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Apostila da disciplina de barragens de rejeito e terra

Universidade Federal do Ceará (UFC)


Professor: Anderson Borghetti Soares
Curso: Engenharia Ambiental

1. Conceitos básicos de fluxo de água em meios porosos

O conhecimento do papel que a água exerce no solo é de extrema importância na


solução de problemas de engenharia. A água escoa nos vazios do solo devido as diferenças de
carga hidráulica total. Esta é a soma dos seguintes potenciais:

a) Gravitacional: a água fluirá de cotas mais elevadas para as mais baixas;


b) Pressão: a água fluirá do ponto de maior pressão para o de menor pressão.
c) Velocidade: é desprezível para o caso de solos, pois a carga de velocidade é
relativamente menor que as demais parcelas.

A percolação provoca um conjunto de ações sobre o solo (presentes em barragens de


terra), tais como:

- “levitação” ou levantamento de fundo, que ocorre devido a perda da tensão efetiva


(contato grão a grão) decorrente de uma força de percolação ascendente que supere o peso
próprio do solo;
- Erosão interna ou arrastamento das partículas (“piping”) devido a elevadas forças de
percolação. No caso de solos coesivos, quando é atingido o valor de gradiente crítico, o solo
rompe em fendas ou orifícios e a água pode começar a percolar violentamente, exercendo
uma ação erosiva, arrastando as partículas sólidas, formando um tubo (“pipe” em inglês)
- Erosão externa, em que ocorre o arrancamento das partículas de solo devido a lâmina de
água. No talude de montante pode ocasionar rachaduras longitudinais e no talude de jusante a
instabilidade do talude.
As medidas de proteção contra estas ações que ocorrem em maciços de terra de
barragem incluem o dimensionamento de filtros e drenos, tapetes drenantes (segurança
contra o piping e a ruptura hidráulica), proteção do talude de montante (“rip-rap”) e redução
da descarga freática com o aumento do caminho de percolação.
A carga hidráulica se dissipa por atrito viscoso na percolação através do solo. Esta
energia provoca uma força de arraste em direção ao movimento, que tende a carrear as
partículas (só não o faz devido ao peso próprio), como pode ser visto na Figura 1 que
representa um permeâmetro com fluxo de água ascendente:

Figura 1 – fluxo unidimensional ascendente em um permeâmetro (Ortigão, 2007)

A força de percolação (f) é uma grandeza semelhante ao peso específico do solo e é


dada por:

f = hγ w A
sendo,

h= perda de carga;
γw = peso específico da água;
A= área de seção transversal do permeâmetro.

Força de percolação por unidade de volume (j) é dada por:

f hγ w A
j= = = iγ w
V AL

Esta força de percolação se soma à força gravitacional se o fluxo de água é descendente.


Se o fluxo é ascendente as duas forças (de percolação e gravitacional) se subtraem. Para um
melhor entendimento deste processo é necessário analisar as tensões no solo submetido à
percolação da água. A tensão efetiva na base do permeâmetro da Figura 1, com fluxo de água
ascendente, valem:
σ = ( zγ w + Lγ n ) − ( z + L + h)γ w
σ = L(γ n − γ w ) − hγ w
 Lh 
σ = L(γ n − γ w ) −  γ w
 L 
σ = Lγ sub − Liγ w
σ = L(γ sub − J )

A equação acima mostra que um aumento na força de percolação, no sentido


ascendente, provoca uma diminuição na tensão efetiva. No caso do fluxo descendente os
cálculos são semelhantes e a tensão efetiva aumenta com a percolação:

σ = L(γ sub + J )

O Gradiente crítico ocorre quando a tensão efetiva se torna nula. Em areias a resistência
é proporcional à tensão efetiva e quando esta se anula o solo perde toda a resistência, ficando
em um estado de areia movediça.

σ = Lγ sub + Liγ w= 0
γ
icrit = sub
γw

O gradiente crítico é na ordem de 1,0 e ocorre somente em fluxo ascendente. Esta


condição ocorre principalmente em areias finas. Em areias grossas e pedregulhos, por
exemplo, o peso das partículas impede a movimentação pela força de percolação.

