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ANTONIO LAFAIETE RIBEIRO PAPAIANO

A NATUREZA JURÍDICA DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS

SÃO PAULO

2004
2

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS


FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

UNI FMU

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

A NATUREZA JURIDICA DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca


examinadora de Pós Graduação Lato Sensu da
Faculdade de Direito do Centro Universitário das
Faculdades Metropolitanas Unidas - UNIFMU, como
requisito parcial para conclusão do curso de
Especialização em Direito Civil, sob orientação do
Professor Doutor Roberto Senise Lisboa.

São Paulo

2004
3

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS


centro de pesquisa e pós-graduação
FACULDADE DE DIREITO

AUTOR: ANTONIO LAFAIETE RIBEIRO PAPAIANO

TÍTULO DA MONOGRAFIA: A NATUREZA JURIDICA DAS RELAÇÕES


HOMOAFETIVAS.

BANCA EXAMINADORA:
1º PROFESSOR DOUTOR ROBERTO SENISE LISBOA
2º PROFESSOR DOUTOR
3º PROFESSOR DOUTOR

AVALIAÇÃO:

NOTA DO 1º EXAMINADOR: _________


NOTA DO 2º EXAMINADOR: _________ MÉDIA: ________
NOTA DO 3º EXAMINADOR: _________

SÃO PAULO

2004
4

A Regina, Laura, Mariana, Isabella,


Giovanna, meus pais Vera e Francisco e
meu sogro Sérgio.

Cuja existência, o amor e a dedicação, a


cada dia, me transformam em um ser
humano melhor.

Aos Drs. Adhemar Ferrari Agrasso,


Cláudio Oliveira Cabral, Maria Isabel
Ferezin Sares, Gilson Delgado Miranda,
Roberto Senise Lisboa e Maria Ercília do
Nascimento.

Na nossa vida sempre enfrentamos dilemas e


encruzilhadas, se até aqui cheguei foi
porque aprendi a observar e seguir os
ensinamentos de pessoas de grande
sabedoria e integridade.

Aos grandes irmãos, amigos e colegas,


Raymis, Veruska, Stefanny, Lindinha, Cris,
Claudinho, Vivi, Léo, Marisa, Alessandro,
Cleide, Ivan, Lara, Carlos, Francesco,
Décio, João Mendes, Cíntia e todos os
meus Mestres e Colegas do Curso de Pós-
Graduação da UNI-FMU.

Pela contribuição especial de cada um, para


cristalização deste trabalho, ele também e
de vocês.
5

Poética

Estranho Amor - Strani Amori.

“Me desculpem seguir meu caminho,


mas sabendo que vivia uma mentira,
deixo o tempo perdido para trás,
pois as promessas nunca mudaram.

Estranhos amores que nos põe em dificuldades,


mas as dificuldades somos nós que criamos.

Sempre aguardamos um telefonema,


marcando o fim do conflito,
gritando que está liberto,
sentindo como se o coração estivesse no estomago,
um nó na garganta, e por dentro calafrios,
pois amor não há mais,
mas somente nós.

Estranhos amores nos fazem crescer,


que faz florescer um sorriso entre as lagrimas,
escrever páginas de sonhos lívidos a serem divididos,
são amores que em qualquer idade,
dividem a alma,
nos fazem questionar sem nunca decidir.

É um amor feito por nós


e que nos faz perder noites chorando,
relendo nossas cartas
e nos fazendo trilhar nosso caminho,
perdidos no labirinto da nostalgia
de um grande amor, que acabou,
mas que ainda permanece vivo
em nossos corações.

Estranho amor, que vem e que vai,


nos pensamentos daqueles que se escondem,
e a quem realmente pertence
às verdadeiras historias de amor,
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mas estão divididos como nós.

Estranhos amores frágeis,


que aprisionam e libertam,
estranhos amores difíceis,
mas na realidade a dificuldade é criada por nós.

Estranhos amores que em qualquer idade


levam a confusão e cujo perdão
procuramos e encontramos em nosso íntimo,
não gosto, mas devo seguir meu caminho,
pela promessa que fiz a mim mesmo,
e que surge da vontade de viver
um amor verdadeiro, sem você.”

A.Valsiglio
R.Butti
Cheope
M.Marati
7

Reflexões

"A igualdade, em contraste com tudo o que se


relaciona com a mera existência, não nos é dada,
mas resulta da organização humana, porquanto é
orientada pelo princípio da justiça. Não nascemos
iguais; tornamo-nos iguais como membros de um
grupo por força de nossa decisão de nos
garantirmos direitos reciprocamente iguais. "
Hannah Arendt. Origens do Totalitarismo

“Triste época a nossa, em que é mais difícil


quebrar um preconceito do que um átomo.”
Albert Einstein

“...o fanatismo tem sua força e afirma ter


Deus ao seu lado – contra os judeus, os
muçulmanos, negros, mulheres e gays.
Sempre foi assim.”
Daniel A.Helminiak
8

RESUMO:

O presente trabalho tem como tema A


NATUREZA JURIDICA DAS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS, sendo seu
objeto de pesquisa a alocação da matéria em nosso ordenamento
jurídico, uma visão histórica, social, cientifica e jurídica do tema, sendo
está ultima, sob a luz do Art. 5º. da Constituição Federal e a proteção da
vida em todos os seus aspectos e vertentes, principalmente dos
princípios da dignidade da pessoa humana, e da individualidade.
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SUMÁRIO

Introdução – 11.
1. Definição de União Homoafetiva – 18.
2. Aspectos Históricos das Uniões Homoafetivas – 27.
3. Na Pré-História – 27.
2.2 – Na Antiguidade Clássica Ocidental – 29.
2.2.1 – Na Babilônia – 30.
2.2.2 – Grécia – 31.
2.2.2.1 – Atenas – 31.
2.2.2.2 – Esparta – 33.
2.2.4 – Roma – 35.
2.3 – Na Idade Média – 38.h
2.4 – Na Idade Moderna – 45.
2.4.1 – No Renascimento – 46.
2.4.2 – No Absolutismo – 48.
2.4.3 – O Estado Poder Garantindo a Vida – 50.
2.5 – Na Idade Contemporânea – 51.
2.6 – O Século XX – 55.
2.6.1 – Na Revolução Russa – 55
2.6.2 – Na Segunda Guerra Mundial – O Nazismo – 56
2.6.3 – Homoafetividade no Brasil, Nossa Herança Histórica – 58.
2.6.4 - Os Movimentos de Direitos Civis dos Homossexuais – 62.
2.6.5 - Atualidades - Principais Fatos e Conquistas dos
Movimentos de Direitos Civis dos Homossexuais – 66.
3. Orientações das Demais Ciências sobre a Homoafetividade – 85.
3.1 – Na Psiquiatria – 85.
3.2 – Na Psicologia – 86.
3.3 – Na Endocrinologia – 87.
3.4 – Na Genética – 88.
3.5 – Economia – 90.
4. Homossexualismo, Travestismo e Transexualismo – 93.
10

5. Aspectos Privados da Cultura e da Ética na Sociedade Brasileira – 100.


6. O Que Pensa e Quer a Comunidade Homossexual – 104.
7. Uniões Homoafetivas no Direito Comparado – 106.
8. Uniões Homoafetivas no Direito Brasileiro – 110.
9. Conclusão – 123.
10. Bibliografia – 130.
11. Anexos – 132.
11

Introdução.

As relações homoafetivas consubstanciam-se em um dos temas mais


controvertidos de nossa atualidade, uma vez que sua discussão envolve o
questionamento de conceitos e princípios tidos como imutáveis para a
mantença de nossa estrutura social.

A tolerância declinada por nossa sociedade às relações homoafetivas e


a efetiva regulamentação das mesmas são o fiel da balança no que diz
respeito ao comprometimento da ordem e paz social, que proporcionam a
existência de nossa sociedade tal qual a conhecemos.

Na esteira das legislações que tem em seu bojo o conceito de função


social, tal qual nossa Constituição Federal, o Código de Defesa do
Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Código Civil, este
último de forma parcial cujo epicentro destas legislações encontra-se
embasada, na estrutura principiológica, voltada para a mantença da ordem e
paz social, preservando assim, a sociedade como um todo, a qual,
efetivamente, nos proporciona a vida estável, além de viabilizar os
mecanismos que garantem nossos direitos e garantias individuais.

Em primeiro plano, mister se faz tentarmos elucidar a natureza jurídica


das relações homoafetivas para, em um segundo momento, reunirmos
elementos necessários que nos levarão à conclusão do impacto que a
integração e a regulamentação de tais relações terá sobre nossa estrutura
social, a qual poderá ocorrer de forma positiva ou negativa, gerando ou não
instabilidade.

Há de se esclarecer que este trabalho não tem por objetivo, somente a


compilação de obras, ou, a descrição do tratamento jurídico histórico,
declinado a tais relações durante a nossa evolução como sociedade, mas sim
o entendimento conceitual filosófico de cada época distinta, elucidando nossa
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evolução como sociedade no todo.

Trata-se de abordagem específica voltada e efetivamente lastrada no


trinômio poder, saber e sexo, a ser tratada sob uma ótica voltada a uma
analise de nossa estrutura social, suas bases históricas sob uma ótica mais
filosófica onde esmiuçaremos o trinômio acima indicado da seguinte maneira:

Poder no sentido econômico e político, exercido pelo Estado


regularmente constituído em suas devidas fases históricas, dentro e fora dos
limites legais existentes em cada época, e de como o poder/estado, veio a
utilizar seus mecanismos, legislativos e jurídicos, no sentido de impor
proibições, limitações e conseqüentemente sanções, aos desejos e
comportamentos dos indivíduos que vinham a ser considerados socialmente
inaceitáveis ou nocivos a evolução da sociedade dentro do respectivo conceito
histórico, tudo em nome da paz e ordem social constituídas naquele período, e
como tal poder veio a regular, no mesmo sentido a sexualidade do indivíduo,
tentado por várias vezes, e, em épocas distintas, reduzi-la somente ao aspecto
reprodutivo, proibindo-a ou incentivando-a, de acordo com as necessidades do
poder instituído.

Discorreremos ainda, sobre a influencia e a mutação causada, pelo


Poder (Estado) através de sua tentativa de “normatização” do comportamento
sexual dos indivíduos, e como essa “normatização” veio a influenciar as
transformações ocorridas no conceito de família, e a sua atual extensão, sendo
que analisaremos tal ponto analisando as duas principais teorias, a da aliança
e da sexualidade, e o onde se enquadram às relações homoafetivas, em tais
teorias.

Focaremos a questão do Saber, nas seguintes questões: Como foi


forjado nosso conhecimento, e, nossos conceitos sobre o sexo e a
sexualidade? Quais bases do nosso conhecimento sobre tal matéria? Neste
particular Michel Foucault, em sua obra História da Sexualidade, nos define
13

como “Animais Confidentes”, uma vez que até o século XIX, tudo o que
sabíamos, em virtude da atuação do Poder do Estado, em cercear e regular o
sexo e a sexualidade, inclusive imputando a censura sobre o tema, provem
das confissões, confidencias e relatos velados, oriundos principalmente da
idade média e mais precisamente das fogueiras da inquisição.

Confissões obtidas de forma livre, sobre forte impacto do medo da


perdição e da extrema necessidade de obter a absolvição e redenção, ou
aquelas que muitas vezes não correspondiam à verdade, mas que através da
dor, eram concedidas aos confidentes, é lógico que na segunda hipótese,
falamos de uma época, onde a tortura e a crueldade eram à sombra da
confissão, para justificar as verdades e dogmas absolutos, instituídos pelo
Estado em seu poder soberano e repressor.

De outro lado manipulação histórica de informações e conhecimento


sobre o sexo e a sexualidade e os dogmas e verdades absolutos, garantiam
uma base e uma forte ponte de vigilância através das confissões, dos
indivíduos, pelo Estado, consolidando assim absolutamente o poder.

E como o com o advento e das ciências médicas, biológicas,


psiquiátricas e psicológicas, no século XVII e XIX, através dos tratamentos das
chamadas “perversões” como o Estado como poder, veio a reagir através de
seu aparelho legislativo e jurídico, a estas novas teorias.

Analisaremos ainda, o chamado poder de vida ou morte, ou mais


precisamente de “determinar a morte e deixar viver”, oriundo do “patria
potestas”, e que foi claramente tomado para si pelo Estado, implantado logo
após o termino da antiguidade clássica, para fazer valer as regras impostas
pela nova ordem teocrática recém instaurada, e como tal poder veio a
transformar-se na obrigação do Estado em garantir a vida, e como tal poder foi
utilizado para tentar orientar a conduta sexual e a sexualidade durante nossa
história.
14

As grandes questões serem respondidas para podermos entender a


natureza jurídica das relações homoafetivas, e que se as mesmas vem a
afrontar a ordem ou a paz social vigente, ou se em algum momento histórico,
isso veio a acontecer? E, qual o interesse do Estado em regular o sexo e a
sexualidade historicamente? E finalmente, quando o sexo e a sexualidade
viram produtos e porque assim são tratados até hoje? Qual o conceito de
família que devemos adotar nos dias de hoje?

Qual o conceito de família que se encontra enraizado em nossa cultura,


neste particular, aquele que prega uma estrutura que gira em torno de regras
fixas, sob uma ótica do enfrentamento do bem e do mal, o permitido e o
proibido, o prescrito e o ilícito, cuja ligação como a economia, se dá através da
transmissão e circulação das riquezas, com a mantença de um vínculo
privilegiado pra com o direito em sua essência, e cujo seu principal objetivo se
revela à reprodução (Teoria da Aliança), ou, aqueles que tem seu
funcionamento voltado a normas e técnicas polimorfas de poder devem
valorizar os vínculos entre parceiros de status definidos ou valorizar as
sensações do corpo, a qualidade dos prazeres, a natureza das impressões por
mais tênues e perceptíveis que sejam, engendrando assim, uma extensão
permanente dos domínios e das formas de controle, e que se entrelaça na
economia através de articulações numerosas e sutis, todas voltadas ao corpo,
o corpo que produz e consome, ou seja, que tem como objetivo a não-
reprodução, mas a proliferação, e o controle das populações de forma cada
vez mais globalizada (Teoria da Sexualidade)

Em um segundo plano, restará a tentativa de delimitar explicar até onde


o trinômio poder, saber e sexo, dentro dos parâmetros acima citados vieram a
influenciar as relações homoafetivas no decorrer da história, e que vieram a
ser determinantes para definir o tratamento destinado aos indivíduos
envolvidos em tais relações e nos conceitos que trazemos conosco e que hoje
regula nossa vida.
15

Temos ainda o surgimento do capitalismo como mola propulsora dos


direitos e garantias individuais, e em determinado momento histórico, através
de suas natureza consumista e selvagem, o de garantir liberdade sexual e da
sexualidade, sendo que, em um primeiro momento, o capitalismo se torna vital
para a sobrevivência do sexo e da sexualidade, vindo posteriormente a
propiciar os elementos necessários para o rompimento das barreiras sociais,
moldando de forma duradoura não só as relações sociais hoje existentes, mas
também as relações hetero e homoafetivas.

Outro ponto a ser abordado é que no século XX as delimitações sociais


e conceituais, que em outros tempos pareciam intransponíveis, foram
implodidas e se transformaram em meros apotegmas conceituais, tudo em
virtude dos movimentos sociais pelos direitos civis, que ocorreram em todo o
mundo ocidental, tendo o movimento homossexual, adquirido voz própria nos
Séculos XVIII e XIX e empreendido uma luta legítima pelo reconhecimento de
seus direitos civis desde então.

O maior de todos os exemplos que temos, no tocante a alteração da


mentalidade de superação de barreiras sociais ligadas ao preconceito é o da
luta empreendida pela mulher. Devemos lembrar que há 20 (vinte) anos atrás
as mulheres que vinham a ter a ousadia de se separarem de seus maridos
eram apontadas na rua, havia distinção entre filhos legítimos e ilegítimos, os
homens eram discriminados pela cor da sua pele. Evoluímos, mas cabe saber
se evoluímos até o ponto de tolerarmos e termos como naturais, as relações
homoafetivas, cada vez mais presentes em nosso dia a dia.

O presente estudo pretende contribuir ao tema, esmiuçando e


comparando a ordem social e conceitual de cada período histórico, tentando
assim chegar à natureza jurídica das relações homoafetivas, se as mesmas
são hostis ou não à nossa ordem social, se carecem da atenção do legislador
para a produção de uma norma específica, objetivando assim a
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regulamentação de tais relações, os limites a serem estabelecidos, uma vez


que até as relações heteroafetivas encontram-se sujeitas a limites legais.

Devemos levar em conta o fato de que a regulamentação das relações


homoafetivas, efetivamente, se consubstanciará no corolário de uma luta por
direitos civis, justa e digna e que já perdura há séculos, sendo empreendida
por uma comunidade, que historicamente vem sendo massacrada e
discriminada, e que muitas vezes veio a ser flagrantemente injustiçada, e tida
como o mal do mundo, mesmo quando vítima, tudo em nome da limpeza da
consciência social. Como exemplo podemos citar a intitulada “peste gay”, na
década de 80, quando do descobrimento do vírus HIV, que originalmente
chamava-se HTVL, onde a descoberta da AIDS como doença foi pela
sociedade diretamente ligada às relações homossexuais, sendo que a
comunidade homossexual, foi apontada como culpada pela sua existência, por
grupos radicais e religiosos, isso para inegavelmente para efetuarmos a
limpeza da consciência social, sendo que é inegável o fato de que na época
existiam drogas injetáveis, adultério, relações promiscuas e relações
heterossexuais, sendo que hoje sabemos, detemos o saber e a informação,
sobre as formas de transmissão do vírus HVI.

Não podemos deixar de abordar ainda o fato de que alguns países


mantêm o direito do sangue, como a Alemanha, que concede sua
nacionalidade a famílias de origem alemã instaladas há séculos na Europa
Oriental; inversamente, a França está ligada ao direito do solo, muito
enfatizado em sua recente reforma do Código da Nacionalidade.
Evidentemente, países de forte imigração estão ligados ao direito do solo, que
corresponde a sua história. Eis, portanto um atributo importante da pessoa -a
nacionalidade-, que em numerosos países não está fundado numa base
biológica e no qual a referência ao sangue é mais uma imagem do que uma
realidade claramente definível.

A única certeza que podemos ter é que o mundo encontra-se


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constantemente em mudança e nossa situação enquanto “pertenças” deste


imenso planeta, quer como indivíduos, quer como sociedade como um todo,
nos impõe que sejamos diretamente afetados por tais mudanças. Via de
conseqüência, nossos conceitos e nossas certezas são também submetidos a
tais mudanças. Assim, chegamos à conclusão de que não existem certezas ou
verdades absolutas e que só porque algo permanece igual por muito tempo
não quer dizer que não seja imutável, e que com o passar do tempo, nos
tornamos mais sábios e tolerantes, e chegamos cada vez mais perto de
conceitos religiosos ou populares que expressam o real objetivo de nossa
existência como sociedade, ou seja, dentro dos limites estabelecidos pelo
poder constituído, viver e deixar viver.

Por derradeiro, trilharemos um caminho lastrado na devida


racionalidade e bom senso humano e jurídico, buscando em bases jus
filosóficas e com arrimo em conceitos e princípios constitucionais, sob o manto
maior da garantia da vida em sua plenitude, abrangendo todas as suas
vertentes, diretas e indiretas, em conjunção com a carga histórica para
justificarmos a necessidade de regulamentação da matéria de forma
efetivamente delimitada e que não venha a oferecer dano a ordem e a
estrutura social vigente, observado sempre em que vertente de nossa
legislação pátria e em estrita observância a sistemática de nosso ordenamento
jurídico tais relações e suas conseqüências encontrarão proteção e poderão
ser alocadas.

Esperamos contribuir para a elucidarmos o posicionamento de tal


instituto em nosso direito pátrio, vindo o mesmo a ser acolhido pelo direito de
família, ou pelo direito obrigacional civil, necessária se faz a normatização da
matéria, com fundamento nos Princípios Constitucionais da Garantia da Vida
em todas as suas vertentes, da Dignidade da Pessoa Humana e da Igualdade.
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1. Definição de União Homoafetiva:

As relações homoafetivas, não são um instituto reconhecido por nosso


ordenamento jurídico, a pouca doutrina existente sobre o assunto e a
controvertida jurisprudência emanada de nossos Tribunais Estaduais, tornam o
trabalho de tentar conceituar tais relações, um tanto quanto árduo.

Ressaltamos a vanguardista posição do Tribunal de Justiça do Estado


do Rio Grande do Sul1, no sentido de reconhecer as relações homoafetivas,
através da aplicação de analogia para com a união estável, posição esta que
encontra na Desembargadora Dra.Maria Berenice Dias, sua padroeira,
levantando um discurso liberal, embasado em Princípios Constitucionais de
Igualdade e Cidadania.2

Para tentarmos elabora uma definição para a “União Homoafetiva”,


iremos nos valer desta mesma analogia, empregada pelo Tribunal de Justiça
do Rio Grande do Sul, além da analise de outros princípios aplicáveis às
entidades familiares, tais como companheirismo, solidariedade, afeição e
respeito, dada a existência de deveres imateriais de assistência entre os
parceiros, os quais fogem a esfera do direito obrigacional comum, e muito se
aproximam das relações familiares.

1
HOMOSSEXUAIS. UNIÃO ESTÁVEL. POSSIBILIDADE JURIDICA DO PEDIDO. É possível o
processamento e reconhecimento da união estável entre homossexuais, ante princípios fundamentais
insculpidos na Constituição Federal que vedam qualquer discriminação, inclusive quanto ao sexo, sendo
descabida a discriminação, inclusive quanto à união homossexual. E justamente agora, quando uma onda
renovadora se estende pelo mundo, com reflexos acentuados em nosso país, destruindo preconceitos
arcaicos, modificando conceitos e impondo a serenidade cientifica da modernidade no trato das relações
humanas, que as posições devem ser marcadas e amadurecidas, para que os avanços não sofram
retrocesso e para que os avanços não sofram retrocesso e para que as individualidades e coletividades,
possam andar seguras na tão almejada busca da felicidade, direito fundamental de todos. Sentença
desconstituída para que seja instruído o feito. Apelação provida.
(Apelação n.o. 598362655 – TJRS - 8ª. Câmara Cível – Rel.Des.José S.Trindade)
2
UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA. DIREITO SUCESSÓRIO. ANALOGIA - Incontrovertida a
convivência duradoura, pública e contínua entre parceiros do mesmo sexo, impositivo que seja
reconhecida à existência de uma união estável, assegurando ao companheiro sobrevivente a totalidade
do acervo hereditário, afastada a declaração de vacância da herança. A omissão do constituinte e do
legislador em reconhecer efeitos jurídicos às uniões homoafetivas impõe que a Justiça colmate a lacuna
legal fazendo uso da analogia. O elo afetivo que identifica as entidades familiares impõe seja feita
analogia com a união estável, que se encontra devidamente regulamentada. (Embargos Infringentes –
TJRS – Rel. Maria Berenice Dias - 4º Grupo de Câmaras Cíveis - Nº 70003967676).
19

Assim, antes de tentarmos chegar a uma definição de União


Homoafetiva, nos abstendo de efetuar a uma mera troca das expressões
“entre homem e mulher”, para “entre pessoas do mesmo sexo”, existentes
em conceituações já existentes nas relações amparadas por nosso
ordenamento jurídico, o que certamente não é o escopo este trabalho,
passaremos a analisar alguns novos princípios inseridos em nossa doutrina,
além da analise dos elementos constitutivos da União Estável, e pareceres de
outros cientistas conceituados e atuantes nas esferas sociológicas e
antropológicas.

Em um primeiro momento, devemos analisar os conceitos de União


Estável, que a doutrina nos oferece, iniciando tal analise pela abrangente e
completa definição que nos traz Roberto Senise Lisboa3:

“UNIÃO ESTÁVEL é a relação íntima e informal,


prolongada no tempo e assemelhada ao vinculo
decorrente do casamento civil, entre sujeitos de sexo
diversos (conviventes ou companheiros), que não
possuem qualquer impedimento matrimonial entre si.”

Neste sentido, o citado doutrinador, ainda nos traz como elementos


constitutivos da União Estável4:

 a diversidade de sexos;
 a inexistência de impedimento matrimonial entre os conviventes;
 a exclusividade;
 a notoriedade ou publicidade da relação;
 a aparência de casamento perante a sociedade;
3
Roberto Senise Lisboa, Manual Elementar de Direito Civil, Vol.5, 2ª ed., Revista do Tribunais, São
Paulo, 2002 – pág.142/143.

4
Roberto Senise Lisboa, Manual Elementar de Direito Civil, Vol.5, 2ª ed., Revista do Tribunais, São
Paulo, 2002 – pág. 136/137;
20

 a coabitação;
 a fidelidade;
 a informação da constituição da união;
 a durabilidade.

O citado doutrinador conceitua as uniões homoafetivas como “relações


intimas entre pessoas do mesmo sexo que possuem afeição semelhante,
ainda que com orientação sexual diversa5.”

