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Werner Ludwig Euler, Curso: Ethica e Ciência (GER 0045), 4N1234) (cont.

Turma 06)

6ª aula, 31.03.2021 (aulas asíncronas)

Introdução geral

Immanuel Kant (1724-1804)

Immanuel Kant era Professor da Lógica e Metafísica na Universidade “Albertina” em


Koenigsberg (capital da região Prússia-este), 1770-1804. Tinha de leccionar sobre essas
matérias com base nos manuais prescritos pelo governo. Os autores foram os discípulos do
grande Christian Wolff, i.e. Georg Friedrich Meier (Vernunftlehre [Doutrina da razão], 1752)
e Alexander Gottlieb Baumgarten (Metafísica, 1739).

É essencial distinguir entre duas fases no desenvolvimento de seu pensamento e de sua


produção filosófica: a fase pre-crítica e a fase crítica (a partir de 1781). Essa virada crítica é
marcada pela edição do famoso livro “Crítica da Razão pura” (1781). Esse livro contém o
programa de uma nova fundamentação da Metafísica e das ciências e também as linhas
fundamentais de uma nova lógica além de Aristóteles.

Kant criou um sistema das “Críticas” representado por três escritos principais:

1) Crítica da Razão pura (primeira edição 1781 citada como A + números; segunda
edição 1787 citada com B + números). O objetivo principal é a investigação sobre as
condições da possibilidade e dos limites necessários do conhecimento humano.
2) Crítica da Razão prática (1788) cujo tema é a investigação sobre as condições da
possibilidade e dos limites da prática da razão. Representa a fundamentação da
filosofia moral-prática.
3) Crítica da faculdade do juízo (1790). É uma investigação sobre as condições da
possibilidade da reflexão sobre a natureza empírica, sobre a beleza, a arte e os juizos
de gosto.

A 1ª Crítica é o fundamento da Metafísica da natureza, a 2ª o fundamento da Metafísica dos


Costumes (Ética e direito); a 3ª Crítica tem a função de reunir as duas Críticas e de mediar
entre natureza e liberdade para fundamentar a unidade do sistema da filosofia.

Introdução particular

O tópico de nossa aula e as demais até a data do dia 7 de Maio será “A Mefafísica dos
Costumes”, uma obra clássica da Filosofia Moderna do autor Immanuel Kant, publicada na
primeira edição no ano 1797, originalmente em dois volumes separados, mais tarde reunidos.
Até hoje é um livro discutido vivamente e pesquisado intensamente. Não obstante, trata-se de
uma matéria bastante complicada. Por essa razão já a leitura abrange um trabalho enorme. É
recomendável repetir os estudos individuais muitas vezes e registrar os aspectos essenciais.

Existem várias traduções portuguesas. Para nosso trabalho a edição por Clélia Martins, e
outros (2013) é o mais apropriado como texto básico, embora contenha alguns defeitos.
Em nossa primeira aula sobre esse assunto vamos trabalhar apenas sobre o “Prefácio” e a
“Introdução” (secções I e II). É necessário indicar, que essa obra contém 3 Introduções, uma
na obra inteira (Doutrina do Direito e Doutrina da Virtude), outras nas duas partes separadas.

Para evitar uma confusão em relação aos números da paginação, precisamos sempre indicar
aos títulos do capítulo respectivo, e do no. do parágrafo. Determinamos os parágrafos por
meio de uma contação dos trechos originais. Apesar dos números da página na versão do pdf
(que eu vou citar sempre) e do livro, encontramos mais uma numeração do texto original de
Kant, dentro do texto.

Já no “Prefácio” encontramos muitos aspectos que requerem de nossa atenção e de uma


explicação; vou em seguida esclarecer no modo curto algumas dificuldades da compreensão
prevista. Ao mesmo tempo queria motivar vocês para formular suas próprias questões. Mas eu
queria começar antecipadamente:

§ 1: Kant fala de um “sistema” que abrange a Metafísica dos Costumes. Isso se relaciona ao
programa da “Crítica” ou da Revisão total da Metafísica tradicional (especialmente da
filosofia de Christian Wolff e de seus discípulos). O primeiro passo da realização desse
programa foi a publicação da “Crítica da Razão pura” (CRp) – uma obra que tinha o objetivo
determinar os limites do conhecimento humano que ao mesmo tempo forneceria as condições
e os princípios da determinação das coisas naturais como meras aparências (fenómenos). A
CRp representa o fundamento (e o método) dos princípios metafísicos da ciência da natureza.
Analogicamente, Kant elaborou uma segunda Crítica de título “Crítica da Razãp prática”
(CRpr), publicada no ano 1788. Essa última tinha a função fundamentar as duas partes da
filosofia prática de Kant: A doutrina do direito e a doutrina da virtude. Podemos comprimir
essa divisão pelo esquema a seguir:

1. CRp 2. CRpr

Metafísica de natureza Metafísica dos Costumes

Doutrina do direito Doutrina da virtude

§ 2:

