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CENÁRIOS DA CRIAÇÃO
2001
ÜS LUGARES DA EDUCAÇÃ0 1
'
Almerindo Janela Ajonso 2
1 O texto foi mantido con-
forme o original do au-
A, emergência relativamente recente e a crescente tor, escrito em português
de Portugal.
centralidade social do campo da educação não-formal podem ser
Sociólogo, professor-dou-
1
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das decisões políticas e culturais arbitrárias, apenas exequíveis
"-\ ··-1 ~ ' em espaços e tempos isolados (e isolá'l?eis) do mundo da vida; por
)<.!1\'l' f ... . t \(A)CIL outro lado, insiste-se .que o ·papel da educação escolar continua
I r. {-1 ( 1 L~ ,- 1..-./ r. , !; i (
válid_g_, não hávendõ"neêessidade "senão de promover a sua a.ct"é-
qua,ção aos novos desafios e problemàs contemporâneos_, de modo ·
a que a escola possa assumir com eficácia as novas missões que
lhe são exigidas,· nomeadamente aquelas que decorrem das muta-
ções na economia globalizada· e d~s exigências da chamada socie-
dade da informação.
Pode mesmo dizer-se que, entre aqueles que continuam ,
a acreditar nas virtualidades e possibilidades da educação escolar
(sobretudo no que diz respeito à educação básica), as di~ergências
têm sobretudo a ver com os objectivos e funções que esta deve
assumir prioritariamente: ou atender de forma instrumental às
necessidades do capitalismo e dos interesses económicos, cultu-
rais e sociais hegemónicos, ou, ao contrário, atender prioritaria-
mente aos indivíduos, em função das necessidades ditadas pelo
seu desenvolvimento cognitivo, afectivo, moral e social, ainda
que sem deixar de os referenciar a dimensões colectivas mais
amplas. Assim, enquanto alguns apostam no reforço do papel da
escola enquanto agência de legitimação da ordem cultural e social,
e insistem na reestruturação de sistemas duais de educação e
formaÇão destinados a alimentar hierarquias funcionais para res-
ponder às exigências da economia, outros continuam a defender
a importância da escola enquanto agência de socialização das
i novas gerações e lugar privilegiado para a construção da .cidadania
tna lógica do Estado-nação, e outros, ainda, esperam que a escola,
]sem abdicar de níveis elevados de exigência científica, democrá-
tica e pedagógica, se empenhe na promoção·do sucesso·nas apren-
. dizagens e no desenvolvimento de sujeitos críticos e participati-
:vos, .numa lógica mais referenciada aos direitos sociais e cultu-
!l._rais enquanto. direitos
-
humanos básicos. . • • •
Sabemos, no entanto, que as expectativas sociaiS e a
natureza das decisões políticas que configúram a educação esco-
lar não são indiferentes às épocas e cqnjunturas históricas, sendo
por isso necessário caracterizá-las tendo em conta, nomeadamen-
te, os valores a cada momento dominantes ou emergentes. Nesse
sentido, parece ser hoje mais difícil perceber o que se espera dà
escola pelo facto de as políticas educativas tenderem a caracteri-
zar-se pela articulação de finalidades, lógicas e solicitações híbri- _
das e, às vezes, mesmo contraditórias (cf. Afonso, 1989).
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A isso se pode acrescentar a constatação, ·sinalizada
em alguns trabalhos recentes (cf. Correia e Matos, 2000), de que a
crise da iescola está também associada à ideia de a mesma não ser
capaz de cumprir os mandàtos que há muito lhe foram atribuíClos
-= -crise que se_ agrava e aprofunda pelo facto (paradoxal) de,
mesmo assim, lhe continuarem a ser atribuídos e exigidos novos
mandatos na medida em que os problemas sociais aumentam, ~e
diversificam e se . complexificam, sem que isso implique condi-
ções, investimentos e recursos humanos e pedagógicos acrescidos
para enfrentá-los e, muito menos ainda, sem que isso se traduza
em empowerment para os actores educativos. ,.. . , .. '-
Cumpre-nos, por isso, estar criticamente precavidos parà. c. ;.J • "'-* • ' •
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com escola, sem, todavia, se transformar num movimento contra
a escola- um erro que nem selllpre terá sido evitada· pelo movi~
menta de educação popular no Brasil e !}a América Latina. Nesse
sentido, o movimento cios sem~terra não apenas supõe uma com-
preensão política da "prática social corno princípio educativo",
corno está a criar condições para que a escola "se deixe ocupar
pelas outras práticas sociais e suas dimensões educativas e, o que
é mais importante, pelos sujeitos dessas práticas" (Caldart, 2000,
pp. 60-1; ver também Afonso, 2000).
Mas, apesar de experiências cornó estas reactualiza-
rern de forma original o que se pode designar d_e tradição crítica
da educação não-forp1al (ver tarnbén_l _gohn, 199~), não pode-
mos deixar de considerar que há outros p~ocessos em curso que,
com lógicas muito distintas, procuram ocupar o amplo espaço " J_.t.·· . . .
da educação não-escolar- designação que tenho utilizado por-- 1 ) d· ., '>. ..•
que permite dar conta em simultâneo da educação informal e J. ~.1
--'(
vos gll,~ po11_çp 01JJ.1éi4i3. t.ê.!ll... é! ver com o seu desenvolvimento l '
34
p:-essuposto de que a aprendizagem_ q11~ conta é aquela que se
guia pela rnaxirnização da sua utilidade ecçmórnica imediata -::-
utilidade esta justificada em termos de urna racionalidade idêntica
à da teoria do capi"tal humano -, a ideia da sociedade da
prendizagem a_caba por ser forternenté instrumental e redutora
( fonso e Antunes, 2000), ainda que haja nuances importantes
ue convém referir sucintáiüE:!nte. ·ASsim, no que diz respeito,
mais concretamente, aos documentos europeus sobre educação e
formação (onde a mesma ideia de sociedade cognitiva ou da apren-
dizagem está presente), algumas leituras mais críticas dos seus
pressupostos têm salientado que neles subjazern nomeadamente
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crítica e emancipatótia,~ tão importante, urgente e necessária
como a melhor educação escolar. Estou certo que é justament_e ,
para esse proJecto que os textos que integram este livro procu-
ram contribuir de urna fôrma·criativa e original.
, I
, I
36
BIBLIOGRAFIA .
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