Você está na página 1de 66

CENTRO UNIVERSITÁRIO CENTRAL PAULISTA – UNICEP

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

DANIELA DE FÁTIMA RAPELLI DE MORAIS

OS REFLEXOS DA PANDEMIA EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA


PERMANÊNCIA PARA O IDOSO SOBRE O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

SÃO CARLOS

2020
DANIELA DE FÁTIMA RAPELLI DE MORAIS

OS REFLEXOS DA PANDEMIA EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA


PERMANÊNCIA PARA O IDOSO SOBRE O OLHAR PSICOPEDAGÓGICO

Trabalho de conclusão do curso de Pós-graduação em


Psicopedagogia Institucional do Centro Universitário
Central Paulista – UNICEP.

Orientadora: Profa. Dra. Juliana Zantut


Nutti

SÃO CARLOS

2020
“Quem disse que eu me mudei?
Não importa que a tenham demolido: a
gente continua morando na velha casa em
que nasceu. ”
Mario Quintana
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5
2. A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA .................................................................. 7
2.1. A Psicopedagogia no Brasil .................................................................................................. 13
2.1.1. O objeto de estudo da Psicopedagogia e seu campo de atuação .................................... 16
3. A PSICOPEDAGOGIA E A VELHICE ................................................................. 19
3.1. De Asilo a Instituição de Longa Permanência...................................................................... 24
4. O CONTATO INICIAL NA INSTITUIÇÃO ......................................................... 31
4.1. Caracterização ..................................................................................................................... 32
4.1.1. As visitas na instituição ..................................................................................................... 36
5. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ................................. 44
6. O CENÁRIO ATUAL............................................................................................. 48
7. O ESTAGIÁRIO EM MEIO A PANDEMIA ......................................................... 53
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O TRABALHO ......................................... 56
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CURSO .................................................. 58
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 59
APÊNDICE - O PROJETO ............................................................................................ 62
1. INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje é possível observar uma sociedade que enaltece tudo aquilo que é
jovem, visando de certa forma a substituição do que é considerado velho pelo novo
(MANZARO, 2014).
A sociedade contemporânea é marcada por formas de consumo exacerbado,
valorização extrema do novo, padrões corporais e comportamentais estabelecidos como
“perfeitos” e impostos constantemente através de recursos midiáticos que devem ser
alcançados a qualquer custo para que o sujeito se sinta inserido e pertencente a um
determinado grupo padronizado, negando ao mesmo tempo outros grupos que diferem
dessas características, dentre eles os idosos.
Os grupos que são negados pela cultura do consumo na maioria das vezes possuem
as características naturais que vão se modificando de acordo com o desenvolvimento do
ciclo vital e que abrangem todos os seres humanos. Pautar-se nos padrões impostos pelo
consumo pode ocasionar em patologias, sofrimentos psíquicos e físicos, pois muitas vezes
esses padrões são inalcançáveis para a maioria da população que os desejam.
De acordo com Bauman (2008), o consumo é uma condição e um aspecto
constante e irremovível, é um dos elementos responsáveis pela sobrevivência biológica
dos seres humanos compartilhado com os demais organismos vivos, não possui limites
temporais e históricos, estando presente em todas as formas de vida conhecidas até o
momento (BAUMAN, 2008).
Na atualidade o consumo que deveria ser um dos elementos voltados à
sobrevivência dos seres humanos foi estabelecido como uma regra, um elemento
classificatório para a inserção em determinados grupos sociais. As pessoas são vistas de
acordo com sua capacidade de consumir e de fazê-lo na velocidade das mudanças da era
globalizada.
Um dos grandes desafios acarretado pela cultura pós-moderna é o sujeito
conseguir manifestar e manter a própria identidade, construindo e reconstruindo saberes
e consequentemente a sua história, atrelado as mudanças desenfreadas que marcam esse
momento histórico (RUBINSTEIN, 1999).
Nas palavras de Bauman (2007, p. 17): “Em vez de grandes expectativas e sonhos
agradáveis, o “progresso” evoca uma insônia cheia de pesadelos de “ser deixado para
trás” – de perder o trem ou cair da janela de um veículo em rápida aceleração”.

5
Claro que a globalização e a facilidade de acesso a muitas informações permitiram
grandes avanços tanto tecnológicos, quanto científicos e humanos, entretanto, o objetivo
é lançar reflexões acerca daquilo que adentrou pela “porta” da globalização, que foi
“jogado” no colo dos seres humanos e que ainda há muito a ser compreendido para
aprender a lidar com os elementos dessa nova era.
Essa mudança constante e desenfreada, recheada de objetivos não atingíveis, uma
vez que o foco se perde em meio a tantas informações oferecidas de maneira acelerada e
em desacordo com a capacidade humana de acompanha-las, causa uma sensação de
exaustão, insegurança e incerteza, fazendo com que os aspectos possíveis de serem
alcançados e que preservam a humanidade dos seres em sociedade, como exemplo, a
solidariedade tenha seu valor minimizado.
As mensagens dirigidas dos centros do poder político tanto para os ricos como
para os infelizes apresentam "mais flexibilidade" como a única cura para uma
insegurança já insustentável - e assim retratam a perspectiva de mais incerteza,
mais privatização dos problemas, mais solidão e impotência e, na verdade,
mais incerteza ainda. Elas excluem a possibilidade de uma segurança
existencial que se baseie em alicerces coletivos e assim não oferecem incentivo
a ações solidárias; em lugar disso, encorajam seus ouvintes a se concentrarem
na sua sobrevivência individual ao estilo "cada um por si e Deus por todos"-
num mundo incuravelmente fragmentado e atomizado, e, portanto, cada vez
mais incerto e imprevisível (BAUMAN, 2007, p. 20).

Estando em um mundo que de certa forma incentiva a sobrevivência individual


em detrimento do coletivo, de ações solidárias e de voltar o olhar ao outro, sabendo-se
que a convivência humana está pautada justamente no relacionamento com o outro, como
se torna possível e saudável manter-se em um contexto dessa magnitude? Com essa
inconstância?
Pautado nesses aspectos, esse trabalho se justifica ao compreender que a sociedade
está desviando o seu olhar das questões elementares da natureza humana, em todas as
suas fases do desenvolvimento e que são importantes para o crescimento do indivíduo,
além de melhorar a convivência e compreensão do outro, quer seja no campo profissional
ou pessoal. Os processos de aprendizagem estão presentes na vida dos sujeitos desde os
tempos remotos de maneira formal e/ou informal. E a cada momento histórico descobertas
são feitas onde apontam os benefícios atrelados ao processo do aprender. A área de
estudo deste trabalho volta-se a Psicopedagogia Institucional, a qual traz em seu bojo a
importância de um olhar holístico para a compreensão do sujeito e seus processos de
aprendizagem, para então, pensar em intervenções eficientes e eficazes para a
continuidade do processo de aprendizagem.

6
2. A HISTÓRIA DA PSICOPEDAGOGIA
A Psicopedagogia nasceu na Europa, no século XIX. Inicialmente, filósofos,
médicos e educadores pensavam sobre problemas de aprendizagem (COSTA, PINTO,
ANDRADE, 2013).
Na França surgiu o primeiro centro médico-psicopedagógico tendo seu fundador
George Mauco, neste momento observa-se as primeiras tentativas de articulação entre
Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, com o objetivo de pensar na solução dos
problemas de comportamento e aprendizagem (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Janine Mery (1985 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013), psicopedagoga
francesa aponta o século XIX como o período em que esteve presente um interesse por
compreender e atender portadores de deficiências sensoriais, debilidade mental e outros
problemas que interferissem na aprendizagem.
A autora destaca o envolvimento de educadores como Itard, Pereire, Pestalozi e
Seguin apontando-os como pioneiros no tratamento dos problemas de aprendizagem, que
no final do século XIX se dedicavam as crianças que apresentavam problemas de
aprendizagem relacionados a vários tipos de distúrbios, entretanto, esses educadores se
voltavam mais para as deficiências sensoriais e debilidade mental do que a desadaptação
infantil.
Outro ponto importante da história trazido pela autora foi em 1898 quando o
professor de psicologia Édouard Claparède juntamente com o neurologista François
Neville introduziu nas escolas públicas as denominadas “classes especiais”, as quais eram
destinadas à educação das crianças com retardo mental. Com este movimento foi
registrada a primeira iniciativa de médicos e educadores no campo da reeducação
(COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Para Bossa (2000 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013), outros autores
franceses que marcam fortemente o pensamento argentino sobre a Psicopedagogia são:
Jacques Lacan, Maud Mannoni, Françoise Dolto, Julián de Ajuriaguerra, Janine Mery,
Michel Lobrot, Pierre Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco, Enrique
Pichón-Rivière e outros (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Além das influências Francesas, a área de estudo recebeu influências da
Argentina, com grande importância na difusão do pensamento psicopedagógico,
principalmente na epistemologia convergente. Dentre seus representantes estão: Jorge
Visca, Alicia Fernandez e Sara Paín. Em relação ao eixo teórico inicial a autora pontua:
Psicologia Genética de Jean Piaget, Psicanálise de Freud e a Psicologia Social de Pichon-
7
Rivière. Tendo contribuições de outras teorias posteriormente como: a teoria de
Vygotsky, a psicogênese da língua de Ana Teberosky e Emília Ferreiro (SERRA, 2012).
De acordo com Sampaio (2004 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013), Jorge
Visca foi uma personalidade importante e decisiva para a prática da Psicopedagogia no
Brasil, pois, ele foi um dos primeiros a praticá-la aqui, através da fundação do centro de
estudos psicopedagógicos de Curitiba e de uma clínica comunitária para tratamento dos
problemas de aprendizagem (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Os psicólogos argentinos que chegavam ao Brasil nas primeiras décadas do século
passado eram impossibilitados de clinicar e encontraram na educação um caminho para
o trabalho. Criaram, portanto uma nova metodologia de trabalho sobre a aprendizagem,
originando a Psicopedagogia (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Segundo Serra (2012), a Psicopedagogia é uma área de estudo recente e existe a
aproximadamente 30 anos no Brasil. Tem por objetivo estudar, compreender e intervir na
aprendizagem humana. Este objetivo permite com que todos os seres humanos façam uso
da Psicopedagogia, visto que os processos de aprendizagem acompanham os seres
humanos durante todo o desenvolvimento do ciclo vital, o que permite pensar que a
Psicopedagogia não possui limite de atuação, onde a aprendizagem se faz presente a
Psicopedagogia poderá atuar (SERRA, 2012).
Em relação aos autores brasileiros, Serra (2012), cita: Maria Lúcia Weiss, Aglael
Borges, Nadia Bossa, Beatriz Scoz e Heloísa Padilha, entre outros (SERRA, 2012).
Segundo Sá, Valle, Delou, 2008, foi no final do século XIX que educadores,
psiquiatras e neuropsiquiatras lançaram olhar aos aspectos que influenciavam a
aprendizagem e começaram a organizar métodos para a Educação Infantil. Dentre os
autores desta época destacam-se: Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly, dentre outros.
Neste período, as portas que dariam surgimento a Psicopedagogia foram abertas (SÁ,
VALLE, DELOU, 2008).
Para Bossa (2007), o termo Psicopedagogia inicialmente parece tratar-se de uma
aplicação da psicologia a pedagogia, entretanto, esta definição está em desacordo com o
significado que esse termo assume em seu nascimento. A Psicopedagogia nasceu da
necessidade mais profunda de compreender o processo de aprendizagem (BOSSA, 2007).
É possível pensar a Psicopedagogia através da compreensão de que ela se refere a
um campo de conhecimento em que há uma integração entre a psicologia e a pedagogia,
entretanto, é incorreto afirmar que ela é composta somente por tal integração, pois
partindo-se da compreensão da complexidade e pluralidade que é o ser humano sabe-se

8
que essas áreas não são suficientes em si para compreender o sujeito em sua totalidade
(COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Diversos autores apontam que a Psicopedagogia possui um caráter
interdisciplinar. Nas palavras de Bossa (2007, p. 19):

Reconhecer tal caráter significa admitir a sua especificidade enquanto área de


estudos, uma vez que, buscando conhecimentos em outros campos, cria o seu
próprio objeto, condição essencial da interdisciplinaridade.

Para a autora, a Psicopedagogia como área de aplicação, antecede o status de área


de estudos, pois recorre a psicologia, psicanálise, linguística, fonoaudiologia, medicina e
pedagogia para sistematizar um corpo teórico, definir o objeto de estudo e delimitar o
próprio campo de atuação (BOSSA, 2007).
A Psicopedagogia tem um caráter interdisciplinar, a qual se respalda em outras
ciências, dentre elas: filosofia, fisioterapia, neurologia, psicolinguística e a psicanálise.
Ciências que contribuem para a compreensão do processo de aprendizagem humana.
(COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
De acordo com Rubinstein (1999), a interdisciplinaridade se caracteriza na
atuação do psicopedagogo, o qual muitas vezes busca parcerias profissionais, pois é
sabido que nenhuma teoria é capaz de responder a tudo e a todos.
Para Bossa (2007), é possível caracterizar a Psicopedagogia enquanto área de
aproximação do psicológico – entendendo este a subjetividade do ser humano como tal e
educacional – entendendo esta como atividade humana, social e cultural. Ao considerar
o mundo psíquico e o grupal na relação de aprendizagem, os sistemas e processos
educativos. O psicopedagogo ensina como aprender, mas para isso, é fundamental que
este profissional apreenda o aprender e a aprendizagem. Isso só será feito se o
psicopedagogo compreender e lançar mão da rede de relações, códigos culturais –
simbologia e de linguagem pertencente a cada sujeito, os quais são adquiridos a partir do
momento que o sujeito nasce e é incluído na sociedade.
De acordo com Bossa (2007), a aprendizagem é responsável pela inserção do
indivíduo no mundo cultural, pois é através da participação ativa que o sujeito se apropria
dos conhecimentos e técnicas necessários para a compreensão e formação do universo
das representações simbólicas.
A Psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana, busca
compreender como o sujeito aprende, as variações que ocorreram e ocorrem na evolução

9
deste processo, os fatores e alterações que abarcam a aprendizagem, visando a
compreensão para tratamento e prevenção. Portanto, a Psicopedagogia enquanto prática
não se limita a estudar apenas o problema de aprendizagem, mas sim o processo de
aprendizagem humana como um todo (BOSSA, 2007).
Ao psicopedagogo cabe saber como se constitui o sujeito, como este se transforma
em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a
forma pela qual produz conhecimento e aprende (BOSSA, 2007).
Para Fernandéz (1991 apud BOSSA, 2007, p. 26) é fundamental que o
psicopedagogo aprenda como os outros sujeitos aprendem e como ele próprio aprende. A
construção desse saber se faz possível por meio de uma formação que se oriente sobre
três pilares:
Prática clínica: ocorre em consultório individual-grupal-familiar, em
instituições educativas e sanitárias;
Construção teórica: é permeada pela prática de forma que, a partir desta, a
teoria psicopedagógica possa ser tecida;
Tratamento psicopedagógico-didático: segundo essa autora argentina, o
tratamento psicopedagógico-didático é fundamental na formação do
psicopedagogo, pois se constitui em um espaço para a construção do olhar e
da escuta clínica – a partir da análise do seu próprio aprender – que configuram
a atitude psicopedagógica.

O trabalho psicopedagógico pode ser realizado de modo preventivo e clínico


(BOSSA, 2007).
De acordo com Bossa (2007), ao pensar no caráter preventivo do trabalho
psicopedagógico há três níveis que devem ser considerados: no primeiro, o
psicopedagogo atuando para diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem, no
segundo, trabalhar para diminuir e tratar os problemas de aprendizagem que já foram
instalados e no terceiro nível e não menos importante, o objetivo é eliminar os transtornos
que já se encontram instalados. Para a autora, o caráter preventivo deste nível encontra-
se ao buscar eliminar um transtorno, esta ação faz com que o aparecimento de outros
transtornos seja evitados (BOSSA, 2007).
No trabalho preventivo, a instituição, enquanto espaço físico e psíquico da
aprendizagem, é objeto de estudo da Psicopedagogia, uma vez que são
avaliados os processos didático-metodológicos e a dinâmica institucional que
interferem no processo de aprendizagem (BOSSA, 2000, p. 12).

No trabalho institucional, durante o diagnóstico é realizado um levantamento para


compreensão do clima e da cultura organizacional para fazer a proposta de intervenção,
a qual geralmente é realizada de forma grupal (MANTOVANI, 2018).