Humberto Theodoro Junior, quando da atualização da obra de Orlando


Gomes, enumera como elementos da União Estável, aqueles efetivamente
fundados no art. 1º da Lei 9.278 de 10 de maio de 19966.

Neste sentido e com a devida venia, transcrevemos:

“O art. 1º da Lei 9.278 conceituou a “união estável” de


maneira completamente diversa daquela antes adotada
pelo art. 1º da Lei 8.971. Houve, por isso, revogação do
último dispositivo legal. Antes se exigia que a
convivência existisse por tempo superior a cinco anos,
ou que houvesse prole. Além disso, o companheiro tinha
de ser solteiro, separado judicialmente, divorciado ou
viúvo, o mesmo se dando com a companheira. Ficava,
pois, vedada a possibilidade de “união estável”
adulterina. Com a nova lei, exige-se apenas que a
convivência seja “duradoura”, “pública” e “contínua”,
devendo ainda caracterizar-se pelo “objetivo de
constituição de família”.

5
Roberto Senise Lisboa,Manual de Direito Civil, Vol.5, 3ª ed., Revista dos Tribunais São Paulo, 2004 –
Pág.249;
6
HELDER MARTINS DAL COL, A Família a Luz do Concubinato e da União Estável pág. 42 “apud” Cf .
Orlando Gomes. Direito de Família, pg. 49;
21

Jorge Shiguemitsu Fujita7, classifica a União Estável como uma espécie


do gênero de concubinato, ou seja, aquele protegido por determinação
constitucional e regulado por nossa lei civil, conceituando tal instituto como:

“União Estável é a união sem casamento válido, entre


pessoas de sexo diferente, mediante convivência
contínua, duradoura e pública, sem a existência de
impedimentos matrimoniais ou de outra ligação
concubinária, vivendo ambas como se fossem casadas e
com o objetivo de constituírem uma sociedade familiar.”

Sendo a União Estável caracterizada pelos seguintes elementos, na


opinião do citado doutrinador:

 diversidade de sexos;
 inexistência de impedimentos matrimoniais;
 coabitação;
 lealdade;
 período estável, contínuo e duradouro de convivência;
 publicidade;
 “affectio quasi maritalis”.

Compondo o conjunto de elementos, que julgamos necessários serem


analisados e trazidos para a composição do conceito de “União Homoafetiva”,
não podemos esquecer do Princípio da Solidariedade Familiar.

É necessário frisar, que as bases do princípio citado no parágrafo


anterior, não possuem fundamentos em elementos ou institutos legais ou
jurídicos, mas sim no sentimento de ligação existente entre os membros de
uma família, decorrentes dos elementos que os unem (afeto, amor), e na

7
Jorge Shiguemitsu Fujita, Curso de Direito Civil – Direito de Família, 2ª Ed., Editora Juarez de Oliveira –
2003. pág.223;
22

consideração e importância que se dá a ao mesmo familiar (respeito).

Assim a afeição, não se reveste do caráter de dever legal, uma vez que
não é possível por lei, obrigar uma pessoa ter apreço por outra, sendo o
respeito um dever inerente à preservação da honra subjetiva da pessoa, que
tem o direito de não ser injuriada por outra, sendo que mais uma vez pedimos
a devida venia para a citação de Roberto Senise Lisboa8:

“Assim o Princípio da Solidariedade Familiar e seus


elementos (afeto e respeito), são indicadores do dever
de cooperação mutua entre os integrantes da família,
para os fins de assistência material e imaterial.”

Complementando nosso conjunto de elementos a serem analisados, é


necessário entender que a “União Homoafetiva”, que nos parece uma forma de
constituição de entidade que busca o reconhecimento da natureza familiar
dentro de nosso ordenamento jurídico, assim sendo, não poderíamos
dispensar uma visão sociológica e antropológica, do entendimento atual e da
evolução do Instituto Família em nossa sociedade, totalmente dissociada de
uma visão puramente jurídica.

Nos parece muito proveitoso o entendimento de Alain Touraine9:

“A violência dos conflitos internacionais, a gravidade das


crises nacionais e o calor das esperanças que se
erguem em alguns países fizeram com que, nos últimos
anos, deixássemos de ver e de adotar as mudanças da
vida moral e social que estavam no centro de nossas
preocupações havia poucos anos, sobretudo em
conseqüência dos grandes abalos dos anos 60. Isso se
8
Roberto Senise Lisboa, Manual Elementar de Direito Civil, Vol.5, 2ª ed., Revista do Tribunais, São
Paulo, 2002 – pág. 45/46;
9
Alain Touraine é sociólogo, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e autor
de "A Crítica da Modernidade" (ed. Vozes) – São Paulo - Tradução de Paulo Neves;
23

explica também pela profundidade das mudanças


exigidas. As mulheres conseguiram retomar os direitos
sobre seu corpo, mas avançamos com prudência e
hesitação no domínio da reprodução, que pode levar até
à clonagem, e estamos divididos quanto à eutanásia. E
nos perguntamos se a família deve absolutamente
conservar uma base biológica ou se é possível aceitar
escolhas em que não haja vínculos biológicos das
crianças com os pais. Na verdade, transformações
importantes estão em curso há muito tempo. Nenhum
sociólogo fala mais de família "normal", isto é, composta
de um pai, uma mãe e seus filhos, como se os outros
tipos de família monoparental, recomposta, adotiva,
homossexual, fossem por princípio anormais. Mas a
separação da família e do genitor é tão carregada de
sentido, põe em causa um fundamento tão profundo de
nossa cultura, que ela merece uma reflexão séria,
sobretudo no momento em que se acentua a pressão em
favor do casamento de homossexuais. No entanto não é
dessa pressão que devemos partir, mas antes de
realidades bem estabelecidas e que permitem fundar
solidamente nosso julgamento. Deixemos de lado uma
forma tradicional, muito difundida no passado, que
permitia a parentes ou amigos adotar uma criança órfã
que poderia conservar seu nome e recuperar seus bens
e direitos na maioridade. Consideremos apenas a
adoção dita plena, que consiste para adultos em adotar
uma ou várias crianças abandonadas por seus pais e
que, na maioria dos casos, foram recolhidas por
instituições públicas ou privadas.”
...
Sigo aqui um raciocínio contrário ao que se espera. Não
24

falo de igualdade de direitos para todos, pois me parece


um argumento muito frágil ante as realidades da biologia
-ninguém reclama o direito à gravidez para os homens;
penso, ao contrário, que é preciso dissociar os "sexos"
(ou "genders") de toda forma de organização social e,
em particular, da família, o que deve permitir aos
homossexuais assim como a homens ou mulheres
solitários adquirir um estatuto parental.
Com uma ressalva, porém: permaneço contrário, tanto
no caso de homossexuais como de heterossexuais, ao
recurso a mães de aluguel e outras técnicas, enquanto
sou favorável à adoção por um casal homossexual, o
que torna lógico o reconhecimento do casamento e da
filiação. Um problema tão sério merece um debate bem
mais amplo e mais aberto. Quis pelo menos apresentar,
sem espírito doutrinário, as razões pelas quais defendo o
direito dos homossexuais ao casamento, mesmo
sabendo que essa posição é hoje minoritária.

Merece ainda citação o art. 215 da Consolidação Normativa Notarial


Registral do Rio Grande do Sul10, que prevê, que “as pessoas plenamente
capazes, independente da identidade ou oposição de sexo, que viviam
uma relação de fato duradoura, em comunhão afetiva, com ou sem
compromisso patrimonial, poderão registrar documentos que digam
respeito a tal relação.”

Na esteira dos elementos trazidos, concluímos, que:

“Uniões Homoafetivas são aquelas tidas por pessoas


plenamente capazes, de natureza não-eventual, sem
qualquer impedimento matrimonial entre si, com o

10
Parecer 006/2004 – Corregedor Geral da Justiça do Rio Grande do Sul/RS Dês. Aristides Pedroso de
Albuquerque Neto, § Único, Art. 215.
25

objetivo de constituir uma entidade de natureza familiar,


independente da identidade ou oposição de sexo,
ensejando a cooperação mútua e a assistência material
e imaterial, e cujas conseqüências obrigacionais e
patrimoniais, vem a alcançar o patrimônio constituído na
vigência da relação tida pelos contratantes, salvo
expressa disposição em contrário tratada entre as partes
a qualquer momento da vigência da união.”

O conceito acima formulado nos parece razoável e abrangente uma vez


que somente pessoas maiores e em gozo de sua capacidade civil plena,
poderiam vir contratar tal relação.

Ademais as relações homoafetivas, nunca poderiam contrapor-se ou


ameaçar os direitos garantidos, pelo instituto do casamento, o qual encontra-
se devidamente protegido na legislação vigente, o que justifica a exigência da
inexistência de impedimentos matrimoniais entre os contratantes.

A independência de identidade ou oposição de sexo na relação,


claramente estabelece o fato de que as pessoas que vierem a compor ou
contratar a relação homoafetiva, necessariamente deverão ser de um mesmo
sexo, ou seja, a diversidade ensejada nas relações hoje trazidas pelo
ordenamento jurídico, encontra sua exceção nesta espécie alternativa de
formação de uma entidade de natureza familiar.

A cooperação mútua e assistência material e imaterial têm


fundamentação nas relações familiares tradicionais e no princípio da
solidariedade familiar, sendo que á existência de tais deveres e obrigações,
encontram-se faticamente presentes nas relações homoafetivas, dada sua
aproximação tangencial para com as relações de natureza familiar, que já se
encontram já regulamentadas.
26

As conseqüências obrigacionais e patrimoniais, que vem a alcançar o


patrimônio constituído, ou construído na vigência da relação tida pelos
contratantes, vem a garantir no caso de dissolução da relação homoafetiva o
equilíbrio necessário, viabilizando a garantia dos envolvidos na relação.

Neste passo, devemos esclarecer que a relação homoafetiva, somente


poderá ser extinta de três formas:

 Forma Natural: com o falecimento de uma das partes integrantes da


relação;
 Forma Consensual: quando os integrantes da relação colocarem termo
a mesma, de forma suasória, através de competente instrumento para
tanto;
 Forma Judicial: quando um dos integrantes da relação vem a de forma
judicial, requerer dissolução da sociedade formada;

As conseqüências obrigacionais e patrimoniais, que virão a alcançar o


patrimônio constituído na vigência da relação tida pelos contratantes, salvo
expressa disposição contrária, tratada entre as partes a qualquer momento da
vigência da união, encontra respaldo no caráter claramente contratual da
mesma, e na capacidade de e na liberdade de contratar que cada parte maior
e capaz possui, sendo que em inexistindo tal disposição contrária, devemos
entender que o patrimônio constituído pelos contratantes deverá no caso de
extinção da união homoafetiva pela morte de um dos mesmos, amparar o
sobrevivente, não imputamos que os herdeiros necessários, sejam excluídos
da relação, mas que os mesmos que na maioria dos casos nada fizeram, ou
contribuíram para a composição do patrimônio, venham a tomar o todo para si,
deixando a parte sobrevivente da relação sem qualquer amparo.

Imputamos que a parte sobrevivente sempre vem a contribuir para a


composição do patrimônio, de forma direta ou indireta não podendo com a
perda do companheiro ou companheira de toda uma vida após o golpe e a
27

tristeza gerados por sua perda suportar o abandono material, a proteção ora
propugnada a parte sobrevivente consubstancia-se em uma extensão dos
deveres de assistência material e imaterial, assumidos entre as partes.

Dissecado o conceito trazido por este trabalho, passamos a enumerar


os elementos caracterizadores das relações homoafetivas:

 a capacidade civil das partes;


 a igualdade dos sexos com relação aos contratantes;
 a inexistência de impedimento matrimonial entre os contratantes;
 a intenção das partes em constituir uma sociedade de natureza familiar;
 a publicidade da sociedade;
 a cooperação mútua;
 a assistência material e imaterial entre os contratantes;
 a coabitação;
 a fidelidade;
 a formalidade na constituição da Sociedade;
 a estabilidade e segurança.

2. Aspectos Históricos das Uniões Homoafetivas:

2.1 A Pré-História:

Neste período temos as formações das primeiras sociedades primitivas,


inferimos que a vida em sociedade, em qualquer período histórico, somente foi
possível em virtude da existência de regras a serem respeitadas por seus
integrantes, regras estas, que em momento nenhum podem ser abstraídas dos
grupos sociais mais elementares e primitivos conhecidos.

As regras de conduta social, sempre coexistem em qualquer sistema


social duradouro, quer através de regras, que nos parecem intrínsecas, ou
28

através de regras totalmente estranhas a nossa consciência, e que em nossa


estrutura de raciocínio de relações sociais normais não parecem se encaixar.

Assim, após tal assertiva, lançamos outra idéia, que nos parece muito
familiar, ou seja, desde o início dos tempos, nossa sociedade e qualquer outra
conhecida, encontra-se arrimada, na troca, no acumulo ou na circulação de
riquezas.

O acúmulo e a distribuição de riquezas, sempre vieram a traçar as


diretrizes de nossa conduta social e o que viria a ser aceito e não aceito dentro
de nosso comportamento social.

As entidades familiares lastradas no princípio da monogamia e


procriação, como os principais instrumentos de expansão da sociedade e de
distribuição e circulação de riquezas.

Neste passo, o crescimento da sociedade e a distribuição de riquezas e


a manutenção da paz e da ordem social, fundamenta-se na procura de
parceiros ou parceiras em famílias distintas e integrantes do mesmo meio
social.

Temos a conscientização de repúdio as relações incestuosas, uma vez


que as entidades familiares baseadas neste tipo de conduta, vêm a tornarem-
se endofágicas e lesivas a ordem e a paz social como um todo, ou seja,
consumiam-se por si próprias de todas as formas, biológicas, patrimonial,
etc..., nada vindo a contribuir para o fortalecimento e o crescimento social
como um todo.

Sob este mesmo prisma, devemos observar neste período histórico as


relações homoafetivas, embora não proibidas, a tolerância variava de acordo
com o grupo social onde estivesse inserida.
29

Observamos em grupos primitivos, tais como tribos indígenas, e outras


sociedades primitivas ainda existentes, que as sanções aplicadas às relações
homoafetivas, quando existentes, resumiam-se a meras reprovações sociais,
tais como o escárnio, a perda de privilégios ou direitos junto ao grupo social11.

2.2 Na Antiguidade Clássica Ocidental12:

Iniciamos nosso estudo pela primeira notícia de relação entre pessoas


do mesmo sexo a qual correu em 2000 ac na obra chamada de Epopéia de
Gilgamesh13, composta de 12 tabletes de argila descoberto em Nivide em
1853, mas antes, devemos observar a ordem social e o instituto do casamento,
nas sociedades grega, espartana e romana, particularmente, para podermos
entender as relações homoafetivas e seu ajustamento nos citados corpos
sociais.

Neste período histórico, assim funcionavam tais relações sociais


voltadas a família, ao casamento e as relações homoafetivas:

 O casamento tem prioritariamente o objetivo patrimonial e de garantir


uma sucessão legítima – Submissão da mulher dando-lhe o status de
propriedade do marido – Alianças Políticas.

 A questão sexual na antiguidade e secundária frente à garantia de


direitos patrimoniais e de status entre homens livres e escravos, sendo
que o sexo e utilizado como forma de imposição do poder e do status
social;

 Na antiguidade o conceito de não-natural, é ligado à idéia de exagero,


excesso, e não a idéia introduzida na Idade Média por São Thomaz de

11
Luiz Mott, Revista “nossa História” – Ano 1 / n.º 8 – Junho/2004 – Publicação Editada pela Biblioteca Nacional;
12
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000, p. 17;
13
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000;
30

Aquino, de não encontrar na natureza comportamento semelhante entre


os animais;

 As Relações eram aristocráticas, ou sejam, as mais puras eram aquelas


tidas para com iguais (no que diz respeito ao Status Social).

2.2.1 - Babilônia14:

A primeira noticia que temos a respeito de relações homoafetivas,


remonta da Babilônia, em descoberta ocorrida em Nívede no ano de 1853,
descoberta esta composta por 12 (doze) Tabuas de Argila, cujos escritos
consubstanciam-se na obra chamada de Epopéia de Gilgamesh, relatando
expressamente que tais relações eram vistas como prova de virilidade.

Tal fato encontra sustentação no Código de Hamurabi, datado de 1.750


ac., no qual não se encontravam proibições a tal prática, ao contrário, havia
privilégios aos ditos prostitutos e prostitutas da época, tidos como sagrados.

Não havia proibição legal em relação entre pessoas do mesmo sexo


nos textos legais da época.

Não havia proibição legal em relação entre pessoas do mesmo sexo


nos textos legais da época, sendo que o Código de Hamurabi, somente
possuía uma referencia com relação a comportamento sexual, em seu artigo
18715, onde estabelece a irrevogabilidade das adoções pelos templos,
privilégios que os sacerdotes da época possuíam.

As Leis Hititas, herdeiras do Código de Hamurabi, eram permissivas a


manutenção de relações homoafetivas, possuindo inclusive instituto legal
autorizativo, cujo texto ora reproduzimos:
14
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000, p. 17;
15
Código de Hamurabi – Art. 187. O filho de um dissoluto a serviço da Corte ou de uma meretriz não
pode ser reclamado – http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/hamurabi.htm;
31

“Se um escravo paga o preço do dote a um jovem livre e


leva-o para viver em sua casa como seu marido,
ninguém poderá resgatá-lo”

Inferimos que a natureza de tal dispositivo legal revela-se de caráter


meramente obrigacional/patrimonial, e não exarando do mesmo qualquer
intenção ou disposição de natureza familiar.

2.2.2 – Grécia16:

2.2.2.1 – Atenas:

Na sociedade ateniense a relação entre pessoas do mesmo sexo, não


era hostil ao casamento, ao contrário, o contemplava, vez que os atenienses,
acreditavam que as relações sentimentais puras deveriam ser aristocráticas, o
que só era possível entre duas pessoas iguais.

A igualdade citada no parágrafo anterior tem ligação intrínseca com o


status social do indivíduo e sua condição de homem livre.

A paixão e os sentimentos excessivos são considerados um mal, na


esfera individual e social, o excesso nesta época específica embasa os
conceitos de intolerância, monstruosidade.

O mal gerado pelo sentimento em excesso ganha proporções maiores


se fosse dedicado a uma mulher, esta considerada neste período histórico “o
mal do mundo”, e um ser inferior.

Esta afirmação ganha força ao compulsarmos o conto mítico da Caixa


de Pandora, aonde a mulher por sua curiosidade, veio a libertar todos os

16
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000, p. 17;
32

males que estavam escondidos dos homens:

“Dela nasceu à raça e a sucessão maldita das mulheres,


flagelo terrível instalado no meio dos homens mortais.”

Temos o surgimento da pederastia, onde os atenienses e viam com


bons olhos, a troca de favores sexuais entre os mestres e seus pupilos, onde
haveria de ser observado o fato de que o pupilo não deveria entregar-se sem
resistência e nem se colocar em posição passiva ao seu mestre.

Para melhor entendermos tais relações, cumpre esclarecer os padrões


de beleza da época:

 Aos homens o belo dava-se com a semelhança com os deuses, o que


podemos claramente observar nas esculturas da época, que retratavam
verdadeiros atletas;
 As mulheres o belo dava-se pela ocorrência de grandes pés, mãos
longas, braços brancos, grandes seios, rosto grande, ou seja, vigorosa
e “boa parideira”, a qual era tida como propriedade e possuía somente
02 (duas) funções: dar prazer ao marido e proporcionar ao mesmo uma
descendência legítima.

Não havia disposição legal contra a relação de pessoas do mesmo


sexo, mas havia contra o adultério, que era um crime que somente podia ser
cometido pelas mulheres, e a condolência do marido traído, resultava ao
mesmo a “atimia”, ou seja, a perda dos direitos políticos.

Para a tradição ateniense a origem da relação entre pessoas do mesmo


sexo, teria se dado pela frustração do Rei Téboro de Laio, pai de Édipo o do
complexo, que teria raptado o jovem e belo Crisipo, para viver um amor puro e
perfeito.
33

Não podemos esquecer de citar as lésbicas, mulheres oriundas da Ilha


de Lesbos, as quais eram diferenciadas, não por sua orientação sexual, a qual
também era exercida livremente, mas em virtude de seu comportamento
voltado ao aprendizado e a cultura, cujo Mestre Efós oriundo da mesma Ilha,
trazia consigo, a fama de grande poeta da época, que em suas obras
descrevia e enaltecia as relações e os amores havidos entre as suas pupilas.

Efós de Lesbos, apesar de suas fama, e de seus escritos, não gozava


de boa fama no meio social, por dirigir seus ensinamentos a indivíduos não
merecedores, tais como as mulheres, os escravos e os chamados mal
nascidos.

2.2.2.2 – Esparta:

Na Cidade-Estado de Esparta, observamos o fenômeno social da


“sistitia ou fiditia” (fiditia derivada de filia “amizade”), ou seja, refeições comuns
entre os homens, realizadas em mesas contendo 15 (quinze) indivíduos, a
requisição para integrar uma mesa, dava-se com a idade de 20 (vinte) anos,
cuja participação era obrigatória até os 60 (sessenta) anos, até a idade de 30
(trinta) anos, indivíduos deveriam fazer suas refeições e recolherem-se em
abrigos comuns, o contato com as esposas dava-se somente alguns
momentos antes das refeições.

Os jovens viviam juntos como casais, objetivando assistência, o


treinamento militar e a educação, aos amantes inclusive impunham-se os
castigos pela falta de seus companheiros, por considerá-los culpados na falha
de suas educação.

Os jovens aristocratas espartanos eram castigados, se não tivessem um


companheiro, que lhes destinasse os devidos cuidados, observando-se ainda,
que os mesmos, também podiam ser multados, caso o companheiro escolhido
o fosse somente por sua riqueza, em detrimento de um mais pobre e honrado.
34

Na sociedade militar de Esparta, o casamento não fazia a mulher


propriedade exclusiva do marido, no caso do marido encontrar-se em idade
muito avançada, podia o mesmo solicitar que um jovem forte e robusto
tomasse sua esposa e gerasse filhos saudáveis na mesma.

Há de se esclarecer que os filhos não eram propriedade dos pais, como


na sociedade grega e romana, uma vez que aos sete anos, os mesmo eram
entregues a guarda e responsabilidade do estado.

Após completo o treinamento militar e ao atingirem determinada idade,


os jovens espartanos eram encaminhados ao casamento, o qual na sociedade
espartana era quase que obrigatório, mas não gerava qualquer impedimento
às relações homoafetivas.

As mulheres espartanas gozavam de maior liberdade que suas co-irmãs


atenienses, as quais no entendimento de Aristóteles, Licurgo, legislador
espartano, tentou tornar firme o caráter dos cidadãos, atacando o luxo e a
devassidão, porém, este intento não foi alcançado junto às mulheres, que
viviam desfrutando da permissividade e entregando-se a luxuria, resistindo aos
regulamentos e fazendo com que o legislador desistisse de dominá-las.

O exercício físico era pratica comum entre as espartanas, cuja preguiça,


a moleza e a efeminação como a um todo eram abolidos, tais comportamentos
objetivavam a geração de crianças robustas e saudáveis e para resistirem às
dores do parto.

Plutarco nos conta que Gorgo, esposa do General Leônidas,


respondendo a uma estrangeira, que veio a indagá-la o porque as mulheres de
Esparta davam ordens a seus maridos, asseverou-lhe: “Porque somos as
únicas que parimos homens”17.

17
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 50;
35

Havia entre as mulheres espartanas uma espécie de pederastia


feminina, assim como os homens mais velhos ligavam-se a mais novos, as
mulheres tinham suas discípulas, a existência de casais femininos, não era tão
rara, uma vez que apesar de não participarem das atividades políticas,
participavam ativamente de todas as outras atividades.

2.2.3 - Roma18:

No Império Romano o casamento importava essencialmente em uma


questão de propriedade e na união política entre as famílias romanas, que
primavam por uma moral sexual restrita, sendo que o homem romano podia
exercer sua sexualidade livremente, mas devia observar determinadas regras
de conduta voltadas a seu status social de seu parceiro, devendo os mesmos
observarem o seguinte:

 era proibido o relacionamento diurno, ou sem a penumbra adequada;


 era proibido o relacionamento com uma mulher totalmente desnuda;
 era proibido o relacionamento em posição submissa a outro homem
socialmente inferior ou escravo;
 as mulheres consideradas dignas não poderiam exercer o sexo livre ou
cometer adultério.

A Lei Romana não impunha restrições ao relacionamento entre pessoas


do mesmo sexo, desde que as mesmas não colocassem em risco as virtudes
dos homens livres.

O Adultério não era um crime exclusivo da mulher, poderia a mulher


adultera ser morta, assim como seu amante, caso o mesmo possuísse status
social inferior ao do marido traído, devendo os adúlteros ser entregues aos
pais da noiva, para que a justiça fosse feita.
18
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000, p. 63;
36

Geralmente os maridos traídos optavam pelo repúdio da adultera,


ficando com seu dote e casando-se novamente, deixando a criminosa exposta
a sua própria vergonha.

