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Quando 0 lugar resiste ao espago Colonialidade, modernidade e processos de territorializagdo Andréa Zhouri Raquel Oliveira [Equem canta como “nés" na minha propria retorica? Que identdades poderiam sustentar um mito politico tio potente chamado “nds #0 que poderia mativar uma adesioa essa coletividade? Haeaway, 1985, p. 72-73 Para pensar os conflitos ambientais O debate sobre as dicotomias sujeito-objeto, natureza-cultura, objetivi- dade-subjetividade, entre outras que alimentaram as reflexdes epistemologicas desde os anos 1960, encontrou suporte nas vertentes pos-estruturalistas, feministas e ambientalistas, as quais, por uma hermentutica dialética, simul- taneamente influenciaram e foram influenciadas pelos movimentos sociais que eclodiam na Europa naquele contexto. Nos anos 1980, novos desdobramentos e atualizacdes desse debate permearam a discussdo sobre o pés-moderno nas ciéncias sociais, em que a presenga do autor, a autoridade etnografica, 0 retorno da etnicidade, enfim, foram chamados reflexao (Clifford, 1988; Clifford; Marcus, 1986; Rosaldo, 1989, entre outros). No campo da antropologia feminista, Donna Haraway (1985) afirmava o cardter parcial e localizado de todo 0 conhecimento, se referindo as epistemologias objetivistas como “a habilidade divina de ver tudo a partir de lado nenhum’ 440. oesewvowenro conruros amleNrats Na sociologia, Boaventura de Sousa Santos (1987) elaborou uma critica ao paradigma cientifico dominante na modernidade, chamando a si a tarefa de articular um novo modelo para a producio do conhecimento que reintro- duzisse 0 sujeito na cena. Ao afirmar que “o objeto é a continuacao do sujeito or outros meios”, Santos propds um resgate do senso comum - pragmatico, localizado, baseado no lugar e fundamentado na experiéncia, ao mesmo tempo em que comprometido com o conhecimento cientifico. Um senso comum, enfim, nao provinciano, que possibilitasse a “ruptura do pensamento abissal composto por modernidade e emancipacio de um lado e, de outro lado, explo- ra¢ao e poder” (Santos, 2009) Recorremos as observacées de Haraway e Santos sobre a produgao do conhecimento como suporte para pensarmos a categoria de conflitos ambientais ¢ 0 estatuto do ambientalismo na atualidade. Com efeito, tal como Haraway (1985) argumentou a impossibilidade da existéncia de um ‘movimento feminista tinico e totalizante, a tematica dos conflitos ambien- tais parece apontar, de modo semelhante, a inviabilidade das tentativas que procuram forjar essa mesma unidade para a constitui¢ao de um movimento ambientalista—no singular. J4 na década de 1980, Haraway sublinhara que as categorias de género, raca e classe social nao podiam ser essencializadas. Ao contrario, apareciam como elementos operativos na dinamica politica, como categorias construfdas e contestadas no ambito de diversas praticas sociais. Nessa perspectiva, género, raca e consciéncia de classe eram vistos como pro- dutos ou respostas as experiéncias hist6ricas de opressao pelo patriarcalismo, ‘© colonialismo e o capitalismo (Haraway, 1985). A autora destacava, assim, carater politico de tais identidades, sua natureza processual e histérica e, portanto, potencialmente fragmentaria Como consequéncia, o dissenso e a fragmentacao no interior de tais categorias de mobilizagao aparecem como efeitos prdprios da dinamica polt- tica e no como desvios ao percurso natural de constituigao de uma unidade ‘capaz de catalisar e subtrair as diferencas em prol da conformidade de senti- mentos, opinides, projetos e perspectivas. Segundo Haraway (1985, p. 73), 0 encobrimento de tais tendéncias dispersivas serviria somente para escamotear as diferencas de poder internas a cada categoria: “Dolorosa fragmentagao entre feministas (para nao dizer entre mulheres) ao longo de cada linha de ruptura possfvel tem feito o conceito de mulher elusivo, uma desculpa para a matriz de dominagoes das mulheres entre si.’