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INSTITUTO DE ARTES
MANDALA DE CONEXÕES:
CULTURA DE PAZ, YOGA E ARTES
NA UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE
São Paulo
2019
2
RICARDO HENRIQUE MARQUES DA SILVA
MANDALA DE CONEXÕES:
CULTURA DE PAZ, YOGA E ARTES NA UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA
IDADE
SÃO PAULO
2019
4
RICARDO HENRIQUE MARQUES DA SILVA
MANDALA DE CONEXÕES:
CULTURA DE PAZ, YOGA E ARTES NA UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA
IDADE
___________________________________________
Profa. Mestra Maíra Gestner
Instituto de Artes da UNESP – Orientadora
___________________________________________
Profa. Dra. Lilian Freitas Vilela
Instituto de Artes da UNESP – Co-orientadora
Agradeço às minhas mestras e mestras, pela inspiração e pela força extra que
me forneceram para que eu pudesse nesse ano de 2019 me dedicar à estruturação
de tantos projetos e, ao mesmo tempo, permanecer me cuidando.
Agradeço ao yoga e às artes por existirem em meu caminho como pontes, como
linguagens, como portais. Esses estudos práticos me permitiram a conexão com
milhares de pessoas nos últimos anos aqui no Brasil.
Agradeço à minha psicóloga Rose, por ter me acompanhado durante sete anos
do período de graduação e por sempre ter acreditado em mim.
Agradeço às forças da natureza que a cada dia se fazem mais presentes em mim.
8
1
Hino ritualístico da linhagem do Santo Daime, composto por Isabela Firmino, amiga e colega de
profissão. Conheci essa canção em outubro de 2018, cantando-o em Itapecerica da Serra, na
Sagrada Casa dos Peregrinos de Gaya
2
Conheci essa música em rituais de rezo e rodas de mantras, na versão cantada por Titi Oda Nazca.
De acordo com o pesquisador Wilson Eduardo Jansasoy, da Universidad Pedagógica Nacional da
Colômbia, “Niños salvaje, expresa la cosmovisión desde el nacimiento del hombre andino en su
territorio letra dice “soy un niño salvaje, inocente libre y silvestre, tengo todas las edades, mis abuelos
viven en mi”. Jorge dice que el pensamiento, la visión es diferente cuando un hombre crece rodeado
en este entorno, donde todo es bonito y fresco, el sonido de las flautas invitan a recorrer el
pensamiento de los antepasados. El respeto por la vida y los seres viven allí.” (JANSASOY, 2018,
p.107)
“O Yoga tem uma mensagem para o corpo humano; tem uma
mensagem para a mente humana e tem uma mensagem para a
alma humana; serão os jovens habilidosos e inteligentes
capazes de transmitir esta mensagem adiante não só pela Índia,
mas também por todos os cantos do mundo?”
Swami Kuvalayananda3
3
Citação retirada de slides do curso de formação em yoga na Humaniversidade, coordenado pelo
professor Gerson D´Addio da Silva, em aula de introdução à filosofia do yoga. Swami Kuvalayananda
foi um estudioso dedicado a estudar o yoga nas ciências, de maneira que hoje ele é considerado o
principal expoente do yoga científico, assim como pioneiro nessa abordagem. Não encontrei a
referência bibliográfica exata dessa citação.
10
4
Citação retirada do início do livro “As Crises da Vida como Oportunidades de Desenvolvimento”
(1995, Editora Cultrix), de Rüdiger Dahlke.
Criando União (Namastê)
5
Esse hino é um dos meus poemas musicais que compõem um hinário chamado “Namastê”, com
mensagens de paz e harmonia. Esse, em específico, foi inspirado a partir de uma reflexão minha
sobre o significado deste importante mantra (namastê), que se resume em “a divindade que habita
em mim saúda a divindade que habita em você”.
12
Aos educadores que aqui cito e com quem dialogo no trabalho, sobretudo Paulo
Freire, Tião Rocha, Rubem Alves e José Pacheco. E à mestra Amma, que é uma
grande referência de força, determinação e luz para mim. Espero que eu possa ir até
a Índia abraça-la em breve!
E, por fim, às crianças e aos animais, que precisam tanto de nossa voz e de
nosso empenho para que tornemos esse planeta uma casa mais habitável e
harmônica para que eles possam sentir mais paz e alegria.
16
RESUMO
This final paper proposes a theoretical and practical reflection on the experiences of
the “Yoga, Art and Self-knowledge” workshop classes, taught throughout the academic
year of 2019 within the extension project of the Open University for the Third Age
(UNATI) of the Institute of Arts of UNESP. This is a project of great value within this
educational institution and others in Brazil, as it contributes to the humanistic formation
of an audience that so much needs activities related to health, quality of life, culture
and arts. Along with the holding of approximately 25 meetings until the present
presentation of this research, external tours out of the university were conducted. The
classes were designed with a view to self-care, affection and pedagogical reception.
There were a series of activities that covered a variety of artistic facets and many hatha
yoga, meditation and restorative yoga exercises. The main objective of this study is to
reveal the positive impacts generated in the workshop participants' lives, in order to
bring meaning and liveliness to each person involved in the project and also to the
extension project itself. Photographic records, interviews with the students and partner
teachers were made, as well as lesson planning and reflections after the classes linked
to the bibliographic research in Culture of Peace, education, yoga and health. The
union of yoga with the arts originated, from this work, a teaching methodology
provisionally called "Mandala of Connections". It is an empirical qualitative research.
With the development of this university-based learning community, positive physical
and mental changes have been reported, such as the improvement of symptoms
associated with anxiety and nervousness, greater disposition, a sense of well-being
and peace; relaxation, joy and fullness. Bibliographic research encompasses such
processes, and indicates that yoga teaching can help elders or those in their fifties and
older - both mentally and physically, as well as highlighting the relevance of art
education in the classroom. The research process shows that the transmission of
knowledge of this Indian philosophy, when associated with the sharing of content in
the arts can contribute to positive changes in learners' lifestyle and encourage them to
awaken body awareness and achieve greater understanding about themselves. It is
proposed from this work that educators use principles and experiential activities in their
classes, and that more people learn and practice yoga and seek contact with peace,
tranquility, poetry and the beauty of life.
Keywords: Yoga. Hatha yoga. Culture of Peace. Art education. Third age. Elderly.
UNATI. Open University for the Third Age. Meditation. Pedagogy.
18
20
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO....................................................................... 24
1.1. - Sobre o trabalho aqui realizado
1.2. - Aulas de transformação
1.3. - Inspirações Teóricas
1.4. - Organização dos capítulos do trabalho
CAPÍTULO 2 - OBJETIVOS............................................................................31
2.1. - Sobre a ação/missão de pesquisar na área da educação
2.2 - Sobre minha história
2.2.1. - A Casa Paz
2.3. - O sentido da educação
2.3.1. - Rubem Alves
2.3.2. - Paulo Freire
2.3.3. - Tião Rocha
2.3.4. - José Pacheco
2.4. - O caminho do educador
2.5. - Comunidade de Aprendizagem
2.5.1. - Minhas primeiras recomendações para o sadhana
2.6. - Relato de uma experiência: Darcy
2.7. - Yoga em conexão com as artes
2.8. - Na tentativa de definir arte
2.9. - As aulas de yoga
2.10. - O posicionamento sustentado na leveza
2.11. - Relato de uma experiência: sobre não deixar a chama se apagar
CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA...................................................................... 65
3.1. - Sobre os aspectos metodológicos dessa pesquisa
3.2. - Mandala de Conexões
3.2.1. - O nome
3.3. - Sobre as artes
3.4. - Como a arte e o yoga, entrelaçados, podem contribuir para a educação do Ser
3.5. - Doando e recebendo no fazer educativo
3.6. - Sobre a sintetização gráfica da Mandala de Conexões
3.7. - Paz, Amor e Alegria
CAPÍTULO 4 - UNATI.......................................................................................90
4.1. - Universidade Aberta à Terceira Idade
4.2. - Instituto de Artes da UNESP
4.3. - Oficina "Yoga, Arte e Autoconhecimento"
4.4. - UNATI como extensão universitária
4.5. - UNATI e a educação
4.6. - Relato de uma experiência: a aula do dia dos professores
CAPÍTULO 5 - YOGA........................................................................................98
5.1. - O significado do yoga
5.2. - O hatha yoga como principal ferramenta metodológica para as aulas da UNATI
5.3. - O yoga clássico de Patãnjali como importante referência pedagógica
5.3.1. - O Astanga Yoga de Patãnjali - Yoga de oito partes
5.4. - A Árvore do yoga
5.5. - Yoga restaurativa: uma técnica de interiorização
5.6. - Meditação com técnica e como estilo de vida: texto complementar sobre
dhyâna
5.6.1. - Aprofundando a compreensão sobre a meditação
CAPÍTULO 8 - A CULTURA DE
PAZ.....................................................................................................................185
CAPÍTULO 10 - CONCLUSÃO............................................................................207
10.1. - Conselho de um amigo educador
10.2. - Finalização e resultados
10.3. - Respire
10.4. – Despedida
APÊNDICE A........................................................................................................216
APÊNDICE B........................................................................................................220
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................228
24
1. INTRODUÇÃO
6
asato ma sadgamaya
tamaso ma jyotirgamaya
mrtyor ma amrtam gamaya
(Brhadaranyaka Upanishad — I.iii.28)6
Esse mantra está contido no Brhadaranyaka Upanishad, uma das primeiras obras do yoga
clássico, e ele representa uma oração ao Guru, ao Mestre, ao professor de ensinamentos
espirituais.
De acordo com o site www.culturadapaz.com.br, “ a essência desse mantra é “Ó, Guru, me
ajude a me libertar de meus equívocos diversos sobre mim mesmo, o universo e Deus e me
abençoe com conhecimento verdadeiro.” (CULTURA DA PAZ, 2017, p.1)
7
Mantra clássico da tradição hindu, que significa “Que todos os Seres sejam felizes”
27
Levante-se e estude
Só siga em desapego
Solidão para solitude
Caminho Verdeiro
(Chandra Lacombe, 2010)
Figura 3
idade de obras coletivas organizadas por Lucia Ribeiro, Celdon Fritzen e Janne
Moreira, Maria Candida Soares Del-Masso e Tania Cristina A. Macedo de
Azevedo,Serguei Tcherkasski, Sueli Souza dos Santos e Sergio Antonio Carlos,
Juarez Correia Bastos Júnio e Giulio Vicini.
Capítulo 2. OBJETIVOS
Penso que o estudo das Artes, assim como o estudo do Yoga – em âmbito
acadêmico e também fora dele – é um processo vivo, em transformação eterna,
tendo em vista a notável organicidade destes estudos que, além de teóricos e
científicos, também são completamente conectados aos processos criativos dos
seres humanos envolvidos. Esse é um dos principais motivos pelos quais
acredito que há muito conteúdo a ser explorado sobre esse casamento
metodológico que, como educador, ousei construir.
Identifico-me com educadores brasileiros que dedicaram-se não apenas
ao ato de lecionar, mas sobretudo à pesquisa aliada ao autoconhecimento em
seus próprios processos de autotransformação. Dessa forma, os educadores
Tião Rocha, Rubem Alves, Paulo Freire, Hugo Assman, Marilu Martinelli e Ruy
Cezar do Espirito Santo conseguiram inspirar a transformação de muitos outros
humanos que puderam testemunhar e/ou sentir o impacto de suas presenças e
obras. Posso acrescentar aqui o português José Pacheco e argentina Lia Diskin,
erradicados/habitantes atuais de nosso país.
Consigo achar uma semelhança nas obras desses professores quando
recordo seus feitos, quando leio suas palavras e quando reconheço a imensa
importância deles nos tempos atuais. Eles defenderam a educação para além
dos paradigmas, e desafiaram as normas tradicionais das pedagogias
tradicionais arraigadas nos formatos europeus ainda conectados às raízes da
32
"A Escola não nos ensina a falar uma língua estrangeira nem nossa
própria língua, não ensina a cantar ou a servir-nos de nossas mãos e
nossos pés; não ensina qual é a alimentação sadia: como conseguir
orientar-se no labirinto das instituições; de que modo cuidar de um
bebê ou de uma pessoa doente, etc. Se as pessoas não cantam mais,
mas compram milhões de discos em que profissionais cantam por elas;
se não sabem mais comer, mas pagam o médico e a indústria
farmacêutica para tratar dos efeitos da má alimentação; se não sabem
como educar os filhos, mas alugam os serviços de educadores
diplomados; se não sabem consertar um radinho ou uma torneira, nem
como curar uma gripe sem remédio, ou cultivar uma alface, etc…tudo
isso acontece porque a escola tem como objetivo inconfessável
fornecer às indústrias, ao comércio, às profissões especializadas e ao
Estado, trabalhadores, consumidores, clientes e administrados sob
medida. " (FREIRE & IDAC, p. 83, 1984)
Figura 4
do século XX como Woodstock que, de forma pioneira uniu a cultura hindu aos
chamados de paz no ocidente em um mundo ferido pelas guerras. Mas no ENCA
há regras estabelecidas e uma metodologia pré-estabelecida a todos, para que
haja harmonia e consenso, desde as escolhas alimentares até a distribuição de
tarefas para o bem-estar de todos que estão alí por aqueles 7 dias. E foi isso o
que me fascinou em relação a esse encontro, de modo que fiz questão de estar
presente em mais 6 reuniões nos anos seguintes.
Falo do ENCA pois ele serviu como um rito de passagem para mim há onze
anos, quando eu buscava incessantemente por um preenchimento em minha
vida, e uma compreensão melhor sobre o que estava fazendo no mundo. 2008
foi um ano decisivo, pois foi quando descobri que o mundo é muito maior do que
a educação, os livros e os meios de comunicação haviam me apresentado.
Decidi trancar o curso de Ciências Sociais e passei um tempo viajando pelo
Brasil. Conheci a Amazônia, o Rio Grande do Sul, terras do sul de minas e o
Ceará. Ao voltar, optei pela transferência para o curso de Pedagogia na USP,
ao passo que, antes desse processo ser efetivado, decidi enviar currículo à
Escola de Educação Infantil Ponto de Partida – onde trabalhei por um ano como
professor auxiliar e cuidador de uma criança com síndrome de Willians. Esse foi
o meu primeiro emprego. Tive aí a confirmação de que queria trabalhar com
educação, mas a tal engrenagem escolar me incomodava muito, e isso se
tornava evidente nas aulas do curso de Pedagogia. O que me trazia conforto era
a leitura de Jiddu Krishnamurti, José Pacheco, Rubem Alves e Paulo Freire. Por
causa deles, me tornei um crítico inquieto das instituições formais educacionais.
Por dois anos estudei teatro em um grupo universitário sediado na faculdade
de Engenharia da USP: o Grupo de Teatro da Poli (GTP). Era um grupo de
esquerda, com práticas inspiradas nos conhecimentos de Wilhem Reich, José
Ângelo Gaiarsa, Bertolt Brecht e Paulo Freire. Encenei duas peças lá, e esses
processos foram realmente intensos para minha formação humana.