10
Bossa (2007), aponta que para o trabalho clínico é fundamental ao psicopedagogo
reconhecer sua própria subjetividade na relação com o outro, visto que nessa inter-relação
há um sujeito que estuda o outro, objetivando conhecer no outro o que impede sua
aprendizagem.
Para o atendimento psicopedagógico clínico, o diagnóstico é realizado por meio
de uma investigação e intervenção com o objetivo de compreender o significado, a causa
e a modalidade de aprendizagem do sujeito (MANTOVANI, 2018).
A Psicopedagogia clínica busca compreender de forma integrada e global os
aspectos que estão presentes no processo de aprendizagem e que muitas vezes interferem
na aprendizagem plena do sujeito, além de visar a promoção da integração entre o aluno
e todas as pessoas relacionadas ao universo educacional. Dentre os aspectos a serem
compreendidos estão: os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos
e pedagógicos (BOSSA, 2000 apud MANTOVANI, 2018).
O psicopedagogo pode atuar em um nível clínico ou institucional, pois, o seu olhar
está pautado em compreender e intervir nos vínculos presentes na relação entre ensinar–
aprender, desconstruindo as barreiras que impeçam esse processo (MANTOVANI, 2018).
Segundo Porto (2011), o trabalho do psicopedagogo na instituição escolar
apresenta-se por duas naturezas: uma diz respeito a Psicopedagogia direcionada ao grupo
de alunos com dificuldades de aprendizagem, a outra, diz respeito a um trabalho voltado
a equipe de profissionais, pedagogos, orientadores e professores. São objetivos que
diferem entre si. No trabalho direcionado aos alunos o objetivo é sua reintegração à sala
de aula, considerando e respeitando as particularidades de cada sujeito. No trabalho a
equipe de profissionais, o objetivo está voltado a questões pertinentes as relações
vinculares entre professores e alunos, considerando as redefinições de procedimentos
pedagógicos, de modo a integrar o afetivo e cognitivo para que o processo de
aprendizagem ocorra de forma plena, considerando as diferentes áreas do conhecimento
(PORTO, 2011).
Compreendendo a história da Psicopedagogia constata-se que ela surgiu na
fronteira entre a Psicologia e a Pedagogia por meio da necessidade de atendimento a
crianças com distúrbios de aprendizagem. O desenvolvimento dessa área de estudo
permitiu que o psicopedagogo atue tanto de modo preventivo quanto terapêutico, uma
vez que visa compreender todos os elementos e sujeitos atuantes no processo de
aprendizagem. No modo preventivo, o objeto de estudo a ser considerado é o indivíduo a
ser educado, considerando as alterações, o processo e as possibilidades de aprendizagem.

11
No modo terapêutico, o objeto de estudo a ser considerado é a identificação, análise,
elaboração da metodologia para diagnóstico e tratamento das dificuldades para a
aprendizagem (BOSSA, 2000 apud BARBOZA, WISNIEWSKI, 2017).
Atualmente, a Psicopedagogia busca compreender e avaliar as possibilidades do
sujeito, considerando questões afetivas e reconhecendo que o saber é próprio de cada
indivíduo, desta forma, respeitando as especificidades de cada um (BOSSA, 2007).
O conhecimento psicopedagógico não se apresenta de forma rígida, ele refere-se
a um saber e a um saber-fazer, considerando condições subjetivas e relacionais entre
familiares e escolares (BOSSA, 2007), ele também não visa atender somente a patologia
da aprendizagem, aspecto que acompanhou seu nascimento. Atualmente, a
Psicopedagogia está se voltando cada vez mais para uma ação preventiva, ao compreender
as relações entre dificuldades de aprendizagem e a inadequada pedagogia institucional e
familiar (BOSSA, 2007).
Nas palavras de Rubinstein (1999, p. 24): “A Psicopedagogia utiliza-se de uma
visão holística e sistêmica, para compreender um sujeito cognoscente”.
De acordo com Rubinstein (1999), a forma de atuação do psicopedagogo e a
técnica adotada para intervenção está relacionada com os recursos individuais de cada
terapeuta, no que compete a: formação pessoal, embasamento teórico e a maneira própria
de trabalhar, o que permite a compreensão de que a técnica não é um conjunto de métodos,
mas um estilo próprio de cada terapeuta, que deve adequar seu aparato teórico, suas
particularidades enquanto ser humano, à complexidade da natureza das dificuldades de
aprendizagem e a multiplicidade das formas de intervenção.
A intervenção psicopedagógica tem como foco a relação do sujeito com a
aprendizagem objetivando o trabalho do psicopedagogo não apenas ajudar aquele que não
consegue aprender de modo formal ou informal, mas despertando interesse do sujeito pela
aprendizagem favorecendo a aquisição de habilidades para esse processo – aprendizagem
(RUBINSTEIN, 1999).
A intervenção psicopedagógica deve ser realizada de modo dinâmico, o qual é
possibilitado pela flexibilidade de escolhas que o profissional tem para selecionar os
métodos a serem utilizados em cada intervenção considerando as especificidades e
necessidade de cada indivíduo. Seu aspecto dinâmico também se caracteriza pelo fato da
intervenção voltar-se a um processo de construção e não somente uma mudança de
comportamento. Esse dinamismo propicia ao profissional ultrapassar a prática do

12
reducionismo, em que o objetivo está relacionado apenas ao desaparecimento do sintoma
(RUBINSTEIN, 1999).
Segundo Rubinstein (1999, p. 25): “O caráter dinâmico da escolha das propostas
e a forma como são significadas pela dupla terapeuta/cliente são o que realmente
provocarão as mudanças pretendidas”.
Outros elementos que a autora destaca de fundamental importância é quando o
psicopedagogo se permite vivenciar o “não-saber”, no sentido de não ter resposta para
tudo e compreendê-lo como parte do processo do aprender e também saber lidar com o
erro de modo construtivo e como um elemento faltante que representa a incompletude do
ser humano. São elementos que se fazem presentes durante o processo de
ensino/aprendizagem e que devem estar presentes no processo interventivo
(RUBINSTEIN, 1999).

2.1. A Psicopedagogia no Brasil

Através do resgate histórico feito por Bossa (2000 apud MANTOVANI, 2018),
sabe-se que o movimento da Psicopedagogia no Brasil nos remete a Argentina, haja visto
que a Psicopedagogia ainda é ensinada no Brasil por muitos argentinos, os quais também
estão entre os primeiros autores que escreveram os primeiros artigos. O resultado deste
trabalho representa os esforços iniciais no sentido de sistematizar um corpo teórico
característico da Psicopedagogia, constituindo o referencial teórico de base utilizado até
os dias atuais, dentre os autores estão: Sara Paín, Jorge Visca, Alicia Fernández, dentre
outros. A Psicopedagogia Argentina recebe fortes influencias de autores franceses,
destacam-se: Lacan, Maud Mannoni, Fraçoise Dolto, Júlian de Ajuriaguerra, Janine
Mery, Michel Lobrot, Pierre Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine, George Mauco,
Pichón-Riviére, entre outros (MANTOVANI, 2018).
Os autores Itard, Pereire, Pestalozzi e Seguin, no final do século XIX, começaram
a se dedicar ao estudo das crianças que apresentavam problemas de aprendizagem
originados a diversos fatores. Os estudos estavam relacionados a: retardo mental (Itard),
educação dos sentidos (Pereire), método de estudo das percepções (Pestalozzi) e método
fisiológico da educação (Seguin) (MONTOVANI, 2018).
A primeira iniciativa que se tem registro voltada ao campo da reeducação, ocorreu
no final do século XIX, quando Clarapéde e Neville introduziram nas escolas públicas as

13
primeiras classes destinadas a educação das crianças com retardo mental, denominadas
de “classes especiais”. No início do século XX as primeiras consultas médico-
pedagógicas foram realizadas com o objetivo de encaminhar as crianças para essas classes
especiais (BOSSA, 2000 apud MANTOVANI, 2018).
No final do século XIX, a neuropsiquiatria infantil lançou o olhar para os problemas
neurológicos que afetavam a aprendizagem. Nessa época, Maria Montessori – psiquiatra
italiana criou o método de aprendizagem via estimulação sensorial, voltado inicialmente
as crianças com algum retardo (MANTOVANI, 2018).
No final do século XIX, Decroly criou os Centros de Interesses, os quais perduram
até os dias atuais. Na segunda metade do século XX, surgiram os primeiros centros para
reeducação de delinquentes infantis e juvenis (MANTOVANI, 2018).
Nos Estados Unidos, foi observado um movimento crescente no número de escolas
particulares e de ensino individualizado para crianças que apresentavam aprendizagem
lenta (MANTOVANI, 2018).
No Brasil, a crença de que os problemas de aprendizagem eram causados por
aspectos orgânicos perdurava, concebendo uma visão organicista ao problema de
aprendizagem. A autora pontua que trabalhos que apontavam a questão como distúrbio,
traziam a causa atrelada a uma disfunção do sistema nervoso central (MANTOVANI,
2018).
Para Silva (1989 apud MANTOVANI, 2018, p. 16).

No Brasil também encontramos alguns pesquisadores famosos: Helena


Antipoff, Maria Helena Novaes, Dinah Martins de Souza Campos, Odette
Lourenção Van Kolk, Genny G. de Moraes, Maria Alice Vassimon, Madre
Cristina Sodré Dória. Constata-se nos trabalhos psicopedagógicos teorias
atuais de Jean Piaget, Vygotsky, Emilia Ferreiro. Além deles há o resgate de
Freud, Jung, Lacan, Rogers, Skinner.

Para Rubinstein (2004 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013), os


profissionais envolvidos com a educação na década de 50 do século passado e que
realizavam atendimento a crianças e adolescentes o faziam de modo que as intervenções
estavam de acordo com medições e avaliações da deficiência cognitiva da criança com
problemas de aprendizagem, eram realizadas por testes psicológicos.
De acordo com Bossa (1994 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013) em torno
da década de 60 do século XX teve início um período que desencadeou uma série de
transformações no modo de compreensão das dificuldades de aprendizagem escolar pelos
psicopedagogos, como as possibilidades da relação entre os problemas de aprendizagem

14
e a carência cultural da sociedade brasileira. O aspecto orgânico do aluno passou a fazer
parte de mais um elemento que compõem o todo. Desta forma, o problema de
aprendizagem passou a ser compreendido como dificuldade advinda de manejos
institucionais inadequados, de conflitos não resolvidos dentre outros (COSTA, PINTO,
ANDRADE, 2013).
Rubinstein (2004, apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013), aponta que a
Psicopedagogia passou a criar condições favoráveis para a produção de conhecimento ao
otimizar os processos de ensino e aprendizagem. O sujeito passou a ser compreendido de
modo holístico, considerando os aspectos orgânicos, subjetivos e inserido em um
determinado contexto histórico e cultural (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Segundo Rubinstein (2004 apud COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013) a partir de
1968 com a aprovação da Lei 5540, aprovada pelo Congresso Nacional, as universidades
tiveram autonomia e os Cursos de Especialização latu sensu foram criados. Na década de
80, no século XX, surgem os cursos de Psicopedagogia (COSTA, PINTO, ANDRADE,
2013).
A Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp foi criada em 1980, em São
Paulo, e é considerada um marco inicial na direção da institucionalização da profissão do
psicopedagogo (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
O final do século XX, década de 90, foi período marcado por diversas
contribuições teóricas e práticas de psicopedagogos argentinos, franceses e espanhóis.
Sara Paín – argentina, Jean Marie Dolle e Leandro Lajonquiere – franceses contribuíram
para a visão teórica da Psicopedagogia acerca do sujeito psicológico que aprende. Alicia
Fernández – psicopedagoga argentina, destacou a importância da Psicanálise para a
compreensão do sujeito e introduziu a abordagem que considera a dinâmica familiar para
os entendimentos dos problemas de aprendizagem. Fernández também foi responsável
por inovar o tratamento em grupo para psicopedagogos, com o intuito de proporcionar a
revisão e aperfeiçoamento do processo de aprendizagem do próprio psicopedagogo. Essas
novas formas de compreender os processos influenciaram o tratamento clínico e permitiu
novas visões para atuação em espaços institucionais, sendo estes em escolas, ONG´s,
empresas, abrigos dentre outros (COSTA, PINTO, ANDRADE, 2013).
Segundo Lino de Macedo (1990 apud BOSSA, 2007, p. 34), “o psicopedagogo no
Brasil ocupa-se das seguintes atividades: Orientação de estudos; Apropriação dos
conteúdos escolares; Desenvolvimento do raciocínio; Atendimento de crianças”
(MACEDO, 1990 apud BOSSA, 2007, p. 34).

15
2.1.1. O objeto de estudo da Psicopedagogia e seu campo de atuação

Para Bossa (2007), o trabalho do psicopedagogo pode ter um caráter assistencial


quando ele integra uma equipe de trabalho responsável pela elaboração, direção, evolução
de planos, programas e projetos no setor de educação e/ou saúde, integralizando campos
de conhecimento diversos (BOSSA, 2007).
Bossa (2007), traz em A Psicopedagogia no Brasil, algumas definições de
psicopedagogos brasileiros acerca do objeto de estudo da Psicopedagogia, conforme
segue:
Kiguel (1991, p. 24 apud BOSSA, 2007, p. 21):
O objeto central de estudo da Psicopedagogia está se estruturando em torno do
processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos normais e
patológicos – bem como a influência do meio (família, escola, sociedade) no
seu desenvolvimento.

Neves (1991, p. 12 apud BOSSA, 2007, p. 21)


A Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta
as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E,
mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua
complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos,
afetivos e sociais que lhe estão implícitos.

Golbert (1995, p. 13 apud BOSSA, 2007, p. 22)


O objeto de estudo da Psicopedagogia deve ser entendido a partir de dois
enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque preventivo considera o objeto
de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto
educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de
desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades
do aprender, num sentido amplo. Não deve se restringir a uma só agência como
a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer de forma
mais ou menos sistemática, a professores, pais e administradores sobre as
características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos
processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da
aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de
aprendizagem. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da
Psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de
diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagem.

Para Kubinstein (1992, p. 103 apud BOSSA, 2007, p. 22):


Em primeiro momento a Psicopedagogia esteve voltada para a busca e o
desenvolvimento de metodologia que melhor atendessem aos portadores de
dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta
forma promover o desaparecimento do sintoma. Ainda, a partir do momento
em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de
aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da
Psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um
aspecto no processo terapêutico, e o principal objetivo é a investigação de
etiologia da dificuldade de aprendizagem considerando todas as variáveis que
intervém nesse processo.

16
Weiss (1991, p. 6 apud BOSSA, 2007, p. 22) coloca: “A Psicopedagogia busca a
melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção
da própria aprendizagem de alunos e educadores”.
Ao analisar as considerações de diferentes autores em relação ao objeto de estudo
da Psicopedagogia, observa-se que há um consenso de que ela se ocupa em estudar a
aprendizagem humana, entretanto, vale ressaltar que este consenso não significa
determinar que a Psicopedagogia deva seguir um único caminho. Pensar na complexidade
que há na própria natureza humana já é suficiente para que esse pensamento de caminho
único se desfaça. A aprendizagem humana em sua complexidade resulta de uma visão de
homem, e é através desta visão que ocorre a práxis psicopedagógica (BOSSA, 2007).
Ao vislumbrar o objeto de estudo da Psicopedagogia em diversos momentos
históricos, a autora constata que, houve um tempo em que o trabalho psicopedagógico
priorizava a reeducação, avaliando o processo de aprendizagem em função de déficits, e
trabalhando para vencer as defasagens, tendo o objeto de estudo o sujeito que não podia
aprender (BOSSA, 2007).
Em um momento posterior, a Psicopedagogia compreendeu o não-aprender como
um processo carregado de significados. Concepção que levou em conta a singularidade
do sujeito, buscando compreender o sentido próprio de cada um segundo as características
particulares, suas alterações e circunstâncias de sua história e do mundo sociocultural em
que está inserido (BOSSA, 2007).
Atualmente, a Psicopedagogia trabalha o processo de aprendizagem considerando o
equipamento biológico de cada sujeito, suas disposições afetivas e intelectuais, as quais
são influenciadas e influenciam as condições socioculturais do sujeito e do meio, visto
que, ao passo que ele recebe as influenciais do meio ele o influencia, observando,
portanto, a interação sujeito x meio (BOSSA, 2007).
Compreende-se, portanto que o objeto central da Psicopedagogia está se
constituindo acerca do processo de aprendizagem humana, considerando seus padrões
evolutivos normais e patológicos, as influências do meio – família, escola e sociedade
que são fundamentais para o pleno desenvolvimento do sujeito (BOSSA, 1994 apud
Porto, 2011).
Ao entender o objeto de estudo da Psicopedagogia se faz importante compreender
o seu campo de atuação que, segundo apontado por Bossa (2007), ele se refere não
somente ao espaço físico de atuação, mas ao espaço epistemológico, ou seja, o lugar deste
campo de atividade e a maneira de abordar o seu objeto de estudo. Maneira que possui

17
características próprias de acordo com a modalidade, podendo ser: clínica, preventiva e
teórica. (BOSSA, 2007).
Bossa considera que a atitude do psicopedagogo frente ao objeto de estudo será
clínica, não no sentido literal da palavra, mas as atitudes deste profissional ao longo de
sua atuação (BOSSA, 2007), destacando a importância de um olhar mais focado ao objeto
para uma compreensão mais assertiva e intervenções eficazes.
De acordo com Mery (1985, apud BOSSA, 2007), o psicopedagogo assumirá
sempre dois papéis, que diferem entre si no modo de se direcionar a criança e seus
familiares, o que acontecerá da mesma forma quando estiver perante a uma equipe de
trabalho.
Conclui-se que o objetivo do psicopedagogo é contribuir para que o sujeito seja
reintegrado à vida escolar, respeitando as suas possiblidades e interesses (BOSSA, 2007).
Observando a história da Psicopedagogia, seu objeto de estudo e campo de
atuação é possível constatar que seu caráter interdisciplinar esteve presente desde seu
nascimento, a começar pelas diversas influências que recebeu em seu surgimento. A
necessidade de conhecimentos de diversas áreas para a compreensão da complexidade
humana e o entendimento acerca de todas as interferências e influências que se fazem
presentes no processo de aprendizagem são aspectos essenciais desta área de
conhecimento. É importante ao profissional - psicopedagogo, ter capacidade de
mobilidade para adquirir conhecimento dentre as diversas áreas que se fazem necessárias
para a compreensão do sujeito, não possuindo um modo rígido de conhecimento, mas
estando sempre aberto a busca de novos conhecimentos, métodos e ao autoconhecimento
para a compreensão de seu próprio processo de aprendizagem, ferramentas que são
eficazes e fundamentais para a atuação profissional.