? No chamado campo ambiental (Zhouri; Laschefski; Paiva, 2005), por analogia, o desejo pela construgao de uma unidade totalizante assentada sobre a convergencia de setores sociais (Viola; Leis, 1995) e suas respectivas vozes, a da polif der que das luta converg étnicos chamad dos pobr B perman em dire consens interior isso sig ecolégice mo" Dt apagam Sao just ovestatu do pens bientais anos 19 senso a académ cos, por (2003, j modelo global g ambien’ mundo. ‘Quando lager resste no expaco 441 vozes, antes dispersas, parece continuamente interrogado pela persisténcia da polifonia e pelo carter irredutivel, nada residual, das assimetrias de po- der que acompanham a disseminacao dessas vozes presentes na diversidade das lutas que emergem nos lugares. Se no feminismo ha a impossibilidade de convergir numa mesma etiqueta mulheres de diferentes classes e percursos étnicos e raciais, no campo ambiental é similarmente enganoso confundir 0 chamado ambientalismo da afluéncia (Inglehart, 1977) com 0 ambientalismo dos pobres (Martinez~Alier, 1999; 2005). Em que pesem as diferencas e fragmentagdes irredutiveis, todavia, permanecem tentativas de despolitizagao desses processos, um movimento fem direcao a sua essencializacio, tornando necessaria a construgao de um consenso e de uma unidade reguladora e disciplinadora das diferencas no interior dessas poténcias antes emancipadoras. No caso do ambientalismo, isso significou a ascensao da atual vertente hegemdnica da modernizacao ecolégica (Blowers, 1997). Ou seja, promoveu-se uma “ecologia do capitalis- mo” (Dupuy, 1980), com solugoes técnicas e mercantis, simultaneamente a0 ‘apagamento dos processos espoliativos que ainda esto em curso nos lugares. ‘Sao justamente esses processos que trazem & tona anecessidade de se pensar fo estatuto do lugar no contexto da globalizacio, dos movimentos sociais ¢ do pensamento critico, relacionando-o as abordagens sobre os conflitos am- bientais aqui propostas. Nas préximas secdes, apresentaremos uma reflexio sobre as catego- rias de lugar, territ6rio e meio ambiente, colocando em questo formas nao globocéntricas e anticoloniais de promocao do lugar, num esforgo de com- preensio do movimento de resisténcia as barragens hidrelétricas no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Lugar, territério e meio ambiente ‘Ao avaliar os aspectos ressaltados por Boaventura Sousa Santos nos anos 1980, Arturo Escobar (2003) entende que 0 apelo & construgao de um senso comum nao provinciano é 0 que tem tido menos avango na reflexio académica, ao contrario do que ocorre no debate entre os atores nao académi- cos, por exemplo, no ambito dos movimentos sociais, De acordo com Escobar (2003, p. 641), uma razdo para isso poderia estar na “reideologizacao do modelo dominante” ~ ou seja, a era do mercado total - que cria uma ordem global que nao somente favorece a elite mundial a custa dos pobres e do meio ambiente, mas também renormatiza as instituigdes académicas por todo 0 mundo. Nesse sentido, as agendas mais convencionais parecem dominar 0 442 oceewowmenro cenario académico no contexto atual. Se nos anos 1980 as ciéncias sociais pareciam impregnar o campo das ciéncias naturais com novas ideias, hoje ocorreria 0 processo inverso. “Metéforas da complexidade, das redes e teias parecem impregnar as ciéncias naturais” (Escobar, 2003, p. 642) enquanto as dos néimeros ¢ equacdes matematicas invade as ciéncias sociais. Nesse sentido, alguns autores vem propondo uma ruptura paradigma- tica pata reflexao sobre 0 que denominam como formas globocéntricas de ver o mundo. Nesse novo paradigma, as categorias de lugar e territorialidade ganham novos contornos e tonalidades ao se colocarem como contraponto 1ndo provinciano e emancipador as categorias colonizantes/colonizadoras for- jadas a partir de pretensas posigdes globais (por exemplo, desenvolvimento sustentével e governanca ambiental). Quais significados e contribuigdes essa discussio nos apresenta para o debate sobre desenvolvimento e meio ambiente hoje? Esse novo conjunto de reflexées denuncia as categorias do pensamento queaprisionam o olhara partir de um referencial da modernidade— que seria eurocéntrico, global e masculino, centrado nos processos do capital, do espago, da abstracao - mesmo em autores criticos como Immanuel Wallerstein, David Harvey e aqueles da antropologia que, nos anos 1990, analisaram processos globais para questionar algumas categorias caras a antropologia. Entre essas, as categorias de cultura, comunidade e lugar, que tradicionalmente eram tratadas como partes constitutivas de processos isomérficos ao pretenderem a correspondéncia entre uma cultura, um territério ¢ uma comunidade. A ‘esse propésito é importante mencionar as contribuigées de Arjun Appadurai (1990; 1997), que, contra as