Em 2010 e 2011 eu era um descontente estudante e admirador dos
referidos pensadores. Ainda não estava feliz, e então tomei a decisão de mudar
de ares e prestar o vestibular para ingressar no curso de Licenciatura em Arte-
Teatro do Instituto de Artes da UNESP a fim de ter a possibilidade de encontrar
melhores pontos de apoio aos meus estudos sobre Pedagogia, Arte e
Humanidade.
37
Em 2016, junto à minha mãe, inaugurei o meu próprio espaço junto à minha
mãe Ivone. Nosso espaço se chama Casa Paz, e ele tem esse nome pois nossa
intenção é propiciar aos nossos clientes e alunos momentos de pacificação e
harmonia. Esse espaço está crescendo aos poucos e se fortalecendo como não
apenas um local onde as pessoas podem fazer práticas de yoga e meditação e
receber massagens, reiki e outras terapias, mas também como um centro de
estudos e vivências de autoconhecimento e Cultura de Paz.
Na Casa Paz tenho uma biblioteca com mais de 200 livros muito especiais,
uma cozinha simples onde preparo algumas receitas saudávies veganas, uma
sala de prática de yoga, duas salas para atendimentos terapêuticos com maca,
e muitos materiais para utilização nas aulas, além de alguns instrumentos
musicais e objetos lúdicos.
Figura 5
Figura 6
2.3. O sentido da educação
Disserto aqui acerca das ideias de Paulo Freire, Tião Rocha, Rubem Alves
e José Pacheco, aproximando-os de mim e de meus leitores. Desde já sigo
defendendo a importância da associação deste estudo prático ao amor, à
ternura, à responsabilidade e ao compromisso ético por parte do educador. É
com base nessas virtudes humanas que construirei as próximas páginas e
41
Figura 7
felizes dos tempos atuais, tal como as que avisam que a meditação será parte
do plano de estudos em mais de 300 escolas na Inglaterra, ou que escolas
públicas e particulares em São Paulo já estão adotando o yoga como prática
regular em seus cronogramas. O atual Dalai Lama nos alertou ao dizer que: “Se
todas as crianças aprendessem meditação a partir dos 8 anos, acabaríamos com
as guerras no mundo em uma geração”. 8
Figura 8
Paulo Freire defendia a criatividade, como aspecto vital da essência humana,
em contraposição às imposições desumanas da engrenagem sociopolítica que
sacrifica tantos sonhos desde os tempos industriais. Ele disse que a a tarefa
mais importante de uma pessoa que vem ao mundo é criar algo.
Na filosofia hindu e na tradição filosófica do Yoga Clássico e Moderno,
8
Frase retirada do site “Educação para a Paz”: https://educacaoparapaz.com.br/meditacao-e-
adotada-em-escolas-e-beneficia-criancas-e-adolescentes/
43
Figura 9
ensina, e educador é quem aprende, visão que vinha incomodando aos demais
da universidade. Ele se demitiu com uma ideia fixa: atuar em um lugar em que
pudesse ser um educador e, sobretudo, um aprendiz. ”
Figura 10
José Pacheco alega que a escola não é um edifício, mas sim as pessoas.
Tendo em vista a existência de um propósito naquilo que venho fazendo ao
45
Figura 11
O ano de 2019 foi muito cansativo para mim, e precisei ter muita força de
vontade e perseverança para concluir meus projetos. Por tudo, e apesar de tudo,
a motivação da conclusão da graduação, e as minhas aulas na UNATI, foram o
fator determinante para que eu conseguisse enxergar sentido no meu viver atual
e no trabalho que faço. Em todas as vezes que eu cogitei desistir de alguma
importante atividade que faço, eu disse para mim mesmo (em pensamento): “- O
importante agora é você ganhar experiência, e aprender com as oportunidades
a ser um melhor educador e uma pessoa mais virtuosa”. E aqui agora estou,
escrevendo sobre isso.
Escolhi educar, portanto, optei por ser aprendiz. A cada aula, desde seu
planejamento até as semanas seguintes a alguns encontros, eu sigo aprendendo
com a experiência.E, ao ser também um profissional acadêmico em Educação,
escolhi pesquisar minha própria trajetória e a de meus educandos.
Figura 12
Figura 13
50
Figura 14
Darcy, uma aluna muito especial, que desde o primeiro contato comigo
através das redes sociais mostrou-se muito aberta aos aprendizados do yoga,
me ensinou muito com suas falas e comportamentos: a cada semana ela estava
diferente, se sentindo feliz, e expressava isso. Após um pouco mais de um mês
de aulas, ela me disse que estava se sentindo diferente ao conseguir instaurar a
virtude da calma e da paciência em situações rotineiras como o trajeto dentro do
metrô bem cheio. Antes, ela se via contagiada pela impaciência e pela pressa,
mas o contato com o yoga lhe trouxe bastante serenidade. Vou aqui transcrever
um depoimento muito especial redigido pela própria Darcy, em que ela descreve
algumas sensações acerca de sua experiência no primeiro dia de aula da UNATI,
e que revela a nossa proximidade como educador e educando:
O que pode dizer um abraço? Quais palavras? Quais
sentimentos? Nada ou nenhum sentimento. Ou tudo e um
mundo de emoções.
Já abraçei tantas pessoas, mas no meu primeiro dia
do encontro do curso Yoga e Artes para 60+ da UNESP um
menino me abraçou. Disse: "querida" e me deu o abraço
que jamais irei esquecer. Sim, nunca ninguém me abraçara
daquele jeito até hoje, nos meus setenta e quatro anos.
Naquele momento eu me senti abraçada pelo meu filho,
minha mãe e por Deus. Sim, por Deus. Participei da aula,
mas chorei, quando aquele quase menino, pegou sua blusa
e fez com ela um travesseiro para mim.
(Depoimento de Darcy, por whatsapp, em 21/10/2019)
51
Tião Rocha recorda a história de Diego e seu pai, Santiago, o qual levou
o filho para conhecer o mar – que estava no alto das dunas altas de areia. Após
uma longa caminhada, o filho testemunhou a beleza e a poesia da natureza do
oceano e, com gaguejos e tremores disse a seguinte frase a seu mentor: “-Me
ajuda a olhar”.
Podemos, de mãos dadas com Tião e Galeano, inferir que há um aspecto
valioso e único nas relações com o eu, com o outro e com o todo – inspirados
pelo encontro, pela reflexão e pela transformação interna que acontece quando
há a iniciativa individual em se permitir vivenciar algo novo, ou de se redescobrir
o que já é conhecido. Essa teia de conexões é algo proposto nas aulas de yoga.
O yoga quer conectar o indivíduo à sua melhor versão, ao seu real valor.
O pai, ao propiciar a experiência estética e sinestésica de apresentar o
mar a Diego, teve uma relevante função pedagógica diante dessa relação. Ele
agiu como um arte-educador.
As águas marítimas e a paisagem horizontal eram novidade, assim como
os sons, as sensações térmicas, as emoções e os pensamentos que foram
gerados.
Seguindo essa linha de pensamento, uma cena de filme, uma pintura ou
52
um áudio que remeta o som do mar poderiam também estimular os sentidos, mas
a ocasião foi mais intensa: uma experiência de corpo inteiro que, para
acontecer, solicitou entrega, vitalidade, curiosidade e confiança em todos os
envolvidos. É por essa razão que a arte entrelaçada à educação pode realmente
auxiliar nossa sociedade, já que ela toca profundamente os Seres que se
permitem vivenciar algo que tenha algum significado. Talvez esse significado
seja claro somente para o artista, ou talvez para aquele que testemunhe e
experimente também. Aprendemos com Tião Rocha que:
Para definir arte, vou utilizar como referência uma citação de Winnicott
inserida na publicação coletiva “Criar e Brincar: o lúdico no processo de ensino-
aprendizagem”, organizado por Maria Vitoria Campos Mamede Maia (2014).
Nesse livro a arte e a ludicidade na aprendizagem é explorada, e, no o capítulo
II, "Com dois riscos eu faço um guarda-chuva”: jogo e arte como instrumentos de
inclusão de crianças antissociais e dificuldades de aprendizagem, encontramos
essa reflexão sobre a palavra arte:
53
Esforce-se para amar as suas próprias dúvidas como se cada uma delas
fosse um quarto fechado, um livro escrito em língua estrangeira. Não procure,
por enquanto, respostas que não lhe podem ser dadas, porque ainda não
saberia pô-las em prática, vivê-las. E trata-se, precisamente de viver tudo. De
momento, viva apenas as suas interrogações. Talvez que, simplesmente
vivendo-as acabe um dia por penetrar insensivelmente nas respostas.
Rainer Maria Rilke
Acredito que, como arte-educador, nos momentos que preparo uma aula e
me proponho a realizá-la, estou me colocando à prova, na condição de atuar tal
como um exemplo para os alunos mas também como um ser tão disponível ao
aprendizado quanto eles. Ao ensinar esses saberes que posso caracterizar como
leves ou até mesmo sutis, estou contrastando-os com o peso do mundo, e, até
mesmo contrariando essa densidade.
Estando na UNATI, trabalhando com esse público tão especial, percebo que
estou trabalhando para aliviar a espessura daquilo que obscurece as palavras,
as imagens e as situações do mundo. Não é fácil assumir essa escolha, pois ela
exige muita disciplina e transparência de minhas posturas e de minhas escolhas,
entretanto esse foi o plano que decidi executar para fazer a diferença, e
transformar ao menos a mim. Quem sabe, posso contribuir para a transformação
daqueles que estiveram comigo em ao menos uma aula.
62
Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos? Desde
que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina
a divorciar a alma do corpo e a razão do coração. Sábios doutores de Ética e
Moral serão os pescadores das costas colombianas, que inventaram a
palavra sentipensador para definir a linguagem que diz a
verdade. (GALEANO, 2002, p.98 )
agosto. Nesse dia, o céu escureceu às três horas da tarde em virtude das
fumaças imensas causadas pelas queimadas na região amazônica. Todos
estranhamos o céu naquele horário. Por intuição, acendi uma vela logo no início
da aula, e deixei a vela na frente da turma, ao meu lado. Em alguns momentos,
eu pedi que todos focassem o olhar naquela chama, e refletissem sobre as
virtudes do fogo, e o seu calor. Ao fim da aula, cantamos o mantra Lokah
Samastah Sukhino Bhavanthu, que significa “Que todos os Seres sejam felizes”,
e visualizamos o planeta Terra e todas as pessoas que precisam de paz cobertas
por positividade.
Ao chegar em casa, a televisão estava ligada no noticiário informando
sobre a situação ocorrida, e sobre o o fenômeno que fez com “o dia virasse noite”
mais cedo naquela segunda-feira. Nesse momento, refleti sobre a importância
de termos nos reunido naquele momento e de nos mantermos firmes em nossa
disciplina semanal de fazer parte de um grupo em um lugar privilegiado, em
tempos duros de tristezas e de injustiças. Mas nós estávamos lá, fazendo a
nossa parte e entrando em conexão com a bondade e a clareza humana.
Tenho certeza que as alunas também refletiram sobre esse contraste,
essa dualidade luz/escuridão. Essa experiência clareia a intenção de meu
trabalho em manter a firmeza e a constância, apesar de todas as intempéries do
mundo externo. Busco cultivar a leveza e espalhá-la, estando consciente de que
é assim que poderemos equilibrar o mundo.
Figura 15
Figura 16
Capítulo 3. METODOLOGIA
3.2.1. O nome
3.4.
Sobre o ensino de artes, dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
transcrevendo citação do artigo “Abordagens triangulares: reflexões sobre a
aprendizagem triangular da arte”, de José Mineirini Neto:
Essa é uma metodologia que viabiliza o encontro com o eu, com o outro
e com o ambiente ao redor. As atividades propostas podem ser em roda,
74
aulas da UNATI, e também com outros públicos. Primeiro, inicio com uma
dinâmica de automassagem para depois convidar os alunos a escolherem uma
dupla para que um aplique massagem no outro. Em seguida, faço uma
intervenção incentivando que as duplas se aproximem dos outros participantes
e formem um círculo perfeito, de maneira que todos os participantes podem dar
e receber esse toque fraterno e carinhoso. A receptividade para esse exercício
é sempre muito positiva, pois há aqui o elemento-surpresa que faz com que haja
encantamento, abertura ao outro e também a plena presença de cada um. A
primeira vez que, como aluno, conheci esse exercício, foi nas aulas da
graduação em disciplinas como Jogos Teatrais ou Laboratório de Corpo e Voz.
É um recurso utilizado para assegurar confiança e cumplicidade nos membros
da turma que, felizmente, foi um sucesso nas aulas da UNATI.
Essa dinâmica também pode se configurar como mais um elemento
propulsor da compreensão dos yama e niyama: é importante estar em harmonia
consigo e com o outro; é importante estar conectado com aquilo que é real, que
é semelhante a mim (apesar das diferenças), com a amizade e com a alegria.
Na leitura do livro “Ética, Valores Humanos e Transformação”, li que:
O educador que quer incluir os oprimidos, que pensa e age pelos direitos
daqueles que mais necessitam, que se doa um pouco mais além de sua carga-
horária fixa para realizar algo em benefício de alguém ou do planeta, se insere
no time dos lutadores da área da Educação.
São pessoas que acreditam, e que renovam com frequência suas esperanças
para prosseguirem no caminho, dando as mãos para outros que necessitam
desse apoio. Com carinho, dedicação e vivacidade o educador pode arquitetar
projetos impactantes, edificantes para seus educandos.
Além disso, é cabível afirmar que são portas de entrada para a difusão dos
princípios da Cultura de Paz e aplicação de dinâmicas de convivência, atreladas
aos documentos da ONU e UNESCO.
A ONU (Organização das Nações Unidas) e a UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) são as principais
referências mundiais com relação às decisões sóciopolíticas relacionadas ao
combate à violência, à desigualidade social e às injustiças. É desses órgãos que
78
Figura 17
9
https://nacoesunidas.org/em-dia-mundial-assembleia-geral-da-onu-e-palco-da-1a-aula-de-
yoga-em-sua-historia/
79
É diante dessa visão científica que quero possibilitar aos idosos a vivência
pacífica, amorosa, respeitosa e cooperativa das artes e do yoga, em um
casamento pedagógico que permita-lhes sentir alegria por fazerem parte de um
grupo e de um projeto fundamentado em raízes genuínas. Os mestres antigos
do yoga nos prometem a libertação, e nos pedem a disciplina e o firme
pensamento no momento presente.
Ao unirmo-nos com outras pessoas que estão em busca dos mesmos
objetivos, podemos nos apoiar em fortes inspirações a fim de prosseguirmos
em nossas práticas, e em nossos ideais. É por isso que a constituição de
comunidades de aprendizagem para idosos (e pessoas com 50 anos ou mais)
se faz tão importante em instituições educacionais.
Mas, fica aqui a pergunta: “Se não nós, quem?”, “Se não agora, quando?”
