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MORAES
SINOP
2018
BONINNE MONALLIZA BRUN MORAES
Orientadora:
Profa. Dra. Tânia Pitombo de Oliveira
SINOP
2018
FRONTEIRA DISCURSIVA: O DISCURSO ESCOLAR E FAMILIAR FRENTE À
MATERIALIDADE DO LAUDO DE TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
BANCA EXAMINADORA
Orientadora
Dra. Tânia Pitombo de Oliveira
UNEMAT – Campus Universitário de Sinop
Avaliadora Externa
Avaliadora Interna
Avaliadora Suplente
SINOP
Agradeço ao meu criador, pois sei que os sonhos me movem tenho a Vossa bênção
como o alicerce que me sustenta e me conduz pelo melhor caminho, me ampara para não
desistir em nenhum momento, por mais difícil que se apresente a tarefa.
Agradeço aos colaboradores desta pesquisa, primeiramente aos pais que contribuíram
com a pesquisa, por falarem com desprendimento sobre momentos delicados de suas vidas,
pelo envolvimento, sem restrições ou ressalvas quanto ao assunto abordado,
Agradeço à UNEMAT pela oferta do programa de pós-graduação de Mestrado
Acadêmico em Letras que forneceu a oportunidade de exteriorizar o discurso de pessoas que
não estão dentro da academia, mas que precisam ser ouvidas e compreendidas como sujeitos
em construção.
Agradeço à Secretaria de Educação e à Escola Municipal da cidade de Sinop/ MT por
permitirem a realização da pesquisa com a professora e a coordenadora da escola, para
informar como se encontra a realidade dos alunos que necessitam de laudo diagnóstico e
entender qual a importância deste documento para a instituição.
À minha família agradeço, pela compreensão das ausências neste período de
construção do conhecimento, mas me apoiando em todos os momentos.
Em especial, agradeço as minhas mestras, primeiro a minha orientadora Tânia Pitombo
de Oliveira que com sua sabedoria me direcionou nas escolhas certas e com muita paciência e
confiança acreditou na capacidade de sua aluna, de outra área do conhecimento, ensinando-a
se encantar com a Análise do Discurso.
The present work carries out a discursive analysis, through the case study of the family and
pedagogic discourse against the materiality of the diagnostic report, as a discursive frontier,
where the student presents changes in the behavioral and pedagogical areas and was sent to
the medical evaluation to obtain the diagnosis of the developmental alterations presented at
the school, semi-structured interviews were carried out in three scopes, the position subject
teacher, the subject coordinator and the family subject at the time antecedent to the diagnostic
report and seeking in the materiality of the report to observe the transformation occurred in
the subjects and in the image before the apprentice. Based on the theorists of historical
materialist discourse analysis that contextualizes the materiality of spoken language, written
and documented in a historical process and being a discipline of interpretation, we rely on this
line to identify in the circularity of discourses whether the report will be presented as a
discursive frontier for the apprentice. The interest of the research came with the professional
vision as a speech therapist, who provides the award to both the school that awaits him
anxiously, and to the parents in response to the complaints presented by the institution that is
included and presents itself as the different. In addition to the concern for the visible
transformation of this student that changes for the autistic and no longer the student at the time
of confirmation of the diagnostic report, so our objective will be the identification and
understanding of the meaning of the communicative relationship. The materiality of this report
turns the different subject which is delayed or only inadequate in a subject with a pathological
diagnosis, losing its identity and its uniqueness.
Keywords: Autistic Spectrum Disorder, Diagnostic Report, School and Family Speech.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................12
1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA.................................................................................................................16
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA ...... 23
1
Segundo Teixeira (2016 p.18) o quadro clínico do autismo apresenta níveis se severidade distintos, ou seja,
indivíduos com o mesmo diagnóstico apresentam manifestações clínicas diferentes, vindo deste fato o termo
espectro.
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1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA
2
Membro do corpo diplomático norte-americano e com filho com síndrome de Down e fundadora dezenas de
associações de pais e amigos em seu país
18
Pestalozzi do Brasil3. A partir de 1945 a 1962 surgiram outras APAES, totalizando, no final
deste ano, dezesseis unidades e logo se espalhou pelo Brasil e, atualmente, conta-se com mais
de duas mil unidades, todas filantrópicas.
O movimento das APAES tornou-se uma organização respeitada nacionalmente em
que destaca-se pelo seu empenho em serviços prestados a humanização e valorização do ser
humano, voltado à pessoa com deficiência mental.
Primeiramente apresentaremos as três APAES que surgiram e após a divisão por
estados. (LIBERASSO, 2011):
Brusque /SC
Segue a trajetória das fundações das APAES nos outros estados brasileiros, segundo o
mesmo autor supracitado, observamos o crescente número da fundação das instituições, em
um curto espaço de tempo, pela necessidade de iniciar uma educação direcionada para os
alunos especiais, não esperar que o engajamento político se manifestasse.
Sendo assim, considerou-se a urgência dos desafios da educação especial das crianças
que, até o momento, não tinham nenhuma perspectiva de acesso à educação, relegados da
sociedade.
Sociedade a qual acabava de receber a carta de Direito Humanos, em 1948 que,
segundo Orlandi (2016), promulgava que todo ser humano tem direito à vida, à liberdade, à
segurança pessoal, além de pronunciar os diretos civis e políticos instaurados, além de direito
à educação na visão da ordem determinada pela mediação do Estado, o sujeito individualizado.
3
Entidade filantrópica, gratuita e sem fins lucrativos, que trabalha no atendimento de pessoas especiais, deficientes mentais e
com deficiências múltiplas.
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06/10/1967
07/08/1981
20/08/1964
04/05/1973
27/09/1966
03/10/1968
28/08/1965
22/08/1965
27/05/1965
15/05/1969
10/03/1971
01/06/1956
10/06/1967
30/11/1962
23/03/1957
27/10/1961
04/06/1968
06/10/1962
11/12/1954
31/10/1959
12/02/1981
07/08/1961
14/09/1955
27/08/1967
07/08/1957
22/10/1986
A fundação da APAE de Mato Grosso, iniciou com o casal, ele, engenheiro civil e
professor Domingos Iglesias Valério e ela, Norma Ruth Boehler Iglesias, que tinham um filho
com Síndrome de Down. Em suas buscas por assistência para ele conhecera a instituição
APAE no Rio de Janeiro e, a partir deste momento, iniciaram o processo de fundação da APAE
em Cuiabá. Esta ideia tomou força após um encontro com outro pai de menor posses e com o
filho nas mesmas condições que o dele, decidiu por iniciar a implantação, segue o relato,
segundo (ARRUDA, 2018):
4
São tarefas básicas de autocuidado, parecidas com as habilidades que aprendemos na infância. Elas incluem:
alimentar-se sozinho, ir ao banheiro ou solicitar para ir, escolher e vestir roupas, tomar banho, andar ou transpor-
se da cadeira de rodas para a cama sem auxílio.
21
Orlandi, (2015), propõe a observação da relação que está presente na articulação que
o Estado faz entre o simbólico com o político e a ideologia, constituindo, desta maneira, os
sujeitos e os sentidos. Refletindo neste aspecto, como considera-se a individuação destes
5
Berenice Piana é mãe de autista e ativista na luta para implantar direitos, com legislação participativa, ajudou
na luta de implantação da Lei 12.764/12 pelos direitos das pessoas autistas, que até a presente data não era
considerada pessoas com necessidades especiais.
23
alunos como “diferentes”, já que as leis os qualificam como diferentes, mas favorecendo a
acessibilidade e criando novos sentidos de diversidade. As noções de sujeito, indivíduo e
pessoa permeiam na fundamentação das pessoas que trabalham com diversidade, deficiência
e acessibilidade, pois, estes são sujeitos em desenvolvimento físico e psíquico. A autora afirma
também que o sujeito se identifica e é identificado como uma pessoa com deficiência
resultante de um longo processo de significação, de identificação em que este sujeito significa
pela ideologia que o interpela. Pensando assim, visando apontar a educação como uma
educação social, nesta socialização relacionando escola e educação há a formulação de novos
sentidos, como o sujeito com deficiência.
Nesta instância de ser diferente, Orlandi, (2015) aponta que no imaginário social, não
se nasce aluno, torna-se aluno, não se nasce deficiente, torna-se pessoa com deficiência
durante o processo de individuação que o poder ideológico de Estado o faz na sua identificação
e significação. A ideologia interpela o indivíduo, a escola promove esta ideologia. Neste
ensejo, é importante pensar na educação como meio de ensino, caminho de formação do
indivíduo, constituindo à imagem, relacionando com o meio social ao qual está inserido. Isto
quer dizer que “os sentidos sempre podem ser outros no processo educacional que resulta na
conformação de sujeitos sociais diferentes. A capacitação o adapta, a formação, o transforma”.
(ORLANDI, 2015 p.191).
Dessa forma, Orlandi (2004) refere à Análise de Discurso como interdisciplinar, que
insere a linguística e suas questões no campo de formação, em que o sujeito é interpelado pela
história. Trabalha no entremeio, ligando a exterioridade da linguagem e sua constituição. O
social, para a autora, é constitutivo, onde o discurso é objeto social.