18
3. A PSICOPEDAGOGIA E A VELHICE
Segundo o Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, em seu Art.
8º: “O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos
termos desta Lei e da legislação vigente” (BRASIL, 2003, p. 10).
A definição de envelhecimento de modo geral é compreendida como um processo
que acompanha o organismo do nascimento à morte. A velhice refere-se a um momento
específico dentro do processo de desenvolvimento humano marcado pelo
aprofundamento de diferentes reduções, modificações do funcionamento de várias
funções e modificações celulares, alterações que não implicam necessariamente em um
acúmulo de doenças (MUCIDA, 2019).
O envelhecimento é inerente a natureza humana. Nesta etapa da vida as mudanças
ocorrem de modo dinâmico nos aspectos biológico, psicológico e social (FALCÃO,
CARVALHO, 2010).
Para Bortolanza, Krahl, Biasus (2005), na velhice ocorre um declínio em certas
capacidades e alterações nos aspectos biopsicossocial que requer da pessoa que envelhece
uma série de ajustamentos pessoais e sociais.
A gerontologia distingue dois enfoques para o envelhecimento – senescência e
senilidade. A senescência ou envelhecimento normal – é um fenômeno progressivo,
universal que afeta gradualmente o organismo, variando de acordo com fatores como
dietas, atividades físicas, estilo de vida, educação, exercício de papéis sociais e/ou
familiares e nível socioeconômico. A senilidade ou envelhecimento patológico – está
relacionado as alterações associadas ao envelhecimento ocasionadas por doenças
(FALCÃO, CARVALHO, 2010).
Para as autoras, é um erro associar a velhice a doença, gerando uma imagem
negativa desta etapa da vida, pois, as peculiaridades intrínsecas em cada sujeito no âmbito
biológico, social, histórico, cultural e econômico devem ser consideradas, uma vez que
há diversas pessoas idosas que se mantém saudáveis (FALCÃO, CARVALHO, 2010).
Nas palavras de Mucida (2019, p. 23): “O surgimento de doenças não é
determinante para se definir se um corpo é ou não velho”.
O aumento da longevidade é uma conquista da humanidade, porque adveio de
ações significativas adotadas no passado relacionadas a redução da mortalidade,
destacando a infantil, os avanços científicos na medicina e as práticas de saúde que
compreendem o ser humano como biopsicossocial. Mediante tal cenário as pessoas

19
conseguem uma melhor qualidade de vida e morrem cada vez mais idosas
((BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005).
O Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, objetiva o resgate da
dignidade, a garantia de uma vida mais justa, digna e saudável além de estender o direito
ao idoso para a educação conforme Capítulo V artigos 20 e 21 (BARBOZA,
WISNIEWSKI, 2017).
Art. 20. O idoso tem direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões,
espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade (BRASIL,
2003).
Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à educação,
adequando currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais a ele
destinados (BRASIL, 2003).
§ 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteúdo relativo às técnicas de
comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida
moderna (BRASIL, 2003).
§ 2º Os idosos participarão das comemorações de caráter cívico ou cultural, para
transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação
da memória e da identidade culturais (BRASIL, 2003).
Segundo Bortolanza Krahl, Biasus (2005), ao olhar para a história da
Psicopedagogia é possível observar que ela se organizou de modo a estudar o processo
de aprendizagem humana, em seus aspectos normais e patológicos considerando as
influências do meio familiar, escolar e social. Atualmente a Psicopedagogia lança o olhar
para a compreensão do processo de aprendizagem para o ser humano nas diversas etapas
da vida.
Ao tomar ciência do Art. 20 – Capítulo V do Estatuto do Idoso, observa-se que a
Psicopedagogia vai de encontro a um direito estabelecido por Lei, o direito à Educação e
consequentemente a aprendizagem.
Na sociedade contemporânea, após a globalização, as mudanças ocorrem de
maneira acelerada o que requer aprendizagens constantes e frequentes readaptações no
modo de vida.
Outro aspecto importante para ser ressaltado é em relação a crise de identidade,
advinda de sua perda de papel social e familiar, redução ou perda da autonomia além de
perdas físicas, biológicas, psicológicas e a perda de entes queridos, em contrapartida, as

20
funções afetivas e sociais podem e devem ser preservadas e aperfeiçoadas
(BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005).
Para Bortolanza, Krahl, Biasus (2005), o trabalho com grupo de idosos, tem o
objetivo de resgatar prazerosamente as atividades sociais que possibilita um diálogo em
torno das atividades desenvolvidas e discussão acerca de problemas das mais variadas
áreas, inclusive conteúdos angustiantes, sentimentos comuns, construindo uma nova
definição do que se entende por grupo de idosos (BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS
2005).
Em termos de organização e funcionamento, os grupos têm buscado a assessoria
de psicopedagogos e psicólogos, visto que essas áreas de conhecimento se voltam para a
interação e descoberta de novos saberes criando uma cultura diferenciada para o
envelhecimento humano ((BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005).
Para o psicopedagogo que atuar com idosos é importante saber que este
profissional deverá mobilizar suas competências relacionando-as com os saberes a fim de
reconhecer que a aprendizagem na terceira idade tem um sentido que está aquém do
processo de aprendizagem escolar, suas origens estão arraigadas na cultura familiar, na
história de vida de cada idoso, na ancoragem social e na perspectiva de cada sujeito
((BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005).
Nas palavras da autora: “A relação com o saber é uma relação do indivíduo
consigo mesmo, com os outros e com o mundo...É uma relação com sistemas simbólicos,
como a linguagem, e implica numa atividade do sujeito num tempo que jamais acaba”
(BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005, p. 168).
A ação psicopedagógica na atuação com o idoso se faz relevante por seu papel na
mediação entre o idoso e a construção e reconstrução do conhecimento, assim também,
este profissional exerce um importante papel para a inclusão do idoso nos grupos de
convivência ao facilitar sua interação com o conhecimento e consequentemente com seus
pares, objetivando uma extensão dessas habilidades desenvolvidas no grupo para a
redefinição do papel social do idoso e oportunizar uma convivência social mais ampla
(BORTOLANZA, KRAHL, BIASUS, 2005).
Para Bastos (2019), a Psicopedagogia enquanto campo de atuação, lança seu olhar
nos processos de aprendizagem, os ambientes em que ela ocorre, compreendendo os
elementos ditos normais e patológicos do ser humano de acordo com o desenvolvimento,
as especificidades e as influências exercidas pelo meio social em que cada indivíduo
esteja inserido, aspectos que são de grande valia para a valorização do idoso.

21
Segundo Manzaro (2014), alguns dos termos utilizados para se referir as pessoas
com mais de 60 anos de idade pode ser uma tentativa de amenizar o peso social atribuído
ao conceito da velhice.
Ao tentar definir e/ou diferenciar os conceitos de envelhecimento, velhice, terceira
idade e idoso, à primeira vista parece simples, mas eles se apresentam como termos
complexos que necessitam de esclarecimento acerca de suas diversas dimensões
(MANZARO, 2014).
O envelhecimento refere-se a um processo natural da vida que traz em seu bojo
algumas alterações sofridas pelo organismo. O termo idoso faz referência a toda pessoa
acima de 60 anos de idade. Este termo foi cunhado na França em 1962, substituindo os
termos velho e velhote. No Brasil, o termo idoso foi adotado oficialmente significando o
sujeito do envelhecimento (MANZARO, 2014).
Manzaro (2014), compreende a velhice como uma construção social em que
diversas formas são criadas para entender esse fenômeno, variando de significado
conforme cada cultura.
Para Barboza, Wisniewski (2017), a velhice não é um processo, mas um estado
que caracteriza a condição do ser humano idoso.
Segundo Rosa e Vilhena (2016), a velhice não deve ser entendida conforme a
visão simplista que a coloca como um período cercado de perdas e incapacidades, mas
deve ser entendida como uma fase do desenvolvimento humano, marcada por mudanças
biopsicossociais singulares.
O termo terceira idade segundo Peixoto (1998, apud MANZARO, 2014), também
foi criada na França em 1962 no momento em que foi introduzido no país uma política
de integração social com o objetivo de transformar a imagem da velhice. Manzaro (2014),
compreende a terceira idade como a fase entre a aposentadoria e o envelhecimento, nesta
fase encontram-se as demandas de cuidado com a saúde de modo mais amplo focando o
envelhecimento com maior qualidade de vida.
Sabendo que a aprendizagem é um processo permanente e contínuo, onde o sujeito
aprende durante toda a vida, podendo apresentar em determinados momentos de seu
desenvolvimento dificuldades de aprendizagem, a Psicopedagogia se torna importante
pois, irá oportunizar ao idoso acesso a recursos que permitem uma melhora na
aprendizagem, identificando tanto os obstáculos quanto os elementos facilitadores da
aprendizagem, podendo atuar de maneira preventiva ou terapêutica (BARBOZA,
WISNIEWSKI, 2017).

22
Para Velascos (2006, apud BARBOZA, WISNIEWSKI, 2017), o envelhecimento
é um processo que tem início a partir do nascimento do ser humano e ocorre durante todo
o desenvolvimento do ciclo vital de modo irreversível, as alterações causadas por esse
processo incidem na aparência, no comportamento, na experiência e nos papéis sociais.
Nas palavras da autora: “envelhecimento não é a velhice... A maneira como as
pessoas passam e encaram as características do envelhecimento é que as classifica como
velhas. ” (VELASCO, 2006, p.21 apud BARBOZA, WISNIEWSKI, 2017, p. 30).
A Psicopedagogia enquanto área de conhecimento possui recursos eficazes para
tratar, prevenir e minimizar as características do declínio das capacidades cognitivas dos
idosos, direcionando-as para a melhoria da condição do sujeito aprendente em seu
processo de envelhecimento (BARBOZA, WISNIEWSKI, 2017).
Permitir e proporcionar educação aos idosos vai de encontro ao direito que lhes é
garantido por lei – 10.741/2003, entretanto, essa temática se manifesta por meio de
recentes discussões. “A ideia de educação permanente para idosos é tão recente quanto o
fenômeno da longevidade populacional” (BÚFALO, 2013, p. 205).
É preciso aprender a lidar com educação para idosos da mesma maneira com que
é preciso aprender a conviver e aceitar o fenômeno da longevidade populacional,
elemento que ainda causa estranheza e gera um afastamento de inclusão desta parcela da
sociedade, a qual precisa buscar grupos específicos para se adaptar.
Segundo Búfalo (2013), pesquisas apontam que a educação permanente pode ser
fator determinante para a manutenção da saúde mental do idoso e destaca dados de estudo,
conforme segue:
Alguns autores afirmam que, quanto maior o nível de escolaridade, mais difícil
o desenvolvimento de quadros demenciais, como a doença de Alzheimer.
Indivíduos com baixa escolaridade apresentariam maior predisposição a
desenvolver quadro demencial. A escolaridade exerce um papel importante
sobre o desempenho em tarefas neuropsicológicas e na organização cerebral e
é fator protetor para patologias neurológicas, além de ser um indicador preciso
por estar relacionado às possibilidades de acesso aos serviços de saúde,
emprego, ao trabalho remunerado e a uma adesão aos programas sanitários e
educacionais, enquanto o analfabetismo causa susceptibilidade maior à
dependência. (FARIA, SILVA, FARIAS & CINTRA, 2011, p. 1751 apud
BÚFALO, 2013, p. 206 – 207).

De acordo com Búfalo (2013, p. 199): “Entende-se por educação todo o processo
intencional que promova transformação humana individual e/ou coletivamente, vista
como uma realidade permanente, voltada para o aspecto concreto da vida”.
Na sociedade contemporânea falar sobre o envelhecimento pode ser pensado
como algo que entra no campo do interdito, daquilo que é melhor não dizer, é algo que

23
todas as pessoas carregam dentro de si, só que de forma mais ou menos adormecido,
sempre pronto a eclodir (ROSA, VILHENA, 2016).
Simone de Beauvoir (1990 p.15 apud ROSA, VILHENA, 2016, p. 11), define a
velhice “como um fenômeno biológico com reflexos profundos na psique do homem”.
As diferentes modalidades de preconceito se expressam em várias atitudes do
cotidiano, como a exclusão social, o apagamento subjetivo, o desinteresse pela
história de vida e o medo do contato com a velhice devido à sua estreita
vinculação com a figura da morte (ROSA, VILHENA, 2016, p. 12).

3.1. De Asilo a Instituição de Longa Permanência

Na Europa no século XVIII aconteceu o movimento higienista que tinha como


objetivo higienizar os hábitos da população que passavam a ocupar as cidades, os
higienistas visavam preparar as pessoas, de modo especial a população pobre para uma
vida baseada em preceitos morais e cuidados com a saúde, além de torná-los mais aptos
ao trabalho e ao modelo de vida burguês (ROZENDO, 2014).
O movimento higienista favoreceu os hábitos de saúde, a longevidade e melhores
condições de vida para a velhice, em contrapartida marcou de forma pejorativa o
envelhecimento dos sujeitos mais pobres (ROZENDO, 2014).
A população pauperizada que não possuía condições físicas para vender sua força
de trabalho ao capital, normalmente passava a “morar” nas ruas contribuindo para um
aumento significativo da mendicância nos centros das cidades. Dentre as pessoas que
ocupavam as ruas estavam os órfãos, os velhos, as viúvas, os mendigos, as prostitutas e a
população de rua em geral, pessoas que significavam um risco a saúde e uma ameaça a
moralidade pregada pelo higienismo. Como forma de combater esse cenário, muitas
instituições foram criadas, dentre elas os orfanatos, os presídios as workhouses e os asilos
de velhos – grifo meu, os quais se tornaram instituições comuns nas cidades marcando de
forma significativa o envelhecimento (ROZENDO, 2014).
No Brasil foi fundada no final do século XIX em 1890 a primeira instituição asilar,
localizada na cidade do Rio de Janeiro o Asilo São Luiz para a velhice Desamparada e
estava de acordo com os preceitos do movimento higienista trazido pela coroa portuguesa
durante a urbanização da cidade no início do século XIX (COSTA, 1989 apud
ROZENDO, 2014).
De acordo com Groisman (1999), o Asilo São Luiz foi a instituição pioneira na
cidade e tinha como objetivo acolher a velhice de forma exclusiva. Tratava-se de uma

24
instituição particular com os seguintes fins: “receber os velhos de ambos os sexos, sem
distinção de cor ou nacionalidade, provadamente desamparados, aos quais dá casa,
sustento, vestuário, médico e farmácia, e por morte, modesto, mas decente enterramento”
(GROISMAN, 1999, p. 187).
O Asilo São Luiz para a Velhice Desamparada foi uma instituição modelar para
sua época. Teve como fundador – Visconde Ferreira de Almeida, um homem proeminente
no ramo de negócios da sociedade carioca, o qual rapidamente recebeu auxílio público e
podendo contar o apoio de uma ordem de freiras Franciscanas que cedia irmãs para cuidar
dos asilados. O Asilo iniciou com a capacidade de acolhimento para 45 leitos, em 1892 e
sua capacidade foi ampliada para 260 leitos em 1925, a ampliação e suas instalações
foram modernizadas através de uma série de obras financiadas com o dinheiro advindo
das subversões e dos inúmeros donativos recebidos (GROISMAN, 1999).
Um aspecto que precisa ser destacado é em relação a visibilidade social que esta
nova instituição alcançou. O rápido desenvolvimento do Asilo São Luiz parece carregar
em seu bojo o surgimento de novas representações da velhice, fator que pode ser
observado através das inúmeras notícias jornalística que tinham como objeto o Asilo.
Nesse período, os jornais desempenharam um papel importante para auxiliar a instituição
na comunicação com a sociedade, no sentido de angariar donativos ou verbas públicas.
Essas notícias não se referiam apenas as necessidades da instituição, mas contribuíram
para a formação de imagens sobre a própria velhice, pois, eram carregadas de simbolismo,
muitos dos quais ainda tão presentes na representação social da velhice na atualidade
(GROISMAN, 1999).
As notícias visavam sensibilizar a população para o drama da velhice
desamparada, destacando sua importância de modo mais significativo e urgente do que a
de outros segmentos da população pobre (GROISMAN, 1999).
Na tentativa de explanar o impacto que esse tipo de notícia causou na época em
que foi incorporado na representação social da velhice e que ainda hoje se faz tão
presente, segue a notícia publicada pelo jornal A Noite de 1º de janeiro de 1917 que
reproduzia o discurso do diretor da instituição, realizado na festa de natal do asilo:

Meus velhos! Mais do que a vossa velhice inválida, mais que a vossa pobreza
indigente, compunge-me o vazio, o deserto do vosso coração devastado. (. . .)
Que é de vossas famílias? Desapareceram, levadas pela corrente de outros
destinos; os amigos morreram, os amores extinguiram-se, a vaidade desfez-
se... E vossos lares? Ruíram-se (GROISMAN, 1999, p. 74).