2. Estudo de percolação de água em barragens de terra


O conhecimento de como a água percola em um maciço de terra é muito importante
para o dimensionamento de uma barragem. Há equação geral do fluxo de água para solos é
dada por (consultar a dedução em Souza Pinto, 2002):

∂2H ∂2H ∂2H 1 ∂e ∂S


kx 2
+ k y 2
+ k z 2
= (S + e )
∂x ∂y ∂z 1 + e ∂t ∂t
Onde:
H = carga hidráulica total
x, y, z = coordenada de direção;
e= índice de vazios
t= tempo
S=grau de saturação

No caso do fluxo de água estacionário (grau de saturação e índice de vazios constantes)


em meio isotrópico (permeabilidades iguais em todas as direções) a equação de fluxo reduzir-
se-á para:

∂2H ∂2H ∂2H


kx + k y + k z =0
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2

kx=ky=kz (meio isotrópico)

∂2H ∂2H ∂2H


2
+ 2 + 2 = 0 ∴ (∇ 2 H = 0)
∂x ∂y ∂z

kx =ky (bidimensional)

∂2H ∂2H
+ 2 = 0 (Equação de Laplace)
∂x 2 ∂y

Dentre os métodos utilizados para resolver a equação de fluxo, fornecendo valores de


gradientes hidráulicos, poro-pressões, vazões, pode-se citar os métodos numéricos (utilizando
elementos finitos), o método gráfico (rede de fluxo), os modelos reduzidos, etc.
As figuras 2 e 3 mostram exemplos de redes de fluxo que podem ser obtidas por meio
de métodos numéricos e de modelo reduzido. Será dá uma rápida ênfase ao método gráfico,
pois além de permitir uma resolução rápida, permite uma melhor compreensão do fenômeno
do fluxo de água em barragens.
Figura 2 – método numérico para resolução da equação de fluxo de água com software Seep
(GeoStudio, 2007)

Figura 3 – modelo reduzido para determinar resolução da equação de fluxo de água


(Gerscovich, 2007)
a. Método gráfico - rede de fluxo

O método da rede de fluxo consiste no traçado à mão de linhas que definem a trajetória
percorrida pelas partículas de água (linhas de fluxo) e linhas de igual carga total (linhas
equipotenciais). As Figuras 4 e 5 mostram esquemas gerais do método da rede de fluxo.

Figura 4 – esquema do método da rede de fluxo.

Figura 5 - detalhes das linhas de fluxo

A equação de Laplace descreve matematicamente muitos fenômenos físicos e entre eles


o fluxo de água através do solo. A equação acima representa um fluxo bidimensional em um
solo isotrópico com relação à permeabilidade. O efeito da anisotropia pode ser considerado
através de artifícios matemáticos (uso de uma seção transformada na direção horizontal). A
solução da equação de Laplace é composta por dois grupos de funções que podem ser
representados, dentro do domínio do fluxo, por duas famílias de curvas ortogonais entre si,
que satisfazem as condições de contorno. A construção da rede de fluxo em barragem de terra
segue o seguinte procedimento:
 Desenha-se a linha freática (métodos que serão apresentados seguir)
 Traçam-se as linhas de fluxo e equipotenciais obedecendo aos critérios dos traçados
 Calcula-se a vazão da percolação
 Uma vez traçada a rede é possível obter valores de velocidade de percolação, cargas
hidráulicas, gradientes por todo o perfil.
A rede de fluxo é traçada a mão livre. As linhas de fluxo e as linhas equipotenciais se
interceptam em ângulos de 90º, formando elementos aproximadamente quadrados (solos
isotrópicos e homogêneos). Os canais de fluxo estão compreendidos entre duas linhas de
fluxo. A vazão é igual para cada canal de fluxo. A perda de carga entre duas equipotenciais
representa uma queda de potencial. As vantagens do método da rede de fluxo são:
 Uma solução é sempre possível de ser obtida;
 Não requer nenhum equipamento;
 Ajuda a desenvolver a compreensão do problema de fluxo;