84
Figura 18
85
Figura 19
86
Figura 20
Dança
Teatro
Artes Plásticas Visuais
Música
Poesia
Literatura
Fotografia
Tecnologia
Cinema
Cultura
Sobre as pétalas maiores, que também são dez: concluo que, ao plantar
88
a flor do yoga em solo fértil e artístico, abrimos nossas mentes para refinar a
visão de mundo que já temos ou para recriar a compreensão sobre aspectos
específicos que permeiam a existência. As artes abrem espaço para novas
possibilidades na educação, por tocarem na subjetividade humana e auxiliarem
na conquista de uma consciência mais apurada sobre diversos temas.
Paz
Amor
Alegria
Aaaaahhhh educação
A canção do coração
Ensinamento Imensidão
Poesia e pulsação
A verdade e a intenção
De ensinar tantos irmãos
A descobrir quem eles são
A despertar para a missão
É a missão do educador
Espalhar a luz do amor
Transmitindo a informação
Aos seres que aqui estão
Todos os filhos do Sol
A chama de consciência
Nunca vai ser apagada
É só seguir na senda
Nessa sua linda estrada
Uma vida abençoada
Outubro de 2019
92
CAPÍTULO 4: UNATI
.
97
Figura 21
98
O homem que envelhece deveria saber que sua vida não está em ascensão
nem em expansão, mas um processo interior inexorável que produz uma
contração da vida. Para o jovem, constitui quase um pecado ou; pelo menos,
um perigo ocupar-se demasiado consigo próprio, mas para o homem que
envelhece é um dever e uma necessidade dedicar atenção séria ao seu
próprio Si-mesmo. Depois de haver esbanjado luz e calor sobre o mundo, o
Sol recolhe os seus raios para iluminar-se a si mesmo. (JUNG, 2000, p. 167).
A aula do dia 14/10 foi imensamente especial para mim; e esse foi um dos dias
mais especiais de minha vida, pois me senti amado e valorizado pelos queridos
alunos.
Nesse dia, nós chegamos e começamos a preparar as coisas para iniciar nossa
segunda aula da oficina de mandalas em fios de lã. Estávamos empolgados com as
mandalas que alguns colegas confeccionaram em casa, e com as próximas criações
a serem desenvolvidas. Quando me posicionei para começar efetivamente a aula, a
querida Darcy me gentilmente me interrompeu e solicitou a atenção de todo o grupo
para me entregar alguns presentes de todo o grupo pelo dia dos professores! Foi um
momento muito rápido, mas ao mesmo tempo emocionante. Senti como se eu
estivesse em um programa de televisão, pois logo percebi que aquilo havia sido
planejado por todos os participantes da oficina.
Ganhei chocolates gostosos, velas lindas, um origami maravilhoso em forma de
flor – uma rosa – confeccionado pelo querido Henrique, um gatinho chinês da sorte
que a prezada Sayaka me ofertou junto a bolachas doces japonesas, e dois cartões
com palavras maravilhosas de agradecimento e honras ao meu ofício como
professor. Na capa de um dos cartões, havia um desenho maravilhoso feito pela
aluna Simone Codo: nele estou sereno, em meditação, e atrás de mim o símbolo da
chama trina, sobre o qual sempre falo nas minhas aulas. Além disso, eles também
me presentearam com mais um envelope com uma quantidade de dinheiro para que
eu pudesse ter maior facilidade ao custear meus estudos e gastos gerais nessa
época do ano.
Eu me senti muito feliz, e abençoado. Fiquei realmente agradecido,
resplandecido, com muita energia e alegria. Essa ocasião foi um marco, pois foi o dia
da minha vida em que senti o quão vale a pena cultivar empenho e amor por um
projeto profissional e por um estudo prático. Serei eternamente grato a essa
gratificação maravilhosa que recebi.
Fiquei contente com a união do grupo e com essa habilidade coletiva de manter
100
essa surpresa em segredo para honrar essa data especial. Como é bom ver o grupo
se movimentando, se comunicando e fortalecendo vínculos! Durante todo o ano,
minha vida de prosseguir na UNATI só cresceu.
Na galeria de fotos, ao fim do trabalho, colocarei algumas fotos desse dia.
101
CAPÍTULO 5. YOGA
Durante toda a sua carreira, ele defendeu que yoga é sentir-se bem, é quando
10
Entrevista assistida pelo youtube através do seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=I-8JtUKmJz4
102
O termo hatha yoga, de acordo com sua raíz sânscrita, representa a união
(yoga) do “sol” (ha) e da “lua” (tha), o equilíbrio dos dois grandes princípios ou
aspectos dinâmicos do corpo-mente, representados pelos hemisférios do corpo e do
cérebro. Sobre isso, B.K.S. Iyengar (2001, p. 29), afirma que ““Ha” significa “sol”, que
é o sol do seu corpo, ou seja, sua alma; “tha” significa “lua”, isto é, sua consciência. A
força solar não apaga, em contraponto com a energia da lua, a qual mensalmente se
torna minguante e assim, ciclicamente, volta à plenitude desde o vazio. “
11
Essas são as nomeações em sânscrito dadas aos 4 tipos de yoga de acordo com o Bhagavad Gita,
106
o qual é considerado a bíblia hindu – um dos dos mais importantes livros dentro do aparato literário
dessa cultura. É recomendada a leitura do Gita para a compreensão mais aprofundada acerca do real
significado do yoga como filosofia.
107
Ao apresentar sua análise acerca da ética do yoga como escola conectada a outras
filosofias do oriente, Lia Diskin esclarece:
Asteya: não roubar, e nem querer adquirir aquilo que não lhe pertence. É uma
postulação que convida os praticantes a se distanciarem da necessidade de adquirir
algo que não lhe pertence, em relação tanto ao que é material quanto ao que é
ideológico. Em relação, por exemplo, às questões teóricas em uma pesquisa
universitária: é importante que sempre seja escrita a autoria das ideias e pensamentos
em um trabalho acadêmico.
Aparigraha: não cobiçar, não querer mais do que o essencial, não acumular bens
materiais e não sustentar compulsões em relação às compras, ao consumo e propostas
prejudiciais à vida dentro do sistema capitalista. De acordo com Diskin (1998, p.71),
“O apetite por coisas, a insaciabilidade por posses, é uma das características mais
marcantes do homem moderno. Esse apetite é alimentado pelos sistemas perversos
de propaganda e marketing que exploram essa “fraqueza” humana, procurando
transformar cada um de nós em consumidores costumazes.
Os niyamas são:
aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria” (Freire,
1997, p. 67) .Isso é santosha.
Tapas: disciplina e austeridade inteligente. O iogue sabe o que deve fazer diariamente
em relação ao seu sadhana, sua prática diária. É importante que ele não deixe a chama
da disciplina apagar em seu interior, e para isso ele precisa se esforçar
conscientemente para não se deixar levar pela preguiça, pelo desânimo e pelas
influências externas. Rubem Alves (1984, p.106) afirma que “é só do prazer que surge
a disciplina e a vontade de aprender”.
Sobre tapas, o filósofo iogue Tales Nunes, em seu livro “Yoga, Arte e Liberdade”,
afirma que “
O espaço de prática de Yoga, por mais que haja esforço sobre si
mesmo, disciplina, tapas, tem como objetivo fundamental a liberdade. O
propósito da disciplina é reconhecer as próprias barreiras, físicas e
emocionais, para então, perceber em si um lugar livre do precisar ser algo
além do que se é. Liberdade nunca é imposta, é descoberta.” (NUNES, 2017,
p.10)
Após os dois primeiros degraus do Astanga Yoga, podemos listar os outros seis.
É importante mencionar que esses passos não devem ser seguidos tal como uma
escada mas sim como uma espiral, tendo em vista que o praticante precisará sempre
retornar ao aprendizado de um para poder se aprofundar em outro. A imagem com
um caracol, inserida em uma das páginas seguintes, ilustra essa ideia.
natureza. Com as práticas de yoga, torna-se clara a conexão entre o ritmo dos
pensamentos, o ritmo do coração e o ritmo respiratório.
Quando se configura a agitação mental e o desequilíbrio emocional, a
respiração torna-se mais acelerada e até mesmo desordenada, ansiosa. Quando há
calma e tranquilidade, a respiração se faz mais lenta, até mesmo pausada; consciente.
A funcionalidade do pranayama consiste quando o praticante controla
voluntariamente a respiração, mediante esforço psíquico e físico, tornando-a lenta.
Com isso, ele altera seu estado no momento presente e acessa a sensação de
harmonia interior. Com essas técnicas que compõem o quarto anga do yoga,
aprendemos a ritmar a nossa vida pela respiração consciente, e isso traz inúmeros
benefícios.
Ao aprender pranayama, o iogue utiliza mais espaço de sua área pulmonar e
aprende a fortalecer sua musculatura abdominal e torácica em lugar de aproveitar
somente o diafragma e a área superior próxima da região clavicular. Isso faz toda a
diferença.
A respiração começa sempre no momento da expiração, e é recomendado
àqueles que já tem certa experiência na prática, que acrescentem pausas depois da
expiração e da inspiração, com o fim de aprofundar na consciência do controle do
alento. A respiração do yoga é feita pelas narinas, e os mestres antigos recomendam
que o tempo da expiração seja mais prolongado que o tempo da inspiração, pois esse
procedimento é imprescindível para que o estado de calma seja acessado, e os
sintomas de ansiedade sejam eliminados.
Prathyahara: essa é a quinta etapa, que pode ser definida como o estágio em que
ocorre a abstração dos sentidos. Prathyahara acontece quando o iogue percebe que
os ruídos de fora, a temperatura desagradável ou os ambientes esteticamente
desorganizados não mais incomodam. Há técnicas que auxiliam a conquista desse
aprendizado, o qual contribui imensamente para conquista de dharana, a
concentração, que é o sexto anga. Micheline Flak (2008, p. 20) descreve essa parte
do yoga como “saber relaxar para manter um bom nível de energia”.
momento em que houve a abstração dos sentidos. Para fortalecer dharana, podemos
propor atividades com música, com pintura de mandalas, danças com passos
repetitivos, confecção de artesanatos, etc.
Figura 22
1. Viver juntos.
2. Eliminar as toxinas e os pensamentos negativos
3. Colocar-se numa boa postura
4. Respirar bem e manter a calma
5. Saber relaxar para manter um bom nível de energia
6. Como o raio laser, concentrar suas forças
7. Ampliar sua consciência
8. Colocar-se no mesmo comprimento de onda que a fonte de toda energia
(ibidem, p.20)
115
Figura 23
116
Abaixo você pode ver algumas das árvores do yoga que as alunas da UNATI
produziram:
Figura 24
Figura 25
118
Figura 26
Figura 27
119
Figura 28
Figura 29
120
Figura 30
hatha yoga: Miila Derzett, autora dos livros “Relaxe!” e “Super Descanso” e Raquel
Peres, com quem estudei.
Nas aulas da UNATI, tentei aplicar técnicas de yoga restaurativa mesmo com
a escassez de acessórios. Na sala de aula, temos apenas a parede e alguns
colchonetes. Quando pude, levei eye pillows (travesseiros aromáticos para óleos, que
servem como pesinhos somáticos para estímulos sensoriais), óleo essencial de
lavanda e algumas mantas pequenas em dias frios. Houve momentos em que precisei
pegar blusas minhas de frio para cobrir alunas. Uma delas, Darcy, sentiu-se muito
grata em relação a esse cuidado que tive. E esse é um dos princípios do yoga
restaurativa: o afeto, a compaixão. Para Derzett (ibidem , p.9), “a restaurativa pode
ser conceituada como uma prática de posturas passivas do yoga, envolvendo o aluno
em acessorios – os props – para que ele consiga alcançar o realxamento profundo
com proteção, conforto e o mínimo de esforço.”
Outros pilares importantes que, junto à compaixão, compõem um tripé
metodológico são: a observação cuidadosa e constante do instrutor em relação ao
estado do aluno na postura, e o suporte a este com os materiais utilizados, de maneira
a garantir que ele se sinta protegido.
De acordo com minha professora Raquel Peres,
Figura 31
Figura 32
123
Figura 33
5.6. Meditação como técnica e como estilo de vida: texto complementar sobre
dhyâna
Como a árvore do yoga nos lembra, a parte mais bonita deste sistema é a
meditação. Em todas as aulas busco auxiliar as alunas a vivenciarem ao menos alguns
minutos de meditação sentada.
Não há apenas uma técnica de meditação, mas muitas. Elas se diferem na
duração e na aplicação prática – algumas são em silêncio, outras entoando ou
mentalizando mantras, etc. E todas elas podem trazer benefícios ao organismo,
sobretudo à saúde mental. São muitos os efeitos produzidos nas estruturas cerebrais:
Figura 34
dos zulus africanos. A resposta a essa saudação é "- Estou Aqui." Com os ancestrais,
aprendemos a nos olhar e relembrar no agora a beleza que há na criação, que tem
forma exclusiva em cada Ser. Namastê é a saudação que relembra que em mim e
em cada Ser há um qualidade luminosa que me une ao outro e a todos os seres e
que, independentemente de qualquer erro, apego ou defeito, eu recebo da vida todas
as oportunidades para ser feliz.
E a meditação é o caminho, o estilo de vida, ou o conjunto de uma ou mais
técnicas que vai me recordar disso, e manter a chama dessa recordação acesa. Nessa
terra de esquecimento é preciso se lembrar de manter essa chama acesa.
Meditamos para manter a mente tranquila, e também para aceitar suas
oscilações, e aprender a domá-las e, diante de nossa própria experiência, encaminhar
nossos pensamentos a uma frequência segura. Meditamos para nos tornarmos
mestres de nós mesmos. Meditamos para nos conectarmos ao silêncio e também à
sinfonia da natureza. Por isso a música e o som são reconhecidos como valiosos
instrumentos de cura, tendo em vista seu poder notável de harmonizar e centrar
nossos sentidos. Meditamos para lembrarmos de nossa verdade, a de que somos
parte da natureza, e de que temos todos os elementos dentro de nós.
Quando essa consciência estiver puramente fortalecida em nosso interior, não
teremos mais a necessidade de julgar, discernir, questionar excessivamente ou de
criar separação. Seremos pessoas criadoras de união, facilitadoras da paz e da
harmonia. Talvez você já seja, mas ainda não está plenamente consciente. Talvez
você já tenha essa consciência. Independentemente disso, a vida pede para que
continuemos meditando e nos aprofundando nesse caminho que é interior.
É importante reafirmar que nossa real natureza e essência é alegria, paz e
harmonia. É sentir amor por todos os Seres. É sentir entusiasmo em viver, e vontade
de vivenciar o novo. É amar sem medidas. É simplesmente Ser, sem receios ou
medos. Se não sentimos essa conexão natural, está tudo certo, já que nesse mundo
de oscilações e mudanças ainda há muita violência e tristeza. Mas cabe a nós nos
conhecermos e realizarmos aquilo que nos ajudará a nos reconectarmos com nossa
real essência e com a natureza. Para isso, a meditação é a chave para embelezarmos
nosso interior e sentirmos toda a paz que já está aqui dentro.
