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ENMIOSOliltE A MOlilUZAÇÃO... 82
A participação política era sentida como um dos bens
mais desejáveis que existem. E isso desde muito cedo.
Assim, vimos no fün da Odisséia o medo dos pretendentes
de que Telêmaco fizesse votar seu exílio pela Assembléia
de ftaca, por causa de suas -violências: "Quem quer, longe
do país, ir ao estrangeiro?"... (XVI, 264). Há aqui duas coisas: o
apego ao seu país sentido de maneira afetiva, mas também,
sem dúvida, a vergonha de ser excluído. Em outro contexto,
a participação aparece de novo como fundamental à
salvação pública, quando Sólon exige que todos tomem
partido, quando ocorre um conflito na cidade:
Vendo que o Estado estava com
freqalncia dividido e que, por
indiferença, alguns cidadãos se
contentavam em obseroar os
aconlectmenlos, S6lon estabeleceu
contra eles uma let especial:
-- "Aquele que numa guerra ctvt/
(st1sia1ooses) nãopegar em armas
com um dos partidos (hetéron)
será atingido por attmia e não
terá mais nenhum direito político.
(Constituição de Atenas, Vil/, 5)
A busca da participação polftica não é um dado gratuito,
oa
de vaidade pes.,oal. Para os camponeses Atenas soloniana,
é sua liberdade, mas sobretudo suas terras que estão em
jogo; e, muito provavelmente, a situação era a mesma
para os pretendentes na Odtsséia. Mas.é verdade que os
homens nem sempre agem de forma "razoável"
e, uma
83
Capitulo Ili
de a
--~ --
~;IJJIL 1e:31111,;...a.Qê.-_
-
e i:é
vez seu sistema de valores co~tituÍdo ·a partir de critérios
objetivos, eles podem matar por pouca coisa. Freqüente-
mente, então, a violência e o ardor do engajamento
parecem desmesurados em teiação às vantagens que eles
podem obter. ~ a impressão que podemos ter, com um
certo recuo, de alguns conflitos na história, assim como o
nacionalismo europeu e a Primeira Guerra Mundial, por
exemplo. Com efeito, o "parecem desmesurados" da minha
frase an~rior é essencial; o historiador deve, por necessi-
dade profissional, ter sempre do~ critérios: examinar as
situações a partir d o s ~.de yalores dos atores históricos,
para compreender suas motivações; examinar também a
partir de seus próprios critérios, para não se tomar prisio-
neiro das rep~~tações mentais dos atores e poder, assim, ·\
avaliar a distânciâ que se instaura muitas vezes entre os 1
valores e as realidades históricas.
Tomemos eritão como ponto de partida a idéia de que
a participação política era, para os gregos, essencial e até
critério de humanidade. Chegamos à idéia inversa de que
a exclusão era uma grande priv~çào. Não é o nosso
objetivo falar aqui dos excluídos da polisem geral (mulheres,
jovens, metecos, escravos), mas daqueles que, tendo o
direito de participar, são repentinamente dele privados.
Havia várias modalidades de privação de direitos, mais ou
menos totais, mais ou menos duráveis, segundo os casos.
A que vai nos ocupar agora não era nem total nem muito
durável na prática, mas, em função de suas características
próprias, ela exerceu um grande fascínio sobre os antigos,
ENWOSOIIRl 1t.M081UZAÇÃO.. 84
e constitui para ná, uma fonte de reflexão muito rica. Trara-se
do ostracismo ateniense.
Origens e Objetivos
A lei do ostracismo é uma lei democrática. Aristóteles
diz a seu respeito:
Em seguida a essas mudanças, a
constituição se tornou bem mais
/avor4uel ao povo do que o era
a de Sólon. Aamteceu, com efeiJo,
que a tirania tinha fetto cair em
desuso as leis de S6lon e que
Clístenes estabeleceu novas,
para ganhar ofavor da multidão.
Entre outras foi então estabele-
cida a Jet' sobre·o ostracismo.
Inicialmente, no quinto ano
depois desta refonna, sob o aram-
tado de Hermocreonte, fez-se
para o Conselho dos Quinhentos
a fórmula do juramento que
ainda hoje é uttltzada. Em se-
guida, elegeram-se os estrátegos
por tribo, um de cada tribo
(sendo Q polemarca o chefe de
todo o exército). Quando, onze
anos mais tarde, os atenienses
venceram a batalha de Maratona,
sob o arcontado de Fenipo, eles
deixaram passar dois anos
após a vitória e, com o povo
ganhando mais audácia, então
pela primeira vez aplicou-se a
lei sobre o ostracismo qu h
s,'do estabelecid ' e avta
a Por desconfi-
ança em relação aos fJod
'á erosos
J que Ptsístrato era chefe d~
partido popular
e estrátego
quando se tornou tirano . O
primeiro que foi atingido pelo
ostracismo entre as seus familiares
foi Hiparco, filho de Carmo, do ·
démos de Colito; foi, aliás, sobre-
tudo, por causa dele que Clístenes
J
tinha estabelecido a lei, tendo a
intenção de expulsá-lo de Atenas.