crticas globalizacao como processo de acultu- ra¢do e homogeneizacio cultural, nos apresentou os processos disjuntivos que permeiam as instancias do territério, da cultura, da nacao edo Estado. Gupta Ferguson (2000) questionaram as concepgdes essencialistas e puristas de cultura, revelando 0 aspecto processual e politico das identidades culturais. Ulf Hannerz (1997) resgatou as metaforas da hibridizacdo, da mestigagem, da fronteira e dos fluxos para argumentar contra aqueles que afirmavam a globalizacao como processo avassalador de assimila¢ao das diferencas e da construcao do mimetismo. Contudo, em que pese a contribuigao dessas criticas académicas a0 globocentrismo, clas deixam entrever um olhar até certo ponto igualmente refém de um posicionamento global - sobretudo por seu foco no espaco, no capital, na historia e a sua agencia ~ mesmo que na perspectiva transfrontei- riga. A condicao moderna vincula-se, nessas abordagens, a uma condicao de desenraizamento, por assim dizer, de uma atopia (Escobar, 2005). nas pi oH -mode o fato implic espe! (2003 subm desl: jetos espec de ree as qu: reasst mais) lidade demo deixa deou migrs emre reflea ospre lugar, nioa (nao exist a0 gk dolor ema as cal via.p PETHESTOT GEL GREER | Fa mae Bo intel be Quando o ugar resist 90 espace 443. Com efeito, os limites da critica pés-moderna se revelam pela énfase nas perspectivas da mobilidade (fluxos, disjungées etc.) e muitas vezes do “pos-materialismo”, De maneira distinta, a critica do programa colonialidade- -modernidade (Quijano, 2005; Mignolo, 2005; Lander, 2005) nio ignora © fato de que a afluéncia e o movimento continuo de alguns grupos sociais implica historicamente a expropriagio, a deslocalizacio compulsoria e a respectiva localizagao de outros. Como argumentaram Chesnais e Serfati (2003), os desdobramentos espaciais das atividades industriais intensivas no consumo de recursos produzem a amplia¢ao dos riscos aos quais se encontram submetidos os grupos sociais mais vulnerveis. A mobilidade do capital desterritorializa, por um lado, ao promover deslocamentos compulsdrios resultantes da implantacao de intimeros pro- jetos de desenvolvimento. Por outro lado, ela também produz localizacées especialmente visiveis na concretude das estruturas de exploragao intensiva de recursos que se multiplicam nos paises do Sul (Chesnais; Serfati, 2003), as quais produzem como contrapartida a restricao de imimeros grupos 203 reassentamentos e seu confinamento em espacos onde permanecem ainda ‘mais vulnerabilizados e marginalizados. O controle sobre o potencial de mobi- idade e dos fluxos coincide, nesses casos, com o controle sobre os territérios ‘seus recursos. Entretanto, aresisténcia centrada nos lugares, como se discutird adiante, demonstra que esses grupos empreendem em suas lutas o esforco para deixarem a condigao passiva que os transforma em objetos dos movimentos de outrem (do capital), passiveis de deslocalizagao e relocalizacao, segundo a ‘migracao das vantagens comparativas. A diferenciagao desse potencial de mobilidade e as diferencas de poder em relacao aos fluxos e movimentos globais impéem a necessidade de uma reflexao sobre a geometria do poder (Massey, 2000, p. 179) a fim de entender (05 processos provincianos glabais que impedem uma concepcao progressista de lugar. Diferentemente da concepcao que imperava nos anos 1990, o lugar ja nao aparece como uma categoria residual ~ 0 reino do arcaico, das tradigdes (nao no sentido de Marshall Sahlins), 0 focus da a-historicidade - onde nio existiria mudanga social, tudo ¢ estatico e fixo. Para Massey (2000), a critica a0 global - como forga que oprime e explora ~ s6 pode ser efetuada a partir do local, onde o conhecimento é possivel eas trincheiras da resisténcia esto em curso. Essa reflexao nao se opera, contudo, sem o estranhamento em rela¢ao as categorias que aprisionam o olhar numa matriz globocéntricat e, por essa via, promovern uma hierarquizacao das coisas globais paras coisas locais, em 444 oesewowmeno &CONELTOS AMBIEN A'S que o local é visto como algo paroquial e menor. Esse sentido hierarquizador nos permite entender o lugar central que ocupa hoje o debate sobre mudan- «as climaticas: tema global por exceléncia, uma abstra¢ao que pode envolver varios atores num pretenso consenso planetario, Como efeito, as dimensdes da politica, das relagdes de poder, do exercicio