Já o cúmplice nem sempre era morto, havendo grande preferência em


deixar o mesmo uma noite para o deleite do marido ultrajado ou de seus
escravos, o que era considerado um castigo até pior que a morte, que ainda
poderia dar a honra da morte em virtude de uma mulher casada.

A pederastia não era tão exaltada como entre os gregos, mas


largamente praticada, o exercício da sexualidade e sua liberdade encontrava
limite em relação aos adolescentes livres e bem nascidos, que independente
do consentimento dos mesmos, era considerado crime de estupro.

É importante informar, que o sexo havido com escravos, dançarinos,


atrizes, libertos com ou sem consentimento dos mesmos, adolescentes ou
adultos, não era considerado crime, tais categorias inferiores existiam para
atender os prazeres dos homens livres.

Amílcar Torrão Filho19, nos traz um único exemplo de lei proibitiva


contra atos homossexuais, a Lei Escatínia de 226 ou 149 a.c., criada porque
um cidadão Escatínio Capitolino, edil ou tribuno da plebe é acusado no senado
de haver tentado seduzir a força o filho de um cônsul Cláudio Marcelo. O rapaz
foi chamado a depor e, enrubescido de vergonha, pôs-se a chorar.

Os senadores emocionados condenaram Escatínio a uma pesada


multa, dando então seu nome a esta lei.

Os romanos não aceitavam os amores pederásticos pelos jovens


efebos livres, pois viam nisso uma exaltação da paixão, fazendo de um amante
19
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 69;
37

um escravo de seu amado e de sua paixão, não havia a presunção grega de


que o amor por um adolescente pudesse ser platônico.

O temor recaia sobre a reputação dos jovens bem nascidos, que


sempre saiam de casa em companhia de um escravo, pois temia-se pela por
sua virtude e pela dos outros jovens.

Os adolescentes e pré-adolescentes, que não fossem bem nascidos,


podiam servir a satisfação do prazer, principalmente se fossem escravos, mas
ao primeiro sinal de virilidade masculina (aparecimento dos primeiros fios de
bigode), o mesmo deveria ser abandonado por seu amo e senhor.

Para os romanos, o que devia ser evitado era a escravidão que vinha
com a paixão, o estupro era parte aceita da sexualidade, quando não praticado
contra cidadãos livres.

A idéia de ser submetido a escravidão, propriamente dita ou em sua


vida privada, através de paixões, era abominável a um cidadão romano.

Amílcar Torrão Filho20, nos traz um único exemplo de lei proibitiva


contra atos homossexuais, a Lei Escatínia de 226 ou 149 a.c., criada porque
um cidadão Escatínio Capitolino, edil ou tribuno da plebe é acusado no senado
de haver tentado seduzir a força o filho de um cônsul Cláudio Marcelo. O rapaz
foi chamado a depor e, enrubescido de vergonha, pôs-se a chorar.

Os senadores emocionados condenaram Escatínio a uma pesada


multa, dando então seu nome a esta lei.

Cumpre ainda citar a Lei Julia, lei romana contra o adultério, cuja
interpretação várias vezes foi estendida de maneira a cobrir os casos de
estupro de jovens livres.
20
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 69;
38

As mulheres romanas apesar de gozarem de maior liberdade que as


gregas, era necessário que se mantivessem castas para garantir a filiação
legítima de seus maridos.

Neste passo, as mulheres que não fossem guardadas para o


matrimonio, podiam ter uma vida sexual livre, o que incluía as relações
homoafetivas, ainda que a opinião masculina na época concorda-se com o
filosofo Sêneca:

“Uma mulher que se toma por um homem é um mundo às avessas”

2.3 – Na Idade Média21-22:

Conforme observamos, os antigos clássicos (gregos e romanos),


preocupavam-se com os excessos em suas paixões, as quais demonstravam-
se impeditivas do cumprimento dos deveres públicos dos cidadãos, as paixões
desmedidas perturbavam e obstruíam a razão e tornavam a mente escrava.

O conceito de monstruosidade e antinaturalidade repousavam sobre os


sentimentos e atitudes tidos em excesso.

A Igreja Católica em uma fase pré-medieval, vem em sua filosofia a


agregar muito dos valores sexuais romanos, adaptando muitos dos valores
pagãos a sua nova moral sexual, ante a impossibilidade de mudá-los
radicalmente.

Médicos, políticos e filósofos da época pregavam que o desejo não


deveria interferir na vida intelectual, difunde-se a “pornéia”, espécie de
doença pela perda de fluidos vitais do corpo, a qual intrinsecamente é ligada a

21
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000. p. 87;
22
Michel Foulcalt - Historia da Sexualidade a Vontade de Saber - Vol. 1 – 15ª ed, Graal – 2003;
39

mortalidade.

Galeno, Oribásio, Rufo e Éfeso, todos voltados à ciência médica,


lançam as bases para a defesa da castidade e da abstinência, longe dos
excessos das paixões, devemos frisar que tais recomendações são voltadas
para o modo de vida das elites, objetivando o bom aproveitamento das
energias sexuais para a geração de filhos saudáveis e o aproveitamento de
suas energias físicas e mentais para as atividades físicas.

Os primeiros cristãos convivem durante muito tempo, com muito dos


valores considerados pagãos, a busca por Deus, neste período de transição, é
considerado compatível com a homossexualidade, historicamente é difícil
traçarmos uma linha que venha a separar a moral antiga e a cristã nos
primeiros momentos de desestruturação do Império Romano.

Neste sentido, e oportuno citarmos Amílcar Torrão Filho:

“A passagem da tolerância quase ilimitada dos romanos


com relação à homossexualidade às fogueiras dos
cristãos é uma questão difícil de resolver.”

Há de se asseverar que o cristianismo em seus primeiros escritos, não


apresenta quase nenhuma condenação ao homossexualismo, que ainda seria
praticado com relativa liberdade por vários séculos23.

A repressão à homossexualidade, neste período introdutório da idade


média, não teve muito efeito na Europa, pois com o fim do Império Romano,
não havia um poder centralizado, abstraindo-se, portanto um controle maior,
deixando as pessoas livres, em que pese a moral oficial crescente e
intolerante.

23
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 89 - apud BOSWELL, John. “Hacia um enfoque amplio. Revoluciones Universales y
categorias relativas a la sexualidad” In: STEINER, George e BOYERS, Robert. Homoxessualidad: literatura y
política. Trad. Esp. Madri: Alianza, 1982. (humanidades), pp. 38-74
40

Em 312 d.c. o Imperador Constantino converte-se ao cristianismo, em


379 o Império Romano é divido em ocidental e oriental (bizantino), em 500 d.c.
Roma é saqueada e arrasada, representado o grande fim da cidade eterna,
fixando-se ai o marco de um novo quadro social, e uma nova moral sexual a
ser observada.

Nos séculos II e II, começou a delinear-se uma nova moral arrimada na


renuncia sexual, com uma ênfase maior na harmonia conjugal, desaprovação
do adultério, inclusive o masculino, do divorcio e das segundas núpcias para
viúvos e viúvas.

Com as invasões bárbaras e a decadência dos meios urbanos, que


anteriormente haviam abrigado toda uma subcultura homossexual, as idéias
repressoras foram ganhando mais espaço contra as minorias, como os
homossexuais e os judeus.

No fim do Século IV, temos o advento do Código Teodósico,


transformando o decadente estado romano em uma teocracia cristã, havendo
no mesmo a previsão da pena de morte para as relações homossexuais, bem
como para outras atividades pagãs, como os sacrifícios religiosos.24

Em 390 d.c. ocorre a primeira condenação pela prática de


homossexualidade, cuja pena veio a ser a de castigos corporais, coincidindo
com a diminuição da tolerância com relação às formas de sexualidade não-
procriativas e a prostituição masculina.

O primeiro texto de lei que veio a proibir sem reservas a


homossexualidade foi promulgado em 533 d.c., pelo Imperado Justiniano, que
veio a assemelhar as relações homossexuais ao adultério, cuja pena prevista

24
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 89.
41

era a de morte.25

A lei citada no parágrafo anterior teve uma utilização mais política que
social, no que tange a sua aplicação pelo Imperador Justiniano, tendo mesma
sido utilizada para a perseguição política daqueles que lhe faziam oposição, e
para perseguir aqueles que de qualquer forma tivesse ofendido um
governante.

O antigo historiador Procópio defendeu, que o objetivo primordial do


Imperador e sua esposa era criar esta lei, para tirar o dinheiro das vitimas e
perseguir seus inimigos, como os samaritanos, os pagãos os cristãos não-
ortodoxos, os judeus e os astrólogos.

Em 650 d.c. os visigodos adotaram uma legislação prevendo a pena de


castração àqueles que praticassem a sodomia, tendo os mesmos utilizados os
homossexuais e os judeus bodes expiatórios de todas as tensões sociais,
sendo que nos séculos VI e VII, com o apoio maior ou menor da igreja.

Fora da Espanha leis prevendo as penas de morte, mutilação e flagelo,


eram raras, sendo que somente em 966 d.c. em Roma foi promulgada uma lei
punindo os atos homossexuais, com pena de estrangulamento e a fogueira,
leis estas voltadas principalmente para a punição do estupro e os atos não
consentidos.

O cristianismo consolida-se como a religião oficial do estado (poder),


consubstanciando-se a mesma na única força organizadora do que veio a
sobrar da desintegração do Império Romano.

O poder exercido pela igreja, lastra-se no instituto da “pater familia”,


qual de forma sutil, trazido pelo novo estado constituído e retirado do direito do

25
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 95 - apud BOSWELL, John. “Hacia um enfoque amplio. Revoluciones Universales y
categorias relativas a la sexualidad” In: STEINER, George e BOYERS, Robert. Homoxessualidad: literatura y
política. Trad. Esp. Madri: Alianza, 1982. (humanidades), pp. 38-74
42

pai da família romano.

Cumpre ressaltar que o estado vale-se do intrínseco “poder de deixar


viver ou decretar a morte”, inerente ao “pater família”, o qual destinava ao
pai da família romano, poder absoluto sobre a esposa, os filhos, agregados e
escravos.

Assim, o nove estado (poder) consolidado, lastra-se na existência de


um Pai Todo-Poderoso, que zela e cuida de todos os seus filhos, e suas
determinações se manifestam pela Igreja e seus representantes, que se valem
do direito do mesmo de deixar viver ou decretar a morte, para fazer valer suas
determinações, as quais são chamadas de dogmas.

Os dogmas consubstanciavam-se na verdade revelada por Deus, que


em virtude de serem decretos divinos, eram irrefutáveis e inquestionáveis, a
ciências e a pesquisa são abolidas neste período histórico em especial, sendo
que o saber que embasa o conhecimento provem das confissões obtidas de
forma livre, sobre forte impacto do medo da perdição e da extrema
necessidade de obter a absolvição e redenção, ou aquelas que muitas vezes
não correspondiam a verdade, mas que através da dor, eram concedidas aos
confidentes, é lógico que na segunda hipótese, falamos de uma época, onde a
tortura e a crueldade eram a sombra da confissão, para justificar as verdades e
dogmas absolutos, instituídos pelo estado (Igreja) em seu poder soberano e
repressor26.

Por conseguinte, o desprezo destinado às mulheres não é revisto, nas


palavras de Santo Agostinho, o mesmo exprime seu desprezo pelos homens,
que deixavam outros usarem seus corpos como o de uma mulher, pois o corpo
do homem era tão superior ao da mulher, como a alma era superior ao corpo.

Apesar da homossexualidade somente ter sido tratada pelo 3º. Concilio

26
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003 – pág.101.
43

de Latrão, na ausência de vontade dos governantes em legislar sobre


assuntos familiares e sexuais, coube a igreja tal obrigação, vindo a mesma por
tal motivo a criar o direito canônico.27

Institui-se neste período o Instituto da Aliança, aplicada a noção de


família impõe um sistema de regras que define o permitido e o proibido, o
prescrito e o ilícito, preceitua o vinculo entre parceiros com status definido,
vinculando-se fortemente a economia, devido ao papel que desenvolve na
transmissão ou circulação das riquezas, sendo o mesmo ordenado para agir
em homeostase com o corpo social, o qual e sua função manter, surgindo daí
o fato de seu objetivo consubstanciar-se na reprodução.28

Observamos que a igreja e prudente nos primeiros anos do


cristianismo, indicando a homossexualidade como uma forma de fornicação e
adultério, vindo em primeiro plano, as penitencias e posteriormente a fogueira,
no inicio trata-se de uma falta menor, sendo que a intolerância e a perseguição
aos homossexuais têm inicio no último século do período medieval.

São Thomas de Aquino veio a classificar a sodomia como crime,


imputando a mesma a categoria de pecado contra a natureza, logo contra a
própria criação divina, uma vez que a mesma alterava a ordem natural,
colocando o homem no lugar da mulher e a mulher no lugar do homem, o que
impedia a procriação, sendo que tal assertiva encontrava contradição em
outras formas de exercício da sexualidade, tais como a masturbação e coito
interrompido.

Consciente desta contradição, São Thomas de Aquino, vem a retificar


seu entendimento, e reclassifica a sodomia como um vício contra a natureza,
uma vez que não era encontrado em nenhuma outra espécie animal, embora
os teólogos da época, julgassem o homem superior aos animais e que os
27
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 96 - apud HARDMAN, Paul D. Homoaffectionalism. Male bonding from Gilgamesh to the
present. São Francisco: GBL, 1993.
28
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003 – pág.101.
44

mesmos, não podiam ser paradigma aos atos humanos.

Em 1198, foi criado o tribunal de inquisição para combater os heréticos,


os blasfemadores e todos aqueles que fossem contrários aos preceitos do
catolicismo, a criação do citado tribunal, coincide com a criação dos crimes de
lesa-majestade, onde o direito civil, em face de tais crimes, contra a autoridade
do rei e do estado, impõe aos homens livres as penas de tortura.

As heresias foram relacionadas pela igreja católica com todo o tipo de


abominação: incesto, adultério, antropofagia, adoração do diabo, sodomia,
pecados cuja descrição por si só um pecado.

O Foral de Cuenca (Espanha) em 1189 determinou que qualquer


homem implicado em ato de sodomia devida ser queimado.

A partir dos séculos XIII e XIV a tolerância com relação à


homossexualidade é cada vez menor, coincidindo com a montagem dos
estados absolutistas, que marcou a consolidação do poder civil e eclesiástico
na Europa e um crescimento a repressão, as mulheres passaram a ser mais
excluídas, judeus, muçulmanos, bruxas, hereges e sodomitas foram
perseguidos pelas leis civis e religiosas.

Neste período a sodomia ou homossexualismo, deixa de ser visto como


um pecado menor transformando-se em um pecado gravíssimo, que sequer
devia ser mencionado.

A partir do século XIII, todos os grupos marginalizados foram


segregados e perseguidos, uma vez que representavam um perigo a
comunidade cristã, e mantença de seu frágil equilíbrio.
45

2.4 – Na Idade Moderna29-30:

A passagem da Idade Média para a Idade Moderna caracteriza-se por


04 (quatro) fenômenos e extrema importância, o chamado renascimento
cultural e artístico, oriundo de Florença no século XV, a consolidação dos
estados centralizados, que são o primeiro passo para a criação dos Estados
Nacionais Absolutistas, o mercantilismo e o surgimento da primeira forma de
capitalismo organizada, o capitalismo comercial, estes dois últimos,
intrinsecamente ligados com as grandes navegações e a descoberta da
América.

A vida privada, mais especificamente a sexual das pessoas neste


período foi duramente policiada e controlada pelo poder constituído, através da
policia, tribunais, igreja, inquisição, etc...

Inferimos que a perseguição aqueles que se dedicam as relações


homoafetivas ou homoeroticas, apontada na idade medieval, neste período
histórico em particular, são intensificadas, tendo no mesmo o seu ápice com as
perseguições intentadas pelo santo ofício.

Martinho Lutero lança suas teses de reforma da igreja e acaba iniciando


um processo de divisão da religião, provocando a reforma protestante e a
contra reforma católica, tal fato, vem a tornar o estado, que neste momento
encontra-se intrinsecamente ligado à igreja, mais intolerante, com os não-
conformistas, judeus, luteranos, feiticeiras, homossexuais, apostatas entre
outros.

Em 1545 a 1563, ocorre o Concilio de Trento, o qual lança as bases do


catolicismo que hoje conhecemos, trazendo o celibato dos padres, o
casamento católico, a castidade para os solteiros e a perseguição a

29
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000;
30
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003;
46

homossexualidade.

Há o surgimento de um novo fenômeno social, o da “população”


oriundo do crescimento desenfreado das cidades, o que agrava as tenções
sociais e políticas já existentes.

2.4.1. – No Renascimento31:

O renascimento cultural sem em qualquer tipo de oposição a religião ou


a igreja, traz a retomada de valores estéticos e filosóficos da antiguidade
clássica, embora na vanguardista e liberal Itália, a perseguição aos
homossexuais foi intensa nos séculos XIII a XIV, sendo que as autoridades
locais legislavam cada vez mais sobre a vida privada dos cidadãos.

Por volta de 1.400, a sodomia “crime enorme, ofensa a Deus, perigo


para as cidades e contrário a propagação da espécie humana”, foi perseguida
em Veneza, onde as autoridades a classificavam como uma verdadeira praga
instalada e que deveria ser erradicada, o que denota a veracidade do fato e
que na Alemanha, a palavra florenz (florentino) era utilizada para a
identificação de homossexuais, em Portugal, somente o fato de o indivíduo ter
passado pela Itália era o suficiente para o santo oficio, levantar as suspeitas de
pratica de sodomia.

Cria-se na data de 1403, na Cidade de Florença o cargo de Onestà,


para estirpar o chamado mal abominável, pelo incentivo da prostituição
feminina, que concorria com a homossexualidade, sendo que em 1415 a Igreja
Florentina deflagra uma campanha agressiva contra a homossexualidade, com
amplo apoio do estado, agindo a autoridade religiosa e estatal em conjunto em
várias Cidades Italianas, lastrando-se no fato de que “tal mal causava estragos
em todos os lugares, ganhava incessantemente novos adeptos, desviando do
casamento e, como apregoavam os magistrados da época, contribuía para o

31
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 110;
47

despovoamento”.

Em 1432, Florença cria uma magistratura judiciária os ufficiali di notte


(oficiais da noite), para controlar e perseguir a sodomia entendida como
homossexualismo masculino, tal magistratura foi extinta em 1502 tendo em
seus registros, mais de 10.000 (dez mil) nomes de acusados registrados.

As autoridades florentinas adotam uma posição disciplinante e


pragmática, que objetivava mais a contenção do que a repressão dos
excessos sexuais, pois em face de realidade que enfrentavam,optaram pelo
controle, uma vez que acreditavam na impossibilidade de ser extirpada.

As leis florentinas previam para o crime de sodomia ou


homossexualidade masculina, as penas de castração (1325) ou morte (1365),
sendo que em 1408 às penas de mutilação, morte e exílio, vieram a ser
banidas.

A partir de 1432 a homossexualidade é considerada um delito mais


leve, mas passível de condenação, voltando-se o estado e a igreja a punição
mais severa para os casos de sexo entre judeus e cristãos ou dentro de
igrejas.

Em 1502 os Oficiais da Noite, são abolidos, pela honra de Florença,


uma vez que em face de tantos cuidados do estado, para com tais fatos, não
viesse a apontar Veneza como uma oficina de sodomitas, uma vez que em
face de tantas acusações, levantadas, por tais Oficiais, manchava a reputação
da Cidade, onde a mantença desta “humilhante magistratura” inferia a
preferência dos homens florentinos pelos rapazes.

2.4.2 – No Absolutismo32:

32
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 130;
48

No que tange aos estados absolutistas, os reis franceses, também


renderam homenagens ao “amor que não se poder dizer o nome”, onde
grandes soberanos, em detrimento de seus casamentos, destinavam suas
forças apenas ao amor de seus mignons – uma guarda pessoal, composta de
jovens nobres, escolhidas a dedo de maneiras delicadas e que na intimidade
trocavam intitulavam-se por nomes femininos, inclusive a sua majestade.

Tal guarda, por vezes era incumbida do rapto de jovens fortes e bonitos,
nobres ou não, pelos quais o rei demonstrava seus desejos, os quais lhe eram
entregues para que os saciasse.

É lógico afirmar, que tais fatos não eram passiveis de punição ou


rejeição em face da autoridade real, porém as camadas populares,
enfrentavam as limitações da Inquisição do Santo Ofício, estas mais intensas
nos paises ibéricos, Portugal e Espanha.

Em Portugal a homossexualidade é documentada desde a época da


ocupação romana, não ficando o pequeno reino, indiferente a sua repressão,
que aumenta durante os séculos XIII e XIV e tem seu pico durante a idade
moderna.

As Ordenações Afonsinas, código de leis portuguesas que considerava


a sodomia como o pior dos crimes e dos pecados, e promulgada no século XV,
seguida das Ordenações Manoelinas (1521) e Filipinas (1606), que na insistem
na criminalização da sodomia.

Inferimos, porém, que as leis desta época, não possuíam a


aplicabilidade que possuem ou pretendem possuir as de hoje, motivo pelo
qual, poucos foram condenados por tal crime pelos Tribunais Portugueses,
apesar de lhe ser dirigido o tratamento de crime de lesa-majestade e traição
nacional.
49

Em 1536 a inquisição é instalada em Portugal, e em 1553, através de


uma provisão do Rei João III a mesma é autorizada a proceder contra a
sodomia, sendo certo ainda, que a Inquisição Portuguesa somente possuía
competência sobre a chamada sodomia perfeita, ou seja, penetração seguida
de ejaculação, os demais atos eram classificados como molice ou sodomia
imperfeita e considerados menos graves.

Os Arquivos da Inquisição Portuguesa o Professor Luiz Mott, aponta no


Repertório do Nefando, 4.419 (quatro mil, quatrocentos e dezenove) pessoas
implicadas entre 1.587 a 1.794 pelo crime de sodomia, destas 394 chegaram a
ser presas e processadas, sendo que somente 30 (trinta) chegaram a ser
condenadas à morte pela fogueira.

A maior parte destas prisões ocorreu no século XVII época de particular


repressão à homossexualidade na Europa, sendo que ao nos aproximarmos
do século XVIII, o século das luzes, as prisões tornam-se cada vez mais raras,
em 1.711 tem a noticia da última prisão em Coimbra e 1768 em Lisboa e
Évora.

2.4.3. – O Estado Poder Garantindo a Vida33:

Assim, por muito tempo, fez-se valer um dos privilégios característicos


do poder soberano, o poder de deixar viver ou decretar a morte do indivíduo,
não falamos do chamado direito de gládio, ou seja, direito de guerra, mas de
um dispositivo inserido no corpo social de forma a fazer valer dos direitos dos
homens livres e principalmente detentores de poder e riqueza.

Tal dispositivo vem a evoluir da “patria potestas” do direito romano,


que concedia o direito ao pai da família de dispor da vida daqueles que
economicamente se encontrassem sob sua guarda, esposa, filhos, escravos,

33
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003 – pág.101;
50

etc...

Durante os períodos históricos anteriores, a condição da vida do homem


não era distinta da condição dos outros serem vivos, Aristóteles define muito
bem o pensamento sobre a existência do homem nos períodos anteriores, pois
durante milênios, permaneceu o que era um animal vivo, capaz de uma
existência política.

Assim a partir do final da Idade moderna, mais precisamente no século


XVII, o velho poder de decretar a morte ou causar a morte, é substituído pelo
poder de causar a vida.

Tal modificação na conduta do estado∕poder, coincide com as


alterações sócio econômicas ocorridas pelo surgimento e desenvolvimento do
capitalismo comercial, e, de um fenômeno chamado de “população”.

O direito de proteger a vida emerge como simples reverso do direito de


morte, ou seja, o direito do próprio corpo social de garantir sua própria vida,
mantê-la e desenvolvê-la, centrando sua filosofia em um pólo de
desenvolvimento voltada ao corpo humano visto como uma máquina, o qual
necessita de adestramento, na ampliação de suas aptidões, na extorsão de
suas forças, no crescimento paralelo de sua utilidade e docilidade, na sua
integração em sistemas de controle eficazes e econômicos, tudo assegurado
por disciplina de poder.

Vislumbra-se o inicio de grandes mudanças, que consolidar-se-ão


durante a idade contemporânea e a partir do século XX virão a romper com
todos os padrões pré-estabelecidos e discriminação e uma das grandes
mudanças que veio a possibilitar não só aceitação e tolerância de grupos até
então discriminados, mas também ao reconhecimento de seus direitos civis
emanados de seu direito a vida reconhecido pelo estado.
51

2.5 – A Idade Contemporânea34-35:

Como fenômenos de extrema relevância, destacamos a Revolução


Francesa e a Revolução Industrial, marcos que modificaram de forma
irremediável, os rumos da historia, das nações e moldaram nossas
sociedades, tal qual a conhecemos hoje.

No que tange ao nosso objetivo com relação ao tema ora tratado, após
a Revolução Francesa, progressivamente a homossexualidade, começou a ser
gradativamente descriminalizada, inicialmente pela constituição francesa
promulgada em 1791, e seguida pelos outros paises que se influenciaram
pelos princípios de igualdade, fraternidade e liberdade que varreram o mundo
neste período histórico.