Com efeito, os atenienses, usando
nisso a humanidade habitua/ à
democracia, deixavam morar
no país os amigos dos tiranos
que não se tinham envolvido nos
conflitos; e seu guia e chefe era
Htparco. Imediatamente no ano
seguinte, sob o arcontado de
Te/estno, tirou-se por sorteio e
por tribo os nove arcontes entre
os quinhentos candidatos desig-
nados pelos eleitores dos démos,
pela primeira vez depois da tira-
nia (os anteriores foram todos
eleitos), efot ostracizado Mégacles,
ftlho de Htpócrates, do démos de
Alopece. Então, por três anos
foram ostracizados os amigos
dos tiranos, em vista dos quats a
87 Cap(tulo Ili
de Lisfmaco, foi atingido pelo
ostracismo. No quarto ano, os
atenienses chamaram de volta
todos os que tinham sido ostra-
cizados, sob o arcontado de
Hlpsíqutdes, em razão da expe-
dição de Xerxes; e, quanto ao
futuro, eles ordenaram aos ostra-
. ttzados que permanecessem
além dos cabos Geresto e Cileu,
sob pena de serem definitiva-
mente privados de seus dtrettos
políticos. (Aristóteles, Constituição
de Atenas, XXIO
Capiii,/o 1/1
(~s não pro~ável, na ~inha opinião) que o ostracismo
de ffiparco nao tenha sido o primeiro, mas o pnme1ro • .
conhecido por Aristóteles e pela tradição posterior.
Ainda que aceitemos o ostracismo de Hiparco como o
primeiro, e sempre fiéis a Aristóteles, nada indica que se
trata da primeira tentativa de ostracismo, t6teprôton echré- \
santo pode muito bem querer dizer a primeira vez que o \
ostracismo foi aplicado (ou seja, com sucesso), mas não
necessariamente a primeira votação (ostracoforia).
De duas uma: ou houve outras tentativas anteriores
(mas nós não temos o menor traço), talvez até contra
Hiparco, mas sem sucesso até o momento em que a
oposição ao grupo de Hiparco foi forte o suficiente para
ter sucesso no ostracismo; ou então a simples existência
da lei teve o efeito desejado por seu criador, ou seja,
manter a di§tânc~ os potenciais tiranos. 9
Com efeito, a tirania tinha estado ao longo de todo o
século VI no centro da política ateniense. Já bem antes das
longas tiranias de Pisístrato e de seus filhos, a ameaça era
bem presente, para que Sólon se gabe de ter evitado à sua
pátria a "violência tirânica" (Constituição de Atenas, XII, 3).
Depois da expulsão dos Pisistrátidas (511/510), a ameaça
continuava certamente muito forte já que, expulsos por
tropas estrangeiras, os tiranos dispunham ainda de um apoio
interno considerável. Vemos isso claramente no relato de
Aristóteles que, falando da primeira aplicação da lei
(segundo ele em 488/487), diz da mesma que "tinha sido
estabelecida por desconfiança em relação aos poderosos
· 91 Capítulo m
Sum tlu,,ulu Ja 1,wil,,w1 o 1,r,1x,,
orsulboso pelu vllôrlu a/11111111
93 Cupftulo Ili
Entretanto, é indiscutível
"
no que se re1ere ao esp' . que . ele não p artia
• do zero e
Into igualitá . ,
impõe-se a analogia co no no ostracismo
Heródoto e Aristóteles pm a P_aráboJa das espigas e~
. ouco unporra qu d
recebe o conselho de em á e quem
altura méd' conar
, as espigas que u trapassam a
1
ia como metáfora para a elimin ~ d
rosos. No contexto tirânico trata d açao os pode-
. , -se e manter uma certa
ig_u~ldade no rebaixamento diante do tirano. É extraordi-
nano e muito significativo da evolução histórica que o
espírito igualitário seja agora utilizado pelo démos soberano
como anna de defesa antitirânica. o que há de comum
aos dois casos, ostracismo e "conselho" implícito na pará-
bola das espigas, é o caráter preventivo.
Com efeito, o ostracismo não é castigo para um crime
cometido, mas, antes, um mecanismo destina~o a evitar
que alguém esteja em condições de atentar contra a sobe-
rania do démos. Em relação ao ostracismo de Temístcx:les,
Plutarco explica:
Pois o ostracismo não era uma
punição, mas um meio de acal-
mar, de altvtar este Ciúme que
gosta de rebaixar homens multo
grandes e que exala sua maldade
ao atingi-los com esta indigni-
dade. (f emístocles, 22, 5)
"O ostracismo não era a punição
de um crime. (Aristides, 7, 3)"
95 Capt1ulo11/
da mesma forma que a elite
dos cidadãos (tois arlstols) .