Segundo Orrú (2016), a formulação Autismo, origina-se do grego autus, que tem como
significado “por si mesmo”, sendo esse o grande marcador caracterizado nas pessoas com
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autismo. Este termo foi empregado na psiquiatria por Leo Kanner, em 1943, iniciou os estudos
sobre os comportamentos diferentes e singulares de crianças. A partir da descrição do estudo
com 11 crianças, com as mesmas características, denominou, inicialmente, por “Distúrbios
autísticos do contato afetivo”. Em relação às características observadas é possível destacar:
estereotipias6, ecolalia7 e incapacidade de manter relações interpessoais. Este psiquiatra
descreveu uma tríade de características do grupo que analisou, as crianças com incapacidades
de relacionarem-se com as demais pessoas. Alterações na fala, linguagem e atividades
ritualizadas, que se apresentam desde os primeiros anos de vida e isolamento, embora tivessem
algumas habilidades especiais, como a memória. Kanner (apud Orrú, 2016) delimitou estas
características para ocorrer a diferenciação, mas considerava uma doença do grupo da
esquizofrenia modificado, em que a pessoa esquizofrênica se isolava dos sentidos do mundo,
mas no autismo nem chegava a se inserir no mundo que as cercam.
Como a demanda da clientela eram os filhos de pessoas renomadas da sociedade da
época, considerou um fator etiológico8, sendo a conduta dos pais, com as crises de
personalidades, como sendo fator desencadeador para o desenvolvimento do autismo.
Considerava ainda que gestações polêmicas, cheia de agitação ou não aceitação do filho,
também levasse a não relacionar-se com a mãe. O pesquisador foi o precursor dos estudos
sobre autismo revisando os conceitos por várias vezes sempre o definindo nos quadros de
psicoses infantis.
Outros pesquisadores contribuíram para a pesquisa sobre Autismo, como Hans
Aspenger em 1944, psiquiatra austríaco que escreveu sobre o autismo e observou maior
ocorrência no gênero masculino, com graves alterações no comportamento social, mas, com
precocidade no desenvolvimento da fala. Eram prolixos em determinada área do
conhecimento. Crianças com estas características levavam o nome de Síndrome de Aspenger.
Em 1948, repensou o conceito etiológico, mas permaneceu com a conjectura de
dificuldades de relacionamento interpessoal, obsessão por objetos, constância por rotinas,
alteração no desenvolvimento da linguagem, incluído mutismo e enfatizava, que estas
características eram percebidas antes dos dois anos de idade. Por um momento, chegou a
considerar o autismo como uma da disseminação da esquizofrenia infantil. Em meados de
1950, o autor evidenciou o autismo como sendo uma psicose, em virtude de não existir exames
6
Movimentos motores repetitivos, sendo o mais comum os movimentos de balançar as mãos próximo a cabeça
denominado flapping.
7
Repetições de sons e palavras de modo mecânico, inconscientes, sem sentido ou significação.
8
Etiologias (do grego αιτία, aitía, "causa") é o estudo ou ciência das causas.
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A escola francesa, neste período da década de 1970, concebe a patologia como uma
condição de desorganização da personalidade inseridos nos quadros de psicose infantil, sendo
estudos psicogenecistas. Os estudos organicistas defendem o autismo como originário dos
transtornos globais do desenvolvimento das habilidades de comunicação verbal e não verbal,
além da atividade imaginativa e seriam pautados nos quatro critérios acima descritos.
Lorn Wing (1981), psiquiatra inglesa, descreveu o design do autismo como um
espectro de condições, fundadora do National Autistic Society (NAS). Denominou a tríade
de alterações encontradas no autismo, ou seja, alterações na área do relacionamento social,
capacidade imaginativa e comunicação.
Tustin, 1984, outro psicanalista, criou o termo crianças encapsuladas, apoiando-se na
teoria de uma parada do desenvolvimento psicológico. Referia aos autistas como crianças
tomadas de pânico, mesmo demonstrando passividade, com uma luta interna por suas
angustias. Ele suponha ser um trauma da separação de sua mãe que ativaria o autismo,
embora elas pudessem ser, muitas vezes, tranquilas, defendia que, para os “portadores” de
autismo, deveria ter um sistema de ensino estruturado.
9
Criado em março de 1933, sendo o primeiro campo de concentração regular assentado pelo governo Nacional
Socialista, isto é, nazista. Heinrich Himmler, o diretor da polícia da cidade de Munique, descreveu-o oficialmente
como “o primeiro campo de concentração para prisioneiros políticos”.
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Segundo Pereira (2011) o autista não tem diferenciação em sua fisionomia, muitas
vezes levando aos pais a não observar as dificuldades apresentadas, pois, estas se apresentam
nas relações sociais, não nas características físicas.
E para se avaliar o autista faz-se necessário passar por uma equipe multidisciplinar
composta de médico neurologista ou psiquiatra, fonoaudiólogo, psicólogo e, se for necessário,
28
10
Nosologia: parte da medicina que trata da classificação das diferentes patologias.
29
11
Prognósticos em medicina, é conhecimento ou juízo antecipado, prévio, feito pelo médico, baseado
necessariamente no diagnóstico médico e nas possibilidades terapêuticas, acerca da duração, da evolução e do
eventual termo de uma doença ou quadro clínico sob seu cuidado ou orientação.
31
encontra-se na linguística diacrônica que aparece nos primeiros registros de dicionário por
volta de 1858, como parecer, voto, decisão do poder jurídico, assim seguindo até o momento.
Nossas significam, em um determinado trajeto histórico, em meio a outros trajetos. Na
perspectiva discursiva materialista, sempre remetemos o conteúdo de um texto às suas
condições de produção da leitura. “Há uma memória no dizer que sustenta o dizer de todo
texto”. LAGAZZI (apud DI RENZO, MOTA, PITOMBO-OLIVEIRA, 2011 p.277.). O
diagnóstico médico no TEA é fenomenológico, baseado em observações dos comportamentos
não tendo nenhum exame laboratorial complementar que possa confirmá-lo.
O que torna possível uma frase, um enunciado existir para Foucault (apud Gregolin,
2007) é a função enunciativa, por ser produzido por um sujeito em um lugar institucional,
determinado por regras sócio históricas que o possibilitem o dizer dentro de sua formação
discursiva.
Antes do diagnóstico, a maioria dos pais, não todos, notam algo diferente em seus
filhos, algo não esperado de respostas dentro do pré-estabelecido de uma sociedade. Dessa
maneira, geram esforços para compreensão do que está acontecendo tanto com seu filho, como
com eles próprios, gerando ansiedade, iniciando uma árdua tarefa de encontrar respostas e um
laudo. Mas, o alto peso do discurso científico se inscreve legitimando sobre o leigo, este lugar
de interpretação o funcionamento das formações imaginárias designa as relações de força.
(ORLANDI, 2015).
O Laudo, dentro do contexto histórico atual, já prediz que algo está incorreto e lista
incapacidades. Os silenciamentos, dentro destes resultados, encontra-se no discurso, tanto dos
manuais, como dos profissionais de evidenciar o errado e não suscitar que o indivíduo é um
ser único, com capacidades de aprendizagem diferenciada que, segundo Orlandi (2007), estes
silenciamentos encontram-se atravessados nas palavras.
Orrú (2016) define diagnóstico como sendo um conhecimento inventado para nomear
alguma coisa, pois, a humanidade havia sofrido muito pela falta de diagnósticos e pagando
assim com a própria vida.
No século XXI, foi a época de exaltação de avalições e critérios para diagnósticos em
diversas patologias e, com este aumento indiscriminado de diagnósticos, acarretou a emissão
descomedida dos mesmos, produziu uma elevação de casos psíquicos que meneiam os
indivíduos à normatização por meio de medicalização.
Critério é um termo que significa determinar o verdadeiro do falso, o bom do ruim. Os
critérios diagnósticos possuem o papel de homogeneizar os indivíduos conforme as rotinas de
avaliação.
32
O DSM, tem sido como uma referência para a área da psiquiatria e se encontra na
quinta edição desde a data de 2013. As evidências são embasadas nos sintomas observáveis,
não tendo nenhum exame laboratorial, o que podem ser susceptíveis às dúvidas, pois, o grupo
médico que os organizam pode estar enganado. O que se preconiza para reverter esta
confiabilidade é a criticidade sobre a supervalorização dos critérios não considerando as
subjetividades individuais de cada pessoa. O valor está em encontrar a doença para se
estabelecer um tratamento, fato que pode acabar por rotular um indivíduo, trazendo para ele
todo descrédito de incapacidades ou anormalidades carregadas na nomeação de uma doença.
(ORRÚ, 2016)
O laudo diagnóstico no TEA é realizado por meio de uma equipe multidisciplinar em
que, por meio do olhar clínico, observa diferenças nas áreas social, comunicacional e
comportamento incomum ou repetitivo. Esse olhar clínico, segundo Foucault (1977) para que
a doença fosse possível para uma forma clínica, foi necessário homogeneizar o indivíduo na
linguagem médica para possível cura, organizando os direcionamentos e procedimentos
necessários para tal.
Quanto aos critérios diagnósticos apresentados no DSM- V, para a avaliação do TEA,
observa-se o caráter reducionista para os aspectos de aprendizagem e desenvolvimento, não
mencionando que não irá aprender, mas destaca as inabilidades, os déficits, fomentando uma
incompetência para sua convivência em sociedade, o que não se configura como normal.
