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MARX, Karl.

O capital: crítica da economia política: livro I


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Edição Abril Cultural, São Paulo, 1983
Prefácio
Situação proletariado - princípio explicativo no seu oposto, a propriedade privada. Engendrada e incrementada pelo
processo de alienação que permeia a sociedade civil (esfera das necessidades e relações materiais dos indivíduos)
(p. XI) A alienação vista enquanto processo da vida econômica, por meio qual a essência humana dos operários se
objetivava nos produtos do seu trabalho e se contrapunha a eles por serem produtos alienados e convertidos em
capital.
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MARX, Karl. O capital: crítica da economia política: livro I, 26a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

I. Mercadoria

1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância e quantidade do valor)


(p. 57) A riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em “imensa acumulação de
mercadorias” e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar da riqueza. Cada coisa útil, como ferro,
papel, etc., pode ser considerada sob duplo aspecto, segundo qualidade e quantidade.
(p. 58) A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Determinada pelas propriedades materialmente inerentes à
mercadoria. Esse caráter não depende da quantidade de trabalho empregado. O valor de uso só se realiza com a
utilização ou consumo. Os valores de uso constituem o conteúdo material da riqueza, qualquer que seja a forma social
dela. Podem ser, ao mesmo tempo, os veículos materiais do valor de troca.
O valor de troca revela-se, de início, na relação quantitativa entre valores de uso de espécies diferentes, na proporção
em que se trocam, e que muda em relação ao tempo e o espaço.
(p.58-59) qualquer mercadoria se troca por outras, nas mais diversas proporções. Primeiro: os valores de troca
vigentes da mesma mercadoria expressam, todos, um significado igual; segundo: o valor de troca só pode ser a
maneira de expressar-se, a forma de manifestação de uma substância que dele se pode distinguir.
(P. 59) Por exemplo duas mercadorias trigo e ferro. Qualquer proporção em que se troquem, é possível expressá-la
com uma igualdade em que dada quantidade de trigo se iguala a uma quantidade de ferro. Algo comum, com a mesma
grandeza existe em duas coisas diferentes. As duas coisas são iguais a uma terceira, que delas se difere. Cada uma
delas, como valor de troca, é reduzível, necessariamente, a essa terceira.
(p.59) como valores de uso, as mercadorias são de qualidade diferente; como valores de troca, só podem diferir na
quantidade, não contendo, portanto, nenhum átomo de valor de uso.
(P. 60) se prescindirmos o valor de uso da mercadoria só lhe resta ainda uma propriedade, a de ser produto do
trabalho. Mas, então, o produto do trabalho já terá passado por uma transmutação. Pondo de lado seu valor de uso,
abstraímos, também, das formas e elementos materiais que fazem dele um valor de uso (não é mais mesa ou cadeira e
também não é mais produto do trabalho do marceneiro) [...] Ao desaparecer o caráter útil dos produtos do trabalho,
também desaparece o caráter útil dos trabalhos neles corporificados; as diferentes formas do trabalho concreto não
mais se distinguem umas das outras, mas reduzem-se a uma única espécie de trabalho, o trabalho abstrato.
[...] Nada dele resta a não ser a mesma objetividade impalpável, a massa pura e simples do trabalho humano geral, do
dispêndio de força, sem considerar a forma dispendida. Esses produtos passam a representar apenas a força de trabalho
humana gasta em sua produção [...] Como configuração dessa substância social que lhes é comum, são valores,
valores-mercadorias.
Na própria relação de permuta das mercadorias, seu valor de troca revela-se, de todo, independente de seu valor de
uso. Pondo-se de lado o valor de uso dos produtos do trabalho, obtém-se seu valor como acaba de ser definido. O que
se evidencia comum na relação de permuta ou no valor de troca, é, portanto, o valor das mercadorias.
[...] o valor será estudado, agora, independentemente de sua forma.
[...] como medir a grandeza do seu valor? Por meio da quantidade de “substância criadora de valor” nele contida, o
trabalho. A quantidade de trabalho mede-se pelo tempo de sua duração, e o tempo de trabalho, por frações do tempo,
como hora, dia, etc.

