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Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

Rádio Comunitária: cenários de resistências e possibilidades alternativas 
Cristóvão Domingos de Almeida 
Gisele Souza Neuls 
Joel Felipe Guindani 
 
 
Resumo  
A proposta deste artigo é compreender em que medida a rádio comunitária Quilombo FM proporciona 
práticas  sociais  no  bairro  Restinga,  região  periférica  de  Porto  Alegre,  RS.  Para  alcançar  tal  objetivo, 
discutiremos  o  conceito  de  rádio  comunitária,  para  em  seguida,  identificar  a  sua  aplicabilidade  na 
atividade  desenvolvida  pela  emissora  em  estudo.  Para  isso,  identificaremos  no  processo  histórico  da 
emissora,  bem  como  na  sua  programação,  veiculada  semanalmente,  e  ainda,  na  formação  dos 
comunicadores populares, as práticas de comunicação social que geram o desenvolvimento humano, a 
justiça social e a ampliação do exercício de cidadania. A análise evidencia, entre outros aspectos, que a 
rádio comunitária é um espaço de resistência e possibilidades. Resiste ao determinismo e possibilita a 
produção de experiências alternativas e de reconhecimento dos saberes locais.   
 
Palavras‐chave 
formação de comunicadores; rádio comunitária; Quilombo FM; cidadania. 
 
Abstract 
The purpose of this paper is to understand the extent to which community radio Quilombo FM provides 
social practices in the Restinga district, peripheral region of Porto Alegre, RS, Brazil. To achieve this goal, 
we discuss the concept of community radio and then identify its applicability in the activity developed by 
the  broadcasting  station  under  investigation.  For  that,  we  identify,  in  the  historical  process  of  this 
company as well as in its programming, weekly broadcasted, and in the formation of people engaged in 
popular media, media practices that generate human development, social justice and expansion of the 
exercise  of  citizenship.  The  analysis  shows,  among  other  things,  that  community  radio  is  a  space  of 
resistance and possibilities. It resists determinism and enables the production of alternative experiences 
and acknowledgement of local recognition. 
 
Key‐words 
community communication; community radio; FM Quilombo; citizenship. 
 
 
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

Introdução 
 
A  comunicação  comunitária  é  um  movimento  consistente  e  crescente  em  toda  a  América  Latina  e  no 
Brasil há mais de 30 anos. Christa Berger (2008, p. 247) observa que “é entre o final dos anos 60 e início 
dos  70  que  se  inaugura  uma  reflexão  efetivamente  latino‐americana  sobre  a  comunicação”.  Para  essa 
autora,  isso  ocorre  por  conta  dos  cenários  de  efervescências  sociais  apresentados  nesse  momento 
histórico. 
 
A  comunicação  comunitária  se  constituiu,  nessa  trajetória,  como  espaço  de  democratização  da 
comunicação, exercício da cidadania e fortalecimento de identidades culturais, gerando nesse percurso 
histórico  um  sólido  programa  de  formação  de  comunicadores.  Eles  foram  verdadeiros  multiplicadores 
de experiências que visavam a emancipação dos sujeitos. Um exemplo de intervenção social se expressa 
no  Movimento  de  Educação  de  Base  (MEB),  que  teve  início  em  1961,  com  a  instalação  de  escolas 
radiofônicas  em  diversos  estados  brasileiros.  Nos  dois  primeiros  anos,  o  trabalho  era  limitado  à 
alfabetização  e  à  divulgação  de  noções  elementares  de  saúde,  de  associativismo  e  de  procedimentos 
técnicos  na  agricultura  (FÁVERO,  2006).  Nos  anos  seguintes,  o  trabalho  do  movimento  passou  a 
requerer “a transformação da realidade para a libertação das classes dominadas” (FÁVERO, 2006, p. 89). 
Vale  dizer  que  a  maioria  dessas  experiências  foi  brutalmente  interrompida  durante  o  governo 
autoritário. 
 
De  lá  pra  cá,  os  movimentos  populares  vêm  criando  alternativas  para  garantir  o  acesso  e  a  circulação 
das  informações,  chamando  a  atenção  para  a  questão  da  democratização  da  informação  (PERUZZO, 
2004)  e  possibilitando  que  os  sem  voz  possam  dizer  a  sua  palavra.  Entretanto,  o  funcionamento  de 
alguns  veículos  comunitários  é  instável,  o  que  ocasiona  uma  participação  efêmera  e  limitada  dos 
sujeitos e da comunidade. Há um conjunto complexo de motivos para isso, que incluem dificuldades de 
acesso  a  regularização  do  veículo,  questões  políticas,  limitações  técnicas  e  econômicas,  entre  outras. 
Diante  dessas  questões,  este  artigo  trabalho  se  propõe  a  compreender  em  que  medida  a  Rádio 
Comunitária Quilombo FM 88.3, proporciona ações sociais no bairro Restinga, região periférica de Porto 
Alegre, RS. 
 