25
A imagem da velhice vista como algo desamparado tem o propósito de isentar a
velhice da responsabilidade pelo seu desamparo e distribuí-la socialmente, num
movimento de desculpabilizar os asilados, já que, os velhos em algumas imagens, são
representados como bons, sujeitos próximos de Deus, desprovido de maldade e afastada
dos aspectos profanos da vida. A velhice é sacralizada, pois assim, tem sua assistência
justificada, portanto, sem culpados pelo seu desamparo, o amparo da velhice passa a ser
uma obrigação da sociedade (GROISMAN, 1999).
O autor destaca que na história do asilo, os idosos que eram desamparados não se
limitavam aos pobres, muitos ricos se tornavam desamparados e iam bater na porta do
asilo (GROISMAN, 1999).
Em uma época que a assistência social era um terreno bastante complicado, pois,
a população ainda nutria sentimentos ambivalentes relacionados a pobreza, era
imprescindível definir de forma clara os sujeitos que precisavam e mereciam ser
assistidos de acordo com critérios para preservação da ordem e combate a ociosidade e
os vícios, elementos que caracterizavam a vadiagem, em detrimento aos que não deveriam
ser assistidos. Esses elementos que foram utilizados para sensibilizar a população e
demarcar quem seria amparado e quem seria reprimido parece compor os aspectos que
influenciaram a formação das imagens da velhice asilada, uma vez que a velhice deveria
despertar a compaixão da sociedade (GROISMAN, 1999).
Para o autor, há um paradoxo na história do asilo, pois, eram as imagens negativas
da velhice que tornavam os velhos elegíveis para as instituições asilares, representando
um ganho para os que envelheciam e de fato tornavam-se desamparados, entretanto, o
mecanismo que possibilitou esse processo teve um custo alto e estigmatizou a velhice
(GROISMAN, 1999).
Para conseguir angariar recursos financeiros ao Asilo São Luiz, ações foram
adotadas juntamente com a imprensa no sentido de difundir notícias jornalísticas
carregadas de simbolismo que marcavam a velhice atrelada a tristeza, a desilusão, ao
desamparo, a invalidez, a santidade, a proximidade a Deus, a morte, a pobreza e tantas
outras imagens que vinculam a velhice ao sofrimento e santidade. Imagens que foram
incorporadas ao imaginário coletivo da época e ainda estão presentes no imaginário
coletivo da sociedade atual (ROZENDO, 2014).
A institucionalização da velhice deve ser vista em um momento histórico em que
as fases da vida foram delimitadas de forma mais clara. A passagem do século XIX para
o século XX demarcou a velhice como um estágio distinto no ciclo vital e também outras

26
categorias etárias, como a infância e a juventude, as quais se tornaram objetos para a
prática de processos institucionais. Com essas delimitações, a imagem da velhice age no
sentido de destacar suas próprias diferenças em relação as demais fases da vida
(GROISMAN, 1999).
Ingressar no asilo significava um rompimento dos laços sociais, pois, a partir desse
momento, o contato com o mundo externo passaria a ser mediado pela instituição. Esse
rompimento exerceria o papel de isolar a velhice do “presente”, contribuindo para que o
asilo fizesse parte das instituições totais (GROISMAN, 1999).
Essa separação do mundo externo ficou registrada pela fala do emissário do jornal
do “Brazil” ao expressar seu alívio ao sair do asilo: “ (...) chegando fora do gradil
respiramos nova atmosfera. Deixava-nos o passado. Encontrávamos no presente, cheio
de agruras, sob um céu lavado, sob um sol ardente” (GROISMAN, 1999, p. 80).
Mesmo as portas do asilo permanecendo abertas a imprensa e aos visitantes nas
atividades solenes, o distanciamento social dos idosos estava fortemente caracterizado e
a possibilidade de retorno ao mundo externo cada vez mais distante (GROISMAN, 1999).
Esses achados permitem pensar que a localização da velhice não seria modificada
apenas geograficamente, mas sua recolocação estava sendo construída também de modo
simbólico (GROISMAN, 1999). Nas palavras do autor:

o asilo era visto como uma espécie de “limbo”, onde a velhice se encontraria
fora do tempo e do espaço: sacralizada, encontrava-se entre o céu e a terra;
vista como degeneração, entre a vida e a morte; alienada do mundo, entre o
passado e o presente... Com o surgimento do asilo, a velhice ganhava um
“lugar”, mas ao mesmo tempo perdia, simbolicamente, o seu lugar na vida
(GROISMAN, 1999, p. 83).

A fundação do asilo de velhos significou um elemento de separação e demarcação


da velhice, a qual deve ser tratada de forma institucional e ao ser tratada desta forma,
ocorreu a separação espacial da velhice, cenário que permitiu a produção de determinadas
imagens sociais acerca do envelhecimento (GOISMAN, 1999b apud ROZENDO, 2014).
Compreendendo os asilos de velhos como instituições, torna-se importante
apresentar a análise realizada por Goffman (1961), acerca das diferentes instituições da
sociedade ocidental, onde verifica-se que algumas são mais fechadas que outras,
entendendo o fechamento em seu aspecto simbolizado e físico, demarcado pela barreira
estabelecida em termos de relação social com o mundo externo e por proibições para a
saída da instituição, realizada também por intermédio de barreiras físicas como: paredes

27
altas, arame farpado, florestas e pântanos. Essas características estão presentes no que se
denominam instituições totais (GOFFMAN, 1961).
As instituições totais podem ser elencadas em cinco agrupamentos segundo
Goffman (1961):
a) Instituições criadas para cuidar de pessoas que são vistas como incapazes e
inofensivas: casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes;
b) Instituições criadas para cuidar de pessoas que são tidas como incapazes de cuidar
de si próprias e que representam de modo não intencional uma ameaça à
sociedade: sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais e
leprosários;
c) Instituições que visam proteger a comunidade contra perigos intencionais:
penitenciárias, campos de concentração, campos de prisioneiros de guerra;
d) Instituições criadas para realizar de modo mais adequado determinados tipos de
trabalho: quartéis, navios, escalas internas, campos de trabalho e colônias;
e) Instituição que se destinam a servir de refúgio do mundo: abadias, mosteiros,
conventos e demais claustros.
Para o autor, a característica central das instituições totais pode ser descrita como uma
ruptura entre as barreiras que separam três esferas da vida, sendo em primeiro lugar todos
os aspectos da vida são realizados no mesmo local e sob uma única autoridade, em
segundo lugar as atividades diárias de cada participante é realizada na companhia de um
grupo relativamente grande de pessoas, todas tratadas da mesma forma e obrigadas a fazer
as mesmas coisas em conjunto. Em terceiro lugar as atividades diárias são estabelecidas
de maneira rigorosa em horários predeterminados, a sequência de atividades é imposta
por um sistema de regras formais explícitas a um grupo de funcionários (GOFFMAN,
1961).
As atividades obrigatórias são planejadas e reunidas em um único plano racional com
o intuito de atender aos objetivos oficiais da instituição (GOFFMAN, 1961).
Goffman (1961), ressalta que nenhum dos elementos descritos acima devem ser tidos
como peculiar ou compartilhado a todas as instituições, o que caracteriza as instituições
totais é o fato de cada uma delas apresentar em grau intenso muitos itens da família de
atributos citadas anteriormente (GOFFMAN, 1961).
“O processo de institucionalização desencadeia um processo de desculturamento e
afastamento do mundo exterior” (ROZENDO, 2014, p. 38). O sujeito que chega a
instituição é afastado do mundo exterior. Nesse “mundo exterior” o sujeito construiu uma

28
concepção de si através de interações sociais e interações com o meio que de certa forma
tornaram-se estáveis em seu mundo doméstico, entretanto, ao adentrar na instituição, o
seu eu é sistematicamente mortificado, mesmo que muitas vezes de forma não intencional
(ROZENDO, 2014).
Nas palavras do autor:
O asilo de velhos representa, na atualidade, o coeficiente máximo de insucesso
no envelhecimento. É o abrigo não somente de velhos pobres, mas de velhos
despossuídos de qualquer sustentação que a vida pode oferecer no plano social;
aquele que confere no seu corpo os mais desagradáveis estigmas do
envelhecimento. Dessa forma, o velho asilado está longe de ocupar o espaço
designado aos protagonistas políticos/sociais, estando apartado do mundo
como um todo (ROZENDO, 2014, p. 41).

De acordo com Groisman (1999), um marcador histórico importante que contribui


para novos significados ao envelhecimento datado em 1998 quando John Glenn, um
homem com 77 anos de idade se tornou o primeiro americano a entrar em órbita da terra
e foi tratado com um herói. Esse feito contribuiu de certa maneira para o surgimento da
terceira idade nos anos 70, a qual se caracterizava em uma fase da vida onde as pessoas
poderiam aproveitar intensamente o tempo em busca de realizações pessoais
(GROISMAN, 1999). Dentre os marcadores dessa nova fase estão: o lazer, os cuidados
com o corpo e a saúde, a ampliação do círculo social e o exercício da sexualidade, a
substituição dos termos velhice para terceira idade e velhos para idosos, elementos que
contribuem para a nova representação social do envelhecimento (GROISMAN, 1999).
Essa nova representação social parece privilegiar o “idoso jovem”, haja visto o
direcionamento da maioria dos programas ofertados a esse público – pessoas acima de 60
anos com boas condições de saúde (GROSIMAN, 1999).
Atualmente observa-se um movimento midiático que tem como foco os “idosos
jovens”, são divulgados centros de convivência, universidades da terceira idade dentre
outras formas de institucionalização. As instituições asilares raramente aparecem,
continuando na invisibilidade. O autor complementa fazendo referência a perversidade
desse mecanismo, porque no Brasil o modelo asilar para os idosos está longe de ser
abandonado. Em diversos países são oferecidos serviços de qualidade nas instituições,
entretanto a ausência de discussão e regulamentação deste aspecto no Brasil expõe a
institucionalização da velhice a uma situação deplorável, deixando a qualidade do
atendimento ofertado aos idosos unicamente dependente do senso de ética dos
proprietários das instituições (GROISMAN, 1999).

29
“Os asilos continuam existindo silenciosamente, pois o asilamento de idosos não
se tornou um problema” (GROISMAN, 1999, p. 173).
Para Groisman (1999), os bons e os maus asilos têm em comum o fato de exercer
a função de dispositivo para a produção social da velhice.
No Brasil, foi apenas nas duas últimas décadas do século XX que visões mais
positivas sobre o envelhecimento começaram a se popularizar. Houve a substituição do
termo “velho” pelo termo “idoso”, tendo sua repercussão através da mídia, do discurso
especializado, se fez presente na linguagem publicitária, nos discursos governamentais
dentre outros (GROISMAN, 2014).
Ainda no início do século XXI com as grandes transformações socioculturais
causadas pelo impacto do desenvolvimento tecnológico, as novas formas de
relacionamento, de produção, de consumo, de manifestação da subjetividade, as técnicas
de vigilância e de controle social, observa-se que as mudanças ocorrem de forma
acelerada e em várias áreas, mas esse contexto ainda não é suficiente para gerar mudanças
na instituições totais, pois elas se preservam na sociedade contemporânea, em destaque
para o asilo de idosos (BENELLI, 2004).

30
4. O CONTATO INICIAL NA INSTITUIÇÃO

O primeiro contato na instituição ocorreu no mês de dezembro de 2019, fui


recebida pela Assistente Social, a qual me questionou acerca do meu interesse em relação
a estagiar com os idosos. Respondi que sempre quis ter essa vivência em minha vida, e
que entendia o estágio como um campo de aprendizagem-aprendizagem, eu aprendo com
eles e eles aprendem comigo.
O período que solicitei o estágio coincidiu com a mudança da equipe dirigente da
instituição, eleição prevista para janeiro de 2020, entretanto, a assistente social me pediu
a documentação que assim que ocorresse a reeleição minha documentação – carta de
apresentação detalhando a proposta de estágio mais carta de próprio punho isentando a
instituição de quaisquer ocorrências em relação a minha saúde, documentos que seriam
apresentados à nova equipe dirigente.
Em 14 de fevereiro de 2020, recebi um contato via whatsapp da coordenadora da
equipe que estava responsável pelo trabalho diretamente com os idosos, a qual
acompanharia o estágio.
A entrevista presencial foi marcada para o dia 18/02/2020. Nesse dia fui acolhida
pela coordenadora que se mostrou bastante aberta a me apresentar a estrutura física e
documental da instituição, se colocando prontamente para quaisquer dúvidas futuras.
Na primeira semana realizei os levantamentos acerca da construção e leitura do
Plano de Trabalho 2019/2020, tendo contato com os moradores que encontrava no
caminho até a sala de reuniões (local que realizava o levantamento). Uma pessoa que é
voluntário na instituição também me levou para conhecer a estrutura predial e enquanto
caminhávamos ele me apresentava aos idosos com os quais encontrávamos.
Minha frequência inicial de contato com os idosos foi de três dias por semana,
com o objetivo de estabelecer um vínculo e maior aproximação para o diagnóstico de
possíveis intervenções. Participei da celebração de duas missas realizadas no sábado à
tarde juntamente com os idosos.
A maioria das visitas foram realizadas no período da manhã sendo na primeira
semana das 8h às 10h e nas demais das 8h30 às 10h30. A mudança de horário se deu por
perceber que essa pequena modificação me proporcionaria contato com uma quantidade
maior de moradores.
O estágio foi interrompido no início da segunda quinzena do mês de março de
2020 em decorrência da pandemia do coronavírus.
31
4.1. Caracterização

Fundada em 05 de março de 1922 com a doação de terra realizada pelo Sr. Carlos
Augusto de Arruda Botelho, sobrinho da Sra. Maria Jacinta de Meira Freire, a qual era a
proprietária das terras que foram doadas para a Sociedade de São Vicente de Paulo após
seu falecimento.
A instituição fica localizada no município de São Carlos – SP e exerce a função
de Instituição de Longa Permanência para Idosos acima de 60 anos de idade, de ambos
os sexos, em situação de vulnerabilidade social, sem família ou que não tenham condições
de prever o auto-sustento, preferencialmente idosos carentes.
A instituição tem capacidade para acolhimento de 40 moradores. É uma instituição
filantrópica, sem fins lucrativos e com prazo indeterminado de funcionamento, é uma
Obra Unida à Sociedade de São Vicente de Paulo.
Na instituição são ofertados atendimento integral a saúde do idoso, caracterizado
pela promoção, proteção e prevenção à sua saúde, conforme resolução estabelecida pela
diretoria colegiada RDC 283/2005.
Os atendimentos contemplam as áreas de serviço social, enfermagem, fisioterapia,
terapia ocupacional, nutricionista, médico - sendo este cedido pela Prefeitura Municipal,
e que realiza consulta uma vez por semana na instituição, além de serviços de limpeza e
manutenção.
De forma mais detalhada segundo o plano de trabalho a instituição contempla:
a) Uma Terapeuta;
b) Uma Fisioterapeuta com carga horária de seis horas diárias;
c) Uma Nutricionista com carga horária de seis horas diárias;
d) Uma Assistente Social com carga horária de seis horas diárias;
e) Equipe de enfermagem durante 24 horas;
f) Coordenação Geral;
g) Setor de Serviços Gerais;
h) Setor de Lavanderia;
i) Setor Administrativo;
j) Setor Portaria;
k) Setor Cozinha;
l) Motorista.