O Código Napoleônico de 1813, não trazia nenhuma referencia a


homossexualidade masculina, visto que a feminina raramente era citada, por
qualquer legislação penal existente, frisando-se que muitos estudiosos da
época negavam a existência desta última.

Assim, durante o século XVIII, até o inicio do século XIX, a Inquisição do


Santo Ofício veio a desaparecer, embora, tenha ocorrido a descriminalização
progressiva, com a supressão da ameaça do estado∕poder com relação as
penas de castigos corporais, mutilação e morte, a perseguição e a
discriminação re a perseguição continuaram intensas.

A partir da segunda metade do século XVIII, e com o advento da


revolução industrial, e da consolidação do capitalismo, tal qual o conhecemos,
passamos a observar as seguintes mudanças, que levam o estado∕poder a
intentar novas filosofias mais abrangentes com relação a preservação da vida
em dos indivíduos que compõe o corpo social.

34
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003 – pág.101.
35
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000;
52

O indivíduo, que nos períodos históricos anteriores, tinha a expectativa


e qualidade de vida precárias e ligadas diretamente a sua capacidade de
servidão e de suportar a miséria, com o advento da revolução industrial, tem a
oportunidade e oferecer a sua força de trabalho, objetivando sua subsistência
e a de sua família.

Observa-se o inicio da alteração da forma como as riquezas são postas


em circulação, o que anteriormente somente ocorrida com o casamento de
indivíduos de famílias abastadas, agora ocorre com a venda da força de
trabalho, proporcionando as pessoas à possibilidade de acumulação de
riquezas e capital por parte daqueles que anteriormente somente podiam
servir.

Assim observa-se ao nascimento de um bio-poder, indispensável ao


desenvolvimento do capitalismo, que só pode ser garantido a custa da
inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por meio de um
ajustamento dos fenômenos de população aos processos econômicos.

Passa o estado∕poder a ter o corpo como espécie, no corpo


transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos
biológicos: a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a
duração da vida, a longevidade, com todas as condições que podem fazê-lo
variar; tais processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções
e controles reguladores: uma bio-politica da população.

O conceito aristotélico anterior, que pregava a situação de animal do


homem, com o diferencial de que somente o mesmo era capaz de possuir uma
vida política, é severamente alterado, continuando o homem em sua condição
animal, mas em cuja política, sua vida de ser vivo está em questão.

Assim, o sexo e a sexualidade com instrumento e função essencial a


53

vida, em face dos procedimentos de estado∕poder e de saber que tentam


controlá-los e modificados, no século XIX, conhecido como o século da
ciência, são desmembrados e colocados no cerne dos questionamentos, como
forma do homem ocidental aprender pouco a pouco o que é ser uma espécie
viva num mundo vivo.

Uma das conseqüências de tais fatos, e a necessidade do surgimento


de sistemas jurídicos legais, objetivando o controle social de tais processos, ou
seja, a sociedade necessariamente tem de se tornar normatizadora, como
conseqüência do efeito histórico de uma tecnologia de poder centrada na
proteção da vida, temos assim, o surgimento de Constituições escritas no
mundo inteiro a partir da revolução francesa, a redação de códigos, e uma
atividade legislativa permanente e ruidosa.

Assim, a sexualidade veio a ser esmiuçada, em cada existência e nos


seus mínimos detalhes, foi abordada das condutas aos sonhos, perseguida até
os primeiros anos da infância, tornando-se a pedra de toque da
“INDIVIDUALIDADE” do ser humano inserido no corpo social, sendo que a
tecnologia do sexo, escalona-se em uma série de estratégias que objetivam a
disciplina do corpo e o da regulação das populações.

As perversões sexuais são abordadas de forma incisiva, voltando-se os


estudos aos males que tais perversões traziam a sociedade e a família, o
homossexual e entendido como um ser biologicamente distinto das pessoas
normais com uma natureza singular.

Em 1860 o médico alemão Karl Heinrich Ulrichs (1825-1895), propõe


uma interpretação embrionária para a homossexualidade, onde propõe que os
embriões humanos dividiam-se em 03 (três), o masculino, o feminino e o
homossexual ou urning (de uranista, termo criado para os homossexuais
derivado da vênus urânia, citado no banquete de Platão como o mãe do
homoerotismo).
54

Tal assertiva buscava impedir a perseguição legal dos homossexuais,


argumentando que tais instintos eram inatos, portanto naturais.

A palavra homossexual é utilizada pela primeira vez em 1869, em uma


carta aberta ao Ministro da Justiça alemão, enviada pelo médico alemão de
origem húngara Karoli Benkert (Kertbeny), solicitando a supressão do
parágrafo 143 do código penal da Prússia, que considerava crime as relações
homossexuais entre homens.

É importante consignar que na mesma época temos o surgimento do


termo heterossexual. O interessante e que ambos os termos heterossexual e
homossexual eram voltados para determinar perversões sexuais, sendo a
primeira uma inclinação exagerada pelo sexo oposto, e a segunda o interesse
pelo mesmo sexo, sendo que posteriormente a utilização de tais
denominações vieram a ser corrigidas.

Em 1897 Magnus Hirschsfeld (1868-1935), funda o Comitê Cientifico


Humanitário, com o objetivo de reformular as leis existentes e educar o publico
sobre a homossexualidade e motivar os homossexuais a lutar pelos seus
direitos, o que culmina com a publicação de “O Uranismo” em 1903, iniciando-
se assim o movimento internacional pela descriminalização da
homossexualidade.

2.6 – O Século XX:

O Século XX sobrepõe-se sobre os demais, uma vez que as


delimitações sociais e conceituais, que em outros tempos pareciam
intransponíveis, foram implodidas e se transformaram em meros apotegmas,
tudo em virtude da luta dos movimentos sociais pelos direitos civis, que
ocorreram em todo o mundo ocidental, tendo o movimento homossexual,
adquirido voz própria nos Séculos XVIII e XIX e empreendido uma luta legítima
55

pelo reconhecimento de seus direitos civis desde então.

Os fatos marcantes deste período histórico e que vieram a culminar com


o reconhecimento dos direitos civis dos homossexuais de forma direta e
indireta foram à revolução russa de 1917, a segunda guerra mundial e os
movimentos civis pelos direitos civis dos homossexuais nascidos na década de
50 no Estados Unidos, sobre os quais ora discorremos:

2.6.1 – A Revolução Russa de 191736:

Em 1917 a revolução russa, derrubou o governo czarista e criou o


primeiro governo comunista da história, sendo que as leis anteriormente
estabelecidas, e que regulavam as condutas sociais foram abolidas, inclusive
aquelas que penalizavam a homossexualidade, o aborto e o divorcio.

Os delegados soviéticos tiveram grande importância no congresso


mundial, no que tange a reforma sexual, uma organização que trabalhava pela
liberdade sexual e pelos direitos dos homossexuais, da mesma forma que as
mulheres tiveram um papel importante nestas mudanças.

A revolução russa, no seu inicio, fazia crer que a libertação estava a um


passo de ser conseguida, mas ilusões são ilusões e num período conturbado
da história, a política revolucionária não cumpriu as esperanças que lhe foram
depositadas, ao contrário, houve uma nova onde de perseguições, com
assunção do poder por Stalin, que passou a considerar a homossexualidade,
como um mal capitalista burguês a ser eliminado.

Em 1934 com base na teoria da boa família soviética, são criadas leis
que criminalizam a homossexualidade, que é vista como uma fraqueza
pequeno-burguesa e fascista, importada do ocidente para acabar com o ideal
revolucionário.

36
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 87;
56

Inicia-se uma nova caça aos homossexuais que foram presos ou


expulsos de organizações revolucionarias.

2.6.2 – A Segunda Guerra Mundial – O Nazismo37-38:

O sangue por muito tempo constituiu-se como um elemento importante


do poder, em suas manifestações e rituais, ou seja, em uma sociedade que
predominam os sistemas de aliança, a forma política do soberano, a
diferenciação em ordens e castas, o valor das linhagens, em uma sociedade
em que a fome, as epidemias e a violência tornam a morte iminente, o sangue
constitui um dos valores essências.

O sangue em nossa origem encontra-se intimamente ligado aos


instrumentos do poder, que se preocupa claramente com o aperfeiçoamento
da espécie e desloca todo o problema para uma gestão coercitiva do sexo, ou
seja, a arte de determinar bons casamentos de provocar à fecundidade
desejada, de garantir a saúde e a longevidade, uma doutrina fundada no
esmaecimento das particularidades aristocráticas.

As sociedades na antiguidade, na idade média, na modernidade e até o


século XIX fundam-se em tais preceitos os quais consubstanciam-se no cerne
dos mandamentos da igreja com relação à sexualidade, das castas nobres.

A partir da segunda metade do Século XIX a temática do sangue foi


chamada, para combater a nascente teoria da sexualidade, dentro de toda
uma profundidade história, momento em que nasce o racismo em sua forma
moderna, estatal e biologizante.

Cria-se toda uma política de povoamento, família, condutas de saúde,


vida cotidiana, recebem, cor e justificação em função de proteger a pureza do

37
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000 – pág. 96;
38
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003 – pág.101;
57

sangue e fazer triunfar a raça.

O auge da teoria da aliança dá-se com a Alemanha Nazista, ou seja, o


triunfo do sangue com os paradoxos de um poder disciplinar voltadas para
uma ordenação eugênica da sociedade, uma exaltação onírica do sangue
superior, mesmo implicando no genocídio sistemático de outros com o risco de
expor a si mesmo a um sacrifício total.

Em 1933 com a ascensão dos nazistas ao poder na Alemanha, e


ressuscitado o art. 175 do Código Penal Alemão, recomeçando a perseguição
aos homossexuais, que juntamente com os judeus, socialistas e presos
políticos em geral, ciganos e testemunhas de Jeová, eram recolhidos aos
campos de concentração.

Na esteira das estrelas de Israel bordadas nos uniformes dos judeus, os


homossexuais tinham em seus uniformes, um triangulo rosa bordado, o qual
hoje é utilizado como símbolo da luta por direitos civis.

Estima-se que quase 50.000 (cinqüenta mil) homossexuais foram


executados nos campos de concentração, entre os alemães, uma tropa inteira
de nazistas, foi eliminada na noite conhecida como a Noite dos Longos
Punhais, que durou de 30 de Junho a 2 de Julho, quando a maior parte dos
oficias seria assassinada.

O fascismo de Mussolini, também perseguiu os chamados desviantes,


os quais eram detidos na ilha de Ventotene.

Na França ocupada, um decreto de 06.08.1942, passou a penalizar os


atos homossexuais.

Para o governo alemão, tanto o judaísmo como a homossexualidade foi


tomada como um vício, uma condição inerente à pessoa, a qual não podia se
58

desvencilhar, e em virtude desta condição, contaminar toda a sociedade,


considerada muito mais que um crime, vindo daí a necessidade de destruí-los,
valendo-se da máxima:

“Se um crime é punido com um castigo, um vício só pode ser


exterminado.”

2.6.3 – Homoafetividade no Brasil Nossa Herança Histórica39-40-41:

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, escandalizaram-se com


quando do descobrimento, defrontando-se os mesmos com a sodomia
enraizada na cultura indígena existente, e o grande numero de índios
praticantes do homoerotismo, sendo os homens denominados “tinbiras”, e as
índias tinham a denominação de “cunhãs”.

As “cunhâs” que se demonstravam totalmente invertidas, assumindo


radicalmente o papel do gênero masculino, eram chamadas de
“çacoainbeguira”, tendo estas inspirado o mito das amazonas sul
americanas.

Os negros também contribuíram muito para o alastramento dos amores


homoeróticos, sendo que o primeiro travesti documentado foi um negro
chamado Francisco da etnia manicongo, morador a misericórdia, no centro de
Salvador∕BA, denunciado em 1591, perante o Santo Ofício da Inquisição, por
“recusar-se a vestir roupas de homem”, o qual era membro de uma confraria
denominada de quimbanda, composta por temidos feiticeiros praticantes do
homoerotismo, muito respeitados nos reinos do Congo e de Angola.

O padre Cavazzi da Montecucculo e o Capitão Cadornega, respeitados


cronistas do século XVII, confirmam a relação entre os quimbandas e a pratica
39
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000;
40
Michel Foucault – Historia da Sexualidade 1 à vontade de saber , Ed.Graal, 2003;
41
Nefandos Pecados – Revista Nossa Histórica – Biblioteca Nacional , no. 8, 2004 – p. 28/32;
59

do “vicio dos gregos”.

Cumpre informar que os processos inquisitórios são o principal filão de


conhecimento a respeito da homoafetividade na historia luso-brasileira, o
estudo de tais documentos por Luiz Mott, leva este último a concluir que
Lisboa e as principais cidades das colônias ao sul do equador, possuíam uma
frenética e clandestina subcultura homossexual, que fazia frente a do velho
mundo, devendo ser observado o fato de que malgrado o espectro da fogueira
inquisitorial os homossexuais brasileiros, foram tratados com maior tolerância
e aceitação social do que seus semelhantes em outros paises.

As Ordenações Afonsinas, Manoelinas e Filipinas, juntamente com a


legislação inquisitorial, eram extremamente rigorosas, mas as punições em
nosso país, eram raras e indulgentes.

Assim, enquanto veio a perdurar a competência do santo oficio


inquisitório, o que perdurou por quase três séculos, os registros da Torre do
Tombo, indicam 4.000 denunciados pelo abominável pecado da sodomia,
sendo que destes, somente 450 chegaram a ser presos e sentenciados, e
apenas trintas executados nas fogueiras purificadoras, em Portugal, sendo que
no Brasil, nenhum homossexual chegou a ser queimado pela Inquisição.

Em que pese tal tolerância, há registro de 02 duas execuções em nosso


pais enquanto colônia, as quais ocorram em São Luiz do Maranhão, onde um
índio tupinambá, foi publicamente reconhecido como um “timbira” e por
ordem de padres franceses, foi amarrado na boca de um canhão, tendo seu
corpo estraçalhado com o estourar da bala, para purificar a terra de suas
maldades.

A segunda execução ocorreu na Capitania de Sergipe, onde um


adolescente negro foi morto por acoites, por ter cometido o pecado da
sodomia, infelizmente os cronistas da época deixaram de registrar os nomes
60

dos executados.

No Brasil independente a homoafetividade nunca veio a ser crime, o


que não significa que a comunidade homossexual, apesar de tolerada e aceita
socialmente, não veio a ser marginalizada, sob a influencia da Revolução
Francesa e das Leis Napoleônicas, a primeira Constituição Brasileira de 1823,
não citava a homossexualidade no rol de crimes civis, embora o estado∕poder,
por muitas vezes, tenha invocado a idéia de crime contra a moral e os bons
costumes.

Continuou a homossexualidade a ser tratada somente como pecado,


mas agora, não mais passível de purificação pela fogueira, apesar de nunca
ter sido tipificada como crime, a evolução natural da proteção de jovens e
adolescentes, veio a culminar com a subsistência da proibição de sua pratica
com menores de 18 anos, idêntica, mas mais severamente vigiada e punida do
que a pedofilia entre heterossexuais.

Neste sentido tal idéia também nos é trazida por princípios da legislação
francesa, Catherine Millot42, muito bem observa a respeito:

“Se considerarmos as diferentes perversões, existe


apenas uma que deixou de ser delito, a
homossexualidade. Na França ela foi crime até a
Revolução Francesa. Ainda no século XVIII há
gente queimada em praça pública por causa de
sodomia. No código penal de 1810, a
homossexualidade com menores de 15 anos leva a
cadeia e é punida com trabalhos forçados, caso
tenha havido violência. No século XIX, a idade
passa de 15 para 13 anos. Com o governo de Vichy
(1940-1944) há um endurecimento. Qualquer um
42
Catherine Millot, Psicanalista, Professora na Universidade de Paris – O Século, Betty Milan – Editora
Record – Rio de Janeiro, 1999 – pg. 123;
61

que satisfaça suas paixões homossexuais com


menores de 21 anos é preso. Durante o governo de
Charles de Gaulle as mulheres passam a ser
consideradas maiores aos 15 anos. Mas a grande
mudança ocorre em 1981 porque, a partir de então,
a homossexualidade só é considerada criminosa
com menores de 15 anos, homem ou mulher. Por
outro lado, se estabelece a igualdade entre os
sexos e, por outro lado, se considera que o delito
não é a homossexualidade, mas a pedofilia,”

Na década de 60 o espírito de contestação, de libertação sexual e de


luta pelos direitos civis, em face da luta contra a ditadura militar instaurada
pelo golpe militar de 1964, surge os primeiros grupos de luta pelos direitos dos
homossexuais.

Cumpre asseverar a diferença marcante entre a luta por direitos civis,


dos homossexuais americanos e europeus e os brasileiros, pois os primeiros,
tinham como objetivo a descriminalização da homossexualidade, já no Brasil a
homossexualidade nunca foi crime, mas a mesma veio a esbarrar no
preconceito sutil, escondido atrás de uma hipócrita democracia sexual, assim
como o racismo e o preconceito escondem-se sob uma aparente democracia
racial.

O movimento pelos direitos dos homossexuais surge no mesmo


contexto dos movimentos pelos direitos das mulheres, contra as desigualdades
e o fim da ditadura, esta extremamente hostil aos homossexuais, que a
consideravam uma manifesta comunista enquanto os socialistas a
consideravam um vício burguês que deveria desaparecer com o socialismo.

2.6.4 – Os Movimentos pelos Direitos Civis dos Homossexuais43:

43
Amílcar Torrão Filho, Tribades Galantes, Fanchonos Militantes homossexuais que fizeram história, Editora GLS,
São Paulo, 2000;
62

Após a segunda guerra mundial, Henry Hay membro do partido


comunista norte-americano, funda a Sociedade Mattachine, com o objetivo de
dar assistência e proteção aos homossexuais, abrangendo esta categoria a
outros grupos discriminados, tais como os negros e os latinos.

O nome dado à sociedade foi inspirado na Societé Mattachine, uma


sociedade secreta medieval francesa, que promovia bailes em que os
cavaleiros solteiros deveriam comparecer mascarados.

Hay dizia, que os homossexuais norte-americanos tinham de viver


mascarados, escondidos, daí a relação do nome.

Em 1953 a sociedade organizou uma convenção onde compareceram


500 pessoas, exigindo respeito a seus direitos, mas em seguida a repressão
veio a acabar com a sociedade no período de caça as bruxas, que varreu os
Estados Unidos na década de 50, o chamado McCartismo, que veio a expulsar
do país, os gays e as lésbicas, envolvidos principalmente nos meios do cinema
americano.

Neste perídio poucas são as vozes que se levantam a favor dos direitos
civis dos homossexuais, entre elas, Simone de Beauvoir, com seu livro O
Segundo Sexo, que propugna, que o lesbianismo é uma falha ou uma
alternativa menor para mulheres mal amadas, ele é uma forma de vida
legítima.

Nos anos 60 um novo clima social e político são estabelecidos com a


contestação de todos os valores tradicionais, dos papeis sexuais do homem e
da mulher, a luta pela liberdade sexual, pelo aborto, contra os valores
burgueses, o inicio da consciência negra pela luta de seus direitos civis, pela
liberdade de expressão e pela verdadeira revolução.
63

Novos modelos positivos são criados para elevar a auto-estima dos


grupos marginalizados como as mulheres, homossexuais e negros.

Em 27 de junho de 1969 a polícia de Nova York invadiu um bar gay


chamado Stonewall Inn, sob o pretexto de que o estabelecimento vendia
bebidas alcoólicas, tática comumente utilizada pelas autoridades policiais, para
a repressão em tais estabelecimentos.

Ocorre, porém, que os donos e freqüentadores cansados das batidas e


das humilhações resistem a prisão, a resistência vem a durar 03 (três) dias,
este fato em particular, marca o inicio do movimento pelos direitos civis do
homossexuais americanos, haja vista sua publicidade, reinvindicativa e
afirmativa, sendo que até hoje a resistência de Stonewall marca a data e uma
passeata, em todo o mundo civilizado onde ela é permitida, comemorando a
data do orgulho de ser gay e lésbica.

As décadas de 70 e 80 marcaram a eclosão de uma grande liberdade


para os homossexuais se comparadas aos anos anteriores, foi criada toda
uma infra-estrutura gay, voltada à diversão a religião principalmente nas
cidades de São Francisco e Nova York.

As leis repressivas na Europa são abolidas na década de 60 e o inicio


da década seguinte, a década de 80 viu crescer o número de casais não
casados e de lares de pessoas sozinhas.

Temos ainda o surgimento da Aids, ou a intitulada “peste gay”, na


década de 80, cuja existência foi atribuída exclusivamente atribuída à
comunidade homossexual, pois quando do descobrimento do vírus HIV, que
originalmente chamava-se HTVL, por grupos radicais e religiosos, isso para
inegavelmente para efetuarmos a limpeza da consciência social.

Devemos observar que o fato da comunidade homossexual ser


64

apontada como responsável e foco principal da existência da AIDS na década


de 80, não veio a levar em conta nas estatísticas os números de casos de
contaminação em face dos dependentes de drogas injetáveis, adultério,
relações promiscuas heterossexuais.

A ciência médica aplicada ao instituto do saber, veio a elucidar as falsas


afirmações e os questionamentos sobre esta moléstia, que veio a dizimar
milhões, tirando dos ombros da comunidade homossexual o estigma de ser
responsável não só pela propagação da doença, mas também, por sua
criação, como castigo divino, pela perpetração do pecado cometido.

Há de se esclarecer que o nicho de sua propagação foi à comunidade


gay, mas devemos observar que a Aids não veio a atingir os homossexuais por
acaso, levando-se em conta a premissa de que todas “as epidemias originam-
se de uma perturbação ecológica que surge quando os comportamentos
humanos criam um nicho de determinado micróbio” (Comportamento Sexual e
Aids: a cultura gay em transformação).

A perturbação ecológica consubstancia-se no comportamento


promiscuo e uma grande parte da comunidade gay, que absortos pela
liberdade conquistada a partir da década entregam-se a pratica sem distinção
do chamado sexo descuidado.

Rotello44 assevera, que as populações heterossexuais dos países


desenvolvidos não possuíam potencial ecológico para a disseminação do
vírus, ao contrário das populações de mesmo status social em paises em
desenvolvimento (terceiro mundo), caso da tailândia, Uganda e Brasil, onde a
industria sexual ativa, as condições de saúde e higiene precárias, e o grande
número de indivíduos consumidores de drogas propiciam o ambiente
necessário para o desenvolvimento do vírus.

44
Comportamento Sexual e Aids: A cultura gay em transformação – Trad.port.São Paulo: GLS, 1998;
65

Portanto, a AIDS não foi e nunca será uma epidemia da comunidade


homossexual ou heterossexual mas com potencial de desenvolvimento dentro
de condições especiais específicas.

O rápido declínio de novas contaminações, no caso da comunidade


homossexual, não se da em virtude de campanhas de conscientização e
utilização de preservativos, mas de uma saturação da doença, ou seja, os
vetores potenciais que vinham a causar o desequilíbrio ecológico, foram
naturalmente eliminados pela seleção natural, imputando a sobrevivência
apenas aos que possuíam uma vida sexual sustentável baseada na
monogamia ou no sexo seguro.

O apogeu da AIDS não veio só a trazer mudanças na vida dos


homossexuais, mas também a dos heterossexuais, uma vez que o estado
passa a investir em novas políticas de saúde e higiene, propugnando pelo
sexo seguro, não só pelo risco das DST´s – Doenças Sexualmente
Transmissíveis, mas também em campanhas de controle populacional, e de
prevenção da gravidez indesejável em adolescentes.

2.6.5 – Atualidades - Principais Fatos e Conquistas dos Movimentos de


Direitos Civis dos Homossexuais:

A luta pelos direitos civis dos homossexuais tem suas maiores


conquistas, a partir do ano de 2000, sendo certo que alguns fatos vieram a
desencadear reações sociais, onde em paises mais avançados, vieram a gerar
ações afirmativas no sentido fortalecer o movimento mundial da luta pelos
direitos civis dos homossexuais, valendo citar cronologicamente as seguintes:

No Mundo:

2002 (01 de janeiro) - Na Arábia Saudita são


executados 3 homens acusados de sodomia e
66

condenados pelo tribunal religioso do


fundamentalismo islâmico. Os três homens foram
decapitados, já que este é o método tradicional de
execução nos Emirados Árabes. As mortes
aconteceram na cidade de Abha, localizada no
sudoeste do país. Ali ibn Hatan ibn Saad,
Mohammad ibn Suleiman ibn Mohammad e
Mohammad ibn Khalil ibn Abdullah foram
considerados culpados de "participar de atos
extremamente obscenos e nojentos de
homossexualidade, se casarem e molestarem
jovens". Um tribunal da Shari'a os condenou à
morte e o julgamento foi confirmado pelos tribunais
superiores.

