Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SOROCABA
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS PARA A SUSTENTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL
SOROCABA
2018
AGRADECIMENTOS
Ao professor Fernando Silveira Franco pelo apoio e orientação, e principalmente por ter
me instigado a pesquisar sobre a Cromatografia de Pfeiffer.
Ao Carlão, Márcia e Ricardo, que permitiram que eu utilizasse seu sítio como área de
estudo e por todo o apoio com ferramentas e informações.
Ao Daniel Oliver, Adriel Vaz, Lucas Matias e Ana Clara por ter me ajudado no
desenvolvimento deste trabalho, desde o campo e laboratório quanto a parte escrita. Sem vocês
eu não teria conseguido!
Meus sinceros e eternos agradecimentos à Glaucia Marques, que me ensinou tudo o que
sei sobre Cromatografia de Pfeiffer, e a Leila Pires por compartilhar dos mesmos interesses.
À companhia dos meus amigos que a faculdade trouxe, especialmente o Felipe Nogueira
e o Daniel Oliver, que sem saber ajudaram a diminuir minha ansiedade em vários momentos e
me proporcionaram muitas risadas.
Ao Lucas Matias, que tem sido um ótimo companheiro mesmo nas desventuras que a
vida traz.
Agradeço por fim minha família de três pessoas, mãe, pai e Regi, que entendeu que eu
precisava sair de minha cidade e tentar ser engenheira florestal.
RESUMO
A qualidade do solo tem sido abordada com mais intensidade desde a década de 1990, após os
trabalhos sobre degradação do solo apontarem um cenário preocupante para a produção de
alimentos. Foram estabelecidos diversos indicadores da qualidade do solo para medir
características físicas, químicas e biológicas essenciais para a sustentabilidade dos
agroecossistemas, porém a maioria não é acessível aos agricultores. A Cromatografia de
Pfeiffer, no entanto, permite uma visão integrada da qualidade do solo e é uma técnica que pode
ser aplicada de modo simples pelos agricultores. Neste trabalho, propõe-se uma chave de
interpretação da qualidade do solo para auxiliar na detecção dos detalhes encontrados nos
cromatogramas, a fim de padronizar e facilitar a análise. Para isso, foram utilizados os
indicadores Infiltração/Compactação, Matéria Orgânica, Atividade Microbiológica e Estrutura
propostos por Altieri e Nicholls, de fácil medição, para um diagnóstico geral dos sistemas e
para auxiliar na análise pela Cromatografia de Pfeiffer, que foi aplicada para o desenvolvimento
da chave de interpretação, baseada nos cromatogramas obtidos e na literatura. Os sistemas
estudados foram bananal, pasto abandonado, lichia, sistema agroflorestal, milho convencional
transgênico e mata ciliar. A chave de interpretação analisou cada Zona de um cromatograma
separadamente, e lhe atribuiu notas quanto à sua coloração, forma e integração. As notas de
cada sistema pela chave de interpretação foram submetidas ao teste não paramétrico Kruskal
Wallis a 0,05% de significância, e resultou em diferenças significativas para as Zonas Interna
(ou Mineral), entre o sistema agroflorestal e a mata ciliar, e Intermediária (ou Matéria Orgânica)
e Externa (ou Enzimática) entre o milho convencional e a mata ciliar. Somente a Zona Central
não foi considerada estatisticamente significante. As notas atribuídas aos indicadores de Altieri
e Nicholls resultaram na seguinte escala de qualidade do solo, da menor para a melhor
qualidade: milho convencional, lichia, pasto, mata ciliar, bananal e sistema agroflorestal. Por
meio da chave de interpretação, os resultados foram, da menor para a melhor qualidade do solo:
milho convencional, sistema agroflorestal, pasto, lichia, bananal e mata ciliar. As diferenças
encontradas entre as duas metodologias se devem a sensibilidade de cada uma em refletir a
qualidade. Para Altieri e Nicholls, o indicador Estrutura apresentou pouca sensibilidade,
principalmente na mata ciliar, e assim baixou a nota do melhor sistema encontrado. A
recomendação é que se aumente o número de indicadores, para que tenham melhor visão da
qualidade do solo e aderência aos resultados da Cromatografia de Pfeiffer. A utilização da chave
de interpretação foi essencial para detecção de diferenças sutis nos cromatogramas e contribuiu
para o aumento da sensibilidade da Cromatografia de Pfeiffer. Recomenda-se um estudo ao
longo do tempo para detectar as diferenças causadas pelo manejo dos sistemas e assim auxiliar
o planejamento e tomada de decisões.
Soil quality has been addressed more intensively since the 1990s, after the works on soil
degradation pointed out to a worrying scenario for food production. A number of soil quality
indicators have been established for measuring the physical, chemical and biological
characteristics essential to the sustainability of agroecosystems, but most are not accessible to
farmers. Pfeiffer's Chromatography, however, allows an integrated view of soil quality and is a
technique that can be applied simply by farmers. In this work, it is proposed a interpretation
key of the soil quality to aid in the detection of details found in the chromatograms, in order to
standardize and facilitate the analysis. Therefore, the indicators Infiltration, Compaction,
Organic Matter, Microbiological Activity and Structure proposed by Altieri and Nicholls were
used, because of its easy measurement, for a general diagnosis of the systems and to aid in the
analysis of Pfeiffer's Chromatography, which was applied for the development of the
interpretation key, that were based on the chromatograms obtained and in the literature. The
systems studied were banana, abandoned pasture, litchi, agroforestry system, conventional
transgenic maize and riparian forest. The interpretation key analyzed each Zone of a
chromatogram separately, and assigned grades for its color, shape and integration. The grades
of each system were submitted to the non-parametric Kruskal Wallis test at 0.05% significance,
and resulted in significant for Internal (or Mineral) Zone, between the agroforestry system and
riparian forest, and Intermediate (or Matter Organic) and External (or Enzymatic) between
conventional corn and riparian forest. Only the Central Zone was not considered statistically
significant. The grades attributed to the Altieri and Nicholls indicators resulted in the following
soil quality scale, from lowest to better quality: conventional maize, litchi, pasture, riparian
forest, banana and agroforestry system. By means of the interpretation key, the results were
from lowest to better quality: conventional maize, agroforestry system, pasture, litchi, banana
and riparian forest. The differences found between the two methodologies indicates the
sensitivity of each one to reflect the quality. For Altieri and Nicholls, the Structure indicator
showed little sensitivity, mainly in the riparian forest, and thus lowered the score of the best
system found. The recommendation is to increase the number of indicators so that they have a
better view of soil quality and adherence to the results of Pfeiffer's Chromatography. The use
of the key interpretation was essential for the detection of subtleties in the chromatograms and
contributed to increase the sensitivity of Pfeiffer Chromatography. A study over time is
recommended to detect the differences caused by the management of the systems and thus help
with planning and decision making.