da diferenga, que se realiza na dimensio do local, restam convenientemente subsumidos. Diante do exposto, entendemos a necessidade de se colocar 0 desafio, a um s6 tempo intelectual e politico, de resgatar os processos locais, incorpo- rando novos marcos e categorias de anilise aos processos globais. Assim, da perspectiva que orienta esta reflexio, o global nao impediria o sentimento de enraizamento, o desejo de permanecer no lugar, com a salvaguarda da mem6- ria, da identidade e da vontade de se fixar, de criar raizes. Esses sentimentos nao seriam paroquiais e reaciondrios por exceléncia. Eles também apontam para a resisténcia ao avanco do espaco - quer dizer, do capital - nos lugares = locus da vivéncia e da historia, como pretendemos discutir a propésito do movimento de resisténcia as barragens no Vale do Jequitinhonha. Um dos desafios para a pluralidade cultural e para a democracia seria a contemplacio dessas varias realizacdes e experiéncias dos lugares. Isso remete a0 poder das pessoas optarem por permanecerem no lugar, ressignificando-o e transformando-o continuamente, como atestam varias lutas sociais hoje, como aluta contra o avango das barragens, das monoculturas do agrodiesel,, enfim, as formas industriais de ocupacao do espaco para o capital, mercadoria a ser incorporada nos fluxos globais em detrimento dos sentidos diversos dos lugares. E nessa ambiéncia reflexiva que os conflitos ambientais podem ser compreendidos, pois a “questo ambiental’, uma ver. inscrita na sociedade, nao pode ser entendida como una, universal e objetiva. Na sociedade, os sujeitos sociais apresentam-se como portadores de relacbes e interacdes diferenciadas com 0 meio ambiente, considerado como uma construcio a0 mesmo tempo simbélica, social e material. Além de diversos, os sujeitos se localizam desigualmente na sociedade. Sao, entao, portadores de vis6es con- correnciais sobre 0 meio ambiente e a natureza, fato que chama a atencao para as desigualdades na distribuicao dos recursos naturais e dos riscos do desenvolvimento. Essas assimetrias revelam a hegemonia de determinadas categorias do pensamento que pretendem construir o debate ambiental como global, universal e consensual, obscurecendo as relagdes de poder que, de fato, existem e promovem o deslocamento da politica para a economia, do debate sobre direitos para o debate sobre interesses. N Tuta pe indigen capital, ou seja, capital sio viti Reivind que net confort A por aut do capit direcio. os lugat a trajet pelo po D de um¢ movirn categor mundo! (Delgad N pautao sua poti sal, capi ponto ¢ conceite pelas id do preti Mapa a pote A em curs ambien! lesafio, \corpo- sim, da intode memé- ‘nentos ‘ontam sito do em ser iedade, ade, os wragées ‘Quando. lugar rsste20.erpaco 445 ‘Muitos processos de territorializagao hoje em curso sao processos de uta pelo significado e pela apropriacao do meio ambiente (quilombolas, indigenas, vazanteiros, geraizeiros etc) contra a apropriacao global pelo capital, que transforma territérias sociais (Little, 2002) em espacos abstratos, ou seja, lugares em espagos que contém recursos naturais para a explora¢aio capitalista. Entretanto, 0s grupos sociais sujeitados a desterritorializagao nao sto vitimas passivas e expressam outras formas de existéncia nos lugares. Reivindicam direito a memoria ea sua reproducao social. E sao eles que dizem que nem tudo ¢ fadado a virar espaco de apropriagao abstrata pelo capital, conforme discutiremos adiante. A defesa do lugar, do enraizamento e da meméria destaca a procura por autodeterminacio, a fuga da sujeicio aos movimentos hegeménicos do capital e a reapropriacio da capacidade de definir seu proprio destino. A diregao desses movimentos é contraria atopia, pois ela insiste em nomear 6s lugares, em definir-Ihes seus usos legitimos, vinculando a sua existéncia a trajetoria desses grupos. Nao é uma luta pela fixidez dos lugares, mas sim pelo poder de definir a diregao da sua mudanga. Diferente, portanto, do sentido global de espaco, porque nao se trata de um espaco a ser transposto, de uma barreira fisica a ser aniquilada pelo ‘movimento de compressao espaco-tempo, o lugar significa aqui o resgate da categoria de espaco como “esteio da identidade’, como “suporte do ser no mundo”, como “referenciais que tornam os homens sujeitos de seu tempo” (Delgado, 2006, p. 37), poder-se-ia dizer, sujeitos de seu