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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO

REV. DENOEL NICODEMOS ELLER

DAVID SILVA DE FREITAS

EXEGESE DO SALMO 122

BELO HORIZONTE
2020
DAVID SILVA DE FREITAS

EXEGESE DO SALMO 122

Exegese apresentada ao curso de Exegese do


Antigo Testamento II do Seminário Teológico
Presbiteriano Reverendo Denoel Nicodemos
Eller como requisito parcial para obtenção de
aprovação no semestre.
Professor: João Gustavo da Silva

BELO HORIZONTE
2020
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................4
ESTUDO CONTEXTUAL...............................................................................................5
1 Contexto histórico da passagem.................................................................................5
1.1. Autor.......................................................................................................................5
1.2. Leitor......................................................................................................................8
1.3. Data.........................................................................................................................8
1.4. Circunstâncias históricas........................................................................................9
1.5. Objetivo................................................................................................................11
2 Contexto literário da passagem................................................................................12
2.1. Estrutura do livro..................................................................................................12
2.2. Contexto remoto...................................................................................................14
2.3. Contexto próximo.................................................................................................16
3 Contexto canônico....................................................................................................18
3.1. Antigo testamento.................................................................................................18
3.2. Novo Testamento..................................................................................................19
INTRODUÇÃO

Neste trabalho nos propusemos a analisar exegeticamente o texto de Isaías 9. 1-7


que nas nossas Bíblias é intitulado “O nascimento e o reino do Príncipe da Paz”.
O nosso objetivo nesse trabalho é estudar e analisar, à luz das Escrituras e do
texto específico, o contexto de trevas que Israel vivia e a esperança profética de
transformação em luz com o advento do Filho descendente de Davi. Para isso nos
valemos da metodologia histórica gramatical, por meio da qual analisaremos o contexto
histórico da passagem, do livro e, além disso, analisaremos ainda o texto em seu
original. Para esse último nos valemos da Bíblia Hebraica Stuttgartensia (BHS).
Usamos o seu aparato como parâmetro, buscando também auxílios em comentaristas
bíblicos para complementar e enriquecer o trabalho.
O trabalho é composto de três estudos, sendo o Contextual, o Textual e o
Canônico Teológico. No primeiro estudaremos o contexto histórico, cultural e bíblico
da passagem, buscando uma aproximação maior com o autor e com os destinatários. No
segundo estudaremos o texto no idioma original, analisaremos as variantes textuais e,
por fim, a nossa interpretação exegética da passagem. Na terceira e última parte vemos
em que o texto contribui para teologia e para a vida prática de nossa igreja. Para
citações usamos a metodologia padrão conforme as exigências da Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT).
Portanto, passamos para o estudo da passagem, buscando desta forma um estudo
mais profundo da palavra do Senhor.

TEXTO BÍBLICO

Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos
primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos
últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galileia dos gentios.
O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da
morte, resplandeceu-lhes a luz. Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste;
alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando
repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre eles, a vara que
lhes feria os ombros e o cetro do seu opressor, como no dia dos midianitas; porque
toda bota com que anda o guerreiro no tumulto da batalha e toda veste revolvida em
sangue serão queimadas, servirão de pasto ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um
filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o
seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o
estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo
do Senhor dos Exércitos fará isto (Isaías 9:1-7)1.

ESTUDO CONTEXTUAL

O objetivo da presente seção é analisar o contexto do livro de Isaías com a


finalidade de melhor interpretá-lo. A pesquisa gira em torno do autor, dos seus
destinatários, a data da composição do livro, as circunstâncias históricas que envolvem
o tempo da escrita, qual foi o objetivo de Isaías na composição do livro e como foi
organizado. Além do mais, é necessário considerar os elementos culturais, religiosos e
literário, e por fim, uma análise do contexto canônico a fim de situar o livro no cânon e
sua contribuição para a revelação progressiva.

1 Contexto histórico da passagem

1.1. Autor

A autoria dos livros da bíblia, antigo e novo testamento, é, às vezes, debatida.


Isto ocorre quando não há no livro uma indicação clara e proposital do nome do autor,
ou quando o livro dá margem para uma mudança de discurso, de narrativa ou de estilo
de escrita. Embora haja discussões sobre autoria do livro em análise, assumimos, à luz
de Isaías 1.1, que o livro de Isaías foi escrito pelo profeta de mesmo nome.
Conforme Pfeiffer e Harrison, “Isaías, o filho de Amós, era ao que parece um
cidadão de Jerusalém altamente estimado, que desfrutava do acesso à corte real, e era
um conselheiro de confiança do Rei Ezequias.” 2 Por esta afirmação se percebe que