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(p. 61) Cada uma dessas forças individuais de trabalho se equipara às demais, na medida em que possua o caráter de
uma força média de trabalho social [...]. Tempo de trabalho socialmente necessário é o tempo de trabalho requerido
para produzir-se um valor de uso qualquer, nas condições de produção socialmente normais existentes e com grau
social médio de destreza e intensidade de trabalho.
[...] O que determina a grandeza do valor, portanto, é a quantidade de trabalho socialmente necessária ou o tempo de
trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso.
[...] Mercadorias que contém iguais quantidades de trabalho ou que podem ser produzidas no mesmo tempo de
trabalho, possuem, consequentemente, valor da mesma magnitude. [...] Como valores, as mercadorias são apenas
dimensões definidas do tempo de trabalho que nelas se cristaliza.
(p. 62) A grandeza do valor de uma mercadoria muda com qualquer variação da produtividade (força produtiva) do
trabalho. A produtividade do trabalho é determinada pelas mais diversas circunstâncias, dentre elas a destreza média
dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e sua aplicação tecnológica, a organização social do processo
de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais.
[...] (Com minas mais ricas, a mesma quantidade de trabalho resultaria em mais diamantes e o valor destes cairia.)
[...] A grandeza do valor de uma mercadoria varia na razão direta da quantidade e na inversa da produtividade do
trabalho que nela se aplica.
[...] Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. É o que sucede quando sua utilidade não decorre do trabalho
(pastos naturais, ar, madeira na selva). Quem, com seu produto, satisfaz a própria necessidade gera valor de uso, mas
não mercadoria. Para criar mercadoria, é necessário produzir valor de uso e também produzir valor de uso social.
[...] Nenhuma coisa pode ser valor se não for objeto útil.

2. O duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria


(p. 63) A mercadoria apareceu, inicialmente, como duas coisas: valor de uso e valor de troca. O trabalho também
possui duplo caráter: quando se expressa como valor, não possui mais as mesmas características que lhe pertencem
como gerador de valores de uso. Para compreender economia política, é essencial conhecer essa questão.
[...] Chamamos simplesmente de trabalho útil aquele cuja utilidade se expõe no valor de uso do seu produto ou cujo
produto é um valor de uso. [...] valores de uso idênticos não se trocam.
(Exemplo: casaco = 2v; 10 m de linho = 1v; casaco é valor de uso que satisfaz uma necessidade humana, para produzi-
lo, precisa-se de certa atividade produtiva; sendo casaco e linho valores de uso qualitativamente diversos, também
diferem qualitativamente os trabalhos que dão origem à sua existência – o ofício do alfaiate e o de tecelão. Casacos
não se permutam por outros tantos casacos iguais.)
[...] Numa sociedade cujos produtos assumem, geralmente, a forma de mercadoria, essa diferença qualitativa dos
trabalhos úteis executados, independentes uns dos outros, como negócio particular de produtores autônomos, leva a
que se desenvolva um sistema complexo, uma divisão social do trabalho.
(p. 64-65) [...] O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do
homem, quaisquer que sejam as formas de sociedade -, é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio
material entre o homem e a natureza e, portanto, de manter a vida humana.
(Os valores de uso, casaco e linho, são conjunções de dois fatores: matéria prima fornecida pela natureza e trabalho).
Extraindo-se a totalidade dos diferentes trabalhos úteis incorporados aos produtos, resta sempre um substrato material,
que a natureza, sem interferência do homem, oferece. O trabalho não é, portanto, a única fonte de valores de uso que
produz, da riqueza material.
(p. 65) Passemos agora da mercadoria, como objeto útil, para valor das mercadorias.
(p. 66) O trabalho do alfaiate e do tecelão, embora atividades produtivas qualitativamente diferentes, são ambos
dispêndio humano produtivo de cérebro, músculos, nervos, mãos, etc., desse modo, são ambos trabalho
humano. A própria força humana de trabalho tem de atingir certo desenvolvimento, para ser empregada em múltiplas
formas. O valor da mercadoria, porém, representa trabalho humano simplesmente, dispêndio de trabalho humano em
geral.
[...] O trabalho simples médio muda de caráter com os países e estágios de civilização, mas é dado numa determinada
sociedade. Trabalho complexo ou qualificado vale como trabalho simples potenciado ou, antes, multiplicado, de modo
que uma quantidade dada de trabalho qualificado é igual a uma quantidade maior de trabalho simples. Trabalho
simples como unidade de medida.