Mediante a presente pesquisa, constante de atualizações quanto ao TEA, lançou-se para
o público a mais recente classificação do CID, agora já designado como CID 11, código
utilizados por todos os médicos, não só o psiquiatra, vinculada na data de 18 de junho de 2018,
sem tradução para o português, em que o TEA, que não aparecia na versão anterior, agora
encontra-se dentro dos Distúrbios do Neurodesenvolvimento, caracterizado por déficits
persistentes na capacidade de interação social, comportamentos restritivos e repetitivos,
podendo haver inadequações nas habilidades de linguagem. Classificando adequadamente, se
apresenta com ou sem déficit intelectual, identificados desde a primeira infância, de zero aos
três anos de idade. Este recente tratado não foi adotado ainda no Brasil, sem data para ser
atualizado. Esta nova revisão traz, no momento, uma melhor definição do diagnóstico, com
regularidades de informações entre o CID 11 e o DSM V. Segue a descrição contida no CID11:
Orrú (2016) nos aponta uma questão discutida pela classe médica que seriam estes
critérios diagnósticos susceptível de dúvidas, confiabilidade e validade. Pois, o grupo de
médico da medicina psiquiátrica que chegaram à esta consonância, contudo é passível de
contestação pois são visões sobre a subjetividade de cada indivíduo, como segue na citação de
conferencista Anne Donnellan, da Universidade de São Diego, no qual a autora participou no
ano de 2010.
diferente: “Eu acho que ela está ouvindo e vendo o vento atravessar as
cortinas”. Isso é possível? Talvez isto estivesse mais perto da experiência
dele. Este é o ponto mais importante que gostaria de salientar a respeito da
avaliação diagnóstica: nós nos fundamentamos em nossa experiência para
fazer afirmações sobre a pessoa e não na experiência dela própria. É assim
que procedemos em relação àqueles que diagnosticamos como autistas ou
severamente retardados. (ORRÚ, 2016, p. 43)
12
Define como sendo o conjunto dos sintomas que se associam a uma certa doença.
35
O Laudo é o que define o diagnóstico e, dentro do contexto histórico atual, prediz que
algo está incorreto e lista incapacidades. Os silenciamentos, dentro destes resultados,
encontram-se no discurso, tanto dos manuais, como dos profissionais de evidenciar o errado e
não suscitar que o indivíduo é um ser único, com capacidades de aprendizagem diferenciadas,
que, segundo Orlandi (2007) ,estes silenciamentos encontram-se atravessando as palavras.
Socialmente, as palavras sempre são cheias de sentidos, o homem que domina a
linguagem verbal pressupõe que tem domínio maior sobre os sentidos, assim, Orlandi (2015)
apresenta esta forma de silêncio como fundante, indicando a variabilidade de sentidos
existente, em que o silêncio faz parte da linguagem e garante a movimentação dos sentidos.
Desta forma, o silêncio fundador significa, remete ao dizer e ao não dizer, em que o
não-dizer seria tudo o que poderia ser dito e não o foi, mas está inscrito no interdiscurso, na
memória constitutiva, o que foi esquecido. O não dito não tem a incumbência somente de
analisar o implícito, mas o que está esteado pela ideologia, o silêncio, segundo Pitombo (2007
p.28) “ O silêncio nos desvela a incompletude necessária e constitutiva da linguagem onde sob
os efeitos da literalidade e do implícito se tem a ilusão de controle do Homem sobre a
linguagem, o pensamento e as coisas do mundo. ”
Neste trabalho em que o silenciamento de nomear evidencia o não-dito sobre a
patologia, o que se tem de conhecimento sobre suas limitações ou possibilidades, os novos
efeitos de sentido que a partir do laudo que estão silenciados, além de nomeação do nome da
criança enquanto os sujeitos estavam sendo entrevistados.
36
Para a reflexão sobre o objeto de pesquisa a que se propõe este trabalho, recorre-se
aos dispositivos teóricos da área da análise de discurso materialista histórica. Iniciando-se com
a contextualização histórica, apresentar-se-á como a teoria de linguagem busca compreender
o funcionamento das diversas materialidades discursivas e o seus efeitos de sentido sobre o
interlocutores. Procurando compreender como a posição sujeito aluno com TEA é afetado, a
partir do momento da materialidade do laudo diagnóstico, e como a escola se propõe a
trabalhar estes efeitos de sentidos como um acontecimento discursivo em que altera-se a
posição sujeito aluno para posição sujeito autista.
A Análise de Discurso, doravante AD é uma disciplina que interpreta o efeito de
sentidos entre os interlocutores segundo Pêcheux (1969 apud GADET 2104, p.81), em que a
historicidade interpela o sujeito. Neste sentido, analisaremos os discursos familiar, com o pai
e a mãe, e o escolar, da coordenadora e professora de um aluno que estava em processo de
diagnóstico, para verificar o porquê apresentava diferenças no desenvolvimento comparado às
outras crianças, viabilizam novos sentidos.
A AD foi fundada por Michel Pêcheux em 1969, disciplina que se constitui por
condições de produção homogêneas embasada por uma análise automática do discurso,
fornecendo para as ciências sociais um instrumento científico segundo Pêcheux (1969 apud
GADET, 2014), destacando os aspectos históricos e políticos. Pêcheux procurou, na utilização
de um programa computacional, articular os componentes teóricos e analíticos, mas se deparou
com a subjetividade do discurso, desse modo iniciou a construção de conceitos delineando a
AD que surgiu no período da década de 1960, entre a movimentação política intensa na
Europa, com movimentos da esquerda politicamente atuantes.
Na França, Pêcheux refletiu sobre o funcionamento linguístico e o funcionamento
discursivo. Para o autor, entende-se a AD como um processo de desconstrução e reconstrução
para compreensão de seu objeto de estudo que é o discurso, permeado entre as três articulações
do conhecimento científico, sendo elas: o materialismo histórico das ciências sociais e suas
37
Segundo essa noção, podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito
é constitutivo do que ele diz. Assim o sujeito fala a partir do lugar de
professor, suas palavras significam de modo diferente do que se falasse do
lugar do aluno. O padre fala de um lugar em que suas palavras têm uma
autoridade determinada junto aos fiéis etc. Como nossa sociedade é
constituída por relações hierarquizadas, são relações de força, sustentadas no
poder desses diferentes lugares, que se fazem valer na “comunicação”
(ORLANDI, 2015 p. 37)
Segundo Pêcheux (1997), o que faltava, parcialmente, era uma teoria não subjetiva da
constituição do sujeito em sua situação concreta de enunciador. A ilusão de se ser sujeito é
necessária e impõe a tarefa de descrição de sua estrutura (esboço descritivo da enunciação),
assim, como a articulação da descrição desta observar a partir de que posição e para quem
realiza o discurso, esse sujeito feito de ilusão, foi chamado de esquecimento n.º 1. Assim,
apesar de toda essa abstração teórica. Um dos pilares da teoria da Análise do Discurso é o
conceito de sujeito, por ser a voz no discurso. Não é o centro, não sendo quantificado e sim
definido como tendo uma posição na linguagem, sempre submetido a ela, ocupando um lugar
precedente em que seu dizer atrela-se em dizeres já ditos, é definido por um processo sócio
histórico, não sendo ele a fonte de seu dizer, implicando converter tal noção a partir de uma
posição discursiva dada por determinadas condições e que, para flagrar movimentos de sentido
em seu discurso.
Será analisado, nesta pesquisa, o discurso de cada posição sujeito estabelecida: a
posição sujeito pai, a posição sujeito mãe, a posição sujeito coordenadora de escola e a posição
sujeito professora e, a partir da análise, compreender a enunciação de cada um a partir das
condições de produção dadas.
Em Orlandi (2017), também se refere à noção esquecimento como uma forma
estruturante da memória, onde sujeitos e sentido constituem-se. Seguindo a fala de Pêcheux,
40
partir de um lugar e como socialmente existe hierarquização de poder, isto faz a valorização
maior de determinados sujeitos do que outros devido às formações discursivas que foram
constituídas historicamente.
Outra noção importante na constituição do funcionamento discursivo é a formação
imaginária. Segundo Orlandi (2015), a imagem traz a relação que faz o funcionamento de um
discurso. Nas formações imaginárias, o imaginário é fundamental para essa relação, a imagem
que se realiza sobre o outro formulará os sentidos de seu discurso e essas formulações são
ideológicas.
Ao pensarmos sobre o funcionamento da linguagem, Orlandi (2015) nos afirma que
este movimento se estabelece entre a desinquietação da paráfrase e da polissemia. Por meios
parafrásticos que são os dizeres conservados de uma memória. Então a paráfrase corresponde
a volta aos espaços do dizer produzindo formulações variadas deste dizer solidificado. Já a
polissemia é designada como o deslocamento, a ruptura de processos de significação, age com
o equívoco. Faz a tarefa do dizer que todo discurso é igual e diferente ao mesmo tempo,
modificando a rede de filiação das palavras e dos sentidos. No entanto, as palavras já foram
ditas e significadas historicamente e possibilitam a movimentação dos sentidos. Faz-se
necessário esse jogo para que haja transformação, confirmando a incompletude da linguagem,
em que nem os sujeitos, nem os sentidos nem o discurso estão acabados. Essa é a condição de
existência dos sujeitos e dos sentidos, podendo sempre serem outros, atentando o confronto
entre o simbólico e o político, materializando a ideologia na língua.
Seguindo com a reflexão, parte-se dos tipos de discursos aqui apesentados,
considerando como base o referente (objeto) e os participantes do discurso (interlocutores).
Orlandi (1987) conjectura a existência de três tipos de discurso em funcionamento, o
lúdico, o polêmico e o autoritário. No discurso lúdico o referente se mantém presente e os
interlocutores se apresentam a esta presença (polissemia aberta). No discurso polêmico
mantém a presença do objeto mas os interlocutores não se expõem buscando dominá-lo,
direcionando-o (polissemia controlada). Já no discurso autoritário o referente encontra-se
ausente, velado pelo dizer, nem há presença de interlocutores, o que existe é um agente
exclusivo. (polissemia contida).
