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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL ............................................................................. 5

1.1. CONCEITOS DE DIREITO PENAL.......................................................................... 5

1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL (EXPLÍCITOS E


IMPLÍCITOS)...... ........................................................................................................... 5

2. LEI PENAL ................................................................................................................... 19

2.1. FONTES DO DIREITO PENAL .................................................................................. 19

2.2. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL............................................................................. 21

2.3. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO ...................................................................... 25

2.4. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO..................................................................... 34

2.5. VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS ........................................... 39

2.6. DISPOSIÇÕES FINAIS .............................................................................................. 44

3. TEORIA GERAL DO CRIME ......................................................................................... 48

3.1. CONCEITO DE CRIME ......................................................................................... 48

3.2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO CRIME............................................................. 49

3.3. OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL DO CRIME ..................................................... 52

3.4. DISTINÇÃO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL .................................... 52

3.5. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES .................................................. 56

3.6. BEM JURÍDICO ......................................................................................................... 67

4. QUESTÕES .................................................................................................................. 69

5. GABARITO COMENTADO .......................................................................................... 85


DIREITO PENAL
APRESENTAÇÃO

Prezado futuro Delegado da Polícia Federal,

Neste momento, trataremos sobre os três primeiros pontos do edital de vocês


em Direito Penal. Para quem acompanhou as últimas provas, foi visível a
importância gigantesca do âmbito criminal no certame de 2018, com mais de 50
questões do total de 120. Pensando neste panorama, não economizamos no
material das rodadas, para cobrir o máximo de temas e garantir o êxito ao final de
março.

Iniciando com a introdução ao Direito Penal e passando pelos princípios, que


são a base para formular qualquer raciocínio na matéria (daí a sua importância –
foco na discursiva e na oral), depois seguimos para o estudo da Lei Penal em si, com
a eficácia da lei penal no tempo, no espaço e em relação às pessoas e o conflito
aparente de normas com questões que costumam ser difíceis para o aluno, como a
questão da extraterritorialidade da lei penal (recomendo a memorização da tabela).

O material continua com a Teoria Geral do Crime, que ainda será retomada
em outro momento com temas como o crime continuado. Dedicamos uma especial
atenção à classificação dos crimes, uma vez que, embora nunca figure
especificamente em editais de DPF como tópico específico, sempre acaba cobrado
4
direta ou indiretamente em todos os certames da carreira. Não podemos perder
questões por não saber nomenclatura!

Finalmente, foram selecionadas as principais questões para que vocês fixem


bastante o conteúdo, todas com comentários ao final. Sempre que possível, será
uma revisão capaz de abarcar a temática tanto para os concursos da Polícia Federal
quanto os estaduais, de carreira policial ou não. Façam todas, independentemente
de não ser de concurso para Delegado, pois a cobrança da parte geral de direito
penal é bastante semelhante para todos os cargos.

Desejo foco, motivação e excelentes estudos!

Artur Herbas
1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL

1.1. CONCEITOS DE DIREITO PENAL

Direito Penal Conjunto de normas voltadas a disciplinar a proibição de


sob o aspecto determinados comportamentos humanos, dando-lhes os
formal ou contornos de crime ou de contravenção penal, fixando as
estático sanções aplicáveis em caso de descumprimento.

O direito Penal refere-se a comportamentos humanos


Direito Penal
considerados como altamente reprováveis ou danosos ao
sob o aspecto
organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à
material
conservação e progresso da sociedade.

