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seção 1
O Comportamentalismo na Psicologia, sua
ênfase no mundo exterior ao sujeito e suas
implicações educacionais
BEHAVIOR = COMPORTAMENTO
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a comida era apresentada, a campainha tocava. Após várias repetições
dessa apresentação conjunta do alimento e campainha, Pavlov observou
que a saliva do cão escorria simplesmente quando este ouvia o som da
campainha, verificando-se, portanto, que o som substituiu o efeito do
estímulo natural (comida), tornando-se capaz de produzir a salivação,
que passou a ser, então, uma resposta condicionada.
Podemos definir
condicionamento reflexo
como aquele que abrange
reações naturais do
organismo frente a estímulos
específicos; ou seja, respostas
são provocadas frente a
determinados estímulos.
Os fatores que influem para o condicionamento reflexo são a
simultaneidade (do estímulo natural e estímulo artificial) e a repetição
dessa apresentação. As respostas que passarão a ser dadas diante do
estímulo artificial são as respostas condicionadas.
Na perspectiva do Condicionamento Reflexo, a aprendizagem é
a “aquisição de uma reação pela substituição de estímulos naturais por
estímulos neutros, que se tornam condicionados, pela sua ocorrência
simultânea ou contígua aos primeiros (CAMPOS, 1986, p.187).
Embora entendida como aprendizagem pelos behavioristas, e
estendida da psicologia animal para a psicologia humana, podemos notar
que a aquisição da reação reflexa condicionada nada mais é que uma
forma cega de mudança de comportamento, que difere substancialmente
de uma aprendizagem voluntária que se dá mediante a atividade mental
do aprendiz.
Contudo, percebemos que, em nossa vida cotidiana, adquirimos
muitos condicionamentos. Por exemplo: uma criança toma uma injeção
dolorosa dada por uma enfermeira vestida de branco e passa a chorar
sempre que vê alguém vestido de branco. A criança que ouve a mãe dizer
“não” quando se aproxima do fogão tende a evitar aproximar-se do mesmo.
De igual maneira, muitas das nossas atitudes, gostos, repugnâncias,
hábitos e sentimentos que vivenciamos como adultos são adquiridos pela
via do condicionamento reflexo.
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Ou seja, o elogio foi um estímulo posterior à resposta de fazer os deveres
e aumentou a probabilidade de essa criança fazê-los. Esse estímulo
posterior à resposta foi chamado por Skinner de reforço.
Podemos, então, conceituar reforço como: evento que segue à resposta e aumenta a probabilidade
de sua ocorrência.
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Na
Assim, na perspectiva ambientalista a aprendizagem é a modificação
perspectiva do do comportamento observável em função da experiência, considerando-se
condicionamento
operante, a
importante analisar rigorosamente a relação entre os estímulos presentes
aprendizagem e as contingências do meio sobre a conduta humana, de modo a permitir
é definida como
uma mudança no
a previsão e o controle do comportamento (GUERRA: 1998).
comportamento
observável, ou seja,
uma modificação nas
Implicações educacionais
respostas dadas pelo A abordagem skinneriana do ensino compreende uma tecnologia Contingência é
indivíduo. a relação entre o
educacional condizente e com objetivos comportamentais claramente comportamento e
definidos. os acontecimentos
ambientais que
Do ponto de vista do processo educacional, tal concepção leva a uma influenciam esse
grande valorização dos aspectos técnicos no planejamento, organização comportamento.
e avaliação do ensino e, também, do papel diretivo do professor. Nesse
sentido, o processo de ensino implica o arranjo de contingências de reforço,
pelo professor, eficazes para controlar as respostas a serem dadas pelos
estudantes, levando-os a exercitar ou treinar as habilidades desejadas
e a excluir as indesejadas, através de uma programação minuciosa de
atividades educacionais.
Uma das formas de aplicação do condicionamento operante nas
práticas escolares que teve grande repercussão em nossa educação é a
Instrução Programada.