(Nl'clas, I I,ó)
Tudo é muito claro: para um qualquer, é até ttmen,
mas para os aristoi, é koláseos.
O medo da tirania, cujos apoios deviam ainda ser
consideráveis no momento do estabelecimento da lei, explica
o caráter preventivo antes que punitivo do ostracismo. É
interessante notar que a tirania modela outro aspecto
desta lei: ela atinge um indivíduo, e não todo um génos,
como era freqüente nas lutas políticas do arcaísmo. Como
a própria figura do tirano, que exasperava as tensões polí-
ticas ao concentrar todo o poder sobre uma cabeça, da
mesma maneira, a lei sobre o ostracismo concentrava um
pouco arbitrariamente num indivíduo, o tirano potencial
presumido, toda a carga, e fazia cair sobre ele todo o peso
político da cidade, e exorcizava o perigo ao expulsá-lo.
Temos aqui uma transposição política muito interessante
do mecanismo (mas não da carga semântica, que é
diferente) do pbarmakós.
Processo Institucional
O exame dos procedimentoS que levavam ao ostracismo
esclarece vários problemas da mobilização política na
Atenas clássica. As questões de.erudição são numerosas e
difíceis, mas não impedem a análise. 11
Sabemos que todos os anos colocava-se a questão ao
a
démos quanto saber se convinha, naquele ano, excluir
um cidadão por ostracismo (Filocoro, frag.79 b; Constituição
de Atenas, XLIII, 5). Segundo Filocoro, é antes da oitava
97 Capftulo lll
que a afluência poderia s .
ermáx1ma•
dia em que um movun·ent . b , em todo caso1 num
o ma itual
desse a impressão de mente forte na ágora
que toda a cid d
Curioso paralelo ª e estava lá.
entre este vot
excluía um indivídu o pe1o qual a cidade
ocomoperig
essas festas com t; . . oso para a democracia e
Orte Participação p la -
alienante! Essa ~ opu r e de mecanismo
. õe s estas onde o unanimismo é buscado nas
Proc1ss s nas represe ~ ·
' ntaçoes teatrais, onde a alienação é
provocada pelo consumo exagerado de bebida (pithoigia
choes), se
. mostram pr6ximas• do ostracismo,
. esta espécie'
de unanimismo vingador e profiJático em que o suposto
futuro tirano é expulso como os Khéresno último dia das
Antestérias, numa espécie de exorcismo coletivo.
Uma vez a maioria dos votos na assembléia tendo
decidido Relo sµn, a ostracoforia era organizada. Vários
aspectos distinguem a ostracoforia de uma ekk/esía normal
(kyrla o~ não) e contribuem para atribuir-lhe um caráter
especial, excepcional. A reunião era presidida pelos nove
arcantes e pela Boulê completa, e não, como de hábito,
..
pelo ep'istate da Boulê e pelos pritanos. O ostracismo se
desenrola na ágora e não na Pnyx, o que, além do caráter
solene (pois a ágora era o antigo local de reunião), multi-
plicava a capacidade de público.14 Isso era necessário pois
a afluência era, nessas ocasiões, excepcional. Trata-se
de uma reunião que poderíamos chamar, seguindo a
terminologia de Hesichius, uma kataklesía, "reunião de
população vinda do campo para a cidade quando se devia
resoiver uma questão mais importante que as habituais" .15•
99 Capítulo Ili
Os magistrados ~ m inicial-
mente a totalidade dos cacos
depositados. Se o número de
ooÍantes .,-a Inferior a seis mt~
não bavta ostracismo. Depois,
contava-se separadamente os
cacos com cada ncme, e o homem
que tinha contra si o mator
número de votos era procla-
mado banido por dez anos,
mas sem perda dos seus bens.
(Aristides, 7, 6)
Q_
Nesta hipótese, a contagem na entrada permitiria sabe_r
CI'.)
::::, se o quórum havia sido atingido, já que devemos considerar
.......... improvável u~ primeira contagem de seis mil votos apenas
:::t: o
para saber se quórum ti~ sido atingido, seguida da
<..) contagem dos nomes escritos nos cacos.
--.J Segundo Pollux (8, 20), quem obtinha seis mil votos
LL
L.L com seu nome é que devia partir. A mesma formulação é
ENSAIO SOUIAMOIIIIUAÇÃO... J OQ
Quórum ou maioria, seis mil votos é muita gente. A
afluência às reuniões e a participação dos cidadãos devem
ser sempre sin.iaclas no contexto histórico. Alguns historia-
dores avaliam em três mil o núm~ro médio de participantes
numa assembléi;a nonnal. Mas podia haver fortes oscilaçôes,
segundo a importância dos 3.S.5Ufltos. 18 Tomemos um dado
numérico de Tucídides (8, 72). Diz-se que, num lapso de
tempo muito grande, nenhuma reunião em Atenas atingiu
cinco mil participantes. Alguns autores tomaram este dado
para afumar que seis mil votos era muita coisa, e que só
podia se tratar de quórum, e não de maioria. Mas cinco mil
não são seis mil. Se é para levru: q dado a sério, nunca teria -
havido ostracismo. Ora, o dado numérico está em Tucídides
'
mas na boca .de um polemist.a que quer convencer os
atenienses em Sarnas que o golpe oligárquico era legítimo.
