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A Escola Normal Brasileira foi a princípio uma instituição de caráter precário que
abria ou fechava em função de decisões políticas nem sempre acertadas, criada para
atender às necessidades de formação de professores para o ensino primário que
tentava expandir-se no Império. Eram instituições frágeis, com limitações
orçamentárias significativas que impediam seu bom funcionamento. Ministravam um
tipo de ensino elementar, mais propriamente voltado para aquilo que se deveria
ensinar no curso primário do que num aprofundamento de estudos e numa real
formação profissional. As primeiras escolas normais possuíam um único mestre e a
princípio eram dirigidas apenas ao sexo masculino. O preconceito herdado
culturalmente de Portugal fazia com que a instrução feminina fosse vista com
desconfiança e a maior parte das mulheres e moças vivia em situação de inferioridade
e dependência, recebendo nas famílias mais ricas algumas noções de leitura e escrita,
dedicando-se o mais das vezes às prendas domésticas, condição mais do que
necessária para conseguirem um bom casamento.
A primeira escola normal brasileira foi criada em Niterói em 1815 e em São
Paulo, fundada em 16 de março de 1846, atendia exclusivamente ao público
masculino. A instituição não conseguiria nas décadas seguintes se alicerçar no
precário sistema escolar, o que somente iria acontecer quando as moças passaram a
procurar por esse tipo de ensino, praticamente uma das únicas vias de acesso da
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Os anos 1930
esteve bastante presente, fato esse que iria refletir-se na organização curricular da
Escola Normal.
O espírito de federação que se alastrou pelo país entre 1930 e 1937, deu ensejo
a que os estados viabilizassem várias reformas no seu sistema de ensino. No Rio de
Janeiro, Anísio Teixeira, então Diretor Geral do Departamento de Educação, reformaria
o Ensino Primário e o Ensino Normal, transformados em Institutos de Educação,
incorporando a concepção de educação como instrumento de transformação social e
nivelador das desigualdades sociais. A reforma de Anísio Teixeira serviria de inspiração
para os reformadores paulistas, preocupados em equiparar o sistema escolar brasileiro
ao das grandes nações desenvolvidas.
As mudanças que se efetivaram em 1931 em São Paulo, coordenadas por
Lourenço Filho, visavam reorganizar o sistema educacional de forma definitiva. A
Escola Normal passaria novamente a funcionar em curso de quatro anos, que no
Governo Júlio Prestes havia sido reduzido para três.
As transformações operadas no país possibilitariam a abertura de um espaço
político para a classe média que ampliava cada vez mais suas exigências educacionais.
A parcela feminina da população reclamava maior nível de instrução e a Escola Normal
se tornaria um dos objetivos a ser alcançado por parecer ter melhor satisfeito as
aspirações das jovens paulistas, oriundas não apenas das classes médias, mas
também das famílias mais abastadas do Estado. Para a admissão na escola era exigida
a verificação da idade, da saúde, da inteligência e personalidade dos candidatos, fato
que demonstra a elitização do curso no período, nos rastros de uma política
educacional bastante autoritária. Para as moças era necessário apresentar autorização
do pai ou do marido no ato da matrícula.
A Conferência Nacional de Educação realizada em 1931, e a publicação do
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em 1932, demonstrariam inequivocamente a
crença de ser a escola um poderoso instrumento de transformação social, atuando
também como um aparelho de equalização de oportunidades para o indivíduo e
corrigindo a injustiça social, além de possuir o poder de suprir as deficiências de um
meio social desfavorável ao educando. A declarada função social atribuída à escola
levaria a novas preocupações com a formação de professores, os responsáveis diretos
pelo sucesso educacional. Assim, com a incorporação dessas idéias, em 1933 é
proposta uma nova reforma para a Escola Normal, na qual se procuraria efetivamente
colocar em prática a idéia há muito veiculada quanto ao preparo técnico dos
professores primários.
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Os anos 1940
A política educacional do Estado Novo só veio mesmo a ter uma real definição
através das Leis Orgânicas do Ensino. Promulgadas por Capanema nos anos 1940,
quando este era o Ministro da Educação, essas leis se caracterizaram pela
centralização ao Governo Federal e pela sujeição às suas determinações. Envolveram
reformas em todos os graus de ensino, representando a ingerência do poder central
em todos os níveis educacionais. Uma das tônicas era a ênfase e valorização do ensino
profissional, acentuando ainda mais a dualidade do sistema de ensino com objetivos
diferentes para a educação das classes altas e do povo.