proprio destino, Nessa perspectiva, o debate sobre os conflitos ambientais resgata a pauta os limites inerentes a categoria “meio ambiente” quando é enfatizada sua poténcia catalisadora resultante de uma pretensa crise objetiva e univer- sal, capaz de mobilizar e afluir diferentes projetos e grupos em dire¢ao a um, ponto comum. A nogéo de conflitos ambientais exige o estranhamento dos conceitos hegeménicos do pensamento ambiental contemporaneo, liderados pelas ideias de desenvolvimento sustentavel e governanca ambiental, epigrafes do pretenso consenso mundial e fraterno sobre a “crise do planeta Terra” Mapa dos conflitos ambientais: a potencialidade dos lugares ‘A necessidade de sublinhar os dissensos e a diversidade de projetos em curso na sociedade alimenta o projeto de pesquisa “Mapa dos conflitos ambientais no Estado de Minas Gerais" 446 ceservownenro €cONFUTOS AMBENTAIS Desde o inicio de sua colonizacao, 0 territ6rio mineiro vem sendo paleo de intensa atividade econdmica, produtora de severas transformagbes nas suas condigdes naturais e nas formas sociais de sua apropriagao. A partir do esfor- 60 de “modernizagao recuperadora” empreendido pelas elites econdmicas & politicas locais, observa-se a deslocalizacao das atividades industriais de base, transferidas para a regio do Vale do Aco (Carneiro, 2003; Dulei, 1999). Por sua vez, nas décadas de 1970 e 1980, 0 colapso do esforco desenvolvimentista resultou na intensificag3o da produgao e da exportagao de commodities, cujos efeitos eram expressos na mercantilizacao dos territérios. Tais processos conduziram 4 emergéncia de uma mirfade de conflitos ambientais, nos quais se envolvem empresas mineradoras, siderirgicas, produtoras de celulose, distribuidores de energia elétrica, empreiteiras, grandes agricultores, latifun- didrios, ONGs, camponeses, sociedades indigenas, pescadores, movimentos sociais urbanos etc. Iniciado com o mapeamento das mesorregides do Jequitinhonha e Metropolitana de Belo Horizonte, o projeto "Mapa dos Conflitos Ambientais no estado de Minas Gerais” permite revelar o impacto da globalizagao econé- mica e das correspondentes escolhas de desenvolvimento vigentes no estado, que tém privilegiado, historicamente, a exportagdo de commodities em detri- mento dos lugares e dos modos de vida diversos ali presentes. A constituica0 do mapa ¢ pensada, portanto, como uma representaco da dinamica politica em torno das disputas territoriais. Contudo, tal mapeamento apresenta nao 86 a acto dos agentes hegemOnicos e seus efeitos deletérios sobre as con- digdes naturais do territorio mineiro, mas destaca também as experiéncias dos lugares na resisténcia & colonialidade do saber e do poder. No que tange as regides do Alto e do Médio Jequitinhonha essa dina- ‘mica possui um longo percurso historico. A decadéncia da mineracao, a partir do século XIX, gestou um cenario em que conviviam as grandes fazendas de cultura e criar, mantidas pela forga do trabalho escravo, e 0 contingente de homens pobres livres que difundiram suas posses nos terrenos ingremes das grotas (Moura, 1988). Assentada sob a agricultura, a pecudria ea mineragao, a economia da regio apresentou momentos de crise e prosperidade. No en- tanto, a partir de 1960 e 1970, os programas e intervengées governamentais pautados por uma visdo desenvolvimentista com parametros industriais, tecnolégicos e urbanos consolidariam imagens de pobreza e de miséria atri- buidas ao Vale (Ribeiro, 1993). Assim identificada, a regiao sofreu o impacto de trés grandes frentes de modernizac2o do capital: a expansao da pecuaria, a introdugao da cafeicultura e a implantacao das reflorestadoras (Ribeiro, 1993), atividades que provocaram mudangas significativas na distribuicao e no aces tinhont hidrelét N a essas longo d literata cada pe projet, ceucalipi partird a0 long de seu} em situ 1985) « tio, est: pratico Gourdi ressalte nao deg tradig6t na reno sernat ‘grupos. c de gestt bém me naluta (2006), pautaf relacior tradicio historic 1 espacia campo campo eafirm seus co dopalco ‘nas suas loesfor- micas e debase, 99). Por nentista 2s, cujos ‘ocessos os quais elulose, Jatifun- mentos tonhae dientais veconé- estado, ndetri- situigao politica atanao as con- ‘encias adina- 2 partir das de mte de xes das racio, Noen- rentais striais, iaatri- apacto ibeiro, tigdoe Quando o higarresinte 20 espsco 447 no acesso a