começo do que se
entende por idade média. Os espelhos, comuns ao final da idade média, são
conjuntos de leis que espelham a legislação de certa região. Há ainda as
legislações urbanas e a tradição. É interessante lembrar que a essa legislação é
possível dar o título de laica, visto que há também o direito religioso.

O direito religioso são as leis eclesiásticas estabelecidas em concílios,


mais comuns no início da idade média. Com o fortalecimento da figura e do poder
papal, foram criados os cânones, decretais (ambos dialogando entre si em
compilados jurídicos), penitenciais (castigos praticados para remediar pecados),
visitações (documentos para ordenação material da igreja), inquisições
(processos para verificar a “ortodoxia” de um indivíduo ou grupo) e as
canonizações (já ao fim da idade média), a fim de “monopolizar” a santificação de
indivíduos, em prol da igreja católica.

Aprofundando-nos um pouco mais nas fontes de caráter administrativo,


teremos os inventários, os registros de alfândegas, os registros senhoriais
(referentes às relações vassálicas) e os registros de finanças, principalmente
referente às finanças das cidades, no fim da idade média. Por fontes epistolares,
podemos entender: correspondências, troca de informações pessoais ou
teológicas e convocações (como por exemplo convocações para as cruzadas).
As liturgias são ordenações das práticas do culto cristão, como missais,
pregações, ordines (coroações seculares e eclesiásticas), tratados
(interpretações sobre determinado texto bíblico), noviciados (no que se refere a
entrada de monges em mosteiros), necrologia (livros mostrando membros das
comunidades que faleceram) e martirologias (listas de informações dos mártires
da igreja). Dentro das fontes acadêmicas ou científicas, podemos colocar os
exegéticos, tratados políticos, tratados filosóficos e tratados polêmicos. As fontes
acadêmicas da época são de caráter religioso, inúmeras vezes sendo escritos
por frades, monges e até mesmo santos. Podemos ainda citar as fontes literárias,
como a prosa ou a poesia da época, como por exemplo, a obra “Divina
Comédia”, escrita por Dante Alighieri em 1320. No que se diz às fontes materiais,
temos inúmeros exemplos, como vestígios de construções, fortificações militares,
armamentos, vestes, instrumentos de campo, instrumentos de construções, etc.
Para exemplos de fontes de história antiga, podemos colocar:

The worksof Julius Caesar. - Cesar, Julio. New York: Black'sReaders,


c1957.

A Odisseia / Homero; tradução do grego no metro original por Carlos


Alberto Nunes.. - Homero. São Paulo: Atena, 1957.

A política / Aristóteles; tradução, Roberto Leal Ferreira. - Aristóteles.


São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Para exemplos de fontes de história medieval, podemos colocar:

Confissões / Santo Agostinho. - Agostinho, Santo, Bispo de Hipona,


354-430. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001.

Opúsculo sobre o livre-arbítrio / São Bernardo de Claraval; tradução


de Tiago Tondinelli. - Bernardo, de Claraval, Santo, 1090 ou 91-
1153.Campinas: Ecclesiae, 2013.

A divina comédia / Dante Alighieri; tradução brasileira de José


Pedro Xavier Pinheiro. - Dante Alighieri, 1265-1321. São Paulo: Tietê, 1954.

Como se trabalha com representações e fontes, e três exemplos de


áreas de interesse/abordagens na história antiga / história medieval

Se deve entender, primeiramente, que para cada representação e fonte,


há um sujeito que as escreve ou relata (sendo esse o historiador, em nosso
caso). Nesse sentido, deve-se notar também que esse sujeito se insere no que
Michel de Certeau chama de lugar social. Certeau nos dirá que o lugar social
em que o sujeito se insere, ou seja, sua experiência de vida, sua cultura, suas
ideias, seu ciclo de vida social, enfim sua perspectiva de forma geral, afeta seu
julgamento. No caso do historiador, isso afeta o modo como esse escreve
história, sua historiografia. Dessa maneira, não é possível trabalhar com fontes
ou representações históricas as tratando como verdades absolutas ou mesmo
imparciais. A história é escrita de acordo a maneira como o historiador enxerga
o mundo.
Portanto, ao trabalhar fontes e representações, deve-se sempre
questionar as fontes, questionar as representações, tendo consciência de sua
imparcialidade. Deve-se buscar entender o lugar social no qual está inserido o
autor da fonte ou representação, quais as possíveis influências que se deram
na obra, o “pensamento de época” vigente, etc.

Quanto por exemplo a escolha do tema da abordagem, como diz Moreira


(2006, p. 22):

Os temas, problemas e questões podem algumas vezes ser


muito ambiciosos. Os professores/pesquisadores tendem, em um
primeiro momento, a ficar entusiasmados com a possibilidade de
logo iniciar o trabalho de campo e assim caem na armadilha de não
considerar algumas fases do processo da pesquisa. A fase do
planejamento da pesquisa serve para identificar claramente as
limitações do estudo. Três questões ajudarão a esclarecer os
propósitos e a melhorar o enfoque na

escolha de um tema. a) Por que realizar a pesquisa no


contexto da escola?

b) Como o resultado da pesquisa ajudará o professor a


melhorar o entendimento do problema e, consequentemente, sua
própria prática pedagógica?

c) O tema poderá ser explorado no tempo e com os


recursos disponíveis?

Mas a extensão de possíveis temas para a pesquisa pode ser


muito ampla, embora isso não seja tão assustador quanto possa
parecer à primeira vista. Há dois fatores que podem ajudar a definir o
problema de pesquisa. O primeiro é o contexto profissional imediato
do professor que apresenta um problema ou uma questão
contemporânea, que poderá ir da análise da implementação do
projeto pedagógico à observação da natureza e tipos de interação
professor/aluno. O segundo fator é o amplo contexto da comunidade
de pesquisa na área da educação

São exemplos de áreas de abordagem e interesse na história antiga: a


influência dos aquedutos na Roma antiga; o estudo das diferentes culturas das
cidades estado gregas; as campanhas do império romano na Bretanha. Como
exemplos de áreas de interesse e abordagem na história medieval, temos: a
consolidação da figura do papa, bem como do poder eclesiástico e sua
influência na sociedade medieval; a formação de ordens militares, como os
templários, hospitalários e cavaleiros teutônicos; e também as mudanças
periódicas na base alimentar europeia de acordo com eventos como o surto da
peste negra.

Referências bibliográficas:

História Medieval no Brasil e o Ensino de História Medieval a. ALMEIDA,


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História Antiga no Brasil e o Ensino de História Antiga a. CARVALHO, M.


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Novas considerações sobre ensino e pesquisa de história antiga no Brasil.
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CERTEAU, M. de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-


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