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 13
4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 26
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................................... 35
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 53
1 INTRODUÇÃO
circular com nitrato de prata, um agente fotoreativo que representa a fase estacionária
(COLLINS, 2006; BRAGA, 2006; RIVERA; PINHEIRO, 2011; PERUMAL et al., 2016).
Essa técnica, apesar de datar da década de 1920, tem sido restrita à agricultores
biodinâmicos, por estar inserida num contexto social e econômico desfavorável (RIVERA;
PINHEIRO, 2011). Atualmente, porém, tem sido explorada em diversos países, em trabalhos
científicos (KOKORNACZYK et al., 2016; SIQUEIRA et al., 2016; SIQUEIRA, 2016; PILON
et al., 2014; VON WAGNER FAGUNDES, 2013) ou aplicações por instituições, como no caso
do Centro Regional de Innovación Hortofrutícola de Valparaíso (CERES), no Chile (CERES,
2013), The Nature Institute, nos Estados Unidos da América (FOLLADOR, 2015) e no
INTERLAB, na Itália (INTERLAB, 2018), sendo alvo também de tecnologias, a exemplo do
projeto Alternative Analytical Technology (AAT) desenvolvido pelo Shri A. M. M. Murugappa
Chettiar Research Centre e Indian Institute of Technology Madras, na Índia (PERUMAL et al.,
2016).
O projeto AAT, desenvolvido na Índia, criou um software para análise quantitativa das
imagens a partir de um banco de dados que coleta as informações quanto ao padrão, a cor e o
número de pontas (terminações da Zona Intermediária) nas diferentes Zonas do cromatograma
(PERUMAL et al., 2016). Apesar desse esforço ser significante para a análise do cromatograma
e facilitar o trabalho dos pesquisadores nesta área, ainda existe a preocupação da qualidade do
solo ser tratada como uma garantia pelo próprio agricultor, e para isso, é ele quem precisa
entender os processos e analisar com atenção cada detalhe de um cromatograma, a fim de unir
as percepções retiradas do papel com aquelas adquiridas na realidade do campo. O agricultor
ainda ganha no custo dessa análise. Segundo Bezerra (2018), uma análise do solo por meio da
Cromatografia de Pfeiffer é seis vezes mais barata que uma análise química convencional, e
ainda atua como uma análise mais integrada, ao possibilitar, em um só cromatograma, a visão
da biologia, física e química do solo.
É preciso que a Cromatografia de Pfeiffer seja inteligível, para que possa ser utilizada
pelos agricultores de forma simples, e que padronize as interpretações. As cores, formas e
integração das Zonas dos cromatogramas permite a identificação das condições em que o solo
se encontra, possibilitando a comparação de diferentes sistemas de manejo. É nesse ponto que
este trabalho procura atuar. Propõe-se a criação de uma chave de interpretação da qualidade do
solo a partir da Cromatografia de Pfeiffer, considerando que a técnica utilizada é replicável,
comparável e permanece no tempo.
13
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Este estudo tem como objetivo desenvolver uma chave de interpretação da qualidade do
solo a fim de facilitar e padronizar estudos na área da Cromatografia de Pfeiffer.
2.2 Específicos
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os estudos sobre a degradação dos solos surgiram após o projeto de denúncia desta,
denominado GLASOD (Global Assessment of Soil Degradation – Avaliação Global da
Degradação dos Solos), coordenado pela Universidade de Wageningen, na Holanda, que
culminou na publicação do Mapa Mundial do Status de Indução Humana da Degradação dos
Solos, em 1990 (OLDEMAN et al., 1991; OLDEMAN, 1992). As principais causas da
degradação foram apontadas como sendo o sobrepastoreio, o desmatamento, práticas agrícolas,
superexploração da cobertura vegetal, atividades bio-industriais e industriais, nesta ordem de
impacto (OLDEMAN, 1992).
Apesar desses estudos serem relevantes, era preciso expandir a questão e discutir meios
de mitigá-la. A degradação dos solos mais frequente é aquela lenta e sutil, que pode não
apresentar seus impactos a curto prazo. Numa tentativa de evitá-la, nasceram as pesquisas sobre
qualidade ou saúde do solo para monitorar e considerar seu manejo (KIBBLEWHITE et al.,
2008). A definição da qualidade do solo era essencial para se ter práticas de manejo que
deixassem os solos em condições adequadas para uso das gerações futuras; deveria ser definida
de maneira geral para que as variadas funções do solo fossem contempladas (DORAN;
15
O solo é a base da vida na Terra, afirma Primavesi (2016). É um corpo natural dinâmico
e vivo que possui importante papel para os processos dos ecossistemas terrestres (DORAN;
PARKIN, 1994), tendo sido reconhecido como um próprio ecossistema, e não parte de um
(LAISHRAM et al., 2012). Formado por materiais inorgânicos, orgânicos, água, ar, organismos
vivos, todos integrados por um complexo sistema químico, físico e biológico, é essencial para
os ciclos biogeoquímicos e para a manutenção dos seres vivos (DORAN; PARKIN, 1994;
PRIMAVESI, 2016).
As diversas funções realizadas pelo solo são reconhecidamente atuar como: provedor de
água, nutrientes e oxigênio para a produção primária, suporte físico para vegetais, habitat para
outros organismos, regulador dos ciclos biogeoquímicos, purificador de substâncias orgânicas
e inorgânicas e uma resistência à erosão (DORAN; PARKIN, 1994; LAISHRAM et al., 2012;
PRIMAVESI, 2016).
Para que o solo desempenhe suas funções adequadamente, é necessário que seu manejo
seja realizado com práticas conservacionistas, de maneira a permitir seu uso pelo ser humano,
considerando seu estilo de vida. Medidas mitigadoras da degradação, a fim de não a deixar
atingir seu estado extremo, são importantes, porém, um passo anterior é definir a qualidade do
solo ao qual se pretende manejar. Segundo Carter (2002), esse estudo é válido quando se tem
um solo e uma cultura que não se encaixam perfeitamente, assim tornando necessário criar uma
qualidade a partir de bons manejos, ou seja, sua utilidade se dá quando é direcionada à
manipulação, engenharia ou manejo do recurso.
outros o usam como divergentes, tomando como exemplos Karlen et al. (1997), Doran e Zeiss
(2000) e Kinyangi (2007).
Para Kibblewhite et al. (2008), existem duas abordagens para a saúde do solo: a
reducionista, que estabelece diversos indicadores e os estima separadamente, e outra integrada,
que considera que existem propriedades emergentes a partir das interações dos processos e
propriedades dos solos, uma vez que este é um sistema vivo, e que para entender a dinâmica do
solo quanto ao manejo e sua capacidade de resposta, é preciso que se aborde o solo como um
subsistema integrado do agroecossistema. Esses autores, no entanto, trazem sua definição de
saúde do solo semelhante à descrita acima por Doran e Parkin (1994).
