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PROBLEMA DO MAL

Darlley Brasil de Brito Furtado

O problema do mal tem 2 versões: sentimental, e intelectual. A versão “intelectual”


por sua vez se ramifica também na lógica, probabilística e evidencial. O problema na versão
sentimental é a mais corriqueiras, se você está sentimentalista, fragilizado emocionalmente
por uma perda ou acontecimento, uma resposta objetiva, que leve em consideração o princípios
elementares das regras da lógica, para estas questões é sempre fria, ao passo que uma resposta
emotiva parece ser sempre rasa. Ou seja, o problema do mal em sua versão emitida durante
um estado psicológico de fragilidade é simplesmente uma questão difícil por estar alicerçada
sobre o espirito da pessoa, e de nós não termos a capacidade do conhecimento de Deus ou de
suas motivações. Como recomenda o filósofo William Lane Craig, “É aí que, talvez,
simplesmente ser um amigo amoroso seja o melhor evangelismo.” [O LODAÇAL ATEÍSTA]

O problema lógico do mal foi amplamente conhecido primeiramente pelo Paradoxo


de Epicuro. Pela lógica interna do mesmo, o paradoxo de Epicuro não poderia ser chamado de
“paradoxo”: embora resulte em uma estrutura cíclica, existe uma solução da questão, apenas
não há consenso acerca dela. Em um paradoxo ocorre uma impossibilidade lógica da resolução,
aqui a lógica é bem simples: ou a divindade
em questão não pode acabar com o mal ou
não quer, portanto, ou ele é limitado ou é
sádico.

Para trata-lo devemos considerar diversos


pressupostos que devido esclarecimentos
deixam de ser tão óbvios quanto aparentam
ser, por exemplo, “o mal existe”, de acordo
com Santo Agostinho, isto não é verdade
(veja a resposta de Santo Agostinho ao
problema do mal abaixo); outro pressuposto
é o da onipotência como sinônimo de fazer
tudo, até mesmo impossibilidades lógicas,
algo que São Tomás de Aquino nega (leia
também).

Contemporaneamente, o problema
lógico do mal foi tratado por Alvin Plantinga
numa defesa ao livre arbítrio. Filósofos,
dizem que o problema foi devidamente resolvido por Plantinga. Nas palavras de William Lane
Craig, filósofo teísta:

Não há nenhuma incompatibilidade necessária entre a presença de um Deus todo-bondoso


e todo-poderoso e a presença do mal no mundo. Estou extremamente seguro em lhe relatar
que, após séculos de discussão, a filosofia contemporânea tem reconhecido esse fato. E
agora amplamente admitido que o problema lógico do mal foi resolvido. (Louvado seja o
Senhor por filósofos cristãos como Alvin Plantinga, a quem este resultado é devido!).
Não somente filósofos teístas, mas teístas testificam tal feito. J. L Mackie diz, “podemos
concordar que o problema do mal, no final das contas, não mostra que as doutrinas centrais do
teísmo são logicamente inconsistentes”, William L. Rowe diz, “alguns filósofos tem dito que a
existência do mal é logicamente inconsistente com a existência de Deus teísta. Acredito que
ninguém conseguiu comprovar uma declaração tão extravagante”, e por fim William P. Alston,
“Já é conhecido em quase todos os lados que o argumento lógico está falido” (veja a resposta de
Alvin Plantinga ao problema do mal abaixo).

[1] https://pt.reasonablefaith.org/artigos/pergunta-da-semana/lodacal-ateista/

O DILEMA DE EUTIFRON

Os deuses irão fazer alguma coisa porque isso é bom,


ou algo é bom porque os deuses determinam?
EUTÍFRON, Sócrates

Deste simples questionamento resultam 3 teorias éticas. Do Dilema de Eutifron,


resultam 3 teorias éticas, mas originalmente tinha-se em mente somente 2 possibilidades
acerca da natureza de um Deus, mas contemporaneamente ele é chamado de falso dilema pois
limita somente a estas duas possibilidades, mas existe uma terceira, desta forma, dada as
possibilidades, o dilema deixa de ser uma estrutura do tipo A v ~A (A ou não-A), onde a
existência somente de duas alternativas são mutuamente excludentes. Antes, havendo uma
terceira alternativa (a saber: Deus deseja algo por que Ele é bom), sua estrutura correta é do
tipo A v B v C (A ou B ou C).

As teorias éticas da natureza divina são:

1. Exemplarismo: os deuses fazem algo porque é bom, a moral é independente deles. Deus
quer algo porque é bom; valores morais objetivos existem, bem e mal são realmente
objetivos mas, Deus não é o fundamento deles. No exemplarismo Deus está abaixo de uma
lei externa a Ele, a lei é boa independente de Deus.

2. Voluntarismo: Algo é bom porque os deuses determinam, a moral é arbitraria aos deuses.
Se algo é bom porque Deus quer, não existem valores morais objetivos, bem e mal são
determinados pela vontade de Deus. No voluntarismo Deus está acima da lei, uma lei é boa
porque Deus quer que ela seja boa

3. Essêncialismo: Deus quer algo porque Ele é bom. No essencialismo, Deus é a lei, Deus emite
uma lei boa por que Ele é bom.
Tanto o essencialismo como no exemplarismo, Deus decreta uma lei porque essa lei é boa,
no entanto, a bondade do exemplarismo está fora de Deus, e no essencialismo está no
próprio Deus, mas anterior à promulgação do comando divino.

https://questoesultimas.blogspot.com/2019/01/algo-e-bom-porque-deus-quer-ou-
deus.html

PRESSUPOSTOS LÓGICOS

 Devemos ter em mente que duas coisas são necessárias para que aceitemos que uma
determinada coisa possa existir: ausência de incoerência e ausência de contradições
lógicas.

 Noção de mundos possíveis: a linguagem dos mundos possíveis é um recurso utilizado em


lógica modal que foi desenvolvido pelo filósofo Leibniz. Se uma situação é possível de
ocorrer, ou de ter ocorrido, dizemos que ela é possível em algum mundo (não
literalmente, somente um recurso lógico, como são os conjuntos em matemática). Ou
seja, em um mundo possível, Hitler ganhou a segunda guerra mundial, os Beatles não se
separaram, Michael Jackson nunca existiu, etc., etc. são situações hipotéticas e não se
deve confundir com o mundo real. Desta forma, devemos entender a ideia de mundos
possíveis como “mundos logicamente possíveis”, isto é, não há o por que negar que seria
uma situação possível de ter ocorrido.

 Propriedades de Ser ou objeto impossível (não existe em nenhum mundo possível),


contingente (existe em alguns mundos possíveis), necessário (existe em todos os
mundos possíveis).

 A Lógica modal é uma lógica de possibilidade (representada pelo símbolo ◊) e


da necessidade (representada pelo símbolo □). Ela foi apresentada brevemente no artigo
anexado em “mundos possíveis”, logo acima.
https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE/GabrielPrimo%2
863-71%29.pdf

RESPOSTAS

Por mais de 2 mil anos, desde os antigos filósofos gregos, o problema do mal vem sendo
tratado, e diversas respostas foram oferecidas. Faço uma apresentação abaixo de algumas
destas respostas dado a cosmovisão cristã.

1. AUTORES BÍBLICOS

Os próprios autores bíblicos não fogem do tema da relação entre Deus e o mal. O
profeta Habacuque queixou-se,

Tu, que tens olhos tão puros que não podes ver o mal, nem contemplar a perversidade,
por que olhas para os que procedem traiçoeiramente e te calas enquanto o ímpio destrói
aquele que é mais justo do que ele? (1:13).

E Gideão perguntou, Ai, Senhor meu, se o Senhor é conosco, por que todo este
[sofrimento] nos sobreveio? (Juízes 6:13).

