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NanetteZmeriFrej (nzfrej@gmail.com) *2
Assim, surge o DSM e suas variadas versões, com o caráter normativo de suas
classificações pautado na padronização, e formalização de critérios para o diagnóstico
psiquiátrico. Com o objetivo de alcançar a confiabilidade utilizando uma roupagem
pseudocientífica baseada na observação empírica, sem qualquer pretensão de explicar as
patologias ou delimitar uma teoria, o “manual” ganha força e prestigio. Apesar dos
critérios de sua negligência com os contextos, a história e as causas das doenças.
O DMS norteia a prática psiquiátrica como uma ferramenta eficaz para o objetivo a que
se propõe, que é estabelecer claramente onde se situa o paciente no mapa classificatório,
um auxiliar na tarefa estatística, com sua tarefa terapêutica simplificada por poder
deduzir com bastante precisão o tratamento correspondente, possibilitando assim
garantir ao médico seu lugar de conhecimento.
A interrogação do sujeito a partir do seu sintoma é cada vez mais substituída pelo
arsenal de meios que desviam a implicação do sujeito no seu mal-estar, que configura
em uma solução imediatista com o próprio imperativo de gozo. A falta estrutural do
desejo está sendo tamponada pelas ofertas de medicamento para curar qualquer mal.
Na estreita relação entre consumo e indústria, a psiquiatria atual vai encontrar seu
sentido no discurso capitalista, que se apresenta como uma substituição da falta
estrutural do desejo, por objetos de consumo que assume a posição do mestre no
discurso. Segundo Infante (2011, p.68) “[...]os paliativos químicos produzidos pelo
saber científico unidos aos interesses da indústria farmacêutica [...] assumem todas as
características do fetiche da mercadoria.”
Na falta de uma explicação que não se identifique o gene para determinado transtorno,
logo se recorrerá a uma explicação no que diz respeito a alterações químicas no cérebro.
Contudo, nenhuma delas esclarece a etiologia do transtorno, não supõe nada sobre o que
é empiricamente observável, ficando o tratamento às margens das condutas descritas e
não sobre a causa das doenças. Sobre isso Costa argumenta:
Por esse viés, a psicopatologia pretende ter encontrado finalmente sua cientificidade, de
fato e de direito, fenômenos que falem por si mesmo em qualquer época,
independentemente de contextos e situação socioeconômica. Para García (2011, p.51)
“chegamos à biologia do comportamento, o que se traduz na prática em técnicas de
adestramento (comportamentais) que se combinam com a medicação.”
Considerações finais
Em tempos pós-modernos a economia triunfa com o capitalismo sobre questões
concernentes ao humano, e aqui, o que é importante pensar são os efeitos produzidos a
partir do discurso dominante e imposto à cultura,marcada pela falta de verticalidade,
que impede funcionar o lugar do terceiro. O efeito disto, é que toda noção de limite
tende a ser abolida. O discurso capitalista assegura à indústria farmacêutica e à
tecnociência a verdade incontestável, um saber, um ponto de amarração que passa a
ocupar o lugar do significante mestre.
Para Lacan no seminário XVIIo discurso faz laço social, “Um discurso aparece, como
maneira do sujeito se situar em relação ao seu ser, é uma regulação de gozo”(1969-70),
em nossa sociedade o discurso em voga é do capitalista, que nega a castração e, assim,
toda noção de limite encontra-se esfumaçada, convidando o consumidor a ultrapassar
tudo e todos em direção ao „seu‟ desejo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Dor, JOEL. Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como linguagem.
Trad. Carlos Eduardo Reis- Porto Alegre: Artmed, 1989.
LEBRUN, Jean-Pierre. (2004). Um mundo sem limite: ensaio para uma clínica
psicanalítica do social. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.