As definições podem ser diferentes para agricultores e cientistas também. Em seu trabalho
a fim de comparar as duas visões, Baginetas (2008) verificou que os agricultores focam em
aspectos tangíveis do solo, como suas propriedades físicas e a produção que dele se obtém, para
classificá-lo como bom ou ruim, e os cientistas trazem os múltiplos papeis que os solos
representam, o que é um reflexo do conhecimento e práticas de cada grupo. No entanto, ao
tentar categorizá-los, ambos recorrem às listas de propriedades específicas dos solos.
Nesta revisão, será utilizado o termo qualidade quando se almeja quantificar ou qualificar
o solo, ou seja, obter algum tipo de medida deste, parâmetros não subjetivos, e saúde para aliar
à ideia de sustentabilidade e uma visão mais integrada dos processos que podem beirar a
subjetividade.
17
Para avaliar a qualidade do solo, pesquisadores têm feito uso destes, estratégias para
identificar a sustentabilidade do manejo dos solos, principalmente nos sistemas agrícolas
(DORAN, 2002). Para Cardoso et al. (2013), estes indicadores devem ser escolhidos conforme
o uso e manejo do solo, suas características e as condições ambientais. É importante que levem
em consideração não só a condição ao qual o solo se encontra, mas a sustentabilidade
econômica e ambiental do manejo (DORAN, 2002).
Romig et al. (1996), Doran (2002) e Baginetas (2008) enfatizam que os indicadores
devem ser desenvolvidos e implementados em parceria com os agricultores, de maneira a ser
compreendida por eles e que possam ter autonomia para validar suas práticas em campo. Para
isso, os indicadores devem aliar, explicitamente, qualidade do solo com funções do ecossistema,
terem custo reduzido, serem de fácil medição e ter o tempo entre medições e resultados
diminuídos (HERRICK, 2000).
Uma vez definidos os indicadores, estes podem ser monitorados para avaliar o efeito de
diferentes tipos de manejo aplicados às áreas em médio e longo prazo (CHAER; TÓTOLA,
2007), o que auxilia a gestão do uso do solo nas propriedades rurais. A grande preocupação
deste trabalho é encontrar um meio para identificar a qualidade do solo para que aqueles que
manejam o solo tenham maior segurança nas tomadas de decisões.
Diversas técnicas são nomeadas cromatografia, pois lidam com o princípio básico físico-
químico de separação de componentes de uma mistura a partir da interação entre a fase móvel
e a fase estacionária. A fase móvel se movimenta através da fase estacionária, e neste momento
os componentes da mistura ficam retidos na fase estacionária de acordo com as características
de cada um (COLLINS, 2006). É um processo de sorção (interação das substâncias no interior
ou superfície de outras substâncias) e dessorção (quebra de adsorções ou absorções), que
permite identificar os componentes de uma amostra (CDER, 1994).
a fase móvel e a estacionária são líquidas (BRAGA, 2006), evento considerado revolucionário
para a cromatografia em papel (WILSON, 2000).
Segundo Pfeiffer (1984), ainda que dois solos diferentes contenham a mesma quantidade
de nutrientes, sua eficiência biológica e a qualidade das culturas que ele mantém podem ser
diferentes. Foi para detectar essas diferenças que Pfeiffer criou esta técnica de cromatografia
em papel; a química analítica não é sensibilizada para este tipo de análise.
Sua percepção foi a de que poderia separar e identificar substâncias através das cores que
elas exibiam, por sua cor natural ou por reativos reveladores. Para isso, estudou os trabalhos
desenvolvidos por Theodor Schwenk e Lily Kolisko e conseguiu demonstrar a diferença
qualitativa entre a vitamina C natural e a sintética. A partir disso, determinou as substâncias a
serem utilizadas para os estudos envolvendo a qualidade do solo e a qualidade dos alimentos
(RIVERA; PINHEIRO, 2011).
Para fazer os cromatogramas da qualidade do solo, Pfeiffer descobriu que uma solução
de hidróxido de sódio (NaOH) a 1% solubilizava as substâncias nitrogenadas do metabolismo
23
dos micróbios, que reagiam conforme sua quantidade, em um papel filtro especial impregnado
com nitrato de prata (AgNO3) (RIVERA; PINHEIRO, 2011), que é uma substância foto reativa
(PERUMAL et al., 2016), num processo de capilaridade. Com isso, revelava-se nos
cromatogramas cores, distâncias, círculos e raios diversos, importantes para a interpretação das
substâncias que no solo contém, uma resposta dada pelo tipo de respiração dos micro-
organismos e pela presença de minerais (RIVERA; PINHEIRO, 2011; PERUMAL et al., 2016).
Em seu livro Chromatography applied to quality testing, de 1984, Pfeiffer identifica três
Zonas nos cromatogramas que o auxiliam na interpretação qualitativa. Em 2011, o livro de Jairo
Rivera e Sebastião Pinheiro, intitulado Cromatografía: imágenes de vida y destrucción del
suelo, traz a Cromatografia de Pfeiffer analisada em cinco Zonas, com formas, cores e tamanhos
que dependem da qualidade do solo (Figura 1).
Essas Zonas podem ser descritas como a seguir (RIVERA; PINHEIRO, 2011):
propriedades físicas que mantêm a aeração. Uma condição assim é revelada por uma Zona Central
com cores negras e/ou borda pontiaguda, que se integra com a próxima Zona de maneira
homogênea. Ainda, essa Zona pode estar muito branca, e isso se deve ao fato de estar recebendo
doses excessivas de substâncias nitrogenadas, adubos altamente solúveis ou aplicação constante
de herbicida. Uma Zona Central ideal possui uma coloração creme, se integra à próxima Zona com
um desvanecimento suave, indicando um solo com boa estrutura, matéria orgânica ativa e atividade
microbiológica e enzimática benéficas.
▪ Zona Interna: é a dos minerais, pois é onde se concentram a maior parte das
reações com os minerais e onde ficam as substâncias mais pesadas. Um bom solo apresentaria essa
Zona bem integrada com as que a cercam, sem interrupções e de forma harmônica, com atividade
microbiológica diversa.
▪ Zona Intermediária: é a da matéria orgânica ou proteica. A presença dessa Zona
não é capaz de dizer se a matéria orgânica é biologicamente ativa. Sua ausência poderia ser
explicada pela mineralização total, compactação, solo exposto, ou aplicação de agrotóxicos e
fertilizantes altamente solúveis. Para indicar um solo bom, é necessário que se integre às Zonas
adjacentes e não seja tão fina.
▪ Zona Externa: enzimática, identificada pela presença ou ausência de “nuvens” e
bordas com “dentes de cavalo”. Essas “nuvens” ou bolhas indicam abundância e variedade de
nutrientes disponíveis para as plantas.