Para  darmos  conta  dessa  demanda,  estruturamos  este  artigo  da  seguinte  forma.  Primeiro  situaremos 
conceitualmente o rádio enquanto um veículo comunitário. Em seguida aproximaremos os conceitos de 
rádio comunitária e comunicação comunitária com propostas que geram ações emancipatórias. Por fim, 
para  verificar  a  aplicabilidade  desses  conceitos,  faremos  um  breve  resgate  histórico  da  Rádio 
Comunitária  Quilombo  FM,  da  sua  programação  veiculada  semanalmente,  das  apropriações  das 
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informações  por  parte  dos  comunicadores  da  emissora,  tendo  como  propósito  identificar  como  essas 
ações geram práticas que possibilitam o desenvolvimento humano, o reconhecimento dos saberes locais 
e o exercício da cidadania. 
 
É preciso esclarecer desde o início que nem todas as interpretações sobre o conceito de comunicação 
popular e rádio comunitária são possíveis de serem esgotadas, mas o nosso esforço é trazer a temática 
para discussão e, ao fazer isso, compreender melhor a formação do sujeito, das suas identidades e da 
preservação da memória local. Por isso, a pergunta que fica como pano de fundo é: o que podemos de 
fato  saber  sobre  as  práticas  adotadas  pelas  rádios  comunitárias?  Elas  estão  contribuindo  com  a 
formação  de  identidades?  Como  as  rádios  comunitárias  podem  ser  um  espaço  de  promoção  ou  de 
ampliação das políticas públicas em uma comunidade? Como as rádios comunitárias facilitam o exercício 
da cidadania? 
  
1. Radiodifusão: do popular ao comunitário 
 
O  rádio  pode  ser  entendido  como  uma  “tecnologia  que  surge,  trazendo  em  si  promessas,  discursos, 
potencialidades,  projetos,  esquemas  imaginários,  implicações  sociais  e  culturais  (BIANCO,  2004,  p. 
317)”. Além da praticidade tecnológica, o rádio continua  
 
modernizado, refeito, revigorado; ele já não é aquele de Getúlio Vargas nem é 
o  palanque  sonoro  da  ‘identidade  nacional’;  é  mais  variável,  diverso, 
multifacetado, fragmentado... e imprescindível. Um pouco distante de ser um 
congregador nacional, assume com força e propriedade o de “agregador local, 
um porta‐voz da cidade, um agente comunitário (BUCCI, 2004, p. 8). 
 
Nascido em berço de ouro e sustentado pela elite, aos poucos o rádio vai se popularizando, produzindo 
uma  linguagem  singular  que  fascinava  ouvintes  de  todos  os  estratos  sociais.  A  agilidade  e  a  facilidade 
em  ser  compreendido  por  um  público  cada  vez  mais  plural  continuam  fazendo  de  tal  tecnologia  “o 
melhor  e  mais  eficaz  meio  a  serviço  da  transmissão  de  fatos  atuais”  (PRADO,  1989,  p.  18).  De  custo 
reduzido  e  de  fácil  acomodação  como,  em  cima  do  armário,  ao  lado  da  cama,  pendurado  em  uma 
árvore,  dentro  do  carro  ou  dentro  do  bolso,  este  veículo  de  comunicação  passa  a  irradiar  os  mais 
diversos conteúdos a um número cada vez maior e mais variado de pessoas. 
 
Podemos compreender e conceituar o rádio não apenas como um instrumento técnico, mas como um 
espaço de inter‐relações humanas, de contato, de afetividade, de cooperação mútua, de partilha, entre 
outras possibilidades de acesso. Este espaço, não apenas tecnológico, é dotado de potencialidades que 
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através  da  intervenção  humana  orienta  novos  caminhos  para  aqueles  que  dele  se  apropriam.  Como 
aponta a professora Denise Cogo (2004), os meios de comunicação possuem suas lógicas,  
 
ao mesmo tempo em que também esses atores e movimentos se apropriam e 
reelaboram  tais  lógicas,  transformando  a  esfera  das  mídias  em  um  espaço 
simbólico de conflitos, disputas e negociações” (COGO, 2004, p. 43).   
 
Desta  mútua  relação  entre  rádio  e  sociedade  emergem  novas  expectativas  e  fazeres  entre  ambos. 
Direcionando  nossa  reflexão  especificamente  para  o  rádio  de  formato  comunitário,  iremos  descobrir 
outras  dimensões  que  realçam  ainda  mais  a  complexidade  e  a  inesgotável  eficácia  de  tal  meio  de 
comunicação. Nas palavras de Haussen,  
 
[. . .] a característica principal do veículo continua sendo a da proximidade com 
a  comunidade  local.  Se  a  televisão  aberta  tomou  para  si  o  papel  que  a  Rádio 
Nacional desempenhava, se a globalização e a tecnologia trazem cada vez mais 
as  informações  mundiais,  cabe  justamente  ao  rádio,  devido  às  suas 
características  inerentes,  promover  as  informações  locais  [.  .  .]  (HAUSSEN, 
2004, p. 61, grifo do nosso). 
 