O tema neste trecho é a Doutrina do Direito. É essencial constatar, em primeiro lugar, de que
a partir da filosofia crítica de Kant encontramos – o que diz respeito ao título “Ética” – uma
divisão e separação das doutrinas e disciplinas em “direito” e “moral” que na filosofia anterior
(esp. na antiguidade, como em Aristóteles) ainda não existiu. Uma das consequências foi a
integração da questão da justiça na filosofia do direito. Quando Aristóteles tratava sobre a
justiça, ele implicitamente já entrou na área do direito, mas ainda não marcou essa linha do
isolamento do direito na Ética. Contudo, para Kant e os demais pensadores apos dele, essa
distinção foi elementar e essencial, pois foi um mandamento da “razão”. Então a filosofia do
direito é construida pelos princípios racionais.
O segundo parágrafo do Prefácio já indica um problema básico dessa construção sistemática
que emerge da necessidade de aplicar os princípios do direito (o sistema metafísico do
direito), que residem em regras e leis puramente a priori e universais, aos diversos casos na
prática real (que são singulares e empíricos, o que se chama o direito positivo, até hoje).
Segundo os critérios da filosofia kantiana, esse sistema empírico e casual nunca pode se
qualificar como um sistema racional (porque um sistema deve preencher os requisitos da
completitude e da necessidade). Essa impossibilidade de atingir concordância entre um
sistema racional e a variedade emírica dos casos significa que os dados podem ser
considerados apenas como “exemplos” que se aproximam de sistema. Vamos ver que o
memso problema sistemático aparecerá também em relação à teoria da virtude.

Com base nesta ilustração Kant distingue entre “direito” e “os direitos” (que são os casos
jurídicos, enquanto “o direito” é o termo para denominar o conjunto dos princípios do direito
a priori que justificam o que é justo ou injusto (o que é um ato moralmente correto ou crime)).

§§ 3-4

Esses trechos contém uma discussão sobre uma crítica por Christian Garve (1742-1798). Ele
foi um filósofo popular na época kantiana. Kant defende sua posição contra os ataques de
Garve e ressalta que o sistema da “Crítica” das faculdades de razão nunca poder-se-ia tornar
popular.

§ 6: O que significa a unidade de razão? e a unidade dum sistema da moralidade?

“Introdução na Metafísica dos Costumes”

I. Da relação das faculdades da mente humana com as leis morais (pág. 20-22)

§ 1:

O que é a “faculdade de apetição”?

§ 2:

Como o sentimento de prazer ou desprazer é relacionado à faculdade de apetição?

§ 3:

O que diz o autor sobre prazer e desprazer?

§ 4:

Há uma diferença entre alguns tipos de prazer (prático, contemplativo, intelectual). Descreva
essa diferença (em linhas curtas).

§ 6 (“A faculdade de apetição segundo conceitos ...”)

- Como o conceito da “vontade”, que é uma chave para a compreensão da filosofia prática de
Kant, é deduzido? Refleta a diferença com o arbítrio.

- Em que medida a vontade é a razão prática mesma?


§ 7 (“Na medida em que ...”)

- O que é o arbítrio livre em diferença com “arbitrium brutum”?

- Como o arbítrio humano é definido?

- O que é a liberdade do arbítrio? (o conceito negativo desta faculdade)

- O que é o conceito positivo?

- Como funciona (age) a faculdade da razão pura na prática?

- O que é a lei suprema do arbítrio (a forma da concordância da máxima com uma lei objetiva
e universal)?

- O que é um imperativo?

Anotação: Talvéz facilida considerar uma passagem da CRp (B 562 / A 534) onde Kant já
determina e diferença o conceito do arbítrio:

“A liberdade em sentido prático é a independência do arbítrio em relação à necessitação pelos


impulsos da sensibilidade. Pois um arbítrio é sensivel na medida em que é patologicamente
afetado (por meio de causas motrizes da sensibilidade); ele se denomina animal (arbitrium
brutum) quando pode ser necessitado patologicamente. Embora seja um arbitrium sensitivum,
o arbitrio humano não é brutum, mas sim liberum, já que a sensibilidade não lhe torna
necessária uma ação, e nele reside uma faculdade de determinar-se por si mesmo,
independentemente na necessitação por impulsos sensíveis.”

§ 8 (“Essas leis da liberdade ...”)

- Quais são as espécies das leis da liberdade, e como Kant define essas espécies?

Leis da liberdade

Leis morais

Leis jurídicas Leis éticas

Legalidade Moralidade

Observação: esse esquema documenta que é necessário distinguir entre “Moralidade”, “Ética”
e “Eticidade” (“Sittlichkeit”). A tradução portuguesa não respeita consequentemente essas
diferenças. “Eticidade” é quase sempre traduzida por “Moral” ou “Moralidade”. Mas
“Eticidade” representa o todo da Doutrina dos costumes.

II. Da ideia e necessidade de uma metafísica dos costumes (pág. 22-25)

§ 2 (“Com as leis morais ...”)

- Qual a condição para a eticidade (moral, “Sittlichkeit”)


§ 3 (“Se a doutrina dos costumes ...”)

- Por que a Doutrina dos Costumes não pode ser uma doutrina da felicidade? (Considere que
uma doutrina da felicidade base-ia-se, segundo Kant, à experiência e a natureza empírica,
durante a Doutrina dos Costumes precisa dos princípios a priori como base).

§ 4 (“Com os ensinamentos da moralidade ...”)

- Como Kant caracteriza as doutrinas da eticidade (dos costumes)?

§ 5 (“”Se um sistema de conhecimentos a priori ...”)

- Qual o papel de uma Metafísica dos Costumes?

- Como a necessidade e a pressuposição da Metafísica dos Costumes para uma filosofia


prática é justificada? Kant afirma que seja ela mesma um dever. O que significa essa
afirmação?

- Por que os estudos empíricos da natureza particular do ser humano são indispensáveis?

§ 6 (“A contraparte ...”)

- O que é o significado e o papel de uma “antropologia moral”?

Filosofia prática

Metafísica dos Costumes Antropologia moral

Tarefas: Leia e estude os textos indicados (Prefácio, Introdução I e II); elabore um resumo
com base na reflexão sobre as perguntas da listagem.

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