O procedimento para traçado da rede de fluxo é o seguinte: arbitra-se o número de


canais de fluxo e traçam-se as linhas de fluxo, escolhendo uma relação entre b/l (em geral
trabalhar com 1), traçando-se as superfícies equipotenciais. A interseção entre as linhas de
fluxo e equipotenciais deve ser de 90°. A Figura 6 apresenta diferentes traçados de linhas de
fluxo, para fluxo confinando e não confinado (aquele que tem como uma das fronteiras uma
superfície livre ou freática, u=0 ou H=z).

Figura 6 – Exemplos de rede de fluxo

A partir do traçado da rede de fluxo é possível obter:


i) Vazão total
nf
Q = kh
nq
b/l= relação entre os lados dos “retângulos”
nf = número de canais de fluxo
nq = número de quedas de potencial
h= perda de carga total

ii) Poro-pressões
Conhecido o valor da carga hidráulica em um ponto, pode-se obter hp, uma vez que a
coordenada z já é conhecida (pela geometria). A poro-pressão será dada por:

u = h pγ w

iii) Gradientes hidráulicos


O gradiente hidráulico em uma malha qualquer da rede de fluxo é dado por:
∆h h
i= =
l l.nq

sendo ∆h a perda de carga entre equipotenciais.

d) Velocidades aparentes de vazões localizadas


As velocidades aparentes são obtidas a partir do gradiente hidráulico naquele ponto:
v = ki
e as vazões a partir das velocidades:
q = νA

3. Traçado da linha freática e dimensionamento do filtro de pé (Vieira et


al., 1996)

Os dispositivos de drenagem interna de uma barragem são projetados com a


finalidade de evitar a saturação do talude de jusante e possível erosão. O dispositivo
mínimo a se adotar é um enrocamento de pé, cuja metodologia é a seguinte:
i) Traçar a superfície freática do maciço seguindo o seguinte roteiro:
a) Desenhar a seção máxima da barragem (Figura 7);

Figura 7 – Seção máxima da barragem (Vieira et al., 1996)

b) Determinar a equação básica da parábola de Kozeny

x 2 + y 2 − x − yo = 0

O cálculo de yo é feito a partir das coordenadas do ponto Do (x=d,y=h).


Considerando que um aterro compactado é anisotrópico é necessário fazer uma
transformada de coordenadas através da relação:

ky
xt = x
kx

A fim de exemplificar, admitamos que a permeabilidade horizontal é 9 vezes o


valor da permeabilidade horizontal, teremos:

x d
xt = d t = =
3 3
Substituindo a relação acima na equação de Kozeny, no ponto Do (x=d,y=h),
teremos o seguinte valor de yo:

2
d  d
yo =   + h 2 −
3 3
c) Traça-se a parábola na seção máxima
A partir do cálculo de yo, dado no item (b), pode-se reescrever a equação da
parábola básica de Kozeny com y em função de x, na seguinte forma (colocando y em
evidência):

2
y= y o + 2 xt y o

Com a equação acima é possível obter as coordenadas para o traçado da


superfície freática, como pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1 - coordenadas da superfície freática


xt 1 2 3 4 .... dt
Y ..... h
x=3xt ..... d=3dt

d) Desenhar a superfície freática


A curva da freática obtida anteriormente necessita de correções na entrada e
saída, que deve ser feita com o método de Casagrande.

Figura 8 – Superfície freática traçada (Vieira et al., 1996)

Figura 9 – Correção de saída, conforme Casagrande (Vieira et al., 1996)


O valor de C é determinado a partir do ângulo que o maciço forma com a horizontal, na
região de descarga, para o meio de maior permeabilidade. Para exemplificar, no caso
apresentado na Figura 9, será considerado um α = 135°. Entrando-se com este valor no gráfico
de correção de saída (Figura 9), obtemos C=0,16 (ordenadas). Sabemos que a+δa=AB (valor
dado pela parábola de Kozeny) e pode-se determinar o valor de δa (C x AB). O ponto C é o
ponto de surgência da freática real, segundo Casagrande. A correção do traçado na entrada
pode ser vista na Figura 10.