32
A equipe é composta por 48 funcionários para atender as demandas de 34 idosos
sendo:
Seis pessoas “pagadores de horas” – pessoas que estão cumprindo pena realizando
algum serviço público; duas pessoas na manutenção; duas pessoas na limpeza; duas
pessoas na portaria; um motorista; quatro operando no telemarketing e uma
coordenadora; um motoqueiro; duas pessoas no departamento financeiro; uma pessoa no
departamento de recursos humanos; uma pessoa no estoque e almoxarifado e cinco
cozinheiros.
A equipe da diretoria é composta por: Presidente; Vice-presidente; 1º secretário;
2º secretário; 1º tesoureiro; 2º tesoureiro.
A formação de uma equipe multiprofissional visa garantir a proteção integral do
sujeito, contribuindo para a prevenção do agravamento de situações de negligência e
violência. Busca favorecer quando possível o restabelecimento de vínculos familiares ou
social, propiciando a convivência comunitária com os idosos diariamente.
A equipe é composta por profissionais contratados e por voluntários, conta
também com estagiários das Universidades: UFSCar, USP, UNICEP, ATENEU, Escola
Paula Souza, SENAC e convênios com a Central de penas Alternativas.
Em relação as questões financeiras, a instituição encaminha um relatório de
prestação de contas mensais a Prefeitura Municipal de São Carlos – SP, destinada ao setor
de convênios. Esse relatório tem como finalidade comprovar a aplicação dos recursos
recebidos e que foram destinados a compras de materiais, pagamentos de serviços de
terceiros e remuneração dos funcionários da instituição, comprovação realizada por meio
de notas fiscais.
Setenta por cento do salário dos moradores é destinado a instituição e serve para
cobrir custos, trinta por cento permanece na conta bancária de cada idoso.
Há também arrecadação feita através do telemarketing e do bazar. Este fica
localizado ao lado da instituição e recebe doações de roupas, sapatos, tv´s, dentre outros
itens que são vendidos as pessoas da sociedade em geral.
Uma outra forma de auxílio recebido destinado aos serviços prestados a seus
moradores vem através de doações da sociedade civil: igrejas, empresas, escolas e
universidades.
A estrutura predial da instituição é composta por: três quartos coletivos; rouparia;
um postinho na ala masculina – local onde são armazenados os medicamentos; um
arquivo morto; duas salas, sendo, uma na ala feminina e uma na ala masculina; oito

33
quartos; uma gruta; um postinho na ala feminina; quatorze quartos; porão; um veículo
Kombi; uma sala de reunião; portaria; sala de fisioterapia; espaço socioeducativo; sala de
enfermagem; farmácia; sala para telemarketing; sala do departamento de recursos
humanos; sala para o departamento financeiro; uma cozinha; um refeitório; uma
lavanderia; sala de Coordenação; uma sala para a assistente social; uma sala para terapia
ocupacional; um estoque com câmara fria; um estoque para alimentos; um estoque de
fralda; sala de manutenção; uma Capela; salão onde fica o bazar; uma casinha –
futuramente será a diretoria e um parquinho na área externa próximo à entrada onde é
utilizado para atividades físicas, nesta área há equipamentos fixos para a realização de
atividades, os mesmos que é possível observar atualmente nas praças de diversas cidades.
Há computadores na recepção, no departamento financeiro e na sala da assistente
social. A instituição possui telefone fixo e celular.
Em relação a rotina dos moradores observa-se:
Rotina alimentar: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e ceia.
Rotina de atividades: há disponibilidade de jogos de dominó, oficinas geralmente
de pintura ou massinha de modelar e há festa de confraternização para os aniversariantes
de mês. Festa que ocorre na última quinta-feira do mês e conta com a doação de bolo,
salgadinhos e refrigerantes doados por empresários/parceiros locais. Há outras atividades
propostas, mas essas acontecem de acordo com as parcerias realizadas mês a mês.
A instituição realiza levantamento do índice de adesão dos moradores as
atividades propostas, conforme consta no Plano de Trabalho 2019/2020:
a) 60% dos Idosos atendidos participam das oficinas;
b) 60% dos Idosos atendidos participam dos eventos religiosos;
c) 60% dos Idosos atendidos participam dos passeios promovidos;
d) 95% dos Idosos participam dos eventos promovidos na instituição;
e) 15% das famílias participando das reuniões e eventos.

Na instituição são formadas instituições com objetivos pré-estabelecidos,


conforme segue:
Comissão de eventos – 7 membros:

À comissão de eventos cabe o planejamento e execução das atividades


promocionais da entidade. Busca de eventos festivos, religiosos e sociais para
angariar recursos e interação com a comunidade de São Carlos e região. Devem
apresentar o planejamento anual de todas as atividades (show, bingos, manhãs
e tardes de sobremesas, participação em eventos e festas da região e etc.) para
ser aprovado pela diretoria executiva. Deverão comparecer às reuniões
ordinárias quando convocados e participar das atividades vicentinas
promovidas pelos Conselhos Particulares e Central DIRETORIA
EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

34
Comissão de planejamento e projetos – 7 membros:

À comissão de planejamento e projetos cabe o desenvolvimento de projetos,


em todos os níveis e necessidades da instituição para o bem dos moradores e
colaboradores, de forma responsável e eficiente e a busca de parceiros para
executá-los, submetendo à diretoria executiva suas orientações e permissão
para execução DIRETORIA EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

Comissão de eventos – composição 7 membros:

À Comissão de eventos cabe o Planejamento e Execução das atividades


promocionais da entidade. Busca de eventos festivos, religiosos e sociais para
angariar recursos e interação com a comunidade de São Carlos e região. Devem
apresentar o planejamento anual de todas as atividades (show, bingos, manhãs
e tardes de sobremesas, participação em eventos e festas da região e etc) para
ser aprovado pela diretoria executiva. Deverão comparecer às reuniões
ordinárias quando convocados e participar das atividades vicentinas
promovidas pelos Conselhos Particulares e Central (DIRETORIA
EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

Comissão de planejamento e projetos – composição 7 membros:

À Comissão de Planejamento e Projetos cabe o desenvolvimento de projetos,


em todos os níveis e necessidades da instituição para o bem dos moradores e
colaboradores, de forma responsável e eficiente e a busca de parceiros para
executá-los, submetendo à diretoria executiva suas orientações e permissão
para execução (DIRETORIA EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

Comissão do carinho – composição 7 membros:

Esta comissão tem uma missão muito especial: atuando diretamente junto aos
moradores do Cantinho Fraterno, a comissão do Carinho tem por finalidade
suprir a ausência da família e o resgate de sua autoestima. O morador muitas
vezes, ainda que rodeado de amigos, sozinho e suas lembranças afetivas podem
causar uma queda em sua alegria, gerando até doenças físicas (DIRETORIA
EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

Comissão de obras e infraestrutura composição 7 membros:

A comissão de obras e infraestrutura tem a árdua missão de deixar o Cantinho


Fraterno, literalmente, um brinco. Seus membros, todos de alta competência e
inspiração, devem levantar e, juntamente com a equipe interna de manutenção,
executar os reparos menores que o ambiente e os imóveis necessitam
(DIRETORIA EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022)

Comissão de oração e espiritualidade composição 7 membros:

A comissão de oração e espiritualidade conta com os mais jovens membros da


SSVP de São Carlos. Sua menor idade é 60 anos, justamente a idade de nossos
moradores. Têm a missão de passar nos dormitórios, nos intervalos, nos
ambientes em que o morador está e, com Cristo, elevarem uma oração a Deus
devem desenvolver projetos de interação espiritual também com os
colaboradores católicos da instituição (DIRETORIA EXECUTIVA –
GESTÃO 2020/2022).

35
Comissão de integração composição 3 membros:

Os membros desta comissão terão o árduo trabalho de devolver aos vicentinos


a tutela da casa, ou seja, a comissão de integração fará o contato e
reaproximação das conferências e seus membros ao Cantinho Fraterno
(DIRETORIA EXECUTIVA – GESTÃO 2020/2022).

A instituição disponibilizou o projeto vigente até 31/12/2020 para levantamento.


Neste projeto consta um olhar da instituição acerca de modos de avaliação sistemático e
contínuo realizado por meio de reuniões semanais entre dirigentes, profissionais e
familiares, quando se fizer necessário a participação dos familiares. As ferramentas
utilizadas no processo avaliativo são: frequência das atividades; relatórios; atas de
reuniões; avaliação do grau de dependência dos moradores; planejamento das atividades;
registro em prontuários e registros fotográficos.
No projeto analisado a instituição faz ressalva acerca da importância de efetivação
de um trabalho colaborativo entre o Poder Público e as Organizações da Sociedade Civil,
justificando sua necessidade em decorrência do aumento no envelhecimento populacional
conforme dados do IBGE.

4.1.1. As visitas na instituição

Meu contato inicial com a instituição se deu no mês de dezembro/2019 e a


finalização dos processos burocráticos e aceite do estágio ocorreu no mês de
fevereiro/2020, tendo aproximadamente um intervalo de 60 dias entre a solicitação e o
início das visitas à instituição e consequentemente aos moradores.
As primeiras visitas foram realizadas na segunda quinzena de fevereiro de 2020,
com início em 18/02/2020. Nesta primeira semana realizei três visitas na instituição e tive
como objetivo direcionar questionamentos para a compreensão de alguns procedimentos
adotados na instituição ao voluntário A. que se prontificou prontamente em responder
meus questionamentos, da mesma forma que o fez C., também voluntária. Os dois fazem
parte da Sociedade de São Vicente de Paulo. A assistente social faz parte da equipe de
colaboradores da instituição.
Nessas primeiras visitas, caminhei duas vezes por toda a instituição. No primeiro
dia acompanhada por C. e no segundo dia acompanhada por A. No segundo dia fui
apresentada a coordenadora da instituição que me acolheu com um sorriso no rosto e

36
também se prontificou a me auxiliar. Perguntei se havia algum documento que ela
pudesse disponibilizar para consulta e ela me forneceu uma cópia do Plano de Trabalho
2019/2020, documento que embasou este levantamento.
A primeira visita aos moradores ocorreu em um sábado à tarde, dia 22/02/2020.
As tardes de sábados são os dias que os moradores costumeiramente recebem as visitas
da comunidade. Alguns moradores são visitados pelos Vicentinos e há moradores que não
recebem visitas, não por estarem impossibilitados de recebe-las, mas porque não há quem
os visitem.
Os nomes utilizados durante a explanação das visitas são fictícios e serão
utilizados apenas a inicial, de modo a evitar exposição dos moradores sem a devida
autorização.
Ao chegar na instituição me aproximei de uma moradora que estava sentada em
um dos bancos e que já havíamos sido apresentadas durante as visitas realizadas para
conhecimento da estrutura física da instituição. Falei boa tarde, ela sorriu ao me
responder, perguntei seu nome e lhe disse o meu. Rapidamente ela começou a falar,
contou-me sobre o irmão que não via mais e falava de um modo que demandou uma
atenção plena e atenta para a compreensão das frases, as quais foram ditas de modo rápido
e em alguns momentos aparentemente desordenadas, mas que ao final do diálogo se
estabeleceu o sentido.
Uma colaboradora da instituição me disse: “você vai ficar a tarde toda com ela se
ficar dando atenção, ela não para de falar”. Sorri e continuei atenta nas frases que J. dizia.
Em seguida a assistente social veio ao meu encontro, a cumprimentei e ela falou se eu iria
conversar com ela, disse que sim, pois ela foi minha porta de entrada na instituição e
também gostaria de fazer um levantamento no prontuário dos moradores para verificar a
idade e possíveis patologias, com o intuito de ter uma visão das especificidades de cada
idoso como parte constituinte do diagnóstico.
A assistente social disponibilizou os prontuários de todos os moradores para
minha consulta, mas pediu que os dados além das idades não fossem divulgados, por isso
meu panorama foi feito de modo geral e sem citar as especificidades. Elas não foram
citadas, mas constituíram um dos pilares que embasou minha proposta de intervenção.
Em conversa com uma colaboradora obtive um relato acerca da preocupação em
relação a tristeza de alguns moradores, em sua fala estava explícito a preocupação
direcionada a tristeza de alguns moradores, a assistente social observa que por mais que
eles façam, alguns permanecem tristes, precisando ser internados por causa da depressão

37
e acabam vindo a óbito. Nesse momento, manifestou que gostaria muito de entender o
que acontece, se eles estão bem cuidados, são servidas seis refeições diárias, são cuidados
por uma equipe de enfermagem, há fisioterapeuta na instituição, além das comissões
mencionadas que também trabalham visando o bem-estar dos moradores, por que alguns
permanecem tristes? Acolhi sua fala e disse que durante meu levantamento geral da
instituição observaria também as questões apontadas por ela.
Após o levantamento do prontuário dos moradores, permaneci na instituição e
participei da missa realizada as 16h na capela, alguns moradores participam desse
momento.
O início da celebração se deu conforme mencionado as 16h. As 15h alguns
moradores, em sua maioria mulheres estavam prontas e esperavam sentadas nos bancos
da capela ou nos bancos localizados na área “aberta” da instituição. É um momento de
alegria, pois elas gostam de mostrar os vestidos, os colares, as pulseiras e as unhas
pintadas, elas se elogiam entre si e também me mostraram suas escolhas para a
vestimenta.
Entrei na capela e sentei próximo aos idosos, segundos depois me levantei para
pegar um folheto, Z. que estava sentada no banco da frente me pediu um folheto, trouxe
e ofereci a todos os idosos, alguns aceitaram. A maioria dos moradores que lá estão não
foram alfabetizados, e ao ver sua alegria em segurar o folheto, mesmo que ele não teria a
função que tem para a maioria das pessoas, pois os folhetos não seriam lidos, eles
desempenharam uma função de inclusão, os idosos que o seguravam o vaziam da mesma
forma que os demais e sua expressão era de alegria ao fazê-lo.
Quando entrou a moradora F. ela rapidamente olhou para mim se aproximou e
sentou-se ao meu lado, foi meu primeiro contato com ela, nos conhecemos ali. Ao se
aproximar ela disse: “vou sentar aqui com você”, respondi “pode sentar, por favor” e dei
um sorriso, a qual me retribuiu, começamos a conversar e perguntei seu nome, ela me
disse e falou que era uma moradora nova, que havia chegado na instituição naquela
semana. Me contou que frequentava a missa em outra igreja e falou onde morava, eu disse
a ela que me veria algumas vezes na instituição nos próximos dias, expliquei sobre o
estágio e minha felicidade em conversar com eles.
Ao me ver com o folheto nas mãos disse que havia esquecido os óculos no quarto
e que não iria busca-lo porque o quarto ficava longe. Perguntei se gostaria que eu os
pegasse, F. disse que sim, me explicou onde é seu quarto e a cômoda que estava seus
óculos. Entreguei os óculos juntamente com o folheto da missa para ela.

38
Participamos da celebração juntas e ao final me despedi.
Os moradores que não participam da missa permanecem recebendo as visitas dos
Vicentinos, pessoas da comunidade ou familiares. Há moradores que não recebem visitas,
não por incapacidade de recebe-las, mas porque não há pessoas que os visitem.
As visitas seguintes aconteceram exclusivamente aos moradores, sendo a maior
parte delas no período da manhã. Na primeira semana das 8h00 às 10h00 por três dias
semanais e nas semanas seguintes das 8h30min às 10h30min três dias por semana. A
mudança de horário se deu após perceber que a maioria dos moradores estavam em seus
próprios quartos esperando a hora do banho e que este pequeno ajuste permitiu um contato
com a maior parte dos moradores.
Nas duas semanas anteriores ao início da pandemia, comecei a realizar visitas duas
vezes por semana com o objetivo de diminuir o impacto possível gerado pela quebra do
vínculo ao final do estágio, a pretensão era a diminuição gradativa desse contato até ficar
uma vez por semana quinzenal, visto que, essa é uma frequência que conseguiria manter
após o término do estágio.
Sempre que chegava na instituição passava pela ala masculina e feminina falando
bom dia a todos que já estavam fora dos quartos, depois passava novamente e sentava
com alguns moradores que estavam nas salas de TV ou nos bancos ao ar livre. Com o
estabelecimento de vínculo passei a entrar nos quartos de alguns moradores. Na entrada,
voltada para a pracinha em frente a instituição ficava G., uma moradora em sua cadeira
de rodas, todos os dias ao chegar na instituição ela já estava pronta sentada ali fora, como
era de costume e de seu agrado.
No dia de visita conversei com J., ela é uma moradora que foi transferida para lá
após o fechamento de uma outra instituição de longa permanência para idosos. Conta que
sente saudades dos idosos que lá estavam, alguns foram para a instituição junto com ela,
em sua contagem foram transferidos aproximadamente cinco a seis idosos e que um
falecera. J. disse que gosta da atual casa, mas sente saudades da outra. J. apresenta um
diálogo em que aparece elementos de sua infância e família, perpassado de bastante
violência física, aponta que a mãe era muito brava e batia nos filhos, ela falou que não
apanhava porque era obediente, mas os irmãos sim, em falas posteriores à violência física
também foi relatada relacionada a própria pessoa.
Nesse dia conversei um pouquinho com Z., ela é uma senhora que gosta de bordar,
fica sentada as vezes com a recepcionista, gosta de bordar lá. Elogiei seu bordado e a
observei por alguns minutos, percebi que se sentiu feliz ao ver seu trabalho apreciado.