1
A BÍBLIA SAGRADA. Revista e Atualizada no Brasil. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed.
São Paulo, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
2
HARRISON, Everett F.; PFEIFFER, Charlis F. Comentário Bíblio Moody: Volume 3, Isaías a
Malaquias. 3ª ed. São Paulo: Batista Regular, 2001. p. 1
Isaías era membro de uma família influente naquela sociedade patriarcal. J. Ridderbos
completa esta informação da vida pessoal de Isaías dizendo que “a respeito da vida
doméstica de Isaías, sabemos que ele era casado e teve pelo menos dois filhos. [...]
Isaías era morador da cidade; vivia em Jerusalém.” 3 O profeta, então, escreve aos seus
conterrâneos israelitas.
O nome de Isaías traz uma informação interessante à observação inicial do livro.
Isaías significa “O Senhor (Javé) deu a salvação”, diz Ridderbos, que complementa
dizendo que

Talvez os pais de Isaías lhe deram esse nome para expressar a sua
gratidão pela benção experimentada por ocasião do nascimento do seu
filho. Pode-se observar a providência de Deus no fato de eles lhe
terem dado este nome, pois ele se enquadra completa e perfeitamente
com o caráter do trabalho de Isaías: a sua pregação foi governada pelo
tema de que é só o Senhor que salva, enquanto todos os esforços
humanos se demonstram ser vãos.

Portanto, neste entendimento, a mensagem de Isaías é paralela à mensagem de


seu nome, refletindo no pensamento da salvação expressa no seu nome. Ainda sobre o
nome Isaías, Ridderbos alerta para a distinção “filho de Amós” (1.1), afirmando ser para
distinguir este Isaías autor de possíveis outros Isaías que existiam em Israel naquela
ocasião (1 Cr 3.21; 25.3,15). Isaías, filho de Amós, foi chamado pelo Senhor ao seu
trabalho profético no ano da morte do rei Uzias (6.1) e ainda estava ativo durante a
invasão de Senaqueribe (37.5). Pfeiffer e Harrison dizem que o ministério de Isaías se
estendeu “do ano da morte do rei Uzias em 740 a.C (se não antes) até o reinado do
idólatra Rei Manassés, em cuja perseguição ele foi provavelmente martirizado.”4
Historicamente, a posição da Igreja em assumir Isaías como autor do livro de
mesmo nome se derivou das alegações no início do livro (1.1 – versículo que parece
indicar que todo o mais seguinte são visões de Isaías, filho de Amós). Além deste
versículo, outros como 2.1; 7.3; 13.1; 20.2; 37.6,21 e 38.1 atribuem diretamente as falas
e expressões a Isaías. Já nos capítulos 40 a 66 de Isaías não há denominação de Isaías
como a fonte dos escritos. Isto gera margem para questionamentos sobre a autoria destes
capítulos finais do livro.
Citando Johann C. Doederlin, Archer Jr diz que o profeta Isaías não poderias ter

3
RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e comentário. Tradução de Adiel Almeida de Oliveira. São Paulo,
SP: Vida Nova, 1986, p. 9
4
HARRISON, PFEIFFER, 2011. p. 1
escrito os capítulos 40 a 66 porque ele não seria capaz de prever a queda de Jerusalém
(587 a.C) nem o surgimento de Ciro (539 a.C) 5. Neste ínterim, Pfeiffer e Harrison
afirmam que “o autor destes capítulos parecia saber da queda de Jerusalém e também da
restauração da Palestina pelos judeus cativos após a queda da Babilônia em 539 a.C.” 6
Para eles, esta seção do livro deve ter sido escrita por um autor desconhecido, ao qual
chamam de Deutero-Isaías.
John Oswalt aponta duas razões para se questionar a autoria de Isaías 40 a 66. A
primeira é a mudança de estilo entre os capítulos 1 a 39 e os capítulo 40 a 66 que,
segundo ele, são mais líricos e exaltados. A outra razão é a observância de que os
profetas, ao anunciarem o futuro, não dirigem suas palavras ao povo no futuro, como
parece ser o caso nos capítulos 40-55 e 56-66.7
A escrita deste Deutero-Isaías tem sido hipoteticamente marcada para a
Babilônia, participando do Cativeiro Judeu em cerca de 550 a.C. Contudo, ficamos com
Pfeiffer e Harrison que dizem que “isto é impossível de se reconciliar com evidência
internas. Isaías 40-66 mostra pouca familiaridade com a geográfica da Babilônia [...] As
árvores mencionadas são nativas da Palestina, mas desconhecidas na Babilônia (44.14;
41.19). O ponto de vista é palestiniano, pois diz-se que o Senhor enviou uma mensagem
da Babilônia (43.14); Israel foi descrita como a semente de Abraão que o Senhor tomou
dos “confins da terra” (41.9).”8 Portanto, percebe-se que as evidências internas do livro
parecem se chocar com a ideia de um escritor da Babilônia.
Archer Jr. Afirma que “Isso significa que o argumento inteiro em prol de
Deutero ou Trito-Isaías cai por terra, simplesmente com base nas evidências internas do
próprio texto.”9 Por fim, vale ressaltar pequenas referências neotestamentárias que
indicam a autoria de Isaías em todo o livro. Ao relatar uma leitura que Jesus fez dos
profetas, Lucas registra que Jesus leu Isaías, referindo-se aos capítulos finais deste livro
(Lc 4.17). Outros textos como João 12.37-41; Romanos 9.27-29 e 10.20,21 indicam
Isaías como autor dos capítulos finais deste livro profético.