O carro chefe das técnicas de meditação é a respiração consciente e
aprofundada. Os exercícios corporais, tais como as posturas de yoga ou os
movimentos da dança, podem nos ajudar a integrar respiração ao pensamento calmo
126
e lúcido. As viagens podem nos ajudar a lidar com nossas dificuldades e medos, e
também a perceber o poder de atração do nosso pensamento em relação ao campo
de infinitas possibilidades do universo. As rodas, cursos, encontros, meditações
coletivas e vivências terapêuticas podem nos auxiliar a nos sentirmos menos solitários
e mais conectados a uma família universal de irmãos de caminhada. O silêncio pode
ser a trilha sonora de nossa casa interior. Dentro de um turbilhão de acontecimentos
e de pensamentos, há um templo interno silencioso e repleto de harmonia.
Por isso, a meditação pode - e deve - ser adotada como uma prática individual,
e também vista como um estilo de vida de quem se dispôs a despertar para uma vida
nova, e feliz. E contribuir para a cocriação de um tempo de mudanças. Lembrando
sempre das gerações que estão por vir. Lembrando sempre de que as possibilidades
neste universo são infinitas. Lembrando sempre que o sol nasce todos os dias nos
chamando para o recomeçar. Sem esquecer da fé, a sabedoria e do amor, para
alcançarmos a paz perene.
Figura 35
127
Sayaka, uma aluna muito querida que participou dos dois encontros da oficina
de mandalas (dentro das aulas de “Yoga, Arte e Autoconhecimento”), me agradeceu
antes do início da segunda aula presenteando-me com um um gatinho da “boa sorte”
oriundo da da China e me disse:
“Estou te dando esse presente já que você me trouxe energias positivas. (...)
Eu fiquei tão empolgada com as mandalas que nem vi o tempo passar, outro dia fiquei
até três horas da manhã fazendo as mandalas; eu fiz sete!”
Fiquei realmente surpreso e contente com essa fala da aluna, que descobriu
formas maravilhosas de tecer as mandalas. Fiquei feliz por ter acendido a chamada
da curiosidade, da vontade de criar e da alegria no interior dessa aluna tão especial.
Reflitamos aqui sobre o corpo do idoso, tendo como referência alguns estudos
relacionados ao conceito de corporeidade, que é um pilar humanístico da ciência que
relaciona o corpo com a sociedade e toca de forma sensível nas questões de
aprendizagem, subjetividade e qualidade de vida. O presente capítulo valoriza os
brasileiros José Hermógenes de Andrade Filho, Mirian Goldenberg e Regina Simões,
os quais pesquisaram – cada um à sua maneira– essa tão importante problemática na
130
6.3. A menopausa
dentro, ensinando-a a amar o processo que está atravessando à medida que ele se
desenrola. ” (WALDEN apud Sparrowe, 2002, p. 255)
Figura 36
132
Nas aulas, honramos uns aos outros como amigos e mestres. A proposta é que
todos se considerem iguais, cada qual com sua importância na roda, na comunidade
de aprendizagem. Entretanto, elegemos uma professora de yoga indiana como a
nossa heroína, e também a nossa meta de vida: Tao Porchon Lynch, a qual completou
101 anos de idade neste ano. Das profissionais ativas na área, em todo o mundo, ela
é a profissional com idade mais avançada.Na filosofia iogue, aprendemos que, antes
de começar uma meditação, é importante que estabeleçamos uma resolução – ou
aquilo que chamamos de sankalpa. Que haja um propósito firmado com clareza.
No começo dos dois semestres letivos eu exibi vídeos sobre a referida instrutora,
e propus que nunca nos esqueçamos de Tao Porchon Lynch, de modo que, se
podemos ter alguém em quem nos inspirar enquanto estamos no caminho do yoga,
ela é um notável exemplo de determinação, alegria e força de vontade. Que ela seja
o nosso sankalpa para a vida, o nosso espelho e norte. Que possamos viver muito, e
com qualidade e alegria, prosseguindo com nossas práticas e com tudo o que nos
alegra e vitaliza.
Fiz questão de imprimir dez frases positivas de Tao, e entreguei para os
participantes da UNATI no mês de setembro. E lemos todos juntos, prestando bastante
atenção na vitalidade dessa mulher especial. Algumas das frases que mais chamaram
a atenção dos praticantes, retiradas do site www.yoguistas.com, com livre tradução
minha:
“Vejo a beleza da natureza. Ela está me dizendo que até mesmo as árvores
se tornam mais bonitas na medida em que envelhecem. ”
“Não ponha uma quantidade grande de alimento em seu prato. Não coma em
excesso. Não preencha a sua mente com medo. O amanhã nunca chega, não
adie as coisas. ”
“As árvores com cem anos de idade ainda são recicladas e saem com novas
flores. Recicle-se. Saiba que a natureza fornece pistas para você viver. ”
(YOGUISTAS.COM, 2019)
Tao Porchon-Lynch já tem 101. A maioria das alunas têm em média, 60 anos,
sendo que boa parte ainda está na faixa dos 50. Minha intenção com essa reflexão foi
incentivar a persistência das atividades que efetivamente trazem benefícios ao corpo
e á mente. Peço aos alunos e alunas para nunca pararem, e colocarem-se sempre
como prioridades.
133
É por essa razão que nossos encontros semanais são tão importantes: eles nos
ajudam a resgatar a simplicidade da vida e o princípio de santosha, o contentamento.
O verdadeiro objetivo do yoga consiste no cultivo permanente desse hábito de
recordar os aspectos do Ser que nunca podem perdidos ou afetados. Evocando a
sabedoria de Deepak Chopra em “ As Sete Leis Espirituais da Ioga”, (2006, p. 38),
muitas coisas podem mudar na trajetória da vida: o emprego, o corpo, as relações, as
crenças, mas o amor pela vida e a alegria genuína que está com cada ser humano
desde sua infância sempre permanecerá.
Chopra reforça filosoficamente esse saber oriental : “Os seus pensamentos,
convicções, expectativas, metas e experiências podem vir e ir, mas aquele que está
tendo a experiência – o experimentador – permanece”.(ibidem).
Que a inspiração de Tao Porchon Lynch toque os corações de todos. Que vocês
possam conhecer um pouco sobre essa mulher tão especial nos registros da internet,
e que todos nós possamos chegar até os cem anos praticando yoga com essa energia
forte e vivaz!
Figura 37
135
Figura 38
6.5. Corporeidade
Todas as pessoas têm uma função social e uma missão de vida, um motivo
profundo para viver. O idoso é como todo ser humano, um ser psicossomático,
portador de necessidades inerentes à vida e deve ser respeitado, no que concerne à
saúde, comunicação educação e participação social. Deepak Chopra (2006, p. 37)
defende que cada pessoa reflita profundamente nessa fase de vida sobre a seguinte
pergunta: “- Como posso servir? ”, ou “- Como posso ser útil na sociedade? ”
. Concordando com a ideia de que isso é um fator essencial de motivação para
que a pessoa na terceira idade possa se sentir viva, pensei em trazer essa reflexão
para as aulas do segundo semestre da oficina. As práticas e as vivências artísticas
encorajam as alunas a estabelecerem um contato mais profundo e generoso com seus
corpos que, apesar de todas as dores e patologias, são perfeitos e inteiros.
De acordo com a estudiosa Regina Simões, é importante que o idoso ocupe
seu tempo livre com uma – ou mais - atividade física mediante orientação profissional,
para que possa se sentir adaptado ao meio ambiente e perceba que a velhice não
precisa ter um significado negativo associado à morte ou a doença.
É preciso que a pessoa encontre motivações para seguir caminhando, e não
deixar o corpo estagnar. Isso é de imensa importância para que a engrenagem vital
continue trabalhando. Dentro desse contexto, na UNATI incentivamos com nossas
práticas o encontro com o outro, o afeto, a criatividade, o acolhimento, a alegria e o
bem-estar. Também há a intenção de auxiliar cada idoso a aceitar-se tal como é,
136
“Existe uma vitalidade, uma força de vida, uma energia, um despertar, que é
traduzido em ação através de você, e porque só existe um de você em todos os tempos,
essa expressão é única. Se você a detém, ela nunca existirá por nenhum outro meio
e se perderá.” (GRAHAM apud GONÇALVES, 2016, p.6). Esta frase dita por Martha
Graham para Agnes De Mille, também estudante e praticante de dança, em 1991,
representa muito bem a proposta pedagógica investigativa de corpo e expressão que
proponho nas aulas.
No livro “Corpo sem idade, Mente sem fronteiras”, Chopra disserta que
configura como uma das principais modalidades físicas em boa parte das academias
da cidade de São Paulo. Além disso, essa prática psicofísica está sendo utilizada em
escolas formais, cursinhos pré-vestibular, espaços holísticos, instituições carcerárias,
projetos sociais e até mesmo no leito, em hospitais.
Diante da orientação de um profissional capacitado, todos podem praticar
yoga. Talvez a pessoa que apresente muitas limitações não possa praticar a maioria
das posturas, mas ela pode desenvolver sua capacidade respiratória com
pranayamas, e ela pode se aprofundar na respiração e no relaxamento.
Ainda sobre as vantagens das práticas regulares de atividades físicas:
Figura 39
6.7. Senescência
Diante desse contexto, é importante que deixemos clara aqui a diferença entre
os conceitos de senescência e senilidade. A senescência tem relação com a evolução
da pessoa no tempo em suas transformações fisiológicas que não caracterizam
doenças, e que são comuns a todos os seres de determinada espécie. Os fatores
característicos deste fenômeno não provocam encurtamento da vida. Em
contraposição, a senilidade é configurada quando o envelhecimento se mostra um
processo patológico – e há um desalinhamento biológico que leva a pessoa a
desenvolver questões fisiopatológicas. E nem todos os idosos precisam se encontrar
nessas condições.
Figura 40
“Não importa quantos anos você tenha agora, se até hoje foi sedentário, se
cultivou ou cultiva outros hábitos nocivos. Importa a conscientização e a
decisão de mudar. É claro que quanto mais cedo adotamos hábitos
saudáveis, melhor. Mas é claro também que, a qualquer tempo, os benefícios
aparecerão, como vários estudos têm comprovado. Segundo o “Estudo de
envelhecimento próspero” da Fundação MacArthur, o exercício físico é a peça
central do bom envelhecimento, “a coisa mais importante que um idoso pode
fazer para manter a saúde”.” (BARROS & DE LUCA, 2015, p. 21)
ressaltar que são observados efeitos positivos mesmo em pessoas muito idosas.
Judih Lasater, criadora do método “Relax and Renew”, recomenda que todas
as pessoas pratiquem yoga diariamente e que, na condição apressada e limitada de
ter pouco tempo para o yoga, a pessoa deva ao menos deitar-se na postura do
cadáver por alguns minutos. Mesmo nas posturas mais simples – e principalmente
nelas – o praticante pode ter a oportunidade de se aprofundar na sua respiração e no
ato introspectivo de permanecer em si, estando com os olhos abertos ou fechados.
Há posturas com permanência sugerida de minutos. A mais longa, em geral, é o
savásana, onde nós professores deixamos os alunos deitados de dez a vinte minutos.
145
Figura 41
Alguns pontos importantes a serem observados, com base na leitura do referido livro
são que:
conferidos a todos os sistemas biológicos humanos e, sem dúvida, essa prática pode
ser elemento preventivo e também terapêutico na direção da cura de todas as
questões acima relatadas.
Sobre hatha yoga, Hermógenes complementa:
O Hatha Yoga lhe dará repouso e recuperação diários. Como ginástica, pode
ajudar você mais do que qualquer outro sistema. Com sua prática, você
conseguirá restaurar suas forças exauridas, proporcionando aquela
sensação de férias bem aproveitadas. Como exercício, melhor do que
qualquer outro, será uma garantia contra o envelhecimento precoce, que está
se tornando caso geral nos dias que passam. Melhor do que qualquer
ginástica, manterá você em boa forma física, livre da fadiga, da irritação, do
desânimo, da neurastenia, do estresse onipresente, da sensação de quem
não tem forças para viver. (HERMOGENES, 2007, p.37 )
Alguns depoimentos:
“A prática de yoga semanal na minha vida
está sendo algo muito maravilhoso,
transformador. Está mudando a minha rotina
pois passei a praticar o relaxamento antes de
dormir – o que antes não fazia. E isso me
trouxe um benefício magnífico porque o meu
sono antes era agitado, eu acordava no dia
seguinte péssima. Hoje com a prática do
relaxamento eu consigo até relembrar dos
meus sonhos e os meus dias têm sido mais
leves e mais calmos. Tudo isso vai trazendo
um fortalecimento para a minha saúde física
e mental. (...) Estando bem relaxada e
tranquila, tudo flui melhor. A saúde, no
relaiconamento com os amigos e com a
família... Tudo isso são benefícios que o yoga
está trazendo para mim através do
relaxamento que tenho feito. E sou muito
agradecida. “
(Lia Meira, 29/9 em áudio de whatsapp)
De acordo com o professor Hermógenes, que praticou yoga até mais de 90 anos
de idade, a prática de hatha yoga combate pontualmente três questões sérias com as
quais toda a humanidade atual tem de lidar:
A ansiedade/estresse
A visceroptose
A normose
É geralmente depois dos trinta anos que se manifesta uma das mais
odiosas enfermidades, a que os médicos denominam de visceroptose.
Consiste na caída das vísceras, principalmente o estômago, que,
deslocando-se, cai da posição natural. Os portadores de visceroptose se
incomodam principalmente porque os órgãos escorridos para baixo do
ventre lhes dão uma proeminência que rouba vestígio de beleza do corpo
flácido. No entanto, as piores consequências da visceroptose não são as
estéticas, e sim as fisiológicas. As vísceras, pesadas e grandes, caem e
esmagam os intestinos, prejudicando-lhes os movimentos peristálticos.
(HERMOGENES, apud BEZERRA, 2019)
E, por fim, temos a normose, que, para Hermógenes, é a doença que faz com
que muitos indivíduos queiram se encaixar em padrões específicos, a fim de se
caracterizarem como “normais”. Para o especialista em yogaterapia, a normose faz
150
Figura 42
Figura 43
151
Transcrevo aqui um trecho do filme Eu Maior que exibi algumas vezes para as
alunas da UNATI, no primeiro e segundo semestre. Aqui ele explica com palavras
brilhantes o que é yoga, e como ele estava vivenciando essa prática com mais de
noventa anos de idade, um pouco antes de sua morte.
Figura 44
Um dos filmes mais importantes para meu estudo desse trabalho é “Acertando o
Passo” (Finding your Feet, 2018). Até o presente momento da escrita do TCC, este
longa-metragem ainda não havia sido exibido para as alunas. A intenção em exibir
esse longa-metragem foi a de incentivar a busca pelo novo na vida dos alunos da
UNATI. A trama do filme é simples: após ter sido traída pelo marido, a personagem
principal decide mudar-se para a casa de sua irmã que, por sua vez, insiste em levar
a protagonista às aulas de dança de salão de que participa. A partir disso, muitas
mudanças acontecem nas vidas de todos os envolvidos: novas relações, novas
descobertas, viagens, processos de perdão e cura e muita alegria.
O especial nesse roteiro é que o ponto de encontro – e de partida - para as
transformações ocorrerem foi um curso de dança para pessoas com 60 anos ou mais.