Agora se manifestou uma justiça que provém de Deus, independente da lei, da qual
testemunham a Lei e os Profetas, justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para
todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória
de Deus [condição de mal consumado], sendo justificados gratuitamente por sua graça,
por meio da redenção que há em Cristo Jesus. Deus o ofereceu como sacrifício [Deus
aplicou o mal em si mesmo] para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue,
demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados
anteriormente cometidos [o mal de um não é punido diretamente a fim de permitir
chance para arrependimento]; mas, no presente, demonstrou a sua justiça [em Cristo],
a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. (Romanos 3:21-26, NVI)

Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem
choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou”. (Apocalipse 21:4)

mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser
revelada no último tempo. Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de
tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique
comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo
que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus
Cristo for revelado. (1 Pedro 1:6-7)

Ou seja, Deus conhece e sabe de nossas aflições, e isto evidencia que há um propósito
para tais acontecimentos.
https://considereapossibilidade.wordpress.com/2016/07/05/o-paradoxo-de-
epicuro-nao-e-bom-argumento-ateista/amp/

2. SENTIDO DA VIDA

O Cristianismo não afirma que o sentido da vida é a felicidade, mas o conhecimento de


Deus.

Primeiramente, o propósito principal da vida não é a felicidade, mas o conhecimento de


Deus. A razão pela qual o problema do mal parece tão intratável é que as pessoas
tendem naturalmente a presumir que, se Deus existe, então seu propósito para a vida
humana é a felicidade neste mundo.

O papel de Deus é fornecer um ambiente confortável para seus bichinhos de estimação


humanos. Contudo, isso é falso na visão cristã. Não somos bichinhos de estimação de
Deus, e o objetivo da vida humana não é a felicidade per se, mas o conhecimento de Deus
-, que, no final, trará a verdadeira e duradoura satisfação humana.

FILOSOFIA E COMOVISÃO CRISTÃ


J. P. Moreland e William Lane Craig, pg. 661.

Muitos males ocorrem na vida que podem ser totalmente sem propósito em relação à
produção da felicidade humana; mas eles podem não ser sem propósito em relação à
produção de um conhecimento mais profundo de Deus. Dostoiévski, que afirmou o
problema do mal tão vigorosamente, contemplou essa questão e procurou responder ao
problema em seus romances através da descrição de personagens que, através do
sofrimento, cresceram em piedade e santidade. O sofrimento de seres humanos
inocentes proporciona uma ocasião para uma dependência mais profunda de Deus e de
mais confiança nele, seja da parte do sofredor ou daqueles ao redor dele. De fato, se o
propósito de Deus é alcançado através de nosso sofrimento, isso vai depender de nossa
resposta. Respondemos com ira e amargura em relação a Deus, ou nos voltamos para
ele em fé pedindo força para suportar?

APOLOGÉTICA PARA QUESTÕES DIFICEIS DA VIDA


William Lane Craig, p. 101.

3. PURITANOS

Na visão Puritana, Deus simplesmente criou o mal, mas mesmo assim não deixa de
ser Deus, uma apropriação das respostas dos calvinistas Gordon Clark e Vincent Cheung,
que veremos logo abaixo.

Muitos chamam de “hiper-calvinismo” aquilo que é e sempre foi o calvinismo ortodoxo.


Nenhuma criatura é e nunca foi, de algum modo, livre de Deus; isso é dualismo (Alan
Myatt).

Portanto, não adianta recorrer à lista de termos como “paradoxos bíblicos”, “vontade
permissiva", “decreto permissivo" (isso é que é um belo exemplo de paradoxo!), pois nada
disso coaduna com a consistência e lógica das Escrituras. Obviamente que Deus não
transgride e nem peca, pois Ele é a Lei (ex-lex). Deus não faz o que é mal, pois isso é
atribuído somente aos seres criados. Somente criaturas pecam, e é assim porque foi
decretado, peremptoriamente, por Deus que assim seja. Ele decide e decreta ativamente
o bem e o mal em suas criaturas, como lhe aprouver, e isso é bom, simplesmente porque
é Deus quem faz. Deus é bom e o homem é mal e responderá perante Deus pela sua
rebelião. O homem reluta em admitir tal verdade, pois, de alguma forma, quer manter
algum tipo de controle sobre o bem e o mal, por vezes até fazendo mau uso da Bíblia. Ele
sai em 'defesa de Deus' (como se um verme fosse capaz disso) dirimindo verdades
incontestes das Escrituras, e ao declarar que Deus "permite" o mal, pensa poder "livrar"
o Criador de ser mal visto pelos vermes. Ora, Deus se mostra como Ele é (Eu Sou o que
Sou), pela Sua própria Palavra. Ele já respondeu com precisão! Quem somos nós para
dizer que Sua resposta é um “paradoxo”?"

TEOLOGIA PURITANA

4. GORDON CLARK

Na visão do calvinista Gordon Clark, uma abordagem voluntarista, Ele faz distinção
entre causa primária e secundária, ou simplesmente entre causa e autoria. Ele diz que a
autoria nesse caso seria aplicável a causa secundária: ele admite Deus como causa
primária, porém moralmente irresponsável, somente a partir da causa secundária que a
responsabilidade moral passa a existir. Em outras palavras, Ele entende responsabilidade
como sendo sinônimo de prestar contas, isto é, Deus não é responsável no sentido que
ele não tem que prestar contas das ações dele diante de ninguém. Além disso, para Clark
Deus causa o pecado, mas não é autor do pecado, pois não é ele mesmo quem pratica o
mal moral.

O que Deus decreta é certo, simplesmente porque Deus decreta; Deus não comete
erros. Deus, afirma as Escrituras, não se justifica perante ninguém: “Ele não presta contas
de Seus atos” (Jó 33:13). Ele é o legislador (Is 33:22); o homem está sob a lei. Deus não
tem que se explicar com ninguém; Ele é ex lex (“acima da lei”), enquanto o homem
está sub lego (“debaixo da lei”). Os Dez Mandamentos são obrigação para o homem, não
para Deus. A única precondição para a responsabilidade é que um legislador – neste caso,
Deus. Desse modo, o homem é necessariamente responsável pelo seu pecado, porque
Deus o tem como responsável; o que Deus faz, é justo por definição, e Deus encontra-se
completamente livre da acusação de ser o autor do pecado.

Deus não é responsável nem pecaminoso, embora seja a única causa suprema de tudo.
Ele não é pecaminoso porque, em primeiro lugar, tudo quanto Deus faz é justo e reto. É
justo e reto simplesmente em virtude do fato de ser ele quem faz. Justiça ou retidão não
é um padrão externo a Deus, ao qual ele está obrigado a se submeter. Retidão é aquilo
que Deus faz. Uma vez que Deus causou Judas a trair Jesus [preordenando tal evento],
esse ato causal é reto e não pecaminoso.
Por definição, Deus não pode pecar. Neste ponto deve ser particularmente indicado que
Deus causar um homem a pecar não é pecado. Não há lei, superior a Deus, que o proíba
de decretar atos pecaminosos. O pecado pressupõe uma lei, pois o pecado é ilegalidade.
Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão
dessa lei. Mas Deus é "Ex-lex".

É verdade que se um homem, um ser criado, causasse ou tentasse causar outro homem
a pecar, essa tentativa seria pecaminosa. A razão é imediata. A relação de um homem
com outro homem é totalmente diferente da relação de Deus com qualquer homem.
Deus é o criador; o homem é uma criatura. E mais, a relação de um homem com a lei é
igualmente diferente da relação de Deus com a lei. O que vale numa situação não vale
na outra. Deus tem direitos absolutos e ilimitados. sobre todas as coisas criadas. Da
mesma massa ele pode fazer um vaso para honra e outro para desonra. O barro não tem
direitos sobre o oleiro. Entre homens, pelo contrário, os direitos são limitados.

A ideia de que Deus está acima da lei pode ser explicada em outro particular. As leis que
Deus impõe aos homens não se aplicam à natureza divina. Elas são aplicáveis somente
a condições humanas. Por exemplo, Deus não pode roubar, não somente porque tudo
quanto ele faz é certo, mas também porque é dono de tudo; não há ninguém de quem
roubar. Assim a lei que define o pecado visa condições humanas e não tem relevância
para um criador soberano.