Veja, a seguir, o que diz Campos (1986, p.197) sobre a
Instrução Programada:
“A instrução programada é um sistema de ensino e
aprendizagem, no qual a matéria preestabelecida
é subdividida em etapas reduzidas, discretas e
cuidadosamente organizadas em uma seqüência
lógica, que pode ser prontamente aprendida
pelos estudantes. Cada etapa organiza-se,
deliberadamente, baseada na que a precedeu.
O aprendiz pode evoluir através da seqüência
de etapas, em seu ritmo peculiar, e é reforçado,
imediatamente, depois de cada etapa; ou se
lhe oferece a resposta correta ou se lhe permite
avançar para a etapa seguinte, depois de registrar
a resposta correta.”
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Moreira (1983, p.17) esclarece acerca dos princípios básicos que
regem a tecnologia da Instrução Programada. Estes princípios são os
seguintes:
1. Pequenas etapas: a informação é apresentada através de um grande
número de pequenas e fáceis etapas. O uso de pequenas etapas facilita
a emissão de respostas a serem reforçadas e diminui a probabilidade de
cometer erros (segundo Skinner, o erro cometido é aprendido e, portanto,
os erros devem ser minimizados e os acertos maximizados).
2. Resposta ativa: o aluno aprende melhor se participa ativamente
da aprendizagem.
3. Verificação imediata: o aluno apreende melhor quando verifica
sua resposta imediatamente.
4. Ritmo próprio: cada aluno pode trabalhar tão rápida ou lentamente
quanto desejar.
5. Testagem do programa: testagem através da atuação do aluno. Se
a apresentação de algum quadro (frame) não estiver clara, isto se refletirá
nas respostas do estudante.
Os princípios do condicionamento operante tiveram e ainda têm
grande influência nas práticas educacionais, especialmente nas escolas.
O que observamos é que os professores utilizam os princípios do
condicionamento operante mesmo sem ter consciência deles, o que nos
leva a concluir que o condicionamento é uma realidade no interior de
nossas salas de aula.
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Leia com atenção este pequeno texto de Francisco Filho (2002, p.20) sobre o Behaviorismo.
“O Behaviorismo surge nos Estados Unidos com J. B. Watson (1878-1959), considerado fundador
dessa Escola. Propôs abandonar o método introspectivo e dar ênfase ao conteúdo da consciência;
[...]. A preocupação agora passou a ser o comportamento e não os fenômenos mentais. Os cinco
sentidos voltaram a ter importância e os dados observáveis também ficaram em posição privilegiada.
O comportamento podia ser condicionado, criando hábito, através de reforços para fixar o que era
esperado. Até o uso da linguagem foi considerado susceptível de ser condicionado e todos os dados
podiam ser mensurados. A idéia principal era modelar o comportamento, começando por animais em
laboratórios até chegar ao homem.
Do outro lado do mundo, o russo Ivan Pavlov (1849-1936) realizava experiências semelhantes
e suas teorias acabaram sendo a palavra de ordem durante longo período do stalinismo. Pavlov havia
sido agraciado com o prêmio Nobel em 1904 pelos seus trabalhos sobre a fisiologia da digestão. Depois
passou a pesquisar reflexos condicionados. A tarefa de condicionar comportamentos pelos estímulos
deu origem ao chamado Condicionamento Clássico.
Enquanto isso nos EUA, Skinner realizava semelhante trabalho de condicionamento, que
ficou conhecido por Condicionamento Operante.
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No Brasil, o Behaviorismo chegou para ficar durante os governos militares (1964-1985);
através de convênios, os técnicos da USAID aqui estiveram para pregar e implantar a nova teoria. Nestas
terras, a nova teoria foi chamada de tecnicista e as descobertas de Skinner e de Pavlov tornaram-se a
palavra oficial do Ministério da Educação, influenciando, inclusive, as principais leis sobre a educação
brasileira. Lei 5.540/68 para o ensino superior e Lei 5.692/71 para os antigos 1º e 2º. graus.”
Leia também: CAMARA ZACHARIAS, Vera Lúcia. Skinner e o behaviorismo. Centro de Referência
Educacional [online]. Disponível em: http://www.centrorefeducacional.com.br acessado em
23/09/2008.