A história defende a importância do movimento e da arte na vida humana, assim como
o valor do encontro e das amizades. Tudo isso com o potencial de conferir suporte
emocional e combustível à resiliência para aqueles que precisam se abrir para o novo.
153
Assisti esse filme ano passado no cinema, e suas cenas clarearam minha visão sobre o que
tenho vontade de fazer na minha vida: projetos educacionais que impactem positivamente as
vidas humanas, na leveza, no bem e no afeto.
Figura 45
27-03-2017
155
Neste capítulo, vou explicitar um pouco mais como as aulas foram utilizadas nas
nossas aulas, enfatizando as danças circulares sagradas e as aulas de mandalas em
fios de lã – que foram as técnicas em que eu e os educandos mais nos aprofundamos.
Concordo com Tales Nunes (2017, p. 16), quando ele afirma que “A arte liberta,
ao elevar o indivíduo acima dele mesmo. E engrandece, ao trazê-lo de volta com um
novo olhar”. Identifico-me bastante com suas palavras no livro “Arte, Yoga e
Liberdade”, o qual acabei descobrindo nos últimos dias da escrita do trabalho. Ao ler
essa obra, consegui compreender melhor que não sou artista apenas pelo fato de
estar me graduando em artes e vivenciar por anos a linguagem da dança e
confeccionar as mandalas (além de ensiná-las também em minhas aulas fora da
UNESP). Sou artista também por utilizar meus dons, potencialidades, percepções e
intuições ao criar uma metodologia inovadora que exige de mim muita renovação,
criatividade e empenho para ofertar conteúdos tão bonitos e profundos aos
educandos.
Sou artista por me dedicar a tecer relações entre yoga e tantas linguagens
artísticas, e por permitir que os praticantes percebam que filmes, fotografias, músicas,
silêncios, coreografias, trabalhos artesanais e vivências corporais em grupo podem
não apenas trazer aprendizados edificantes sobre yoga e sobre as próprias artes
colocadas em vivência, mas também por auxiliar os educandos a acessarem suas
próprias potencialidades e “fontes de inspiração”, tal como o próprio Tales Nunes
afirma:
“Há muito de arte no Yoga e muito de Yoga na arte. A inspiração artística é
uma elevação. É um acender e ao mesmo tempo uma ascensão. Quando
expressa o sagrado, a arte reflete a própria fonte de inspiração. Quando
expressa o cotidiano, é a partir do estranhamento do artista e sua capacidade
de mergulho, sentindo em si aquilo que olha, ao mesmo tempo que ocupa,
sincronicamente, o papel de observador. Mesmo que expresse a dor, o
artista, no momento da criação, salta sobre ela e a transcende, para torná-la
materialidade.” (ibidem, p. 17)
Com base nisso, posso afirmar que os aprendizados são infinitos e o campo de
possibilidades que se faz na oficina “Yoga, Arte e Autoconhecimento” é imenso. Eu e
os alunos aprendemos fazendo, refletindo, indo para nossas casas, conversando nas
redes sociais, levando o yoga para nossas vidas, percebendo nossas alegrias e dores,
e reconhecendo que a vida pode ser surpreendente até o seu último instante.
157
Por isso somos um time de corajosos. Somos aqueles que escolheram viver à
favor da vida. E queremos compartilhar isso com mais pessoas. Queremos um mundo
melhor.
Dançar é algo que transcende culturas e épocas. É uma expressão tão natural
do ser humano, que se falar em dança traz imediatamente uma sensação de
familiaridade. Mesmo que você nunca tenha experimentado a dança, existe
um senso comum em relação ao seu conceito, senso este, que independe de
lugar ou período. (BERNI, 2002)
Figura 46
“As técnicas de meditação ativa são aquelas que, através do movimento, nos
levam a conexão com o nosso ser interior divino. Entre as técnicas ativas,
temos o hoje popular Tai Chi Chuan; algumas formas de Yoga; a Euritmia e,
surgindo agora no hemisfério Sul, as Danças Sagradas” (BERNI, 1998, p. 63).
Por fim, como afirma Marizilda Eid, “(... ) todas as Danças Circulares são um
convite para olharmos para nos mesmos e para o outro pois, afinal, estamos num
círculo e sempre existirão pessoas a nossa volta.” (EID, 1998, p. 156).
12 12
Aprendi essas danças circulares na UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da
Cultura de Paz), em cursos livres coordenados por Estela Gomes.
163
7.1.3. Danças circulares e a conexão com o corpo, com a arte e com a cultura
Sempre lembro meus alunos que todos já somos iogues desde antes de nosso
nascimento no planeta: por nove ou oito meses ficamos na barriga de nossa mãe em
estado meditativo, em ásana, mas não parados pois às vezes nos movimentávamos
em busca de conforto e estabilidade. Quando bebês, dentro ou fora dessa nossa
primeira casa, nós éramos plenos, felizes. Respirávamos com vitalidade, praticando a
respiração abdominal, lenta e profunda. Em nosso centro gravitacional, estávamos
conectados por um cordão àquilo que representava nossa maior conexão física com
a vida. É por isso que acredito tanto no yoga e na dança como ferramentas para o
retorno ao equilíbrio, já que, como humanos, estamos sempre querendo retornar à
paz interior. Cada um à sua maneira, alguns desenvolveram vícios e hábitos
perniciosos, mas outros se encontram com semelhantes na busca por atividades
saudáveis como essas que aqui estamos estudando.
O corpo pode, então, ser considerado nosso primeiro objeto de
autoconhecimento e por isso é essencial que, além de cuidar da saúde física, é
164
celebração pela chegada da primavera. Foi uma aula leve, dinâmica, e cheia de vida
na qual ensinei 8 danças que, em geral, os alunos consideraram de fácil assimilação.
No encontro seguinte, do dia 30/9, ousei ensinar danças um pouco mais
complexas e vejo que exigi bastante do corpo físico e também do raciocínio dos
praticantes. E eu também precisei me esforçar muito pois eu ainda não havia treinado
tanto quanto gostaria o ato de lecionar essas coreografias. Nesse dia, eu me senti um
pouco mal, me cobrei e achei que a aula não fluiu com tanta naturalidade. Por outro
lado, sei que propus um desafio aos praticantes, uma novidade, uma experiência que
os levou a tentar. Sempre recordo os alunos que, dentro da proposta do yoga, tentar
já é conseguir. Não é necessário fazer as coisas com perfeição: esse não é o objetivo
da prática. Mas tentar, se superar, galgar passos na direção do aprendizado
renovador, e tentar fazer isso com alegria e tranquilidade, isso sim pode entrar em
concordância com os princípios do yoga.
Ensinar dança é algo muito especial para mim. Quero estudar mais para poder
me aperfeiçoar e para solucionar dúvidas pedagógicas que ainda tenho. Sei que a
dança nos tira do lugar comum, e nos convida ao movimento consciente de todo o
corpo. E isso transforma a mente. Como o Professor Hermógenes diz, “Dança é coisa
séria. Mesmo que não se trate de dança mística ou dança clássica, mesmo a dança
despretensiosa dos jovens, do ponto de vista de propiciadora de saúde mental, dança
é coisa séria.” (2012, p. 198)
Trazendo o saber de Paulo Freire novamente à luz, em Pedagogia da
Autonomia:
Figura 47
Figura 48
169
Figura 49
Figura 50
Essas mandalas, os olhos de deus dos indios huichol mexicano, coloriram nossas
aulas do primeiro e do segundo semestre. Foram vivências de muitas descobertas,
que nos trouxeram encantamento e também nos convidaram à superação de
dificuldades quanto ao fazer artístico.
Ensino os “ojos de dios” desde 2013; tenho muito prazer trabalhar com a lã
sintética e com os gravetos e palitos de bambu que são utilizados como base para a
confecção da mandala. O nome da arte-educadora que me ensinou é Mila Bottura,
170
uma pessoa incrível que em uma tarde de sábado presenteou seus amigos com uma
oficina gratuita em um parque da Avenida Paulista. A descoberta dessas mandalas foi
tão engrandecedora para mim que decidi ir buscar aprofundamento com a Kátia
Erbiste, da Kamomilla Mandalas, que ministrou um curso de 16h/aula na Escola Arte
de Ser, na Lapa. Nesse curso, aprendi a tecer uma mandala grande, em uma estrutura
de madeira com cinquenta centímetros de diâmetro.
O significado deste símbolo é ancestral e xamânico: são objetos sagrados que
os pais da comunidade Huichol ofertam a seus filhos na intenção de assegurar-lhes
proteção espiritual. Foi isso o que aprendi com a Kátia e com a Mila.
Na mandala simples, de quatro pontas, cada extremidade representa um
elemento da natureza, e o centro representa o universo, o divino interior para cada
um, o centro da vida permeado por equilíbrio, foco e paz. Esse lugar central,
representa também, de acordo com a cultura xamânica, o mistério da natureza, a força
maior do Universo. “O UNO, o centro da mandala, foge a toda representação
intelectual, e vive, contudo, dentro de todos nós. Não poderemos encontrá-lo com a
ajuda da nossa vontade e do nosso intelecto, embora os dois participem do processo
e do caminho, nele adquirindo sentido e função.” (DHALKE, 2014, p.13)
Ao tecer as mandalas em fios de lã, iniciamos do centro ao enlaçarmos dois
palitos de tamanho igual ou semelhante. Em seguida, com o domínio de técnicas
simples, vamos expandindo o tamanho dessa mandala dando voltas que recobrem
essas estruturas de madeira ou bambu. Em pouco tempo, percebemos a forma de um
losango, e podemos trocar de cor sempre que quisermos. O trabalho acaba quando
os palitos são completamente preenchidos pelas lãs. Essa é a primeira técnica,
estruturada a partir de dois palitos; mas há técnicas para três, quatro ou até mais.
Ao adquirir a experiência, o artista pode ousar tanto na quantidade de palitos
quanto na complexidade das técnicas – e o interessante desse aprendizado é que ele
pode ser adquirido por tentativa e erro e também por intuição. Para aqueles que têm
vontade e paciência, as possibilidades de criação são muitas. Não é uma técnica que
exige muita habilidade manual, mas sim perseverança e conexão com as cores para
que a escolhas delas seja apropriada e afinada com o próprio gosto da pessoa.
As alunas adoraram. Algumas duvidaram de seus potenciais antes de iniciarem
a primeira aula de mandalas, mas houve muito sucesso na execução, por parte de
todos.
Esse foi o primeiro trabalho manual que eu aprendi a executar com gosto e com
171
confiança, e eu quis utilizar essa proposta como impulso para passar esse
conhecimento adiante aos meus amigos, alunos, colegas e familiares para,
posteriormente, abraçar as mandalas como eixo permanente de meu trabalho como
arte-educador e como instrutor de yoga e meditação. Já são mais de seiscentas as
pessoas que ensinei!
Esse é um trabalho corporal, de cuidado com o corpo físico, sobretudo com
relação aos punhos e dedos das mãos que são muito utilizados. Sempre precisamos
alongá-los, antes e depois do momento de tecer. É preciso que se observe a postura.
Sempre peço às alunas para se sentarem em algumas almofadas ou na cadeira, e
tentarem manter as mandalas em frente ao coração, como um convite para não haver
uma flexão demasiada na coluna cervical.
Esse é um trabalho mental, pois exige concentração (dharana). Exige calma,
também, pois assim como nas práticas de hatha yoga, nas vivências de meditação e
nas danças circulares, o ato de tecer mandalas nos coloca na condição de
observadores de nossos próprios pensamentos enquanto diminui os nossos ritmos,
os ritmos mentais e respiratórios.
Sempre brinco que além de formar artesão, eu também formo oficineiros.
Convido todos os alunos a compartilharem esse conhecimento com pelo menos mais
cinco pessoas. Eu proponho dizendo “ – Vocês topam passar adiante essa sabedoria
indígena, comprometendo-se a ensinar pelo menos mais cinco pessoas?”.
Felizmente, a resposta sempre foi afirmativa.
Nos dias de mandalas, um aprende com o outro. Eles me ensinam muito. Como
os materiais são de fácil aquisição, os educandos podem tecer as mandalas em casa,
e trazer para as aulas para mostrar seus trabalhos e trocar informações acerca das
diversas possibilidades de construir o seu próprio símbolo de proteção.
Fizemos exposição de nossos trabalhos em uma árvore do Instituto de Artes, e
em algumas outras árvores na entrada do prédio. No fim deste ano, após a entrega
do TCC, realizaremos uma exposição maior: já são mais de sessenta as mandalas
que iremos pendurar ao ar-livre!
A querida Lia, com quem tenho contato desde as aulas que dei no primeiro
semestre de 2017, cultivou um afeto imenso pelas mandalas em fios. Ela já me ajudou
muito ao ensinar outras colegas da UNATI, me dando uma grande assistência, com a
qualidade de sua imensa paciência. Ela criou técnicas novas, assim como sua amiga
Sayaka.
172
Figura 51
Figura 52
174
Figura 53
Figura 54
175
O aprendizado dos mantras conecta muitos alunos da UNATI a uma cultura até
então desocnhecida, e trazem às aulas a experiência do canto em um novo idioma.
Para muitos alunos, há uma sensação de satisfação, encantamento e muita paz.
Gosto de realizar parcerias com amigos músicos ou estudiosos de meditação
com mantras para que eles compareçam às aulas da UNATI e ensinem os mantras
de que gostam. As minhas colegas de profissão Drica Ribeiro, Ana Lygia Teixeira e
Cecilia Bianchini marcaram presença convidando os alunos a entoarem essas
palavras sânscritas e me ajudaram nessa tarefa de compartilhar esse conhecimento
tão especial.
Além dos mantras, gosto também de apresentar aos alunos canções de diversos
lugares do mundo que transmitem mensagens de harmonia e paz. Na maioria das
aulas me empenhei em imprimir as letras das canções para que pudéssemos cantar
juntos e também para que os educandos levem esse material para casa. Empenho-
me para enviar essas músicas por whatsapp e solicito a todos que não apenas
escutem essas músicas sempre que quiserem, mas que enviem às pessoas de quem
176
gostam.
O músico e educador Flavio Passos canta em sua música “Presente” o seguinte
trecho: “Venho assim lhe trazer um presente para que te lembres de teu lar / ao
vencedor da escola terrestre vem a luz do amor libertar”. Resgato essa poesia para
ilustrar minha intenção ao fazer questão de sempre trazer o elemento musical para as
aulas, pois eu acredito que elas também auxiliam o praticante em sua concentração
não apenas na sala de aula mas sobretudo no dia-a-dia. Essas músicas poderão
ajudar os alunos a recordarem algumas boa sensações que sentiram nas aulas e as
palavras repletas de positividade contidas em suas letras podem alegrar os dias tristes
e difíceis.
As músicas mais presentes em minhas aulas são as dos músicos
contemporâneos considerados “músicos de rezo” no Brasil: Flávia Wenceslau,
Chandra Lacombe, Nei Zigma, Daniel Moray, Flavio Passos, George Lucena,
Nadabhaktas, Paullo Henrique, Vivian Amarante, Cássia Maria e Marie Gabrielle.
Dentre os músicos internacionais, os que mais se destacam em minhas listas de
músicas são: Krishna Das, Snatam Kaur, Deva Premal, George Harrison, Beatles e
Guru Ganesha Band.