Isso mostra, de qualquer fonna, que seis mil era um número,
não"impossível ou raro, mas elevado em relação à média.
Qualquer debate em tomo de dados numéricos antigos
é espinhoso, 19 mas sempre podemos retirar deles _algumas
informações. Carcopino~ estimou o corpo eleitoral em doze
· mil cidadãos para a Atenas de Clístenes, número que a ·
quantidade suposta de combatentes em Maratona parece
confirmar. O número de seis mil não seria, portanto, gratuito,
mas representaria a metade dos cidadãos. Portanto, a maioria
simples da Assembléia da sexta pritania devia ser reforçada
pela maioria dos votos totais possíveis na ostracoforia'7 Se
considerannos que a afluência de todo o corpo cívico a
uma re.união é uma quime~ que nunca se realizou, e que,
Capitulo Ili
101
diversas razões, um certo número de 'd d' -
.ões r; c1 a aos nao
~ às reuru "ª
que voto não era obrigató . )
a.ssemblé. de fi no , mesmo
numa ~ orte mobilização, seis mil votos deviam
representar do15 terços dos votantes ou . b
· , · d ma1S, so retudo
no 111ac10 o século V. Talvez seja a razão do ostracismo ter
levado tanto tempo para ser aplicado pela P . .
nme1ra vez.
O ~ento mais podeI050, já avançado por Carcopino,
mas negligenciado pela maior parte dos autores subse-
qüentes, em favor da hipótese da maioria e não do quórum,
é o seguinte: vamos supor que a Assembléia tenha votado
a realização da ostracoforia e que, segundo os defensores
desta hipótese, seis mil votos no total sejam necessários.
Se houver uma grande dispersão dos votos, um número
muito pequeno de votos pode exilar um homem, enquanto
que no século IV, seis mil votos no. mesmo homem. são
necessários, por exemplo, para a concessão do direito de
cidadania. TÕmerrios agora o outro extremo do leque, e
consideremos o caso, mais provável no início do ostracismo,
em que os votos se concentram muito numa só pessoa,
de cal maneira que cinco mil e oitocentos votos tenham
um nome, apenas duzentos outro nome, duzentos votos
ju tamente dos partidários daquele chefe que teve os
in o mil e oitocentos contra ele.21 Teríamos no total os
i mil do quórum e aquel cujo nome mais apareceu
( mco mil e oitocentos) seria ostracizado. Ao contrário, se
u du nt amigos tivessem ficado em casa, o qu~rum
o terl ido atingido e ele não seria ostracizado. Ora, a
bre o tra ismo cem por objetivo a participação dos
o , u mobilização pela defesa da democrac ia, e
10 111:A MOW:.IZA O ]0
não a apatia, que seria estimulada, já que muito proveitosa
a uma parte dos eleitores.
Mas há um caso ainda pior. Suponhamos que os amigos
daquele que terá cinco mil e oitocentos votos contra si
tenham compreendido esta incitação à apatia e tenham
ficado em casa. Com cinco mil e oitocentos votos, seu
líder não seria ostracizado, enquanto que em outra situação,
tão v_erossímil quanto .a primeira, e com os votos ficando
um pouco mais dispersos, de seis mil votos exprimidos (e,
portanto, levando ao ostracismo do mais vota~o, de acordo
com esta hipótese), o mais votado tendo recebido três mil
ostraca com seu nome,. um .outro·dois mil, outro enfim mil
votos. Um homem seria, cóm três mil votos, privado
durante dez anos de seus preciosos direitos políticos,
enquanto que o primeiro, 'com seus cinco mil e_oitocentos
votos, continuaria tranqililamente sua carreira política.
Temos o direito legítimo de duvidar que a cabeça dos
antigos funcionasse exatamente como a nossa, mas
·sempre a partir de análises concretas, e, neste caso, eu
não encontro explicação.