Instrumento de controle social visando assegurar a


necessária disciplina para a harmônica convivência dos
membros da sociedade. A manutenção da paz social
Direito Penal demanda a existência de normas destinadas a estabelecer
sob o aspecto diretrizes de conduta.
sociológico ou
dinâmico OBS: Na tarefa de controle social atuam vários outros
ramos do direito. No entanto, se determinada conduta
atentar contra bens jurídicos de especial importância,
haverá a incidência do direito penal pelo Estado. 5
1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL (EXPLÍCITOS E
IMPLÍCITOS)

CONSTITUCIONAIS
CONSTITUCIONAIS IMPLÍCITOS
EXPLÍCITOS

- Legalidade (art. 5º, XXXIX, CF): Intervenção mínima:


- Anterioridade (art. 5.º, XXXIX, CF). - Fragmentariedade.
- Retroatividade da lei penal - Subsidiariedade.
benéfica (art. 5.º, XL, CF).
- Ofensividade ou lesividade.
- Personalidade ou - Insignificância ou bagatela.
responsabilidade pessoal (art. 5º,
XLV, CF) - Adequação social.

- Individualização da pena (art. 5º,


- Culpabilidade
XLVI, primeira parte, CF)

- Humanidade (art. 5º, XLVII, CF) - Proporcionalidade


Consideramos a anterioridade e a retroatividade da lei benéfica decorrências
do princípio da legalidade. Da mesma forma, reputamos a fragmentariedade,
a subsidiariedade, a ofensividade ou lesividade, a insignificância ou bagatela e
a adequação social decorrências do princípio maior da intervenção mínima.
Há autores que relacionam todos eles como princípios autônomos, porém,
não há divergência quanto ao conteúdo.

1.2.1. LEGALIDADE

Classicamente, diz-se que nullun crimen, nulla poena sina praevia lege,
conforme a consagrada fórmula de Feuerbach. Segundo Luiz Luisi, o princípio da
legalidade constitui “patrimônio comum da legislação penal dos povos civilizados”.

Não há consenso sobre a origem do postulado da legalidade. Para alguns o


princípio nasceu no Direito Romano. Para outros, em 1215, com a Charta Magna
Libertatum, editada por João Sem Terra. Para Francisco de Assis Toledo, origina-se
no Bill of Rights das colônias inglesas da América do Norte e na Déclaration des Droits
de L´Homme et du Citoyen, da Revolução Francesa.

A primeira positivação se deu no Código Penal francês de 1810. No Brasil, a


Constituição Imperial de 1824 e o Código Criminal do Império (1830) o previram.
6
O princípio da legalidade, que tem como fundamento o Estado de Direito, é a
base de todo o Direito Penal. Atualmente, no Brasil, está previsto na CF, art. 5º, inciso
XXXIX, e no CP, art. 1º.

CF, art. 5º, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal.

CP, art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.

Documentos internacionais que anunciam o princípio:

1) Convênio para proteção dos direitos humanos e liberdades


fundamentais (1950, art. 7º).

2) Convenção Americana de Direitos Humanos (1969).

3) Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional (1977,


artigos 22 e 23).
1.2.1.1. Conceito do princípio da legalidade

Segundo Claus Roxin, o princípio da legalidade é um instrumento que protege


o cidadão do próprio Direito Penal.

Logo, trata-se de fator de contenção dos abusos do Estado, de um vetor basilar


do garantismo, ou seja, é real limitação do poder punitivo do Estado em face das
máximas garantias do cidadão. Assim, o fundamento político deste princípio é a
proteção do indivíduo face a atuação abusiva do Estado.

O princípio da legalidade se dá pela conjunção dos princípios da reserva legal


(não há crime sem lei) e da anterioridade.

Princípio da reserva legal → reserva absoluta de lei. Somente a lei, em


sentido estrito, pode descrever crimes e cominar penas. O princípio da reserva legal
coincide com o sentido estrito do princípio da legalidade.

A reserva legal é cumprida, em regra, pela edição de lei ordinária, e, em casos


excepcionais, por lei complementar. Assim, é impossível a criação de crimes e penas
por decreto, por exemplo.

A medida provisória não poderá versar sobre direito penal e processual penal,
7
conforme a redação do art. 62, § 1º, b, da CF.

Há pequena divergência doutrinária sobre a possibilidade de a medida


provisória versar sobre direito penal não incriminador (STF já admitiu).