2002 (10 de janeiro) - Entra em vigor na Califórnia,


Estados Unidos, lei que oferece aos homossexuais
união com direitos semelhantes ao casamento
heterossexual. Passa a ser permitida a tomada de
decisões médicas em relação a parceiros
incapacitados, processar por homicídio, adotar o
filho do parceiro e deixar propriedades como
herança para o parceiro, sem direito à contestação
da família, aumentando para 62 anos o limite da
idade para ser habilitado a tomar decisões
financeiras e legais com relação ao parceiro. Cerca
de 140 casais GLS se registraram somente em um
dia na nova parceria doméstica. Ao todo cerca de
400 casais se beneficiaram da nova parceria
doméstica GLS e estima-se que há 10 mil casais
homossexuais no estado, segundo um membro do
governo de Gray Davis.
67

2002 (15 de janeiro) - O ministro das Finanças da


Noruega, Per-Kristian Foss, casa-se na com seu
parceiro em uma cerimônia que os defensores dos
direitos dos homossexuais celebraram como um
momento histórico na luta por uma maior aceitação
da minoria. Foss, 52, parlamentar pelo Partido
Conservador, confirmou ter registrado formalmente
sua união com Jan Erik Knarbakk, diretor do grupo
de comunicação norueguês Schibsted.

2002 (22 de janeiro) - Pelo menos mais 8 homens


foram presos no Egito, na cidade de Damanhour, a
sudeste de Alexandria, sob suspeita de
comportamento homossexual, no que a imprensa
islâmica de Cairo chamou de batida em uma "rede
de pervertidos". A polícia invadiu o apartamento de
um deles, que estava dando uma festa privada, e
prendeu os homens, mandando ainda examinar
seus genitais. A polícia também confiscou um livro
de anotações, com nomes e endereços de outros
homossexuais. As prisões de gays no Egito têm
sido denunciadas e criticadas por ativistas
homossexuais e de direitos humanos de todo o
mundo, chamando inclusive as ações da polícia
egípcia de perseguição. Mas a lei islâmica, adotada
pelo Egito, embora não condene a
homossexualidade, abre brechas para que os gays
sejam presos e enquadrados em crimes até de
terrorismo.
68

2002 (01 de fevereiro) - José Mantero Garcia, 39


anos, pároco de Alverde del Camino, na província
de Huelva, região de Andaluzia, na Espanha,
declara abertamente sua homossexualidade, na
edição de fevereiro da revista homossexual Zero.
"Dou graças a Deus por ser gay", diz o título da
reportagem, explicando que só descobriu sua
homossexualidade aos 31 anos, quando se
apaixonou. "Tive muitos problemas no começo,
mas agora vivo bem", disse o sacerdote, que se
confessou enojado pelo "silêncio e a culpabilidade"
em torno da homossexualidade na Igreja. "É
preciso uma defesa de dentro. De fora, não é mais
difícil, é impossível. A luta de dentro inclui um fator
importante: o amor à instituição", afirma o padre.
"Amo muitíssimo a Igreja e o amor tem que ser
beligerante", conclui. Dias depois O bispo de
Huelva, José Ramos, condenou o alarde feito pelo
padre do não-seguimento do celibato, o que teria
causado escândalo "tanto para a comunidade cristã
como para a sociedade em geral. A Igreja, por
fidelidade aos sagrados dons recebidos e a seus
crentes, não pode tornar compatível o exercício de
funções sacerdotais com a ruptura de
compromissos também sagrados", disse o bispo.
Da mesma forma, o bispo auxiliar de Barcelona,
Joan Carrera disse que a polêmica não está na
orientação sexual do padre mas pelo fato dele não
respeitar o celibato. Em seguida ao episódio, o
bispo José Gea Escolano, de Mondoñedo-Ferrol,
na Galícia, chamou Mantero de doente
comparando a homossexualidade à cegueira e a
69

surdez e afirmou que "um homossexual não é


normal". No entanto, o presidente da Associação de
Teólogos Juan XXIII, Enrique Miret Magdalena,
declarou que a homossexualidade é uma opção
que merece respeito.

2002 (13 de fevereiro) - O padre Franco Barbero,


63 anos, de Pinerolo, no norte da Itália, é expulso
de sua diocese por celebrar cerimônias de
casamento entre homossexuais e divorciados. "Seu
ponto de vista moral e a celebração de pseudo-
casamentos entre homossexuais estão em grave
contraste com a doutrina da Igreja Católica",
declarou em um comunicado o bispo Pier Giorgio
Debernardi.

2002 (15 de fevereiro) - Em Montgomery, no


Estado do Alabama, Estados Unidos o juiz titular da
Suprema Corte retira a guarda dos três filhos
adolescentes de uma lésbica argumentando que o
homossexualismo é 'intrinsecamente mal' e não
deve ser tolerado. O parecer do juiz Roy Moore foi
seguido unanimemente pelos nove integrantes da
magistratura. Nele, o homossexualismo é descrito
como 'aberrante, imoral, detestável, crime contra a
natureza e violação das leis naturais'. Conhecido
por sua religiosidade Moore citou a Bíblia,
documentos históricos e a jurisprudência para
respaldar suas teses. O pai dos adolescentes, de
15, 17 e 18 anos, respectivamente - teve a custódia
deles até 1999. Mas, por infligir-lhes maus tratos,
perdeu-a em junho de 2000.
70

2002 (21 de fevereiro) - Mais um fato inquietante


para quem acredita que a homossexualidade é uma
aberração ou comportamento amoral do ser
humano: é descoberto no zoológico de Nova Iorque
um casal de pingüins gays na área reservada à
espécie no New York Aquarium. Os pingüins de pé
preto com 14 anos de idade, já estavam juntos há 8
anos. Os funcionários descobriram que ambos são
machos após fazer um exame de sangue no casal.
Angie Pelekedis, porta-voz do zoológico, disse:
"Eles são um dos casais mais dedicados na área
reservada aos pingüins. Eles dormem no mesmo
ninho. Eles até fazem sexo, embora eu não saiba
ainda se eles têm sucesso nisto".

2002 (01 de março) - Começam a ser registradas


parcerias entre pessoas do mesmo sexo na
Finlândia com a entrada em vigor da lei aprovada
em setembro de 2001, que legaliza a união civil
homossexual. Assim, qualquer cidadão finlandês
maior de 18 anos de idade já pode registrar sua
união com outra pessoa do mesmo sexo, em uma
cerimônia parecida com o casamento tradicional. A
nova lei concede quase todos os direitos do
casamento heterossexual aos pares homossexuais,
como herança e divórcio, mas deixa de fora a
adoção de crianças por casais homossexuais, que
continua proibida, assim como não vai ser possível
o uso do sobrenome do parceiro.
71

2002 (06 de março) - Um pastor da Igreja


Episcopal, Rev. David L. Moyer, que atua na
diocese de Pennsylvania, nos Estados Unidos, é
suspenso pelo bispo episcopal Charles E. Bennison
Jr., em razão de suas atitudes homofóbicas. Os
escalões superiores da igreja resolveram mantê-lo
suspenso por 6 meses, podendo ser forçado a
deixar de exercer as funções de pastor, caso não
se retrate. Moyer sempre deixou claro que é
conservador e afirma que estas iniciativas da igreja
são contra a ética cristã, enquanto o bispo
episcopal Charles E. Bennison Jr. é favorável à
ordenação de mulheres e gays que estejam em
relações afetivas estáveis.

2002 (março) - Os parceiros de servidores públicos


homossexuais sul-africanos passam a ter direito
integral à pensão no caso de morte do
companheiro. A mudança é decorrência de um
processo movido pelo grupo ativista Lesbian and
Gay Equality contra o Ministro das Finanças, Trevor
Manuel. O acordo foi firmado após 2 anos de luta
na Justiça e beneficia cerca de 100 mil servidores
GLS no país, incluindo tanto os servidores que
comprovarem a relação como aqueles cujo
companheiro falecido era servidor público.

2002 (01 de abril) - A Igreja Luterana da Suécia,


país onde 65% da população são de luteranos,
mostra-se receptiva à possibilidade de oficializar
uniões homossexuais na igreja. O arcebispo Karl
Gustav Hammar disse que embora a questão não
72

seja imediata, ela passa pela compreensão de que


o amor entre duas pessoas é sagrado, e "Deus está
no amor". Em um artigo publicado no mês de
março, a posição da Igreja Luterana mostrou-se
clara com relação aos homossexuais, não
permitindo a discriminação e nem impedindo a
ordenação de pastores em razão de sua orientação
sexual.

2002 (02 de abril) - Realizada, sob cerradas críticas


do regime comunista, a primeira parada gay do
Vietnã, com centenas de homossexuais que se
agruparam em um hotel na cidade de Long Hai, no
sul do país. O governo, através do jornal oficial
Thanh Nien qualificou classificou o evento de
"monstruosidade" e "fenômeno anormal e estranho
à tradição cultural do Vietnã". As festividades, que
duraram o dia inteiro, incluíram um desfile de moda
homossexual assistido por centenas de pessoas e
que aconteceu durante um festival na cidade
portuária de Vung Tau, a 1.800 quilômetros no sul
de Hanói.

2002 (08 de maio) - O prefeito de Cehegín, em


Murcia, Espanha, aprova a efetivação de um
registro para casais, com objetivo a atender todos
os parceiros sem distinção de sexo. A iniciativa de
Pedro Abellán vem para compensar o impasse
jurídico para casais que não podiam se beneficiar
com os direitos concedidos a casais
heterossexuais. A medida foi aprovada na Câmara
municipal e afeta não somente casais
73

homossexuais como casais heterossexuais. O


registro de união de casais também pode ser
utilizado por casais informais, e até de uma relação
extra-conjugal.

2002 (maio) - Por unanimidade a assembléia


estadual de Nova Iorque aprova, na primeira
semana de maio, lei que reconhece a parceria
entre homossexuais. A lei visa beneficiar os
parceiros GLS das vítimas dos atentados terroristas
de 11 de setembro. É a primeira lei nova-iorquina a
incluir parceiros domésticos de mesmo sexo em
qualquer contexto em toda a história. A lei vai
ajudar a assegurar que os familiares sobreviventes
das vítimas dos atentados recebam os benefícios a
que têm direito. Mais de 20 gays e lésbicas foram
mortos nos ataques de 11 de setembro, de acordo
com ativistas locais. E para aprovar a lei, uma
união inesperada entre republicanos e democratas
surgiu e frutificou. Se antigamente os legisladores
rejeitavam uma lei inteira somente pela referência
ou inclusão de gays, desta vez foi diferente e a lei
foi aprovada rapidamente.

2002 (21 de maio) - Deputados alemães completam


o processo de perdão aos gays processados e
enviados a campos de concentração durante o
período nazista. Cerca de 50 mil homens gays
foram vítimas da lei conhecida como Parágrafo
175, que criminalizava a homossexualidade, e
somente agora seus registros serão limpos
novamente. O governo alemão reconheceu que a
74

medida chegou com 50 anos de atraso e mesmo


assim os parlamentares conservadores foram
contra a medida, argumentando que os casos
deveriam ser analisados individualmente.

2002 (22 de maio) - Arqueólogos britânicos


finalmente conseguiram juntar as peças, após 20
anos de trabalho, e descobriram uma mulher
transgênero, do século IV, ou seja, com 1700 anos
de idade. O arqueólogo responsável pela pesquisa,
Dr. Pete Wilson, disse que a descoberta mostra
uma face até hoje desconhecida da História Antiga
britânica. Os restos do jovem romano trangênero
foram encontrados há 20 anos próximo da cidade
de Catterick, no norte da Inglaterra. O corpo foi
cuidadosamente cremado e a pessoa estava
usando gargantilha, bracelete, entre outros
acessórios femininos da época. Este é o único
homem que vestia este tipo de jóias encontrado até
hoje em um cemitério romano antigo na Grã-
Bretanha. Testes forenses mostraram que o
esqueleto nasceu biologicamente como homem,
mas era adornado com jóias de mulher. Além disso,
o rapaz era castrado, ou seja, assumira as
características de uma mulher transexual. Segundo
Dr. Pete Wilson o rapaz pode ter sido também um
'gallus' - ou seja, um dos seguidores da deusa
Cybele, que castravam a si mesmos em sua honra.

2002 (31 de maio) - "Permitir esta manifestação é


como servir porcos no paraíso", afirma o deputado
75

do partido ultra-ortodoxo Shas, ao tentar impedir a


realização da parada gay em Jerusalém.

2002 (27 de setembro) - O novo líder da igreja


Anglicana, arcebispo Rowan Williams, tido como
simpatizante da causa gay, é constrangido a
condenar a homossexualidade como condição para
assumir a liderança da Igreja Anglicana. O grupo
que ameaçou o arcebispo contava com 1.500
membros, incluindo mais de 500 clérigos e 1 bispo.

2002 (04 de novembro) - É divulgado resultado de


estudo realizado pelo professor Charles Roselli da
Oregon Health & Science University (Universidade
de Saúde e Ciência do Oregon) em conjunto com o
Departamento Americano de Agricultura, na
Estação Experimental de Carneiros de Dubois, em
Idaho (EUA). O grupo estudou 27 carneiros, sendo
10 fêmeas, 9 machos que só transavam com outros
machos e 8 machos que só transavam com as
fêmeas. Constatou-se que as ovelhas
homossexuais têm estruturas cerebrais diferentes
das ovelhas "normais", uma descoberta que pode
influenciar na sexualidade humana. As diferenças
são semelhantes àquelas constatadas em alguns
humanos homossexuais, mas provavelmente farão
pouca diferença na explicação das causas das
diferentes preferências sexuais. Os carneiros
estudados não cortejam ou acasalam com fêmeas.
Eles só procuravam os machos. Primeiro os
cientistas observaram as ovelhas para terem
certeza de seu comportamento - algo que não pode
76

ser feito com humanos. Então eles analisaram seu


cérebro. Foram notadas diferenças no hipotálamo.
Uma pequena área do hipotálamo é maior nos
machos do que nas fêmeas. Além disto, os
pesquisadores descobriram que os hipotálamos
dos carneiros gays também eram menores do que
os dos carneiros heterossexuais.

2002 (13 de dezembro) - A Associação Psiquiátrica


Americana (APA), que já incluíra em anos
anteriores a homossexualidade como doença
mental em seus anais, pronuncia-se a favor da
adoção de crianças por casais GLS. Em
comunicado declara: "A APA apóia iniciativas que
permitam a casais de mesmo sexo a adoção de
crianças ou custódia de filhos e apóia todos os
direitos legais, benefícios e responsabilidades
associados ao fato e que sejam conseqüência de
tais iniciativas". A APA é uma das associações de
classe mais poderosas dos Estados Unidos e
representa cerca de 38 mil profissionais da área no
país. O comunicado cita ainda os 30 anos de
pesquisa que comprovam que filhos criados por
pais gays ou lésbicas têm o mesmo
desenvolvimento que os outros. A APA vem se
adaptando aos tempos. Em 2000, a associação
recomendou oficialmente que os estados
americanos reconhecessem legalmente os casais
de mesmo sexo. Outros grupos médicos que
apóiam os direitos de adoção de filhos por casais
homossexuais nos EUA são a Academia
77

Americana de Pediatras e a Associação Americana


de Médicos de Família.

2002 (18 de dezembro) - Buenos Aires aprova a


legalização da união civil entre pessoas do mesmo
sexo, tornando-se a primeira cidade da América
Latina a reconhecer legalmente os direitos dos
casais de fato, inclusive homossexuais. A
aprovação da nova lei ocorreu após intenso debate,
com 29 votos a favor e 10 contra a legalização da
união homossexual. O projeto de lei estava sendo
discutido há um ano e meio. Redigido por uma juíza
especializada em Direito de Família, o projeto de lei
aprovado inclui o reconhecimento de todo casal
que mantenha uma convivência "estável e pública"
de dois anos na cidade de Buenos Aires, passando
o casal a deter todos os direitos de casais
tradicionais legalmente casados. Em outras
palavras, a lei argentina reconhece o direito de o
concubino ser incorporado ao serviço social:
receber uma pensão no caso do falecimento de seu
parceiro e fixar uma cota alimentar mensal para os
filhos, se ocorrer a separação.

No Brasil:

2002 (09 de janeiro) - O INSS é obrigado a


considerar a companheira ou companheiro
homossexual como dependente preferencial dos
segurados do Regime Geral de Previdência Social.
A decisão é da 3ª Vara da Justiça Federal do Rio
Grande do Sul. A Ação Civil Pública foi impetrada
78

pela Procuradoria da República no Rio Grande do


Sul. A sentença é válida para todo o país. Segundo
o procurador da República, Paulo Gilberto Cogo
Leivas, o INSS deve estender os benefícios de
pensão por morte e auxílio-reclusão a todo o
companheiro homossexual, independente da data
de óbito ou do encarceramento. A ação movida
pela Procuradoria da República obrigou, em junho
de 2001, o INSS a editar a Instrução Normativa
número 50 que trata do assunto.

2002 (15 de janeiro) - É sancionada pelo


Governador de Minas Gerais, Itamar Franco
(PMDB), a Lei 14170 de autoria do deputado João
Batista de Oliveira (PDT), coibindo a discriminação
contra pessoas em virtude de sua orientação
sexual. A Lei prevê a criação de um centro de
referência voltado para a defesa do direito à
liberdade de orientação sexual. Entre as
penalidades está a multa que pode chegar a
R$50.000,00. A conquista maior desta lei,
considerada a mais avançada do país, é a de
permitir a livre manifestação de afeto entre
homossexuais em espaço público, sem que isto
possa ser interpretado como atentado ao pudor.

2002 (16 de março) - O Recife torna-se o primeiro


município do Brasil a incluir no benefício da
concessão de pensão, em caso de morte, os
companheiros e filhos dos servidores públicos
homossexuais. A regulamentação atendeu a 1,3 mil
casais heterossexuais e outros cinco casais
79

homossexuais identificados no censo realizado em


janeiro passado pela Secretaria de Administração.
Os servidores do Recife ganharam o direito de
deixar uma pensão, em caso de morte, para seus
filhos e seus companheiros, sejam eles hetero ou
homossexuais. A regulamentação do decreto do
prefeito João Paulo foi publicada no Diário Oficial
do dia 16 de março de 2002.

2002 (20 de março) - O Rio de Janeiro torna-se o


primeiro estado do Brasil a garantir os direitos
previdenciários aos companheiros de servidores
estaduais homossexuais. Com efeito, entra em
vigor a Lei Estadual 3.786, uma vez que a
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro derrubou
por 43 votos a 13 o veto do governador Anthony
Garotinho (PSB) ao projeto de lei de autoria dos
deputados Carlos Minc (PT) e Sérgio Cabral Filho
(PMDB). (ver também 30 de novembro de 2001 e
10 de abril de 2002)

2002 (27 de março) - É sancionada em Pelotas RS


a Lei Municipal 4.798/02, de autoria do vereador
Eduardo Abreu PSB, que reconhece a união entre
parceiros de mesmo sexo para fins de previdência
municipal, garantindo a concessão de benefícios a
cônjuges de uniões homossexuais e a eventuais
filhos do casal que passam a receber os benefícios
do Sistema da Previdência Social dos Servidores
Municipais (Prevpel).
80

2002 (27 de março) - Caso Neris: Wanderlei


Cardoso de Sá é condenado a 19 anos e 6 meses,
além de uma multa de 10 dias por ter sido
considerado um dos agressores de Edson Neris da
Silva. As acusações eram de homicídio triplamente
qualificado (motivo torpe, impossibilidade de defesa
da vítima e forma violenta), formação de quadrilha
e tentativa de homicídio de Dario Pereira Neto, que
passeava com a Edson na Praça da República, no
dia 6 de fevereiro de 2000. Outra acusada, Regina
Saran Velasco, foi absolvida por falta de provas
conclusivas sobre sua participação. Das 18
pessoas que estão sendo processadas pelo crime,
outras 4 já foram sentenciadas: José Nilson Pereira
da Silva e Juliano Filipini Sabino pegaram 21 anos
de prisão (em 13 de fevereiro de 2001), Jorge da
Conceição Soler foi condenado a 3 anos e 4 meses
em regime aberto e Marcelo Pereira recebeu
liberdade provisória (em 14 de agosto de 2001).

2002 (01 de abril) - Morre José Márcio Santos


Almeida, 33 anos, militante do Grupo Gay de
Alagoas. Ele havia sido transferido para o hospital
Armando Lages de Maceió na quinta-feira 28 de
março. No dia anterior fora atacado por jovens da
cidade de Maribondo, município alagoano de
15.145 habitantes a 80 km de Maceió. Além de ser
alvejado por pedras, ato de violência que se
transformou em um espetáculo público no centro da
cidade, o militante gay sofreu golpes com pedaços
de pau e foi cuspido pelos agressores. Segundo o
delegado Ailton Cavalcante, que iniciou as
81

investigações sobre a autoria do crime, Almeida


teria sido amarrado a uma moto e arrastado pela
cidade. Três possíveis autores do homicídio, dois
menores e um adulto, tiveram prisão preventiva
decretada, mas negaram participação. Há a
suspeita de que o grupo responsável pelo
assassinato seja composto por pelo menos dez
pessoas. Pouco antes de morrer, na Unidade de
Terapia Intensiva do hospital, o militante teria citado
os nomes de vários rapazes que teriam iniciado o
apedrejamento. Nos quatro primeiros meses do ano
ocorrera quatro assassinatos de homossexuais no
Estado de Alagoas - o mesmo número de 2001. As
mortes tiveram requintes de barbárie, Um travesti,
conhecido como Priscila, foi encontrado morto, com
os olhos arrancados. Outra vítima, Antônio
Laudemir de Lima, foi atingido por dez golpes de
tesoura.

2002 (10 de abril) - Atendendo a pedido do


deputado estadual Carlos Dias (PPB), o
desembargador Jose Carlos Schmidt Murta Ribeiro,
do Tribunal de Justiça-RJ, concede liminar
tornando sem efeito a Lei Estadual 3.786, que
estende a companheiros de servidores
homossexuais do Estado do Rio de Janeiro o
direito à pensão para fins previdenciários,
equiparando à condição de companheira ou
companheiro os parceiros do mesmo sexo que
mantenham relacionamento de união estável. Co-
autor da lei - em parceria com o deputado Sérgio
Cabral Filho (PMDB) - o deputado estadual Carlos
82

Minc (PT) anunciou no dia seguinte, que entraria


com um recurso pedindo a cassação da liminar.
(ver também 30 de novembro de 2001 e 20 de
março de 2002)

2002 (13 de maio) - O presidente Fernando


Henrique Cardoso (PSDB) lança o segundo plano
de ação do Programa Nacional de Direitos
Humanos (PNDH). Criado há quase seis anos o
plano prevê o apoio à união civil de pessoas do
mesmo sexo e a mudança do registro civil para os
transexuais. Além disso, propõe a retirada do
Código Penal Militar a palavra "pederastia".
Fernando Henrique assinou ainda os decretos que
criam o Conselho Nacional dos Direitos dos Idosos
e o Conselho Nacional de Promoção do Direito à
Alimentação, o que permite que a República
Federativa do Brasil possa receber e analisar
denúncias de discriminação. O presidente assina
também o decreto que institui o Programa Nacional
de Ações Afirmativas reforçando o plano de
combate a discriminação dos afrodescendentes,
dos deficientes físicos, dos homossexuais, dos
idosos, das mulheres e das crianças.

2002 (14 de maio) - A Câmara de São José do Rio


Preto, São Paulo, aprova o projeto de lei 181/01 de
autoria do vereador Marcio Ladeia (PT), proibindo a
discriminação por orientação sexual. A lei prevê
multas de 1 a 3 mil reais ou a cassação do alvará
de estabelecimentos que discriminarem
homossexuais. Para ser regulamentada a lei
83

precisa ser sancionada pelo prefeito Edinho Araújo


(PPS), o que deve acontecer nos próximos dias.

2002 (23 de maio) - É aprovada pela Câmara dos


Vereadores de Londrina, no Paraná, a lei nº
117/02, que penaliza com multas qualquer
estabelecimento que discrimine homossexuais. O
projeto de lei, de autoria da vereadora Elza Correia,
foi aprovado por 19 votos a 2. Houve presença de
gays, lésbicas e travestis, com faixas e cartazes,
nas galerias da Câmara.

2002 (06 de agosto) - Publicado acórdão no Diário


da Justiça em que a decisão inédita da 8ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
reconhece, por dois votos a um, identidade de
efeitos entre união homossexual e união estável,
legitimando a união de pessoas do mesmo sexo
como verdadeira família. A decisão também avança
em outros dois pontos: concede usufruto de 25%
do patrimônio ao parceiro sobrevivente e considera
que esse não precisa provar que contribuiu para a
constituição do patrimônio do casal. Foi garantido
ainda o direito à divisão da metade dos bens
adquiridos.

2002 (31 de outubro) - A Justiça do Rio de Janeiro


decide que a guarda do filho de Cássia Eller ficará
com a companheira da cantora, Maria Eugênia
Martins.
84

2002 (04 de dezembro) - Após Recife e Rio de


Janeiro, agora também os companheiros(as)
homossexuais de servidores públicos da Prefeitura
da capital paulista passam a ter direito a receber
pensão do Instituto de Previdência Municipal de
São Paulo - Iprem. A Orientação Normativa no.
06/2002 garante o direito e completa uma lacuna
importante.