Considera-se aqui que o discurso pedagógico se inscreve no discurso autoritário, este
estabelece o percurso da comunicação, assim como apresenta-se no esquema:
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Metalinguagem Aparelho
(Ciência/ Fato) Ideológico
(R) ( X)
das palavras no discurso ou no silêncio, expõe ao mesmo tempo a relação fundamental entre
o tempo e a linguagem. O silêncio é fundante, como afirma Orlandi (2007, p.60):
gesto de leitura sobre o laudo diagnóstico, o que Orlandi (2014) define como não sendo a
leitura literal, mas sim a interpretativa. As diferentes novas leituras produzindo novos efeitos
de sentido.
Contanto, não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia, o indivíduo é
interpelado em sujeito pela ideologia fazendo assim sentido à língua. Pensando no
materialismo histórico propostos por Pêcheux, olhando as condições de produção entre sujeito
e situação, identificou-se o interdiscurso, em que algo foi falado antes, em outro lugar.
E assim, busca-se a compreensão de como os sujeitos se constituem nas suas
diferentes formas de existência.
Sob este entendimento tem-se que a falha é o lugar do possível, é onde se abre a ruptura,
assim, onde o sujeito pode romper com novos sentidos. Segundo Orlandi (2016, p. 231)
“fazendo sentido no interior do não-sentido. É isto que chamo resistência”
renovar o homem
usando borboletas.
Manoel de Barros
Para a autora, quando exprime sobre a diferença falando do corpo, como pessoa
deficiente, afirma que:
...para o corpo, que é o que nos ocupa neste passo, junto ao indivíduo e à
sociedade, podemos ainda citar o que diz Simone de Beauvoir (2002, p.69)
‘o corpo não é uma coisa, é uma situação: é a tomada de posse do mundo e o
esboço de nossos projetos’ (ORLANDI apud Barros e Cavallari, 2016, p.45).
Orlandi (2016) reitera que trata a individuação do sujeito pelo Estado através das
instituições e discursos combinados entre o simbólico e o político, ocasionando o modo de
como o sujeito se identifica e constitui na formação social. É nos moldes existenciais,
econômicos, sociais e culturais, na produção de um imaginário, pela interpelação ideológica e
na sua individuação que culmina no processo de identificação.
Para se entender a reflexão, segundo Orrú (2016), manuais para fazer avaliação como
o CID e o DSM servem para nomear, identificar e classificar as incapacidades dos indivíduos
para realizar as coisas difíceis ou insuficiência para resolver problemas. Neste sentido, a partir
da nomeação da patologia, entende-se o significado da identificação, a partir da materialidade,
da nomeação da patologia o indivíduo passa a ser o indivíduo patológico com todas ou quase
todas as incapacidades já constituídas pelo interdiscurso.
Neste sentido, o trabalho parte da reflexão do momento que a patologia é nomeada o
que origina novas formações de sentidos, passando do sujeito aluno para o sujeito aluno com
TEA.
Tendo em vista que a pesquisa envolve uma psicopatologia, inserida no DSM-V cujos
elaboradores são psiquiatras, não poderia aqui deixar de referir a Foucault, que analisa o
nascimento da clínica médica, observando os discursos inseridos em momentos históricos e
como estes formularam sentidos a partir da história da medicina, colocando que a clínica sem
dúvida era a primeira tentativa de ordenar a ciência médica pela decisão da observação, do
olhar.
Desde os primeiros trabalhos Foucault fez uma relação entre os discursos e a história,
os sujeitos e a produção de sentidos entre o homem racional que aprisionava o homem louco.
Analisando as condições de produção desse discurso, buscando não só o fenômeno, estudou o
momento da separação da loucura e da razão que ocorreu entre os séculos XVII e XVIII, na
formação do saber médico psiquiátrico e instaurou a loucura como doença. O seu estudo
analisava o histórico buscando no arquivo que numa visão cultural determinavam os
aparecimento e desaparecimento dos enunciados. Nessa metodologia arqueológica foi
possível analisar, também, as relações entre os discursos entre vários domínios, como político,
histórico, instituições, economia, acontecimentos.
Um dos acontecimentos do século XVIII foi o nascimento da sociedade capitalista,
onde os loucos, inicialmente, foram sendo identificados pelas suas incapacidades de gerarem
lucro, reforçando as condições de produção deste período. Com o nascimento da clínica,
Foucault, com seu método arqueológico, pesquisou a linguagem da morte, no discurso médico,
e referiu que a medicina nasceu então da discursividade das duas negações do sujeito: a loucura
e a morte, o olhar sobre a doença.
No século XVIII, havia as epidemias e a inexistência de assistência para a cura, o que
levou a estruturação do pensamento médico, surgindo o normal e o anormal. Tendo como
fundamento central a descontinuidade sempre correlacionando os fatos históricos para o
desaparecimento de uma positividade em detrimento à uma emergência. A descontinuidade é
simultaneamente conceito, operação deliberada e resultado de descrição, o que nos permite a
transformar.
Segundo Gregolin (2007, p. 96) para Foucault, o enunciado era uma função,
denominando como função enunciativa em que correlacionou o conceito de língua para
evidenciar as bases de diferentes evidências, esta função ocorre quando é produzida pelo
sujeito em um lugar institucional, regido por regras tanto sociais quanto históricas definindo a
possibilidade de ser enunciado.
Outro conceito referido por Foucault também é a formação discursiva, postula que a
descrição dos enunciados no que eles têm de singulares seria descrever a dispersão de sentidos,
mas encontrando ordens de correlações, oposições funcionamentos, transformações como
formas de repartição e sistemas de dispersão.
chamar de saber discursivo, este conjunto de elementos onde o sujeito pode tomar a posição
para falar dos objetos de que se ocupa, obedecendo a ordem.
Outra relação Foucaultiana é a relação entre discurso e poder, em que o sujeito
apresenta um medo do discurso. Isto possibilitou a instituição de sistemas de dominação, com
discursos controlados, organizados, selecionados e direcionados por alguns procedimentos
tendo como efeitos a exclusão, a sujeição e a rarefação.
Assim, nas contribuições para o trabalho vigente, faz-se necessário o entendimento de
que Foucault se refere a materialidade do laudo e sua importância para se estabelecer como
norma, regulamentação por uma formação discursiva dominante.
Do mesmo modo, Orlandi (2014, p.170) relata que o arquivo não é um simples
documento no qual se deparam com arquétipos, ele possibilita uma leitura que traz a superfície
dispositivos e significações buscando nas memórias discursivas um novo gesto de leitura.
A instituição escola está inserida na constituição de arquivo, onde há a necessidade de
normas regimentais para realizar a inclusão do aluno a partir de um laudo diagnóstico para ter
novos direitos perante a sociedade.
54
primeiramente, foi acertado iniciar com a mãe, mas ao chegar no local a mãe havia marcado
outro compromisso e avisou que iniciaríamos com o pai. Foi realizada a entrevista na área de
lazer da casa enquanto as crianças encontravam-se na sala assistindo desenho animado na
televisão, a conversa com o pai durou 44 minutos, com algumas interferências das crianças, no
sentido de querer atenção do pai para realização de alguma ação, como buscar água, não no
sentido de se pronunciarem na conversa. O pai, apresentou-se em alguns momentos muito
emotivo, com lacrimejar nos olhos, fazendo pausas no momento enunciativo, continuando após
com a cronologia do processo do laudo da patologia.
Já a entrevista com a mãe, após um período de 15 minutos de espera, iniciou-se no
mesmo lugar que se encontrava o pai, a mãe chegou afobada e mantinha uma fala mais direta
da cronologia do laudo, necessitando assim maior número de perguntas da entrevistadora. A
entrevista durou aproximadamente 28 minutos, também com interferências das crianças para
a atenção da mãe no quesito de pegar comida. A mãe não demostrou olhos lacrimejantes em
nenhum momento, apresentou sorrisos após algumas respostas
As condições de produção do discurso pedagógico se deram na escola municipal da
cidade de Sinop, no estado do Mato Grosso, localizada em um bairro próximo ao centro
econômico e social, sendo um bairro com estrutura asfáltica, conta com uma estrutura nova,
tem ensino maternal que contempla crianças de 4 e 5 anos de idade, com 16 turmas, atendendo
não mais que 25 crianças em cada sala. A gestão é municipal e dispõe de 8 salas de aula,
laboratório de informática, sala de leitura, cozinha, refeitório, secretaria, diretoria, sala dos
professores, almoxarifado, recepção, pátio coberto, anfiteatro e playground. Conta com um
corpo de profissionais constituído por técnicos de desenvolvimento, uma secretária, treze
professores com formação em educação infantil, uma diretora, uma coordenadora, uma auxiliar
de coordenação pedagógica com formação em psicopedagogia e oito técnicos de apoio que são
estagiários de diversas áreas como pedagogia, letras e psicologia. Tem quatro professores com
especialização em educação especial. Trabalha com a inclusão, depara-se com 2 crianças com
diagnóstico de TEA, uma criança com diagnóstico de Surdez, e outras 4 crianças em processo
de diagnóstico, todas estão em atendimento em sala de Atendimento Especial Especializado
(AEE). A coordenadora e a professora da sala do maternal que foram entrevistadas estão
trabalhando nesta escola há 4 anos. A coordenadora possui graduação em pedagogia e
especialização em educação especial com ênfase em Libras e a professora é formada em
pedagogia com cursos de formação em educação especial.