1.2. Leitor

5
ARCHER JR., Gleason L. Panorama do Antigo Testamento. 4ª ed. Tradução de Gordon Chown. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2012, p. 413-416.
6
HARRISON, PFEIFFER. 2001. p. 2
7
OSWALT, John. p. 43 ACABAR
8
HARRISON, PFEIFFER. 2001. p. 2-3
9
ARCHER JR., 2012, p. 430
É notório, pelas evidências internas do livro (inicialmente 1.1,10; 2.1;), que o
público alvo do escrito de Isaías são os habitantes do reino de Judá – Reino do Sul – e
de Jerusalém. O livro mostra também que Isaías proferia oráculos destinados a nações
específicas (13.1; 15.1; 17.1; 19.1; 21.1; 22.1; 23.1). Estes oráculos eram ações de Deus
contra as nações que desempenharam papéis importantes durante o período do
julgamento assírio. Isaías contém também declarações para o povo do Norte (9.8-9) que
estava determinado em garantir futuro com suas próprias forças. Após anunciar o
julgamento contra Israel, Judá e as nações específicas, Isaías leva conforto aos futuros
exilados, mostrando a capacidade de Deus em restaurá-los. Portanto, nos capítulos finais
do livro o povo de Israel era o público alvo do profeta.

1.3. Data

Segundo Champlin, a datação para a escrita de Isaías depende de quantos autores


aceitarmos estar envolvidos na autoria.10 Como supradito neste trabalho, aceitamos
Isaías como único autor. O livro já inicia dizendo que Isaías teve suas visões nos dias
dos seguintes reis de Judá: Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias (1.1) – isto totaliza um
período de cento e treze anos (2Rs 15.2,33; 16.2; 18.2). Champlin continua dizendo que

Se um único autor escreveu o livro inteiro, então é possível que parte


tenha sido escrita tão cedo quanto 750 A .C, embora outras porções só
tenham sido escritas no tempo do reinado de Ezequias, o que seria
nada menos que uma geração mais tarde. Ezequias é mencionado
várias vezes nesse livro, incluindo em 1.1 (o último nome da lista de
reis). Isaías profetizou durante os dias do reinado de Uzias (791 - 740
A.C), sendo possível que uma parte do livro tenha vindo dessa época,
com outras porções acrescentadas no ano 700 A .C, embora Isaías
tenha sido o autor de todas essas porções.

A citação acima traz verdades, mas a datação aproximada dita (750 a.C.) está
alguns anos acima do período do chamado de Isaías, de acordo com comentaristas
(embora apresentem diferenças de alguns anos). Sobre a data deste chamamento, Derek
Kidner afirma que o ano da morte de Uzias foi 740 a.C (à luz de Isaías 6.1 que afirma
que no ano desta morte é que foi chamado). 11 Wirsbe defende a data de 739 a.C. 12 Já
10
CHAMPLIN, R.N. O Antigo Testamento Interpretado: versículo por versículo. Volume 5. São
Paulo: Hagnos, 2001. p.2781
11
KIDNER, Derek. Isaías. In: CARSON, D. A. (Ed.). Comentário Bíblico Vida Nova. Tradução de
Carlos E. S. Lopes; James Reis; Lucília Marques P. da Silva; Márcio L. Redondo; Valdemar Kroker. São
Paulo, SP: Vida Nova, 2009, p. 950.
12
WIRSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento. Vol IV. Tradução de
Susana E. Klassen. Santo André, SP: Geográfica, 2010, p. 17.
Keil e Delitzsh propõem a data de 759 a.C.13
Para Oswalt, a data do ministério e da escrita de Isaías (capítulos 1-39) está entre
os anos 739 – 701 a.C.14 Já para Kidner, a data sera entre 740 – 701 a.C. 15, crendo que o
início do trabalho profético se deu exatamente no ano da morte de Uzias.

1.4. Circunstâncias históricas

A partir da segunda metade do século oitavo a Assíria foi governada por líderes
fracos, que foram incapazes de manter os avanços e as conquistas dos líderes
anteriores.16 Com este declínio aparente, os vizinhos assombrados pela Assíria
desfrutaram de um aparente período de paz, alívio das pressões expansionistas dos
assírios. Dentre estes povos que desfrutavam de alívio, estavam as nações de Judá e
Israel. Oswalt afirma que entre os anos 810 a 750 a.C., “os dois reinos haviam
desfrutados de uma paz e prosperidade que não tinham conhecido desde o tempo de
Salomão.”17 Contudo, a sensação de liberdade e alívio trouxeram a estas nações uma
falsa sensação de agrado de Deus diante de suas atitudes de derrocada.
Alguns profetas menores, como Amós e Oséias foram encarregados de
exortarem os israelitas desta errada noção de agrado a Deus, chamando-os a voltar a
práticas e caminhos divinamente santos. Porém, não tiveram êxito. Os reinos do Norte e
Sul continuavam no caminho da apostasia, sendo-os levado à destruição. 18 O que este
povo fazia era esquecer-se de Deus, renunciando a submissão exclusiva a este para
servir a outros deuses e a agrados humanos. Pfeiffer e Harrison dizem que o Reino do
Norte sofreu um declínio rápido e catastrófico e o Reino do Sul parecia pronta a seguir o
exemplo horrível da apostasia de Israel 19. Os reinos caminhavam para degradação e
severa podridão moral e religiosa.
Neste tempo de degradação dos reinos do Norte e Sul, a Assíria continuava
enfrentando uma crise em sua potência. Oswalt diz que a motivação do livro foi a “crise
assíria, a qual causou a destruição de Israel ao norte e ameaçou a existência de Judá ao