Amplamente,  podemos  afirmar  que  esta  junção  entre  os  termos  “comunicação”  e  o  “popular”,  diz 
respeito às ações comunicacionais ligadas à luta do povo, ao protagonismo que emerge dessa parcela 
historicamente desfavorecida no que tange as condições materiais e humanas de vida. De acordo com 
Cicília  Peruzzo  (1998)  é  necessário  levar  em  consideração  que  por  comunicação  popular  se  podem 
compreender processos variados, o que lhe confere características singulares. Desde os pequenos meios 
de comunicação popular dirigida até os de comunicação grupal e os de comunicação massiva, as formas 
de  gestão  e  execução  não  são  uniformes.  Como  exemplo  dessa  diversidade,  citamos  os  meios  de 
comunicação  denominados  populares  que  ocasionalmente,  ou  quase  nunca,  oferecem  espaço  para  a 
“voz  do  povo”.  Por  outro  lado,  alguns  meios  de  comunicação  comerciais,  mesmo  que  raramente, 
desenvolvem trabalhos sociais como também abrem seus microfones para uma diversidade de vozes.   
 
Uma  definição  compartilhada  por  autores  como  Gouveia  (2002)  e  Gomes  (1988),  é  a  de  que  as 
tecnologias de comunicação vão possibilitando espaço para a vontade popular falar e fazer uma difusão 
em  grande  escala  de  suas  ideias,  de  sua  cultura  e  de  uma  leitura  de  mundo  sem  a  benevolência 
oportunista  das  mídias  tradicionais.  Para  esses  autores,  a  comunicação  popular  emerge  quando  os 
sujeitos,  sendo  na  maioria  das  vezes  impulsionados  pelas  condições  adversas  e  marginais  de  vida, 
buscam romper com os espaços hegemônicos de comunicação. 
 
[. . .] O alternativo estaria no processo de criação conjunta, diálogo, construção 
de  uma  realidade  distinta  na  qual  a  pessoa  seja  sujeito  pleno.  O  que  torna  a 
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comunicação  popular  é  sua  inserção  num  contexto  alternativo  (...) 


[caracterizado] por sua tendência a romper a ordem do capital, integrar aquilo 
que o fragmenta [. . .] (GOMES, 1988, nº 228, p.9).   
 
Também para Denise Cogo (1998),  
 
[. . .] na maior parte dos países latino‐americanos (...) a comunicação popular 
emerge  no  interior  dos  movimentos  e  organizações  sociais  em  meio  a  uma 
conjuntura  de  profunda  insatisfação  por  parte  do  povo  e  de  profundas 
restrições às liberdades de expressão [. . .] (COGO, 1998, p.39).   
 
Nesta  mesma  perspectiva,  Peruzzo  (1998)  entende  que  a  comunicação  popular  é  resultado  de  um 
processo,  realizando‐se  na  própria  dinâmica  dos  movimentos  populares  de  acordo  com  suas 
necessidades. Para esta autora, a comunicação popular se apresenta como uma  
 
[. . .] forma de corresponder às necessidades de expressão e organização desse 
movimento de negação, e, ao mesmo tempo, de construção de uma sociedade 
nova. Está articulada a um processo de conscientização‐organização‐ação mais 
amplo de setores de classes subalternas [. . .] (PERUZZO, 1998, p. 125). 
 
A preocupação em criar canais próprios de expressão foi aos poucos ganhando centralidade na agenda 
dos  movimentos  populares.  Peruzzo  (1998a)  destaca  que  as  primeiras  experiências  de  comunicação 
popular valeram‐se de instrumentos de comunicação mais elementares, artesanais, de pequeno porte e 
mais  baratos.  A  comunicação  realizada  por  pequenos  grupos,  de  maneira  artesanal,  aos  poucos  foi 
ganhando  novas  amplitudes,  principalmente  após  a  incorporação  de  meios  massivos  como  a 
radiodifusão. A partir deste momento, o conceito de comunicação popular também começa a se confluir 
com  o  de  comunicação  comunitária.  Ou  seja,  desta  conjuntura  começaram  a  surgir  experiências 
comunicacionais  mais  diversas  como  as  Rádios  Comunitárias.  Tais  emissoras  dão  início  a  uma 
programação  plural,  mais  atenta  às  necessidades  locais  e  proativas,  visando  ser  um  espaço  de 
protagonismo cultural, e não apenas combativa como a dos “tempos de chumbo”.   
 
Para Peruzzo (2006), o desenvolvimento da radiodifusão comunitária no Brasil tem seu marco a partir de 
experiências realizadas na década de 1970, época em que o poder político e econômico monopolizava 
todas  as  emissoras  até  então  em  funcionamento.  Para  esta  autora,  a  proliferação  atual  de  emissoras 
comunitárias “é o resultado de um processo de mobilização social por regulamentação da radiodifusão 
de  baixa  potência  (PERUZZO,  1998b,  p.92,  tradução  nossa)”.  Para  ela,  esta  é  uma  das  principais 
características que fundamentam a dinâmica do “fazer rádio comunitário” na atualidade. 
 