Para entendemos os efeitos de fronteira busco em Pêcheux (1990) que afirma que no
espaço de revoluções há o transpor de um mundo para outro, uma fronteira invisível a ser
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passada, isto se faz em paralelo com a linguagem, que em dados momentos, como na história
as vias de contato se alternam entre o visível e o invisível, entre o que existe e o que é
impossível.
O autor, ao referir a existência do invisível e da ausência, insere nas formas linguísticas
a negação, o pressuposto de um desejo que se trocam entre si, em um jogo entre o passado,
presente e futuro. Dessa forma, ele nos mostra que na época das ideologias feudais a barreira
linguística invisível os tornavam incapazes de se comunicarem.
o que, segundo Orlandi (2015), o discurso estava implícito, o subentendido, declara assim que
havia algo de diferente do “normal”.
A sequência discursiva traz para discussão o sentido do EPAI estar desorientado por
não ter consciência do que acontecia com F. “a gente ficou perdido”, “a gente não entendia
o que ocorria, né? ”, e que para isso teve que ser alertado pela irmã e pelas professoras “quem
nos alertou para esta dificuldade que estávamos pontuando, na época foi minha irmã e
ela pediu para que falasse com as professoras. ” Percebe-se que ‘o outro’ foi fundamental
para essa percepção, porque, foi através dele, que foi possível tomar atitudes para ajudar F. a
interagir melhor na sociedade, como refere-se Maingueneau:
pela possibilidade de algo incorreto com este filho. Orlandi (2015), define que o Outro me
constitui e é naquilo que digo que falo, o interdiscurso, a memória de que se estabelecer o
diferente eu não como no enunciado: “porque ele não entendia, não entendia que era com ‘ele’,
como saberia como este sujeito seria, afirmada na frase do enunciado do pai: “Então, no
contexto geral, a gente, no começo, estava perdido”.
Seguindo com a entrevista, o pai relata sobre o discurso pedagógico e religioso como
sendo os norteadores de condutas éticas e morais de sua vida, além de despontar a noção de
fronteira do nomear a patologia de seu filho e de identificar o Laudo diagnóstico como um
marco de posicionamento a ser tomado frente às questões da compreensão da deficiência do
filho. Como segue no recorte:
A forte presença dos discursos pedagógico e religioso encontra-se neste recorte, que
prevalece o enunciado autoritário. No relato do discurso pedagógico, o pai confirma o
profissionalismo da escola, a preparação dos profissionais da instituição para dizer o que seu
filho tem de diferente, de especialidade, ou seja, como pai, não contesta este enunciado, “a
forma que a escola nos abordou foi extremamente profissional... eles estão preparados para
falar para o pai e para mãe que seu filho é especial...”
É possível ainda dizer que o discurso pedagógico ancora-se no dizer legitimado pela
sociedade como inquestionável, por ser produzido dentro da escola, que é reconhecida como
a instituição que centraliza o saber (ORLANDI, 1987). Sendo assim legitimada, não se duvida
do que é informado pela escola, porque é detentora do conhecimento.
Ao mesmo tempo revela o peso do discurso religioso, em que é difícil aceitar uma
deficiência, mas é preciso. É lei divina amar ao filho, não podendo nem ao menos entristecer-
se. O que, segundo Orlandi (1987), há a legitimidade do discurso religioso como o pai está
presente neste discurso e o acata, pois, encontra-se inserido neste contexto social pré definido,
61
e considerado pecado dentro de sua religião o não amar e aceitar a deficiência ou o seu filho.
Como relata neste recorte: “Ahh nasceu tem problema, vamos descartar e fazer outro, não é
assim ...confesso que fiquei triste, mas, é o nosso filho. ”
Ainda quanto à presença do discurso religioso, se observa a manutenção da
dissimetria, que Orlandi (1987) define como sendo qualidade de relação que por um lado tem-
se a onipotência divina e do outro a submissão humana às regras, devendo ser bons,
imaculados e ter fé, verificasse neste enunciado: “confesso que fiquei triste, mas é o nosso
filho. ”
Até o momento de uma nova abordagem por parte dos profissionais da escola, o pai
necessitou que sua relação com o invisível fosse colocada em um discurso diferente para que
o deslocasse de um mundo para outro, materializando assim a visão sobre seu filho.
EPAI: ele é especial e a gente tem que ter esse anjinho especial junto
com a gente, a gente não pode virar as costas e deixar este problema
cada dia mais crescer. Então, a gente tem visto todo dia que vai
melhorando.
Um conceito que suscita a presente análise é a noção dos esquecimentos que, segundo
Pêcheux (1975), o esquecimento número um é da ordem da enunciação, onde se fala de uma
maneira e não de outra, as paráfrases, quando se referiu ao filho ter uma certa deficiência em
tal área, o sujeito tem a ilusão de ser a origem de seu dizer. E o esquecimento número dois,
diz respeito ao que escolhemos dizer de uma maneira em um lugar e de outra em outro lugar,
se prevalece de paráfrase, da sinonímia para se reafirmar e das formações discursivas aos quais
estão inseridos. Considera-se neste recorte:
No decorrer do discurso paterno, o laudo médico foi uma construção, uma somatória
de conhecimentos de várias áreas que conheciam e estudavam sobre o TEA, que se
encontravam nas formações imaginárias e, para a aceitação dos pais, houve a necessidade
desse momento de edificação. Usando paráfrases de áreas distintas do conhecimento, em que
cada profissional se fez presente, com suas falas específicas, tendo em vista um acontecimento.
O que, segundo Orlandi (2017), o fato social, no caso a criança com dificuldades, torna-se por
meio do Laudo, um acontecimento, entrando em seu funcionamento a memória constitutiva.
Esta mudança de construção de sentidos ao qual os pais conseguissem até mesmo dizer
o nome da patologia, que até então se referiam a ‘isso aí’, ou como ‘a deficiência’, é o que
remete a Orlandi (2107, p. 102) quando afirma: “ o acontecimento se dá no “ ponto de encontro
de uma atualidade e uma memória”, como se apura no recorte: “para chegar no 100% foi feita
várias conversas com vários profissionais , onde foram aparando as arestas e cada um foi
dando suas trocas de informações e seus conhecimentos e foram aparando estas arestas para
chegar no 100% até que ele chegasse nesse 100% do laudo inicial até o laudo final”.
Seguindo com o discurso paterno, o acontecimento foi de fundamental importância
para romper as barreiras invisíveis transportando os para outro mundo pela materialidade do
laudo.
não era isso que ele tinha... Defino como um divisor de águas. Porque
na hora que você recebe este laudo aqui você tem que estar buscando
uma solução né, para o seu problema, então você não tem que ficar
lembrando daqui para trás.
EPAI: eu consigo lembrar de quando eu recebi o laudo até hoje, não
fico lá no passado antes do laudo como é que era, já foi se ficar
pensando você fica se autoflagelando.
Toda vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede
de filiação dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas. E é nesse
jogo de paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente,
64
Destacando-se o recorte da posição sujeito mãe antes do laudo, faz elucidar a função
imaginária do desenvolvimento do gênero masculino que segundo a cultura popular, é de um
65
A procura por identificar, dentro das ações apresentadas pelo menor, as características
de uma patologia suscitam a sua realidade. O que não queria afirmar só através da constatação
do discurso médico é que iniciou o processo de aceitação do diferente, o que, segundo Orlandi
(2015), “tudo envolvido por formação imaginárias, relação de força, relações de sentidos e
efeitos da memória discursiva”, onde este saber discursivo tem o funcionamento através do
esquecimento.
Destaca-se neste recorte do enunciado da mãe, “o laudo hoje é: significa ter alguns
direitos, né?! Porque é só através do laudo que você consegue a psicopedagoga na escola. Eu
precisava deste laudo para ter este reforço escolar...o laudo é importante para isto”, que,
segundo Orlandi (2016), ter o documento denominado laudo é um meio de individuação do
sujeito pelo Estado, que lhe confere condições de identificação e direitos dentro da sociedade.
Deste modo podemos observar que o Laudo Diagnóstico realizado pelo discurso
médico, afirma a relação de força que se subscreve o sujeito assujeitado ao Estado, que por
sua vez se assujeita o sujeito para fazer valer as leis de individuação deste, perante a escola.
Segundo Foucault (1999, p.156) o laudo faz com que a individualidade entre em um
documento fazendo parte de uma rede de anotações.
Maldidier (apud ORLANDI, 2014, p.170) diz que a referência de arquivo que nunca
é dado a priori, todo arquivo é identificado pela presença de uma data, de um nome próprio,
de uma chancela institucional, foi o que se presenciou no discurso dos pais, o laudo
diagnóstico é o documento, tem validado pela formação discursiva médica que possui um
discurso autoritário sobre as outras formações discursivas, isto apresentou-se em todos os
discursos.
EMÃE: Mas por ele ter este grau leve é que nos tranquilizou, assim, o
fato que a médica falou que ele sai do ali do...transtorno, do espectro
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né? A medida que ele vai fazendo as terapias, que vai tomando a
medicação, ela vai fazer uma outra avaliação mais pra frente que de
repente ele não se enquadra mais, foi isso que ela nos explicou, né.
Então acho que no primeiro momento a gente ficou assustado mas,
depois a gente foi se tranquilizando
EPROF: Nós acreditamos que quem vai falar pra senhora realmente o
que o F. tem ou o que ele não tem, quem vai dizer assim, ele é uma
neuropediatra...