13
KEIL, Karl Frederich; DELITZSH, Franz. Commentary on the Old Testament. Disponível em:
<https://www.studylight.org/commentaries/kdo/isaiah-1.html>. Acesso em 07 de abril de 2021.
14
OSWALT, 2011, p.21
15
KIDNER, 2009, p. 957
16
OSWALT, 2011, p. 21
17
Ibid.
18
OSWALT, 2011, p.22
19
PFEIFFER e HARRISON, 2001, p. 1
sul.”20 Ele completa dizendo que Judá sobreviveu à apostasia de Acaz graças ao
ministério de Isaías, e que a sobrevivência de Jerusalém se deu pela fidelidade de
Ezequias.
O período de fraqueza Assíria chegava ao fim com a ascensão do rei Tiglate-
Pileser III, em 745 a.C, e a expansão do domínio se tornou novamente foco. Israel e
Judá foram alvos desta expansão. Com a pressão assírio sobre Israel, Judá, já sob o
reinado de Acaz (735 a.C.), preparou-se para isto de maneira estranha: posicionando-se
politicamente a favor da Assíria.21 Pfeiffer e Harrison dizem que Judá “buscou a
proteção e o livramento da Assíria pagã, em vez de buscar a Jeová, o Deus de sua
aliança.”22 Oswalt diz que “Judá não deveria ser anti-Assíria, nem pró-Assíria, mas pró-
Deus!”23. Portanto, neste ambiente, Isaías vê as nações renunciando sua confiança em
Deus e se deixando levar pela pompa, pela política e pelo poder humano (conforme
1.21-23; 2.12-17). Isaías, então, condena as condições corruptas da vida em Jerusalém e
Judá, bem como da de Israel (9.7) e anuncia o julgamento divino sobre eles.
Acaz passou a reinar em Judá após a morte do seu pai Jotão (2Rs 16.1-20).
Nesse período, Rezim, rei da Síria, e Peca, rei de Israel, cercaram Jerusalém, mas não
conseguiram derrotar Acaz. Então, Acaz enviou mensageiros a Tiglate-Pileser, rei da
Assíria, pedindo socorro contra Rezim e Peca. Ao procurar pompas, o rei Acaz se alia a
Tiglate-Pilaser III (2Rs 16.7-9) para ir contra Rezim e Peca, incitando a “guerra siro-
efraimita”. Ridderbos afirma que a seção constante de 7.1 a 9.6 do livro de Isaías data
desse período de guerra.24
Acaz morre em 727 a.C. e Ezequias, seu filho o sucedeu no trono (2 Rs 16.20;
18.1). Ezequias temia a Deus e, pela boa disposição desse rei, Isaías coloca-se ao seu
lado, com conselhos proféticos.25 Neste tempo Isaías passa a ser bem ativo em seu
trabalho profético. Ezequias eliminou grande parte da idolatria (2 Rs 18.2-5) e
promoveu conhecimento da lei mosaica (2 Rs 18.1-6; 2 Cr 19.1-36) entre o povo. 26 No
reinado de Ezequias, Salmaneser invadiu Israel e conquistou Samaria. O rei da Assíria
levou os cidadãos como prisioneiros. Enquanto isso, no ano catorze do reinado de

20
OSWALT, 2011, p. 49
21
Ibid., p.23
22
PFEIFFER e HARRISON, 2001, p. 1
23
OSWALT, 2011, p. 23
24
RIDDERBOS, 1986, p. 13
25
RIDDERBOS, 1986, p. 15
26
PFEIFFER e HARRISON, 2001, p. 1
Ezequias, Senaqueribe, rei da Assíria, atacou todas as cidades de Judá e as conquistou.
Ridderbos afirma que

Enquanto os notáveis de Judá negociavam no Egito uma coalisão anti-


assíria, Isaías falava resolutamente contra esta política anti-teocrática.
Por outro lado, quando Senaqueribe estabeleceu o cerco de Jerusalém,
Isaías encorajou Ezequias com as promessas de Deus. 27

Em toda esta atividade profética de Isaías vê-se um contraste entre os poderes


mundiais da Assíria e do Egito e o reino de Deus, prefigurado em Sião.