7.3.2. O silêncio
Quietude é a maior das revelações. Eu falo que [com ela, você] pode saber o
quão avançada sua prática é, e o que eu quero dizer com avançada é quanto
de yoga tem entrado em você, de qual profundidade. (...) O movimento só
tem valor no contexto a quietude. As páginas em branco de um livro só tem
significado porque a tinta da caneta é preta. Então conseguimos encontrar a
quietude dentro de uma postura ativa e podemos encontrar o dinamismo de
uma postura parada, esse éo yin e yang, isso é viver entre as respirações, é
escutar a música que existe entre as notas. (LASATER, apud DERZETT,
2015, p. 123)
participantes atendidos do projeto Artinclusiva UNESP (do qual fui educador bolsista
por dois anos) e, junto aos alunos da UNATI e a todos os envolvidos, cocriamos um
momento de inclusão, acolhimento e muita paz. Foi uma imensa satisfação.
Os jovens do Artinclusiva, os quais são pessoas tidas como deficientes (por
apresentarem questões de comprometimento cognitivo e por serem psiquiatricamente
tratados) em geral permanecem em apenas um ambiente da universidade vivenciando
as propostas artísticas propostas pelos voluntários e bolsistas envolvidos nessa
extensão universitária. Como eu já tenho certa experiência com o projeto, decidi
integrar as turmas e levar todos para um lugar novo, a biblioteca – em uma ocasião
celebrativa: a semana da biblioteca na UNESP.
Creio que todos ficamos surpresos com a maneira como as coisas aconteceram.
No início um pouco agitados, os meninos que são diagnosticados como autistas
conseguiram se acalmar e participar da atividade com os cantos. E a Drica Ribeiro,
que estava conduzindo as dinâmicas de cantos conseguiu com muito respeito e
carinho lidar com algumas intevenções sonoras e com a diversidade do público.
No início tive um pouco de receio. Olhava para alguns funcionários da
biblioteca e para os monitores educadores do Artinclusiva para me certificar de que
estava tudo bem. Por alguns minutos fiquei em dúvida se havia feito a coisa certa,
mas quando percebi que havia envolvimento, curiosidade e muito amor, e que essas
virtudes estavam fundamentadas no acolhimento, eu consegui relaxar e desfrutar da
atividade. Creio que essa tenha sido a proposta pedagógica mais ousada que eu já
realizei na UNESP e talvez até na minha vida – e por ousar, consegui alcançar um
nobre objetivo: o de incluir e o de fazer a diferença na vida das pessoas. Os
depoimentos que colocarei abaixo ilustram um pouco melhor as sensações dos meus
alunos da UNATI, da musicista Drica Ribeiro e dos arte-educadores que acompanham
os jovens do Artinclusiva toda semana. Com essas palavras, vocês conseguirão
compreender um pouco melhor a beleza desse encontro cheio de vida e de amor
fraterno.
Depoimento de Henrique:
Boa noite . Depois da aula de hoje impossível ser a mesma pessoa. Quantas
reflexões lições e aprendizados sobre tolerância e empoderamento. Mágico
poder estar presente nessa vivências únicas. Levarei pra sempre no meu
coração. Gratidão ainda é pouco pelo experiência e desprendimento do ego
de todos. Todos buscando a harmonia Excelente semana a todos ! Gratidão
Professor!
179
Depoimento de Vera:
Depoimento de Lia:
Gratidão é a palavra por ter participado deste momento tão precioso ! Amor
e muita Luz a todos da Artinclusiva! Somos todos especiais!
Depoimento de Denise:
Pela primeira vez na minha vida tive a oportunidade de participar de uma aula
de yoga de meditação com mantras. Nunca pensei que fosse tão
interessante. Atingi uma grande paz interior e um intenso relaxamento mental.
Foi muito gratificante. Obrigado Ricardo Henrique por me trazer uma nova
visão da prática de yoga e por me proporcionar momentos de alegria e
felicidade.
Depoimento de Moira:
Depoimento de Miriam:
Uma experiência única dançar com essa turma especial. Todos somos
parecidos e únicos. Grata a todos.
Muito obrigada por ter me chamado para essa oportunidade. Fiquei muito
contente. Eu trabalhei um período com crianças e adolescentes inclusivos,
então foi por isso que foi mais fácil para mim.
Eu te agradeço imensamente por você me chamar para participar de suas
alegrias.
Estamos juntos. Eu te agradeço de coração por ter conhecido todas essas
pessoas maravilhosas.
Depoimento de Débora:
Muito grata, por uma tarde tão especial e enriquecedora
Depoimento de Ilsa:
Trabalho gratificante . Só evoluímos neste mundo, parabéns.
O filósofo Thich Nhat Hanh, uma grande referência para mim e para os alunos,
caracteriza essa amizade que está sendo construída entre eu e meus alunos da
UNATI, e também entre eu e meus parceiros de trabalho convidados para as aulas,
como “Maitri”, um termo bastante conhecido na cultura budista, o qual pode ser
traduzido com bondade amorosa, algo que associo ao termo amor fraterno. Eu
realmente acredito que podemos cultivar e expandir amor fraterno ao conduzir aulas
de paz e de transformação com yoga e artes.
A “Mandala de Conexões” nos conecta também a esses sentimentos genuínos
que nos trazem bem-estar e abrem espaço interior para a fluidez de pensamentos
amorosos. É por isso que conseguimos com sucesso alcançar sensações benéficas
em nossas aulas e, em muitas semanas, sentimos essas sensações ressoando em
nossos organisos e em nossas mentes.
Juntos somos muitos nessa corrente de união. Quanto mais nos esforçarmos
para encontrar nossa real missão e para estar ao lado de pessoas que também estão
nessa mesma busca, mais seremos recompensados com momentos repletos de
maitri, de sorrisos e abraços carinhosos.
Quanta coisa experimentamos até aqui! Foram experiências realmente vivas, que
nos ajudaram a conhecer novas possibilidades de expressão, de criatividade, de
vínculo e de movimento. O movimento que é aspecto inato de nosso viver, já que a
vida sempre vai continuar em movimento, até mesmo depois que cada um de nós se
despedir desse planeta. Os ecos de tudo o que construímos, de nossas histórias e
ações, de nossos amigos e filhos, tudo isso continuará se movendo e ressoando nas
pessoas e lugares onde deixamos nossas marcas.
As artes nos ensinaram que os aprendizados e suas possibilidades não podem
acabar, e que nós sempre teremos novidades para destrinchar, em relação aos
saberes culturais e em relação a nós mesmos. Por isso, não há a necessidade de
estagnação ou desânimo. As pausas para descanso são bem-vindas, assim como as
férias e os retiros. Façamos savasana, meditação, deitemos e nos entreguemos à paz
interior, mas não nos deixemos estagnar em consonância com sentimentos de tristeza
que nos coloquem para baixo.
Aprendamos com as mandalas em fios, que nos exigem persistência e
centramento. Sua confecção, que nos pede um constante movimento dos dedos, dos
braços, dos punhos e a coluna alinhada. Mas, mais do que isso, o trabalho com as
182
mandalas solicita um foco na mente para que haja harmonia na forma, na cor e na
firmeza do trabalho. E que isso auxilie a mente a descansar, e desfrutar do momento
presente.
Sentir a vida fluindo por nossas células nas danças a partir de diversas
sensações: a satisfação, a pulsação do coração, o cansaço e a vontade de se
movimentar mais. A força da dança é imensa, e é importante que nunca paremos. Na
dança circular, mesmo que nos cansemos temos alí nossos colegas para nos ajudar
a prosseguir. Às vezes nossos pensamentos ficam agitados na hora da vivência, e
temos receio de errar ou de “não fazer bonito”, mas podemos simplesmente
abandonar as preocupações e, mesmo que não façamos os passos da forma correta,
podemos escolher prosseguir, olhar à frente e sorrir prestando atenção em todas as
coisas boas naquele espaço e nas pessoas que estão alí em celebração e
concentração. As danças nos ensinam tanto, pois elas nos desafiam ao mesmo tempo
em que nos acolhem.
Anodea Judith, estudiosa norte-americana do yoga moderno, disserta acerca dos
movimentos do viver, em seu livro “Rodas da Vida”:
Você está vivo. É uma onda de movimento. Dentro de você, nada está
verdadeiramente em repouso. Nada em torno está estático. Tudo muda
constantemente a cada minuto. Cada som, cada raio de luz, cada
respiração é uma oscilação, para frente e para trás, em movimento
constante, oscilando, fluindo. Um fluxo de mudança constante, fazendo
cada momento diferente do anterior” (JUDITH, 2007, p.130)
até hoje nos trazem encantamento e algumas lágrimas: Walter Franco, Maria
Bethânia, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roupa Nova, Rubinho do Vale, Milton
Nascimento, Almir Sater, Dércio Marques, Deborah Blando. São tantas palavras
lindas para compartilharmos! São tantas mensagens de paz e de esperança!
7.7. As palavras
A autora do poema, que se tornou minha amiga, sobre a escrita dessas lindas
palavras:
Em razão disso, e porque eu li muito a vida inteira (...) Eu gosto muito de
escrever, de poesia e de você! Eu gosto muito de pessoas boas, e Deus põe
muitas pessoas assim em minha vida. Eu falei aquilo que o meu coração disse
(...)”
Depoimento de Darcy, por whatsapp, em 20/10/2019
Com imensa gratidão pelos presentes que recebi, fecho esse capítulo com
algumas palavras que espelham o que agora estou sentindo:
GRATIDÃO
UNIÃO
SABEDORIA
AMIZADE
FÉ
PUREZA
VITALIDADE
CONFIANÇA
187
Palavras
Por conta disso a Organização das Nações Unidas delegou à UNESCO a missão
de expandir mundialmente uma Cultura de Paz e
mudança que você quer ver no mundo”. Ele também disse que “Não existe um
caminho para a paz. A paz é o caminho “ (GANDHI apud VON, 2006, p.5). Mas
precisamos fazer isso com calma, lembrando que cada um tem o seu tempo para a
assimilação de aprendizados e que muitas pessoas ainda não reconhecem que é
possível viver em harmonia nas relações, e que a violência não é necessária como
solução para nossa convivência como humanidade.
De acordo com Paulo Freire (1889, p. 17) “Temos de respeitar os níveis de
compreensão que os educandos -não importa quem sejam - estão tendo de sua
própria realidade. Impor a eles a nossa compreensão em nome de sua libertação é
aceitar soluções autoritárias como caminhos de liberdade.” Ou seja, para educar pela
paz, é preciso que observemos se ainda há dentro da nossa postura educadora algum
aspecto que se associe ao autoritarismo, o qual caracterizava grande parte dos
sistemas educacionais no passado.
Lembremos que “Educar é viver com o outro, demonstrando respeito para dar
ensejo a ele de aceitar-se e se respeitar. É só por esse caminho que o educando terá
condição de aceitar e respeitar o outro.” (FILHO, 2010, p. 55). Não podemos mais
pensar em educação sem falar de paz.
É cordial mencionar aqui que paz não é a ausência de conflito ou de guerra, mas
sim algo que se estabelece com muito trabalho, confiança e respeito nas relações
entre todos os Seres, em todos os âmbitos, sobretudo na política e nas religiões. A
paz é urgente, e ela precisa ser valorizada em todas as organizações educacionais e
espalhada como informação e como vivência para educadores e educandos.
Não há mais tempo nem espaço para armas nem guerras políticas. Não
podemos admitir o preconceito e a discriminação social. Não podemos também
perpeturar a valorização daquilo que não pode de modo algum auxiliar no equilíbrio
humano: a ansiedade, a pressa, o consumismo, a competição, o egoísmo, a maldade,
a morte, o descaso, o desamor. É preciso que haja autotransformação. Por isso,
vamos nos informar e tentar compartilhar essas informações com nossos meios de
estudo, habitação e trabalho.
Todos somos agentes da Cultura de Paz, e nossas ações em direção à paz
interna e externa são muito importantes para o equilíbrio do mundo. Estamos entrando
em um novo tempo, no qual novos paradigmas estão ganhando espaço após décadas
de esforço por parte de mestres espirituais, intelectuais, cientistas, mães, pais, filhos
e muitos Seres que – em silêncio ou em voz alta – lutaram para expandir a paz em
191
seus meios de convivência. A cada dia mais pessoas despertam para seus
propósitos e para suas missões. Elas também estão compreendendo a cada dia um
pouco mais sobre sua essência, que é de amor, de conexão, de cuidado e de
acolhimento.
Ler o livro “Esteja em Paz e sem Medo”, da escritora Sonia Café, é aquecer o
coração de esperança quando ela nos conta que:
"Há mais de 2 mil anos vem sendo criado na Terra o contexto no qual as
doenças do medo e da guerra podem ser inteiramente curadas. Houve
chamados, e muitos os têm escutado. O poder da compaixão e o poder de
amar e perdoar uns aos outros, desde então, têm sido experimentados por
(...) seres humanos. Se não fosse assim, talvez a sua espécie já não mais
existisse. Os que vibram com os acordes discordantes do ódio e da guerra
ainda não abriram os olhos e o coração (...); permanecem fechados na
percepção exclusiva do ego humano. Eles lutam por um amor e justiça vistos
como algo externo a si mesmos, sem saber que ambos já se encontram
dentro deles.” (CAFÉ, 2003, p. 115)
Novembro de 2018
193
Como educador, passo por desafios quando preciso lidar com as frustrações das
alunas. Ainda preciso aprender a aceitar melhor que nem todos vão se identificar com
minhas dinâmicas de aulas, até porque essa metodologia ainda está em sua fase de
nascimento. No segundo semestre uma das alunas infelizmente não quis continuar
frequentando as aulas; ela disse que seu interesse estava centralizado na execução
das técnicas do hatha yoga, sobretudo nas posturas. Tive uma conversa com ela por
telefone e, confesso que fiquei um pouco frustrado e por alguns minutos me senti mal.
Fiquei pensando se deveria ter feito diferente, para atender às expectativas dela, mas
desde o início do semestre eu deixei claro que as aulas não trariam como foco as
posturas de yoga e a meditação sentada, mas sim forneceriam à turma conhecimentos
teórico-vivênciais diversos que trouxessem à luz os principais aspectos dessa filosofia.
Foi crucial para mim ter iniciado os atendimentos em psicoterapia em 2013 e ter
colocado como prioridade essa prática em minha agenda semanal. A prática do
autoconhecimento com o auxílio de profissionais da saúde e da educação se insere
no princípio clássico de swadhyaya, autoestudo. As reuniões com Maíra e Lilian
(orientadoras da UNESP) também me ajudaram muito a olhar para minhas frustrações
e medos, e superá-las. O fato de elas se identificarem com as qualidades terapêuticas
da arte e da educação me ajudou muito a superar esses receios, e ter a coragem de
ousar, e de propor nas aulas aquilo que realmente faz sentido para mim.
No fazer educativo, nós educadores precisamos lidar também com as dores
humanas. As dores que se configuram do físico ao mental, e que podem ser muito
profundas. Essas dores se relacionam com a ancestralidade, com o histórico humano,
com as questões do “ser mulher” e com a velhice. É muito profundo.