39
Na visita posterior permaneci mais tempo na ala masculina, ao passar em frente a
um quarto percebi que a porta estava aberta a qual possibilitou visão ampla do ambiente,
havia um morador se deitando em sua cama, parei na porta e disse bom dia! Ele me
respondeu, dei um passo entrando no quarto e perguntei: “o Sr. gosta de conversar? ”. Ele
respondeu: “não muito”, então falei: “mas eu posso ficar um pouquinho aqui? ”, ele disse
que sim e me disse que não tinha cadeira lá para eu sentar, falei que não havia problema,
não me importava em ficar em pé e assim começamos a conversar, perguntei seu nome,
falei o meu, me apresentei dizendo o meu propósito perante aos moradores e a instituição,
Sr. W. gosta de pintar, me mostrou os desenhos e os lápis de cor que possuía, e assim
conversamos por aproximadamente dez minutos. A partir desse dia sempre nas próximas
visitas ia falar um bom dia para ele, em um determinado dia já no final da nossa conversa
eu me despia e disse que iria ir embora para trabalhar, Sr. K. falou, “não precisa ficar
muito, uns cinco minutos já está bom, é só para conversar um pouquinho”. E foi aí que
percebi que o “não gostar muito” de conversar dito por ele no momento em que nos
conhecemos não era exatamente o significado literário da frase que deve ser tido como
verdade e sim o que há de subjetivo, pois, todas ações do Sr. K. mostraram o contrário de
sua fala. Em uma das visitas ele me contou que seu irmão que mora no mesmo quarto
com ele, tem problemas mentais em função de uma pancada que levou na cabeça. Conheci
seu irmão e de fato a comunicação verbal encontra-se prejudicada. Há leituras possíveis
através da compreensão não verbal que permitem entender suas necessidades.
Há moradores que permaneci mais tempo conversando e outros menos, fator que
se justifica por respeitar o tempo de vontade e de abertura para comunicação de cada um.
Em uma visita conheci Sr. L., ele me contou que era pintor e que na instituição
fazia artes. Perguntei se teria alguma para me mostrar, ele disse que sim e pediu para que
fosse ao seu quarto, lugar onde montou uma espécie de “ateliê”, e lá fomos. Ao chegar vi
que há bastante papelão, fitas de cetim para decorar, cola e outros materiais, a arte feita
por L. são capelas de papelão para colocar Nossa Senhora, elogiei seu trabalho, ele sorriu
e disse que gostaria de vender, mas ninguém compra essas coisas. Perguntei por quanto
ele gostaria de vender – dois ou três reais, respondeu.
Conheci também o Sr. H. ele me contou que tem um sonho de ser alfabetizado,
gostaria de aprender a ler e escrever. Atualmente uma das voluntárias que é professora
vai uma vez por semana para ensiná-lo, H. aprendeu a escrever o nome e me contou que
precisou ir ao banco e ficou muito feliz em escrever o próprio nome para assinar um
documento. Muitas pessoas que passaram por lá tentaram alfabetizá-lo, mas cada um

40
possui uma metodologia diferente, há aqueles que o fazem de boa vontade, sem ter
metodologia nenhuma. H. pontou isso, ele compreende que cada um ensina de um jeito e
diz que vai tentando aprender assim mesmo. Sua pontuação não tem ênfase de
reclamação, ele a faz num ato de dialogar e se expressar. Acredita que se tivesse alguém
para ir mais vezes ele aprenderia mais rápido. Quando chegava na instituição H.
perguntava, você tem um tempinho? Eu respondia que sim e rapidamente ele pegava o
caderno e me mostrava sua lição com grande alegria.
Em um dia estava sentada na sala de TV da ala feminina com J., Z e C., moradoras
que já havia conversado, quando chegou N., nos apresentamos e ela me disse que nasceu
em 1928, mas só foi registrada em 1929, tendo, portanto, 92 anos de idade. Falou um
pouco da vida de antigamente citando nomes de aparatos usados em roça que até então
desconhecia. Fiquei encantada em conversar com N. quanta história, quanta vivência a
ser passada, mas me contive para que não despertasse nada diferente do seu livre desejo
de acessar os conteúdos de acordo com sua vontade, pois, acima do meu interesse em
saber sua história compreendo que há muitos momentos que podem despertar sofrimento
e que não seriam necessários para o diagnóstico psicopedagógico.
Enquanto andava nas alas como de costume todas as vezes que chegava vi F.
deitada em sua cama, ela me viu passar, então parei pedi licença para entrar, ela me
ofereceu uma cadeira para sentar e começamos a conversar. F. me contou que trabalhou
com crianças, que gostava muito de ler, que foi costureira, inclusive chegou a fazer um
terno para o esposo. F. havia ido morar na instituição porque a assistente social foi em
sua casa conversar, após ligação recebida provavelmente de vizinhos, F. é consciente,
mas em função da idade ela tem 89 anos não tinha condições de ficar sozinha, era
perigoso. Após a conversa com a assistente social F. se mudou para a instituição, ela
contou que estava sozinha porque todos os seus familiares próximos haviam morrido,
chorou ao dizer isso, ela tem duas sobrinhas, mas que não tinha muito contato, disse ter
uma cachorrinha e que as vezes pensa como ela deve estar. F. disse que naquele dia ia
receber visitas, mas que não seria uma visita para ela e sim pessoas interessadas em sua
aposentadoria.
Participei três sábados da missa com os moradores, no dia 07/03/2020 foi
realizada a missa de comemoração aos 98 anos da instituição, ao final da celebração
alguns idosos que estavam participando da missa entraram em direção ao altar segurando
bexigas douradas com o número 98 e o quadro da doadora das terras que possibilitou a
construção da instituição, foi um momento de muita emoção para eles e todos os que

41
estavam presentes. Após o término da missa todos os presentes foram convidados a
participarem de uma festa de comemoração, eles gostam muito quando as pessoas da
comunidade participam das festas. Enquanto a festa acontecia senti falta de alguns
moradores, conversei com uma voluntária que disse que havia os convidados e eles não
quiseram participar, disse que é normal isso acontecer.
Na visita que realizei posterior a essa comemoração conversei com dois
moradores que não quiseram participar da festa e perguntei se eles realmente não
gostariam de estar lá. Um morador me respondeu que precisa do aparelho de oxigênio
para respirar, consegue ficar pouco tempo respirando sem o aparelho, geralmente é o
tempo que dura o banho, nos demais horários faz uso do equipamento. Não se sentia à
vontade para participar da festa desse modo. Expliquei dizendo que a comemoração era
para eles, a casa é deles e que não precisava se sentir assim, Sr. K. sorriu para mim.
O outro morador que não participou da festa e que no momento não recordo o
nome em função do pouco contato que tive com ele, mas que a fisionomia e as palavras
ditas jamais esquecerei, me disse que não fora na festa porque não se sentiu bem, a vista
ficou escura e teve medo de passar mal e dar trabalho. Expliquei a ele que estava em sua
própria casa e tem o direito de participar da festa, caso não se sinta bem seria socorrido
pela equipe de enfermagem que está apta para isso e que não se sentir bem é uma
característica de todas as pessoas, não há o que se preocupar, ainda mais quando se está
na própria casa, ele sorriu e disse que na próxima festa estaria presente.
Essa comemoração dos 98 anos da fundação da instituição foi classificada como
boa por eles, porque havia bastante pessoas, como foi realizada em um sábado à tarde a
disponibilidade foi maior em relação as festas que são realizadas nas últimas quintas-
feiras de cada mês.
Na última quinta-feira do mês há festa na instituição em comemoração aos
aniversariantes do mês, para a realização, comerciantes parceiros da instituição doam
salgadinhos e bolos. Segundo o parecer de alguns funcionários e dos moradores que
perguntei, a reação perante essa atividade é sempre positiva, além das festas eles gostam
de pessoas, o parâmetro utilizado pelos idosos para classificar a festa como boa ou ruim
é a quantidade de pessoas presentes, assim como diz H. quando perguntei como havia
sido uma das festas: “a festa não foi boa porque tinha pouca gente, é bom quando tem
bastante”.
No curto período de estágio foi possível presenciar o momento cultural
relacionado ao carnaval. Alguns moradores gostam, mas J. detesta, ela ficava nervosa

42
porque após a quarta-feira de cinzas ainda haviam pessoas no mundo brincando o
carnaval, e me mostrava indignada a notícia nos jornais sempre que me via na instituição.
Conversamos sobre isso e J. me contou que adora a festa junina, e teve uma vez que foi a
noiva da festa, neste dia ela tinha uma professora que a maquiou e ensinou todos a dançar
a quadrilha, ela gosta tanto dessa lembrança que me convidou a ir em seu quarto para me
mostrar o quadro que ganhou com sua própria foto vestida de noiva. Fiquei muito feliz
ao vê-la na foto e conhecer seu quarto, segundo M. (colaboradora), ela não deixa ninguém
entrar em seu quarto e se havia me mostrado é porque “alguma coisa tinha acontecido”,
M. sorriu, entendi essa fala como um imenso elogio e o estabelecimento de um vínculo
de confiança.
Sempre que chegava na instituição G. estava sentada em sua cadeira de rodas na
calçada que dá de frente para o jardim. Em uma das visitas sentei com ela e começamos
a conversar G. me contou de todas as festas que já fizera em sua casa, gostava de festas
com muitas pessoas, sente orgulho ao contar de todas as comidas que já fizera e da
quantidade, tanto de comida quanto de pessoas, pois, sentia prazer em receber muitas
pessoas em sua casa, trabalhava em uma granja, era responsável por lavar os barracões,
trabalhava muito e se sentia feliz, disse ter filhos, os quais seguiram sua vida, não os vê
mais, tem um sonho de aprender tocar sanfona, mas para isso precisa da sanfona e de
alguém que a ensine.

43
5. RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Em função da interrupção abrupta no estágio ocasionado pelo coronavírus –


COVID-19 e seu contágio acelerado fez com que uma análise crítica do projeto
disponibilizado para consulta relacionado aos dados coletados na prática fosse
prejudicado em decorrência do pouco tempo de permanência da estagiária na instituição.
Mediante este cenário os resultados e análise serão apresentados de forma geral, não
estabelecendo relação item a item para que injustiças e interpretações errôneas não sejam
levantadas. O foco será direcionado aos levantamentos que embasaram o diagnóstico
psicopedagógico para a proposta de intervenção.
Em relação ao projeto disponibilizado para levantamento e o que foi observado na
prática constata-se uma preocupação com o bem-estar dos moradores, há periodicidade
de reuniões para discussões e alinhamento das ações, o período do estágio compreendeu
o período de mudança da diretoria, isso deve ser um ponto importante para que
informações não sejam interpretadas de maneira equivocada, pois, mudanças acarretam
um período de readaptação.
Dentre o objetivo geral apontado no projeto que visa prevenir o agravamento de
situações de negligência, restabelecer vínculos familiares quando possível e acolher e
garantir a proteção integral do idoso em comparação as atividades práticas observadas,
constata-se congruência entre as informações, há reuniões frequentes visando melhoria
no acolhimento aos moradores e melhorias prediais. Uma preocupação com a melhoria
da instituição como um todo foi observado, o acolhimento não apenas da estagiária, mas
das pessoas que se aproximam com o intuito de contribuir ao trabalho institucional são
bem-vindas.
Os idosos de maneira geral gostam de morar ali, reclamam por não poderem sair
sem acompanhamento, fator que se justifica em si, pois a partir do momento em que estão
sob os cuidados da instituição, visto que muitos foram morar ali através de ordem judicial
tirados da família por maus tratos ou abandono, a possibilidade de saírem sem
acompanhamento não se torna viável.
Um dos dados coletados e que será analisado refere-se a quantidade, idade e sexo
dos moradores. Esses dados foram importantes como parte do diagnóstico para
compreensão do panorama da instituição, sabendo-se que um dos momentos históricos
vividos por eles e que impactaram em sua educação refere-se a divisão na forma de educar
homens e mulheres, portanto, observa-se que há atividades que são propostas e as vezes

44
não são aceitas pelos homens por compreenderem fazer parte do universo feminino e
vice-versa. Uma atividade que é oferecida constantemente são as oficinas de massinha de
modelar, atividade que não é aceita por vários homens.
Uma atividade realizada com os homens e que tem boa aceitação são os jogos, de
forma específica ou por não ter à disposição outro tipo de jogo é o dominó, eles gostam
de jogar, mas para isso dependem de voluntários da comunidade para jogar com eles.
Analisando os dados:
Gráfico 1

Representação total dos moradores por


faixa etária
2; 6%
2; 6%
8; 26%
60 - 69
8; 26% 70 - 79
80 - 89
11; 36% 90 -99
não informado

Gráfico 2

Representação de moradores por faixa


etária - homens

2; 14% 3; 22% 60 - 69
3; 21% 70 - 79
80 - 89
6; 43% 90 -99

45
Gráfico 3

Representação de moradoras por faixa


etária - mulheres
0; 0%

5; 31% 5; 31%
60 - 69
70 - 79
80 - 89
6; 38%
90 -99

O gráfico 1 totaliza 31 moradores, entretanto há 34 moradores na instituição, a


defasagem ocorreu pela não informação da data de nascimento correta de três moradores.
A ressalva se dá para fins de exatidão na informação numérica, mas não interfere no
diagnóstico psicopedagógico por compreender que a data exata do nascimento não
diminuiu a importância, integração e especificidades desses idosos perante ao todo. Saber
a idade e o sexo é uma das informações que fazem parte da identificação de um ser
humano, mas não é a única forma de identificar. Nesse contexto, a história de vida, o
direito a fala, o oferecimento da escuta ativa são fatores imprescindíveis na composição
diagnóstica psicopedagógica.
Analisando a literatura e observando a prática constata-se a extrema importância
de ofertar aos idosos opções para que eles possam ter autonomia para escolher, mesmo
que em um ambiente restrito o que gostariam de fazer. Pautado nessa análise foi pensado
o projeto em anexo que visou a construção de uma sala de leitura para que os moradores
pudessem pensar em novas formas de interação com a comunidade e entre si. Aos idosos
que não são alfabetizados, livros que contam histórias através de imagens serão ofertados,
aos que são alfabetizados e desejarem poderão ler aos demais, as pessoas da comunidade
ao visitar esse local poderão contar ou ouvir histórias contadas por eles. Uma parte do
acervo que irá compor a sala poderá e deverá ser construída pelos próprios moradores
através de incentivos para a confecção de livros em que poderão contar a própria história
ou criá-las, esses livros ficariam disponíveis nessa sala para apreciação e interação da
comunidade, sempre mediado pelo próprio autor, se assim o desejar.
46
O projeto não foi submetido a análise da diretoria em função da interrupção do
estágio pela pandemia, entretanto durante sua elaboração a viabilidade foi discutida com
A. que demonstrou grande interesse e ofereceu imediatamente uma sala para a montagem
do espaço de leitura. Há intenção de executar o projeto após o término da pandemia e o
contato presencial sem possibilidade de contágio ser reestabelecido.

47
6. O CENÁRIO ATUAL
De acordo com Aquino, Monteiro (2020), o Brasil teve o primeiro caso de
coronavírus em São Paulo no dia 26/02/2020 com a internação de um homem com 61
anos de idade no Hospital Israelita Albert Einstein.
O coronavírus (COVID – 19), teve sua primeira manifestação em dezembro de
2019 na China e foi constatado seu rápido contagio e a falta de mecanismos para conter
tal contaminação, situação que colocou o mundo todo em alerta (AQUINO, MONTEIRO,
2020).
A circulação deste vírus já estava sendo esperada no Brasil, uma vez que não há
vacinas para imunizar a população e a forma acelerada de contágio observada nos demais
países confirmava de acerta forma sua circulação no Brasil (AQUINO, MONTEIRO,
2020).
O ministro da saúde na época – Luiz Henrique Mandetta relatou que a estação do
ano com maior risco de contágio é o inverno, o qual chegaria em breve no país. Apontou
também que de todas as gripes históricas com taxa de letalidade, o coronavírus se
comporta com a menor taxa e possui transmissibilidade similar a determinadas gripes que
já foram superadas pela humanidade (AQUINO, MONTEIRO, 2020).
Uma das estratégias utilizadas para combater esse vírus e passar por esse momento
com a quantidade menor de mortes possíveis foi ouvir a Ciência, iniciando por escutar
pesquisadores e epidemiologistas brasileiros, para juntos traçar os caminhos para
enfrentamento deste momento (AQUINO, MONTEIRO, 2020).
Segundo Aquino, Monteiro (2020), as medidas adotadas para evitar a
contaminação foram:
a) Lavar as mãos com água e sabão;
b) Utilizar lenço descartável para higiene nasal;
c) Cobrir o nariz e a boca com um lenço de papel quando espirrar ou tossir e jogá-lo
no lixo;
d) Evitar tocar nos olhos, nariz e boca sem que as mãos estejam limpas.

Mas enfim, a luta é contra o quê?


De acordo com o Ministério da Saúde “A COVID-19 é uma doença causada pelo
coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de
infecções assintomáticas a quadros graves” (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2020).

48
O coronavírus é uma família grande de vírus comuns em várias espécies animais,
incluindo camelos, gado, gatos e morcegos. A contaminação pelo coronavírus que infecta
animais até então era tido como rara de infectar seres humanos, mas recentemente, em
dezembro de 2019, houve a transmissão de um novo coronavírus (SARS-CoV-2),
identificado em Wuhan na China, causando a COVID-19, sendo em seguida disseminada
e transmitida de forma rápida de pessoa a pessoa (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2020).
Um fator que deve ser ressaltado é que de acordo com a Organização Mundial de
Saúde, a maioria dos pacientes com COVID-19, cerca de 80% podem ser assintomáticos
– não apresentar sintomas ou oligossintomáticos – poucos sintomas, aproximadamente
20% dos casos detectados precisarão de atendimento hospitalar, por apresentar
dificuldades respiratórias, dos quais aproximadamente 5% poderão necessitar de suporte
ventilatório (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
Dentre os sintomas comuns detectados inicialmente o Ministério da Saúde destaca:
a) Tosse;
b) Febre;
c) Coriza;
d) Dor de garganta;
e) Dificuldade para respirar;
f) Perda de olfato (anosmia);
g) Alteração do paladar (ageusia);
h) Distúrbios gastrintestinais (náuseas/vômitos/diarreia);
i) Cansaço (astenia);
j) Diminuição do apetite (hiporexia);
k) Dispnéia (falta de ar).