terra, Nadécada de 1980, com o in{cio do “Programa Novo Jequi tinhonha” desencadear-se-ia a dissemninacio de projetos de aproveitamento hidrelétrico e irrigacao. No caso das comunidades rurais do Médio Jequitinhonha, a exposicao a essas experiéncias histéricas continuadas de expropriagio conformou ao Tongo dos anos “territérios de parentesco", modalidades compreendidas na literatura como “tertas de herancas” (Almeida, 2006). Em sua trajetoria mar- cada pela convivéncia com as grandes fazendas criat6rias; pelo embate com projetos intensivos de exploracao mineral; pelo avango das monoculturas de eucalipto sobre os terrenos de uso comum e pela atual ameaga de relocagao a partir da implantagio de barragens hidrelétricas, esses grupos desenvolveram, ‘0 longo de sucessivas geracées, estratégias particulares para a preservacao de seu patriménio familiar. As experiéncias de confronto com antagonistas em situacdes adversas resultaram nesse tipo de resisténcia cotidiana (Scott, 1985) expressa na diversidade das praticas informais de gestao do territo: tio, estas articuladas pelos grupos a partir de seu estoque de conhecimento pratico (Wittgenstein, 1994), costumeiro (Thompson, 1998) corporificado (Bourdieu, 2006) e, necessariamente, localizado (Escobar, 2005). Segundo ressaltou Thompson (1998, p. 86): “o costume é local”, sua operacionalidade nao depende do registro exato das normas, mas da renovagao constante das stradig6es orais, Sua vigencia se concretiza na regularidade das praticaslocais, zna renovagao e na reproducao desse senso pratico que encontra sua razdo de serna tessitura das relaées locais que compOem 0 universo de atuasaodesses grupos. Contudo, para além da resisténcia silenciosa impressa nas formas locais de gest dos territorios, as experiéncias de resistancia desses grupos sto tam- bém marcadas pela a¢ao coletiva de carater politico expressa na organizagioe na luta das chamadas unidades de mobilizagdo (Almeida, 1989). Para Almeida (2006), a emergéncia de novos movimentos sociais que incorporam a sua pauta fatores étnicos, ecologicos e de autodefinigao coletiva esta intimamente relacionada a esses processos de territorializacao que visam proteger as terras tradicionalmente ocupadas e geridas por modelos particulares de uso comum, historicamente mantidos sob o signo da invisibilidade social. ‘Tais ‘territ6rios sociais” (Little, 2002) aparecem, entao, como dominios espaciais de pertencimento construides e reconstruidos politicamente no ‘campo das préticas e da gestio cotidiana de seus recursos, mas também no campo discursivo das mobilizacdes e reivindicagSes que procuram proteger afirmar sua legitimidade nas correlacses de forga que marcam atualmente seus confrontos com imimeros projetos de desenvolvimento, 448 oesenvowmenro CONFUTOS AMBIENTAS Mapear os conflitos ambientais significa, nesse horizonte, mais do que se dedicara identifica¢ao dos processos objetivos de degradacdo e espoliagao das condigdes naturais. Implica considerar a participacao ativa dos sujeitos no exercicio politico que lhes permite definir, nomear e destacar cardter conflituoso das situagdes que vivenciam no local. Exercicio este que também yna o reconhecimento das fronteiras opositivas desses grupos em relacio 08 sujeitos e projetos que lhes sao antagénicos no que se refere as perspec- tivas de apropriacao do territ6rio. Nesse ponto cabe ainda destacar que os conflitos ambientais se materializam na intersecao de dois dominios distintos de luta social (Acselrad, 2004). primeiro dominio se refere ao espaco social propriamente dito, em que a distribuicao diferencial dos capitais que estdo ‘em jogo se traduzem em potenciais desiguais para a posse, uso e controle do espaco. A espacializacio das formas sociais de apropriacéo dos recursos zesultam, assim, em situacdes conflitivas em que os usos empreendidos pe- los segmentos dominantes incidem sobre territérios e recursos ocupados € mobilizados pelos grupos mais vulneraveis. O segundo dominio nos remete, por sua vez, 4 esfera simbélica, ao campo em que se confrontam discursos, sentidos e projetos distintos que disputam legitimidade e reconhecimento. Contudo, se dissociados para fins heuristicos, esses processos se mos tram intimamente conectados. Bourdieu (1993), Pécheux (1997) e Orlandi (1989) ja haviam destacado a associa¢ao que as propriedades do discurso mantém com o tecido sécio-histérico