Nas entrevistas observou-se que para todos havia a necessidade do laudo para
que se pudesse realizar algo para o aprendiz, seja na ordem familiar para direcionar com
tratamentos adequados, seja na ordem escolar para direcionar para sala especializada e obter
os direitos de uma auxiliar. O que segundo Orlandi (2017), fazendo-se compreender que na
individuação da forma-sujeito , este seja trabalhado socialmente e que se vai constituindo como
indivíduo sócio-histórico, conforme observamos nas falas: “a busca de ajuda médica, de
psicólogos, de fono pra gente conseguir, daí sim, fazer com que tivesse uma solução para esse
caso, né.” , “A medida que ele vai fazendo as terapias, que vai tomando a medicação, ela vai
fazer uma outra avaliação mais pra frente que, de repente, ele não se enquadra mais.” , “Nós
acreditamos que, quem vai falar pra senhora realmente o que o F. tem ou o que ele não tem,
quem vai dizer assim, ele é uma neuropediatra...”, “. Então a gente faz esta primeira conversa
assim de forma muito leve, muito tranquila, é para tirar deles mesmo estas dificuldades se
percebem, quando eles apontam a dificuldade aí a gente age, né? Ahh, então não seria melhor,
né, levar num especialista? ”.
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A fronteira é marcada pelo uso dos tempos passado e presente. Segundo Pêcheux, todo
discurso é interpelado pela ideologia e, nesta, o poder de estado, como sendo uma formação
discursiva ao qual detém o poder, fica evidente. Atualmente a educação especial dependente
destes discursos para se requerer seus direitos perante a lei de que a educação é para todos,
isto fica visível na formação discursiva escolar, no sujeito coordenador.
Segundo Orlandi (apud BARROS E CAVALLARI, 2016) a diferença se constitui em
cada indivíduo pela ideologia e o modo de individuação pelo Estado, que se caracterizam pelas
instituições e seus discursos, isto aparece na fala do sujeito coordenador, representante direto
das instituições: “a gente percebendo toda necessidade dele toda demanda que ele iria
necessitar, e que precisa hoje, tendo assim, essas dificuldades ...” , “Que a gente percebe toda
essa diferença ano passado participava do Atendimento Especial Especializado, mas, sem o
69
laudo...a gente percebia que precisava de medicação...e a fala também era bem comprometida,
não fazia apresentações em grupo.”
esta perda acaba gerando um custo, um financiamento muito alto para o município...se uma
boa parte dos pais não compreendem isso, não traz o laudo, então o município tem que arcar
com isso igualmente.”
Existem duas barreiras visíveis e invisíveis segundo Pêcheux (apud PITOMBO-
OLIVEIRA, 2007) neste recorte que faz-se necessário transpor: A primeira que a materialidade
do laudo garante os direitos como aluno especial, como refere no recorte: “Nem todas as
crianças chegam com laudo...isto atrapalha um pouquinho porque tem toda uma questão
política também, né, em relação ao laudo. A escola tendo o laudo desta criança, o que que a
gente faz, a gente garante os direitos né? Nós temos a lei municipal, nós temos a Lei Federal,
como temos regimentos próprios...a última resolução que saiu sobre inclusão ela fala muito
desta questão do direito da criança, então pra gente se agarrar neste direito mesmo legal, a
gente precisa do laudo”. Outro marco a ser transposto seria o marco de fronteira pedagógica,
como sendo na materialidade do laudo o que irá definir o que será ensinado para este aprendiz,
como na fala: “Outra situação em relação ao laudo, é porque você faz as pesquisas, né? Dentro
daquilo que você está dizendo da criança e você consegue direcionar o trabalho pedagógico,
né, dentro das necessidades dela. Então assim ele vem facilitar muito a vida do profissional
aqui na escola”.
Seguindo esta questão da materialidade do laudo como uma fronteira discursiva, a
criança é transposta à condição do laudo, segundo Orrú (2016), o diagnóstico vem a
estigmatizar a criança, como o laudo tem a função de nomear, identificar e classificar, ela
passa a ser o autista, coisificando o indivíduo, como segue na fala: “ tem profissionais que
mudam sim! Ahh, porque à s vezes até esquece o nome da criança…Ahh meu autista, né?
Nem fala mais o meu aluno, existe sim a questão do rótulo, é tudo questão de ética mesmo,
né...não tem como dizer que não muda, não são todos os profissionais...a minoria estraga, né?
Contamina...”
chamava muito atenção, é que ele queria ficar perto de mim, da minha
auxiliar não, ele nunca foi agressivo, né...
Outro conceito que aparece neste recorte refere-se ao sentido do normal frente ao
discurso pedagógico, discurso este que se apresenta na nossa formação social como autoritário
e circular. Orlandi (1987) refere o discurso pedagógico como dissimulador, transmissor de
informações, que autoriza o professor a se apropriar da cientificidade , mas o professor é
institucional que ensina e o aluno o que aprende estes conhecimentos, como observamos no
enunciado: “pra mim foi assim, na primeira semana normal, ele tinha algumas atitudes de se
esconder debaixo da mesa, né? E sempre colocava a mão nos ouvidos, né? A voz alta, eu tenho
a voz alta, né? Ai... tudo bem, adaptação e tudo mais. Só que os dias foram passando e o F. foi
piorando e a gente percebeu que aquilo não era normal ... e eu via que ele era uma criança
é....desenvolvida, inteligente, porém era mais forte do que ele”. Na sequência discursiva “na
primeira semana normal”, “a gente percebeu que aquilo não era normal” a palavra normal
é relativa, pois depende da posição de onde se fala. As palavras significam de acordo com a
formação discursiva da posição ocupada pelos sujeitos. (ORLANDI,1987). Os sentidos não
estão nas palavras, mas nas formações discursivas e ideológicas de quem interpreta.
A EPROF traz para discussão a imagem que tem de F, considerando-o “desenvolvido
e inteligente, nunca foi agressivo”, mas diz que havia algo maior do que ele, ou seja, é a
paráfrase da patologia, “porém era mais forte do que ele”.
A AD nos possibilita observar a função Imaginária que permeia sobre o discurso da
professora em vários âmbitos, dos quais, perante à mãe refere:
EPROF: todas as vinte e cinco crianças, são uma diferente das outras,
e não é um laudo que vai te falar que um é diferente do outro...O laudo
a gente já sabia, né? Eu já esperava que era TEA, não tinha como a
gente, a partir do momento que eu fui anotando, todas as coisas para
eu passar um relatório à coordenação chamar os pais, você já tem uma
certeza assim, pode ser que você erre no nome, né? Não é ahh um TEA,
é um autista ou um, tem uma Síndrome, isso eu poderia ter errado, mas
dizer que ele precisava de ajuda não. Isso eu sabia, isso eu tinha
certeza...porque eu não me importo quanto à questão do laudo, eu me
importo que a família esteja ciente do problema...porque o laudo não
muda nada ...para nós professores nada...muitos professores batem
firme em cima do laudo... a secretaria pede o laudo para justificar o
bolsista, entende...
Então, assim, o laudo ajuda muito na questão financeira, né? Que vai
ser uma criança que vai receber uma verba diferenciada só que esta
verba fica na secretaria, né? E uma auxiliar em alguns casos. O único
auxiliar que esta, o único auxiliar com que tem direito nós ganhamos
auxiliar é o autista, você sabe, né? Por ser lei, é o autista.
A EPROF tem a imagem sobre a mãe de ser preocupada e enérgica, mas sem
consciência sobre a patologia, “ela estava muito preocupada”, “a mãe mostrava-se bem
enérgica”, “assim a mãe não se conscientiza da medicação”. Essas afirmativas mostram uma
imagem positiva sobre a mãe, que demonstra ter atitudes de uma mãe zelosa.
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No entanto, ao mesmo tempo que a define com essa imagem, traz a imagem de uma
mãe censurada, não adequada, quando diz, “eu nunca pensei que eu iria ouvir isto de uma mãe,
né? Ela entrou em conflito...”. Essa outra imagem traduz uma mãe desiquilibrada, que tem
atitudes consideradas por EPROF como descabidas. Ao interpretar, ao julgar as ações da mãe,
é preciso considerar que esse julgamento sempre poderia ser outro, isto é, a mãe, na posição
sujeito de locutor, talvez quisesse passar uma mensagem diferente da que foi interpretada pela
professora. Isso acontece porque no percurso da interpretação dos discursos os sentidos não
estão no controle nem de quem fala, nem de que interpreta. Os sentidos são sempre diversos
por serem sujeitos com histórias e formações discursivas e ideológicas diferentes. (Orlandi –
linguagem e seu funcionamento).
EPROF: todas as vinte e cinco crianças, são uma diferente das outras, e
não é um laudo que vai te falar que um é diferente do outro...O laudo
a gente já sabia, né? Eu já esperava que era TEA, não tinha como a
gente, a partir do momento que eu fui anotando, todas as coisas para
eu passar um relatório à coordenação chamar os pais, você já tem uma
certeza assim, pode ser que você erre no nome, né? Não é ahh um
TEA, é um autista ou um, tem uma Síndrome, isso eu poderia ter
errado, mas dizer que ele precisava de ajuda não. Isso eu sabia, isso eu
tinha certeza...porque eu não me importo quanto à questão do laudo,
eu me importo que a família esteja ciente do problema...porque o laudo
não muda nada ...para nós professores nada...muitos professores batem
firme em cima do laudo... a secretaria pede o laudo para justificar o
bolsista, entende...