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(Não se trata de salário ou do valor que o trabalhador recebe por seu tempo de trabalho, mas do valor da mercadoria
no qual se traduz seu tempo de trabalho. Não existe ainda a categoria salário nesta exposição).
(p. 67) Se o trabalho contido na mercadoria, do ponto de vista do valor de uso, só interessa qualitativamente, do
ponto de vista da grandeza do valor só interessa quantitativamente e depois de ser convertido em trabalho humano,
puro e simples. [...] Uma vez que a grandeza do valor de uma mercadoria representa apenas a quantidade de trabalho
nela contida, devem as mercadorias, em determinadas proporções, possuir valores iguais.
(p. 68) Produtividade é sempre produtividade de trabalho concreto, útil, e apenas define o grau de eficácia da atividade
produtiva adequada a certo fim, em dado espaço de tempo. O trabalho útil torna-se, por isso, uma fonte mais ou menos
abundante de produtos, na razão direta da elevação ou da queda de sua produtividade. Uma vez que a produtividade
pertence à forma concreta, útil, não pode mais influir no trabalho quando abstraímos de sua forma concreta. Qualquer
que seja a mudança na produtividade, o mesmo trabalho no mesmo espaço de tempo, fornece sempre a mesma
magnitude de valor. Mas, no mesmo espaço de tempo, gera quantidades diferentes de valores de uso: quantidade
maior quando a produtividade aumenta, e menor quando ela cai. O seu aumento acresce o resultado do trabalho e, em
consequência, a massa de valores de uso fornecida reduz a magnitude do valor dessa massa global aumentada quando
diminui o tempo socialmente necessário. E vice-versa.
[...] Todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana de trabalho, no sentido fisiológico, e, nessa qualidade
de trabalho humano igual ou abstrato, cria o valor das mercadorias. Por outro lado, na qualidade de trabalho útil e
concreto, produz valores de uso.

3. A forma do valor ou o valor de troca


(p. 69) As mercadorias possuem valores de uso, que são sua forma natural. Só são mercadorias por sua duplicidade,
por serem ao mesmo tempo objetos úteis e veículos de valor. Dupla forma: natural e a de valor.
[...] Em contraste com a materialidade da mercadoria, nenhum átomo se encerra em seu valor. [...] As mercadorias só
encarnam valor na medida em que são expressões de uma mesma substância social, o trabalho humano; seu valor é,
portanto, uma realidade apenas social, podendo de manifestar na relação em que uma mercadoria se troca por outra.
Partimos do valor de troca para chegar ao valor aí escondido. Temos que voltar a essa forma de manifestação do
valor.
(p. 69-70) As mercadorias possuem forma comum de valor [...]. Esta forma comum é a forma dinheiro do valor.
(p. 70) [...] Importa... elucidar a gênese da forma dinheiro. Para isso é mister acompanhar o desenvolvimento da
expressão do valor contida na relação de valor existente entre as mercadorias, partindo da mais simples até chegar na
forma dinheiro.
A relação de valor entre duas mercadorias é, portanto, a expressão de valor mais simples de uma mercadoria.

D) Forma dinheiro do valor (p. 91-92)

1. O fetichismo da mercadoria: seu segredo


(p. 92-93) À primeira vista a mercadoria parece coisa trivial, imediatamente compreensível [...] como valor de uso,
nada há de misterioso nela, quer a observemos sob o aspecto de que se destina a satisfazer as necessidades humanas,
com suas propriedades, quer sob o ângulo que só adquire essas propriedades em consequência do trabalho humano [...]
Não obstante, a mesa ainda é madeira, coisa prosaica, material.
(p. 93) Por fim, desde que os homens, não importa o modo, trabalhem uns para os outros, adquire o trabalho uma
forma social.
(p. 94) A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens,
apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalho; por ocultar,
portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação
social existente, à margem deles, entre os produtos do seu próprio trabalho. Através dessa dissimulação, os produtos
do trabalho se tornam mercadorias, coisas sociais, com propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos sentidos [...] Há
uma relação física entre coisas físicas. Mas a forma mercadoria e a relação de valor entre os produtos do trabalho, a
qual caracteriza essa forma, nada têm a ver com a natureza física desses produtos nem com as relações materiais dela
decorrentes. Uma relação social definida, estabelecida entre os homens, assume a forma fantasmagórica de uma
relação entre as coisas.