Portanto, seis mil votos num nome específico, no mínimo,
ou então, com mais de um "candidato" além desta quantidade,
o mais votado. De fato, é um número muito elevado, e é
talvez por Jsso que, previsto desde as refonnas de Clístenes,
o ostracismo só será aplicado pela primeira vez em 488,
vinte anos mais tarde, o que não afasta outras tentativas
de ostracismo neste lapso de vinte anos. A instituição não
ficou forçosamente esquecida durante este tempo. É também,
talvez, a rai.ão dele só ter s·i do aplicado uma dezena de
J
Todas as vocações da lei sobre o ostracismo, inicial-
mente o voto para saber se haveria ostracoforia ou não,
em seguida o voto do ostracismo propriamente dito, se
desenrolavam sem qualquer deliberação, nem antes, nem
depois. Ora, a mobilização devia ser considerável para que
o ~cismo fosse alcm~do. IS&> era perfeitamente possível,
pois, para o voto da ostracoforia, a data era fixada numa
época do ano em que todos os cidadãos sabiam que a
questão seria fonnulada, 24 ou seja, votava-se o princípio
da realização da ostracoforia já com alguém em mente;
mas os candidatos podiam ser vários, sobretudo mais
tarde. Podemos saber algo sobre isso a partir d~ um relato
de Plutarco: · ·
Quanto a Aristides, sua alcunha
inicialmentefez quefosse amado,
em seguida suscitou contra ele a
inveja, sobretudo quando Temís-
tocles fez correr entre o povo o
rumor que Aristides, julgando
e decidindo sobre tudo, linba -
redUZido a nada os tribunais e
se tinha constituído clandesti- -
namente uma monarquia sem
guarda-costas. Já, sem dúvida,
o povo, orgulhoso pela vitória e
• • alimen1ando as maiores preten-
sões, tolerava mal aqueles que
o nome e a repuiaçào elevavam
actma da multidão. (Aristides,
7, 1).
107
dar-lhes apoio político, o que inclui a atividade es.sencial da
justiça, rãa intimamente ligada à política na Atenas clássica.
Ora, pode acontecer que a propaganda política degenere
no que nós hoje chamariamos "manobra politiqueira". É o
que ocorre no caso do ostracismo de Hipéroolo:
Em ~ü:úi, quando se começou
a submeter a este vo.ro bomens
sem nobreza e sem valor, Hipér-
boio foi o último a ser atingido,
e deixou-se de recorrer ao ostra-
cismo. Diz-se que Hipérbola /01
ostracizado pelo sigutrue mo&c.
Alcibíades e Nictas, os bomens
mais tnj}uenles da cidade, encon-
travam-se em conjliJo. Ora, como
o povo deven·a se pronunciar
quaruo ao osrractsmo e que ele
ta, com toda evidência, proscrever
um dos dois, eles eruraram em
acordo para unir suas duas
Jacçiies, e fizeram recatr o ostra-
cismo sobre Hipérbolo. (Plutarco.
Aristides, 7, 3-4)
Em outro lugar, o mesmo Plutarco dá outra versão:
Quando ele teve certeza que o
OSlractsmo atingiria um dos três
oradores, Alcibíades reuniu os
diferentes partidos, e, tendo-se
altado a Níctas, fez recair o
ostracismo sobre Hipérbola .
111
Acerca da dimensão dessas redes pessoais e familiares,
podemos ter uma idéia aproximativa (apenas isso) a partir
das indicações de Aristóteles. Lá pelo meio da luta entre
Clístenes e lságoras, Aristóteles diz:
Quando Clistenes fugiu, Cleô-
menes, chegando com uma
pequena tropa, bantu como
sacrílegas setecentas famfltas
(oikías) atenienses,- depois ele
tentou dispersar o Conselho e
dar plenos poderes sobre o Estado
a·Iságoras e a trezentos dos seus
amigos (tôn phílon). (Constituição
de Atenas, 20, 3)
..
119
Cap{tulo IV
freqO t quanto possível, com um máximo de organli.ação
ntre os interessados, tendo por objetivo a liberdade.
;ntretanto,·esta "razão" é a nossa, ~-não a do mundo
a.ntiao..J';,leste mundo, a posslbllldade de sucesso dessas
a ~ era quase sempre fraca demais para que os interessados
Julgcissem ter o interesse em se arriscar. A mobilização dos
escravos tendo em vi~ta a liberdade foi, portanto, rara. As
revoltas de escravos existiram, é verdade, mas elas foram
pouco nu.merosas e conçentradas no tempo. A. revolt.J ele
AristônicÔ, a rev«:>lta de Eunus ou a de EspãÍtaco foram
acontecimentos espetaculares e muito importantes, por
terem questionado, provisoriamente, o mundo elitista e
hierárquico, tal como ele se organizava naf~ãlfç{ãdc! e na
jdeoiogia dominante. Os historiadores muitas vezes se
interrogaram.acerca da raridade das revoltaS. Hoje em dia,
conhecemos bem algumas das razões. As grandes concen-
trações de escravos eram evitada$, escravos de origens
diferentes eram misturados em dosagens próprias, para que
1
• l. · a diversidade de línguas, de co.stumes e de religiões retardasse
1, , . ., a comunicação a formulação de esperanças e a organização
.- i da resistência. Os escravos, em certas atividades, eram bem
~~oa:,~l~i~~~T:
' " -• ••• .,,.._...,..,.-1..-.,...,_.. _,......,_.,,r..,,., .• .,,. ......