Segundo o Ministério da Saúde (2020), os sintomas da COVID-19 podem variar de


um resfriado até uma Síndrome Gripal-SG, podendo desencadear um quadro respiratório
agudo, com características de pelo menos dois dos seguintes sintomas: sensação febril ou
febre associada a dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, evoluindo para uma
pneumonia severa.
A transmissão se dá por contato pessoa a pessoa, estando uma contaminada e/ou
através do meio, conforme segue:
a) Toque do aperto de mão contaminadas;

49
b) Gotículas de saliva;
c) Espirro;
d) Tosse;
e) Catarro;
f) Contato com objetos ou superfícies contaminadas, como celulares, mesas,
talheres, maçanetas, brinquedos, teclados de computador etc.

O diagnóstico da COVID-19 é realizado por um médico, considerando além dos


sintomas já mencionados, as especificidades e comorbidades de cada sujeito em sua fase
de desenvolvimento do ciclo vital – da criança ao idoso. Para o diagnóstico o médico
poderá solicitar exames quando necessário.
De acordo com o Ministério da Saúde (2020), as pessoas devem se prevenir do
contágio através de pequenas mudanças no comportamento atreladas a mudanças de
higiene, tais como descritas abaixo:
a) Lavar as mãos com frequência com água e sabão até a altura dos punhos, ou
higienizá-las com álcool 70% se não estiver em casa ou em ambiente que não haja
disponibilidade para lavar as mãos com água e sabão. O uso do álcool é
recomendado fora de casa por ser um produto inflamável e causador de acidentes
domiciliares;
b) Cobrir a boca com um lenço ou com a parte interna do cotovelo ao tossir ou
espirrar;
c) Fazer uso de máscara de proteção facial em todos os ambientes, ela serve como
uma barreira física para dificultar o contágio;
d) Não tocar nos olhos, nariz, boca ou na máscara com as mãos não higienizadas;
e) Manter distância mínima de 1 metro entre as pessoas nos lugares públicos e no
convívio familiar;
f) Evitar abraços, beijos e apertos de mãos;
g) Higienizar com frequência objetos que são utilizados regularmente, dentre eles,
celulares, brinquedos etc.;
h) Não compartilhar objetos de uso pessoal como talheres, copos etc.;
i) Manter os ambientes ventilados e limpos;
j) Evitar sair de casa sem necessidade, se precisar fazê-lo, que seja de maneira rápida
e por necessidade, como exemplo a ida ao supermercado;

50
k) Buscar orientações pelos canais on-line disponibilizados pelo serviço de saúde
caso manifeste alguns sintomas ou estiver doente. Siga todas as recomendações
do profissional de saúde.
Em função da indisponibilidade de vacinas específicas para curar ou impedir a
transmissão da COVID-19, a Organização Mundial da Saúde compreende as medidas de
distanciamento social, etiqueta respiratória e de higienização das mãos como as únicas e
eficientes para o combate a pandemia. Essas medidas são denominadas como não
farmacológicas (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
Algumas estratégias de distanciamento social foram pensadas com o intuito de
desacelerar o contágio deste vírus e não sobrecarregar o sistema de saúde, evitando o
maior número de mortes possível. Entretanto, ao mesmo tempo em que essas medidas são
extremamente importantes, se aplicadas por muito tempo podem causar problemas
econômicos no País e se não forem adotadas, podem causar um colapso no sistema de
saúde que também impactará na economia. (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020).
As medidas são:
a) Distanciamento Social Ampliado (DSA) – estratégia que exige que todos os
setores da sociedade permaneçam em suas residências durante a vigência
decretada pelos gestores locais;
b) Distanciamento Social Seletivo (DSS) – estratégia em que apenas alguns grupos
fiquem isolados, sendo selecionados aqueles que apresentam maior risco para
desenvolver a doença ou as pessoas que apresentam quadros mais graves como
idosos, pessoas com doenças crônicas, gestantes ou condições de risco como
obesidade, são pessoas consideradas como grupo de risco;
c) Bloqueio total (lockdown) – estratégia utilizada em situação de grave ameaça ao
Sistema de Saúde, é o nível mais alto de segurança. Durante sua execução, todas
as entradas do perímetro urbano são bloqueadas por profissionais de segurança e
ninguém tem permissão para entrar ou sair do perímetro que foi isolado.
Após 6 meses do início da pandemia no Brasil, com o contágio avançando e o número
de mortes ultrapassando 115.000 mil pessoas, foi estabelecido pelo Decreto Estadual
64.959/202 o uso de máscara obrigatório no estado de São Paulo – estado citado por ser
o estado de origem da autora e a Resolução SS – 96/2020 que estabelece multa as pessoas
ou estabelecimentos que descumprirem a determinação, os quais poderão ser multados
pela Vigilância Sanitária. Para pessoas físicas, o valor da multa será de R$ 524,59 e para
pessoas físicas o valor será de R$ 5.025,02, valor multiplicado pelo número de pessoas

51
sem a devida proteção dentro do estabelecimento. Os valores arrecadados serão
integralmente repassados ao programa Alimento Solidário, que distribui cestas de
alimentos para famílias carentes (saopaulosp.gov.br, 2020).
Em relação as Instituições de Longa Permanência para idosos ILPIs– termo que
substitui a palavra asilo há um documento publicado pela Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia que orienta os devidos cuidados aos idosos institucionalizados,
neste documento há orientações acerca dos diferentes eixos de atuação institucional,
referentes a: boas práticas em ILPI; questões jurídicas e de financiamento; orientações a
contato com familiares e sociais (BRASÍLIA, 2020).
Este documento preconiza a preservação dos vínculos familiares visando o bem-estar
de todos os idosos de forma a minimizar os impactos causados pela falta de calor humano
e de trocas de carinho com seus familiares, entretanto, é destacado a importância da
suspensão das visitas externas na instituição, quer seja de familiares ou amigos. Para isso
cabe as ILPIs informar aos idosos outros meios possíveis de comunicação como:
telefones, mídias sociais entre outros para que a necessidade de contato com familiares e
amigos seja suprida (BRASÍLIA, 2020).
Cabe as instituições manter os moradores informados acerca das medidas adotadas no
combate ao coronavírus e promover ações que objetivem minimizar os impactos
emocionais causados no período pandêmico (BRASÍLIA, 2020). Dentre as ações
possíveis encontram-se sugeridas no documento: os funcionários devem conversar
carinhosamente com os moradores para ouvir e atender suas necessidades; estabelecer
uma comunicação clara e objetiva por escrito (e-mail ou whatsapp) com os familiares
para orientá-los acerca das restrições para as visitas; criação de um grupo no whatsapp
que inclua familiares dos moradores, a assistente social ou outro profissional capacitado,
para troca de informações diárias, recebimento de recados e/ou vídeos; incentivar
voluntários da instituição a enviarem mensagens de incentivo aos idosos e promover
reuniões com pequenos grupos, seguindo os protocolos de prevenção, para pequenas
palestras sobre a Covid-19 (BRASÍLIA, 2020).
O objetivo primordial no âmbito institucional frente a esse cenário é preservar o
melhor nível de saúde física, cognitiva e mental do idoso (BRASÍLIA, 2020).

52
7. O ESTAGIÁRIO EM MEIO A PANDEMIA
A escolha desse capítulo se deu após um áudio recebido via whatsapp da
Instituição de Longa Permanência para idosos onde iniciei o estágio. No áudio uma
pessoa dizia: “Estamos muito preocupados com os idosos, eles estão bem tristes, será que
você poderia nos ajudar? ”.
Nesse momento me senti inundada de alegria e tristeza. Alegria por ter sido
compreendida como uma pessoa que pudesse contribuir de alguma forma, que a princípio
nem eu nem ela saberíamos como. O que estava explícito era que algo teria que ser
pensado e rápido. E tristeza em saber que os idosos mais uma vez sofriam as
consequências do distanciamento social que lhes é tão presente, independente do período
pandêmico, este por sinal, apenas agravou a situação.
O que fazer? Uma vez que o estágio não poderia continuar por determinações de
segurança advindas da instituição de ensino, determinações muito corretas, haja visto o
grande risco de permanência do estagiário para as demais pessoas na Instituição, além de
ter sido proibida a continuidade deste pela própria Instituição de Longa Permanência para
Idosos.
Nesse caso a prontidão para atender o pedido de ajuda veio antes que fosse
possível pensar nas possibilidades. Durante nossas conversas percebi que um possível
caminho seria realizar visitas através de vídeos e ela rapidamente falou: “podemos fazer
o dia da visita on-line! ”. Pronto, ação iniciada. Estava criado o “Dia da visita on-line”,
mas uma preocupação me veio instantes após a definição da ação, pois, não poderia haver
erros que causassem de certa forma algum tipo de transtorno, tanto a instituição quanto
aos moradores, a complexidade estava presente em todos os caminhos que olhava, a
tristeza dos moradores, os riscos iminentes do Covid-19, a infraestrutura, a inabilidade
tecnológica, tanto dos moradores quanto dos voluntários que costumeiramente realizavam
as visitas e que em sua maioria também são idosos. Diante dessas indagações busquei
embasamento como forma de minimizar quaisquer danos e apresentar algo pensado
cientificamente. Como resultado dessa busca foi encontrado o documento da Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia – Instituições de longa permanência para idosos e
o enfrentamento da pandemia de covid-19, onde orienta em seu eixo II item d: “incentivar
os voluntários da instituição a mandarem, vídeos cantando, contando histórias, passando
mensagens de incentivo” (BRASÍLIA, 2020, p. 11). Encaminhei esse documento para
embasar e dar viabilidade a ideia sugerida. Ação aceita pela instituição.

53
A partir dessa criação começamos a estruturar dia após dia a maneira possível de
realizar tais visitas, as quais seriam realizadas as quintas-feiras a tarde – dia em que ela
estaria na instituição.
Iniciamos o projeto com vídeos gravados por familiares e amigos, pois, era muito
importante saber como os idosos receberiam esses vídeos. Foi preconizado que os vídeos
seriam feitos individuais dizendo o nome do idoso e de quem estava falando. Gravei um
vídeo explicando que a partir daquele dia as visitas seriam realizadas de uma nova forma
e que eles poderiam responder como desejassem, gravando vídeos, áudios ou fazendo
algum trabalho manual, se os fizessem, seriam entregues aos destinatários.
Importante destacar que os vídeos em que os idosos aparecem só foram
encaminhados após autorização do Presidente da Instituição acompanhados por uma
mensagem que solicita o não encaminhamento de quaisquer vídeos originados pelos
moradores que o fazem apenas como forma de agradecimento e comunicação.
Essa ação foi realizada por entender que tão importante quanto o recebimento da
visita é o direito de resposta e a interação, se isso não tivesse sido feito, eles mais uma
vez seriam apenas receptores e a comunicação/interação, que já está prejudicada perante
o atual cenário ficaria ausente.
O feedback desta primeira ação foi muito positivo, os idosos ficaram felizes por
receberem as visitas on-line. Nos vídeos com duração de aproximadamente um minuto as
pessoas explicavam a situação atual, cantavam e recitavam poesias, foi uma experiência
grandiosa.
Mas como todo projeto, nos deparamos com algumas dificuldades. Conseguir os
vídeos iniciais é diferente do que os conseguir semanalmente, pois, aqui está um caráter
de compromisso, o que muitas pessoas não podem assumir. Passamos para um segundo
momento, conseguir grupos que pudessem fazer as visitas on-line. Há um grupo de
palhaços que fazem trabalhos sociais e se prontificaram a visitar de modo virtual os
idosos, há um grupo de jovens que também realizam as visitas, além dos pedidos semanais
para a criação dos vídeos solicitados aos familiares ou amigos dos colaboradores da
instituição e pessoas da comunidade que se prontificam a gravá-los.
Atualmente o projeto ocorre dessa forma, semana a semana buscamos novas
parcerias e/ou realizamos as visitas contando com a ajuda dos familiares e amigos.
Ressalto que essa ação só foi possível porque há duas pessoas na Instituição que
se prontificaram a mostrar os vídeos aos idosos.

54
Por que escrever esse capítulo se ele não faz parte do projeto e trabalho voluntário
como diz “ a regra de boas maneiras”, não deve ser divulgado?
Escrevo como uma forma de reflexão sobre estágios realizados com seres
humanos, independentemente da posição que se ocupa, no caso estagiária, quando somos
humanos e lidamos com seres humanos um vínculo é estabelecido, quer seja afetivo ou
educacional, portanto há uma pessoa do outro lado que se permitiu ser “estudada” e ela
tem todo o direito de ser respeitada e amparada em seu mais íntimo modo de ser. Assim
como todos nós vítimas dessa situação caótica que nos encontramos.
Participar dessa ação de forma voluntária ilustrou a grandiosidade e a
responsabilidade que o estágio traz em seu bojo e que muitas vezes fica subentendida
quando se está na posição de aluno em um contexto sem intercorrências, a pandemia fez
com que essa característica tão séria e tão importante viesse à tona. Destaco que minha
participação voluntária se deu através da minha formação anterior em psicologia, uma
vez que me encontro em processo de especialização, mas a procura direcionada a minha
pessoa só foi possível pelo contato que tive com a instituição mediada pelo estágio.

55
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O TRABALHO
Ao entrar em contato com a história da formação dos Asilos de Velhos, hoje
denominados de Instituição de Longa Permanência para Idosos, a velhice, a terceira idade,
a globalização e a sociedade pós-moderna, é possível levantar alguns questionamentos:
Será que de fato houve evolução e aceitação do envelhecimento como uma fase da vida?
Será que nós seres humanos estamos preparados para auxiliar essas instituições seja com
trabalho voluntário, doações ou como colaboradores, se a imagem de sofrimento atrelada
a eles for modificada? Será que os ajudamos porque temos dó do que nos espera na velhice
ou os respeitamos e admiramos?
Parece que novas “caras” foram dadas ao envelhecimento denominado “velhos-
jovens” e isso criou uma ponte passando “por cima” dos idosos institucionalizados
novamente, pois a evolução proporcionada pela globalização não atingiu essas
instituições, pouco se observa na mudança do Asilo de Velhos para as Instituições de
Longa Permanência para Idosos, no que concerne à visão da sociedade voltada a esse
público, a negação desses lugares e sua invisibilidade provavelmente será pauta de grande
discussões sociais por um bom tempo antes de mudanças efetivas acontecerem.
O papel do psicopedagogo nessas instituições será de grande valia para os idosos
e também para compor as discussões acerca do envelhecimento institucionalizado, pois,
é esse profissional que trabalha com o processo de aprendizagem que acompanha o ser
humano durante todo o desenvolvimento do ciclo vital – do nascimento a finitude.
De acordo com o estabelecido no Estatuto do idoso, Capítulo V, Art. 22 “nos
currículos mínimos dos diversos níveis de ensino formal serão inseridos conteúdos
voltados ao processo de envelhecimento, ao respeito e à valorização do idoso, de forma a
eliminar o preconceito e a produzir conhecimentos sobre a matéria” (BRASIL, 2003).
Mesmo estando estabelecidas medidas que visam eliminar o preconceito perante aos
idosos é possível observar a presença deste ou a negação do envelhecimento em vários
momentos da atualidade o que permite pensar que a aplicação das medidas não está se
efetivando na prática, foram conquistadas apenas no papel.
Em seu artigo Art. 24 “os meios de comunicação manterão espaços ou horários
especiais voltados aos idosos, com finalidade informativa, educativa, artística e cultural,
e ao público sobre o processo de envelhecimento” (BRASIL, 2003). Esse artigo se torna
alvo de reflexão por entender que os espaços midiáticos voltados aos idosos exercem
muitas vezes movimentação acerca do rejuvenescimento e não informações educativas
do envelhecer – processo comum a todos os seres humanos.
56
A complexidade do cenário atual se mistura de forma a agravar a complexidade
da situação dos idosos institucionalizados, que já sofreram perdas de entes queridos e
perdas materiais, idosos que devem ser vistos de modo atento, não apenas nesse contexto,
mas como seres humanos pertencentes a uma sociedade repletos de direitos estabelecidos
a todos, quer estejam institucionalizados ou não, a começar pelo direito de vida em
sociedade e não excluídos.
Como citado por Mário Quintana na epígrafe desse trabalho ao dizer que
continuamos morando na casa em que nascemos, peço licença para analisar o escrito
referindo-se à subjetividade. Essa “casa” jamais poderia ser destruída pela instituição,
tanto não o é, que a tristeza apontada por uma das colaboradoras pode ter sua origem
nesse rompimento da casa subjetiva, mudar o local de moradia física está longe de
representar um reinício de vida psíquica. Aqui deixo um caminho para novos estudos,
haja visto a complexidade e sutileza que esse assunto merece ser tratado.

57
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CURSO
A aquisição de conhecimento obtida através do curso de especialização em
Psicopedagogia Institucional foi de grande valia, as metodologias aplicadas durante os
módulos permitem que o aluno aprenda de forma plena, os métodos de avaliação não
exigem conteúdos “decorados”, mas demandam uma assimilação do conteúdo
disponibilizado, para que então seja possível reformular/reestruturar o pensamento para
o desenvolvimento das atividades.
Os professores são muito prestativos e capacitados, assim como o é a
coordenadora do curso. Aqui faço um elogio a ela – Juliana Zantut Nutti, pela
compreensão e solução adotada neste momento da pandemia, a qual vem carregada de
respeito e consideração as especificidades de cada aluno e ao contexto atual, dando-nos
autonomia para desenvolver o trabalho de acordo com o que cada um tem de melhor.
Agradecimentos eternos Juliana, pelos seus ensinamentos e por sua maneira respeitosa de
tratar os alunos. Obrigada!