▪ Zona Periférica: é a Zona de manipulação de um cromatograma.
os estudos realizados pelo The Nature Institute (FOLLADOR, 2015). Na Itália, foi criado em
2009 o grupo Interlab, que trabalha e discute a Cromatografia de Pfeiffer (INTERLAB, 2018).
Na Índia, a Cromatografia de Pfeiffer foi a base para o desenvolvimento de um software de
processamento de imagens de cromatogramas para identificar a composição dos solos e
recomendar fertilizantes e melhores culturas, em um trabalho de parceria da Shri A. M. M.
Murugappa Chettiar Research Centre (MCRC) e do Indian Institute of Technology Madras que
se denominou Alternative Analytical Technology (AAT) (PERUMAL et al., 2016).
Segundo Cardoso et al., 2013, é mais apropriada uma análise integrada dos indicadores,
pois isolados nem sempre auxiliam na compreensão dos processos, principalmente naqueles mais
ligados à sustentabilidade ecológica. A proposta de Pfeiffer atua neste sentido, ao permitir uma
visão holística da qualidade do solo e uma análise da evolução do solo. Riveira e Pinheiro (2011)
consideram que essa técnica pode ser implantada como um selo de garantia da qualidade do solo
de uma propriedade, assegurando ao produtor rural a tomada de decisões acerca do manejo do
solo. Além desse benefício, ao escolher a análise do solo por meio da Cromatografia de Pfeiffer
e não pela análise química convencional, o agricultor estará economizando nos custos, uma vez
que uma análise química custa seis vezes mais que uma análise química, física e biológica
possibilitada pela Cromatografia de Pfeiffer (Bezerra, 2018).
4 METODOLOGIA
A 121 km da capital do Estado de São Paulo está localizado o Sítio São João, no município
de Sorocaba, nas coordenadas 23º35’18,59” S de latitude e 47º31’41,10” O de longitude, com
uma área total de 9,19 ha. Os solos predominantes na região são os Argissolos e Latossolos
(OLIVEIRA et al., 1999), e a vegetação é floresta estacional semidecidual (BRASIL, 2012). O
clima do município, segundo a classificação de Koppën, é uma transição entre o tipo Cfa
(subtropical quente, sempre úmido e com inverno menos seco) e Cwa (subtropical quente, com
invernos mais secos) (MELLO, 2012).
Dos usos e cobertura do solo analisados por este trabalho, aqui também denominados
sistemas, apenas um tipo de uso do solo está localizado na fazenda vizinha, que se trata do
cultivo de milho transgênico Dekalb 360 ® (23º35’8,10” S de latitude e 47º32’1,91” O de
longitude). A Figura 2 apresenta a visão geral do entorno ao qual esses sistemas estão inseridos.
Cada sistema teve seu histórico de uso descrito, com a identificação das principais
espécies vegetais, espaçamento (quando monocultura) e algumas particularidades, a fim de que
essas informações colaborassem com as análises de qualidade do solo. Somente para o milho
convencional transgênico não se tem maiores informações.
Em todos os sistemas tinha sido aplicado Ekosil ®, a lanço, na quantidade de 1,5 ton/ha.
No bananal e demais frutas, tinha sido aplicado Yoorin ®, esterco de curral e Minho Fértil ®.
Na metodologia Altieri e Nicholls, cada indicador recebeu uma nota, de acordo com a
amostra observada, que varia de 1 a 10, sendo 1 o valor menos desejado, 5 o valor que indica
uma qualidade média e 10, que representa a melhor qualidade.
Foram atribuídos alguns pesos para os indicadores, dado pela maior importância de cada
um em revelar a qualidade do solo nos sistemas estudados.
A Cromatografia de Pfeiffer foi utilizada como uma técnica que integra a análise dos
diferentes componentes do solo que por fim atestam sua qualidade, uma vez que pode ser
aplicada pelos próprios agricultores em suas propriedades. Ela, por si só, atuou como a junção
dos três tipos de indicadores para determinar o estado, conteúdo e/ou atividade:
aeração/compactação, matéria orgânica, micro-organismos, minerais.
Para que a solução do solo fosse revelada no cromatograma, era necessário impregnar o
papel com uma solução de nitrato de prata (AgNO3) a 0,5 %, ou seja, 5 g da substância com
100 mL de água destilada. Essa solução, sensível à luz solar direta, foi preparada pouco antes
32
de seu uso. Uma porção dessa solução foi colocada em um recipiente, no qual o papel filtro
com o cilindro no centro foi depositado, com o cuidado de permanecer no centro e somente o
cilindro tocar o líquido. Envolto nesse recipiente, outro com maior diâmetro foi utilizado para
fornecer apoio ao papel. Assim que a solução correu pelo papel pela capilaridade, e atingiu o
primeiro ponto de 4 cm, o papel foi retirado e colocado para secar em uma caixa escura, já sem
o cilindro, o que tardou 4 horas.
No entanto, por conta do timing de cada etapa, a solução do solo foi preparada antes da
impregnação do papel filtro com nitrato de prata. Era preciso uma solução com hidróxido de
sódio (NaOH) a 1%, ou seja, 10 g de NaOH adicionada a 1000 mL de água destilada. Desta
solução, retirou-se 50 mL para colocar em erlenmeyers com 5 g de solo. A mistura então foi
agitada três vezes: logo que preparada, após 15 minutos e, por fim, após 1 hora. A fim de
sistematizar a agitação, elas ocorriam em movimentos circulares, em 6 círculos para a direita e
6 para a esquerda, repetidos 6 vezes. Essa solução consiste na fase móvel.
Depois de se esperar por 6 horas, retirou-se com uma seringa o sobrenadante de cada
amostra e o colocou em um recipiente de montagem semelhante ao feito para a solução de
AgNO3, com um novo cilindro no centro. Esperou-se a solução do solo percorrer o papel filtro
até o ponto de 6 cm para retirar o papel e o deixar secar em um local sem poeira e sem luz solar
direta. Após secos, estes foram expostos à luz durante um período de 10 dias, para que as
substâncias se estabilizassem no papel.
Após este período foi possível iniciar as análises da qualidade do solo. Em primeiro
momento, fez-se uma descrição qualitativa seguindo Pfeiffer (1984) e Rivera e Pinheiro (2011)
e, então, os cromatogramas foram submetidos à recém-criada chave de interpretação, a fim de
testá-la e realizar o teste estatístico para detectar as diferenças entre os sistemas.
A partir dos padrões encontrados nos cromatogramas e descritos pela literatura, a chave
de interpretação foi construída. A chave é composta por Categorias, que são as diferentes Zonas
de um cromatograma, os Atributos, que são a forma, a cor e a integração de cada Zona, e os
Cenários, que são as características dentro de cada atributo (Esquema 1).
33
Zona
1 ‒ Organograma
Organograma
Esquema 1 ‒ Organização
da chave
da chave
de interpretação.
de interpretação.