DEUS E O MAL – O PROBLEMA RESOLVIDO


Gordon Clark, p. 81, 82.

https://bereianos.blogspot.com/2014/04/o-problema-do-mal.html?m=1
http://repositorio.unb.br/handle/10482/22986

5. VINCENT CHEUNG

Na visão do calvinista Vincent Cheung, uma abordagem voluntarista, Deus é o autor


do mal. Mas Ele tem boas razões para permitir o mal, ou ele ainda ira acabar com o mal
definitivamente.

Deus controla tudo o que existe e tudo o que acontece. Não há nada que aconteça que
Ele não tenha ativamente decretado — nem mesmo um simples pensamento na mente
do homem. Visto que isto é verdadeiro, segue-se que Deus decretou a existência do mal;
Ele não o permitiu meramente, como se algo pudesse se originar e acontecer aparte de
Sua vontade e do Seu poder. Visto que temos mostrado que nenhuma criatura pode fazer
decisões completamente independentes, o mal nunca poderia ter começado sem o
decreto ativo de Deus, e não poderia continuar nem por um momento aparte da vontade
de Deus. Deus decretou o mal, no final das contas, para a Sua própria glória, embora não
seja necessário conhecer ou declarar esta razão para defender o Cristianismo do
problema do mal.

O argumento geralmente utilizado para o problema do mal é da seguinte forma:


1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.
2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, o Deus cristão não existe.

No entanto a conclusão (5) não se segue necessariamente das premissas. Por exemplo, por
qual definição de amor sabemos que um Deus todo-amoroso desejaria destruir o mal? Ou,
por qual definição de amor sabemos que um Deus todo-amoroso já teria destruído o mal?
Formar um argumento usando uma definição não-bíblica de amor seria fazer o argumento
irrelevante como um desafio ao Cristianismo. Por outro lado, se tomamos a definição de
amor da Bíblia, então, aquele que usa este argumento deve mostrar que a própria Bíblia
define amor de uma forma que requer um Deus todo-amoroso destruir o mal, ou já ter
destruído o mal. Embora a Escritura ensine que Deus é amoroso, ela também ensina que
existe mal no mundo, e que este mal está, no final das contas, debaixo do controle completo
e soberano de Deus.

Portanto, a própria Escritura nega que haja qualquer relação entre o amor de Deus e a
existência do mal, desta forma, outras conclusões são igualmente suportadas pelas
mesmas premissas:

1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.


2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus tem um bom propósito para o mal.

1. O Deus cristão é todo-poderoso e todo-amoroso.


2. Se Ele é todo-poderoso, então Ele é capaz de acabar com todo mal.
3. Se Ele é todo-amoroso, então Ele deseja acabar com todo mal.
4. Mas o mal ainda existe.
5. Portanto, Deus eventualmente destruirá o mal.

http://www.monergismo.com/textos/problema_do_mal/mal_cheung.htm

6. MODELO DA AUTORIA

À luz da distinção Criador-criatura, devemos reconhecer que a causalidade divina é


de uma ordem totalmente diferente da causalidade das criaturas. A causalidade de Deus
não é como se fosse um tipo de efeito dominó. Um modelo muito mais adequado seria o
que poderíamos chamar de Modelo de Autoria da Providência. Nesta maneira de pensar,
os atos de criação e providência de Deus são análogos à criação humana de um romance.
No nível fundamental, o autor determina tudo o que ocorre em seu romance. Ele cria o
mundo, circunstâncias e personagens com determinadas personalidades e papéis no
enredo geral. Alguns dos personagens podem cometer ações moralmente condenáveis,
até perversas - ações que o próprio autor desaprova, mas que são necessárias para o
objetivo da história e seu resultado.
O modelo de autoria ensina que Deus é o autor de toda a história, incluindo das ações
malignas de suas criaturas. Porém, ele é autor em um sentido moralmente inofensivo.
Pois o autor desaprova e não prática atos malignos. Assim, podemos dizer que as
criaturas, no sentido intramundano, causam o mal, mas Deus nunca, no sentido
intramundano, causa o mal. Deus, no entanto, no sentido autoral, causa as criaturas que,
no sentido intramundano, são causadoras do mal. Mesmo que seja errado no sentido
intramundano causar o mal ou causar outras pessoas causarem o mal, tal princípio não se
aplica à causalidade divina. A causalidade divina é sui generis. Ela opera em um nível
diferente da causalidade intramundana. Ela é única em vários aspectos. A causalidade
divina cria coisas do nada, sustenta e destrói as coisas da existência. Além de serem
atemporais e não-espaciais. Propriedades que a causalidade intramundana não exibe.

https://bereianos.blogspot.com/2018/04/o-calvinismo-torna-deus-o-autor-do.html?m=1

7. VONTADE DECRETIVA E PERMISSIVA

Há certas coisas que Deus tem positivamente pré-ordenado, mas outras coisas que
Ele meramente tolera existir ou acontecer. Deus pode ter decretado a existência e
atividades do pecado sem Ele mesmo ser o Autor do pecado. Tal distinção é também
chamada de vontade secreta e revelada, ou vontade dispositiva e preceptiva.

A vontade revelado de Deus é feita conhecida em Sua Palavra, mas Sua vontade
secreta são Seus próprios conselhos encobertos. A vontade revelada de Deus é o
definidor de nosso dever e o padrão de nossa responsabilidade. A vontade revelada de
Deus é freqüentemente contrariada, mas Sua vontade secreta nunca é frustrada.

Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da
prostituição (1 Tessalonicenses 4:3);

Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à sua vontade?
(Romanos 9:19);

A primeira passagem refere-se à vontade revelada de Deus, a última à Sua vontade


secreta. A primeira passagem concerne a nosso dever, a última declara que o propósito
secreto de Deus é imutável e deve acontecer não obstante a insubordinação das Suas
criaturas. A vontade revelada de Deus nunca é perfeitamente ou completamente
realizada por alguém de nós, mas Sua vontade secreta nunca falha na consumação até
mesmo no mais minucioso detalhe. Sua vontade secreta concerne principalmente a
eventos futuros; Sua vontade revelada, nosso dever presente: uma tem que ver com Seu
irresistível propósito, o outro com Seu agrado manifestado: uma é elaborada sobre nós e
realizada através de nós, a outra é para feita por nós.

Quão freqüentemente os homens traçam uma astuta distinção entre o que é


desejável em sua própria natureza, e o que não é desejável considerando todas as coisas.
Por exemplo, o pai carinhoso não deseja simplesmente considerar punir seu filho
ofensivo, mas, considerando todas as coisas, ele sabe que este é o seu dever obrigatório,
e assim corrige seu filho. E embora ele conte ao seu filho que ele não deseja castigá-lo,
mas que ele está certo que isto é o melhor ao fazer considerando todas as coisas, então
um filho inteligente verá que não há inconsistência entre o que o pai diz e faz. Exatamente
assim o Criador Todo-sábio pode consistentemente decretar acontecer coisas que Ele
odeia, proibir e condenar. Deus escolhe que algumas coisas existem que Ele odeia
completamente (na intrínseca natureza delas), e Ele também escolhe que algumas coisas,
todavia não existam, as quais Ele ama perfeitamente (na intrínseca natureza delas).

Deus nos manda sermos perfeitamente santos nesta vida (Mateus 5:48), porque isto
é justo na natureza das coisas, mas Ele decretou que nenhum homem será perfeitamente
santo nesta vida, porque é melhor, considerando todas as coisas, que ninguém seja
perfeitamente santo (experimentalmente) antes de deixar este mundo. Santidade é uma
coisa, o acontecimento da santidade é outra; assim, pecado é uma coisa, o
acontecimento do pecado é outra. Quando Deus requer santidade, Sua vontade
preceptiva ou revelada considera a natureza ou excelência moral da santidade; mas
quando Ele decreta que a santidade não ocorra (completa e perfeitamente), Sua vontade
secreta ou decretiva considera somente o evento de que ela não ocorre. Assim,
novamente, quando Deus proíbe o pecado, Sua vontade preceptiva ou revelada considera
somente a natureza ou o mal moral do pecado; mas quando Ele decreta que o
pecado ocorrerá, Sua vontade secreta considera somente sua real ocorrência para servir
o Seu bom propósito. Portanto, a vontade secreta e revelada de Deus considera objetos
inteiramente diferentes.