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V. Processo de trabalho e processo de produzir mais-valia (p. 210-231)

1. O processo de trabalho ou o processo de produzir valores de uso

A utilização da força de trabalho é o próprio trabalho. O comprador da força de trabalho consome-a, fazendo o
vendedor dela trabalhar [...] força de trabalho em ação: trabalhador. [...] A produção de valores de uso não muda sua
natureza geral por ser levada a cabo em benefício do capitalista ou estar sob seu controle (p. 211).
Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza [...] impulsiona regula e controla
seu intercâmbio material com a natureza. [...] Atuando sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo
modifica sua própria natureza. [...] Não se trata aqui de formas instintivas de trabalho. [...] No fim do processo do
trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador (p. 211-212).
Os elementos componentes do processo de trabalho são (p. 212):
1) a atividade adequada a um fim, isto é, próprio trabalho;
2) a matéria a que se aplica o trabalho;
3) os meios de trabalho, o instrumental de trabalho.
A terra [...] existe independente da ação dele, sendo um objeto universal do trabalho humano. Todas as coisas que o
trabalho apenas separa de sua conexão imediata com o seu meio natural, constituem objetos de trabalho, fornecidos
pela natureza [ex.: peixe pescado do seu ambiente natural; madeira da floresta virgem; minério dos filões]. Se o objeto
do trabalho é, por assim dizer, filtrado através de trabalho anterior, chamamo-lo de matéria-prima [ex.: minério
extraído depois de lavado]. [...] O objeto de trabalho só é matéria-prima depois de experimentado modificação
efetuada pelo trabalho (p. 212).
O meio de trabalho é uma coisa ou um complexo de coisas que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto de
trabalho e lhe serve para dirigir sua atividade sobre esse objeto. Ele utiliza as propriedades mecânicas, físicas,
químicas das coisas, para fazê-las atuarem como forças sobre outras coisas, de acordo com o fim que tem em mira.
[...] A terra, seu celeiro primitivo, é também seu arsenal primitivo de meios de trabalho [ex.: pedra para cortar]. A
própria terra é um meio de trabalho, mas, para servir como tal na agricultura, pressupõe toda uma série de outros
meios de trabalho e um desenvolvimento relativamente elevado de força de trabalho. O processo de trabalho, ao
atingir certo nível de desenvolvimento, exige meios de trabalho já elaborados (p. 213).
O que distingue as diferentes épocas econômicas não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz. Os
meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho, e além disso, indicam as
condições sociais em que se realiza o trabalho (p. 214).
[...] consideramos meios de trabalho, em sentido lato, todas as condições materiais, seja como for, necessárias à
realização do processo de trabalho. [...] Pertencem a essa classe meios resultantes de trabalho anterior, tais como
edifícios de fábricas, canais, estradas, etc (p. 214).
No processo de trabalho, a atividade do homem opera uma transformação, subordinada a um determinado fim, no
objeto sobre que atua por meio do instrumental de trabalho. O processo extingue-se ao concluir-se o produto. O
produto é um valor de uso, um material da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma.
O trabalho está incorporado ao objeto sobre que atuou (p. 214).
Observando-se todo o processo do ponto de vista do resultado, do produto, evidencia-se que meio e objeto de trabalho
são meios de produção e o trabalho é produtivo (p. 215).
Valor de uso que é produto de um trabalho torna-se, assim, meio de produção de outro. Os produtos destinados a
servir de meio de produção não são apenas resultado, mas também condição do processo de trabalho (p. 215).
A matéria-prima pode ser a substância principal de um produto, ou contribuir para sua constituição como material
acessório. O meio de trabalho consome o material acessório: assim, a máquina a vapor, o carvão; a roda, o óleo; o
cavalo de tração, o feno. [...] A diferença entre substância principal e acessória desaparece na fabricação em que se
processo uma transformação química [...] (p. 215).
Como se vê, um valor de uso pode ser considerado matéria-prima, meio de trabalho ou produto, dependendo
inteiramente de sua função no processo de trabalho, da posição que nele ocupa, variando com essa posição a natureza
do valor de uso (p. 216).
[...] O trabalho vivo tem de apoderar-se dessas coisas, de arrancá-las de sua inércia, de transformá-las de sua chama,
[...] lhes empresta vida para cumprirem suas funções; elas são consumidas, mas com um propósito que as torna