2002 (16 de dezembro) - É aprovado na


Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, o
Projeto de Lei 185/02, que dispõe sobre a
promoção e reconhecimento da liberdade de
orientação, prática, manifestação, identidade,
preferência sexual e dá outras providências. O
projeto considera como discriminatório proibir o
ingresso ou permanência de cidadão homossexual
em estabelecimento público ou privado, praticar
atendimento selecionado, preterir, sobretaxar ou
impedir a hospedagem em hotéis, motéis ou
pensões ou demitir em função da orientação sexual
do empregado.

3 – Orientações Complementares de Outras Ciências Sobre a


Homoafetividade45:

3.1 – Psiquiatria46:

A psiquiatria inicia seus estudos sobre a homoafetividade no século XIX,


a homossexualidade é classificada entre as chamadas “perversões sexuais”,
termo utilizado para designar todas as formas de desvio sexual não ligados à
45
http://www.geocities.com/gayjovem/homociencia.htm;
46
http://www.geocities.com/gayjovem/homopsico.htm;
85

reprodução, na obra “ensaios sobre a sexualidade”, FREUD demonstra que


tais desvios eram universais, e que as praticas perversas servem de
preliminares para os heterossexuais, em outras palavras, que a sexualidade
humana não é determinada pela procriação, tal idéia foi considerada pela
comunidade cientifica da época como subversiva e inteiramente nova.

O homossexual para FREUD, não era um enfermo, mas apenas uma


pessoa, que por algum trauma ou ausência de modelo masculino ou feminino,
havia parado em uma fase inicial de seu desenvolvimento.

FREUD, ainda asseverava que a homossexualidade não era uma


vantagem, tampouco uma coisa para envergonhar-se, não era um vício ou
uma degradação, e jamais poderia ser classificada como uma doença, mas
sim, uma variação da função sexual da pessoa, produzida por uma
determinada suspensão de seu desenvolvimento sexual, o que gera uma saída
negativa ao chamado complexo de Édipo, através de uma relação pai/passivo,
mãe/dominadora

Para FREUD, existe na relação pai, mãe e filho, o pai tem o papel de
desgrudar o filho de sua mãe, após 07 ou 12 meses, período de rivalidade
entre pai e filho, o filho liga-se ao pai e assim, passa a interiorizar as
características masculinas do pai, inclusive o desejo pelo sexo oposto.

No caso do desenvolvimento da homossexualidade, o pai, não


consegue desgrudar o filho da mãe, mantendo o vinculo exagerado para com a
mesma, sendo do mesmo abstraídas as características paternas,
interiorizando a criança as características femininas da mãe, inclusive o seu
desejo pelo sexo masculino.

Assim no caso do pai não conseguir vencer a disputa pela posse e


exclusividade da mãe, teríamos o desenvolvimento do homossexualismo, tal
conflito, surge na vida do individuo mais ou menos aos 6 ou 7 anos.
86

Em que pese tal teoria ter sido elaborada no século XIX, a psiquiatria
moderna, nada mais conseguiu evoluir ou a tecer novas teorias que a
superasse.

Em 15.12.1973, a homossexualidade foi excluída da classificação


internacional de doenças – CID.

3.2 – A Psicologia47:

A psicologia considera a homossexualidade como um distúrbio de


identidade que não é hereditário, porém decorrente do meio onde o indivíduo
desenvolveu seu determinismo psíquico primitivo, no período da concepção
aos 04 anos de idade.

Jim McKnight, psicólogo australiano, assevera que devemos levar em


conta não às causas da homossexualidade, mas o porque a mesma
sobrevive?

A resposta a tal questão encontra fundamento na teoria da adaptação


das espécies, onde um comportamento aparentemente contrário à evolução
tenha persistido por tanto tempo e com tanto sucesso, sem ser reprodutivo.

Para o citado psicólogo, o mesmo infere que a homossexualidade


favorece a reprodução da espécie por conta da diversidade genética, pois do
ponto de vista evolutivo, “comportamentos que são duráveis e difundidos são
provavelmente adaptados”.

3.3 – Endocrinologia:

Todos em nossas primeiras semanas de vida somos fetos femininos,


47
http://hosting .pop.com.br/glx/glx/.php?artid=1072;
87

ressalvando a orientação genética masculina e feminina dos embriões, sendo


que em face de altas doses de testosterona (hormônio masculino), liberadas
por nossas glândulas embrionárias, que vem a definir os aspectos físicos do
sexo masculino.

É importante citar, que as doses de testosterona liberadas por nossas


glândulas, quando ainda somos fetos, superam e em muito as doses que
recebemos desde que nascemos até nossa morte.

A glândula responsável pela produção da testosterona, hormônio


masculino e da progesterona, hormônio feminino, são as gônadas, nos
homens os testículos e nas mulheres os ovários.

A produção de tais hormônios é orientada pelo hipotálamo, glândula


localizada no cérebro, e que produz os hormônios chamados LH – Hormônio
Luteinizante e FSH – Hormônio Folículo Estimulante, responsáveis pela
estimulação dos testículos e dos ovários na produção da Testosterona e da
progesterona.

Em 04 de Novembro de 2002, o professor Charles Roselli da Oregon


Health & Science University (Universidade de Saúde e Ciência do Oregon) em
conjunto com o Departamento Americano de Agricultura, na Estação
Experimental de Carneiros de Dubois, em Idaho (EUA). O grupo estudou 27
carneiros, sendo 10 fêmeas, 9 machos que só transavam com outros machos
e 8 machos que só transavam com as fêmeas. Constatou-se que as ovelhas
homossexuais têm estruturas cerebrais diferentes das ovelhas heterossexuais.

Tal diferença repousa justamente no hipotálamo, uma pequena área do


hipotálamo é maior nos machos do que nas fêmeas. Além disto, os
pesquisadores descobriram que os hipotálamos dos carneiros com orientação
homossexual também eram menores do que os dos carneiros heterossexuais.
88

Os cientistas afirmam, que tal descoberta pode influenciar na elucidação


das duvidas sobre a sexualidade humana, pois as diferenças encontradas nas
cobaias animais, são semelhantes àquelas constatadas em alguns humanos
homossexuais, mas provavelmente farão pouca diferença na explicação das
causas das diferentes preferências sexuais.

3.4 – Genética48:

O cientista americano Dean Hamer, vem pesquisando nos últimos anos


uma zona de cromossomos chamada Xq28, onde haveria marcadores
genéticos que conteriam a tendência à homossexualidade.

A pesquisa do cientista americano, não indica a existência de um gene


homossexual, mas sim, a incidência da atuação de vários genes agindo em
conjunto para regularem esta característica em especial.

O psicólogo australiano Jim McKnight, citado no tópico anterior,


assevera que independente da genética, as condições sociais e pessoais na
definição da identidade sexual das pessoas e essências, imputando ainda que
existem vários tipos de homossexualidade, e que as pesquisas de Hamer
indicam a causa de somente uma delas.

Tal teoria ainda assevera que a espécie que tem maior diversidade
genética, leva vantagem no campo da adaptação, assim, o gene da
homossexualidade combinado com o gene da heterossexualidade produziria
mais vantagens para a reprodução e para a adaptação, assim a
homossexualidade geneticamente seria classificada como uma variante
socialmente adaptativa.

Neste passo, chegamos à conclusão de que a homossexualidade tem


como base genética, mas isso não quer dizer que o indivíduo vá tornar-se

48
http://www.geocities.com/gayjovem/homociencia.htm;
89

homossexual, nossos genes determinam predisposições a partir das quais os


indivíduos constroem suas vidas.

Homens gays, ao contrário de anormais, são reservatórios de variações


adaptativas, nossa espécie tem muito em comum para excluir qualquer
indivíduo.

É necessária ainda neste ponto a citação do livro Biological Exuberance


– Animal Homossexuality and Natural Diversity (exuberância biológica –
homossexualidade animal e diversidade natural) de autoria do cientista Bruce
Bagemihi, publicado em 1999 nos Estados Unidos, onde foram analisadas 450
e cinqüenta espécies animais.

A supra citada obra, demonstra que as relações homossexuais na


natureza, não são oriundas de confusão de instintos, aberrações ou falta de
fêmeas, a maioria dos animais homossexuais, são da forma que são, porque
são citando que em alguns casos como o dos leões, há vantagens na relação
macho-macho, pois sendo bissexuais, os leões criam seus filhotes juntos,
aumentando a taxa de sobrevivência de seus genes.

Bagemihi ainda assinala, que em quase todas as espécies de


mamíferos, a taxa de indivíduos homossexuais de uma mesma espécie, chega
a 27% (vinte e sete por cento).

Há de se considera 02 fatores importantes:

a) O grande número de bissexuais na natureza e na humanidade,


fato que possibilita a transmissão de genes;
b) A possibilidade dos genes pularem gerações;

Acreditar que as características são passadas de pai para filho, seria


simplificar demais a ciência, portanto se um individuo é homossexual isso não
90

significa que seu genitor o seja, a característica, pode depender da


combinação dos genes paternos e maternos, que isolados não se demonstram
ativos.

Não podemos descartar a existência de uma causa genética, para a


homossexualidade, mas também não podemos inferir a exclusividade a
genética, uma vez que o que somos, é definido por uma ampla gama de
experiências multi-sensoriais, as quais definem não só nossa sexualidade vem
a nortear toda a nossa vida.

3.5 – Economia49:

É amplamente cediço o fato de que em nossa sociedade para que


ocorram mudanças sociais e políticas, há de haver a ocorrência de fato
econômico irrelevante, o qual sempre acaba gerando uma vontade política de
mudanças, para o atendimento e preservação do fato econômico irrelevante e
satisfação dos interesses daqueles que vem a deter o poder econômico que
veio a gerar o fato econômico irrelevante e a vontade política de mudanças.

No Brasil hoje o mercado voltado para a satisfação das necessidades


da comunidade homossexual, movimenta anualmente 215 Milhões de Reais,
com perspectiva de crescimento anual de 30%, para indivíduos entre 30 e 50,
de classe média alta.

O mercado consumidor brasileiro tem particularidades em seu


desenvolvimento, não havendo a importação de padrões econômicos ou
políticos de outros paises.

O consumidor homossexual brasileiro possui um maior poder de


compra, e tem preferência por produtos e serviços mais sofisticados voltados a
aparecia pessoal e moda Há de se consignar que os indivíduos são pessoas
49
http://www.adriananunan.com/_029.htm;
91

extremamente esclarecidas, profissionalmente bem sucedidas, e que discute,


de religião ao comportamento de consumo da comunidade homossexual.

O chamado mercado GLS e os produtos e serviços voltados a tal setor


econômico, são mais lucrativos e mais rentáveis que os direcionados aos
heterossexuais, masculinos com as mesmas características.

Os fatos acima descritos são de extrema irrelevância, para a


acomodação dos interesses deste corpo social especifico, pois em nosso país,
preceitos constitucionais sucumbem, em face de interesses de grupos que
vem a deter grande poder econômico.

O exemplo mais claro, de tal realidade e a questão que veio a envolver


o art. 192, § 3º. da Constituição Federal, revogado pela emenda constitucional
53/99, que desde o inicio, foi massacrado inclusive pelo Poder Judiciário,
quando da declaração do STF na ADIn 4-7/600, no tocante a auto-
executoriedade de tal dispositivo legal.

A decisão proferida causou grande furor no meio jurídico e social, José


Carlos Barbosa Moreira, assim se pronunciou com muita propriedade sobre o
assunto:

“Só na hora de interpretar a constituição não se sabe o


que é: não se sabe porque não se quer saber. É claro
que a taxa de juros reais e tudo aquilo que se cobra,
menos a correção monetária. Se sabemos o que é boa-
fé, conceito muito mais vago; se sabemos o que são
bons costumes, o que é vaguissimo; se sabemos o que é
mulher honesta, para aplicarmos o dispositivo legal que
define o crime de estupro, porque é que não podemos
saber o que são taxas de juros legais.”
92

Assim a posição sócio-econômica ora ocupada pela comunidade


homossexual, em nosso país, pode ser definida como estratégica, e que
merece observação especial criando, definindo conceitos e formando opiniões
inclusive na comunidade heterossexual, principalmente entre os indivíduos do
sexo masculino, haja vista o fenômeno instalado nos últimos anos, da
metrossexualidade.

Somente a título de esclarecimento a metrossexualidade50, caracteriza-


se por uma incursão masculina, no universo feminino em quase todos os seus
domínios, sendo o mais visível o da aparência, mas com ramificações mais
profundas, onde o homem começa a admitir que tem emoções e as esconde
cada vez menos, sentindo-se mais à vontade com suas preferências estéticas
e valoriza com mais desembaraço o aspecto afetivo na relação com a família e
amigos.

Trata-se da combinação perfeita emanada do ente masculino,


combinando a força a fragilidade e os cuidados com a aparência, encontrando
seus ícones em atores de cinema e esportistas mundialmente conhecidos, tal
como o ator Brad Pitt e o jogador de futebol David Beckham.

O psicólogo Alon Gratch define como metrossexualismo a ponta de uma


mudança maior, que é o resultado da exploração corajosa que alguns homens
fazem de seu lado feminino, sem serem gays e sem medo de serem
confundidos com gays, e o verso da moeda, comparada aos movimentos de
libertação feminina.

A exploração do tema pela mídia, é guiada por conceitos econômicos e


de exploração comercial, cabendo ao estado coibir tais excessos, deixaremos
de tratar deste assunto neste título, para abordá-lo quando falarmos de ética,
cultura e mora sexual em nossa sociedade, o que nos parece mais apropriado.

50
“O Homem em Nova Pele” – Especial - Revista Veja. Abril. no. 39, 2003, p. 62/68;
93

4. Homossexualismo, Travestismo e Transexualismo:

Cumpre o esclarecimento de algumas categorias cientificas da


sexologia, ligadas a homossexualidade, que segundo o psicólogo João
Pedrosa, manifestam-se nos indivíduos, a partir de influencias genéticas e
ambientais.

A sexualidade é um conjunto de sensações eróticas físicas e


psicológicas, são sensações prazerosas oriundas de todos os órgãos dos
sentidos e presentes em toda a área física do corpo humano, manifestando-se
a sexualidade em todas as fases da vida, da primeira infância até o fim da
vida.

O sexo é o estado biológico de uma pessoa, podendo desenvolver-se


em homem, mulher ou de forma indefinida, dependendo das circunstancias,
esta determinação pode ser baseada na aparência da genitália ou no cariótipo,
ou seja, no conjunto de cromossomos do indivíduo.

A orientação sexual consubstancia-se na atração sexual da pessoa,


que é direcionada ao sexo anatômico, ou seja, seu objeto de desejo, podendo
a mesma manifestar-se de 03 formas distintas:

a) heterossexual,
b) bissexual,
c) homossexual.

O Gênero e a classe cuja extensão se divide em masculino e feminino,


com características distintas, pro diferenciadores físicos e psicológicos.

A Identidade do Gênero é a convicção intima de uma pessoa ser do


gênero masculino (homem) ou do gênero feminino (mulher).
94

O Papel de Gênero são atitudes, padrões de comportamento e


atributos de personalidade definidos pela cultura na qual as pessoas vivem
papeis esteriotipadamente masculinos e femininos. O ambiente familiar molda
o papel de gênero.

Definidos tais conceitos, podemos estabelecer algumas relações para


melhor entenderemos o tema:

Exemplo 1 – Homem/Mulher Gay


Sexo Masculino Feminino
Orientação Sexual Homossexual Homossexual
Identidade do Gênero Masculino Feminino
Papel do Gênero Masculino Feminino

O homossexual ou gay, é a pessoa atraída sexualmente por outra do


mesmo sexo, não havendo por parte do elemento homossexual, uma postura
negativa quanto a sua condição física, o fato de se sentir atraído por indivíduos
do mesmo sexo, não traz ao mesmo insatisfação ou intenção de alterar seu
corpo físico, não há conflito com sua identidade de gênero.

Exemplo 2 – Homem/Mulher Gay Afeminado/Masculinizada


Sexo Masculino Feminino
Orientação Sexual Homossexual Homossexual
Identidade do Gênero Masculino Feminino
Masculino ou Feminino ou
Papel do Gênero
Feminino Masculino

Ao contrario do exemplo 1. o gay homem ou mulher afeminado ou


masculinizado possui um certo conflito em seu papel de gênero, assumindo
características e ações comumente atribuídas ao sexo oposto, ou seja, o
homem assume características e ações femininas e já a mulher vem a assumir
características e ações masculinas.
95

Exemplo 3 – Homem/Mulher Bissexual


Sexo Masculino Feminino
Orientação Sexual Bissexual Bissexual
Identidade do Gênero Masculino Feminino
Papel do Gênero Masculino Feminino

No homem ou na mulher bissexual, a orientação sexual alem de admitir


a relação com pessoas do sexo oposto, tem como normal o relacionamento
com pessoas do mesmo sexo.

Exemplo 4 – Homem/Mulher Travesti


Sexo Masculino Feminino
Orientação Sexual Bissexual Bissexual
Identidade do Gênero Masculina Feminina
Papel do Gênero Feminino Masculino

O travesti utiliza-se de roupas do sexo oposto, com o objetivo de obter


excitação sexual e criar a aparência de pessoa do sexo oposto, utilizando-se
inclusive de aplicação de hormônios e silicone para tanto, tem por objetivo
aparentar o corpo do sexo oposto.

Não há indicação para a cirurgia de transgenitalização ou


neofaloplastia, pois como no caso do homossexual, pois não há conflito com
sua identidade de gênero, atuando em relacionamentos de forma ativa ou
passiva.

Exemplo 5 – Transexual Masculino/Feminino


Sexo Masculino Feminino
Orientação Sexual Heterossexual (f) Heterossexual(m)
Identidade do Gênero Feminino Masculino
Papel do Gênero Feminino Masculino

No transexualismo, observamos que o indivíduo tem o desejo de viver e


ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, tal desejo e acompanhado em
geral de um sentimento de mal estar ou de inadaptação com referencia a seu
96

próprio sexo, anatômico.

O transexual apresenta conflito com sua identidade de gênero, também


chamado disforia de gênero, em suas relações toma sempre a posição
passiva, sua identidade de gênero é feminina, e seu papel de gênero também
e feminino, existe a necessidade de adequar seu sexo anatômico masculino
para o feminino.

Na disforia de gênero ou distúrbio de identidade de gênero, é constante


o sentimento de infelicidade com relação à situação e temos presente a
depressão que pode levar a tentativas de automutilações e suicídio.

O Transexual repudia seu sexo biológico, ao contrario do que acontece


com o homossexual e o travesti, que aceitam seu sexo biológico, e ainda
assim, resolvem manter relações com pessoas do mesmo sexo que o seu,
sendo que devemos observar que no travesti a ambigüidade ou posição dúbia,
faz parte de seu fetiche.

O Manual de Classificação Estatística Internacional de Doenças e


Problemas Relacionadas à Saúde (CID 10) como o DSM – IV usam os termos
travesti e transexual para classificar estas duas categorias distintas.

No Brasil, a primeira cirurgia de redesignação sexual ocorreu em 1971,


quando o transexual homem para mulher, Waldir Nogueira, foi operado, o que
foi motivo para que o cirurgião Roberto Farina fosse processado criminalmente
e também pelo CFM, perdendo em primeira instância, preso e tendo cassado o
direito de exercício da medicina.

A Resolução 1.484 de Setembro de 1997, do Conselho Federal de


Medicina, preceitua que o paciente transexual portador de desvio psicológico
permanente de identidade sexual, com rejeição de fenótipo e tendência à auto
mutilação e auto extermínio, poderá ser submetido à cirurgia de
97

transgenitalização ou neofaloplastia, para adequar sua genitália a sua psique.

O diagnostico e a preceituação da cirurgia deverá respeitar os seguintes


critérios avaliativos, voltados ao acompanhamento médico do paciente por 02
anos, e a imputação ao mesmo de processo de adaptação pelo mesmo
período:

A cirurgia somente poderá ser realizada:

a) em hospitais publico ou universitários;


b) o paciente deverá ter mais de 21 anos (Resolução CFM 1652/02);

Fora dos parâmetros acima citados, a cirurgia somente poderá ser


realizada com autorização judicial, facultando ao transexual, após a cirurgia,
obter nova identidade civil, através de interpretação judicial do art. 55 da Lei
dos Registros Públicos.

Com relação aos aspectos legais, não podemos deixar de observar, que
a cirurgia de transgenitalização no Brasil é atualmente permitida pelo CFM,
realizada exclusivamente em hospitais universitários ou públicos, para fins de
pesquisa e gratuitos.

Já o desejo de adequar o prenome e o sexo a nova condição e


aparência, esbarram no Brasil na questão legal do direito concernente a
mudança de nome ou a adequação do registro civil.

Trata-se aqui da discussão sobre o direito de um cidadão poder alterar


juridicamente o seu nome e sexo, o que nos remete a legislação vigente no
país.
98

O anseio de adequação do registro civil, carteira de identidade, etc.


garantindo o pleno exercício da cidadania faz parte do debate desta
problemática junto à esfera do direito.

Encontramos neste debate posições pró e contra que a lei permita a


adequação do prenome e sexo do transexual a sua nova condição e aparência
pós-operatória.

Uma tese defendida, em prol da adequação do nome e sexo nos


documentos, a nova aparência e identidade do cidadão, é que os nomes têm
como finalidade a identificação das pessoas e não devem expô-las ao ridículo
social por não condizer com a aparência física, emocional e comportamental.

A resolução do Conselho Federal de Medicina de 10 de setembro de


1997, CFM 1482/9751 libera eticamente aos médicos a realização da cirurgia
transgenital, sendo a mesma legal unicamente quando realizada a título de
pesquisa em hospital universitário ou público.

A cirurgia no Brasil torna-se possível com a resolução do CFM, salvo


restrição necessária de ser o indivíduo maior de 21 anos de idade, ter se
submetido à terapia por no mínimo dois anos, ser diagnosticado e tratado por
uma equipe multidisciplinar, ausência de características físicas inapropriadas
para a cirurgia.

Ressaltamos que nossa jurisprudência pátria, já reconhece do direito à


mudança do registro dos transexuais.52
51
Artigo publicado no repertorio IOB de Jurisprudência, 2ª. quinzena de março de 2001, no. 06, caderno
3, pp. 128;126; O salto – Boletim da Associação dos Travestis de Aracajú/UNIDAS, no. 06, mai-jun-
jul;2002, pp. 01/03; no site Escritório de Advocacia Segismundo Gontijo, Juliana Gontijo e Fernando
Gontijo. Disponível em: http://www.gontijo-familia.adv.br.Acesso em: 26.08.2003, e no site do ICF.
Disponível em: http://www.ICF.com.br/nucleo/.Acesso em: 08.06.2004;
52
Acórdão da Quinta Câmara da Seção de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo. Apelação Cível nº 165.157.4/5. Apelante: Adão Lucimar *****. Apelado: Ministério
Público. Rel. Des. Boris Kauffmann. Data do julgamento: 22/03/2001. Votação unânime -
Anexos;
Apelação Cível no. 591019831 – 4ª. Câmara Cível – Porto Alegre – REGISTRO PUBLICO –
RETIFICAÇÃO DE REGISTRO DE NASCIMENTO – Tendo a pessoa portadora de
99

De forma convergente, em decisão inédita do Tribunal de Justiça do Rio


Grande do Sul53, faz expressa referência à possibilidade do casamento,
embora a decisão venha a determinar a inserção à margem do registro da
indicação que se trata de um transexual, o que possibilita a expedição de
certidão de inteiro teor a requerimento da parte e/ou de terceiro que responde
pelos abusos cometidos pela utilização desta informação.

5 – Aspectos Privados da Cultura e da Ética na Sociedade Brasileira.

Cumpre esclarecer que somos uma sociedade moldada por conceitos


essencialmente, baseados em aspectos religiosos, onde não só a sexualidade,
mas também outros temas, importantes, como discriminação, racismo, miséria
e fome, por muito tempo, foram controlados, policiados e até proibidos por
órgãos diretamente ligados ao poder (estado e igreja).

Apesar de nossa sociedade, voltada ao livre comercio e nossas leis,


garantirem liberdade de expressão, proibição ao racismo e a discriminação, e
promover a tolerância nos moldes da preceituados pelo idealismo da revolução
francesa, ou seja, liberdade, igualdade e fraternidade, o excesso da
exploração comercial de alguns temas, por meios de comunicação, que
formam a opinião dos indivíduos de nosso corpo social, ditando conceitos de
moda e comportamento.