Portanto, Ele decreta a entrada de pecado no Seu universo, embora Sua própria
natureza santa odeie todo pecado com infinita repulsa, todavia, porque este é um dos
meios pelos quais Ele apontou o fim para ser alcançado, Ele tolera a entrada dele. A
vontade revelada de Deus é a medida de nossa responsabilidade e o determinante de
nosso dever. Com a vontade secreta de Deus nós não temos nada para fazer: esta é de
Sua incumbência. Mas Deus, sabendo que falharemos em fazer perfeitamente Sua
vontade revelada, ordenou Seus eternos conselhos conseqüentemente, e estes eternos
conselhos, que aconteça Sua vontade secreta, embora desconhecida para nós, embora
inconscientemente, cumprida em e através de nós. Os mandamentos das Escrituras
declaram a vontade revelada de Deus, e algumas vezes Deus não quer impedir a quebra
daqueles mandamentos, porque Ele na realidade não o impede. E que Deus quer permitir
o pecado é evidente, porque Ele o permite.

8. JOÃO CALVINO

Deus é causa primeira, e o motor imóvel que move todo o resto (causa segunda),
sendo assim, Ele determina os atos maus, porém, não é mau. Ele é responsável pelo agir
e não pelo pecar.

E, indago eu, donde provém o mal cheiro em um cadáver que, pelo calor do sol, não só se
fez putrefato, mas até já entrou em decomposição? Todos vêem que isso é provocado
pelos raios do sol; contudo, ninguém por isso diz que eles cheiram mal. Daí, como no
homem mau residem a matéria e a culpa do mal, que razão há para que se conclua que
Deus contrai alguma mácula se, a seu arbítrio, ele faz uso de sua atuação?
INSTITUTAS, João Calvino, 1.17.5

A luz divina é o poder para energizar o homem (causa primeira), e o cadáver


representa o homem de natureza depravada (causa segunda), quando a energia de Deus
o move, ele irá exalar sua podridão, se a mesma luz incide sobre um corpo vivo, ele produz
vida, saúde etc. (isso acontece porque a causa segunda é movida de acordo com a
natureza que lhe é própria). Observamos claramente que o problema não está na luz, mas
na natureza do corpo a ser atingido, a mesma luz sobre dois corpos, dois resultados
diferentes. Assim, a determinação dos atos maus acontece por causa da natureza do
corpo a ser movido, se o corpo é morto, ele apodrece, se é um corpo vivo, ele se torna
mais vivo.
Em sua obra Contra os Libertinos ao diferenciar a providência geral (indiferente por
mover as causas secundárias de acordo com a própria natureza delas), da particular
(infusão do material pelo qual Deus intervém para que se faça aquilo que é de sua vontade
ética). Aliás, é justamente essa a diferença entre um decreto ativo e um decreto
permissivo. O primeiro se trata de uma providência particular, o segundo, de uma
providência geral. No primeiro, Deus infunde o material que dá forma ao ato, como por
exemplo, o decreto da eleição, que só se executa com a regeneração, ou seja, por uma
ação particular de Deus. No segundo, Deus não infunde o material a dar forma ao ato, por
ele já existir no agente livre, como no caso dos atos maus. Então para os atos maus,
embora seja da vontade de Deus, Ele permite por não impedir a atividade da criatura.
Embora seja chamado de decreto permissivo, de forma alguma há uma passividade de
Deus, pois a atividade de Deus é positiva, pois não quer impedir que o pecado aconteça.
Como Calvino diz: Primeiro de tudo, há uma operação universal pela qual Ele guia todas
as criaturas de acordo com a condição e propriedade que Ele deu a cada um quando Ele
as fez. A providência geral é indiferente e portanto permissiva, e é com essa providência
que Deus ordena os atos maus, mas somente no sentido de tornar certo, pois conserva e
move as coisas fornecendo a energia sem as quais elas nem existiriam. Calvino deixa claro
que Deus não é causa formal dos atos maus, nem é de sua aprovação ética que o ato mau
aconteça, quando diz:

Primeiro, deve ser observado que a vontade de Deus é a causa de todas as coisas que
acontecem no mundo; e, todavia, Deus não é o autor do mal ...a causa imediata é uma
coisa, a causa remota é outra... certas pessoas sem-vergonha e mesquinhas nos acusam
com calúnia de sustentar que Deus é o autor do pecado, se sua vontade é considerada
a causa primeira de tudo o que acontece.

QUEM É O AUTOR DO PECADO?, Calvino apud Wright, R. K. M.G.

Deus é apenas causa primeira, e não a causa imediata e, portanto, não é causa formal,
não sendo, portanto, a causa física, pois não infunde o mal, senão que usa o mal já
existente no agente livre, o mesmo explica o porquê da justiça divina, onde Calvino diz
que está na criatura a matéria de sua condenação, ou seja, do mal:

Pois, se a predestinação outra coisa não é senão a administração da justiça divina,


embora oculta, porém irrepreensível, uma vez que é certo que não eram indignos de sua
predestinação para tal fim, também é igualmente certo que a ruína em que caem pela
predestinação divina é justa. Além disso, sua perdição de tal maneira pende da
predestinação divina, que ao mesmo tempo há de haver neles a causa e a matéria dela.

INSTITUTAS, Calvino 3.23.8

O reformador também deixa claro que quando Deus age no homem para que o
mesmo peque, é para executar juízo, e o juízo se dá porque esses homens já são maus.
Deus não coloca maldade nesses homens, ele os pune usando sua própria maldade. Como
o material da maldade já está no homem, Deus ao movê-los, torna o pecado certo, e o
pecado já atrai a desgraça por si só, e o homem se afunda na própria lama. Assim, o
exegeta cita que Absalão violou as concubinas do pai [2Sm 16.22], Deus quis com esse
ato infamante punir o adultério de Davi15 , lembrando que Absalão era mau. Também
cita que Deus queria punir os filhos de Heli com a morte. Para Calvino, o mal acontece ou
pelo juízo divino, ou para alcançar um bem maior, nunca se é dito sobre Deus que ele cria
o mal moral, ou que ele simplesmente faz o homem pecar porque se agrada o pecado do
homem, ou que ele coloca o material da maldade no homem. Calvino afirma:

Conforme a primeira noção, assim se diz: “Se qualquer profeta houver falado
enganosamente, eu, Deus, o enganei” [Ez 14.9]; conforme a segunda, porém, diz-se que
ele próprio entrega os homens a uma disposição réproba e os lança a vis apetites [Rm
1.28],porquanto de sua justa vingança ele é o principal autor; Satanás, na verdade, é
apenas seu ministro.

INSTITUTAS, Calvino 3.23.8

Calvino deixa isso claro quando em outro lugar afirma categoricamente que Deus age
por necessidade de sua santidade, de sua natureza que é boa:

Mas, se alguém lhes pergunta: Porventura Deus não é necessariamente bom?


Porventura o Diabo não é necessariamente mau? Que responderiam? Ora, a bondade de
Deus é a tal ponto entrelaçada com sua divindade, que não lhe é mais necessário ser
Deus do que ser bom. O Diabo, porém, em decorrência de sua queda, a tal ponto se
alienou da comunhão do bem, que nada pode fazer senão o mal. Porque, se algum
sacrílego resmunga que a Deus se deve pouco de louvor por sua bondade, a qual ele é
compelido a conservar, não se lhe dará uma resposta imediata, a saber: que ele não pode
fazer o mal em razão de sua imensa bondade, não por forçosa compulsão? Portanto, não
se impede que a vontade de Deus seja livre em fazer o bem, só porque ele por necessidade
opera o bem; se o Diabo, que outra coisa não pode fazer senão o mal, entretanto peca
por vontade, quem por isso dirá que o homem peca menos voluntariamente, uma vez que
está sujeito à necessidade de pecar?