(b)
Figura 10 – Correção de entrada (Vieira et al., 1996)

i) Cálculo da vazão através do maciço:

kx
Qb = yo
ky

Qb = descarga através do maciço (m³/s);


Kx = permeabilidade na direção horizontal (m/s);
Ky = permeabilidade na direção vertical (m/s);
yo = ordenada do ponto focal da parábola básica que define a freática.

i) Definição da altura do enrocamento de pé

O dimensionamento anterior da freática (parábola, correções na freática)


permite, de forma iterativa, definir a altura do enrocamento de pé. A altura ideal será
aquela que o ponto C caia dentro do enrocamento. A tabela 2 apresenta alturas de
enrocamento de pé de barragens de 8 a 15 metros, onde se adotou uma margem de
segurança em que a saída da superfície freática se dá no limite superior do
desenvolvimento da face de montante do enrocamento (Vieira et al., 1996), como pode
ser visto na Figura 11.
Figura 11 – Altura mínima do enrocamento de pé (Vieira et al., 1996)

Tabela 2 – altura mínima de enrocamento de pé

ii) Detalhamento do pé

A Figura 12 mostra um exemplo de detalhamento do enrocamento de pé de


pequenas barragens apresentado por Vieira et al., (1996).
Figura 12 – Detalhamento do enrocamento de pé (Vieira et al., 1996)

4. Percolação da água em barragens (Carvalho, 1983)

Uma barragem de terra deve oferecer condições de estabilidade, apesar


das águas que a atravessam. Denomina-se de linha freática à linha que na
seção transversal da barragem, limita a área em que há escoamento de água
livre através do maciço. A linha freática é o lugar geométrico dos pontos abaixo
dos quais existe uma pressão de água positiva. A distância entre as linhas
freáticas e de saturação corresponde à altura capilar da água nos poros.
O traçado da linha freática em barragens de terra faz-se pela necessidade
de se mantê-la dentro do maciço. A surgência de água na face de jusante pode
provocar erosão, o que resultaria no carreamento do material do maciço com
possibilidade de desmoronamento da barragem. A seguir serão apresentados
métodos para a obtenção da superfície freática para barragens homogêneas.

a. Traçado da linha freática (Carvalho, 1983)


A seguir serão apresentados alguns casos de barragens e métodos para
se obter a superfície freática, para uma barragem de terra homogênea de
material isotrópico que se assente em uma fundação impermeável, como pode
ser visto na Figura 13. A obtenção da superfície freática assemelha-se à
resolução da equação de Kozeny.
c
Figura 13 – Barragem de terra homogênea (Carvalho, 1983)

A face de montante define uma equipotencial e as linhas de descargas do


maciço se dão segundo parábolas. O ponto B, onde a parábola teórica
intercepta o talude, têm-se:

yo
AB = (Expresso em coordenadas polares, ver Carvalho, 1983)
1 − cos α

Na prática o ponto de surgência do lençol freático está abaixo do ponto B,


a uma distância ∆a (entre os pontos C e B) e assim:

yo
a + ∆a =
1 − cos α

yo = h1 + b 2 − b (Considerando PoP desprezível)


2

PPo = 0,3m (Determinado experimentalmente)

y o = x 2 + y 2 − x (Equação geral da parábola)

α é o ângulo que o maciço forma com a horizontal, na região de descarga,


com o meio de maior permeabilidade. A seguir serão apresentadas as
soluções para o cálculo da interceptação da freática no talude de jusante,
considerando diferentes ângulos.
- Solução 1: α<30°

Esta é a denominada solução de Schaefernack-Iterse, para α<30° (Figura


14): A linha PoB interceptará o talude de jusante a uma distância “a” da base
impermeável. Considera-se a parábola tangente ao ponto B.