Então, assim, o laudo ajuda muito na questão financeira, né? Que vai
ser uma criança que vai receber uma verba diferenciada só que esta
verba fica na secretaria, né? E uma auxiliar em alguns casos. O único
auxiliar que esta, o único auxiliar com que tem direito nós ganhamos
auxiliar é o autista, você sabe, né? Por ser lei, é o autista.
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EPAI: Quando você consegue ter um laudo, consegue ter ali uma
junta de profissionais dando um norte fica muito mais fácil.
Ficou evidente que o Laudo faz-se necessário para ambos entrevistados, pois, como
apresenta fala da professora, não que ele vá mudar tudo, mas direciona para outro caminho,
há o deslocamento de mundo, materializando o outro mundo e favorecendo os novos efeitos
de sentido perante a chancela do discurso médico.
A sequência discursiva da EPROF ao dizer “Posso ter um laudo e não fazer nada com
a criança e ai adiantou o laudo?” Indica que não adianta se ter o conhecimento se não for feita
uma ação sobre o que se passou a saber. É possível que esse discurso represente um
comportamento que acontece na prática pedagógica da escola, em que se toma conhecimento
dos problemas, mas não se faz nada na prática para que se chegue a uma solução. Sabe-se que
isso é comum não só na área pedagógica, mas em quase todos os espaços.
pronome sujeito, usado deliberadamente na fala pela grande maioria dos brasileiros em
substituição do pronome pessoal da primeira pessoa do plural o “nós”. O corriqueiro uso do
pronome apresenta-se fortemente destacado nos discursos dos entrevistados, o papel que esta
nomeação não seguiu a regra de substituição do pronome “nós pelo a gente”, mas sim, se
apresenta como a inclusão da pessoa em uma formação de um grupo de pessoas, em que seu
discurso está confirmado a presença de mais alguém no discurso, onde não somente a opinião
do indivíduo se manifesta, mas sim a opinião de um grupo que concorda com a argumentação.
Segue a visualização das falas nos recortes:
Na fala do pai e da mãe, a designação refere-se à apropriação da família frente à
realidade do processo de diagnóstico, entrevendo como se encaminhou o identificar e aceitar
o que o laudo traria para a realidade dele, o que Orlandi (2017, p.228) classifica como a relação
de acontecimento e denominação, o processo de nomear e os sentidos que surgem a partir do
processo de identificar. Observe em todos os discursos em que o uso da palavra “a gente” se
apresenta.
EPAI: Então acho que, no primeiro momento, “a gente” ficou
assustado, mas, depois “a gente” foi se tranquilizando e vendo também
as melhoras do F. nas terapias, “a gente” está mais tranquila sim, mais
consciente...
...na creche ele já haviam alertado alguma coisa nesse sentido, só a
que “a gente” não entendeu. A escola nos orientou bastante, de que
forma “a gente” tinha que tratar e com isso aí fomos buscando ajuda
também...
Fala assim, ele é especial e “a gente” tem que ter esse anjinho especial
junto com “a gente”, “a gente” não pode virar as costas e deixar este
problema cada dia mais crescer.
... “a gente” conseguiu entender isso e que ele é especial que ele é
um garoto especial, a gente não pode jamais deixar de assistir ou de
ver ele porque ele precisa, Até quando?
Ahh, mas o que que foi? Mas “a gente” ouviu, ahh, será que usou ou
não usou droga para ele ficar assim, será que “a gente” fez algum
pecado que ele ficasse assim?
EMÃE: Foi assim, quando ele entrou na escola mesmo, porque até em
casa “a gente” não via nada de anormal e também só tinha um filho.
Então, em casa “a gente” não sentia nada e aí quando ele foi para as
Escolinhas, né.
80
Mas você quer tentar sem a medicação, não deu certo realmente aí “a
gente” foi atrás, não realmente os professores estão reclamando, então
o que dá para fazer diferente? É a medicação?
Então assim nestas características que depois “da gente” ter estudado
muito que “a gente” vê que o F. realmente se encaixa, né!
Sim, “a gente” começou a entender mais ele né. Porque, daí, nossa,
ele tem esse LAUDO e tal, o que que é isso? Ahh, vamos pesquisar.
Então “a gente” começou a ter mais, a ver mais o lado dele porque
antes “a gente” achava muito como birra, como, vamos dar castigo
porque está muito birrento, muito manhoso, né. Então, agora não, “a
gente” começou ver que a criança é assim mesmo então “a gente” teve
uma certa, aumentou a paciência, né, e com as terapias “a gente”
começou a procurar mais ajuda, né, para ele, então “a gente” chegou,
começou a ficar mais participativo vê como “a gente” podia ajudar
frente ao laudo.
Então é toda uma busca, e assim tem que ser imediato porque “a
gente” recebe a criança, “a gente” não tem muito,né.
A escola tendo o laudo desta criança, o que que a gente faz, “a gente”
garante alguns direitos, né?
Na fala da professora:
EPROF: foi piorando e, aí, “a gente” percebeu que aquilo não era
normal, eu sempre falo a questão do laudo pra mim não é importante,
E “a gente” percebeu que ...estava desenvolvendo, porém era mais
forte que...ele não conseguia ficar parado, “a gente” percebia que
precisava de uma medicação e a médica havia passado assim...
medicação na primeira consulta.
gente” fazendo com que o falante tenha como referência a participação ou aprovação do outro.
No discurso familiar, a participação da mãe quando é a fala do pai e no discurso pedagógico,
a participação da coordenadora quando é a fala da professora. Isso sustenta o dizer de Bechara
(2006, p.117) em sua tradicional “Moderna Gramática Portuguesa” que o uso do “a gente”
como pronome, ocorrendo na linguagem informal como referência quando a pessoa se inclui
a que fala.
A inclusão do outro junto com as ações descritas pelos sujeitos envolvidos funcionam
como forma de retirar a responsabilidade de si e incluir os outros como se ao errar, pode-se
dizer que não foi culpa sua e sim dos outros envolvidos. É uma forma de dividir a
responsabilidade, não tomando para si o problema de F como sendo só seu.
Corroborando com a pesquisa, consideramos aqui que a ação de aceitar e fazer uso de
uma medicação está diretamente direcionada ao confirmar que o médico, dentro de sua
legitimidade imposta por este documento, materializando o laudo diagnóstico.
Segundo Bruzonski e Capori (2013) a medicalização tanto ocorre quando se tem
desvios de comportamento, como loucura, alcoolismo, hiperatividade, dificuldades de
aprendizagem etc., quanto de processos naturais da vida, como nascimento, desenvolvimento
infantil, menopausa ou velhice. Não que a medicalização carregue somente aspectos
negativos, mas não se foge aos problemas de supervalorização de determinados diagnósticos
que fazem as pessoas ditas normais, sejam postuladas com transtornos mentais.
Considerado um fenômeno universal, o desvio é um acontecimento de uma sociedade
em que se cria normas sociais e regras e impõem aos outros componentes deste grupo a
aprovação social e estas envolvem relações de poder. Assim a medicalização dos desvios é
um ato pelo qual se tem um limite do que é considerado normal ou não ser aceito. Seguindo
com a observação das autoras, é possível identificar os desvios na idade escolar, em que as
regras são quebradas, mas isto está muito acentuado atualmente, onde a medicina assumiu o
papel de agente normalizador de desvios, trazendo uma visão positiva para estes indivíduos
desajustados das regras, perdendo assim as oportunidades frentes aos demais.
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EMÃE: A medida que ele vai fazendo as terapias, que vai tomando a
medicação, ela vai fazer uma outra avaliação mais pra frente que, de
repente, ele não se enquadra mais. Foi isso que ela nos explicou, né.
Que realmente é o que te falei, que eu, a mudança que a gente viu foi
a partir do momento que ele começou a tomar a respiridona13, meio
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Respiridona: este medicamento é um antipsicótico atípico potente desenvolvido pela Janssen Farmacêutica.
Usa-se mais frequentemente no tratamento de psicoses delirantes, incluindo-se a esquizofrenia.
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comprimidinho, olha é uma dose super baixa, que todo mundo falou:
Nossa o F. é outra criança. Porque realmente a gente viu a mudança
no F. Até então era muito devagar e as vezes dava uma decaída. Agora,
nossa é só elogios para o F. Só elogios, as apresentações.
ECOORD: tem pais que se recusam bastante: “ahh não vou levar
porque vai medicar meu filho e eu não vou dar medicação”
A gente percebia que precisava de medicação também porque não era
dele aquela situação comportamental toda, né? A gente percebe
quando a criança precisa de medicação, por isso a gente precisa tanto
dos profissionais.
14
Anamnese: (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada pelo profissional de saúde um
questionário para saber o histórico de todos os sintomas narrados pelo paciente ou seus tutores, no caso de crianças, sobre
determinado caso clínico, dados não somente refentes à queixa, mas ao processos que estariam relacionados à esta.
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Depois do laudo: então aquele passado antes pra mim não importa, o
que importa o hoje, o dia de hoje, ensinar ele e ver que ele tem
melhora, ver que ele tem (pausa) e ver que ele tem ensinamento no dia
a dia, tem interação, consegue se comunicar com as crianças,
consegue brincar com as crianças do jeito dele, do jeito dele, então
tem algumas brincadeiras que ele, como qualquer outro menino
também que consiga se desenvolver normal, ele também faz
normalmente mas algumas coisas ele.
