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03/09/2020 Club de Regatas Vasco da Gama - 93 Anos da "Resposta Histórica" (1924-2017)

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Em 07/04/2017 às 15h05

93 Anos da "Resposta Histórica"


(1924-2017)
93 Anos da "Resposta Histórica" (1924-2017)
No ano de 1923, o Vasco conquistou o seu primeiro título de Campeão Carioca. Com uma
equipe recheada de jogadores das camadas populares, conseguiu desbancar um a um os seus
adversários. Fazendo uma campanha espetacular, a equipe vascaína fez história ao conquistar pela
primeira vez o campeonato com jogadores negros e brancos de baixa condição social, abalando a
estrutura do racismo e do preconceito social vigentes no futebol do Rio de Janeiro, então Capital
Federal.

Devemos recordar que no decorrer da Primeira República (1889-1930), o Rio de Janeiro


exerceu papel preponderante como capital cultural e local das principais decisões políticas e
administrativas do país. Transformado-se no grande centro cosmopolita da nação, os acontecimentos
ocorridos no espaço carioca repercutiam a nível nacional e internacional como em nenhum outro local
do país.

A façanha vascaína revoltou os clubes que comandavam o futebol da Liga Metropolitana e


monopolizavam os títulos de "Campeão da Cidade". Nos primeiros meses de 1924, ocorreu uma cisão
que resultou na criação de outra liga, a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA),
cujos clubes fundadores foram o América FC, o Bangu AC, o Botafogo FC, o CR do Flamengo e o
Fluminense FC.

Baseando-se no discurso falacioso da necessidade de se ter maior controle sobre "a moral no
esporte" e de se defender um futebol que fosse puramente amador, essas elites visavam encobrir a luta
pelo controle de uma entidade que regesse esse esporte e, consequentemente, administrasse os
crescentes recursos financeiros mobilizados em torno da sua prática institucionalizada.

A AMEA convidou o Vasco para participar de seu primeiro campeonato, em 1924. Contudo, as
condições para a sua participação eram extremamente desfavoráveis. A principal exigência era a
exclusão por parte do Clube de 12 jogadores, dentre eles 7 dos que haviam conquistado o campeonato
do ano anterior. Esses homens foram apontados pela Sindicância da nova liga como indivíduos
despossuídos de condições morais para a prática do futebol, baseando-se no critério do analfabetismo
e das condições e natureza das profissões dos jogadores vascaínos.

Os estatutos da AMEA tinham por objetivo impedir que clubes montassem equipes
competitivas com jogadores das camadas populares e, consequentemente, tivessem condições de
conquistar o campeonato, o que o Vasco havia feito.

https://www.vasco.com.br/site/noticia/impressao/14833/93-anos-da-resposta-historica-1924-2017 1/4
03/09/2020 Club de Regatas Vasco da Gama - 93 Anos da "Resposta Histórica" (1924-2017)

Em resposta às exigências preconceituosas da AMEA, o então presidente vascaíno, José


Augusto Prestes, emitiu um ofício comunicando que desistiria de fazer parte da associação por "não se
conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos
consócios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa"
(Ofício nº261, 07 de abril de 1924).

A negativa vascaína em 1924 representou o repúdio total da entidade ao racismo e ao


preconceito social em voga no futebol da Cidade do Rio de Janeiro. Dessa forma, os dirigentes
vascaínos deixaram claro que, enquanto instituição, o Clube não aceitaria essa situação. O Vasco
então, por não acatar as condições que lhe foram impostas, retorna para a Liga Metropolitana de
Desportos Terrestres (LMDT).

Neste mesmo ano, impulsionados pela tentativa dos ditos "grandes clubes" em enfraquecer o
Vasco, os dirigentes vascaínos já debatiam seriamente a compra de um terreno para a construção de
um estádio próprio, enxergado como meio de se obter total autonomia para o Clube.

A força da Instituição, baseada no seu corpo associativo e na capacidade do Clube de atrair


uma grande massa de torcedores, fazia com que o Vasco não pudesse ser relegado pelos demais.
Durante o campeonato de 1924, continuava a levar multidões aos estádios, demonstrando a sua
pujança. O Vasco conquistaria de forma invicta o Campeonato Carioca, o primeiro dos seis que
ostenta atualmente, sagrando-se Bicampeão (1923-1924).

Os clubes fundadores da AMEA, ao verem que mesmo fora de um campeonato organizado por
sua liga o Vasco mantinha-se forte, não encontraram outra solução senão a de ter que convidá-lo
novamente para fazer parte dessa associação. Como consequência, o Clube passou a fazer parte da
AMEA no ano de 1925, com status de clube fundador e podendo contar com todos os seus jogadores,
inclusive, os atletas negros.

Em defesa de sua política de seleção de jogadores sem quaisquer discriminações e no intuito


de se ver livre dos onerosos alugueis de estádios, o Vasco adquiriu o terreno para a construção da sua
"própria casa", em 28 de março de 1925. Assim, o surgimento de São Januário está intrinsecamente
ligado à luta do Vasco em prol de um futebol sem distinção de raça ou condição social. O Estádio
Vasco da Gama, inaugurado em 21 de abril de 1927, então o maior estádio da América do Sul, é uma
demonstração cristalina da força da Instituição e de seu ímpeto em levar a cabo os seus ideais.

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03/09/2020 Club de Regatas Vasco da Gama - 93 Anos da "Resposta Histórica" (1924-2017)

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03/09/2020 Club de Regatas Vasco da Gama - 93 Anos da "Resposta Histórica" (1924-2017)

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.


Officio No 261
Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,
M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos
poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da
Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas
defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de
grande numero dos nossos associados.
Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será
exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso
protesto contra as citadas resoluções.
Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por
unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o
processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação
levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da
nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que
tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto
publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os
acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da
A.M.E.A.
Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de
subscrever
De V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.

(a) José Augusto Prestes


Presidente

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