Figura 14 – Barragem de terra homogênea, para α<30°(Carvalho, 1984)

dy
i=
dx
dy
q = kia = kz = k .a.senα .tgα
dx
b b2 h2
a= − −
cos α cos 2 α sen 2α

i) Solução 2: α>30°

A solução de L. Casagrande (1932) é uma solução aproximada utilizada


para taludes de jusante com inclinação superior a 30° (Figura 15). A parábola
inicia em um ponto Po (distante 0,3m do talude de montante). Considera-se So
aproximadamente igual a PoA (introduz- se na solução um erro máximo de
5%).
Figura 15 – Barragem de terra homogênea, para α>30°(Carvalho, 1983)

dy
i=
dx
q = k .a.sen 2α
2 h2
a = so − s o −
sen 2α
so = b 2 + h 2
a = b 2 + h 2 − b 2 − h 2 cot g 2α

ii) Solução 3: α próximo a 90°

Figura 17 – ábacos de Gilboy (Carvalho, 1983)


Neste caso à medida que aumenta a declividade do talude, as hipóteses
simplificadoras anteriormente adotadas implicam em maiores erros. Lança-se
mão dos Ábacos de Gilboy (1933), utilizados para valores de próximos de 90°
(Figura 16). O ábaco permite determinar a distância a (que a freática intercepta
o talude de jusante) para diferentes valores de α e d/H (obtenção do parâmetro
m).

iii) Solução 4 (α
α=180°)

É o caso típico do maciço no qual o ponto A é o divisor entre duas


fundações: a primeira impermeável e a segunda um solo perfeitamente
permeável (tapete filtrante).

Figura 17 - Barragem de terra homogênea, para α>30°(Carvalho, 1983)

1 2
ao = b + h2 − b
2

Este problema foi estudado por Kozeny e a solução foi obtida a partir da
equação de Laplace.

5. Filtros e drenos em barragens de terra


Os dispositivos de drenagem interna são projetados com a finalidade de
evitar a saturação do talude de jusante e possível erosão. O dispositivo mínimo
a se adotar é um enrocamento de pé, cuja metodologia é a seguinte:

ii) Traçar a superfície freática do maciço seguindo o seguinte roteiro:


e) Desenhar a seção máxima da barragem;
f) Determinar a equação básica da parábola de Kozeny;
g) Fazer correções de entrada e saída da água.

Filtros são materiais granulares são usados em barragens para evitar que
os grãos finos penetrem no material grosso obstruindo a passagem de água.
Podem-se dimensionar filtros nas seguintes situações:

1. Transição entre o maciço e o “rip-rap”


2. Barragens zoneadas: proteção ao núcleo
3. Filtro chaminé: intercepta a superfície freática
4. Tapete filtrante: baixa linha freática
5. Transição entre o maciço e o enrocamento;

a. Tipos de filtro e drenos

i) Dreno/Filtro de Pé

Este tipo de dreno/filtro ocupa uma pequena faixa drenante no pé do


barramento (Figura 18). A função é trabalhar com um controlador do fluxo de
água e um redutor das poro-pressões. Não oferece linha de defesa contra
trincas ou região mal compactada (podem ocorrer deformações com a
saturação), havendo risco potencial de ocorrência de “piping”.

Figura 18 – Barragem com enrocamento de pé (Hradilec et al., 2002)


ii) Dreno/filtro horizontal

Este tipo de dreno/filtro possui as mesmas características do que o


dreno/filtro de pé e não oferece linha de defesa de regiões mal compactadas. O
Filtro horizontal se estende pela base do barramento e controla de forma mais
marcante o fluxo da fundação. Um exemplo pode ser visto na Figura 19.
O dreno/filtro horizontal tem a função de dar vazão à água que percola
pelo maciço da barragem e de controlar o fluxo pela fundação. Por esta razão
este elemento deve ser contínuo e revestir toda a área da fundação.