1.5. Objetivo

O objetivo desta carta parece ser a comunicação das bençãos e do julgamento


das alianças de Deus com Israel. O profeta faz acusações, condenações e críticas
enquanto pronunciava a Israel e Judá as maldições da aliança por desobedecerem às
obrigações inerentes a eles (1.2-31; 13.1–23.18; 56.9–57.13; 65.1-16). O profeta faz
também pronunciamento de bençãos, principalmente na benção da restauração após o
exílio (capítulos 40-66).
Para Ridderbos, o objetivo do livro de Isaías “é aparentemente pintar um quadro
do pecado com tintas ainda mais escuras à luz desta promessa, a fim de basear nela a
sua conclamação para o arrependimento e mostrar qual é o fim de todos os caminhos de
Deus.”28 Segundo o Comentário Bíblico Beacon,

O povo de Israel é precioso para Ele, mais do que as outras nações.


Ele não os esqueceu. Ele se compadece dos seus sofrimentos e
fraquezas e está preocupado com as suas necessidades. Como Pastor,
Ele vai alimentá-los e guiá-los a lugares de abençoada abundância.
Aquele que os carregou desde o nascimento vai cuidar deles mesmo
em idade avançada. Tendo o Eterno como seu Deus eles podem estar
seguros de que terão um tempo de exaltação e bênção futura. 29

Segundo este comentário, o livro de Isaías mostra a Israel que Deus não os havia
esquecido e que eles não deviam esquecer-se deste Deus No livro do profeta são
transmitidos oráculos de Deus à nação de Israel. Entre os capítulos 1 a 39 os oráculos

27
RIDDERBOS, 1986, p. 15
28
Ibid., p. 75
29
PRICE, Ross E.; GRAY, C. Paul; GRIDER, Kenneth. Comentário Bíblico Beacon: Isaías a Daniel.
Tradução de Valdemar Kroker e Haroldo Janzen. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. p. 24
são de juízo, enquanto nos capítulos 40 a 66 os oráculos são de livramento e
restauração.

2 Contexto literário da passagem

2.1. Estrutura do livro

Para o esboço do livro, seguiremos a divisão apresentada no Comentário Bíblico


Beacon30 por julgá-la completa, detalhada e objetiva:

Parte Um: JULGAMENTO, Capítulos 1—33


I. Profecias Introdutórias, 1.1— 6.13
A. A Grande Denúncia, 1.1-31
B. Percepções Proféticas — a Nação e sua Capital, 2.1—4.6
C. O Cântico da Vinha, 5.1-30
D. A Visão Transformadora, 6.1-13
II. O Livro de Emanuel, 7.1— 12.6
A. A Conspiração Siro-Efraimita, 7.1—9.1
B. O Príncipe com o Nome Quádruplo, 9.2-7
C. O Apelo do Eterno, 9.8—10.4
D. A Vara da Ira de Deus, 10.5-34
E. O Renovo do Tronco de Jessé, 11.1-10
F. O Remanescente Restaurado e Jubiloso, 11.11—12.6
III. Oráculos contra Nações Estrangeiras, 13.1—23.18
A. Contra a Babilônia, 13.1—14.27
B. Contra a Filístia, 14.28-32
C. Contra Moabe, 15.1—16.14
D. Contra Damasco e Efraim, 17.1-14
E. Contra a Etiópia, 18.1-7
F. Contra o Egito, 19.1—20.6
G. Contra o “Deserto do Mar”, 21.1-10
H. Contra Dumá (Edom), 21.11-12
30
Ibid. p, 27
I. Contra a Arábia, 21.13-17
J. Aclamação Solene do Vale da Visão, 22.1-25
K. Contra Tiro, 23.1-18
IV. Julgamento Mundial e Redenção de Israel, 24.1— 27.13
A. Desolações na Terra, 24.1-23
B. Os Cânticos dos Redimidos, 25.1-12
C. O Cântico da nossa Cidade de Refúgio, 26.1—27.1
D. A Preocupação Redentora do Senhor pelo seu Povo, 27.2-13
V. Seis Ais de Advertência, 28.1— 33.24
A. Ai aos Políticos, 28.1-29
B. Ai aos Formalistas Orgulhosos, 29.1-14
C. Ai aos Perversos e Insubordinados, 29.15-24
D. Ai aos Partidários pró-Egito, 30.1-33
E. Ai daqueles que Confiam na Carne, 31.1-9
F. Três Homilias para Jerusalém, 32.1-20
G. Ai ao Destruidor Assírio, 33.1-24

Interlúdio: Capítulos 34—39


VI. Retrospectiva e Perspectiva: Indignação e S alvação, 34.1—35.10
A. Quando Deus Traz Julgamento, 34.1-17
B. Promessas para o Povo Santo, 35.1-10
VII. Interlúdio Histórico: Isaías e Ezequias, 36.1— 39.8
A. A Invasão de Senaqueribe, 36.1—37.38
B. A Enfermidade de Ezequias, 38.1—39.8