1.2.1.2. Vertentes do princípio da legalidade

a) Lege praevia (art. 5º, incisos XXXIX e XL da CF) - Não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. A lei penal deve ser prévia
à prática da infração penal. Trata-se do princípio da anterioridade da lei penal,
que tem como consequência a proibição da retroatividade da lei penal mais
severa, cuja previsão encontra-se no art. 5º, inciso XL, da CF, ou seja: a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu. OBS: A retroatividade benéfica é garantia
fundamental do cidadão.

b) Lege scripta (reserve legal) - Somente a lei penal escrita, em sentido formal,
poderá criar crimes e cominar penas. Consequência: proíbe-se a criação de crimes
pela via dos costumes. Não existe, no direito penal, o costume incriminador,
embora o costume sirva para a interpretar a lei penal (costume interpretativo).
QUESTÃO - Existe costume abolicionista no Direito Penal? Ou seja, um
costume passível de revogar uma infração penal?

A doutrina amplamente majoritária ensina que não existe costume


abolicionista. Somente uma lei tem condição de revogar outra lei, conforme
exarado na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. Esse entendimento
também é adotado pela jurisprudência dos Tribunais Superiores:

Súmula 502: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se


típica, em relação ao crime previsto no artigo 184, parágrafo 2º,
do Código Penal, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas.

c) Lege Sctrita - A interpretação do tipo penal, além da verificação do juízo de


tipicidade deve ser estrita, assim, consequentemente, o direito penal veda o uso da
analogia incriminadora.

d) Lege certa (taxatividade) - A lei penal deve ser clara, certa, precisa, proibindo-
se o uso de conceitos vagos e imprecisos. Estamos diante do fundamento jurídico
da reserva legal, qual seja, o princípio da taxatividade, o qual exige, na elaboração
dos delitos, a facilidade na sua compreensão, não cabendo em seu conteúdo
expressões ambíguas ou indeterminadas. Obs: para César Bittencourt, o art. 288-A
do CP é exemplo de tipo penal que viola a taxatividade da lei penal.
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1.2.1.3. Sentidos do Princípio Da Legalidade

a) Sentido amplo (CF, art. 5º, inciso II): Ninguém está obrigado a fazer ou a
deixar de fazer algo, salvo em virtude de lei.

b) Sentido estrito (art. 5º, inciso XXXIX): Específico para o direito penal -
“nullum crimen sine praevia legis”. Legalidade criminal – não há crime sem lei.
Legalidade penal – não há pena sem lei. Legalidade jurisdicional ou processual – não
há processo sem lei. Legalidade execucional – não há execução sem lei.

1.2.1.4. Fundamentos do princípio da legalidade

a) Político, exigência de vinculação dos Poderes Executivo e Judiciário às leis,


impedindo o poder punitivo arbitrário;

b) Democrático, respeito ao princípio da separação dos poderes;

c) Jurídico, a lei prévia e clara gera importante efeito intimidativo.


1.2.1.5. Princípio da anterioridade

Conforme estabelece a Constituição Federal, “não há crime sem lei anterior


que o defina”, nem pena “sem prévia cominação legal”.

Ou seja, a lei penal incriminadora não pode retroagir para punir fatos
concretos que até então não eram passíveis de repressão criminal. A lei penal deve
ser prévia ao fato delituoso.

1.2.1.6. Irretroatividade ou retroatividade da lei penal benéfica

Significa que a lei penal não pode retroagir, salvo para beneficiar o acusado.
Trataremos detalhadamente do tema em momento oportuno.

1.2.2. PERSONALIDADE OU RESPONSABILIDADE PESSOAL

CF, art. 5º, XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo
a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos
termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite
do valor do patrimônio transferido;

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Trata-se de princípio constitucional expresso (art. 5º, XLV), significando que a
pena não pode passar da pessoa do delinquente.

Não cabe, por exemplo, aplicar pena ao filho por crime cometido pelo pai.

Um reflexo desse princípio no processo penal é o denominado princípio da


intranscendência, segundo o qual a acusação deve ser dirigida contra o provável
autor da infração.