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A Psicologia Humanista de Carl Rogers: uma
concepção idealista do sujeito e suas implicações
educacionais
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Rogers supôs que não podemos ensinar algo diretamente a alguém, podemos apenas facilitar-lhe a
aprendizagem mediante condições e recursos externos. A aprendizagem, então, é um processo auto-
apropriado, que se dá mediante experiências significativas, pessoais, que não podem ser comunicadas
aos outros. Para Rogers, o homem é o arquiteto de si. (LA PUENTE, 1980)
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• O professor apenas propõe ao aluno estruturas de trabalho
em termos de métodos de estudo, esquemas cognitivos, orientação de
trabalho, etc.
• Essas propostas são apresentadas, porém, como algo falível,
possibilitando uma atividade mais autêntica do aluno.
• O aluno pode solicitar, aceitar, transformar ou recusar as estruturas
indicadas pelo professor.
• O professor ajudará o aluno a encontrar, na sua própria experiência,
o significado do que lhe foi apresentado.
As conseqüências metodológicas que derivam dessa perspectiva
partem do princípio de que métodos e técnicas educacionais devem ser
pensados em favor do mundo pessoal de cada aluno, sem imposições
e dispondo de variedade e riqueza de recursos materiais como livros,
mapas, laboratórios, oficinas e outros, a serem colocados à disposição dos
estudantes.
O uso de técnicas não:
Algumas técnicas não-diretivas são bastante importantes para os
professores quando se visa ao desenvolvimento da responsabilidade
pessoal e da iniciativa do aluno perante seu processo de aprendizagem.
Vejamos algumas:
• O uso de contratos:
O sistema de trabalho por contratos é uma das mais importantes
implicações educacionais da visão rogeriana. O contrato nada mais é
que uma “combinação” entre os alunos e o professor acerca do trabalho
pedagógico a ser desenvolvido e dos níveis de aproveitamento pretendidos.
Para Faria (1987, p.16), o contrato é “uma técnica estruturante da
atividade do aluno, na qual este e o professor entram em um acordo sobre
os conteúdos a serem estudados, o método de trabalho e o sistema de
avaliação”.
• A auto-avaliação:
A auto-avaliação é indicada para desenvolver o sentido de
responsabilidade no aluno perante o seu aproveitamento na aprendizagem.
Ela supõe que o próprio aluno avalie até que ponto alcançou os objetivos
que foram estabelecidos no contrato de trabalho com o professor e se
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estudantes organizam-se para dramatizar e sentir mais de perto processos
de tomada de decisão, recebimento de informações, dificuldades de
comunicação, relações interpessoais, etc.
• A instrução programada:
Essa técnica tem suas bases no Behaviorismo, porém Rogers
admitia utilizar as instruções programadas para atender a interesses
restritos como, por exemplo, para aprender a utilizar um equipamento. Nos
casos de aprendizagens que exigem criatividade e maior elaboração do
pensamento, Rogers não recomendava o uso da instrução programada.
Outras técnicas como jogos humanistas, treinamentos de
sensibilidade também eram recomendadas por Rogers para facilitar a
aprendizagem.
Métodos não empregados
A psicologia educacional rogeriana tende a refutar os métodos
que não levam em conta os desejos e interesses dos alunos. Assim,
um método tradicional, como é o caso da realização de provas, só será
aceito se os alunos o desejarem. Rogers (1971), citado por Faria (1987),
exemplificou os seguintes métodos comumente não empregados em sua
visão educacional. São eles:
• tarefas de casa;
• aulas expositivas sem solicitação espontânea do grupo de alunos;
• avaliações ou críticas a menos que o aluno o deseje;
• realização de provas obrigatórias;
• responsabilidade exclusiva do professor pela nota do aluno.
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Todavia, não devemos cair no erro de ignorar sua contribuição,
principalmente em referência à recondução para o centro do processo
educativo de quem, verdadeiramente, deve ocupar este lugar: o aluno.
• Leia a obra “Liberdade para aprender”, que é, provavelmente, a mais difundida obra de
Rogers no Brasil. ROGERS, C. R. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1972.