e, consequentemente, com as relagdes de poder nele vigentes. Considerando que o discurso & sempre realizado a partir de condigdes de produgdo especificas associadas aos efeitos das relagdes de lugar, as estratégias discursivas acionadas pelos agentes ultrapassam 0 texto e nos remetem tanto ao contexto mais imediato da enuncia¢ao, quanto 20 espaco social que estrutura as relagdes interdiscursivas (Pécheux, 1997; Orlandi, 1989). E nesse sentido que o conceito bourdiano de campo se mostra ppertinente, pois permite destacar que as posigdes no espaco social configu- xam lugares enunciativos a partir dos quais as determinacbes ideol6gicas se inscrevem nos discursos que sio produzidos e que produzem o proprio campo ambiental (Bourdiew, 2002), No exemplo que procuramos analisar a seguir — qual seja, a tentativa de anulacao dos lugares a partir da implantacao de barragens hidrelétricas -, as dinamicas politicas e culturais desencadeadas revelam a oposicao marcante entre estratégias discursivas mobilizadas, de um lado, pelo Setor Elétricoe, de outro lado, pelos grupos localizados e organizados em funcao da resistencia Em termos gerais, o discurso acionado pelo Setor Elétrico expressa a visio dominante do territério como recurso. Essa espécie de “utilitarismo explorad “estratég complex) a.um co vidos: "S propriet, se resolv -venda”| gem dei coletivid de seu te seu pape das mob En nidades mobiliza dessas pt emergen dade das construg pertenc dos Esta "Levan lugar”: megawat compuls inundagi o projete En “campan somente pelos pre trades FHIEDPR TILT ET at! ampo Cuando © lugar reise a0 eepage 449) explorador da natureza” (Carvalho, 2001) se torna explicita por meio de sua “estratégia territorial patrimonialista" (Vainer; Arajo, 1990) a qual reduz a complexidade e a diversidade das formas locais de imaginacao do territ6rio a.um conjunto homogéneo de *propriedades” ou “iméveis” a serem remo- vidos: “Nao ha populacio, nio ha trabalhadores ou moradores, ha apenas proprietarios. E, nestes termos, o deslocamento da populacdo se resume € se resolve através de uma infinidade de agbes individualizadas de compra- -venda” (Vainer; Aratijo, 1990, p. 21). Pressuposta a essa visdo reside a ima- ‘gem de individuos atomizados, imagem esta que obscurece a existéncia de coletividades organizadas politicamente em torno da resistencia e da defesa de seu territério. Desa invisibilidade das coletividades e, especialmente, de seu papel de sujeitos politicos resultam a desqualificacao e o esvaziamento das mobilizacdes locais. Em contraponto, os segmentos dominados representados pelas comu- nidades atingidas lutam pela afirmagao de seus direitos. A formagio de mobilizacées locais e a reconstrugao do territ6rio colocam em pauta 0 esforso dessas populacdes em articular seu problema como um fato coletivo, de onde ‘emergem novas identidades politicas. A forca desses significados e a densi- dade das redes de relacdes que se estabelecem no local tornam possivel a (re) construcao do territério como lugar-espago de reprodugao social e esfera de pertencimento que desafia os propésitos ordenadores e homogeneizadores dos Estados-nacio e dos seus projetos de desenvolvimento, “Levantar a cabeca e brigar para poder ficar no nosso lugar”: a Hidrelétrica de Murta e o lugar como resisténcia O projeto Usina Hidrelétrica de Murta (JHE Murta) consiste na cons- trugao de um barramento na confluéncia dos rios Salinas e Jequitinhonha, regido do Médio Jequitinhonha. A formacao do reservat6rio se destina exclu- sivamente a geracao de energia elétrica, e a poténcia instalada prevista é 120 megawatts. A implantacio desse empreendimento envolve o deslocamento ‘compulsério de cerca de 900 familias residentes nas areas rurais sujeitas & inundagio. O processo de licenciamento teve inicio em 1998 e, desde entao, © projeto reivindica a concessao de Licenga Prévia Em 1999, o consércio Murta Energética S.A dew inicio as chamadas “campanhas de negociasao", reconhecendo como interlocutores legitimos somente as Comiss6es Municipais, estas constitufdas por meio de decretos ‘pelos prefeitos locais, agregando também outros representantes das adminis- traces municipais. Com essa politica, o consércio ignorava, deliberadamente, 450. oesewwourmenro &CONFUTOS ANBIENTAS o contato direto com os moradores das dreas rurais afetadas pelo empreendi- mento. Frente a esse processo, porém, os