INSTITUTAS, Calvino 1.3.5

Devemos distinguir mal do pecado e também distinguirmos a autoria transcendental


do mal e a autoria do mal no nosso mundo. Quanto ao primeiro ponto, por mais que mal
e pecado pareçam ser a mesma coisa, eles não são! O mal só se confunde com o pecado
se for um mal moral, mas o mal natural não se confunde com o pecado, mas tem relações
causais em sua origem.
Neste sentido, Deus é o autor do mal no mundo, mas nunca do pecado. O mal é o
meio pelo qual Deus pune o mundo pecador, mas não se deve atribuir a Deus os atos
pecaminosos das pessoas, que podem ser apropriadamente chamados de maus.

https://questoesultimas.blogspot.com/2018/08/se-deus-determina-os-atos-maus-
como-ele.html?m=1
https://questoesultimas.blogspot.com/2019/01/algo-e-bom-porque-deus-quer-ou-
deus.html?m=1
https://questoesultimas.blogspot.com/2018/08/quem-e-o-autor-do-mal-ha-um-
decreto-de.html?m=1

9. JOHN FRAME

Nas abordagens de Gordon Clark e Vincent Cheung, o pressuposto é o voluntarismo,


Jhon Frame, discorda de tais abordagens defendendo uma essencialista, ou seja, para
Frame, a lei reflete o próprio caráter de Deus.

O argumento de Clark é que Deus é ex lex, o que significa “acima da lei”. A idéia é que
Deus está fora ou acima das leis que ele prescreveu ao homem. Ele nos diz para não
matarmos, todavia ele retém para si o direito de tirar a vida humana. Assim, ele mesmo
não está obrigado a obedecer aos Dez Mandamentos ou qualquer outra lei dada ao
homem na Escritura. Moralmente, ele está num nível inteiramente diferente do nosso.
Portanto, ele tem o direito de fazer muitas coisas que parecem más para nós, mesmo
coisas que contradizem as normas da Escritura. {Mas sobre essa base, não seria errado
para Deus causar o mal diretamente. Esse é o porquê eu disse que esse argumento torna
o argumento da causa indireta irrelevante}. Assim, é dessa forma que Clark trata
qualquer argumento contra a justiça ou bondade de Deus.

Há alguma verdade nessa postura. Como veremos, a Escritura proíbe a crítica humana
das ações de Deus, e a razão é, como Clark lembra, a transcendência divina. É também
verdade que Deus tem algumas prerrogativas que ele nos proíbe, tal como a liberdade de
tirar a vida humana.

Clark se esquece, contudo, ou talvez negue, a máxima Reformada e bíblica de que a lei
reflete o próprio caráter de Deus. Obedecer a lei é imitar Deus, ser como ele, ser a sua
imagem (Êxodo 20:11; Levítico 11:44-45; Mateus 5:45; 1 Pedro 1:15-16). Há nas éticas
bíblicas também uma imitação de Cristo, centrada na expiação (João 13:34-35; Efésios.
4:32; 5:1; Filipenses 2:3ss.; 1 João 3:16; 4:8-10). Obviamente, há muito sobre Deus que
não podemos imitar, incluindo aquelas prerrogativas mencionadas anteriormente.
Satanás tentou Eva para que a mesma procurasse se tornar “como Deus” no sentido de
cobiçar suas prerrogativas (Gênesis 3:5). {John Murray disse que a diferença entre as
duas formas de buscar a semelhança de Deus parece ser uma espada de dois gumes,
embora haja realmente um profundo abismo entre elas.} Mas a santidade, justiça e
bondade geral de Deus é algo que podemos e devemos imitar, num nível humano.
Assim, Deus honra, em geral, a mesma lei que ele nos dá. Ele rejeita o assassinato porque
ele odeia ver algum ser humano assassinar outro, e ele pretende reservar para si o direito
de controlar a morte humana. Ele proíbe o adultério porque ele odeia o adultério {que é
um tipo de idolatria — veja Oséias}. Podemos estar certos de que Deus se comportará de
acordo com os mesmos padrões de santidade que ele nos prescreve, exceto na medida
em que a Escritura declara uma diferença entre suas responsabilidades e as nossas.

{De forma estranha, Clark, que é geralmente acusado de ser um realista Platônico, nesse
ponto se desvia para o oposto do realismo, a saber, o nominalismo. Os nominalistas
extremos sustentavam que as leis bíblicas não eram reflexões da natureza de Deus, mas
meramente requerimentos arbitrários. Deus poderia ter tão facilmente ordenado o
adultério como o proibido. Eu mencionei isso numa carta para Clark, e ele apreciou a
ironia, mas não forneceu uma resposta. Por que, eu pergunto, ele não trata a lei moral
da mesma forma que ele trata a razão e a lógica em, por exemplo, seu livro The
Johannine Logos [O Logos Joanino] (Nutley, N.J.: Presbyterian and Reformed, 1972)? Ali
ele argumentou que a razão/lógica de Deus não estava nem acima de Deus (Platão) nem
abaixo de Deus (nominalismo), mas que era a própria natureza racional de Deus. Por que
ele não tomou a mesma visão sobre as leis morais de Deus?}

APOLOGETICS TO THE GLORY OF GOD


John Frame, p. 166-168.

http://www.monergismo.com/textos/apologetica/ex_lex_cheung.htm

10. JOHN HICK


http://periodicos.unb.br/index.php/rbfr/article/view/17691

11. RICHARD SWINBURNE

Deus permite o mal para possibilitar um aperfeiçoamento moral: Se não houvesse


doenças e cheias não teríamos oportunidades para sermos generosos e heroicos,
ajudando os nossos semelhantes. Num mundo "perfeito" não existiriam problemas para
superar e, assim, não existiriam oportunidades para desenvolver o carácter moral. Mas
como Deus permite que males morais e naturais aconteçam, para Swinburne, Ele tem a
obrigação moral de compartilhar deste sofrimento com os seres humanos, e foi o que
aconteceu com Jesus.

É um facto geral óbvio sobre o mundo que os seres humanos não sofrem apenas, mas
fazem muito mal. Como é que um Deus amor responderá ao sofrimento e pecado destas
criaturas débeis, mas em parte racionais, que ele fez? Argumentarei que a priori seria de
esperar que Deus responda ao nosso sofrimento e pecado ao viver ele mesmo uma vida
humana. Deus iria viver uma vida humana por intermédio de uma pessoa divina que se
torna humana (i.e. ‘tornando-se encarnada’). Argumentarei que Deus iria
inevitavelmente viver uma vida humana de forma a partilhar o sofrimento humano; e
argumentarei que, muito provavelmente, Deus utilizaria essa vida humana de forma a
tornar disponível a remissão dos nossos pecados e para nos ensinar como viver.
WAS JESUS GOD?
Richard Swinburne

Em analogia, parece plausível supor que, dada a quantidade de dor e sofrimento que
Deus permite que os seres humanos suportem (devido a um bom propósito – como, por
exemplo, haver livre-arbítrio, entre outros…), seria obrigatório Deus partilhar uma vida
humana de sofrimentos. Ora, isto seria alcançado por uma pessoa divina que encarnasse
como um ser humano e que vivesse uma vida que tenha muito sofrimento. Aliás, parece
que uma forma óbvia de como esse Deus encarnado poderia partilhar os piores
sofrimentos que os seres humanos suportam seria ele próprio viver uma vida que acabaria
com uma morte dolorosa e injusta.