Para conhecer uma biografia de Carl Rogers.
• Acesse http://www.rogeriana.com/biografia.htm publicado na Revista de Estudos Rogerianos
“A Pessoa como Centro”, nº. 3, Primavera-Maio 1999.
• Em 2004 foi publicado na Revista Escola um artigo interessante sobre Carl Rogers e a
Educação. Acesse: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0172/aberto/mt_87186.shtml
Mediante as questões apresentadas sobre Rogers, explique qual a atitude do professor rogeriano.
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A ênfase nos fatores biológicos: o inatismo na
Psicologia e suas implicações educacionais
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Segundo Fontana e Cruz (1998), verificamos a Idade Mental (IM) pelo número de tarefas de um teste
que o sujeito consegue fazer. Há tarefas atribuídas, por exemplo, às crianças que têm dez anos. Quando
uma criança consegue resolvê-las todas, diz-se que tem IM de dez anos, independentemente da
verdadeira idade. A obtenção do Quociente de Inteligência (QI) se dá pela divisão entre IM multiplicada
por 100 e Idade Cronológica (IC). Quando a IM for igual à IC o resultado será sempre 100. Deste modo,
100 é o número que faz o limite entre um QI abaixo da média (menor que 100) e um QI acima da média
(maior que 100).
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Análise crítica do inatismo
Do ponto de vista crítico, podemos dizer que o cálculo da idade
mental e do quociente de inteligência, através de testes psicológicos,
propiciou o entendimento equivocado de que a inteligência era um
atributo fixo, geneticamente determinado. Com isso, restava à educação
pouco ou nada a fazer, diante do que já estava dado biologicamente ao
sujeito. À Psicologia caberia quantificar e classificar os indivíduos de
acordo com esses atributos inatos. A educação, em decorrência, devia ser
oferecida de modo condizente às capacidades mentais e aptidões naturais
de cada indivíduo. Diz Guerra (1998, p. 34): “Como se acreditava na
predestinação das capacidades, entendia-se que pouco ou nada poderia
ser modificado pela ação educativa”.
Patto (1987) dirigiu algumas críticas a essa psicologia, explicando
que o sucesso obtido, em virtude da mensuração das capacidades humanas,
não foi casual, pois realizava o sonho da sociedade industrial capitalista de
selecionar os mais aptos, distinguindo-os dos menos aptos, em relação às
necessidades produtivas dessa mesma sociedade. A psicologia, sob essas
premissas, converteu-se em ideologia, pois propiciou o aval científico
capaz de explicar o sucesso de uns e o fracasso de outros, no interior de
uma sociedade que se ergueu com base na premissa da igualdade de
oportunidades.
Guerra (1998, p.34) explica que:
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Nesta unidade você estudou as concepções objetivistas, que enfatizam o objeto (realidade),
por entenderem que o indivíduo é determinado pelo meio ambiente, e que são representadas pelas
teorias comportamentais, cujo expoente foi Skinner.
Também estudou concepções subjetivistas, aquelas que priorizam o sujeito e que podem apresentar-
se com um caráter mais idealista, mais filosófico, como na teoria de Carl Rogers, ou com um caráter
inatista, como é o caso da perspectiva de Binet.
Ao fazer uma análise crítica dessas duas tendências epistemológicas (subjetivista e objetivista),
compreendemos que ambas promovem abstrações, ora isolando o sujeito do mundo exterior, ora
priorizando o mundo exterior como se o sujeito em nada contribuísse para a sua constituição.
É necessário, contudo, que você compreenda que essas abordagens são produtos sociais,
historicamente determinados, sendo importante superá-las, mas não ignorá-las, uma vez que estão
enraizadas nos ideários e práticas pedagógicas, bem como nas representações dos educadores sobre
o aluno, o meio e o papel que cabe à escola e à educação.
1. Caro aluno, com base no que você estudou, diga qual o papel da educação na perspectiva inatista.
AUTO-AVALIAÇÃO
2. Organize um quadro e destaque as contribuições e críticas da abordagem rogeriana na educação.
CONTRIBUIÇÕES CRÍTICAS
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