Sob uma perspectiva mais aberta, Lopes Vigil (1995) defende que 
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[.  .  .]  tão  comunitárias  podem  ser  as  rádios  privadas  quanto  as  públicas,  as 
religiosas,  as  laicas,  as  universitárias,  as  municipais,  as  sindicais,  as  de 
propriedade  cooperativa,  de  organizações  populares,  de  ONG’s,  ou  até 
mesmo,  se  três  meninos  se  juntarem  para  fazer  seu  próprio  transmissor 
(LOPES VIGIL, 1995, p.55, tradução nossa) 
 
Para  Lopes  Vigil,  “o  importante  é  a  liberdade  e  o  pluralismo  de  ideias”  (LOPES  VIGIL,  1995,  p.52, 
tradução nossa). Segundo ele, o conceito de radiodifusão comunitária ganha um status mais flexível e 
dinâmico, pois  
 
[.  .  .]  toda  voz,  independentemente  do  canal  por  onde  se  transmite,  pode 
enriquecer  a  opinião  pública  e  favorecer  as  relações  sociais  (…)  Tem  uma 
quantidade  impressionante  de  programas  comunitários  sintonizadas  nas 
programações  das  emissoras  comerciais  [.  .  .]  (LOPES  VIGIL,  1995,  p.52, 
tradução nossa).   
 
Por outro lado, esta abertura dada ao conceito suscita‐nos certas questões: Enfim, quando se pode dizer 
que  uma  rádio  é  ou  não  comunitária?  Para  Lopes  Vigil  “basta  olhar  os  objetivos  dessa  rádio.  O  que 
buscam? A que fins se dedicam. O caráter social dos meios de comunicação é o elemento determinante 
no  tema  que  nos  ocupa”  (LOPES  VIGIL,  1995,  p.54,  tradução  nossa).  Para  identificar  com  mais 
propriedade os limites do que caracteriza a comunicação comunitária, Lopes Vigil faz uma ponderação 
sobre  as  rádios  comerciais,  cujos  fins  estariam  orientados  para  o  lucro  financeiro  e  não  para  o 
“desenvolvimento das comunidades” (LOPES VIGIL, 1995, p.54). 
 
Quando uma rádio promove a participação dos cidadãos e os mesmos definem 
seus interesses; quando responde aos gostos da maioria e faz do bom humor e 
a  esperança  sua  primeira  proposta;  quando  informa  verazmente;  quando 
ajuda  a  resolver  os  mil  e  um  problemas  da  vida  cotidiana;  quando  em  seus 
programas debatem todas as ideias e respeitam todas as opiniões; quando se 
estimula  a  diversidade  cultural  e  não  a  homogeneização  mercantil;  quando  a 
mulher  é  protagonista  da  comunicação  e  não  uma  simples  voz  decorativa  ou 
um anúncio publicitário; quando não se tolera nenhuma ditadura, nem se quer 
a  imposição  musical;  quando  a  palavra  de  todos  é  pronunciada  sem 
discriminação  e  sem  censuras;  essa  é  uma  rádio  comunitária  [.  .  .]  (IDEM, 
tradução nossa).   
 
Compartilhando com Lopes Vigil, Peruzzo (2007) alega que a rádio comunitária que faz jus a este nome é 
facilmente  reconhecida  pelo  trabalho  que  desenvolve.  Ou  seja,  transmite  uma  programação  de 
interesse social vinculada à realidade local, não tem fins lucrativos, contribui para ampliar a cidadania, 
democratizar a informação, melhorar a educação informal e o nível cultural dos receptores sobre temas 
diretamente  relacionados  às  suas  vidas.  Ainda  destaca  que  uma  emissora  radiofônica  comunitária 
possibilita  uma  participação  ativa  e  autônoma  das  pessoas  residentes  na  localidade,  bem  como  de 
representantes de movimentos sociais e de outras formas de organização coletiva na programação, nos 
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processos de criação, no planejamento e na gestão da emissora. Estas ações, enfatiza a autora, balizam‐
se por princípios de comunicação libertadora os quais têm como norte a ampliação da cidadania. 
 
É oportuno salientar, por outro lado,  
 
[.  .  .]  não  ser  necessário  que  uma  única  experiência  comporte  ao  mesmo 
tempo  todas  as  dimensões  apontadas,  pois  fazer  comunicação  comunitária 
implica  um  processo  que  tende  ao  aperfeiçoamento  progressivo, 
principalmente, quando assumido coletivamente [. . .] (PERUZZO, 2007, p.70). 
 