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elementos constitutivos de novos valores de uso, de novos produtos que podem servir ao consumo individual como
meios de substância ou a novo processo de trabalho como meios de produção (p. 217).
O trabalho gasta seus elementos materiais, seu objeto e seus meios; consome-os; é um processo de consumo (p. 217).
O processo de trabalho, que descrevemos em seus elementos simples e abstratos, é atividade dirigida com o fim de
criar valores de uso, de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas; é condição natural do intercâmbio
material entre o homem e a natureza; é condição natural eterna da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer
forma dessa via, sendo antes comum a todas as suas formas sociais (p. 218).
Nosso capitalista põe-se a consumir a mercadoria, a força de trabalho que adquiriu, fazendo o detentor dela, o
trabalhador, consumir meios de produção com seu trabalho. Evidentemente, não muda a natureza geral do processo de
trabalho executá-lo o trabalhador para o capitalista e não para si mesmo (p. 218).
O processo de trabalho, quando ocorre como processo de consumo da força de trabalho pelo capitalista, apresenta
dois fenômenos característicos (p. 219).
O trabalhador trabalha sob o controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho [...] (p. 219).
Além disso, o produto é propriedade do capitalista, não do produtor imediato, o trabalhador. [...] ao penetrar o
trabalhador na oficina do capitalista, pertence a este o valor de uso de sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho.
O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do
produto, os quais também lhe pertencem. [...] O processo de trabalho é um processo que ocorre entre coisas que o
capitalista comprou [...] (p. 219).

2. O processo de produzir mais-valia

Tem dois objetivos, primeiro, quer produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, um artigo destinado à
venda, uma mercadoria. E segundo, quer produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto de
mercadorias necessárias para produzi-las, isto é, a soma dos valores dos meios de produção e a força de trabalho [...]
Além de um valor de uso quer produzir mercadoria; além de valor de uso, valor, e não só valor, mas também valor
excedente (mais-valia) (p. 220).
Sendo a própria mercadoria unidade de valor de uso e valor, o processo de produzi-la tem de ser um processo de
trabalho ou um processo de produzir valor de uso e, ao mesmo tempo, um processo de produzir valor (p. 220).
[...] o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo
tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. [...] De início, temos, portanto, de quantificar o trabalho
materializado nesse produto (p. 220).

Exemplifiquemos com fios (p. 220).


<exemplo = versão da editora Boitempo (p. 338)>

10 libras de algodão (valor de10 xelins) + fuso (valor de 2 xelins) = valor de 12 xelins
12 xelins = 24 horas de trabalho (2 jornadas)

De acordo com a lei geral do valor:


O valor de 40 libras de fio = ao valor de 40 quilos de algodão + o valor de um fuso inteiro
10 libras de fio = 10 libras de algodão + ¼ de fuso

Nesse caso, o mesmo tempo de trabalho se expressa, de um lado, no valor de uso do fio e, de outro, nos valores de uso do
algodão e do fuso. O valor permanece o mesmo, não importando onde ele aparece, se no fio, no fuso ou no algodão (p. 339).
O tempo de trabalho requerido para a produção do algodão, que é a matéria-prima do fio, é parte do tempo de trabalho requerido
para a produção do fio e, por isso, está contido neste último. O mesmo se aplica ao tempo de trabalho requerido para a produção
da quantidade de fusos cujo desgaste ou consumo é indispensável à fiação do algodão (p. 339).
Todo o trabalho contido no fio é trabalho passado (p. 340).
Os valores dos meios de produção, isto é, do algodão e do fuso, expressos no preço de 12 xelins, são, assim, componentes do
valor do fio ou do valor do produto (p. 340).
[...] Trata-se, agora, de determinar a parte do valor que o trabalho do próprio fiandeiro acrescenta ao algodão (p. 341).