Deus fez humanos sujeitos a dor e sofrimentos de vários tipos causados por processos
naturais. Deus, sendo perfeitamente bom, apenas teria permitido essa sujeição se isso
servisse para um bem maior. A teodicéia busca explicar quais são os bens maiores
relevantes – por exemplo, o grande bem de humanos terem uma escolha livre
significativa de suportar ou não, com bravura, seu próprio sofrimento e mostrar
compaixão a outros que sofrem. Nós humanos, às vezes, sujeitamos corretamente
nossos próprios filhos ao sofrimento em virtude de um bem maior (para eles mesmos ou
outros) – por exemplo, fazendo-os comer uma dieta sem graça ou obrigando-os a fazer
algum tipo de exercício para a saúde deles, ou fazendo-os freqüentar uma escola local
“difícil” para que tenham boas relações comunitárias. _Sob essas circunstâncias,
julgamos uma boa coisa manifestar
solidariedade a nossos filhos pondo-nos de algum modo na mesma situação –
partilhando de sua dieta ou exercício, ou envolvendo-nos na associação de
pais e mestres da escola local. De fato, se sujeitamos nossos filhos a grandes
sofrimentos em vista de bens maiores que outros, surge um ponto no qual não
é apenas bom, mas obrigatório identificarmo-nos com o sofredor e mostrar-lhe
que o estamos fazendo. Um Deus perfeitamente bom julgaria ser uma boa
coisa partilhar a dor e o sofrimento a que Ele nos sujeita, em vista de bens
maiores – encarnando-se. Viver uma vida santa, protestando contra a injustiça
sob condições difíceis, pode levar à execução. Deus precisaria nos ter dito ou
mostrado que ele é o Deus Encarnado. Nesse caso, sua ressurreição constituiria o aval
de Deus àquele ensinamento e, assim, mostrar-nos que Deus se identificou com o nosso
sofrimento.

A PROBABILIDADE DA RESSURREIÇÃO DE JESUS (artigo)

https://domingosfaria.net/141219
http://blog.domingosfaria.net/2012/05/resposta-de-richard-swinburne-ao.html

12. SANTO AGOSTINHO

Se Deus criou todas as coisas e não criou o mal, e é bom, o mal não existe. Santo
Agostinho defendeu que o mal não tinha uma existência ontológica, mas era
simplesmente uma privação, assim como a escuridão era a ausência da luz, o mal é a
ausência do bem.
Todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma
substância, pois, se fosse substância, seria um bem. Na verdade, ou seria substância
incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e,
nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper. Vi, pois, e pareceu-me evidente
que criastes boas todas as coisas, e que cestissimamente não existe nenhuma substância
que vós não criásseis. E, porque as não criastes todas iguais, por esta razão, todas elas,
ainda que boas em particular, tomadas conjuntamente são muito boas, pois o nosso
Deus criou “todas as coisas muito boas”.

CONFISSÕES
Santo Agostinho, p. 154.

Santo Agostinho propôs uma forma de abordar o problema do mal, enfatizando


largamente que o mau uso do livre-arbítrio humano é a causa e origem do mal. No seu
entender, o mal deve ser encarado como uma privação ou deformação do bem, e que,
portanto, ele é não substancial. Assim, para Agostinho o mal é um ‘não ser”’, desta forma
não poderia ter sido criado por Deus, uma vez que Ele é essencialmente bom, assim como,
por consequência, sua criação.

Através da leitura de filósofos neoplatônicos, sobretudo Plotino, onde apreendeu a


noção de participação e o conceito de não-ser como equivalente ao nada, Agostinho
muniu-se de argumentos que lhe seriam fundamentais para resolver a questão do mal.

A conversão agostiniana à fé cristã foi decisiva e serviu como alicerce para o bispo de
Hipona responder satisfatoriamente ao problema referente ao mal. É pela crença num
Deus sumamente bom, que criou todas as coisas a partir do nada, que Agostinho supera
a teoria dos maniqueus. A partir dessas concepções, Agostinho demonstra que, num
universo criado por Deus, não há espaço para o mal, pois tudo o que Deus criou obedece
à ordem por Ele estabelecida.

Desta forma, já no capítulo I de sua obra intitulada O livre-arbítrio, Agostinho afirma


que Deus não pode praticar o mal, visto que é sumamente bom. Todas as coisas se
remetem ao bem, e a instrução também nos leva a ele. O mal moral, portanto, seria uma
ausência de instrução quanto àquilo a que devemos nos remeter. A origem do mal,
portanto, estaria na escolha da vontade humana, no uso equivocado de seu livre-arbítrio,
uma vez que Agostinho defende a nulidade ontológica do mal. Todas as coisas provêm
de Deus, que é sumamente bom, sendo ele mesmo incapaz de fazer o mal. Sendo Deus
criador de todas as coisas, suas obras concorrem para sua harmonia. No caso do ser
humano, este pode se desviar do bem, através do exercício indevido de seu livre-arbítrio.

Agostinho observou que o mal não poderia ser escolhido, pois ele não era uma coisa
a ser escolhida. Alguém pode apenas afastar-se do bem, isso é, de um grau maior para
um grau menor (na hierarquia de Agostinho) desde que todas as coisas são boas.

Pois, segundo ele, quando a vontade abandona o que está acima de si e se vira para o
que está abaixo, ela se torna má – não porque é má a coisa para a qual ela se vira, mas
porque o virar em si é mau. O mal, então, é o próprio ato de escolher um bem menor.
Importante ressaltar que, para Agostinho, o livre-arbítrio não é ruim. Ruim torna-se o
direcionamento dele para as coisas que não se voltam para o Bem, quando o homem age
movido pela estultice. Quando o homem deixa de erguer os olhos para as coisas
superiores, abraçando os bens transitórios, renuncia voluntariamente às verdades
eternas e imutáveis do mundo inteligível, as verdades que nos remetem a Deus.

Se todas as coisas provêm de Deus, aquilo que se afasta completamente da


natureza divina deixa de ser. O mal, portanto, corresponde ao não-ser. Como todas as
coisas são originadas a partir do Bem e a ele se remetem, o mal, ponto de vista
ontológico, nada é; Se todo o bem fosse retirado das coisas boas, nada sobraria, pois o
mal não é uma substância como queria os maniqueístas, e assim sendo seria impossível
que o mal tenha se originado de Deus, pois Deus é aquele que dá o ser às coisas. Mas
quando partimos para o lado da análise moral, o mal é o pecado. Tanto isso é verdade que
o único mal que merece apropriadamente este nome é o pecado, que é uma desarmonia,
um turvamento do discernimento humano que, pelo mau uso de seu livre-arbítrio, se
desvia daquilo a que deve se conduzir.

Do ponto de vista metafísico-ontológico, não existe mal no cosmos mas apenas graus
inferiores de ser, em relação a Deus, graus esses que dependem da finitude do ser criado
e dos diferentes níveis dessa finitude. O Mal moral é o pecado. Esse depende da nossa
má vontade. E a má vontade não tem “causa eficiente”, e sim muito mais, “causa
deficiente”. O mal moral, portanto, é “aversio a Deo” e “conversio ad creaturam”. O fato
de se ter recebido de Deus uma vontade livre é para nós grande bem. O mal é o mau uso
desse grande bem. O mal físico, como as doenças, os sofrimentos e a morte, tem
significado bem preciso para quem reflete na fé: é a consequência do pecado original, ou
seja, é consequência do mal moral.

O LIVRE ARBÍTRIO
Santo Agostinho, p.16.

https://faje.edu.br/periodicos/index.php/pensar/article/view/3879

13. ALVIN PLANTINGA

Para Alvin Plantinga, Deus permite o mal para possibilitar um livre-arbítrio genuíno:
Sem o livre arbítrio seriamos meros robôs, sem a possibilidade de realizar atos morais, e
para a existência do livre arbítrio é necessário a liberdade até de fazer o mal.

Ora, Deus pode criar criaturas livres, mas não pode causar ou determinar que façam
apenas o que é correto. Afinal, se o fizer, então elas não serão livres; não fazem
livremente o que é correto. Para criar criaturas com a capacidade para o bem moral,
portanto, Deus tem de criar criaturas com capacidade para o mal moral, e não pode dar
a essas criaturas a liberdade de executar o mal e, ao mesmo tempo, impedi-las de
executá-lo. E aconteceu, infelizmente, que algumas criaturas livres que Deus criou
erraram no exercício de sua liberdade; essa é a fonte do mal moral. O fato de algumas
criaturas livres errarem, contudo, não depõe contra a onipotência de Deus nem contra a
sua bondade; pois Ele só poderia ter impedido a ocorrência do mal moral removendo a
possibilidade do bem moral.