Nesta  mesma  linha,  Alfonso  Gumucio‐Dragon  (1998)  ressalta  que  a  presença  de  uma  emissora 
comunitária, mesmo que não totalmente participativa, tem um efeito imediato na população. Para ele, 
[. . .] pequenas emissoras geralmente começam a transmitir música na maior parte do dia, tendo assim 
um  impacto  na  identidade  cultural  e  no  orgulho  da  comunidade.  O  próximo  passo,  geralmente 
associado  à  programação  musical,  é  transmitir  anúncios  e  dedicatórias,  que  contribuem  para  o 
fortalecimento das relações sociais locais. Quando a estação cresce em experiência e qualidade, começa 
a  produção  local  de  programas  sobre  saúde  ou  educação.  Isso  contribui  para  a  divulgação  de 
informações sobre questões importantes que afetam a comunidade [. . .]. [1]   
 
2. Comunicadores populares: sujeitos da sua história, cidadãos da cidade 
 
Desde as primeiras rádios comunitárias montadas por jovens de periferia que entendiam algumas coisas 
de  eletrônica  até  o  expressivo  movimento  dos  dias  de  hoje,  a  comunicação  comunitária  tem  sido  um 
campo fortemente marcado pela educação prática, pelo saber fazer [2], pelo processo de aprendizagem 
baseado  na  observação,  imitação  e  experimentação.  Ao  lado  desse  processo  educativo,  há  uma 
diversidade de iniciativas de formação de comunicadores comunitários através de oficinas promovidas 
por movimentos sociais, escolas, universidades, sindicatos; produção de cartilhas, panfletos e materiais 
de orientação e até mesmo iniciativas mais institucionalizadas, como os investimentos do Ministério da 
Cultura no fomento de Pontos de Cultura voltados para a comunicação comunitária. 
 
Entretanto, mesmo com um cenário mais favorável nos últimos anos, no seio de um movimento social 
organizado  [3];  reconhecidos  por  diversos  setores,  inclusive  da  academia  e  dos  governos  como  um 
importante espaço de exercício da cidadania e participação democrática; com acesso mais facilitado a 
fontes de recursos do que há poucos anos atrás [4]; muitas rádios comunitárias têm vida curta e poucos 
são os comunicadores que trilham uma longa trajetória nesses espaços. O que acontece? 
 
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Se o cenário é mais positivo do que há uma ou duas décadas, não se pode dizer que seja mais pacífico. A 
grande  maioria  das  rádios  comunitárias  enfrenta  diversas  dificuldades  para  conseguir  os  processos  de 
outorgas  junto  ao  Ministério  das  Telecomunicações.  Além  disso,  há  outras  dificuldades  como  a 
manutenção  do  funcionamento  das  emissoras;  ora  pelas  condições  financeiras;  ora  pela  excessiva 
fiscalização  dos  órgãos  governamentais.  Além  desses  obstáculos,  o  Grupo  de  Trabalho  Interministerial 
[5] (GTI) instituído, em 2005 pelo Ministério das Comunicações, identificou outras situações, tais como a 
necessidade  da  revisão  da  Lei  9.612/98  e  a  criação  de  instâncias  locais  de  avaliação  das  emissoras. 
Soma‐se a essas observações as limitações técnicas e a falta de capacitação dos comunicadores e temos 
um  conjunto  significativo  de  elementos  que  fazem  com  que  tantas  iniciativas  radiofônicas  sejam  tão 
efêmeras.  
 
Entretanto, suspeitamos que há mais do que isso. Apropriar‐se dos meios de comunicação é apenas um 
passo em direção à prática comunicativa. Há que se manter os veículos em funcionamento e alimentar o 
processo  infocomunicacional  [6].  Compreender  e  utilizar  este  processo  de  forma  consistente  e 
sistemática  pode  contribuir  para  o  fortalecimento  das  experiências  de  comunicação  comunitária, 
constituindo‐se, por esta via, como um campo para o qual as iniciativas de formação de comunicadores 
precisa se voltar. 
 
Como afirma Armando Malheiro da Silva, nessa perspectiva, comunicação e informação são duas faces 
de  um  único  processo,  que  vai  do  movimento  interior  de  dar  forma,  para  o  exterior;  aquilo  que  é 
comunicado  a  um  potencial  receptor.  A  informação,  aqui,  não  é  limitada  à  informação  jornalística  ou 
documental, mas a “um conjunto de representações mentais e emocionais que são passíveis de serem 
comunicadas ou transmitidas” (SILVA, 2006, p. 103). Nesse sentido, não pode haver comunicação sem 
informação,  exterior  sem  interior,  partes  de  um  fenômeno  que  Malheiro  (2006)  caracteriza  como 
infocomunicacional,  “expressão  e  partilha  por  vários  códigos  de  ideias,  acontecimentos  e  emoções 
vividas  pelo  ser  humano  em  sociedade”  (SILVA,  2006,  p.  28).  Compreendido  dessa  forma,  torna‐se 
imprescindível  analisar‐se  o  fenômeno  infocomunicacional;  pensado,  sistematizado  e  oferecido  como 
conhecimento  importante  para  os  comunicadores  comunitários.  Ele  é  chave  importante  para  que  os 
comunicadores percebam de que forma sua sintonia com a comunidade pode se transformar em fluxo 
de infocomunicação para seus veículos. 
 