J. . - • "··· - •"''-- ~ - - - - - -..... , , .,,
.· 12.3 Capitulo IV
trb ~ puros por comodidade, pois na realidade eles
misturam muilJs vezes. Mas, na medida em que podemos
distlngui-1~, eu diria que a ordem na qual eu os enumerei
é tamb&n uma dassifkação de freqüência, a mobilização
cm momentos de perigo militar sendo a mais comum.
Palando da gueaa, estamos também falando de política.
Nlo se trata de seguir Clausewitz neste caso, mas simples-
mente de se situar no universo ideológico do mundo grego,
uma vez que guerra e política, p(t)ólemos e p(t)ólts são
termos liga~ desde, pelo menos, a época núcênica. Num
belo paradoxo, não foi o "realista" Aristóteles, que neste
dcmfnio foi muiro longe com sua teoria da ~vidão natural,
mas, ao contrtrio, o "idealista• Platão que reconhecia, com
-~·-····~•"· ........ .
~ bela clarividência~ que a -única explicação para a
csrabilidade do ~er dos senhores sobre os escravos era
.a existência eia jJo#i.
Constatamos que quando a polis está
em perigo, esra estabilidade é sacudida. Inicialmente, ela
agrava singularmente o problema da fuga de escravos,
10luçlo individual e desesperada, mas que, em grande
n\lmero, nlo deixa de ameaçar o sistema escravista
nquanto tal. O~ possulmos vários testemunhos.
Em seu belo estudo sobre as relações entre guerra e
vidão, Garlan dá uma lista muito interes.sante.3 Quando
da gu rra do Peloponeso, por exemplo, ranto espartanos
qu nto t nicnse o atingidos pela fuga de escravos
(Tu (di , IV, 41, 3; VII, 27, 5). Eu não vou multiplicar os
empl , ufidenternente n ~ para que, ainda na
poca em qu Roma nvolvc nas questões do Oriente,
trata~ de paz prevqam a restituição~ esaavos no
A .....-•zM"..IO 124
finl. das hostilidades. Mas a fuga é uma solução desesperada
que •só raramente desemboca na liberdade. A escravidão
era "universal" na Antiguidade; estimular a fuga de escravos
do adversário, prometer-lhes a liberdade, era expor-se
também a esta calamidade. Além disso, era violar uma
"lei" da guerra e provocar um enonne escândalo. Deixemos
então de lado a fuga.
Muitas vezes, quando as circuns!ã,~~~ ~~ graves, os
-~sciavos eram chamados a participar da defesa da cidade,
em combates de terra e mar. NãQ falamos aqui da partici-
11
pação normal" dos escravos, que em seu papel social
habitual de servidores, ajudavam ós.senhores nos diversos
serviços ligados à preparação do combate. O que nos
interessa, é a mobilização para a lura, enquanto combatentes.
A participação de escravos na marinha, como remado-
res, é mais que certa. Na batalha das Arginusas, em 406
(Xenofonte, Helêntcas, 1, 6, 24), os atenienses fazem uso
deles; Córcira, em sua luta contra Corinto, em 433 (Tucídides,
1, 55, 1); os espartanos também, como percebemos num ·
~rso do ateniense Cefisodoto (Xenofonte, Helênicas, VII,
12-13). Soinos ainda melhor informados sobre a participação
dos escravos nos combates em terra, o que é em parte
su,rpreendente, pois esta fonna de luta tem mais prestígio
que a naval, mas apenas aparentemente; como mostrou
Garlan, 4 somos, por um lado, melhor informados quanto
aos combates terrestres e, por outro lado, estes eram os
combates mais desesperados, nos quais a sobrevivência
da cidade era jogada, e portanto onde a necessidade de
apelar aos escravos era mais premente.
Capitulo IV
125
11\ 1 ' qu.tnro il isso e , fi
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UU.t l ~l~,, gund . ' ' · Em 369, no conílito
onr (Ho/6nica,ç, vr, 5, 28-29),
~ç magtstmdos decidiram Cbf8a,·
(I an1mclm·JJ0rproclamaçilo aos
127 Capítulo IV
móvel é ainda mais sedutor. trata-se não apenas de ganhar a
1 ~ mas também de cooquistar este mel do homem
~ntia.q_g~ -~ a ~dania. &te tipo ·de ·medida sempre
enconcrou adversãrios ~~e aparece quase sempre em
drcunstindas de l\l{a
-........·civil interna, n9550 terceiro modelo.
··• ....