DEUS, A LIBERDADE, E O MAL


Alvin Plantinga

Interessado no problema do mal em sua versão lógica, o filósofo Alvin Plantinga fez um
estudo das premissas

(P) Deus é omnipotente, omnisciente e totalmente bom.


(Q) O mal existe.

Formalmente, as premissas (p) e (q) não constituem, explicitamente, uma contradição


lógica, isto é, p não é a negação de q, e vice versa. Portanto, é necessário ao ateu, adicionar ou
tornar explicita uma proposição (f), e ao teísta uma proposição (r), tal que que em conjunção à
(p) seja contraditória (no caso do ateu), ou coerente (no caso do teísta).

O ateu poderia propor uma premissa (f) em que o bom se opõe ao mal de tal maneira que
uma coisa boa sempre elimina o mal tanto quanto ela pode, e que não há limites para o que uma
coisa onipotente pode fazer (J. L. Mackie, 1995, p. 200-201). Plantinga responde que não é
verdadeiro (nem necessariamente verdadeiro), a afirmação de que “uma coisa boa sempre
elimina o mal tanto quanto ela pode”, justificando que uma pessoa ao produzir um mal M,
produzindo um bem B que supera M ao produzi-lo, não é moralmente culpável. Também
responde Plantinga que a afirmação de que “não há limites para o que uma coisa onipotente
pode fazer” é imprecisa pois Deus só pode fazer aquilo que é logicamente possível.

Não suficiente, Plantinga corrige a formulação da premissa (f) para que possa analisa-
la mais criteriosamente e propõe as seguintes revisões:

(f2) Uma pessoa onisciente P é totalmente boa somente se ela tenta eliminar todo
estado de coisas mal que ela possa eliminar sem eliminar um bem maior. Como um ser
onipotente pode realizar qualquer coisa dentro dos limites da lógica e não há motivos
para acreditar que o mal é logicamente necessário. Então, é de se assumir que Deus
possa eliminar qualquer mal que Ele queira.

(f3) Uma pessoa onisciente e onipotente P é totalmente boa somente se ela elimina
todo estado de coisas mal que não é a condição lógica necessária de um bom estado de
coisas que o supera.

(f4) Uma pessoa onisciente e onipotente P é totalmente boa somente se ela elimina
todo mal tal que, para cada bem que o implique, haja um bem maior que não o implique.

O problema com a premissa (f2) é afirmar que Deus possa eliminar qualquer mal sem
eliminar um bem maior, por que é logicamente possível um mal M que seja condição necessária
de um bem B que o supere, o que nos leva à premissa (f3).

O problema com a premissa (f3) é de que a omnibenevolência de Deus fica estabelecida


mesmo com uma enorme quantidade de mal desde que seja condição necessária a um bem
gerado que tenha saldo positivo, mesmo que a diferença seja pequena.
O problema com (f4) é de que ela simplesmente não implica na contradição de (q),
somente conclui que “Todo o mal M é implicado por um bem B tal que todo o bem maior que B
também implica M” (g).

O último recurso ao ateu seria adicionar mais uma premissa (h), que junto à anterior (g),
gere a contradição com (e), tal premissa (h) seria a de que se há algum mal, então há mal
injustificado. Ou seja, que há ao menos um mal estado de coisas tal que, para cada bem que o
implica, existe um bem superior que não. O problema, é o ônus da prova está com o ateu em
demonstrar que a premissa (h) é uma verdade necessária.

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=====================================

A conjunção de (p) e (q), se realmente contraditória, é necessariamente falsa, ou seja,


falsa em todos os mundos possíveis. O método argumentativo clássico para demonstrar a
negação de uma contradição em lógica modal é apresentar um contra-modelo, ou seja, um
modelo em que valem as premissas para todos os mundos do modelo e em que há pelo
menos um mundo em que a conclusão é falsa. Para fazê-lo, então, é preciso mostrar que é
possível que Deus não pudesse ter criado um universo contendo bem moral (ou, pelo
menos, a quantidade de bem moral que esse universo contém) sem criar um universo
desprovido de mal moral. Esse é, segundo Plantinga (1974), o coração da defesa do livre-
arbítrio. Esta é a premissa (r) do teísta.

Esta defesa sustenta, preliminarmente, que um mundo com criaturas


significativamente livres (e que livremente executem mais ações boas do que más) é mais
valioso, se tudo o resto for igual, do que um mundo sem quaisquer criaturas livres. Aqui
assume-se uma posição incompatibilista e libertista como resposta ao problema do livre--
arbítrio. Para se entender tal defesa do livre-arbítrio que Plantinga faz, deve-se entender a
teoria libertariana da liberdade, ou liberdade libertária, que pode ser resumido em apenas
uma proposição: um ato livre não é suficientemente causado por nada externo ao agente.
Uma pessoa é livre com respeito a uma determinada ação caso seja livre para realizar essa
ação e livre para abster-se de a realizar, de tal modo que nenhuma lei causal ou condições
antecedentes determinam se ela realizará ou não a ação.

O concurso (isto é, como a causa primária se relaciona com as causas secundárias no


governo divino) defendido pelos calvinistas é de que tudo que se movimenta deve ser
movido por outro, concurso é prévio, físico, particular, especifico e imediato. Nesse
concurso Deus é sempre determinante, nunca determinado. Deus incita e previamente
move as criaturas à ação, e guia à elaboração de uma coisa particular. O concurso
defendido na liberdade libertaria, abraçada pelo Molinismo (uma teoria de Luis de Molina
“revisionada” e “ressuscitada” pelo Alvin Plantinga), é a de que o mover de Deus é
simultânea a do homem, não havendo mover anterior no homem, mas os dois
autodeterminados se movem em igualmente como causas parciais. Deus coopera com os
homens como duas pessoas remando dentro de uma embarcação, como causas parciais
da vontade e totais no efeito. Nesse concurso é a criatura que determina o rumo do
decreto, não Deus.
Ora, se o libertismo é logicamente possível e se é melhor um mundo com livre arbítrio
do que um mundo sem livrearbítrio, então é possível que Deus pretenda um mundo com
criaturas livres. Porém, não pode causar ou determinar que elas façam apenas o que é
correto; pois, se o fizer, então elas não seriam afinal significativamente livres e, assim, não
faziam livremente o que é correto. Daqui se segue que para fazer criaturas com
capacidade para o bem moral, Deus tem de conceber criaturas com capacidade para o mal
moral. Deste modo, Deus não pode dar a estas criaturas a liberdade de realizar o mal e ao
mesmo tempo impedi-las de fazer mal.

A defesa do livre-arbítrio, segundo Plantinga, pode ser vista como a tese de que é
possível que Deus não tenha criado um universo com criaturas livres e contendo bem
moral sem criar um mundo contendo mal moral, ou seja, Deus, embora seja onipotente,
não poderia ter criado qualquer mundo possível senão um mundo contendo mal moral
porque as criaturas livres que Deus cria são capazes de agir mal em relação a uma
determinada ação exatamente por serem livres.

Um mundo contendo criaturas que são, de vez em quando significantemente livres (e,
livremente, realizam, de modo quantitativo, mais ações boas do que más) é mais valoroso,
se todo o resto for igual, que um mundo sem nenhuma criatura de fato livre. Não obstante,
Deus poderia criar criaturas livres, mas Ele não pode causar que elas façam somente o que
é correto. Se Ele assim fizesse, então elas não seriam, de fato, significantemente livres;
elas não fariam o que é correto livremente. Portanto, para criar criaturas capazes de criar
bem moral, Ele deve criar criaturas capazes de mal moral e não pode deixar essas criaturas
livres para realizar o mal, e ao mesmo tempo, impedi-las de fazer tal coisa. De fato, Deus
cria seres significantemente livres, mas alguns deles erram no exercício da sua liberdade:
esta é a origem do mal moral. O fato de essas criaturas livres, algumas vezes, errarem não
depõe nem contra a onipotência de Deus, nem contra sua bondade; Ele, pois, somente
poderia impedir a ocorrência do mal moral, eliminando a possibilidade do bem moral.