Parte Dois: CONSOLAÇÃO, Capítulos 40—66


VIII. A Divindade Incomparável, 40.1—48.22
A. O Conforto e a Majestade de Deus, 40.1-31
B. Garantia de Ajuda a Israel, 41.1-29
C. Deus Introduz seu “Servo” Escolhido, 42.1-25
D. “Tu És meu”: Eu Sou o vosso “Santo”, 43.1—44.5
E. “Fora de mim não Há Deus”, 44.6-23
F. Deus Comissiona Ciro e Promete Livramento a Israel, 44.24—45.25
G. O Deus de Israel é Capaz, 46.1-13
H. A Queda da Babilônia, 47.1-15
I. A Convocação ao Novo Êxodo, 48.1-22
IX . O Servo do Eterno, 49.1— 57.21
A. A Garantia do Eterno a Sião, 49.1—50.3
B. O Eterno Defende os seus, 50.4-11
C. A Promessa de Libertação do Eterno, 51.1-23
D. A Redenção da “Cativa Filha de Sião”, 52.1-12
E. “O Servo Sofredor do Senhor”, 52.13—53.12
F. O Amor da Aliança do Senhor por Sião, 54.1-17
G. O Convite para a Misericórdia Oferecida por Deus, 55.1-13
H. A Observância do Sábado e Adoração, 56.1-8
I. A Ruína da Apostasia e Idolatria, 56.9—57.21
X. A Glória Futura, 58.1— 66.24
A. A Verdadeira e a Falsa Piedade, 58.1-14
B. Realização e Redenção, 59.1-21
C. A Descrição da Sião Glorificada, 60.1-22
D. O Arauto e o Programa de Salvação, 61.1-11
E. A Aliança do Eterno, 62.1-12
F. O Drama da Vingança Divina, 63.1-6
G. O Povo de Deus em Oração, 63.7—64.12
H. A Resposta de Deus para as Súplicas do seu Povo, 65.1-25
I. A Retribuição do Senhor e sua Recompensa, 66.1-24

2.2. Contexto remoto

Através de uma análise da organização literária podemos compreender a


perícope (Is 9.1-7). Para isso, levaremos em consideração os parágrafos anteriores e
posteriores à perícope dentro do escrito de Isaías.
De acordo com Champlin, o livro de Isaías contém o mais avanço conceito de
Deus de todo o Antigo Testamento. 31 Ele continua dizendo que Isaías é o mais
messiânico de todos os livros do Antigo Testamento. Porém, embora anunciasse as
maravilhas divinas por meio do Messias, o profeta Isaías confrontava duramente o povo
de Israel. Isaías discutiu sobre as profundezas do pecado de Israel e sobre as alturas da

31
CHAMPLIN, 2001, p. 2785
glória de Deus e Seu reino vindouro. Esta exposição do erro que Isaías faz dá o norte do
grande contexto deste livro.
Champlin divide o contexto do livro em quatro grandes partes. A primeira são
profecias de cumprimento a curto prazo (1.1- 35.10). Dentro desta divisão, Oswalt diz
que os capítulos 1-5 tratam do grande problema: “o Israel orgulhoso, arrogante e
pecaminoso é tudo menos o servo de Deus.”32 Estes capítulos são os oráculos de Isaías,
que mostram que Israel era o meio pelo qual Deus abençoaria as famílias da terra. Ainda
dentro da primeira divisão de Champlin, o capítulo 6, segundo Oswalt, é o tema
resultante do restante do livro; e os capítulos 7-39 expressam a majestade de Deus e a
maldade do povo.33
A segunda parte de Champlin são os capítulos históricos (36.1 – 39.8) –
capítulos semelhantes aos capítulos 7-12. Esta seção examina o pré-requisito básico
para o caso do papel do servo: entregar-se alguém à plena confiança em Deus.34 Já a
terceira parte são as profecias preditivas sobre a Babilônia (40.1 – 45.25) e a quarta
parte são profecias preditivas (46.1 – 66.24)35. Isaías antecipa a invasão e o cativeiro
babilônico e faz profecias sobre ensinamentos morais e espirituais. Oswalt diz que esta
última parte do livro responde a três perguntas e constituem um quebra cabeça. Ele diz:

[...] o que nos motivará a servir a Deus (caps. 40-48)? De que maneira
nos será possível servir, ainda que o queiramos (caps. 49-55)? Quais
são as marcas da vida do servo num mundo imperfeito (caps. 56-66)?
[..] Os capítulos 40-55 dão uma feição totalmente nova às coisas. [..]
Os capítulos 56-66 constituem um quebra-cabeça. [...] Uma coisa é ser
libertado da Babilônia e reconhecer, ainda que vagamente, que Deus
tem na história um meio de isentar do pecado com mais eficácia do
que bois e cabritos. Outra coisa bem diferente é viver na presença das
nações no palco da história. Não obstante, viver e tomar-se um vaso
puro por meio do qual a luz divina pudesse resplandecer requeria que
o livramento se disseminasse. É desse tema que falam os capítulos 56-
66.36

Isaías revela o nome e a natureza do Deus que convida os seus a serem seus
servos. Esse Deus é santo, justo, e seu amor é sólido. Ele é glorioso, temível e habita
com o manso e contrito. Ele chama sua nação a renunciar de sua independência e a
confiar nele, dando o Messias para a capacitar a ser como ele é e quer.