58
REFERÊNCIAS
AQUINO, V.; MONTEIRO, N. BRASIL. Brasil confirma primeiro caso da doença.
BRASIL. Site. Ministério da Saúde. Fev. 2020. Disponível em:
<https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46435-brasil-confirma-primeiro-
caso-de-novo-coronavirus.acesso > Acesso em: 17/07/2020.

BARBOZA, V. M.; WISNIEWSKI, M. S. W. A Psicopedagogia e a aprendizagem em


idosos. Perspectiva, Erechim. V. 41, n. 156, p. 29-38, dez. 2017. Disponível em: <
http://www.uricer.edu.br/site/pdfs/perspectiva/156_676.pdf>. Acesso em: 29/07/2020.

BASTOS, E. M. A relação entre Psicopedagogia e o idoso: uma revisão sistemática.


Revista AMAzônica, Ano 12, Vol. XXIV, Número 2, jul-dez, 2019, p. 554-579.
Disponível em: <
https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/amazonica/article/view/6772>. Acesso em:
20/07/2020.

BAUMAN, Z. A vida líquido-moderna e seus medos. In: ______Tempos líquidos.


Editora Zahar. 2007, p. 11-32.

BAUMAN, Z. O segredo mais bem guardado da sociedade dos consumidores. In:


______ Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Editora
Zahar. 2008, p. 7 – 35.

BENELLI, S. J. A instituição total como agência de produção de subjetividade na


sociedade disciplinar. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 21, n. 3, p. 237-252,
setembro/dezembro 2004. Disponível em:
<https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-
166X2004000300008&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 30/07/2020.

BORTOLANZA, M. L.; KRAHL, S.; BIASUS, F. Um olhar psicopedagógico sobre a


velhice. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia (online). Artigo de
Revisão – Ano 2005 – Volume 22 – Edição 68. p. 162 – 170. Disponível em: <
http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/428/um-olhar-psicopedagogico-
sobre-a-velhice>. Acesso em: 29/07/2020.

BOSSA, N. A. Fundamentos da Psicopedagogia. In: ______ A Psicopedagogia no


Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2007. p.19-36.

BRASIL. Estatuto do idoso: lei federal nº 10.741, de 01 de outubro de 2003.


Brasília, DF. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>. Acesso em: 28/07/2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Medidas não farmacológicas. Disponível em:


<https://coronavirus.saude.gov.br/medidas-nao-farmacologicas> Acesso em:
17/07/2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Sobre a doença. Disponível em:


<https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#sintomas> Acesso em: 17/07/2020.
BRASÍLIA. Frente Nacional de Fortalecimento às Instituições de Longa
permanência para idosos. Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.
59
Abril/2020. Disponível em: <https://sbgg.org.br/wp-
content/uploads/2020/05/Relat%C3%B3rio.pdf>. Acesso em: 26/06/2020.

BUFALO, K. S. Aprender na terceira idade: educação permanente e velhice bem-


sucedida como promoção da saúde mental do idoso. Revista Kairós, jun. 2013. p.
195-212. Disponível em: < https://pesquisa.bvsalud.org/ripsa/resource/pt/lil-768816>.
Acesso em: 29/07/2020.

COSTA, A. A.; PINTO, T. M. G.; ANDRADE, M. S.de. Análise Histórica do


surgimento da Psicopedagogia no Brasil. Id on line Revista de Psicologia. Ano 7, n.
20, Julho/2013. Edição eletrônica em http://idonline.emnuvens.com.br/id. Disponível
em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/234. Acesso em 18/04/2020.

FALCÃO, D. V. da S.; CARVALHO, I. S. Idosos e Saúde Mental: Demandas e


Desafios. In: FALCÃO, D. V. da S.; ARAÚJO, L. F. de Idosos e Saúde Mental.
Campinas – S.P. Papirus, 2010. p. 11 – 31.

GOFFMAN, E. As características das instituições totais. In: ______ Manicômios,


prisões e conventos. Editora Perspectiva. 1961. p. 13 – 23.

GROISMAN, D. Envelhecimento, direitos sociais e a busca pelo cidadão produtivo.


Argumentum, Vitória (ES), v. 6, n. 1, p. 64-79. Jan/jun. 2014. Disponível em: <
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/9600>. Acesso em: 06/05/2020.

GROISMAN, D. Duas abordagens aos asilos de velhos: da clínica Santa Genoveva à


história da Institucionalização da velhice. Cadernos Pagu, n. 13, p. 161-190. Maio/
2015. Disponível em: <
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8635289>. Acesso
em: 06/05/2020.

GROISMAN, D. Asilos de Velhos: passado e presente. Estudos Interdisciplinares


sobre o Envelhecimento. Porto Alegre, v.2, p. 67-87, 1999. Disponível em: <
https://seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/view/5476>. Acesso em: 06/05/2020.

MANZARO. S. de C. F. Envelhecimento: idoso, velhice ou terceira idade? Portal do


envelhecimento. Nov./2014. Disponível em:
<https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/envelhecimento-idoso-velhice-ou-
terceira-idade/#:~:text=suas%20diversas%20dimens%C3%B5es.-
,%C3%89%20importante%20pontuar%20que%20existe%20uma%20diferen%C3%A7a
%20no%20uso%20dos,consideradas%20normais%20para%20esta%20fase.&text=O%2
0idoso%20%C3%A9%20o%20sujeito%20do%20envelhecimento.> Acesso em:
31/07/2020.

MANTOVANI. K. C. C. Psicopedagogia Institucional e Educação Infantil –


Fundamentos da Psicopedagogia. Instituto Brasileiro de Ensino. 2018. Disponível em:
<https://docero.com.br/doc/ss1exe>. Acesso em: 18/06/2020.

MUCIDA, A. O sujeito não envelhece – Psicanálise e velhice. 2ª ed. Belo Horizonte:


Autêntica Editora, 2019. p. 232.

60
PORTO, O. Psicopedagogia Institucional: teoria, prática, assessoramento
psicopedagógico. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. 160 p.

ROSA, C. M.; VILHENA, J. de. O silenciamento da velhice: apagamento social e


processos de subjetivação. Revista Subjetividades. Vol. 16 n. 2, Fortaleza. Ago. 2016.
Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rs/v16n2/01.pdf>. Acesso em:
29/07/2020.

ROZENDO, A. da S. Protagonismo Político e Social na Velhice. [recurso eletrônico].


1. Ed. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014, p. 228.

RUBINSTEIN, E. (Org.) Da reeducação para a Psicopedagogia, um caminhar. In:


______ Psicopedagogia – uma prática, diferentes estilos. Casa do Psicólogo. 1999. p.
17-39. Disponível em: < https://books.google.com.br/books?hl=pt-
BR&lr=&id=4MqVQ4f3K2IC&oi=fnd&pg=PA17&dq=pain+1986+psicopedagogia&ot
s=2SLMjlSXX0&sig=SqRLOaPjpIPVc9C8T3dTw-
JYifc#v=onepage&q=pain%201986%20psicopedagogia&f=false>. Acesso em:
3/07/2020.
SÁ, M. S. M. M.; VALLE, B. de B. R. do; DELOU, C. M. C. et al. Introdução à
Psicopedagogia. 2ª. Edição. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008. 144p.

saopaulo.sp.gov.br. Tire suas dúvidas sobre o uso obrigatório de máscaras em SP.


Do Portal do Governo. Julho/2020.Disponível em:
<https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/tire-suas-duvidas-sobre-o-uso-obrigatorio-
de-mascara-em-sp/> Acesso em: 17/07/2020.

SERRA, D. C. G. Teorias e Práticas da Psicopedagogia Institucional. In: ______


Conhecendo a Psicopedagogia. 1ª edição. Curitiba: IESDE, 2012. p. 5-8.

61
APÊNDICE - O PROJETO
São Carlos, 16 de março de 2020

Proposta de intervenção – Sala de leitura

“ Falar é dar, é se dar, se oferecer ao outro (...). Escutar é receber, é acolher, é


abrir-se ao outro e ser capaz de portá-lo a si mesmo. Dar e receber são duas
maneiras de se unir ao outro’’ (MATOS, 2005, p. 75 apud SILVA, FREITAS,
2018, p. 124).

Introdução

Como ser velho em uma sociedade capitalista que visa a produtividade em


detrimento da sabedoria, onde o valor que fundamenta o que é ser humano embasa-se em
sua capacidade de produção e consumo? Como preservar a autoimagem e a autoestima
sabendo-se que a sociedade desconsidera qualquer qualidade que esteja em desacordo
com as estabelecidas pelos modos de consumo?
Para Camargo, Oliveira, Sortegagna (2018), a representação social que se tem da
velhice e do idoso depende da relação que se estabelece com essa faixa etária ao longo da
vida, se há valorização ou depreciação dessas pessoas, de acordo com a experiência e
convivência de cada indivíduo (CAMARGO, OLIVEIRA, SORTEGAGNA, 2018).
Segundo Leite (et al. 2012), o processo de envelhecimento traz em seu bojo o
declínio das capacidades físicas e cognitivas, as quais podem sofrer variações de acordo
com as características de vida de cada indivíduo (LEITE, et al., 2012).
Para Falcão, Araújo (2010), há três formas de envelhecimento: o normal; o
patológico e o bem-sucedido. Nas palavras da autora:

O normal é aquele que transcorre sem patologias físicas ou psicológicas que


possam deixar o indivíduo incapaz. O patológico é resultante de um organismo
acometido por enfermidade e incapacidade e o bem-sucedido ocorre com baixa
probabilidade de doenças associada ao alto funcionamento cognitivo,
capacidade física funcional e compromisso com a vida (FALCÃO, ARAÚJO,
2010, p. 12)

Para Bosi (1994 apud SÁ, AGAZZI, 2016, p.1) há uma desvalorização da
sociedade perante aos idosos e deles próprios que se sentem como um peso para os
familiares. Segundo a autora, essa visão deve ser combatida ao compreender que o idoso
possui experiências a serem transmitidas aos mais jovens, as quais são fundamentais para

62
a evolução da sociedade, uma vez que permite aprender com os erros de seus
antepassados, oportunizando possibilidades de melhoria de vida. Nas palavras da autora:
“Uma sociedade que não valoriza o velho é uma sociedade que não evolui” (SÁ,
AGAZZI, 2016, p.1)
Segundo ARGIMON, STEIN (2005), é possível compreender o envelhecimento
como um processo que acarreta mudanças físicas, comportamentais e sociais em ritmos
diferentes e particulares em cada ser humano, que podem ou não afetar o bem-estar do
idoso. Dentre os fatores psicossociais que favorecem um envelhecimento saudável
encontram-se aspectos familiares, educacionais, cuidados pessoais, motivação e iniciativa
da pessoa idosa.
Para Leite, Real (2015), o trabalho em grupo com idosos apontou que há um
silenciamento advindo destes e que tal silenciamento é opressor, uma vez que a sociedade
ao excluir o idoso do círculo produtivo também o retira do envolvimento com o outro. Ao
ser “retirado” da sociedade o idoso se cala, deixando automaticamente de contar suas
histórias, por perceber que elas não têm valor algum (LEITE, REAL, 2015).
Tendo em vista o contexto social atual, a desvalorização atrelada ao
envelhecimento, as possibilidades de melhoria através da literatura, as observações e
interações com os idosos e colaboradores advindas da realização do meu estágio em
Psicopedagogia institucional na referida instituição, venho apresentar para análise e
aprovação a proposta de intervenção que contemplará a montagem de uma sala de leitura.
De acordo com Sá, Agazzi (2016), a contação de história permite a quem ouve
identificar-se com ela, relembrar o passado, compartilhar momentos da vida e refletir, são
ações que levam ao autoconhecimento. Esse espaço também possibilitará que o idoso
através da escuta e/ou contação da história possa se expressar.
Este projeto tem como objetivo geral realizar intervenção psicopedagógica na
Instituição com o intuito de incentivar o processo de leitura e contação de história aos
idosos como instrumento de estímulo à memória e interação social.
Como objetivos específicos o projeto visa:
a) Promover um espaço de interação entre os idosos, integrantes da equipe de
profissionais, visitantes e comunidade em geral;
b) Disponibilizar livros diversos, acessíveis aos idosos alfabetizados e não
alfabetizados;
c) Criar um espaço para utilização do processo de alfabetização aos idosos que
desejarem;

63
d) Disponibilizar um ambiente para contação de histórias;
e) Oportunizar a leitura por voluntários e visitantes, incluindo crianças;
f) Possibilitar aproximação com grupos sociais;
g) Incentivar a confecção de livros pelos moradores, os quais ficarão disponíveis
mediante autorização e desejo de cada morador para consulta na sala de leitura;
h) Favorecer a integração entre os idosos alfabetizados e não alfabetizados.

Metodologia

Mediante a disponibilidade da referida Instituição em fornecer uma sala onde será


montado uma estante para exposição dos livros a serem doados pela estagiária, com o
objetivo de iniciar a composição do acervo para acesso livre aos moradores. Haverá
também doações de pequenos materiais para a decoração do espaço e a confecção dos
livros pelos idosos, como alfabetos em EVA e lápis de cor.

Benefícios aos idosos

Aumento de escolhas em espaços de lazer e literatura para os idosos, oportunidade


para estímulo da memória, possibilidades de novas formas de expressão e interação.
Conforme citado por Rêda, Monteiro e Rezende (2016), a educação continuada é
uma maneira eficaz que possibilita a preservação da consciência, a melhora nos aspectos
emocionais e no combate a inúmeras doenças (RÊDA, MONTEIRO, REZENDE, 2016).

Possibilidades futuras

Ampliação de materiais disponíveis para acesso aos moradores, como quebra-


cabeça; jogo da memória, entre outros. Espaço para formação de grupos terapêuticos.

Daniela de Fátima Rapelli de Morais


Curso: Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional
Instituição de Ensino: UNICEP São Carlos

64
REFERÊNCIAS

ARGIMON, I. I. de L.; STEIN, L. M. Habilidades cognitivas em indivíduos muito


idosos: um estudo longitudinal. Cad. Saúde Pública [online]. 2005, vol. 21, n. 1, p. 64-
72. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
311X2005000100008&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 02/04/2020.

CAMARGO, D.; OLIVEIRA, R. de C. da S.; SCORTEGAGNA, P. A. A casa


sonolenta: literatura e experiências de idosos e de crianças como protagonistas em
projeto de extensão. Revista Conexão UEPG, vol. 14, n.2. 2018. Disponível em:
https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6856099. Acesso em 02/04/2020.

FALCÃO, D. V. da S.; ARAÚJO, L. F. de Idosos e saúde mental: demandas e desafios.


In: ______. (Orgs.). Idosos e Saúde Mental. Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 11-31.

LEITE, J. D.; REAL, M. P. C.; O romper com silêncio: círculos de cultura de


contação de histórias em uma associação de idosos. Olhar de professor, Ponta Grossa,
2015. p. 99-109. Disponível em:
https://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/11759/20920920
9702. Acesso em: 04/04/2020.

LEITE, M. T.; HILDEBRANDT, L. M.; KIRCHNER, R. M.; WINCK, M. T.; SILVA,


L. A. A.; FRANCO, G. P. Estado cognitivo e condições de saúde de idosos que
participam de grupos de convivência. Rev. Gaúcha Enfermagem. Vol.33 n. 4 Porto
Alegre. Dez. 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472012000400008.
Acesso em: 30/03/2020.

RÊDA, R. S.; MONTEIRO, N. M. M.; REZENDE, E. J. C. Educação não formal e


continuada: uma contribuição do design para o empoderamento de idosos
institucionalizados por meio de oficinas. 12º Congresso Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Design. Vol. 2 n.9. Novembro/2016. Disponível em:
https://www.proceedings.blucher.com.br/article-details/educao-no-formal-e-continuada-
uma-contribuio-do-design-para-o-empoderamento-de-idosos-institucionalizados-por-
meio-de-oficinas-24526. Acesso em: 02/04/2020.

SÁ, D. G. G. de.; Agazzi, G. L. Idosos e rodas de leitura: histórias não envelhecem.


Centro Universitário da FEI. 2016. Disponível em:
https://fei.edu.br/sites/sicfei/2016/Ci%C3%AAncias%20Sociais%20e%20Jur%C3%AD
dicas/IDOSOS%20E%20RODAS%20DE%20LEITURA%20-
%20HIST%C3%93RIAS%20N%C3%83O%20ENVELHECEM.pdf. Acesso em:
04/04/2020.

65
SILVA, L. C. da.; FREITAS, M. C. M. A.; Recontando histórias e revivendo
memórias: a contação de histórias como resgate de memória para idosos. Revista
Educação, Ciência e Inovação. Vol. 3. n. 1. IV mostra científica do curso de pedagogia
da UniEvangélica. 2018. Disponível em:
http://anais.unievangelica.edu.br/index.php/pedagogia/article/view/4488. Acesso em
01/04/2020.

66

Você também pode gostar