9.2. Autoconhecimento
Evoco Jung em sua conhecida frase: “Conheça todas as teorias, domine todas
as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana “.
Conheci essa colocação deste importante psicoterapeuta no curso de formação em
yoga restaurativa com a professora Raquel Peres. Nesse curso eu passei muito tempo
194
Dentre os livros que estudei, um dos que mais gosto é “Educação, Espiritualidade
e Transformação Social”, organizado por Dora Incontri. Essa obra compila textos
195
acadêmicos que colocam a espiritualidade como tema principal, e tem o mesmo nome
de um congresso que ocorreu no mesmo período de seu lançamento editorial. Eu
estava presente, e pude conhecer alguns dos autores.
O texto que mais me engrandeceu foi o de Jonas Bach Junior, pós-graduado
da UNICAMP que dissertou sobre Rudolf Steiner e Paulo Freire e suas semelhanças.
No texto “ A evolução da consciência humana: espiritualidade e política num diálogo
entre Paulo Freire e Rudolf Steiner”, ele destaca a liberdade como foco das propostas
pedagógicas de ambos. Ele também fala sobre a dor humana:
No fazer educativo nós também lidamos com dores, e a cada aula propomos
reflexões para a superação de dificuldades e imperfeições, sempre na direção do
novo. Queremos ir além dos pensamentos antigos e ultrapassados e de tudo aquilo
que anteriormente aprisionou a mente humana. Queremos plantar sementes da paz
e, tal como muitas comunidades indígenas almejam, honrar as gerações que virão a
fim de deixar para elas um mundo melhor.
Ainda evocando Jonas Bach Junior:
Uma das alunas, Bete, me enviou alguns áudios por whatsapp me contando
sobre suas dores da fibromialgia. Ela tinha receio de ter essas dores agravadas pela
prática, e não é fácil para mim conseguir dialogar sobre essas questões, pois o yoga
trabalha com as dores e coloca os alunos frente-a-frente com sintomas das doenças
que ainda os acometem. Não pude prometer que ela iria melhorar, pois sei que há
questões neurológicas e emocionais envolvidas, entretanto eu me comprometi a
ministrar aulas tranquilas, que trouxessem relaxamento e muita paz para ela. Tento
incentivar os alunos a prosseguirem, apesar das dificuldades. Mas não posso fazer
milagres, e nunca achei que poderia. Mas acredito que a força do coletivo e a
expansão da alegria interior pode ajudar muito.
Falando por mim, agora em meados do mês de outubro: eu olhei para muitas
dores nesse trajeto de teoria, prática, estágio e pesquisa. E me vejo dotado de uma
alegria mais consciente, um contentamento que se estabeleceu advindo da ação
criadora e de um ano de muito trabalho. O caminho foi difícil, mas eu me convidei
seriamente a me comprometer em finalizar a graduação realizando um trabalho que
fizesse real sentido com minha trajetória e com aquilo que eu mais amo estudar.
[...] a sabedoria da alegria nos leva a viver no meio do mundo para abraçar
suas contradições e tentar ser como um fermento na massa, contribuindo para sua
transformação. A sabedoria da alegria rima com comprometimento.
Por amar intensamente a vida, e a vida por inteiro, sei que ela é
infinitamente preciosa. Por ter sofrido e superado esse sofrimento para transformá-
lo em alegria, conheço o valor da vida. Desde então defendo constantemente o seu
desenvolvimento pleno, não só para meus irmãos e irmãs humanos, mas também
para todos os seres vivos. (LENOIR, 2016, p. 130-131)
algo novo em benefício de quem mais precisa: os idosos, as crianças, aqueles que
sofrem em virtude de alguma patologia ou aqueles que por quaisquer razões foram
vítimas de violência ou preconceito. É por isso que me identifico com Tião Rocha e
José Pacheco, que abraçaram o Brasil e realizaram ações educacionais inovadoras,
como as escolas de baixo de um pé de manga no Vale do Jequitinhonha e o Projeto
Âncora. Essas iniciativas mobilizaram positivamente a vida de milhares de crianças e
adultos brasileiros.
Evocando novamente a sabedoria Paulo Freire, relembrando suas críticas aos
paradigmas antigos da prática de ensino, reforço aqui que educar não é apenas
transferir ou compartilhar conhecimentos, mas pedir licença para – respeitosamente –
mobilizar vidas na direção da liberdade. Essa libertação não deve ter limites e nem
preconceitos, e pode ser econômica, cultural, artística, intelectual ou física. E aquele
que educa precisa se empenhar para estar sempre forte e consciente em um mundo
de tantas transformações e contradições.
É essencial que o educador se cuide, e se respeite, tentando não ultrapassar
seus limites e se observando para não assumir funções e tarefas demasiadas.
Podemos olhar a pedagogia não apenas como um estudo prático-metodológico
e teórico, mas também como um estilo de vida. Educadores que trabalham com o
coração, e que amam o que fazem podem realmente transformar as vidas de seus
educandos ao se transformarem praticando aquilo em que acreditam.
No seu livro “Educar com o Coração”, a educadora Eugenia Puebla reflete sobre
a educação ao afirmar que:
Em relação aos educadores, defendo aqui que sua prática pedagógica seja
fundamentada em três qualidades principais:
A ternura
A responsabilidade
A qualidade da ternura
O educador terno dos tempos atuais deve essencialmente saber acolher com
respeito e com atenção, cultivando a potencialidade sensível de perceber as
condições particulares de cada pessoa envolvida em suas aulas. Educar, nessa linha
de pensamento, envolve empatia e positividade no caráter do profissional que leciona.
Tião Rocha escreveu que a “Educação é o outro nome que se dá a esta relação
que só existe e teima em se realizar no plural. É impossível existir educação no
singular. Poderá haver outra coisa, instrução ou ensino, mas nunca educação. ” 13
(ROCHA, 1991, p.2) . E defendemos aqui uma educação que contribua para que as
pessoas queiram sempre voltar à sala de aula, e que alimentem em relação à figura
de seus colegas e professores a confiança e a serenidade, o sentimento de que não
estão sozinhos.
Simone Codo, uma das alunas da UNATI, nos presenteou com uma frase muito
especial um dia em uma de nossas rodas no início das aulas: “é muito bom saber que
vocês existem, e que tenho as segundas-feiras para encontrar essa turma na
UNESP”.
13
Frase extraída do texto “A Função do Educador” (1994), de Tião Rocha, encontrado no seguinte
site: https://social.stoa.usp.br/articles/0015/9013/A-funcao-do-educador-por-Tiao-Rocha.pdf
202
A força da responsabilidade
urgência global, temos em nossas mãos algumas chaves para melhorar aquilo que
está ao nosso alcance: nossas casas, nossos ambientes de trabalho, e nosso entorno.
Que tal se pudermos começar por nós mesmos?
Essa é mais uma das razões pelas quais o conhecimento filosófico do yoga pode
auxiliar o educador contemporâneo a se fortalecer em sua caminhada. A educação
sustentada pelos princípios iogues, tida como seva e sustentada pelo sadhana, pode
surpreender a todos os envolvidos – e foi exatamente isso o que aconteceu na oficina
14
O autor se refere ao Bhagavad Gita, um dos livros mais importantes da literatura hindu e uma
importante referência para o estudo da filosofia do yoga clássico. Nesse livro há os personagens
Krishna e Arjuna, e a trama da história gira em torno dos diálogos de ambos em meio a uma imensa
batalha travada entre familiares. Krishna é a alma dentro de nós, e Arjuna é o guerreiro que existe em
cada Ser que luta para encontrar a quietude e a paz. É uma metáfora da batalha interior que acontece
em todos os seres humanos.
204
Amor maduro
Por isso desejo continuar com as aulas de Yoga na UNATI por mais tempo. Quero
aproveitar ao máximo o contato com esses novos amigos que fiz. Aprender junto,
honrando essa oportunidade de nos conhecermos. Que a minha jovialidade e vontade
de descobrir e conhecer as coisas do mundo possa se somar à experiência de vida e
ao intento de unir saúde, sabedoria e serenidade ao viver de cada um dos educandos.
E que, como resultado dessa soma, possamos multiplicar mais e mais sementes de
paz pelo mundo!
A experiência viva de educar, pois, consiste em
Quero também poder dar aulas de yoga e artes para crianças e adolescentes.
Dessa forma poderei utilizar este presente estudo para a prática docente direcionada
às gerações que vieram depois de mim. Quero poder estudar mais, e me apropriar da
“Mandala de Conexões” para as aulas da Casa Paz e para todos os projetos que
almejo realizar. Quero poder a cada dia melhorar minha atuação profissional mas o
mais importante é que eu faça isso com a felicidade e a equanimidade dos iogues,
com o amor e a curiosidade dos meus alunos e com o sorriso e a alegria das crianças.
O meu maior sonho é viver por muitos e muitos anos de forma confortável (em
todos os sentidos), sendo educador, compartilhando felicidade com muitas pessoas.
Quero poder servir de inspiração às realizações de outros sonhos, e espero
206
testemunhá-los ou até mesmo fazer parte deles. Espero ser um bom agente de Cultura
de Paz em benefício da humanidade, dos animais e da natureza.
Todos aqueles que foram iniciados na árvore do yoga, ou seja, apresentados aos
yamas e niyamas como raízes e troncos de nossas trajetórias rumo ao topo da vida,
rumo à samadhi, temos o conhecimento do yoga. Por conseguinte,
independentemente de sermos profissionais da educação ou não, a partir do momento
em que intencionamos florescer (realizando nosso trabalho no mundo) - e gerar frutos
(por exemplo planejando ter filhos ou iniciando novos projetos que possam ajudar as
pessoas e o planeta) - nós assumimos uma responsabilidade genuinamente
importante. A responsabilidade de ser ético e consciente. E isso ninguém pode tirar
de nós.
Leonardo Boff, em seu texto “Florescer”, o qual pode ser lido no blog deste
educador, reflete sobre consciência e a nossa missão individual e coletiva:
“E pensar que toda esta maravilha, gerada pela Mãe Terra, pode um
dia desaparecer devido ao nosso estilo de habitar, sem o devido cuidado,
para com os equilíbrios do sistema-vida e do sistema-Terra pois
estabelecemos, já há centenas e centenas de anos, uma relação de agressão
e de uso meramente utilitário dos bens e serviços que nos são gratuitamente
oferecidos. Em vez de guardiães do jardim do Eden nos fizemos o Satã da
Terra, aqueles que cortam as hastes e impedem que os botões virem flores
e rosas. (BOFF, 2012)
O yoga nos ensina isso, a a prática de meditação deve ser constante para nos
lembrar de que já nasçemos felizes, e precisamos realçar no silêncio e na respiração
tranquila essas virtudes e potenciais que podem realmente fazer a diferença na vida
de um ser humano. Podemos então, pensar na vida na Terra como uma escola, uma
imensa comunidade de aprendizagem que está em processo de revitalização, e nós
que somos seus estudantes mais atentos e aplicados precisamos rapidamente
assimilar os saberes que nos são transmitidos e também colocá-los em prática a fim
de evitar tragédias maiores no futuro.
“Cuidar é infinito. O que que quer dizer cuidar? Cuidar é você perguntar se o
teu empreendimento cuida de alguma coisa. Cuida de uma comunidade, de
um propósito, de qualquer ocisa. Se você consegue responder a pergunta,
legal: voce está preparado para essa transição. E Talvez no futuro, a gente
em vez de perguntar “- Ah, você trabalha com que? A gente vai perguntar “-
Ah, você cuida de que?”” (DEHEINZELIN, 2017)
A missão é a certeza
Da autorrealização
De agir com proeza
Pra chegar no coração
E caminhar com pureza
Nesse mundo de ilusão
E caminhar na beleza
Para além da ilusão
É sentir a natureza
Acender a luz então
E curar a dor da infância
É amar o seu irmão
12-05-2019
210
Capítulo 10 - Conclusão
em frente. Sabendo que poderá contar com seus amigos da UNATI ou na comunidade
de aprendizagem da qual você faz parte, siga ensinando o que aprendeu, diante de
sua integridade. Seja você, na confiança realista de que só existe você tal como é, em
uma união única e imensamente especial de qualidades e virtudes humanas. Você é
um agente da Cultura de Paz, e faz parte de sua história fazer o bem enquanto busca
a sua felicidade. Por favor, nunca se esqueça disso.
A vida é uma jornada que mobiliza nossas consciências, e que muitas vezes nos
pede para dançar criativamente em meio ao desconhecido ou às turbulências do
caminho. Por isso, viver é para todos nós, corajosos, amantes da alegria. Nós, que
escolhemos dialogar com a vida, e colaborar com aquilo que é bom. Nós, que
acreditamos que o amanhã poderá ser melhor, sem tanto medo, sem tanta ansiedade,
mas com a presença e a disponibilidade que a nossa própria consciência nos ensina.
Recordo aqui um trecho da música “Soldados de Luz” de minha amiga
Valéria Pontes, e encerro esse excerto com a seguinte poesia:
“Soldados de luz
Com sementes de amor
No útero da Terra
Vão plantando a paz
(...)
Firme e fortes sigam a direção.
E parem de olhar pra trás
Que o passado se desfaz.”
(PONTES, 2015, p.85) 15
15
Conheci essa música na Sagrada Casa dos Peregrinos de Gaya, em Itapecerica da Serra, em
2017, cantada pela própria Valéria Pontes, em um ritual do seu Hinário “Crystal”, uma compilação de
músicas espirituais. Para conhecer essas músicas, o site de referência é
https://www.peregrinosdegaya.com.br/hinarios
213
E esse trabalho escrito chegou à sua conclusão, contagiado por uma potência
criativa que indubitavelmente levará os ecos de suas palavras e de suas ações para
projetos futuros. A sensação que fica é a de que muita coisa irá acontecer a partir de
tudo o que aconteceu a partir da “Mandala de Conexões” e da nossa oficina de “Yoga,
Arte e Autoconhecimento” que uniu em 2019 mais de cinquenta vidas a partir da
motivação de praticar yoga e vivenciar momentos de arte, comunhão, alegria e
sabedoria.
A construção de nossa comunidade de aprendizagem na Universidade Aberta à
Terceira Idade do Instituto de Artes aconteceu em virtude de uma motivação
acadêmica e também de uma intenção particular minha relacionada ao meu processo
de autoconhecimento. Eu sabia que isso me faria crescer, e que me traria
aprendizados de imenso valor. Entretanto, eu não imaginava que esse processo seria
tão transformador.
Foi realmente um rito de passagem em minha vida, pois esse foi o primeiro
projeto profissional que liderei por mais de seis meses. E essa foi a primeira vez que
decidi tentar ir além de meus limites até então conhecidos para ousar fazer algo novo
e, a meu ver, aparentemente complexo. Mas eu consegui, e me sinto agora muito
satisfeito por ter recebido tantos depoimentos repletos de gratidão e carinho, e por ter
até o presente momento do ano letivo aproximadamente vinte educandos
frequentando semanalmente as aulas. Além disso, tenho também os alunos do Projeto
Yoga na UNESP, com aulas de Yoga para pessoas de todas as idades todas as
segundas em horário posterior ao das aulas da UNATI.