32
OSWALT, 2011, p. 79
33
Ibid., p. 80
34
Ibid.
35
CHAMPLIN, 2011, p. 2785
36
OSWALT, 2011. p, 84-86
O capítulo 9 faz parte de uma chamada à confiança no Senhor. Este capítulo
mostra, dentro do grande contexto de Isaías, o caminho de trevas da nação e o caminho
de Luz dado pelo Senhor. Ademais, mostra o filho que o Senhor daria para conduzir seu
povo à sua presença luminosa.

2.3. Contexto próximo

Os capítulos sétimo e oitavo são uma resposta do profeta á coalizão sírio-


israelita. Isaías revelou o envolvimento de Deus nos acontecimentos em torno desta
coalizão contra a Assíria, advertindo quanto ao severo julgamento contra Israel e Judá
por meio da agressão assíria. Esses dois capítulos destacam os sinais dos filhos de Isaías
– Isaías teve dois filhos que serviram como sinais do julgamento que viria sobre Israel e
Judá em conexão com a resposta assíria à coalizão sírio-israelita. Em 8.5-10 o profeta
explicou por que Judá sofreria um julgamento por meio da agressão síria: “Em vista de
este povo ter desprezado as águas de Silóe [...], eis que o Senhor fará vir sobre eles as
águas do Eufrates, fortes e impetuosas, isto é, o rei da Assíria” (8.6-7).
Após este pronunciamento duro, Isaías rememora ao povo a esperança que
deviam ter, dizendo “ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai” (8.13); “resguarda o
testemunho, sela a lei no coração dos meus discípulos” (8.16); “esperarei no SENHOR,
que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei” (8.17). Tendo deixado
claro que os assírios os destruiriam (início do cap. 8) e que o SENHOR poderia ser
esperança para o povo (segunda parte do cap.8), o profeta conclama os habitantes do
Reino do Norte a consultarem a Deus (8.19-22) e a colocarem a esperança na família de
Davi (9.1-7).
A perícope em análise inicia dizendo que “para a terra que estava aflita não
continuará a obscuridade” (9.1). Ou seja, naquela situação e naquele contexto de futura
destruição, a provisão futura de Deus para a libertação do seu povo seria o grande filho
de Davi que viria. Após o anúncio deste Filho vindouro, o profeta conclama o povo a
abandonar a sua orgulhosa autoconfiança (9.8 – 10.4), confrontando aqueles que
observam o julgamento de Deus, mas acreditavam que poderiam restaurar o reino por
sua própria força, sem a intervenção do filho de Davi que acabara de ser anunciado.

2.4 Gênero literário


O livro de Isaías é um livro profético. Champlin diz que “Isaías é o mais longo e,
em vários sentidos, o mais rico dos livros proféticos do Antigo Testamento.”37 Ele
completa dizendo que “'O livro de Isaías é um dos mais amados livros da Bíblia; talvez
seja o mais conhecido dentre os livros proféticos. Contém diversas passagens bastante
conhecidas pelos estudiosos da Bíblia. Tem um grande mérito literário e contém bela
terminologia descritiva.”38 O livro deste profeta contém muitos fatos acerca do contexto
histórico de Israel em cerca do ano 700 a.C. Além de destacar os defeitos do povo,
Isaías observa que Deus sempre tem um remanescente através do qual opera.
O Comentário Bíblico Beacon, colocando o livro de Isaías como parte dos
chamados “Profetas Maiores” afirma que

Os escritos que levam seu nome estão entre os mais profundos de toda
a literatura, e sua profecia é incomparável no que diz respeito à
excelência e distinção. Isaías, portanto, não encontra paralelos e se
sobressai em relação aos outros profetas pela força da sua
personalidade, sabedoria e habilidade de estadista, pelo poder da sua
oratória e pela clareza de suas ideias. 39

Como dito, Isaías se sobressai em relação a outras profecias, uma vez que seu
estilo e linguagem são bastante expressivos, como afirma Coffman: “Em todo o livro, o
estilo e a linguagem de Isaías são muito expressivos. Com exceção de alguns parágrafos
(principalmente nos capítulos 36 - 39), o livro é escrito na forma de verso da poesia
hebraica.”40 O livro de Isaías é um porta-voz profético de Deus para a exortação do
Israel do Senhor.

3 Contexto canônico

O livro de Isaías é o livro profético mais citado pelo Novo Testamento e, por ser
um livro profética, tem bastante referências às atualidades da época, ligando-se muito ao
Antigo Testamento. Embora o livro todo tenha bastante contexto canônico, nesta

37
CHAMPLIN, 2001, p. 2781
38
Ibid., p. 2785
39
PRICE, GRAY, GRIDER, 2012, p. 21
40
COFFMAN, James Burton. Commentaries on the Bible. Disponível em: <
https://www.studylight.org/commentaries/bcc/isaiah.html>. Acesso em 09 abril. 20. Tradução nossa.
presente análise cabe-nos analisar a passagem de estudo desta exegese. Portanto,
observaremos agora como Isaías 9.1-7 se relaciona com outros textos canônicos.