Com o IQS calculado, compara-se ao IQS ordinal que é classificado como segue o
esquema (Esquema 2), a partir da média e desvio padrão dos dados, sendo que 𝑥̅ é a média e σ
é o desvio padrão.
𝑥̅ - 2 σ 𝑥̅ - σ 𝑥̅ 𝑥̅ + σ 𝑥̅ + 2 σ
péssimo regular médio bom ótimo
Com isso, pode-se ordenar os sistemas por qualidade do solo e fazer comparações.
A chave de interpretação deve ser utilizada com uma galeria de imagens, preparada com
os cromatogramas deste trabalho e dos arquivos da autora.
35
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estrutura
12,0
9,0
6,0
Atividade
3,0 Infiltração/compactação
microbiológica
Lichia
Pasto
Bananal
SAF
Matéria orgânica
Mata
Milho
Os sistemas em que a coleta foi dificultada pela compactação foram LC e MC. Eram solos
mais argilosos e mais rígidos. Possivelmente essa compactação em LC deve-se à ausência de
cobertura do solo fora da sombra das árvores, em que se observava apenas pouca braquiária,
que tem menor capacidade para diminuir a velocidade da água da chuva
36
devido ao seu porte, e, de acordo com Richart et al. (2005), o impacto com que as gotas caem
ao chão faz com que ocorra compactação e desagregação do solo. Em MC, a compactação pode
ser resultado da ação mecânica dos tratores sobre o solo. Para Richart et al. (2005), a utilização
de máquinas agrícolas é a principal responsável pela compactação do solo, e isso é devido ao
seu peso e intensidade de uso. Aqui se observou pouca braquiária, em lugares onde haviam
pequenas clareiras. Segundo Balbinot et al. (2008), a capacidade de infiltração de água no solo
é influenciada negativamente pela compactação, e uma de suas principais causas é o excesso
de trafegabilidade de máquinas de grande porte e ausência de cobertura vegetal sobre a
superfície do solo.
Para saber a real compactação e infiltração da água no solo, seria necessário um método
mais sofisticado de análise e ao longo do perfil. O mesmo serve para o indicador Estrutura do
solo, cuja efetividade foi barrada pelo tipo de solo. A MT não apresentou sequer um agregado,
e era difícil fazê-los ao pressionar o solo com as mãos. O solo estava completamente solto, mas
para este caso, parecia ser o ideal, visto que a mata não apresentava dificuldades de crescimento
visualmente. Os sistemas PA, BN e SAF, embora também mais arenosos, conseguiam formar
agregados sobre pressão das mãos e apresentaram alguns agregados.
A Matéria Orgânica, avaliada pela cor do solo, parecia ser mais presente nos sistemas
MT, BN, SAF e PA, nesta ordem, que apresentaram uma coloração marrom mais escura. Nos
três primeiros, não ocorria práticas de remoção dos resíduos vegetais; em PA, houve um
revolvimento em área total do solo, porém ainda havia muita gramínea morta depositada sobre
ele. Nos sistemas LC e MC provavelmente ocorria a presença de óxidos de ferro, devido à sua
cor avermelhada. Em LC não havia tanta expressão de matéria orgânica devido ao espaçamento
largo, que tornava difícil o acúmulo de resíduos vegetais sobre o solo. Em MC, uma expressão
menos acentuada de matéria orgânica deve ter ocorrido, de acordo com trabalho de Niero et al.
(2010), pelo revolvimento constante do solo, seguido de rápida oxigenação dos materiais
37
vegetais. Segundo Nicholls et al. (2004), quando há incremento de matéria orgânica no solo, há
uma consequente melhoria na condutividade hidráulica, atividade biológica e estrutura. Isso
não foi verificado neste trabalho, porém uma análise do comportamento destes outros fatores
frente a aumentos de matéria orgânica e ao longo do tempo e de diversas práticas de manejo
seria interessante.
O SAF foi o sistema que apresentou melhores resultados de qualidade do solo pelos
indicadores de Altieri e Nicholls, possivelmente por sua diversidade de espécies e manejo
agroecológico com adubação verde, seguido por BN, PA e MT. Para BN e PA, é possível que
as recentes práticas de manejo na área, como gradagem, tenham ativado a atividade
microbiológica que, junto ao SAF, foram os sistemas que receberam nota maior neste quesito,
e que isso, aliado à presença de resíduos vegetais sobre o solo, tenha contribuído para o aumento
de sua qualidade. O indicador que reduziu a qualidade inferida para MT foi o Estrutura do solo,
porém foi visto que este não é representativo para a situação estudada. Após, seguem os
sistemas LC, que falhou em Infiltração/Compactação e em Matéria Orgânica, e MC, que teve
sua qualidade reduzida pelos indicadores Matéria Orgânica, Atividade Microbiológica e
Infiltração/Compactação.
dos Minerais, a Intermediária, da Matéria Orgânica, e a Externa ou a Húmica. Pouco traz sobre
a aeração dos solos que estuda, e foca bastante nas cores e, em menor intensidade, às formas.
Rivera e Pinheiro (2011), no entanto, consideram cinco Zonas, na qual a primeira seria a
Zona da Aeração, onde se observa a compactação, a utilização de substâncias químicas de
toxicidade às plantas e aos insetos e a respiração microbiana; as demais Zonas seguem o mesmo
que Pfeiffer (1984), porém acrescenta na Zona Húmica a presença de manchas marrons ou
“nuvens” como algo desejável que indica pronta disponibilidade de nutrientes às plantas; e a
Zona Periférica, que é somente a Zona de manipulação do cromatograma, sem expressão da
qualidade do solo.
Rivera e Pinheiro (2011) discutem a integração das Zonas, que indicaria um solo também
integrado, na qual todas suas características seriam interdependentes.
O bananal possui uma aeração boa, não é compactado, apresenta presença de organismos
aeróbicos, sem aplicação de agrotóxicos, sem excesso de nitrogênio, evidenciados pela
coloração creme da Zona Central. Esta Zona se integra à Zona Mineral com a formação de
pequenas e sutis reentrâncias na próxima Zona. A Zona Mineral se apresenta larga e com
coloração marrom pouco mais clara que a Zona da Matéria Orgânica, com boa integração com
esta, o que indica que o solo está em processo de decomposição, ainda não mineralizado. A
Zona da Matéria Orgânica apresenta terminações irregulares e pouco volumosas, desejáveis.
Na borda do cromatograma, tem-se a Zona Enzimática ou Húmica, em que se observam formas
irregulares com coloração marrom clara e presença de bolhas, o que indica que há uma
cobertura morta sobre o solo. Essas características foram observadas para a amostra 1 desse uso
do solo (Figura 5). Para a amostra 2, houve diferença na Zona dos Minerais, que apresentou
coloração marrom acinzentada em sua extremidade (Figura 11a), indicando início da
mineralização, e na Zona Húmica, uma quantidade mais expressiva de bolhas. A amostra 3
mostrou-se semelhante à 1, só diferiu em menor quantidade de bolhas.