No momento em que os comunicadores se apropriam dos meios de comunicação e os colocam a serviço 
de  suas  comunidades,  inicia‐se  um  processo  de  exercício  da  cidadania  e  de  (re)descoberta  de  suas 
identidades como sujeitos com determinadas práticas culturais. Essa é a face interna do fenômeno, que 
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

nem sempre vai para o exterior, o que pode ser uma das limitações que influenciam na curta duração da 
atuação de muitos comunicadores comunitários e mesmo de muitas emissoras de rádio. 
 
3. Rádio Quilombo: a diferença que faz diferença 
 
Relatar sobre o processo histórico da rádio comunitária Quilombo FM 88.3, situada no bairro Restinga, 
em Porto Alegre, é, antes de tudo, contar brevemente a formação do bairro. Restinga, distante a cerca 
de 25 km do centro da capital gaúcha, surgiu durante o governo autoritário, nos anos 1960, fruto de um 
programa de urbanização denominado “Remover para Promover”. Removiam‐se as pessoas do centro 
da  cidade  para  promover  o  desenvolvimento  regional.  Para  esse  “desenvolvimento”,  muitas  famílias 
foram  colocadas  em  áreas  rurais  sem  infra‐estruturas  e  desassistidas  pelo  poder  público.  De  lá  pra  cá 
muitas  coisas  mudaram,  mas  os  processos  de  exclusão,  isolamento  e  negação  de  direitos  ainda 
continuam. É o que se percebe numa das reivindicações dos moradores “queremos que o poder público 
coloque  endereço  nas  ruas  do  bairro.  Só  assim,  o  carteiro  pode  chegar  em  nossa  casa”.  Essa  falta  de 
referência expõe as pessoas ao preconceito social especialmente no momento em que saem em busca 
de emprego.  
 
A  Rádio  comunitária  Quilombo  FM  está  inserida  nesse  contexto  de  desestruturas,  ausências  e 
desigualdades sociais. Ela surgiu em 2007, mas suas bases foram iniciadas, dez anos antes, período em 
que  alguns  músicos  do  bairro  sentiram  a  necessidade  de  divulgar  o  seu  trabalho.  Para  atender  tal 
objetivo eles investiram na instalação da rádio comunitária Restinga FM. A rádio permaneceu em pleno 
funcionamento até 2004, quando os agentes federais apreenderam todos os equipamentos e lacraram a 
emissora.  Mesmo  assim  alguns  comunicadores  não  se  deram  por  vencidos,  pois  “quando  fechou  lá, 
depois  de  alguns  meses  começamos  a  fazer  transmissão  experimental”.  Essa  experiência  radiofônica 
prolongou‐se  
 
[. . .] por dois anos e ai quando a gente resolveu que ia fazer a Rádio Quilombo, 
a gente ficou um ano antes fazendo as transmissões mensais e também com a 
Rádio Poste na praça, essa era semanal, quando não chovia, e ai a gente ficou 
mais um ano com a Rádio Poste. (Rafael Costa, 2009). 
 
Durante o funcionamento da Rádio Poste, os comunicadores sentiram a necessidade de criar uma rádio 
comunitária,  para  isso  buscaram  apoio  da  comunidade  através  de  oficinas  nas  escolas,  plenárias  com 
grupos  organizados,  entre  outros.  Durante  essas  atividades  foram  discutidas,  dentre  outras  questões, 
uma carta de princípios e a escolha do nome Rádio Quilombo. 
 
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

A Rádio Quilombo FM, que está no ar, sempre aos sábados, desde 2007 [7], é um espaço de resistência, 
de difusão de ideias e de projetos sociais comprometidos com a transformação das condições de vida 
dos  moradores  do  bairro  Restinga.  Essas  características  são  percebidas  nas  temáticas  abordadas  nos 
programas  radiofônicos  que  giram  em  torno  da:  educação,  trabalho  e  juventude.  Para  Daniela, 
apresentadora do programa Conversa de Maria,  
 
[. . .] a ideia de ter a Rádio Quilombo surgiu da vontade de se trabalhar com os 
jovens,  os  negros  que  são  os  mais  excluídos.  A  gente  quer  esse  público  são 
esses  os  sujeitos  que  a  gente  quer  trazer  pra  cá.  E  é  pra  esses  sujeitos  que  a 
gente pensa em fazer uma formação. (Daniela, 2009). 
 
O  trabalho  formativo  da  emissora  é  realizado  com  crianças  e  adolescentes  do  bairro  que  cumprem 
medidas  socioeducativas.  São  realizadas  oficinas  e  atividades  educativas  nas  escolas  do  bairro,  nos 
centros comunitários, nos centros de assistência social, buscando envolver os jovens com a produção de 
conteúdos sonoros e audiovisuais. Como salienta Daniela, “eles fazem entrevistas, gravam e fotografam 
atividades pelas ruas e nas escolas da comunidade”.  
 