3.1. Antigo testamento

No nosso texto temos algumas ligações a outros escritos veterotestamentários. O


vers. 2 faz alusão aos “primeiros tempos” como tempo onde Zebulom e Naftali
sofreram, termo que está diretamente ligado a 2 Reis 15.29. Neste texto é visto que estas
regiões da Galileia foram as primeiras a sofrerem a onda assíria - cerca de 730 a.C. (2
Cr 16.4).
O vers. 3 está em paralelo com Juízes 5.30 que afirma também sobre uma
repartição de despojos. Ainda em Juízes, agora em 7.22, relata sobre o Senhor ter
tornado os midianitas perseguidos pelos homens de Israel, fato relembrado por Isaías no
versículo 4. Já em Juízes 13.18, um Anjo do Senhor diz que “o seu nome é
maravilhoso”. Relatando os nomes que o Filho que nasceria herdaria, Isaías diz que um
deles é “Maravilhoso Conselheiro” (vers. 6), relembrando a anterior predição do Anjo.
Após dizer sobre o nascimento do menino dado pelo Senhor e seus nomes, Isaías
diz que a vinda deste menino seria “para que se aumente o seu governo, e venha paz
sem fim sobre o trono de Davi” (vers.7). Esta explicação está em paralelo com Daniel
2.35 e 44, que dizem sobre Deus suscitar “um reino que não será jamais destruído” nem
“passará a outro povo”, mas “esmiuçará e consumirá todos estes reinos”, e “subsistirá
para sempre”. O reino do menino nascido não ficaria estagnado, mas continuaria a
crescer. Ainda no versículo 7, Isaías faz referência ao trono de Davi, mostrando que o
libertador da nação seria um descendente de Davi, ligando sua profecia às predições
veterotestamentárias sobre a dinastia davídica.

3.2. Novo Testamento

Os versículos em análise apontam alguns paralelos com o Novo Testamento,


como: “últimos (tempos)” (vers. 1); “o povo que andava em trevas viu grande luz”
(vers. 2); a predição sobre o nascimento do menino e seus respectivos nomes (vers. 6); e
“venha paz sem fim sobre o trono de Davi” (vers. 7). Vejamos cada um desses
paralelos.
Após dizer que nos primeiros tempos Deus agiu com julgamento, o versículo 1
aponta para ação salvífica de Deus, dizendo que “nos últimos (tempos), tornará
glorioso o caminho do mar.” O Novo Testamento observa que Jesus deu início ao
estágio final do cumprimento desta profecia com respeito ao Reino do Norte quando
ministrou nas regiões ao norte de Israel (Mt 4.13-15). O Novo Testamento aponta,
também, que Jesus cumprirá plenamente essa profecia quando voltar em glória. Nas
palavras de Champlin, “o ministério de Jesus reverteu o cativeiro assírio.” 41 Jesus andou
pela mesma rota de julgamento (vers. 1), mas com um ministério restaurador.
Ao mostrar a transformação de julgamento para salvação (primeiros e últimos
tempos), Isaías anuncia uma oportunidade de transformação. No vers. 2 o profeta
anuncia a transformação das trevas em luz. O povo não produziria a luz nem seria
responsável por ela. Mateus 4.16 e Lucas 1.79 dizem, com as mesmas palavras de
Isaías, sobre este raiar de luz. Paulo, em 2 Coríntios 4.6, diz sobre um resplandecer de
luz sobre as trevas e em Efésios 5.8 diz sobre a transformação do indivíduo: antes,
trevas, agora, luz.
O versículo 6 deste texto de Isaías talvez seja o versículo profético que mais faz
alusão e predição ao Messias do Novo Testamento. Como cumprimento desse versículo
profético, temos as histórias do nascimento nos Evangelhos (Mateus 1 e Lucas 1).
Ligado a este versículo, está o tema teológico da encarnação do Deus Filho, tão presente
nos escritos neotestamentários (Mt 4.2; Jo 4.6; 2 Co 9.15; Fp 2.6; 2 Pe 1.4; 1 Jo 4.2,
5.10; 2 Jo 7). Alguns dos nomes do Filho, narrados no versículo 6 são também
lembrados no Novo Testamento: Deus Forte (Tt 2.13); Pai da Eternidade (Mt 6.25-26;
11.27-30; 23. 9-12; Lc 23.34; Rm 8.15-17); Príncipe da Paz (Lc 2.14; Ef 2.14).
Por fim, o versículo 7, em continuidade ao último nome cidade no versículo 6
(Príncipe da Paz), fala sobre uma “paz sem fim sobre o trono de Davi”, relembrando
que o libertador seria um descendente de Davi. Mateus 1.1-6 mostra a descendência do
Filho passando por Davi. Lucas 1.32-33 diz que “Deus, o Senhor, lhe dará [para o
Filho] o trono de Davi, seu pai.” E João 7.42 relembra que o Cristo viria da
descendência de Davi. Portanto, o Príncipe da Paz estabeleceria seu reinando trazendo
paz ao trono de sua ascendência.

41
CHAMPLIN, 2001, p. 2818

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