De maneira geral, pode-se dizer que a qualidade do solo de BN está adequada e bem
integrada.
39
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
O pasto inativo apresentou boa aeração, com atributos iguais ao descrito para BN na Zona
Central. As amostras 2 e 3 mostram uma Zona Mineral marrom acinzentada, que se difere bem
da Zona da Matéria Orgânica, indicando um sistema mais mineralizado (Figura 6). A amostra
1, no entanto, está mais integrada e com coloração marrom. As terminações da Zona da Matéria
Orgânica são pontiagudas, de pouco volume quando não atravessam toda a Zona Húmica e
volumosas quando atingem a Zona Húmica, em todas as amostras, não sendo o ideal. A Zona
Húmica de alguns cromatogramas das amostras 1 e 3 possuem uma coloração acinzentada
(Figura 11b), o que se deve a um erro sistemático, cuja origem não foi detectada, e poucas
bolhas. A amostra 2 também possui poucas bolhas e coloração marrom clara nesta Zona. As
formas da Zona Externa são irregulares.
Pode-se dizer que em PA a qualidade do solo é boa, porém inferior a BN. Era esperado
que sua qualidade fosse boa, pois não tem mais influência de pastagem, possui uma cobertura
morta bem espessa e é pouco manejado.
40
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
A lichia apresentou boa aeração, como já descrito para PA e BN, porém a coloração está
mais escurecida que nos demais sistemas já descritos, o que evidencia que um processo de
compactação está em andamento e, assim, é preciso fazer alguma intervenção.
Esse uso do solo precisa receber intervenções para melhoria de sua qualidade que, no
momento, não está adequada. Isso pode ser o resultado da idade do plantio aliado ao
espaçamento pouco denso que não permite acúmulo de material vegetal sobre o solo, que,
acredita-se, desta forma ativaria a atividade microbiológica para melhorar as condições do solo.
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
O sistema agroflorestal possui uma boa Zona Central. Sua Zona Mineral apresenta
coloração avermelhada, em menor intensidade quando comparada à LC, seguida de
acinzentada. Segundo Kokornaczyk et al. (2016), ao estudar a correlação de parâmetros dos
cromatogramas com a análise química dos solos, verificou que formações concêntricas são
indicadores de solos mais pobres, enquanto formações radiais indicam solos com melhores
características. De fato, foi visto que o SAF obtém menor qualidade devido a esse anel
concêntrico, marcado pela coloração acinzentada.
A Zona da Matéria Orgânica está marrom escura e fina, o que significa que o sistema está
mineralizando e pode conter óxidos de ferro, e a matéria orgânica está mais escassa por se ter
uma decomposição mais rápida. Suas terminações são irregulares e de volume variado para
todas as amostras. A Zona Húmica apresenta algumas bolhas (Figura 8).
42
Este solo, em um sistema relativamente novo e com manejo constantes, precisa ser
acompanhado ao longo do tempo para que se verifique as alterações em sua qualidade que, por
se tratar de um manejo agroecológico e com abundância de espécies, espera-se que tenha sua
qualidade melhorada. Sua qualidade do solo é inferior a BN.
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
O milho convencional ou transgênico apresenta boa Zona Central. Sua Zona Mineral é
bem mais clara que a Zona da Matéria Orgânica, e existe um anel de cor marrom avermelhada
entre as duas Zonas, o que indica que ambas não estão bem integradas e harmônicas. A Zona
da Matéria Orgânica é bem fina, com terminações variadas, entre cromatogramas que as
mostram pontiagudas sem atravessar até a borda da Zona Húmica (Figura 11c), e em dois
cromatogramas a Zona Húmica não aparece, porém a causa foi identificada como erro
sistemático pelo preenchimento do papel com a coloração acinzentada, não descrito na literatura
(Figura 11d). A Zona Húmica, quando presente, não apresenta bolhas. Na Figura 9 tem-se um
representante deste solo.
Este sistema é de qualidade inferior quando comparado aos demais, por mostrar uma
condição de estagnação, quando na verdade é manejado anualmente para as culturas agrícolas,
ou seja, o manejo ao qual está submetido não melhora sua qualidade.
43
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
A mata ciliar apresenta boa Zona Central. É o sistema que melhor integra as Zonas
Mineral e da Matéria Orgânica, com cores que pouco se diferem, o que indica que o processo
de decomposição está acontecendo, com ótimo balanço entre quantidade de matéria orgânica e
de minerais. As terminações da Zona da Matéria Orgânica estão bem formadas, irregulares e
com volume adequado, passando pela Zona Húmica que apresenta coloração marrom clara com
pontos marcantes em um marrom mais escuro e presença de bolhas (Figura 10). A qualidade
do solo de MT segue os padrões identificados para solos ideais dos autores referências.
a) central
b) mineral
c) matéria orgânica
d) húmus
Outra característica importante é a presença e a forma das radiações, que foi encontrada
para todos os cromatogramas de maneira ideal. Essas radiações são desenhos em forma de penas
(Figura 11e), de coloração esbranquiçada, que vão desde o início da Zona Mineral até as pontas
da Zona da Matéria Orgânica. Quando o solo é de má qualidade, não se observa qualquer
radiação ou se tem, ao invés de penas, apenas riscos sem ramificações.
As radiações são resultadas do caminho das partículas pequenas que tem que passar pelas
partículas maiores dos minerais e da matéria orgânica. Isso ocorre devido a pouca solubilidade
do hidróxido de prata, produto da oxidação do nitrato de prata, que fica parcialmente preso nos
poros e dificulta o movimento das partículas maiores, que assim ficam retidas na parte mais
interna do cromatograma. Assim, o conteúdo de matéria orgânica também está relacionado a
presença de radiações. Além disso, essas pequenas partículas, ao sair dos canais criados pelas
radiações, formam pequenas manchas na Zona Externa (KOKORNACZYK et al., 2016). As
manchas foram encontradas por Siqueira (2016), indicando a presença de frações húmicas e
substâncias estáveis. Nos cromatogramas estudados, a matéria orgânica e as radiações estão
presentes, variando a cor e a forma da matéria orgânica dependendo do sistema, assim como as
manchas da Zona Externa.
Apesar das diferenças entre os sistemas analisados, é importante dizer que nenhum se
encontra em estado crítico pelos padrões demonstrados em Rivera e Pinheiro (2011).
mecanização. Por isso, esperava-se essa característica reduzisse a qualidade do solo nos
sistemas LC e MC, que de fato ocorreu ao observar os cromatogramas.
Segundo Siqueira (2016), em estudo sobre o efeito de palhada de feijão e milho como
cobertura morta, observou-se a ocorrência de bolhas na Zona Externa nos solos com cobertura.