Tomemos o caso de Esparta. Sabemos que a sociedade
espr,utana entra. especialmente dep:>i.s da derrota de Leuctras,
num processo de crise que vai se prolongar até o final da
independência grega. Hã uma concentração da riqueza
que agrava as diferenças entre os bomotoi e lança um
grande número dentre eles para fora da elite cidadã; hã
~ um controle reforçado de espartanos individuais
sobre os hilotas, com enfraquecimento da meaiação cívica;
finalmente, há uma diminuição dramática do número dos
cidadão,, que implica uma diminuição do poderio militar da
ddade. 6 \émos, então, o aparecimento de uma suces.5ão de
"reis refonnadores" que querem restabelecer o poderio da
cidade com base na restauração do modelo ancestral. 7
Abolição das dívidas, partilha das tenas, admissão de hilocas
à cidadania provocam muito.5 conflitos. Agis IV é rapida-
mente derrubado; Ocômenes m completa seu programa,
mas tambffll é derrubado. Mais tarde, Nabis, que já é ~
um soberano helenístico do que um rei tradicional, age
orno um catalisador das esperanças e dos descontenta-
mentoS no Peloponeso, e encontra o ódio de tcxioo os
on rvadores, tanto aqueus como romanos. Apesar de
nio eswmos diante de wna contra-ideologia estruturada -
bem <1'C no de · e tlmbml no caso de Aristônico,
na · algumas influ&lcias filosóficas e religiosas tenham
1
podido dar uma certa coerência ideológica que os tomava
mais perigosos que seus predeces.5ore~ - , o simples fato de
libertar bilotas e os admitir como cidadãos era escandaloso.
O objetivo em si era o mais tradicional possível: fundar o •
poderio da cidade sobre um corpo cívico numeroso, prós-
pero, capaz de. defender-com . ardor
. a cidade no campo de
baralha. Os reformadores espartanos são um pouco como
um Sólon ou um Cüstenes, com atraso de alguns séculos, e
num mundo no qual as relações de força internacionais não
estavam mais na medida da força possível de sua cidade.
O caso de Nabis, que liberta os hilotas e os casa com as
mulheres e filhas dos cidadãos banidos (Políbio, XVI, 13,
• 1)1 e faz deles cidadãos no lugar dos exilados (Plutarco,
Filopomeno, XVI, 4), não é isolado. ClearcÔ de Heracléia
havia feito a mesma coisa em 364: morte ou exílio de
aristocratas, substituídos por escravos, provavelmente
os mariandinoi,9 portanto de tipo hilótico, mais aptos a
substituir os senhores, por serem gregos e nacionais como
eles sem que por isso as reações sejam menos veementes
(Justino, Histórias Filípicas, XVI, 5, 2-4) .
. Mas o fato não é exclusivo dos escravos "comunitários";
Aristodemos de Cumas (na Itália) faz a mesma coisa em
505-504 (casamentos com filhas e mulheres de aristocratas
massacrados) (Dênis de Halicamasso, Antiguidades Romanas,
VII, 6-11); Dênis, o Antigo, age da mesma forma.em
Siracusa (Diodoro, XIV, 7; XIV, 66). Há ainda outros fatos
de mesma ordem provocados por tiranos (Ateneu, XI, 509b;
Plutarco, Mora/ia, 402E; 245B-C)1º.
1 ?O
r,.,..,,.,,,. "'
ele i alguns exemplos da época helenística em
,rca p0r serem mais documentados (especialmente por
,ucarco), e por terem ido mais longe na lógica da substi-
cuição de cidadãos por hilotas, mas, para pennanecer ainda
um pouco em Esparta, o fato não é recente. Segundo
Tucídides, já o próprio regente Pausânias "tinha-lhes (aos
bilotas) prometido liberdade e cidadania, caso eles se
sublevassem com ele, e o ajudassem a realizar o conjunto
· do seu projeto" (1, 132). Mais tarde, em 398, Cinadon, um
inferior que pensa "que toda a massa dos bilotas, dos
neodamodes, dos inferiores e dos periecos pensavam ..
como ele (e os membros do complô): cada vez que se
chegava a falar dos espartanos, ninguém podia dissimular
o fato que teria prazer em devorá-los, ~ até crus (Xenofonte,
Helênicas, m, 3, 6); ele tenta um golpe, rapidamente abafado.
Mais interessante ainda é um caso típico de stasis. Erri
Córêira, democratas e aristocratas estão em conflito durante
a guerra do Peloponeso e, segundo Tucídides (III, 73, 74),
cada partido envtava ao campo
recrutadores de escravos prome.
tendo-lhes a liberdade; a massa
servtl se alinhou com o povo,
mas o outro campo recebeu
· oitocentos auxiliares do conti-
nente. Após um dia de tntervalo,
o combate recomeçou, e O povo
venceu, graças à Jorça de suas
posições e pela superioridade
numérica.
135 Capítulo IV
que o mundo clássico tinha por base a escravidão. Mas se
nós ampliamos o no~o ângulo de visão e observamos o
mundo em tomo dos gregos, n9 ~paço e no tempo em
que eles viveram, o que impressiona (e é por isso que
eles nos interessam tanto ainda) é exatamente o inverso,
ou seja, ~~ problemática, limitada, frágil, mas
imensa -d(fibercjaçfe.
14.,..::.::::.:.--..•
"RE f. MOBIU7.ACÃO...