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A materialização do laudo diagnóstico teve seu real papel representado, em que sua
maior função é identificar, classificar e nomear a patologia específica. Como refere Foucault
(1999, p. 156) a escrita serve para esta classificação. Mas para o pai em questão, o laudo não
apareceu como um vilão para estigmatizar seu filho, mas sim despontou o deslocamento,
impelindo a uma fronteira, à um novo mundo, se posicionando como novos sentidos que a
nova linguagem lhe deu de aceitar e posicionar como pai, cuidador e orientador de seu
descendente.
EMÃE: antes do laudo: de fugir um pouco dos amiguinhos, se isolar,
no começo interage, mas quando você vê, já está saindo na tangente
ali e ficando mais sozinho. Realmente ele fazia isso, mas só como ele
interagia um pouco no começo, eu achava que não, que ele tinha
interação, mas depois ele dava as escapadas dele né. Ali que eu via
mesmo, é realmente ele gosta mais de ficar sozinho e brincar com as
coisas, ele não brincava com os brinquedos do jeito certo, o brinquedo
tem aquela função, ele sempre usava para outra né.
Para o sujeito mãe, o deslocamento fronteiriço agiu de forma à aceitar que seu filho
não faz parte de uma sociedade homogeneizada, onde todos ao receberem uma medicação se
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apresentaram da mesma forma comportamental e formular os sentidos que o laudo não definiu
os limites reducionistas de aprendizagens, mas sim, o colocou participativo e integrado ao
convívio não somente escolar, mas na sociedade como um todo.
Para os discursos escolares, o laudo diagnóstico, nesse caso, não trouxe o estigma de
tornar o aprendiz em aluno autista. Como a coordenadora afirmou, há a possibilidade do laudo
tornar-se um meio de rotular a criança, pois, para ela, o maior empecilho da inclusão se
estabelecer são as barreiras humanas que consistem em coisificar as pessoas diferentes.
Embora como Pêcheux nos afirma, é necessário o deslocamento para outro mundo para que
se estabeleça uma nova linguagem compreensível à todos, e na inclusão faz-se necessário por
hora muitas quebras de barreiras invisíveis.
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5 EFEITO DE FECHO
Essa pesquisa que tem o objeto de estudo, o laudo diagnóstico como fronteira discursiva
possibilita a compreensão de que submeter uma criança a exames que levem a um diagnóstico,
encontra resistência de aceitação de que o filho é diferente por parte da família.
Essa resistência da família se deve à memória discursiva que é constituída por todas as
formulações que já foram ditas e esquecidas como nos coloca Orlandi (2015), sobre ter um
filho com deficiência. A sociedade está organizada para excluir e rejeitar o diferente,
considerando-o incapaz para exercer qualquer atividade de produção.
Nesse contexto, o laudo diagnóstico proporciona a possibilidade de um novo olhar
sobre a criança e, ao mesmo tempo, proporciona novas possibilidades. Vem para esclarecer
quais são as condições de produção nas quais essa criança dever ser tratada, confirmando a
necessidade de ter um atendimento diferenciado, com atividades direcionadas e medicamentos
que possam auxiliar a criança a se tornar um sujeito inserido na sociedade. Sendo assim, o
laudo diagnóstico passa a ser a fronteira discursiva do antes e depois de se tomar consciência
da patologia, com a mudança da imagem, das ações, e do tratamento dedicado à criança, pois
após o laudo, o sujeito na posição de autista passa a ter direitos garantidos, passa a ter
cidadania, medicamentos adequados, acompanhamento especializado e melhores condições de
vida e adaptação.
Dando sequência aos objetivos propostos por essa pesquisa, são trazidas para discussão
as análises que se referem à família, na posição sujeito pai e sujeito mãe. No discurso do pai,
observa-se que a materialidade do laudo, significa a compreensão de que o filho necessita de
atenção especial e de que é dependente dos pais para poder viver. Já no discurso materno, o
laudo está ancorado no sentimento de aceitação de que o filho precisa ser medicado, e que
mesmo enfrentando a possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais provocados pela
medicação, esta mesma medicação pode auxiliar no processo de inserção desta criança nas
atividades familiares e escolares.
As análises que se referem ao discurso pedagógico são representadas na posição sujeito
professora e na posição sujeito coordenadora. Os discursos apresentados pela posição sujeito
professora são de que o laudo diagnóstico representa apenas a confirmação do que já sabia,
ou seja, não precisa do laudo para saber que o aluno tinha alguma patologia, pois as atitudes
da criança eram evidentes.
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O maior responsável por esse processo é o Estado, que garante pela lei que todos, ou a
grande maioria dos sujeitos estejam inclusos, mas que na prática a inclusão do que se apresenta
como “diferente” ainda não ocorre, pois o espaço discursivo é caracterizado pela segregação
dos iguais e diferentes. O Estado é articulador simbólico-político que individualiza o sujeito
em um inconsciente ideológico social que separa o normal do anormal por meio de laudos, em
tentativas de categorizar os sujeitos com o suposto benefício da inclusão.
93
Assim, para que a inclusão se efetive de forma concreta faz-se necessário que o Estado
ofereça ao sujeito com deficiência uma educação não somente assistencialista e reprodutiva do
discurso da inclusão. É preciso que sejam cultivados espaços sociais politicamente
ressignificados que possam discutir novos sentidos, em que a individuação possa se instalar,
instaurando novos modos enunciativos sobre as deficiências e as diferenças.
Falando da posição de Fonoaudióloga, no entremeio da educação e saúde, analisando
os discursos produzidos sob o prisma da Análise do Discurso é possível dizer que houve
crescimento e transformações nos conhecimentos produzidos. O olhar objetivo e direto exigido
pela função de fonoaudióloga permeado pela análise não subjetiva das subjetividades
analisadas da linguagem e da subjetivação que envolve os sujeitos analisados na pesquisa
transformou a maneira de se perceber a patologia do TEA, pois o que antes determinava
características peculiares da patologia por meio do laudo diagnóstico, mais como registro do
que como significação, após a pesquisa permitiu a descoberta de novos sentidos em que o laudo
passou a ocupar um novo funcionamento discursivo, a representar a mudança de atitude, de
imagens, de percepções que não se evidenciavam de forma tão marcante como se fez após os
estudos realizados.
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REFERÊNCIAS
Referencial webgráfico:
http://espacoautista.blogspot.com.br/2013/06/criterios-para-o-autismo-no-dsm-v.html
acesso em 10/09/2017.
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.683.htm acesso em 08/09/2017.
http://www.sinop.mt.gov.br http://www.cmqv.org http://hdl.handle.net/10183/96179
acesso em 10/05/2017.
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/fronteira.
acesso em 10/02/2018
https://www.recantodasletras.com.br/poesias/5591066 acesso em 10/11/2017.
https://pauloliberalesso.wordpress.com/2011/11/26/a-historia-das-apaes-no-brasil/
acesso em 05/12/2017.
https://www.sinop.mt.gov.br/Noticias/Emei-santo-antonio acesso em 05/09/2017.
https://www.infopedia.pt/dicionarios/termos-medicos/portador acesso em 09/09/2017.
http://portal.inep.gov.br/web/guest/resultados-e-resumos acesso em 03/10/2017.
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/saeb/2018/documentos/livro_saeb_2005_2015
_completo.pdf acesso em 25/09/2017.
http://www.vgnews.com.br/eventos/id- / Várzea Grande/MT, 16 de julho de 2018 – ARRUDA,
Leandro. acesso em 29/09/2017.
http://sinop.apaemt.org.br/ acesso em 10/11/2017.
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APÊNDICES
Sujeito Família
1) Qual foi o dizer do professor e coordenador ao ser chamada para os relatos pedagógicos
e comportamentais de seu filho?
2) Em algum momento cogitou-se no discurso escolar algum diagnóstico em específico?
3) Qual foi a posição assumida ao ser comunicada que precisava de avaliação de um
especialista?
4) Qual foi o laudo diagnóstico dado ao seu filho?
5) O que mudou no discurso familiar em relação a escola após o laudo diagnóstico?
6) Você sente que a escola está preparada para trabalhar com seu filho?
7) Como é o discurso familiar após o laudo diagnóstico de TEA perante à sociedade?
Sujeito Professor
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APÊNCICE 2
Lei 12.764/12 (Lei destinada a pessoas com Transtorno do Espectro Autista/ Berenice Piana)
Art. 1º A pessoa com transtorno do espectro autista é considerada pessoa com deficiência,
para todos os efeitos legais.
Art. 2º É garantido à pessoa com transtorno do espectro autista o direito à saúde no âmbito
do Sistema Único de Saúde – SUS, respeitadas as suas especificidades.
§ 2º A atenção à saúde à pessoa com transtorno do espectro autista tomará como base a
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – CIF e a Classificação
Internacional de Doenças – CID-10.
Art. 3º É garantida proteção social à pessoa com transtorno do espectro autista em situações
de vulnerabilidade ou risco social ou pessoal, nos termos da Lei nº 8.742, de 7 de dezembro
de 1993.
§ 1º O direito de que trata o caput será assegurado nas políticas de educação, sem
discriminação e com base na igualdade de oportunidades, de acordo com os preceitos da
Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência.
§ 3º O valor da multa será calculado tomando-se por base o número de matrículas recusadas
pelo gestor, as justificativas apresentadas e a reincidência.
Art. 7º O órgão público federal que tomar conhecimento da recusa de matrícula de pessoas
com deficiência em instituições de ensino vinculadas aos sistemas de ensino estadual, distrital
ou municipal deverá comunicar a recusa aos órgãos competentes pelos respectivos sistemas
de ensino e ao Ministério Público.