moradores se organizaram em uma comissao auténoma, autonominada "Comissao de Atingidos pela Barragem de Murta’, em franca oposicao as “Comiss6es Municipais’. Dessa forma, a partir da organizacao de uma comissao propria, as familias iniciavam sua luta, Destacava-se, entdo, o esforco dos “atingidos” para se fazerem reconhecidos como agentes politicos, com o status de mobilizagao coletiva. Em contraste, as agbes do Setor Elétrico se orientavam para o esvaziamento das potencia- lidades emergentes no local. Com esse intuito, duas estratépias se fizeram recorrentes, a saber, a desqualificacao da populacao e de seu territério e o apagamento nao s6 das diferencas, mas das divergéncias em relacao ao projeto. Com efeito, os dis- cursos proferidos pelos respresentantes do consorcio eram marcados pelo aviltamento das formas locais de gestao do territério e pela depreciagao do saber que Ihes era constitutivo. Durante a audiéncia publica do empreendi- ‘mento, destacou o superintendente do cons6rcio: Eu sei que seria muito mais interessante para as populagdes que elas tivessem dominio, conhecimento daquilo que ¢ feito na terra delas. Assim, poderiam desenvolver com muito mais facilidade e potencialidade as suas riquezas, a5, suas virtudes, em prol da prépria comunidade (Audiéncia publica realizada na comunidade de Barra do Salinas, em outulbro de 2002) Conforme é possivel observar, 0 enunciado anterior projeta sobre 0 local a imagem da existencia de um sujeito desprovido de conhecimento ou de dominio sobre o territ6rio que ocupa. O verbo conjugado no futuro do pretérito do indicativo em seria e poderiam e o uso do subjuntivo, em tives- sem, sugerem tal efeito de sentido. Na mesma ocasio, havia destacado um consultor do consércio: ‘Vamos falar agora dos impactos negativos identificados. A maior concentrag30 foi verificada na socioeconomia. Eles estdo associados a inundacao de terras, e benfeitorias, de cerca de 240 propriedades rurais; & inundacio parcial do povoado de Barra do Salinas, atingindo aproximadamente 70 edificagdes;e de alguns equipamentos de infraestrutura coletiva, com destaque para 0s acessos que serao interrompidos com o reservatério (Audiéncia publica realizada na comunidade de Barra de Salinas, em outubro de 2002). Nesse excerto, a selecao lexical marcada pelos termos “benfeitorias’, “edificagoes" e “equipamentos de infraestrutura coletiva” representam nodes distanciadas do dominio cotidiano das populagdes atingidas. Dessa forma, a apresentacio dos impactos decorrentes do enchimento do reservatorio 6 obscuree intangin Vogt (1 sentidot © princi discurso uma ima reduzida edificagt En paraani Essa est ciagao" ¢ No bay bY enfatizo 2 BR ORRRRRSE o cifica de do Meio por mei porelad expoe,n ‘Quando oluger esete so espaso 451 obscurecida, pois suas consequencias sao transformadas em resultados quase intangiveis, enigmaticos e sem notoriedade. Mobilizando o que Ducrot (1987) ‘e Vogt (1980) identificaram como litotes, olocutor mobiliza um enunciado de sentido fraco para significar algo bem mais forte (Vogt, 1980, p. 13). Contudo, © principal efeito é nao s6 a minimizacao dos impactos ow a produgao de um discurso mais palatavel aos fins do enunciador, mas também a produgao de ‘uma imagem do territério em que a diversidade da experiéncia social vé-se reduzida a um conjunto material homogéneo composto por benfeitorias € edificacdes. Em outros enunciados é possivel identificar também o esforso orientado para a negacao do dissenso, esvaziando a existencia de mobilizacées locais. Essa estratégia é evidenciada no relato das chamadas “campanhas de nego- ciagao” pelos consultores ambientais: No inicio da reuniao em 22/11/2001 em Barra do Salinas houve uma inter vengao forte de quatro representantes dos movimentos contrarios @ construgao de barragens, entretanto as prOprias liderancas locais posicionaram-se contra ‘a mensagem radical e agressiva pregada e reconduziram a reuniao a sua pauta original (...) No mais, as reunides transcorreram todas em ambiente de muita CLIFFORD, J. The predicament ofculture: twentieth-century ethnography, literature and art. Cambridge: Havard University Press, 1988, CLIFFORD, 1; MARCUS, G. E. (Org). Writing culture: the poetic and politics of ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986. D'ALESSANDRO & ASSOCIADOS. 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