DEUS, A LIBERDADE, E O MAL


Plantinga, p. 166-167.

Plantinga afirma que se sou livre com relação a uma dada ação, digamos, B, então Deus
não faz com que seja o caso que eu realize ou deixe de realizar esta ação. Deus não faz isto
nem pelas leis por ele estabelecidas, isto é, pelas leis da física, química, etc. nem por
intervenção direta ou por qualquer outro modo. Pois se Deus faz com que seja o caso que
eu realize B, então não sou livre para me abster de realizar B, logo não sou livre com respeito
a B. Porém, se for o caso que alguém seja livre com respeito a B, Deus não pode fazer com
que seja o caso nem que este alguém realize livremente, nem que livremente não realize
esta ação, isto é, B.

Assim, conforme Plantinga, diante disso verifica-se que há muitos estados de coisas
contingentes, e não está ao alcance do poder de Deus fazer com que sejam atuais, porque
Ele não pode fazer com que seja o caso que eu livremente realize uma ação B, pois se Ele
assim o fizer, Ele faz com que seja o caso que eu realize B, situação na qual eu não ajo
livremente.
Dada apenas a possibilidade de que existem criaturas-agentes livres, podemos dizer que
existem vários mundos possíveis que incluem a existência de Deus e que também incluem
um estado de coisas contingente S tal que não há um momento de tempo no qual Deus
pode atualizar S. Portanto (...), existem muitos mundos possíveis que Deus não poderia ter
atualizado, embora eles incluam sua existência: todos aqueles mundos contendo um
estado de coisas com um agente livremente realizando ou livremente se abstendo de
realizar uma ação. Visto que um mundo contendo bem moral é um mundo com tais
características, Deus não poderia ter atualizado nenhum mundo contendo bem moral; a
fortiori, Ele não poderia ter atualizado um mundo contendo bem moral, mas sem nenhum
mal moral.

DEUS, A LIBERDADE, E O MAL


Alvin Plantinga, 1974, p. 171.

É preciso explorar uma diferença apontada por Plantinga entre criar e atualizar. Algo é
criado se antes de um momento não existia e depois desse momento passou a existir.
Dessa forma, a tradição cristã afirma que Deus criou os céus e a terra. Há, todavia, coisas
que existem sem tempo, ou seja, que não houve um tempo em que elas passaram a
existir. Tais coisas seriam, por exemplo, números, estados de coisas, propriedades,
proposições, que estariam fora da atividade criativa de Deus, que somente poderia
atualizá-las ou não.

Por isso, podemos dizer, mais precisamente, que Deus atualiza um mundo. Mas,
mesmo que Deus atualize um mundo W, isso não significa que ele atualize todos os
estados de coisas contidos em W. Deus não atualiza, por exemplo, sua própria existência
ou suas propriedades. Isso seria válido também com relação a todas as verdades
necessárias. Nesse caso, dizer que Deus atualiza W, significa dizer que Deus atualiza todos
os estados de coisas contingentes de W.

Considere-se que Deus cria agentes livres. Tomando a noção de liberdade defendida
por Plantinga e exposta acima, se Deus cria um agente S livre com relação a uma ação A e
S realiza A, não é verdade que Deus causa que S realiza A, pois nesse caso S não seria livre
com relação a A. Assim, num mundo em que há agentes livres, há um grande conjunto de
estados de coisas que Deus não poderia atualizar, e, portanto, existe um grande número de
mundos possíveis que Deus não poderia atualizar. Plantinga chama isto de o “lapso de
Leibniz”.

Há um mundo possível W, onde Deus atualiza fortemente uma totalidade T de estados de


coisas, incluído a liberdade de Eduardo com respeito a aceitação do suborno, e em que
Eduardo o aceita. Mas há outro mundo possível W*, onde Deus atualiza os mesmos
estados de coisas e em que Eduardo rejeita o suborno. Agora, suponha que é verdade que,
se Deus tivesse atualizado T, Eduardo teria aceito o suborno: então, Deus não poderia ter
atualizado W*. E se, por outro lado, Eduardo tivesse rejeitado o suborno, caso Deus tivesse
atualizado T, então Deus não poderia ter atualizado W. Assim de um modo ou de outro, há
mundos que Deus não poderia ter atualizado.

DEUS, A LIBERDADE, E O MAL


Alvin Plantinga, p. 180-181.
Que Deus seja onipotente e não possa criar um mundo contendo bem moral e sem
mal moral, Plantinga cria o conceito de depravação transmundial, também conhecida por
condenação transmundana, que ele define da seguinte maneira: Uma pessoa P sofre de
depravação transmundial se e somente se para cada mundo W tal que P é
significativamente livre em W e P faz somente o que é certo em W, existe um estado de
coisas T e uma ação A tal que: (1) Deus atualiza fortemente T em W e T inclui todos os
estado de coisas que Deus atualiza fortemente em W; (2) A é moralmente significativa
para P em W; e (3) Se Deus tivesse atualizado T, P teria agido errado com respeito a A.

Para ilustrar esse conceito, basta imaginar a seguinte situação: Deus pode criar
Olegário em um sem-número de estados de coisas que incluem ele ser significativamente
livre com respeito a alguma ação A. Ademais, Deus sabe previamente o que Olegário faria
se colocado nesses estados de coisas. É possível que Deus saiba que, se criar Olegário livre
com respeito a A e atualizar fortemente um certo estado de coisas S, então Olegário agirá
mal com respeito a A. Mas também é possível que para qualquer estado de coisas S que
Deus atualize, e crie nele Olegário significativamente livre com uma ação A, ele aja mal
com relação a A. Se esse fosse o caso, Olegário sofreria de depravação transmundial.

Dizer que uma pessoa sofre de depravação transmundial implica, portanto, que Deus
não pode atualizar um mundo em que aquela pessoa é significativamente livre, mas não
realiza nenhuma ação errada. Logo, a defesa do livre-arbítrio demonstra que não há a
inconsistência apontada pelo ateólogo no proposto problema do mal. Além disso,
Plantinga acredita que ainda existem outras boas possibilidades para mostrar a
consistência de (P) e (Q). Talvez, afirma Plantinga (1974), Deus possa atualizar um mundo
com bem moral e sem mal moral, mas talvez Deus não tenha podido atualizar um mundo
contendo tanto bem moral quanto o mundo atual contém sem que ele contivesse mal
moral. Assim, a criação de um mundo contendo tanto bem moral quanto o atual tornaria
consistente (P) e (Q).

A defesa do livre-arbítrio é bem sucedida naquilo que se propõe: oferecer uma


proposição r, cuja conjunção com p seja consistente e que juntamente com p implique q.
A conclusão é que o problema do mal não é de fato um problema no sentido de conseguir
demonstrar que a crença em Deus é irracional ou irrazoável, e assim inaceitável por ser
contraditória. Então, aqueles que creem na existência de Deus, podem manter sua crença
sem serem acusados de incorrer numa contradição, o que de fato é inaceitável, uma vez
que é irracional aceitar proposições contraditórias em um conjunto de crenças qualquer;
porém, não há de forma alguma incoerência lógica em manter as crenças que um teísta
geralmente mantém juntamente com o mal moral que há no mundo.

http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/arf/article/view/28389
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/Enciclopedia/article/view/6636
https://questoesultimas.blogspot.com/2018/07/o-minimo-que-voce-precisa-saber-
caso.html?m=1
http://bdm.unb.br/handle/10483/2780

14. OTIMISMO LEIBZINIANO

15. C. S. LEWIS

16. WILLIAM SORLEY


17. PETER VAN INWAGEN

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