Ainda de acordo com Daniela “a ideia é registrar tudo e os jovens já têm essa consciência”. Entretanto, 
esses conteúdos ainda carecem de maiores cuidados e são poucos utilizados na programação da rádio. 
Não há sistematização das oficinas, de seu processo pedagógico e dos resultados, a informação gerada 
raramente é sistematizada, documentada e guardada, como se percebe no relato a seguir:  
 
O que a gente tem disso é um diário de campo, a gente faz as discussões aqui, 
aí a gente começa a escrever o que sai de cada coisa. Está sendo muito bom, 
com  certeza,  porque  é  um  espaço  para  discutir  o  papel  da  rádio,  o 
protagonismo  juvenil,  aí  a  gente  pega  realmente  os  adolescentes  que  estão 
cheios  das  idéias,  mas  isso  não  tem  também  nada  escrito,  as  conversas  são 
muito  boas.  Os  guris  são  muito  bons  educadores,  mas  a  gente  ainda  não 
escreveu  nada  talvez  daqui  um  tempo  a  gente  possa  ter  um  material  mais 
consistente. (Daniela, 2009). 
 
A  Rádio  Quilombo,  visando  melhores  oportunidades  aos  jovens  da  comunidade,  busca  desenvolver 
projetos  em  parceria  com  outras  instituições.  Atualmente,  através  do  convênio  com  o  Ministério  da 
Cultura,  desenvolve  o  projeto  Ponto  de  Cultura.  Com  este    projeto  foi  possível  adquirir  alguns 
equipamentos – computadores, câmara digital, filmadora – para qualificar as ações desenvolvidas com 
os  jovens.  Na  percepção  dos  comunicadores,  “eles  aprendem  muito  rápido.  São  atentos  e  ficam  mais 
habituados com os equipamentos do que a gente”. É o processo comunicativo revelando possibilidades, 
democratizando a comunicação e permitindo que a mensagem seja produzida pelos próprios sujeitos.  
 
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

Assim,  cria‐se  de  fato  um  novo  modo  de  comunicar.  Isto  é,  a  produção  de  mensagens  passa  a  ser 
compartilhada,  acessível  e  inteligível.  Essa  abertura  ao  protagonismo  da  juventude  possibilitou  colher 
informações  importantes,  por  exemplo,  os  próprios  jovens  reivindicaram  acessibilidade  da  linguagem. 
De acordo com eles, os comunicadores “falavam muito complicado, teria que falar mais fácil, de modo 
que todos entendessem”. 
 
Vale dizer também que inúmeras pessoas circulam pelo espaço onde se estabelece a Rádio Quilombo. 
Isso  devido  o  funcionamento  das  atividades  formativas,  pelos  convites  feitos  a  pessoas  e  aos  grupos 
organizados  da  comunidade  que  desejam  assumir  um  programa  radiofônico  na  emissora.  Porém, 
continua  sendo  mínimo  o  engajamento  das  pessoas  com  as  atividades  da  emissora.  A  juventude,  por 
exemplo, “circulam muito, mas são apenas cinco que estão engajados. Outros circulam. Esses cinco são 
constantes”, ressaltaram os comunicadores. 
 
Considerações finais 
Rádio Quilombo FM: irradiando possibilidades 
 
Um  ponto  comum  entre  pesquisadores  do  universo  da  radiodifusão  comunitária  é  o  de  que  essas 
experiências de comunicação emergem a partir de alguma inquietação. Sejam inquietações advindas da 
efervescência política, religiosa, cultural. Antes disso, podem ser inquietações de um único sujeito, que 
por  sua  vontade  busca  despertar  a  atenção  de  outras  pessoas  para  a  sua  causa.  Porém,  juntas, 
enxergam neste dispositivo tecnológico horizontes para a efetivação do que antes se limitava ao mundo 
das ideias.  
 
Nesta mesma direção, é consenso de que, em se falando de meios comunitários de comunicação, tais 
inquietações não se concretizam de maneira orquestrada, bem definida ou planejada. No caso da Rádio 
Quilombo,  identificam‐se  processos  variados  e  complexos  que  geram  outras  possibilidades  até  então 
não presumidas. No entanto, muitos resultados vinculados a esses processos difusos, articulam‐se sob 
algumas  lógicas  de  fundo  mais  amplas  como:  a  vontade  de  informar  a  comunidade  através  do  seu 
conteúdo; ser ambiente de acolhida e de formação aos sujeitos da comunidade pelas possibilidades de 
tal oferta tecnológica.  
 