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Devemos, aqui, considerar esse trabalho sob um aspecto totalmente distinto daquele que ele assume durante o processo de
trabalho.
Na medida em que o trabalho do fiandeiro cria valor, isto é, é fonte de valor, ele não difere em absolutamente nada do trabalho do
produtor de canhões, ou, para empregar um exemplo que nos é mais próximo, do trabalho – incorporado nos meios de produção
do fio – dos plantadores de algodão e dos produtores de fusos.
É apenas em razão dessa identidade que o plantio de algodão, a fabricação de fusos e a fiação podem integrar o mesmo valor
total, o valor do fio, como partes que se diferenciam umas das outras apenas quantitativamente. Não se trata mais, aqui, da
qualidade, do caráter e do conteúdo específicos do trabalho, mas apenas de sua quantidade. É apenas esta última que cabe
calcular.
Supomos, aqui, que o trabalho de fiação é trabalho simples, trabalho social médio. Veremos posteriormente que a suposição
contrária não altera em nada a questão.
............
O valor diário da força de trabalho importava em 3 xelins, pois nela se materializa meio dia de trabalho, isto é, custam
meio dia de trabalho os meios de subsistência cotidianamente necessários para produzir força de trabalho. Mas o
trabalho pretérito que se materializa na força de trabalho e o trabalho vivo que ela pode realizar, os custos diários de
sua produção e o trabalho que ela despende, são duas grandezas inteiramente diversas. A primeira grandeza determina
seu valor de troca; a segunda constitui seu valor de uso. O valor da força de trabalho e o valor que ela cria no processo
de trabalho, são, portanto, duas magnitudes distintas. O capitalista tinha em vista esta diferença quando comprou sua
força de trabalho [...] o vendedor da força de trabalho, como qualquer outra mercadoria, realiza seu valor de troca e
alínea seu valor de uso (p. 226-227).
[...] Essa metamorfose, a transformação de seu dinheiro em capital, sucede na esfera da circulação e não sucede nela.
Por intermédio da circulação, por depender da força de trabalho no mercado. Fora da circulação, por servir apenas
para se chegar à produção de mais-valia, que ocorre na esfera da produção (p. 227).
Comparado o processo de produzir valor com o de produzir mais-valia, veremos que o segundo só se difere do
primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor simplesmente dura até o ponto em que o
valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um valor equivalente. Ultrapassando este ponto, o
processo de produzir valor torna-se processo de produzir mais-valia (valor excedente) (p. 227)
[...]

Boi tempo (p. 350-352)


Se, além disso, compararmos o processo de formação O processo de produção, como unidade dos processos
de valor com o processo de trabalho, veremos que este de trabalho e de formação de valor, é processo de produção
último consiste no trabalho útil, que produz valores de uso. de mercadorias; como unidade dos processos de trabalho e
O movimento é, aqui, considerado qualitativamente, em de valorização, ele é processo de produção capitalista, forma
sua especificidade, segundo sua finalidade e conteúdo. O capitalista da produção de mercadorias.
mesmo processo de trabalho se apresenta, no processo de O trabalho que é considerado mais complexo e elevado do
formação de valor, apenas sob seu aspecto quantitativo. que o trabalho social médio é a exteriorização de uma força
Aqui, o que importa é apenas o tempo que o trabalho de trabalho com custos mais altos de formação, cuja
necessita para a sua operação, ou o período durante o qual a produção custa mais tempo de trabalho e que, por essa
força de trabalho é despendida de modo útil. As mercadorias razão, tem um valor mais elevado do que a força simples de
que tomam parte no processo também deixam de importar trabalho.
como fatores materiais, funcionalmente determinados, da Mas qualquer que seja a diferença de grau entre o trabalho
força de trabalho que atua orientada para um fim. Elas de fiação e de joalheria, a porção de trabalho com a qual o
importam tão somente como quantidades determinadas de trabalhador joalheiro apenas repõe o valor de sua própria
trabalho objetivado. Se contido nos meios de produção ou força de trabalho não se diferencia em nada, em termos
adicionado pela força de trabalho, o trabalho só importa por qualitativos, da porção adicional de trabalho com a qual ele
sua medida temporal. Ele dura tantas horas, dias etc. No cria mais-valor. Tal como antes, o mais-valor resulta apenas
entanto, o trabalho só importa na medida em que o tempo de um excedente quantitativo de trabalho, da duração
gasto na produção do valor de uso é socialmente necessário, prolongada do mesmo processo de trabalho: num caso, do
o que implica diversos fatores. A força de trabalho tem de processo de produção do fio, noutro, do processo de
funcionar sob condições normais. produção de joias.