Sinto-me feliz por essa caminhada que trilhei. Sinto-me abençoado por ter
conseguido contagiar as alunas a seguirem praticando hatha yoga, meditação e yoga
restaurativo. Sei que muitas delas continuam estudando os conteúdos filosóficos que
complementam o que vivenciamos em aulas, e também vivenciando as mandalas, as
danças circulares, os mantras e outros elementos que coloriram nossas segundas-
feiras.
Conversei muito com as alunas nas últimas semanas para aprender com elas, e
para compreender o que elas estavam sentindo e como o yoga estava tocando suas
vidas. Tudo ficou mais claro quando comecei a receber os depoimentos por whatsapp,
214
e, sobretudo, quando recebi os presentes de dia dos professores. Nesse dia tão
marcante eu reconheci que nunca posso parar de dar aulas, e que preciso persistir
em meus projetos, pois há muita coisa especial pela frente.
Os educandos da UNATI me revitalizaram, e me ajudaram a reconhecer o sentido
de minha vida e de meu trabalho nesse planeta. E sei que foi uma troca, pois muitos
deles também me agradeceram e relataram benefícios em seus corpos, em suas
mentes, e em suas vidas como um todo. Isso é o mais importante e eu espero que
nessa pesquisa eu tenha conseguido explicitar ao menos uma parte das mudanças
que aconteceram em nós.
Ganhei bastante segurança em relação à ação educadora, ao ato de lecionar. Os
alunos me ajudaram e me encorajaram, conscientemente – com grupo – eles
confiaram em mim e acolheram minhas propostas. Eles também confiaram neles
mesmos, e se permitiram fazer amigos e aprofundar alguns vínculos.
Nós conseguimos aprofundar nossas conexões com o eu, com o outro e com o
todo. Conseguimos, também, com simplicidade e generosidade, vivenciar nossos
processos criativos não somente nas vivências artísticas propostas mas também no
dia-a-dia, quando nos dedicamos a trazer os elementos poéticos e filosóficos do yoga
para a vida. Estamos compondo o nosso sadhana, permitindo-nos ter uma vida mais
leve.
Os resultados dessa pesquisa, desse projeto de extensão, dessas experiências,
estão em nós. Nós, que nos permitimos fazer yoga nas tardes de segundas-feiras, na
contra-mão da pressa lá de fora. Estão nas palavras aqui manifestadas, nas poesias,
nos desenhos, nos depoimentos, nos registros fotográficos e nas nossas lembranças.
Dentre as certezas que colhemos desse plantio, talvez a mais forte seja a de que
todos os participantes envolvidos nesse projeto se sentiram transformados em alguma
instância. E a transformação interior é o principal objetivo do yoga como método, como
meta, como ciência, como arte e como prática.
O poeta Manoel de Barros colore palavras em simplicidades que nos elevam na
leveza. Ele poeticamente diz: “Do lugar de onde estou já fui embora”, e nos lembra
que estaremos sempre em movimento, independentemente da idade e de nosso
estado interior. Sempre é momento de nos renovarmos e de nos prepararmos para as
próximas renovações. E a hora do aprendizado é constante, eterna. Nunca é tarde,
então não nos apressemos tanto para chegar lá, mas também não tenhamos tempo a
perder. E aproveitemos, pois sentiremos saudades.
215
Aos alunos: minha eterna gratidão e reverência, por terem sido grandes
educadores nesse momento de formação pelo qual me submeti. Agradeço por me
ensinarem o valor das relações e a importância de sermos respeitosos, amorosos e
sensíveis – sobretudo nos dias mais difíceis.
Aprendi que um abraço amoroso, um olhar atencioso e uma palavra positiva
podem transformar um dia de alguém, ou talvez até mesmo uma vida inteira. Nunca
vou me esquecer que, com vocês eu descobri que sem a virtude da alegria, eu não
posso continuar caminhando, já que ela – a alegria – é a minha principal potência.
Repito aqui mais uma vez a inesquecível colocação de Paulo Freire (1996, p. 23)
quando nos lembra que “A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz
parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,
fora da boniteza e da alegria.”
Não sabemos exatamente o que aconterá no futuro. O yoga não quer nos ensinar
isso, pois ele quer nos colocar no presente – exatamente no nosso lugar, em união
com a melhor versão de nós mesmos. Sigamos, pois, abertos a estar no momento
217
10.3. Respire
16
O mantra “Ma Om” é um ensinamento da mestra Amma, Mata Amritanandamayi, recomendado por
ela a todos que precisam de foco mental e paz interior. Aprendi esse mantra frequentando o grupo de
meditação do Centro Amma São Paulo
17
Essa pergunta é material de reflexão em palestras de Ana Claudia Arantes, médica e estudiosa
acerca de questões ligadas à morte e a cuidados paliativos. Descobri essa frase e essa profissional
da saúde nos cursos de Yoga Restaurativo que realizei com a professora Raquel Peres.
218
10.4. Despedida
Eu te vejo.
Estou aqui.
Namastê,
Ricardo Henrique
Nome Telefone/Whatsapp
Email / Facebook/ Instagram
Idade
Data de Nascimento:
*
Principais objetivos e motivações para praticar Yoga (se preferir, você pode
responder também com palavras-chave significativas)
*
Características sócioculturais:
Naturalidade:
Religião ou Crença:
Ocupação/Missão:
*
Experiência anterior com áreas afins ao Yoga:
Práticas corporais/Vivências somáticas:
Práticas Meditativas:
Estudos e cursos:
*
Aspectos relacionados à saúde (é possível que sejam mensurados em alguma
prática ou diante de alguma necessidade - essencial para práticas de Yogaterapia)
Pressão (PA):
FC em repouso:
FR em repouso:
Dores:
Alergias:
220
Problemas respiratórios:
Musculares:
Hormonais:
Osteoarticulares:
Neurológicos:
Cardiovasculares:
Digestivos:
Outros:
Observação: Marque o que souber. Caso não saiba alguma informação, você pode
deixar em branco.
*
Para além do que foi compartilhado nesta ficha, você gostaria de compartilhar
221
alguma queixa e/ou questão de sua vida? A partir disso, poderei preparar melhor
minhas aulas e lhe auxiliar e contemplar melhor suas dificuldades, anseios e
necessidades.
*
Caso você já seja aluno de nossas práticas, você tem alguma sugestão para que
nossas aulas sejam ainda melhores ? Gostaria de se aprofundar em algum
conhecimento, técnica ou retomar algo que foi abordado?
*
De 0 a 10, como você avalia seu grau de stress:
E seu grau de realização como Ser:
Assinatura:
_______________________________________________________________
*
Observações importantes sobre a OFICINA “YOGA, ARTE E
AUTOCONHECIMENTO”, da UNATI:
*Solicitamos aos praticantes que busquem manter a frequência nas aulas, cultivando
a dedicação, o entusiasmo e a curiosidade. O professor estará sempre aberto a
dialogar, por meios virtuais e sobretudo pessoalmente. A ideia é que fortaleçamos a
partir das aulas de Yoga um núcleo de apoio, afeto e amizade e, de acordo com a
união que a palavra Yoga simboliza, possamos nos sentir incluídos e
compreendidos.
*Pedimos que nos comuniquem caso haja alguma questão patológica, lesão, dores
acentuadas, incômodos. Quando sentirem algo diferente em relação ao próprio
organismo, peço que isso seja avisado e para que os praticantes fiquem atentos a
não irem além dos seus limites na prática. Ahimsa - Não violência sempre!
*As aulas são para todos os níveis de praticantes. Yoga é para todos!
*Por favor, não entrar com sapatos no espaço da prática, somente na área próxima à
porta de entrada.
*Sempre que possível, chegar antes do horário Caso não seja possível chegar com
antecedência, ou ocorra um atraso, não há problema.
*Tragam seus sorrisos, amigos, afetos, abraços, muito amor, alegria e paz!
*Ficaremos muito felizes com sugestões, contribuições de temas, textos, poesias,
filmes, músicas - O PROJETO É DE TODOS NÓS!
“Tenho muito o que agradecer a você pelas aulas, elas tem sido extraordinárias na
minha vida. Pena que é somente às segundas. Mesmo correndo, saíndo 13h30, 13h,
12h30 da Zona Leste. Eu vou correndo para a Barra Funda só para ter essa aula com
você. E isso tem tido fundamental importância. Inclusive algumas coisas eu tento até
aplicar para as minhas crianças que tem 3 anos, 3 anos e meio.
Tenho muita gratidão por todo o seu trabalho, que é maravilhoso. Traz uma mudança
muito boa nas nossas vidas, na minha vida principalmente.”
“Eu sou a Vera Costa. E quero deixar registrado aqui sobre o quanto benéficas têm
sido suas aulas na minha vida. Vou aproveitar o espaço para agradecer à UNESP pois
ela disponibiliza o espaço para que essas vivências sejam possíveis e principalmente
por acreditar nesse trabalho sério e competente que você vem fazendo e que está
acontecendo a partir do yoga. Eu digo a partir do yoga porque você nos trouxe muitas
outras responsabilidades com a prática da meditação, do relaxamento, dos ásanas,
dos vídeos, das mandalas, das danças circulares. Os desenhos que você trouxe para
pintarmos. A indicação de livros e filmes. As atividades relembrando nossos heróis.
Heróis específicos com nomes, com fotos, registros. Você nos deu a oportunidade da
gratidão a eles. A esses nossos heróis.
E essa atividade nos fez refletir sobre o quanto estamos sendo heróis no nosso dia-a-
dia. E tem também os textos maravilhosos que você traz a cada encontro, com as
mensagens sempre positivas, com muito conhecimento.
E tem também os passeios. No ibira, eu não pude ir, que pena. Mas as pessoas que
foram se sentiram bastante felizes naquilo – naquilo que foi proposto, no passeio.
E os mantras, quando eu percebo que há algum sentimento de medo, angústia,
quando aquilo vai se aproximando, eu procuro me aproximar da sua aula. Aí eu
começo a cantarolar “Vai florescer o Ser Divino que está dentro de você, vai florescer,
vai florescer”. Nossa, que aula foi aquela! Linda! Maravilhosa para mim.
E então quando você trouxe aquele vídeo “Deixa a luz do Sol Entrar, Abra bem as
portas do seu coração e deixa a luz do Sol entrar”, foi muito marcante. O medo vai
embora, a angústia vai embora. Muito bom, muito legal. Pena que nós temos uma data
224
Bernadete – 17/10
Bete – 17/10
Então Ricardo, eu fiz algumas aulas com você mas depois comecei a sentir muita dor
por causa da fibromialgia. Como faço outra atividade física no mesmo dia, fica difícil
para mim conciliar as duas atividades.
Pelo menos a aula que fiz eu gostei muito.
Estou participando do grupo de vocês, e tem me trazido bastante coisa boa o que eu
leio. Tem muita coisa bacana, mensagens que você e as pessoas mandam. Então
estou tentando tirar proveito disso, mesmo não indo nas aulas.
Vera – 20/10
Olá Ricardo! A princípio, não tem como não falar das mudanças que a passagem do
tempo nos impõe; com maior ou menor limitações, mas a “conta chega”. É neste
226
contexto que a prática de yoga faz diferenças significativas ao nosso corpo. Primeiro,
porque vamos tendo mais autoconhecimento, confiança, aprendendo os limites; como
você mesmo fala. Até onde é capaz de avançar, e por incrível que possa parecer, aos
poucos vamos aumentando nossa capacidade. Também, aprendemos técnicas de
equilíbrio e as vivenciamos; e claro, aplicamos em nosso dia- a-dia aos movimentos
básicos do cotidiano. A qualidade do sono é bem real quando conseguimos melhorara
qualidade da nossa prática de respiração profunda aliada às músicas que nos foram
apresentadas. Respirar com maior qualidade e presença auxilia bastante no controle
da ansiedade.
Henrique – 20/10
culturas. Grega, Russa, Argentina, Israelita, Brasileira, Japonesa etc... São as danças
dos povos celebrando suas conquistas suas vitórias suas superações ! Cada
localidade tem sua forma de focalizar sua Dança para determinado fim porém o
propósito maior é deixar claro a importância de respeitarmos e conhecer o benefício
que cada Cultura tem através da dança e música caracteristicos. Existem danças com
caráter mais meditativo e instrospectivo. Outras sao mais coreografadas e
expressivas. Todas tem seu devido valor e intenção de tocar o coração dos
participantes dentro ou fora da Roda. Todos são beneficiados pela energia
contagiante presente ! Sempre com a atitude voluntária de criar esse movimento
humanistico. Acredito que a função real das Danças circulares são verdadeiros rituais
xamanísticos de Cura direta e indiretamente para a sinergia da localidade e daquela
comunidade. Parece que aquelas pessoas só se reencontraram para dançar
novamente nessa vida ! Encontro de almas mesmo! Assim como a prática da Yoga. É
pra Alma .
Ilsa – 17/10
circulares e mandalas nos fez ver que todas as e linguagens e muitos outros
conhecimentos teóricos nos ajudam a entender o corpo e a alma da melhor maneira
possível. Com essas experiências muito intensas, ficou a nossa vontade de voltar,
continuar e aprofundar muito mais. É aprender e ter novos conhecimentos. Nosso
professor Ricardo tem um brilho especial. Me inspiro muito nele nao só nas práticas
do dia-a-dia mas também na vida. Estou muito feliz em participar deste curso e espero
que sempre ele esteja conosco também.
Denise – 14/10
Desde que iniciei o curso de Hatha Yoga com voce, senti que voltei a ter
consciência corporal. E não só isso:a consciência de que corpo e mente estão
interligados a tal ponto que as disfunções e doencas físicas afetam a mente, e vice-
versa. Já de manhã, tenho despertado de forma diferente, querendo esticar os bracos,
as pernas,a coluna vertebral e as articulações. A junção entre yoga e arte é perfeita,
porque nos remete ao bem e ao belo que nos desperta também para a importância de
cuidar dos sentimentos e da espiritualidade.
Arlene – 18/10
Depoimento de Darcy
que criatura é essa? Que luz traz consigo? Que missão? para agir assim com as
pessoas? e fui percebendo que era assim quando incluía a todos, na sua majestosa
humildade. Poderia escrever um livro sobre esse ser humano incrível que deixa
marca, como um selo, em todos que o conhecem. Ao me dar aquele abraço, fez com
que minha alma se sentisse de fato abraçada.
Queria gritar isso ao mundo, mas como disse numa mensagem que lhe dei no dia dos
professores, nós não podemos abraçar nossos irmãos sol, lua e brisa, mas, todo o
universo os juntou e colocou dentro do RICARDO HENRIQUE e os mandou até nós
para que os abraçassássemos.
Isso que dita o meu coração é para você, Ricardo,
Você, meu menino, profissional altamente competente e de coração nobre!
Você, que deixa em cada um de nós a marca de luz, da luz que vem do Alto com a
chama do amor fraterno que nunca se apaga!
Que todas as portas lhes sejam abertas para continuar sua missão nesse planeta
terra.
Amamos você!
NAMASTÊ!
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