Como espaço de possibilidades, a Rádio Quilombo FM também se orienta pelo desejo de romper com as 
correntes  que  impedem  o  despertar  do  novo;  das  políticas  públicas  até  então  distantes  do  bairro 
Restinga.  Nessa  direção,  apresenta‐se  como  meio  capaz  de  proporcionar  avanços  frente  a  condição 
marginalizante imposta a esses sujeitos ao longo da história por políticas verticais e hegemônicas.  
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

 
Para  além  de  promover  a  circulação  de  informações  relevantes  e  condizentes  com  as  necessidades 
locais, a Rádio Quilombo apresenta‐se como espaço de formulação dessas informações. Os integrantes 
da Rádio Quilombo buscam interferir na opinião pública tendo como roteiro informações elaboradas a 
partir  das  demandas  da  própria  comunidade  como  também  àquelas  advindas  de  outros  veículos  de 
comunicação.  Nessa  direção,  o  seu  estúdio,  improvisado  em  uma  cozinha,  evidencia‐se  como  um 
fascinante laboratório para os jovens iniciantes e um alto‐falante para os mais vividos que, cansados das 
promessas, ousam denunciar. 
 
Ser um ponto de encontro e também uma ponte de contato entre realidades distantes ou separadas são 
outras  fortes  característica  da  Rádio  Quilombo.  Como  ponto  de  encontro,  destacamos  a  dimensão 
identitária.  Ou  seja,  o  espaço  radiofônico  oferta  aos  sujeitos  “sem  endereço”  oportunidades  para  o 
auto‐conhecimento e para a auto‐descoberta.  Pelo simples contato com essa tecnologia, desenvolvem‐
se potencialidades até então adormecidas, especialmente aquelas consideradas irrelevantes por outros 
espaços sociais, como a escola, família e o mundo do trabalho.  
 
Como ponte de contato, a Rádio Quilombo permite a construção de elos e de comprometimentos entre 
sujeitos que vivenciam as mesmas angústias e esperanças. Articular forças para transpor o que oprime 
as condições básicas de vida é certamente outra possibilidade que irradia pela antena da 88.3 FM.       
Da mesma forma, inserida na agenda de lutas da ABRAÇO, a Rádio Quilombo também se oferece como 
mais uma fonte de força desse movimento mediante o poder regulador do estado. Nesta perspectiva, 
por estar interligada ao movimento mais amplo de luta pela democratização da comunicação, a Rádio 
Quilombo possibilita ter acesso a um direito, garantido pela constituição: a liberdade de expressão.  
 
 
Notas 
[1] Alfonso Gumucio Dragon em: Making Waves; Stories of participatory comunication, publicado pela 
Rockfeller Foudation em 1998. 
[2] Paulo Freire discutiu amplamente esse tema enfatizando que o saber fazer traduz a leitura de mundo 
dos  educandos  e  deve  ser  tomado  como  ponto  de  partida  na  relação  educador‐educandos.  Ver  mais 
sobre esse assunto no texto Alfabetização como elemento de formação da cidadania (1992). 
[3]  O  surgimento  da  Associação  Brasileira  de  Radiodifusão  Comunitária  (Abraço),  em  1993,  é  uma 
demonstração  dos  anseios  populares  por  serviço  de  radiodifusão  comunitária  no  país,  tendo  como 
principal  reivindicação  a  formulação  de  uma  Lei  específica  para  atender  as  Radcom,  bem  como  a 
regulamentação do serviço, para evitar as repressões às atividades das emissoras. 
Revista Elementa. Comunicação e Cultura. Sorocaba, v.1, n.2, jul/dez 2009. 

[4]  Ainda  que  tímido,  não  se  pode  deixar  citar  os  Pontos  de  Cultura  como  fonte  de  fomento  à 
comunicação comunitária. 
[5]  O  GTI  foi  aprovado  pelo  decreto  presidencial  de  26/11/2004,  sendo  que  a  composição  dos  seus 
integrantes ocorreu por meio da Portaria no 76 de 10/02/2005. 
[6] A junção do termo aqui não é proposital, mas sim estratégica, uma vez que a nossa compreensão é 
de  que  os  conceitos  se  complementam.  Stumpf  e  Weber  (2002)  tratam  do  tema  na  perspectiva  das 
convergências, das inter‐relações. Idéia compartilhada com Martino (2008), segundo ele, “a informação 
é  uma  comunicação  que  pode  ser  ativada  a  qualquer  momento”  (p.17),  ou  seja,  a  informação  é  um 
processo comunicativo em potencial. 
[7]  A  emissora  pleiteia  a  outorga  junto  ao  Ministério  da  Comunicação,  pois  atende  as  disposições 
técnicas, isto é, possui transmissor de 25 watts, antena com 20 metros de altura, gestão coletiva, sem 
fins lucrativos e está sobre a tutela do Movimento Resistência Popular. 
 
 
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Cristóvão Domingos de Almeida 
Doutorando no Programa de Pós‐Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul e bolsista CAPES. 
cristovaoalmeida@gmail.com 
 
Gisele Souza Neuls 
Mestranda no Programa de Pós‐Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul e Coordenadora de Comunicação do Instituto Centro de Vida. 
gisele.neuls@icv.org.br 
 
Joel Felipe Guindani 
Mestrando no Programa de Pós‐Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos 
(Unisinos) e bolsista CAPES. 
j.educom@gmail.com 

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