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Fetichismo
- o homem, por sua atividade, modifica a natureza de modo que lhe seja útil
- o caráter misterioso da mercadoria não provém de seu valor de uso nem tampouco dos fatores determinantes do
valor.
- o caráter misterioso da mercadoria vem da própria forma da mercadoria
- a mercadoria é misteriosa, pois encobre o trabalho do homem
- a mercadoria existe fora do campo de visão, assume uma forma fantasmagórica
- as mercadorias ganham autonomia, pois existem para os homens e existem em relação uma com as outras, mas não
existem na relação direta entre os indivíduos em seus trabalhos
- categorias da economia burguesa
- No regime feudal, as relações sociais entre pessoas na realização de seu trabalho revelam-se como suas próprias
relações pessoais, não se dissimulando em relações entre coisas, entre produtos de trabalho.

Geral – apontamentos
- materialismo histórico (parte científica)
- materialismo dialético (parte filosófica)
- materialismo Demócrito, Feuerbach
- ciência é um produto do dominante
- a ciência deve ser transformadora
- dominantes x dominados
- como ser materialista e revolucionário?
- materialismo Demócrito (sentido) x idealista Platão (perspectiva - você determina)
- material ligado ao idealista
- o material é imposto pela infraestrutura, meios materiais (economia)
- necessidades de relações materiais
- dois fenômeno: infraestrutura e superestrutura
- superestrutura se pauta na infraestrutura
- infraestrutura (relações econômicas: dominantes e dominados, meios de produção: processo de trabalho e relação de
produção: condições de trabalho históricas)
- trabalho: infraestrutura; produção de bens, relação de trabalho, ação de transformação: atividade, objeto e meio de
produção
- processo de trabalho gera o atrito entre proletariado e patrão
- sistema aliena e oprime o proletário
- revolução não acontece pela alienação promovida pelo sistema
- produção de bens: classes: proletário e patrão
- relações de produção: relações técnicas e relações sociais
- produção individual é rara, coletiva comum
- relação simples (sozinho em conjunto, ele conhece todas as etapas) e complexa (funções isoladas, fordismo)
- trabalhador ou direto e trabalhador indireto (alienados do processo), relações técnicas do meio de produção
- quanto mais evoluído o meio de produção mais alienado o trabalhador, mais setores existirão
- dois tipos de patrões: participa e não participa da produção (ambos detentores do meio)
- explorados (escravos e trabalhadores) x não explorados (detentores dos meios)
- plebeu x rei ou senhor feudal; assalariado x patrão
- relação de exploração do não existiria se não houvesse o setor privado
- trabalho assalariado também é exploração, pois não há livre escolha, pois a oferta de trabalho é limitada e a busca e
grande
- necessidade de especialização para valorizar seu valor enquanto mão de obra
- o patrão dita a regra
- mais-valia: lucro sobre trabalho do assalariado
- mais-valia: é o que sobra do custo de exploração do trabalho
- separação no meio de produção causa alienação, pois isola o trabalhador do processo de produção
- o salário diminui para aumentar a mais-valia
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- burguês x proletário (luta de classe)
- luta de classe é o motor da história, define a realidade
- dominação de classe, burguês domina as classes, pois domina as instituições
- capitalismo concentra o capital
- não houve revolução comunista, apenas a socialista de transição
- na Rússia a revolução não foi como a prevista por K. Marx
- dominação ideológica reprime o trabalhador
- o sistema legitima o Estado ideologicamente
- o sistema político é ideológico, portanto alienante
- superestrutura: ideológica , instituições

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