Esses resultados corroboram os encontrados para este trabalho que encontrou essas bolhas com
maior expressividade nos sistemas com cobertura morta, como a mata ciliar, indicando um
processo da atividade microbiológica de formar e liberar compostos.
É possível que BN esteja em transição para a segunda fase devido a aplicação de EkoSil
® e Yoorin ®, fertilizante potássico com pH alcalino e fertilizante, além de Minho Fértil ®, um
composto orgânico. Ele também tinha boa cobertura sobre o solo, de modo que não há risco de
ficar completamente mineralizado. Já o sistema MC pode estar nessa condição devido ao ciclo
curto e ao manejo convencional, que faz as intervenções no solo com mais frequência, e assim
ativa os micro-organismos.
Nos sistemas PA e SAF foram utilizados Ekosil ®, e no SAF foi adicionado Yoorin ®,
Minho Fértil ® e esterco de curral. A transição em que PA e SAF estão deve-se, provavelmente,
ao recente manejo na área, que fez com que se acelerasse a atividade dos micro-organismos.
Porém, no momento da coleta estavam com uma boa cobertura morta — o pasto tinha sido
roçado e a palhada secava sobre o solo —, o que garante que o solo não fique inteiramente
mineralizado e travado na terceira fase.
O sistema LC também está em transição, mas sua predominância está na segunda fase.
Isso pode ser resultado da aplicação de fertilizantes Ekosil ®, Yoorin ®, Minho Fértil ® e
esterco de curral.
A mata ciliar recebeu as maiores notas, considerando todas as Zonas. As menores notas,
que marcam os valores indicados em mínimo, referem-se aos sistemas lichia, na Zona Central,
sistema agroflorestal na Zona Interna e milho convencional, nas Zonas Intermediária e Externa.
Os valores da média e desvio padrão, no entanto, indicam que nenhum sistema está com sua
qualidade do solo destruída ou de má qualidade.
Nas estatísticas do teste Kruskal Wallis, obteve-se os seguintes resultados (Tabela 3).
Para entender melhor as variações, o gráfico boxplot foi feito para todas as Zonas
(Figura 12).
49
Figura 12 ‒ Boxplot para as quatro Zonas dos cromatogramas, em relação aos sistemas.
O teste mostrou que somente na Zona Central não houve diferença significativa. Na
Figura 12, existe maior variação dos dados em cada sistema e medianas não muito distantes
entre si. Para as demais Zonas, foi preciso fazer a comparação par a par para verificar quais
sistemas diferiam entre si, embora pela Figura 12 seja possível inferir, uma vez que agora as
medianas se diferem muito visualmente e as variações por sistema são menores. O resultado foi
que, na Zona Interna, o sistema agroflorestal se difere da mata ciliar, enquanto todos os outros
são iguais estatisticamente. Para a Zona Intermediária e Externa, o sistema que diferiu da mata
ciliar foi o milho convencional.
Com esses resultados, é possível concluir que a mata ciliar foi uma referência de solo de
boa qualidade, ao considerar o conjunto das Zonas, e que o sistema milho convencional foi o
que apresentou qualidade inferior em relação aos demais.
Para comparar os resultados por sistema dos cromatogramas com os obtidos pelos
indicadores de Altieri e Nicholls, é possível colocar ambos frente ao índice de qualidade ordinal,
que cria uma escala do pior para o melhor solo.
50
Para Altieri e Nicholls, foi encontrada uma média de 30,76 e desvio padrão de 3,21. Esses
valores foram considerados para criação do IQS ordinal e estão apresentados no Esquema 3.
Sistemas IQSAN
Sistema agroflorestal 34,93 Bom
Bananal 32,00 Médio
Pasto 31,80 Médio
Mata ciliar 31,80 Médio
Lichia 28,20 Regular
Milho convencional 25,87 Péssimo
Sistemas IQSCP
Mata ciliar 35,00 Bom
Bananal 31,00 Médio
Lichia 30,44 Médio
Pasto 29,89 Médio
Sistema agroflorestal 28,78 Regular
Milho convencional 27,11 Péssimo
O indicador Estrutura do solo, que foi visto que não refletiu a qualidade do solo para esse
caso, e que por isso causou um rebaixamento da nota para MT, estava relacionado às
integrações entre as Zonas dos cromatogramas. Somente a Zona Externa recebeu nota mínima
no indicador integração, e manteve-se como bom para as Zonas Interna e Intermediária e como
regular (em poucos casos) ou bom para a Zona Central. Isso indica que ele não variou com
expressividade pelos cromatogramas e, portanto, deve ser considerado que todos os sistemas
foram iguais nesse quesito. O IQSAN se difere do IQSCP para MT por causa desse indicador, que
não foi sensível para a realidade amostrada.
O SAF, por sua vez, gerou IQS distantes entre si pelo fato de apresentar nos
cromatogramas uma Zona Mineral marrom acinzentada, que diminuiu consideravelmente sua
nota. Como o IQSAN não diagnostica os minerais, a nota do SAF por ele foi alta em todos os
indicadores, causando essa divergência entre IQSCP e IQSAN.
Para uma melhor visão dos agroecossistemas, recomenda-se que seja feito um estudo pela
Cromatografia de Pfeiffer ao longo do tempo, para sensibilizar o leitor da chave de interpretação
e assim melhor detectar as diferenças dos cultivos. A chave proposta pode ser alterada, a fim
de se adequar as realidades de cada propriedade rural ou aos propósitos de outros estudos.
53
6 CONCLUSÃO
A Cromatografia de Pfeiffer, por sua vez, se mostrou uma técnica eficiente para analisar
a qualidade do solo como um todo, ou seja, considerou as características físicas, químicas e
biológicas do solo. Aliada a chave de interpretação, ela é capaz de se tornar mais sensível às
diferenças encontradas que, em alguns casos, como os que foram estudados neste trabalho,
podem ser sutis.
A fim de melhorar a chave de interpretação, sugere-se que sejam realizados trabalhos para
analisar sistemas de plantio ao longo do tempo. Esse estudo seria especialmente importante para
o caso de propriedades rurais em transição agroecológica, a fim de mostrar as variações na
qualidade do solo dada pelo manejo e assim auxiliar o planejamento e a tomada de decisões.
54
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, F. A. L.; ALVES, C. A. B.; ALVES, P. R. R.; OLIVEIRA, R.; ROSA, J. H.;
FERNANDES, Y. T. D.; NUNES, E. N.; SOUTO, J. S. Caracterização da macro e mesofauna
edáfica sobre um fragmento remanescente de “mata atlântica” em Areia-PB. Gaia Scientia, João
Pessoa, n. 1, v. 8, p. 384-391, 2014.