Embora estejamos em franca evolução de nossa consciência social,


não podemos deixar de observar, que cultura, costumes, e ensinamentos que

transexualismo se submetido à operação para transmutação de suas características sexuais,


de todo procedente o pedido de assento de nascimento para a adequá-la a realidade - Anexos.
53
APELAÇÃO CIVEL. MUDANÇA DE SEXO E DE PRENOME. RESTRIÇÃO IMPOSTA PELO
JUIZ. EMBORA NÃO CONSTITUA, A RESTRIÇÃO IMPOSTA PELO JUIZ, DISPOSIÇÃO ULTRA
PETITA E NEM AFRONTE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IGUALDADE, PROVE-SE,
EM PARTE, O APELO PARA FAZER CONSTAR APENAS A CAUSA DETERMINANTE DE
DITAS ALTERAÇÕES. FICA ASSIM, RESGUARDADA A BOA FÉ DE TERCEIROS. LOUVOR A
SENTENÇA. UNANIME (APELAÇÃO CIVEL No. 598.404.887, SETIMA CAMARA CIVEL,
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: ELISEU GOMES TORRES, JULGADO EM
10;03;1999);
100

nos foram passados, por pelo menos 2.000, não podem simplesmente, serem
abstraídos de nossa consciência social, como num passe de mágica.

Os meios de comunicação televisiva de uma ora para a outra, nos


filmes, seriados, telenovelas, apresenta de forma direta as relações
heterossexuais de forma extremamente explícita, tirando ainda do espaço do
segredo, as praticas sexuais minoritárias, como o homoerotismo, o
sadomasoquismo e o incesto, ao mesmo tempo, que autoridades de estado,
caem porque tornam públicos seus pretensos amores.

O Ministério da Justiça, respaldado pelo próprio presidente, vem a


estabelecer a censura classificatória, isso nos traz os seguintes
questionamentos.

a) Quem governa o Brasil, é puritano ou liberal?


b) A sociedade brasileira, sexualmente falando, é conservadora, moderna
ou anômica?

Para respondermos tais questões, antes devemos observar que toda


cultura cria seus sistemas morais, em função de ideais históricos, lastrados
nesta afirmação chegamos a conclusão de que nenhuma moral sexual é
definitiva.

A afirmativa acima encontra supedâneo legal, no princípio ético-político


que veio a orientar a grande revolução norte-americana:

“Todos os homens tem direito à vida, a liberdade e a busca da felicidade”

A vida e a liberdade são um problema de todos, já a busca da


felicidade, revela-se uma busca pessoal de cada um, desde que não venha a
atentar contra a vida e a beleza do outro, fazendo-o sofrer física e moralmente.
101

A observância deste princípio caracteriza o ethos individualista e


democrático da tradição ocidental, sendo que a moral liberal que nele se
baseia, condena deste modo, tanto o moralismo conservador quanto a
perversidade.

Devemos ressaltar que historicamente do moralismo conservador,


nasceram à intolerância e a crueldade, da perversidade nasceu à
monstruosidade.

Com base nestas pequenas considerações, os meios de comunicação,


ao abordarem a sexualidade, nos termos já referidos, não escondem seu
interesse econômico e financeiro, ou seja, deliberadamente tentam manipular
nossa vida privada, com vista à disputa de mercado, vendem o que acham
vendável, não importam os meios e os resultados.

Proibido apenas é o ineficiente economicamente, criando assim, uma


moral sexual comercialmente moldável aos interesses daqueles que produzem
e vendem, valendo-se da influencia e do poder dos meios de comunicação no
dia a dia da população.

O estado por sua vez, contribui para a formação da moral sexual seja,
misturando fritura política em culto a fidelidade monogâmica conjugal, seja
combatendo por decretos ou leis o dinamismo inescrupuloso da industria
cultural que tanto incentiva.

Importante frisar, que tratar de temas como o homoerotismo, o incesto


ou o sadomasoquismo, como quem exibe curiosidades em circos de horrores,
não significa a liberação de costumes sexuais, mas sim tende a perversidade,
que embora maquiada com os traços de uma pseudo-seriedade, não
consegue disfarçar sua nocividade e seus destrutivos propósitos.

A respostas para as perguntas acima intentadas, dependem do intimo


102

de cada um, mas sobre a mesma paira um dilema cuja solução encontra-se
presa em um limbo antagônico, delimitado pelas seguintes certezas:

a) Os meios de comunicação, não promovem o esclarecimento sobre a


moral sexual, ao contrário, utilizam-se de forma inescrupulosa as
praticas minoritárias, a bem de interesses econômicos maiores,
promovendo a desmoralização das entidades familiares, propugnado
pela moral do vale tudo, e ao contrario de promover o liberalismo
construtivo e saudável, infantiliza a consciência das pessoas,
incentivando as mesmas a dar um passo na direção de novas
experiências sem pensar nas conseqüências.

b) O estado na tentativa de manter agregado o corpo social, e as


instituições que compõe o mesmo, se utiliza do moralismo, que é
recebido com apatia, quando não incita a intolerância com a diferença54.

É fato que a primazia ideológica da lei do mercado, do consumo e da


avidez pelo sucesso publicitário vem tornando a hierarquia moral obsoleta em
nossa sociedade.

Com ora discutimos moral e ética, e importante trazermos algumas


distinções no sentido social e não cientifico de alguns termos e sua utilização
politicamente correta no meio social55.

Neste sentido:

a) Homossexualidade: É a condição natural ou um tipo especifico de


sexualidade comum a certos indivíduos, que em qualquer período
histórico ou circunstancia cultural, ou então que se trata de uma
condição psicológica igualmente universal e típica de certos indivíduos;
b) Homoerotismo: São as praticas eróticas entre indivíduos do mesmo
54
Jurandir Freire Costa – Artigo o Governo dos Sexos - Jornal do Brasil 11.11.90;
55
Jurandir Freire Costa – Entrevista ao Jornal do Commercio – 06.10.92;
103

sexo.

Sanada tal duvida, passamos a analisar se a utilização do termo


homossexual, em nosso meio revela-se depreciativo.

Neste sentido acompanhamos o entendimento de Jurandir Freire Costa:

“Seria intolerante, injusto, violento e falso dizer que


todas as pessoas que utilizam o termo homossexual
são preconceituosas. O que digo é que, independente
da intenção de quem fala, o termo toma um sentido
que desqualifica moralmente o homoerotismo, como
sendo um desvio, uma anormalidade, uma doença, um
vício, uma perversão. E tem este sentido porque foi
criado e inventado (no século XIX, através de uma
concepção médico-sexologica) para ser usado neste
sentido. Cada vez que dizemos” alguém é
homossexual “, definimos a identidade da pessoa,
etiquetada por sua preferência erótica. Não temos o
hábito de nos referirmos aos indivíduos dizendo”
fulano e heterossexual “, mas sim, professor,
industrial...”

O que deve ser asseverado, e que como sociedade não apresentamos


uma identidade social definida, não conseguimos ainda nos definir como
conservadores ou liberais, tolerantes ou intolerantes, uma sociedade que
amplamente garante a vida em todos as suas vertentes a todos os indivíduos
do corpo social, ou aplicamos uma seletividade discriminatória, para a
concessão de tal direito.

6 – O Que Pensa e Quer a Comunidade Homossexual.


104

Em pese efetuarmos uma analise cientifica e jurídica das uniões


homoafetivas, levando em conta opiniões isoladas dos Tribunais e de alguns
Juristas e doutrinadores de renome e independente dos alardes
sensacionalistas das mídias em todas as suas vertentes e de alguns grupos de
defesa de direitos civis dos homossexuais, o que realmente pensa a
comunidade homossexual, o que desejam, querem a regulamentação de suas
relações ligadas ao casamento e ao direito de família, ou a regulamentação
dos efeitos de suas relações normatizadas, para que venham sentirem-se mais
seguros, no corpo social e no sistema em que dirige? Ter o direito de casar é o
maior sonho de todos os homossexuais, como um marco de aceitação na
sociedade?

Ao pesquisarmos e compararmos alguns fatos, concluímos que não,


pois existe uma facção do ativismo político dos homossexuais, que cujo
pensamento e objetivos coadunam com os de uma grande parcela da
comunidade homossexual, e que não se consubstancia em sua minoria.

Uma das grandes pensadoras e que encabeça tal movimento e a


ativista americana Paula Ettelbrick:

“O casamento mina nosso objetivo de libertação. Só


haverá justiça quando formos aceitos e apoiados
independentemente de nossas diferenças em relação à
cultura dominante.”56

Devemos ainda, levara em conta que o casamento é a ultima instituição


aos quais os heterossexuais, escolheriam para lutar, uma vez que apenas as
instituições religiosas empreendem campanhas para que seus fieis seguidores,
venham a observar este milenar modelo de relacionamento.

Importante frisar, que a luta pelo casamento e o reconhecimento como

56
Revista Super Interessante – Edição 202 – Julho/04 – pág.52;
105

instituição familiar, nasceu entre correntes conservadoras do ativismo gay,


neste sentido, Andrew Sullivan é o porta-voz da filosofia pró-casamento,
homossexual, conservador e republicano, tem a opinião que os homossexuais,
só serão respeitados, quando se comportarem como os heterossexuais.

O que é certo e que desde a década de 60, o índice de casamentos


caiu drasticamente, entre os heterossexuais, enquanto nascimentos fora do
casamento, coabitação e divórcios aumentaram.57

Nos paises nórdicos, o casamento é uma instituição em avançado


estado de degeneração, basta observarmos, que 60% das crianças nascidas,
não são filhas de pais casados.

Há de se observar que na Holanda pioneira na legalização do


casamento entre pessoas do mesmo sexo, após 03 anos após sua permissão,
a discussão e os opositores sumiram, e nada mudou, não mais se falou no
assunto.

7 – Uniões Homoafetivas Direito Comparado58:

Os ordenamentos jurídicos atuais contemplam a homossexualidade


adotando, quatro linhas diferentes, as quais ora citamos59:

a) Os modelos ditos expansivos, onde adotam políticas de não


discriminação, descriminalização de condutas, instituição das chamadas
ações afirmativas ou discriminação benéfica, a titulo exemplificativo, são
paises adeptos a este modelo a Holanda, Suécia, Noruega, Dinamarca,
Groenlândia e África do Sul;

57
O Estado de São Paulo/SP – 30.11.2003 – Pág. A13;
58
Revista da Escola Paulista de Magistratura, ano 4, no. 2, pág. 149 a 171 - Artigo Luiz Fernando do
Vale de Almeida Guilherme, União Estável Entre Homossexuais, No Direito Brasileiro e no Direito
Comparado;
59
Artigo Publicado na Revista Brasileira de Direito de Família, no. 04, p.05 – II Congresso Brasileiro de
Direito de Família – A Família na Travessia do Milênio. p. 161/172;
106

b) Os modelos intermediários abrangem a descriminalização e proíbe


medidas discriminatórias, sem apontar medidas positivas, temos como
exemplo de paises que adotam este modelo legislativo a França e a
Austrália;

c) Em seguida temos os modelos de ordenamento, que simplesmente


impedem a criminalização, mas não articulam medidas eficazes de
proteção aos direitos dos homossexuais;

d) Os ordenamentos jurídicos dos paises islâmicos completam nossa


explanação, onde ocorre a criminalização da homossexualidade
imputando a mesma a pena de morte.

Os paises do norte da Europa, Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia,


e tradição mais liberal, e que totalmente se desvencilharam das religiões mais
ortodoxas, foram os pioneiros em adotar uma legislação reconhecendo as
uniões homoafetivas.

Desde 1984, esta matéria vem sendo estudada na Dinamarca, sendo


que em 1986 foram reconhecidos os primeiros, direitos patrimoniais oriundos
das relações homoafetivas.

Em 1989, foi promulgada a Lei 372, regulando a matéria.

A lei dispõe que seus efeitos devem ser os mesmos dos contratos do
casamento, devendo ser aplicadas às mesmas disposições aplicadas aos
cônjuges casados, com exceção da adoção.

É proibida a constituição de nova parceria ou casamento sem antes ter


partilhado o patrimônio do vinculo anterior, salvo se os contratantes se unirem
sob o regime da separação total de bens.
107

Na Suécia a parceria homossexual é reconhecida desde janeiro de


1995, quando passou a ter vigência a lei de 23 de Junho de 1994.

A principal inovação da lei Sueca foi à criação da possibilidade de o juiz


intervir facultativamente para o registro da união, sendo tal intervenção apenas
obrigatória nos casos de dissolução.

Na Noruega e na Suécia a legislação confere aos casais homossexuais,


quase todos os direitos dos casais heterossexuais.

Na Holanda a equiparação é total, sendo que casais homossexuais


podem adotar crianças, sem recorrer a subterfúgios.

Interessante ressaltar que a certidão do nascimento sai com a filiação


“mãe e mãe ou pai e pai”.

Na França os casais homossexuais já conquistaram alguns direitos,


como o certificado de vida em comum, que é concedido por cerca de 330
prefeituras espalhadas pelo país.

Devemos ressaltar que a certidão de vida em comum, não possui


qualquer valor jurídico.

A Alemanha, também reconhece a união homoafetiva, sendo que pela


primeira vez em sua história, foi concedido o direito aos homossexuais de
oficializarem suas relações perante o estado.

Entre os benefícios concedidos pelo estado alemão, estão os de


parceiros estrangeiros, residirem no país, regulamentação de herança, seguro
saúde, porém como nos demais paises, não encontramos a concessão do
direito à adoção.
108

Na Espanha os principais partidos políticos, apóiam um Projeto de Lei ,


que tramita no parlamento, objetivando, sobretudo a concessão do direito de
adoção aos casais espanhóis homossexuais.

Em paises como a Grécia e a Irlanda, a homossexualidade constitui


ilícito penal, o que evidencia o grau de intolerância da legislação desses paises
de civilização milenar.

Nos Estados Unidos, tendo em vista a independência legislativa entre


os estados, à matéria é controversa, principalmente pela posição de extrema
direita adotada pelos americanos nas últimas décadas, o governo do
presidente Bill Clinton, até chegou a manifestar-se favorável à regulamentação
da matéria, mas veio a voltar atrás, em face de estratégias políticas, o governo
do presidente George W.Bush já manifestou-se totalmente contrário as uniões
e a legislar neste sentido.

A decisão que mais causou impacto na sociedade americana foi à


proferida pelo mais alto Tribunal de Massachusets, na costa leste americana,
casais compostos por pessoas do mesmo sexo têm o mesmo direito civil ao
casamento que os casais heterossexuais, com tal sentença, gays e lésbicas
daquele Estado podem casar-se de papel passado.

Em sentido contrário, o Governado do tradicionalmente liberal Estado


da Califórnia, o ex-astro de Hollywood Arnold Schwarzenegger, ordenou ao
seu ministro de justiça tomar as medidas necessárias para pôr fim à realização
destes casamentos ao estimar que representam "um risco iminente para a paz
civil".

Tal medida objetiva coibir as autorizações da prefeitura de São


Francisco, na concessão de licenças de casamentos para pessoas do mesmo
109

sexo.60

8 – Uniões Homoafetivas no Direito Brasileiro.

As relações homoafetivas em nosso ordenamento jurídico, não


encontram arrimo legal, dispondo apenas de princípios constitucionais a serem
aplicados aos casos fáticos.

Os citados princípios se consubstanciam, principalmente na proteção da


vida, devidamente estabelecida no art. 5º. da Constituição Federal, sendo que
devemos atribuir ao mesmo o caráter principal, sendo que em consonância,
com o mesmo, temos ainda os princípios relacionados com a proteção da
dignidade humana e da igualdade.

Raupp Rios61 , propugna ainda pela observância do princípio da


Igualdade formal, que coíbe a diferenciação lastrada nas orientações sexual
dos indivíduos, bem como o principio da igualdade material que estabelece o
direito ao tratamento igualitário aos heterossexuais e homossexuais, sempre
que não haja fundamentos racionais para a desigualdade, ambos os princípios,
consubstanciam-se em institutos negativos e positivos de combate a
discriminações pessoais.

A Constituição Federal é clara ao proibir a discriminação pelo sexo,


sendo a discriminação, de qualquer natureza abominada pelo nosso
ordenamento jurídico pátrio.62
60
Revistas Época – Novembro/2003 – pág.100;
61
apud Roberto Senise Lisboa - Manual de Direito Civil 5º. Vol. – Direito da Família e das Sucessões –
Revista dos Tribunais – pg. 253ç
62
Resp - PROCESSO PENAL – TESTEMUNHA – HOMOSSEXUAL – A história das provas orais
evidencia evolução, no sentido de superar preconceito com algumas pessoas. Durante muito tempo,
recusou-se credibilidade ao escravo, estrangeiro, preso, prostituta. Projeção, sem dúvida, de distinção
social. Os romanos distinguiam patrícios e plebeus. A economia rural, entre o senhor do engenho e o
cortador de cana, o proprietário da fazenda de café e quem se encarregasse da colheita. Os Direitos
Humanos buscam afastar distinção. O Poder Judiciário precisa ficar atento para não transformar essas
distinções em coisa julgada. O requisito moderno para uma pessoa ser testemunha e não evidenciar
interesse no desfecho do processo. Isenção, pois. O homossexual, nessa linha, não pode receber
restrições. Tem o direito-dever de ser testemunha. E mais: sua palavra merece o mesmo crédito do
110

Para Ives Gandra Martins, Constituição e soberana para aplicar o


princípio da igualdade da maneira que quiser.63

A falta de dispositivo legal sobre a matéria tem tornado cada vez mais
importante à atuação do operador do direito a fim de solucionar, com
eqüidade, tais questionamentos.

Dessa forma, é vital o entendimento do "fenômeno social jurídico" em


epígrafe. A fria exegese legal não deve ser confundida pelo jurista como
aplicação do Direito. Este deve ser, primeiramente, entendido como fato social;
produto da atuação dos atores sociais em seu meio. Assim, é imprescindível a
inteligência de Pontes de Miranda sobre o tema64:

"Diante das convicções da ciência, que tanto nos


mostram e comprovam explicação extrínseca dos fatos
(isto é, dos fatos sociais por fatos sociais, objetivamente),
o que se não pode pretender é reduzir o direito a simples
produto do Estado. O direito é produto dos círculos
sociais, é fórmula da coexistência dentro deles. Qualquer
círculo, e não só os políticos, no sentido estrito, tem o
direito que lhe corresponde." (Miranda, 1955 p.170)

A inexistência de legislação neste sentido tem levado nossos tribunais


de maneira majoritária, a aplicar aos casos práticos as normas concernentes
ao direito das obrigações, no sentido de destinar os bens adquiridos em
comum pelos parceiros, com fundamento da teoria do enriquecimento sem
causa, ora consagrada pela Lei 10.406/02, a qual encontra-se devidamente
heterossexual. Assim se concretiza o princípio da igualdade, registrado na Constituição da República e
no Pacto de San Jose de Costa Rica.
(Resp no. 154.857/DF, Rel.Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, Sexta Turma, julgado em
26/05/1998.
63
Revista Super Interessante – Edição 202 – Julho 2004 – pág.50;
64
http://www.armariox.com.br/documentos/ciencia/052003/uniaohomoafetiva.doc
111

delineado no Capítulo IV, “Do enriquecimento sem causa”, no Título VII (Dos
atos unilaterais), do Livro I (Do direito das obrigações), da Parte Especial em
seus artigos 884, 885 e 886.

O enriquecimento sem causa consubstancia-se como fonte


obrigacional, e francamente aplicável às relações homoafetivas, em sua
essência.

“O enriquecimento sem causa não é nascido da lei, pois é sabido que


só no século XX e que encontrou guarida nos códigos modernos. Portanto,
não decorrendo da lei, o dever jurídico de restituição há de vir da vontade.”65

A aplicação do supra citado instituto as relações homoafetivas, dá-se


por analogia as regras aplicáveis à união estável.

Vale dizer que o enriquecimento sem causa foi e é um elemento


inerente ao reconhecimento daqueles que conviviam em união estável e o
concubinato, antes e depois da Constituição Federal de 1988, haja vista, o
período em que tal situação encontrava-se fora do amparo das normas
atinentes ao direito de família.

Há de se observar o fato de que nas relações homoafetivas, existe a


clara configuração de uma sociedade de fato, que ao seu termino, impõe a
divisão dos bens havidos pelo esforço comum.

Assim podemos cogitar a aplicação da Súmula 380 do STF, a qual


preceitua:

“Comprovada a existência da sociedade de fato entre os


concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a
partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum."
65
Giovanni Ettore Nanni – Enriquecimento sem causa – Coleção Profo. Agostinho Alvim – Editora
Saraiva – pág.178;
112

Ressaltamos a posição vanguardista de Maria Berenice Dias, a qual nos


aponta com o emprego da analogia das relações homoafetivas, para com o
instituto da união estável, uma vez que a única diferença existente entre os
institutos e a diversidade de sexos, propugnando pela existência de uma
“vacatio legis”, no tocante à união de pessoas do mesmo sexo.

O entendimento posto no parágrafo anterior encontra fundamento no


art. 4º. da Lei 4.657/42, que prevê que no caso de imissão da lei, o caso será
decidido pela analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.

Ademais, a mesma entende que a interpretação do art. 226, § 4º., que


vem a instituir a familia monoparental, deva ser interpretado de forma
extensiva, abrangendo a união homoafetiva como entidade familiar, tal
assertiva, como fundamento nos parece um tanto quanto frágil, não carecendo
de receptividade pela posição jurisprudencial majoritária.

Neste mesmo sentido, o anteprojeto da Lei 8.971/94, trazia em seu


bojo, a possibilidade de partilha do patrimônio comum adquirido pelo esforço
comum dos companheiros de mesmo sexo ou sexo diferente.

Para Roberto Senise Lisboa, as relações homoafetivas, não podem ser


erigidas ao mesmo status de legal da união estável, uma vez que o art. 226, §
3º., tem como requisito essencial à diversidade dos sexos.

Por outro turno, a falta de legislação sobre o tema, não só traz prejuízo
à paz e ordem social e a segurança jurídica, mas também exalta e perpetua as
injustiças seculares cometidas contra a comunidade homossexual, uma vez
que vem a impossibilitar ao indivíduos a aferirem direitos, baseados na
igualdade de seus sexos inseridas em seus relacionamentos.
113

Ora citados66:

 Não somar rendas para aprovar financiamentos;


 Não somar rendas para aluguel;
 Não inscrever o parceiro como dependente de servidor público;
 Não participarem de programas estatais vinculados à família;
 Não inscreverem parceiros como dependentes da previdência;
 Não poderem acompanhar parceiro servidor público transferido;
 Não possuem o direito a impenhorabilidade do imóvel onde o casal
reside;
 Não tem garantia de pensão alimentícia no caso de separação;
 Não tem garantia a metade dos bens dos parceiros;
 Não podem assumir a guarda do filho do cônjuge;
 Não podem adotar filhos em conjunto;
 Não podem adotar o filho do parceiro;
 Não tem direito à licença vinculada ao nascimento de filho(s) da
parceira;
 Não tem licença maternidade/paternidade se o parceiro adotar um filho;
 Não recebem auxilio funeral;
 Não podem ser inventariantes do parceiro falecido;
 Não tem direito à herança;
 Não tem garantia de permanência no lar do casal, com a morte do
companheiro;
 Não tem usufruto dos bens do parceiro;
 Não podem alegar dano moral e o parceiro for vitima de um crime;
 Não tem direito à visita íntima na prisão;
 Não acompanham a parceira no parto;
 Não podem autorizar cirurgia de risco;
 Não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz;
 Não podem declarar o parceiro como dependentes do Imposto de
66
Revista Super Interessante – Edição 202 – Julho 2004 – pág. 51;
114

Renda;
 Não podem fazer declaração conjunta de Imposto de Renda;
 Não podem abater do Imposto de Renda, gastos médicos e
educacionais do parceiro;
 Não pode abater do Imposto de Renda, o imposto pago em nome do
parceiro.

A Constituição Federal consagra, em seu artigo 1.º, inciso III, o


princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Esse princípio de direito
natural, positivado em nosso ordenamento jurídico, ressalta a necessidade
do respeito ao ser humano, independente da sua posição social ou dos
atributos que possam a ele ser imputados pela sociedade. Sempre é válido
citar o comentário de Manoel Gonçalves Ferreira Filho sobre o tema67:

“Dignidade da pessoa humana. Está aqui o


reconhecimento de que, para o direito constitucional
brasileiro, a pessoa humana tem uma dignidade própria e
constitui um valor em si mesmo, que não pode ser
sacrificado a qualquer interesse coletivo." (Ferreira Filho,
2000. p. 19).

Alexandre de Moraes dispõe de maneira semelhante:

"O princípio fundamental consagrado pela Constituição


Federal da dignidade da pessoa humana apresenta-se
em dupla concepção. Primeiramente, prevê um direito
individual protetivo, seja em relação ao próprio Estado,
seja em relação aos demais indivíduos. Em segundo
lugar, estabelece verdadeiro dever de tratamento
igualitário dos próprios semelhantes (grifos nossos)".

67
http://www.armariox.com.br/documentos/ciencia/052003/uniaohomoafetiva.doc
115

Cumpre aduzir que o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana tem


sua base na afirmação kantiana de que o homem existe como um fim em si
mesmo, e não como mero meio, diversamente dos seres desprovidos de
razão que tem valor relativo e condicionado e se chamam coisas.

Este dever configura-se pela exigência de o indivíduo respeitar a


dignidade de seu semelhante tal qual a Constituição Federal exige que lhe
respeitem a própria, cuja noção remonta a 03 princípios do direito romano:

a) “honeste vivere”: viver honestamente;

b) “alterum non laedere”: não prejudicar ninguém;

c) “suun cuique tribuere”: a cada um o que lhe é devido.