Figura 19 – Barragem com filtro horizontal (Hradilec et al., 2002)

iii) Filtro Chaminé (vertical ou inclinado)

O dreno vertical representou no Brasil uma inovação no conceito de


drenagem, e a barragem de seção homogênea com drenos horizontal e
vertical, constitui o modelo da barragem brasileira, seguido por um grande
número de projetos de barragens em outros países (Cruz, 1996). Uma variante
é a aplicação de drenos verticais inclinados. As vantagens do uso de
filtro/dreno vertical são:

 É uma solução de filtro bem mais elaborada;

 Ajuda a prevenir o carregamento do material através de eventuais


trincas (é uma “linha de defesa”);

 Têm função “cicatrizante”.


Figura 20 – Barragem com chaminé inclinado e tapete drenante (Hradilec et al.,
2002)

A Figura 20 mostra o exemplo de um dreno/filtro inclinado. A barragem do


Vigário foi projetada por K. Terzaghi e hoje leva o seu nome. Terzaghi
introduziu o dreno vertical, seguido por um dreno horizontal, diretamente
apoiado na fundação e se estendendo até jusante. O dreno vertical estendia-se
até a elevação da linha freática, como pode ser visto na Figura 21.

Figura 21 – Barragem do Vigário (Sherard et al., 1963 apud Cruz, 1996)

A utilização de um dreno/filtro inclinado apresenta vantagens significativas


sobre o dreno vertical, que reproduz uma parede rígida de areia num maciço
compactado. Filtros/drenos inclinados para montante, proporcionam um menor
risco de ruptura do talude de jusante na fase de operação. Os empuxos
causados no dreno a montante pelo enchimento do reservatório são tanto
menores quanto mais o dreno se aproxima de montante. Além disso, o dreno
inclinado para montante gera um menor peso na porção de jusante o que
melhora as condições de estabilidade (Cruz, 1996). As recomendações acima
citadas foram sugeridas pelo Eng. Victor de Mello e este sugeriu que o filtro
seja inclinado para montante na ordem de 1(V):0,5(H).
b. Dimensionamento de filtros

Qualquer interface de dois materiais porosos granulares, onde haja fluxo


de água do material mais fino para o mais grosseiro, é inevitável que algum
transporte de partículas venha ocorrer, como pode ser visto na figura 22.
A zona de pré-filtro, algumas partículas ou grumos finos ou médios são
carreados para os vazios do filtro. As partículas maiores são retidas no
momento que o diâmetro do poro fica menor que o da partícula. As partículas
finas passam, mas à medida que as partículas maiores são retidas, elas
passam a reter as partículas menores, e depois de algum tempo o processo se
estabiliza.

Figura 22 – Fluxo de água numa interface de materiais porosos granulares (Cruz,


1996)

O filtro deve atender as seguintes condições (critérios de Terzaghi), como


pode ser visto na Figura 23:

a) O tamanho dos vazios do material do filtro deve ser pequeno o bastante


para segurar as maiores partículas do material a ser protegido:

D15(filtro)≤ 5 D85(solo)
b) O Material do filtro deve ter uma permeabilidade alta para prevenir a
formação de grandes forças de percolação e altas pressões
hidrostáticas

D15(filtro)≥ 5 D15 (solo)

D15(filtro)=diâmetro através do qual 15% do material do filtro passa


D85(solo)= diâmetro através do qual 85% do material do maciço passa
D15(solo)= diâmetro através do qual 15% do material do maciço passa

Figura 10 – Critério para dimensionamento de filtros

6. Bibliografias
Carvalho, L. Curso de Barragens de Terra: Com vistas ao Nordeste Brasileiro.
Volumes I,II,III e IV. Ministério do Interior, Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas. 1983.
Vieira, V.P.P.B., Neto, A.G., Miranda, A.N., Malveira, V.T. Roteiro para Projeto de
pequenos açudes. Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, 157p.
1996.
HRADILEC ET AL. Avaliação de pequenas Barragens. Manual de Irrigação,
v.6. Ed: BUREAU OF RECLAMATION, 74p, 2002.
CRUZ, P. T. 100 barragens brasileiras: Casos Históricos, Materiais de
construção, Projeto. Editora Oficina de Textos. 648p, 1996.

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