A Escola Normal seria organizada como um ramo do ensino profissional,
buscando habilitar professores para o trabalho com crianças do ensino primário. Essa
formação procurou ser uniformizada em todo o país através do nivelamento da
orientação impressa no curso. Dentro dessa organização se promoveu também uma
divisão interna ao curso: para os locais economicamente pouco desenvolvidos se
propunha um curso reduzido quanto ao seu conteúdo; os centros mais prósperos como
as grandes cidades ofereceriam cursos mais aprofundados. Além disso, se instituiria
uma sub-divisão: o Curso de Regentes do Ensino Primário, com quatro anos de
duração e o Curso de Formação de Professores Primários, funcionando em três anos.
A formação de professores se faria através de três modalidades de cursos: pela
Escola Normal, que oferecia o segundo ciclo, formando professores primários; pelo
Curso Normal Regional, em nível de segundo ciclo e preparando regentes para o
ensino primário; pelos Institutos de Educação, encarregados da formação de
professores primários e lhes fornecendo habilitação profissional para o Magistério e em
Administração Escolar.
O currículo único adotado para todas as escolas do país se destacava pelo
predomínio de disciplinas de caráter técnico-pedagógico, onde figuravam disciplinas
como Psicologia, Pedagogia, Didática e Prática de Ensino, ministradas nos anos finais
do curso. As escolas normais continuavam a ter maioria feminina freqüentando seus
cursos e se solidificava a tendência das mulheres serem as mais indicadas para
lecionar para crianças, tendência já anunciada nas décadas anteriores.
As transformações realizadas na Escola Normal durante a década de 40,
principalmente com a Lei Orgânica de 1946, irão coincidir com o fim do regime
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Os anos 1950
Entre ambas, a classe média formada por profissionais liberais e funcionários públicos.
Para o ingresso nessas profissões desempenhadas pelos segmentos médios, a escola
constitui o principal, senão o único patamar importante na busca de ascensão social e
a educação escolarizada continua sendo a via de acesso à participação efetiva na
sociedade.
Nesse panorama, a formação de professores na Escola Normal mantém-se
sujeita às oscilações sociais, econômicas e políticas, de acordo com a ideologia do
momento. A baixa remuneração e a desvalorização social dos professores dedicados ao
magistério primário fazem pauta das reivindicações da categoria e tomam corpo os
debates educacionais acerca da necessidade de uma Lei de Diretrizes e Bases para a
educação nacional. As mulheres cada vez afluem em maior número para a profissão,
levadas pela necessidade de buscar instrução e poder exercer uma profissão, numa
sociedade que principia a considerar o trabalho feminino como uma alternativa para
alcançar o desenvolvimento.
A partir da década de 1950 entra em pauta a questão de instituir um curso
normal noturno, dada a grande procura por esse curso. No entanto, a idéia sempre
presente da democratização do ensino, o que implicava em oferecer igualdade de
oportunidades aos alunos que trabalhavam no período diurno e queriam freqüentar as
escolas normais, esbarraria no funcionamento deficiente dos cursos noturnos. Uma das
maiores dificuldades estava no cumprimento das atividades práticas no curso primário
anexo que somente funcionava no período diurno, o que colocava dificuldades para os
alunos. Procurando melhorar essas condições, a Lei n. 3388 de 4 de julho de 1956,
através do Decreto n. 26526 de 5 de outubro, acrescentaria um ano ao curso noturno
de formação profissional dos professores primários.
unificar os dois primeiros anos de ambos os cursos, a Escola Normal passa a ser um
dos ramos do colegial, havendo um currículo comum para as primeiras séries.
A década de 60, caracterizada no plano político por um Estado repressor que
não hesitava em usar da violência contra seus detratores, não apresentou grandes
inovações no Sistema Educacional. A repressão da ditadura militar, que se estendeu
aos anos 70, atingiu escolas, professores e estudantes, proibindo quaisquer
manifestações de caráter político. A consciência cívica e patriótica seria estimulada
junto à população e a escola seria uma das vias preferidas como espaço para se pregar
o ufanismo nacional e o amor à Pátria. O Brasil tornava-se o país do "ame-o o deixe-o"
e nos bastidores da política, a invasão contra os direitos humanos fazia suas vítimas.
Bibliografia
ALMEIDA, Jane S. de. Mulher e Educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Editora
da Unesp, 1998.
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HAHNER, June E. A Mulher Brasileira e suas lutas sociais e políticas: 1850-1937. São
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MANOEL, Ivan. Igreja e Educação Feminina, 1859/1919: uma face do
conservadorismo. São Paulo: Editora da Unesp, 1996.
MENDES, Teixeira R. A Mulhér: sua preeminência social e moral segundo os ensinos da
verdadeira sciência pozitiva. Rio de Janeiro: Igreja do Apostolado Pozitivista do
Brasil, 1958, 4ª ed.
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