Cada ser humano constitui por si próprio um valor, cujo dever de


respeito e preservação em nosso ordenamento jurídico, hoje é
constitucionalmente protegido, assim, é fundamental a bem da paz, ordem
e segurança social e jurídica, que o qualquer tipo de relacionamento de
seres humanos, desde que lícito, deve ser reconhecido pelo ente estatal,
uma vez que os valores humanos fazem parte de seu próprio substrato
emocional e intelectual.

Com relação à questão do casamento, observamos uma quase


unanimidade entre os juristas nacionais, Caio Mario entende que o casamento
entre pessoas do mesmo sexo é inexistente, pois seria um daqueles casos em
que não se reúnem os elementos materiais cuja natureza ou objeto
impossibilita a concepção, ou seja, falta um pressuposto fático, enquanto a
nulidade ou anulabilidade seria a inobservância dos requisitos legais.
116

Maria Helena Diniz, entende que:

“...casamento inexistente é aquele em que há identidade


de sexos ou falta de celebração na forma da lei, não
existindo juridicamente e não produzindo nenhum efeito
(...). Não é casamento, pois nem chega a ser um
matrimonio. Por não ser o nada, não há necessidade de
ação que declare sua ineficácia.”

Como voz parcialmente discordante, temos Silvio Rodrigues, que


entende da necessidade de da declaração judicial de inexistência.

A seu ver, a idéia de inexistência é inútil, podendo ser vantajosamente


substituída pela nulidade, pois entende que se trata de um fato, que existe
perante o direito.

“Ora, para se cancelar aquele registro, exige a lei ação


ordinária, revestida de todas as solenidades reclamadas
para a ação de nulidade do casamento, resguardando-se
os interesse das partes e da sociedade, pela presença do
Ministério Público e do defensor do vinculo.”68

O maior avanço legislativo no sentido de regulamentar as uniões


homoafetivas, repousam sobre a Proposta de Emenda a Constituição Federal
– PEC no. 139/95, de Autoria da Deputada Marta Suplicy que altera os arts. 3º.
e 7º. da Constituição Federal, cujo escopo precípuo e o de proibir a
discriminação por motivo de orientação sexual.

Cabe ainda citação ao Projeto de Lei no.1.151/95, que em sua versão


atual, traz as seguintes explicações69:
68
União Homossexual no Direito Brasileiro e no Direito Comparado – Revista da Escola Paulista da
Magistratura, Ano 4, n.o. 2, pág. 159;
69
Substitutivo ao Projeto 1.151-A de 1995, apresentado pelo Deputado Roberto Jefferson, cuja autoria
original foi da Deputada Marta Suplicy;
117

“Trata-se de um projeto que procura reconhecer e


assegurar um legítimo direito de cidadania, dignidade e
respeito aos direitos humanos de milhares de pessoas
que, por sua orientação sexual, não podem ter seus
direitos negados.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza (art. 5º. da CF).”

O Projeto propõe:

a) Direito de Propriedade;
b) Sucessão Hereditária nos moldes da Lei 8.791/94 (união estável);
c) Usufruto da 4ª. parte dos bens do parceiro falecido ou usufruto da
metade dos bens se o parceiro falecido não tiver filhos, em detrimento
da existência de ascendentes por parte do “de cujus”;
d) Totalidade da herança no caso do parceiro falecido não deixar
descentes ou ascendentes;
e) Benefícios previdenciários;
f) Seguro saúde conjuntos;
g) Declaração conjunto de IR;
h) Direito à nacionalidade, no caso de estrangeiro;
i) Reconhecimento de renda conjunta para a aquisição de imóvel;
j) Garantia do bem de família;
k) Aferição do status de beneficiário em planos de saúde, seguro de grupo.

Ressaltamos que o Projeto, não propõe dar a união homoafetiva o


status de casamento, não reconhecendo aos contratantes do contrato de
parceria civil registrada, tal como mudar o estado civil, utilização de
sobrenome, adoção, tutela e guarda de crianças ou adolescentes.
118

O contrato pode ser desfeito por:

a) desistência das partes;


b) possibilidade de resilição bilateral ou do distrato;
c) morte de um dos contratantes;
d) sentença judicial, que obrigatoriamente deverá conter a partilha de
bens.

No caso de morte de um dos parceiros, necessariamente deverá o


Poder Judiciário ser acionado para que constate o fato e proceda a declaração
dos direitos do parceiro sobrevivente.

Prevê ainda o Projeto, que o Contrato de parceria civil, não poderá ser
assinado simultaneamente com mais de uma pessoa, e os contratantes não
poderão se casar durante a vigência do contrato, criando-se assim um novo
impedimento para o casamento, não elencada no art. 1.521 da Lei 10.406/02.

Para Álvaro Villaça:

“cria-se perigosamente um novo estado civil que não


pode ser alterado sem a extinção do contrato de parceria
civil registrada.”

Para Breno Moreira Mussi:70

“A orientação sexual é direito da pessoa, atributo de


dignidade. O fato de alguém se ligar a outro do mesmo
sexo, para uma proposta de vida em comum, e
desenvolver seus afetos, esta dentro da prerrogativa da
pessoa. A identidade dos sexos não torna diferente, ou

70
Maria Berenice Dias, Homoafetividade o que diz a Justiça, pág. 7;
119

impede, o intenso conteúdo afetivo de uma relação


emocional, espiritual, enfim, de amor, descaracterizando-
a como tal. Esta circunstancia é por demais relevante. O
fato de serem as litigantes do mesmo sexo não impediu a
concretização de um relacionamento afetivo entre
ambas, com conseqüências idênticas aos entretidos
pelos casais de sexo diversos.”

Carlos Aberto Benke71 assim se posiciona:

“Nem o texto constitucional, nem a legislação


infraconstitucional, mostram-se suficientes para a
solução de todos os conflitos que porventura, surjam das
relações de afeto quando rompidas. (...) Não se pode
esquecer, que base jurídica existe para a proteção
dessas anômalas (para a visão ortodoxa) situações de
fato. Fundamenta-se nos princípios da liberdade,
igualdade e inviolabilidade da vida privada e da
intimidade. Ou seja, não estão órfãos no âmbito do
Direito aqueles que tem orientação sexual diversa da
pretendida pela Constituição em seu art. 226, § 3º.,
diante da identificação daqueles princípios como norte
para uma efetiva proteção.”

Para Ruy Portanova72:

“Ora, induvidosamente, a semelhança relevante de


ambos os casos é o afeto informal. Os dois institutos
centram-se em relações interpessoais de amor comum
entre os parceiros. Não se desconhece a importância
deste sentimento, tanto para a elevação da solidariedade
71
Maria Berenice Dias, Homoafetividade o que diz a Justiça, pág. 7;
72
Maria Berenice Dias, Homoafetividade o que diz a Justiça, pág. 8;
120

humana em geral como para a felicidade das pessoas


em particular. Os amantes que hoje vivem em união
estável, também sofrem as agruras e as discriminações
que hoje sofrem as famílias homossexuais. Esta é uma
semelhança histórica relevante, que, por igual, faz
aproximar algo que hoje está regulando (a união estável)
com algo que ainda aguarda regulamentação legislativa.”

Ademais a Constituição Federal, em sua base principiologica, veio a


afastar a unicidade da proteção oferecida ao casamento, transferindo a mesma
a instituição da família, conforme podemos observar pela proteção à família
monoparental e a abolição da chamada filiação ilegítima, e o tratamento
constitucional da união estável.

Neste sentido, Zeno Veloso73:

“...num único dispositivo o constituinte espancou vários


séculos de hipocrisia e preconceito.”

A competência jurisdicional sobre a matéria, ainda se demonstra


controvertida uma vez que em muitos Tribunais Estaduais prepondera o
caráter obrigacional das relações homoafetivas, cujas seqüelas que lhes são
imputadas, revelam-se de ordem claramente de ordem patrimonial.

As controvérsias oriundas das relações homoafetivas, na maioria das


vezes são resolvidas pelas varas cíveis, e os recursos das mesmas se
originam, são encaminhados as Câmaras Cíveis que detém conhecimentos
gerais para os julgamentos de direito privado.

Em 17 de junho de 1999, foi julgada perante a 8ª. Câmara de Cível do


73
Homossexualidade e Direito. Jornal O Liberal – Belém/PA – 22.05.1999;
121

Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o Agravo de Instrumento no.


599075496, cuja ação originária, foi intentada junto a uma das Varas de
Família de Porto Alegre/RS, buscando o reconhecimento e os direitos da
Relação Homoafetiva mantidas por E.C.E e E.S.C, onde o Juiz de 1ª.
Instancia, em face de alegação da sociedade de fato, veio a dar-se por
incompetente com relação à matéria e remeteu o processo a uma das varas
cíveis.

O pedido foi apreciado pelo Desembargador Breno Moreira Mussi, que


em sede liminar, manteve a competência da ação no foro de família, e
posteriormente o colegiado confirmou por unanimidade a competência do
Juízo de Família.74

Com o julgamento do supra citado Agravo de Instrumento, pela primeira


vez se fez jurisprudência no sentido de reconhecer a competência das varas e
câmaras especializadas em direito de família.

Maria Berenice Dias entende que qualquer discriminação sexual


baseada na orientação sexual evidência claro desrespeito à dignidade
humana, infringindo o princípio maior consagrado na Constituição Federal,
inferindo ainda que em face dos princípios constitucionais de respeito à
dignidade da pessoa humana e pelo principio da igualdade é completamente
desarrazoada a eleição de fator discriminante para a equiparação dos direitos
deferidos aos heterossexuais, uma vez que a discriminação afronta claramente
o princípio da isonomia e a cláusula constitucional de respeito à liberdade75.

O fato é que a homossexualidade é um fato, fato que gera


conseqüências em nosso mundo, e não pode por muito tempo, deixar de ser
74
RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS – COMPETENCIA PARA JULGAMENTO DE SEPARAÇÃO DE
SOCIEDADE DE FATO DOS CASAIS FORMADOS POR PESSOAS DO MESO SEXO.
Em se tratando de situações que envolvem relações de afeto, mostra-se competente para o julgamento da
causa uma das varas de família, à semelhança das separações ocorridas entre casais heterossexuais.
Agravo Provido - Agravo de Instrumento no. 599075496 – 8ª. Câmara Cível TJRS – Rel.Des.Breno
Moreira Mussi;
75
Artigo Publicado na Revista Brasileira de Direito de Família, no. 04, p.05 – II Congresso Brasileiro de
Direito de Família – A Família na Travessia do Milênio. p. 161/172;
122

notada por nosso legislador, que ora declina de sua obrigação passando a
mesma para o Poder Judiciário, que não pode deixar órfão aquele que procura
sua ajuda, para ver valer seus direitos e sua cidadania.

Não podemos ainda invocar antigos e arcaicos preceitos religiosos e


claramente discriminatórios, para que em atendimento de interesses de grupos
minoritários, seja a comunidade homossexual esquecida em seus anseios.

Na situação em que sem encontra a matéria, não podemos inferir que


estamos espelhando e praticando os princípios de uma sociedade liberal,
aberta, justa, livre, pluralista, solidária, fraterna e democrática.

9 – Conclusão.

“Todos os homens tem direito à vida, a liberdade e a busca da felicidade”

Esta afirmação tem sua origem na política estatal criada na segunda


metade do século XVIII, garantindo a vida, em sua na teoria do corpo espécie,
que transpassa a mecânica do ser vivo, e como suporte dos processos
biológicos, a proliferação dos nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde e
a duração da vida, a longevidade e todas as variações que podem fazê-los
variar.

Como resultado direto desta política de proteção a vida, implantada pelo


estado, temos necessariamente a criação de uma sociedade normativa por
excelência, como conseqüência direta de uma tecnologia social e de poder,
voltada à vida em seu sentido amplo e irrestrito.

É fato que a exclusão de determinadas sub-culturas sociais minoritárias,


é uma constante em nossa sociedade, motivo pelo qual, foi criado o instituto
da igualdade legal, o qual veio a evoluir em nossa constituição para o princípio
constitucional da igualdade.
123

Temos a proteção da vida, como princípio mestre de nosso


ordenamento jurídico, o bem mais precioso que possuímos, e aquele que é
tutelado pelo estado com maior intensidade, a Constitucional proteção à vida,
não abrange só os demais princípios e direitos acessórios, expressamente
constituídos, que emanam da existência da vida.

A preocupação estatal com a vida vai alem da vida existente, em curso,


ponde a salvo inclusive os direitos dos não nascidos, quando os mesmos,
possuem a chamada vida viável, conforme podemos observar pela nossa
legislação ordinária civil e penal vigente.

Devemos ainda inferir, que em face da proteção da vida, nossa


legislação inclusive inverte determinados fatos biológicos irrefutáveis, o maior
exemplo disso e o tratamento constitucional dado à vida e ao meio ambiente.

O tratamento superior dado ao direito à vida fica claro ao efetuarmos a


comparação dos Artigos 5º e 225º da Constituição Federal:

Art. 5º - Todos serão iguais perante a Art. 225 – Todos tem direito ao meio
lei, sem distinção de qualquer ambiente ecologicamente equilibrado,
natureza, garantindo-se aos bem de uso comum do povo e
brasileiros e estrangeiros residentes essencial a sadia qualidade de vida,
no país, a inviolabilidade do direito impondo-se ao poder público e a
a vida, a liberdade, a igualdade, à coletividade o dever de defendê-lo e
segurança e a propriedade, nos preservá-lo para as presentes e
seguintes termos. futuras gerações.

Podemos observar que a proteção à vida estabelecida em nossa


Constituição Federal vem a suplantar os fenômenos naturais e biológicos
existentes, pois a vida encontra-se inserida no meio ambiente, e não o meio
ambiente serve de instrumentos para administração estatal da vida.
124

Neste passo, face à garantia do estado em garantir a vida, e sua


obrigação de intervenção legislativa neste sentido, e em atendimento a função
social da lei, o mesmo hoje, em abstendo-se em efetuar a regulamentação das
relações homoafetivas, devidamente preceituadas no capítulo 1., fls., XVII,
acima.

A negativa do estado, em efetuar tal regulamentação, configura clara e


flagrante violação de forma genérica, ao princípio constitucional de garantia da
vida, elencado no caput do art. 5º. da Constituição Federal e de forma
subsidiária aos princípios de dignidade da pessoa humana, da igualdade,
todos eles voltados a uma concepção jus-naturalista.

Fato importante e que devemos observar que a vida, a dignidade da


pessoa humana e a igualdade são princípios inseridos dentro da esfera da
proteção dos direitos e garantias individuais do ente humano.

Neste sentido, encontram-se vinculados à imposição de limites e


obrigações básicas do poder governante, bem como de seus agentes,
efetivamente para resguardar o direito dos seres humanos isoladamente
considerados.

Como assevera Celso Antonio Bandeira de Mello:

“violar um princípio é muito mais grave que transgredir


uma norma qualquer. A desatenção a um princípio
implica em ofensa não apenas a um específico
mandamento obrigatório, mas a todos os sistemas de
comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou
inconstitucionalidade...representa insurgência contra todo
o sistema, subversão de valores fundamentais...”.76

76
Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais – Rodrigo César Rebello Pinho – pág.57;
125

Neste sentido o estado já age de forma ilegal, em abster-se de efetuar a


normatização das uniões homoafetivas, tendo em vista que sua omissão viola
princípios constitucionais.

Feitas tais considerações, devemos observar ainda, que a


regulamentação das uniões homoafetivas, não possui uma carga histórica-
filosófica, que imponha a mesma uma natureza familiar, ou que seu tratamento
legar e jurídico, deva dar-se por este caminho.

Ora, apesar do conceito de família encontrar-se em franca evolução e


sofrendo influencias de fatores externos, tais como os meios de comunicação,
seu cerne, encontra-se mantido, ou seja, a família que conhecemos, veio a
nascer pelo casamento, e sempre veio a ser destinada à filiação legitima e a
proteção patrimonial.

Todas as obrigações e direitos inerentes às uniões heterossexuais


possuem um caráter consangüíneo muito forte, e que se originam de uma
necessidade natural (procriação) e natural-jurídico-obrigacional (prover e
proteger), que não podem ser ignoradas pelo cauto legislador.

Historicamente falando, apesar da evolução do movimento dos direitos


civis dos homossexuais, da tolerância e dos direitos adquiridos, pelos estados
liberais, a família, o casamento e as relações homoafetivas, nunca vieram a se
confundir, ou sequer a figurar com institutos fronteiriços, em ordenamentos
jurídicos historicamente conhecidos, isso em virtude do status que o sexo
possuía na relação com o poder.

Devemos frisar que nas relações homoafetivas e nas relações


heteroafetivas, tem em comum um mesmo principio norteador, que inclusive
aponta o objetivo pelo qual tais relações existem, ou seja, o da solidariedade
familiar, que infere o respeito e o amor ao companheiro, lastrados em laços
superiores de confiança e na intenção de passar pela experiência de vida
126

dando apoio, proteção, socorro, dividindo as alegrias e tristezas de forma


eqüitativa.

Trata-se claramente de relação que objetiva a constituição de entidade


de natureza familiar, onde as pessoas que a compõe, buscam o dever
recíproco de cooperação e a assistência material e imaterial da pessoa em que
confiam a divisão de sua vida e de sua confiança.

Não nos imaginamos mais como homens e mulheres, machos e


fêmeas, superiores e inferiores em virtude do sexo que detemos, somos seres
humanos, sem qualquer tipo de diferença, principalmente baseadas em
diferenças físicas, crenças políticas e religiosas.

Valorizamos tanto a vida, que protegemos aqueles que entre nós são
capazes dos mais abomináveis e repugnantes atos, em nome dos direitos
humanos, direitos humanos estes lastrados no princípio dignidade da pessoa
humana.
Ora, a única discussão sobre o tema, recai sobre a “diversidade” dos
sexos, fora tal “diversidade”, nenhum outro elemento constitutivo da união
estável encontra-se deslocado o que tange a união homoafetiva.

Neste passo, a Constituição Federal proíbe terminantemente qualquer


tipo de discriminação, reconhecendo nossa igualdade enquanto serem
humanos.

Na esfera constitucional e na esfera infra-constitucional, não


encontramos lei proibitiva das relações homoafetivas, ao contrario, os
princípios constitucionais aplicáveis a matéria, ressaltam a necessidade de
normatização do tema.

Face à ausência de legislação sobre o tema o direito nos brinda com


127

instrumentos para sanarmos a omissão do legislador, os quais encontram-se


consagrados no art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil77.

A união estável revela-se uma das formas de constituição de entidade


familiar, de maneira inequivocamente analógica temos a união homoafetiva
nos termos da definição deste trabalho, como um instrumento alternativo, pois
ora não se encontra regulada por lei, de constituição de uma entidade familiar
carecedora do reconhecimento de tidos os direitos inerentes àqueles que se
encontram envoltos pela proteção da união estável.

Não entendemos que a ausência de previsão legal e constitucional no


que tange a regulamentação da união homoafetiva seja obstáculo a sua
regulamentação.

Entendemos ainda, que a proteção constitucional dada a união estável


e ao casamento, não se consubstanciam em uma classificação exaustiva, mas
sim meramente exemplificativa, a qual tem como objetivo a proteção dos
princípios básicos da instituição familiar, motivo pelo qual, e em estrita
observância aos princípios da igualdade e da proteção da dignidade da pessoa
humana, inferimos a ausência de necessidade no tocante a mudanças no texto
constitucional, para a regulamentação das uniões homoafetivas.

Essa regulamentação, poderá ser objetivada através de legislação


infra-constitucional sem maiores alardes ou questionamentos ético-filosóficos.

Por derradeiro, trata-se no nosso entendimento de instituto integrante


ao direito de família, devendo, portanto na esfera jurídico-legislativa, assim ser
tratada, não impondo maiores traumas aqueles a sociedade nem maiores ônus
77
Decreto-Lei no. 4.657 de 04.09.1942 – Art. 4º. Quando a Lei for omissa, o Juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito, vide art. 161 CPC – “A
interpretação das leis é obra de raciocínio, mas também de sabedoria e bom senso, não podendo o
julgador ater-se exclusivamente aos vocábulos mas, sim, aplicar os princípios que informam as normas
positivas.” (RSTJ 19/461 maioria) – “Leis interpretativas são aplicáveis a fatos ocorridos a partir de sua
entrada em vigor, não a situações sujeitas ao domínio temporal exclusivo das normas interpretadas.”
(STF – 2ª. Turma. RE 120.446-PB, rel.Min.Carlos Veloso, j. 01.10.96, deram provimento, v.u. DJU
13.12.1996).
128

aqueles que muito já sofreram com o preconceito que historicamente lhes foi
dispensado.

O casamento é definido como o mais eficaz meio de controle social, que


objetiva a mantença de nossa ordem e paz social, trata-se da celebração de
uma das mais puras sociedades existentes, pois para seus integrantes
representa a satisfação e realização de sua busca de uma vida segura, estável
e feliz.

O heterossexual ou homossexual visualiza em seu parceiro escolhido a


felicidade, esta projetada para toda uma vida, não se revela somente
preconceituosa a concepção de inferirmos as relações homoafetivas um
caráter meramente patrimonial abstraindo-se totalmente seu caráter afetivo e
sentimental, mas também monstruosa.

Alcançamos nossa plenitude como seres em todos os sentidos, dando o


máximo de nossas forças pelo bem estar daqueles que amamos, ou seja,
sozinhos não somos nada, mas através do amor dedicado a(s/os) nossas(os)
companheiras(os), filhos(as), pais, mães, irmãos, nos tornamos pessoas
melhores.

Não devemos por preconceito ou por uma herança histórica baseada na


intolerância e na imposição de valores, preconceituosos, racistas e tendentes
ao fanatismo, negar a todos que queiram a esperança e a chance de se
desenvolverem plenamente com seres humanos no mundo em que vivemos.

O equilíbrio entre a fraternidade, igualdade e liberdade, consubstancia-


se na chave para o amor e respeito incondicional entre os homens, o que nos
leva a conviver pacificamente com nossos semelhantes, independente de sua
raça, cor ou sexo, respeitando suas diferenças e preservando o que mais nos
é caro, sob uma ótica coletiva, uma sociedade pacifica, liberal e voltada ao
desenvolvimento pleno do potencial de seus integrantes.
129

10 – Bibliografia:

CALMON, Guilherme. GAMA, Nogueira de. O Companheirismo uma Espécie


de Família. 2ª ed, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001;

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Rocco, 2000;

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DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade o que diz a Justiça!. Porto Alegre:


Livraria do Advogado Editora, 2003;

FILHO, Amilcar Torrão. Tribades Galantes, Fanchonos Militantes


homossexuais que fizeram história. São Paulo: GLS, 2000;

FOULCALT, Michel. História da sexualidade à vontade de saber. 15ª. ed. São


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FOULCALT, Michel. História da sexualidade o uso dos prazeres. 10ª. ed. São
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FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Curso de Direito Civil – Direito das Sucessões, 2ª


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de Oliveira, 2003;

LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais – A situação jurídica de


pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. 2ª. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2003;

LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil – Direito da Família e das


Sucessões. 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais , vol.5, 2004;
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PEDROTTI, Irineu Antonio. Concubinato União Estável, 4ª ed, São Paulo,


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PINHO, Rodrigo César Rebello. Teoria Geral da Constituição e Direitos


Fundamentais. 3ª.ed. São Paulo: Saraiva, vol. 17, 2002;

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VAINFAS, Ronaldo. Tropico dos Pecados Moral, Sexualidade e Inquisição no


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OUTRAS BASES DE CONSULTA:

a) Artigos:

GWERCMAN, Sérgio. “Sim” - Revista Super Interessante. Abril. no. 202, 2004,
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MOTT, Luiz. “Nefandos Pecados” - Revista Nossa História. Biblioteca


Nacional. no. 8, 2004, p. 28/32;

“O Homem em Nova Pele” – Especial - Revista Veja. Abril. no. 39, 2003, p.
62/68;

GUILHERME, Luiz Fernando do Vale de Almeida. “União estável entre


homossexuais no Direito brasileiro e no Direito Comparado” – Revista da
Escola Paulista da Magistratura. no. 4, 2003, p.149/171;

“De papel passado” - Revista Época. Edição de 24 de Novembro de 2003. p.


100;

b) Bases Eletrônicas – Sites da Internet:

http://www.dhnet.org.br;
http://www.mariaberenicedias.com.br;
http://www.tj.sp.gov.br;
http://www.tj.rs.gov.br;
http://www.conjur.uol.com.br;
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http://www.angelajackson.hpg.ig.com.br;
http://www.geocities.com/gayjoven/homociencia.htm;
http://www.geocities.com/gayjoven/homopsico.htm;
http://www.hosting.pop.com.br/glx/glx.php?artid=1072;
http://www.aids.gov.br/imprensa/Noticias.asp?NOTCod=57764;
http://www.adriananunan.com/mídia_029.htm;

11 - ANEXOS

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