ENSf.lOSOu
NOTAS
Introdução
1
FINLEY. Dlmocrall8anttq,,u, et dlmo-
aqueus a, mesmo sem Aquiles, Irem
cratte moewrns.
sob o seu próprio comando,. virar o
z F1Nl.EY. Politu:s ln tbeanctent world. destino da guemi, então desfavorável.
Assim, no v.378, "Ele disse, e todos
com entusiasmo ouviram e obedeceram".
Ca,pítulo I 12
1 Ver o coment.\rlõ da edição Budé.
FINLEY. O mundo de Ulisses.
2 u VLACHOS. Les soclétA.s poliliques
VLACHOS. Les socl4tés pollttques homériques, p.203-204, para uma biblio-
bomérlques. grafia da questão.
JVLACHOS. Les soctétés pollttques 14 FINLEY. O mttndo de Ulisses, p.173.
bomérlques, p.41.
is Ostra~ de "modemlsmo" são abun-
◄ LÉVtQUE. LaPensée, 217-218, p.24. dantes na Qdlsséta. Não é o meu tema
j AMPOLO. La citlà antica. Guida aqui, ent1o eu passo rapidamente quanto
storlca e c:rltiça, p.99. a certos sinais. Mas M um que merece
duas ·palavras; no lrúdo da utopia feãcia
6
Jbidem. p.100-101. (Odlsséla, VI, 7): "Assim Nausítoo de
7 Ibidem. p.102-104. fonna divina os tinha transplantado
longe dos pobres humanos e os fixara
R FIN!.p'. o mundo de Ulisses, p.52. na Esquéria: ele tinha cercado a cidade
•
9 //íada, II, 200. com uma muralha, construído casas,
criado santuários e dividido os campos."
10 VLACHOS. Les sociétés poUtiques
Podemos ver aqui, de fonna clarís.sima,
bomérlques, p.188-189, pensa que o a aventura colonial araiica já em march.1,
"cenário" é o mesmo. e a angústia agrária, excelente argu-
11 Na Ilíada, XIV, 361, aproveitando-se mento para os que fazem da O,füséia
do sono de Zeus, Poseidon exorta os uma contemporânea de Hesíodo.
,, VLACHOS. ús IOCtltl1 J)Olfllques 1
bomlrlqu.s, p,92. Vários artigos reunidos em FINLEY.
'
139
Capítulo IV I◄ WAUON. Hlstolredel'Bsclawsedans
1 l'Amlqullé, p.87.
WP.L'iKOrF. Lolslr et esdavage dans
1
la Gr~ antique, p.161-178. ' VIDAL-NAQUET. Le cbasseur nolr,
1 p.211-221.
Nas servldões comunlltrias de tipo
16
hllótlco, a <X>ba era ainda mais dellc:acla. GODEUER. Horlron. Trajets mar-
VIDAL-NAQUET. u cbtll#Ur notr. xi,,tes en anthropologle; GODEUER.
Polltlcs as "lnfrastructure": an
' GARLAN. Les esclaves grecs en tcmpa
anthropologlst's thoughts on the exem-
de guerre.
ple of classlcaJ Greece and the notions
4
Ibidem. p.42. of relations of production and econo-
mlc detennlnatlon, p.13-28.
~ Numero~ exemplos levantados e
comeniados por GARLAN. Les escla• 17 PUKS. Classlcal Quarter/y, xvm,
ves grccs en temps de guerre, p.4;. p.207-223; ASHERI. Dtstrlbuztonl dl
terre ,u,ll'anllca Grecta.
'MARASCO. A.nliqut/1 Classique, XI.IX,
p.131-145; MOSSE. La tyranniedans
la Gricttantlqu41, p.179; fl!KS. Anci•
ent Society, 5, p.51-81.
7
Numa bibliografia desmesurada, wi-
nalemos alguns trabalhos Importantes:
TEXIER. Nab~ SHIMRON. Classlcal
Pbllology, LXI, p.1-7; DAUBIES. Htsto- .
ria, XX, p.665-696; SHIMRON. Clam-
cal Quarterly, XIV, p.232-239; PUKS.
Classlcal Quanttrly, XII, p.118-121.
1
MOSSE. RtNUe Hlstorlque, XCIII,
p.297-308.
' GARLAN. ús BSClautJS en Grkearu:I~
enne, p.173.
10 ASHERI. Tynmnle et marlage í~.
Eslai d'hiaoire soclale grecque, p.21-
48.
11 GARLAN. úst1sela1Jt1Sen Grlceanct-
•nrw, p.177.
11 WALLON. Hlsloiredsl'es;clau:lgedans
l'AntlqUUé.
u FINLEY. F.conomte et soctlléen GriJce
ancsenne, p.145-171.
RAZÃO E CONHIOMINTO-
140
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sur le travail des esclaves? 134, 1976.
RAZÃO E CONHECIMENTO...
142
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111.1 /{
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