BAGINETAS, K. N. Defining and assessing soil quality. The farmers’ perspective. In:
Studying, modeling and sense making of planet Earth. University of the Aegean, Grécia, 2008.
BRAGA, G. L. Cromatografia em papel. p. 47-66. In: Collins, C. H.; Braga, G. L.; Bonato, P.
S. (Orgs.). Fundamentos de cromatografia. Editora da Unicamp, Campinas, 453 p., 2006.
55
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências.
BREVIK, E. C. Soil health and productivity. Soils, plant growth and crop production, Paris, v.
1, 2009.
CARTER, M. R. Soil quality for sustainable land management: organic matter and aggregation
interactions that maintain soil functions. Agronomy Journal, v. 94, 2002.
DORAN, J. W. Soil health and global sustainability: translating science into practice.
Agriculture, Ecosystems and Environment, v. 88, p. 119-127, 2002.
56
DORAN, J. W.; PARKIN, T. B. Defining and assessing soil quality. In: Dora, J. W.; Coleman,
D. C.; Bezdick, D. F.; Stewart, B. A. Defining soil quality for a sustainable environment.
Special Publication. Soil Science Society of America, Madison, n. 35, p. 3-21,1994.
DORAN, J. W.; ZEISS, M. R. Soil health and sustainability: managing the biotic componente
of soil quality. Applied Soil Ecology, v. 15, p. 3-11, 2000.
FOLLADOR, B. Portraying soils and compost: color, form and pattern. In Context. The Nature
Institute, Nova York, n. 34, 2015.
JOHNSON, D. L.; AMBROSE, S. H.; BASSETT, T. J.; BOWEN, M. L.; CRUMMEY, D. E.;
ISSACSON, J. S.; JOHNSON, D. N.; LAMB, P.; SAUL, M.; WINTER-NELSON, A. E.
Meanings of environmental terms. Journal of Environmental Quality, Madison, v. 26, n. 3, p.
581-589, 1996.
KARLEN, D. L.; MAUSBACH, M. J.; DORAN, J. W.; CLINE, R. G.; HARRIS, R. F.;
SCHUMAN, G. E. Soil quality: a concept, definition, and framework for evaluation (a guest
editorial). Soil Science Society of America Journal, Madison, v. 61, p. 4-10, 1997.
KINYANGI, J. Soil health and soil quality: a review. Draft Publication, 2007.
57
LAISHRAM, J.; SAXENA, K. G.; MAIKHURI, R. K.; RAO, K. S. Soil quality and soil health:
a review. Internacional Journal of Ecology and Environmental Science, Índia, v. 38, n. 1, p. 19-
37, 2012.
LAL, R. Tillage effects on soil degradation, soil resilience, soil quality, and sustainability. Soil
and Tillage Research, v. 27, p. 1-8, 1993.
LAMBIN, E. F.; TURNER, B. L.; GEIST, H. J.; AGBOLA, S. B.; ANGELSEN, A.; BRUCE,
J. W.; COOMES, O. T.; DIRZO, R.; FISCHER, G.; FOLKE, C.; GEORGE, P. S.;
HOMEWOOD, K.; IMBERNON, J.; LEEMANS, R.; Li, X.; MORAN, E. F.; MORTIMORE,
M.; RAMAKRISHNAN, P. S.; RICHARDS, J. F.; SKANES, H.; STEFFEN, W.; STONE, G.
D.; SYEDIN, U.; VELDKAMP, T. A.; VOGEL, C.; XU, J. The causes of land-use and land-
cover change: moving beyond myths. Global Environment Change, v. 11, p. 261-269, 2001.
VON MÜHLEN, C.; LANÇAS, F. M. Cromatografia unificada. Química Nova, São Paulo, v.
27, n. 5, p. 747-753, 2004.
NICHOLLS, C. I.; ALTIERI, M. A.; DEZANET, A.; LANA, M.; FEISTAUER, D.;
OURIQUES, M. A rapid, farmer-friendly agroecological method to estimate soil quality and
crop health in vineyard systems. Biodynamics, Wisconsin, 33-40, 2004.
NIERO, L. A. C.; DECHEN, S. C. F.; COELHO, R. M.; MARIA, I. C. Avaliações visuais como
índice de qualidade do solo e sua validação por análises físicas e químicas em um latossolo
vermelho distroférrico com usos e manejos distintos. Revista Brasileira de Ciência do Solo,
Viçosa, v. 34, p. 1271-1282, 2010.
PRIMAVESI, A. Manual do solo vivo: solo sadio, planta sadia, ser humano sadio. Expressão
Popular, São Paulo, 2 ed., 105 p., 2016.
RICHART, A.; TAVARES FILHO, J.; BRITO, O. R.; LLANILLO, R. F.; FERREIRA, R.
Compactação do solo: causas e efeitos. Ciências Agrárias, Recife, v. 26, n. 3, p. 321-344, 2005.
ROMIG, D. E.; GARYLYND, M. J.; HARRIS, R. F.; McSWEENEY, K. How farmers assess
soil health and quality. Journal of Soil and Water Conservation, Iowa, v. 50, n. 3, p. 229, 1995.
59
VEZZANI, F. M.; MIELNICZUK, J. Uma visão sobre qualidade do solo. Revista Brasileira de
Ciência do Solo, Viçosa, v. 33, p. 743-755,2009.
WADT, P. G. S.; Pereira, J. E. S.; Gonçalves, R. C.; Souza, C. B. C.; Alves, L. S. Práticas de
conservação do solo e recuperação de áreas degradadas. Embrapa Acre, Rio Branco, 29 p.,
2003.
Zona presente................................................................................................................................................................................................................
A
Zona presente................................................................................................................................................................................................................
A
Bb. Forma circular com borda externa pouco pontiagudas ou grossas ou pouco irregulares ou distância de menos 1,5 cm dos vales da borda .....2
Bc. Forma circular com borda externa de pontas irregulares e distância de pelo menos 1,5 cm dos vales da borda.................................................3
C
Ca. Ausência de radiações e transição da Zona com a Zona anterior marcada por linha.............................................................................................1
63
Zona presente................................................................................................................................................................................................................
A
Ab. Coloração marrom clara com manchas marrons não ou pouco definidas............................................................................................................2
Ac. Coloração marrom muito clara ou amarelada com manchas marrons clara bem definidas.................................................................................3
B
Com todas as notas atribuídas, pode-se preencher a Tabela de Notas para encontrar o Índice de Qualidade do Solo (IQS).
Aa Ab Ac
ausente
Cor negra
ou branca
coloração
Ba Bb Bc
forma
Ca Cb Cc
integração
66
Aa Ab Ac
coloração
Ba Bb Bc
forma
Ca Cb Cc
integração
67
Aa Ab Ac
coloração
Ba Bb Bc
forma
Ca Cb Cc
integração
68
Ba Bb Bc
Dentes, gomos
forma regulares
Ca Cb Cc
integração
69