1.2.3. INTERVENÇÃO MÍNIMA

1.2.3.1. Conceito e subprincípios

Significa que o direito penal, sendo a forma mais agressiva de interferência


estatal na vida privada do indivíduo (aplicação de penas privativas de liberdade),
somente deve ser utilizado em face dos ataques mais graves aos bens jurídicos mais
relevantes, e desde que os outros instrumentos de controle estatal não sejam
suficientes para lidar com a situação.

A intervenção mínima (ou direito penal mínimo) surge com a Declaração


Universal dos Direitos do Homem, como forma de se garantir que a intervenção
estatal no plano individual ocorra, apenas, quando estritamente necessário.

No ordenamento brasileiro, trata-se de princípio constitucional implícito.


Do conceito é possível extrair os dois subprincípios da intervenção mínima:

Subsidiariedade: O Direito Penal é subsidiário, é a ultima


ratio. Assim, a criminalização de uma conduta somente será
legítima caso seja o único meio eficaz para a proteção do bem
jurídico. Somente deve ser utilizado se as outras formas de
controle social e demais ramos do direito revelarem-se
insuficientes na tutela do bem jurídico (ex.: sanções
administrativas ou cíveis).

Fragmentariedade: O Direito Penal não deve ser utilizado


para tutelar toda e qualquer situação, nem para tutelar todo
e qualquer bem jurídico. Somente uma pequena parcela da
imensa gama de atos ilícitos existentes interessa a esse ramo
do direito. Tal parcela compreende os atos que ofendem de
modo mais grave os bens jurídicos considerados essenciais
para o convívio em sociedade. Assim, o direito penal só
intervirá quando houver relevante lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado. É a fragmentariedade que
fundamenta o princípio da insignificância como causa de
atipicidade material da conduta.

Outros princípios decorrentes do princípio da intervenção mínima: 10


Insignificância ou bagatela.

Está assentado no brocardo “de minimis non curat praetor”. Em 1964, Roxin
introduziu no direito penal o princípio da insignificância ou da bagatela. Parte da
doutrina relaciona a insignificância como princípio autônomo.

O princípio é calcado na ideia de que certas condutas, embora tipificadas na


lei, representam uma lesão ínfima ao bem jurídico, tornando desnecessária e
indevida a aplicação de sanção penal. Há tipicidade formal, mas não tipicidade
material. Assim, o princípio da insignificância pode ser entendido como instrumento
de interpretação restritiva do tipo penal.

O Supremo Tribunal Federal (STF, HC 138134/BA, Rel. Ricardo Lewandowski,


2ª T, j. 07.02.2017) formulou requisitos a serem observados na análise de cada caso
a fim de se reconhecer a insignificância:

- conduta minimamente ofensiva;

- ausência de periculosidade social da ação;

- inexpressividade da lesão jurídica causada;


- reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.

Mnemônico: CAIR

O STF e o STJ, em regra, não têm admitido quando o acusado é reincidente,


portador de maus antecedentes ou criminoso habitual.

STF: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. CRIME


DE FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
REITERAÇÃO DELITIVA. [...] 2. A jurisprudência do STF consolidou o
entendimento de que a reiteração delitiva impossibilita a adoção
do princípio da insignificância. Paciente que ostenta em sua folha
de antecedentes várias ocorrências pelo mesmo crime de furto. 3.
Agravo regimental não conhecido. (HC 123199, Rel. Min. Roberto
Barroso, 1ª T., j. 17/02/2017).

STJ: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
REINCIDÊNCIA. INAPLICABILIDADE. Esta Corte entende
pela impossibilidade de aplicação do princípio da
insignificância quando o agente é reincidente. (AgRg no

11
AREsp 1015210/MG, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª T., j.
04/04/2017).

Na prática, observa-se que, na maioria dos julgados, o STF e o STJ negam a


aplicação do princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda
a outros inquéritos ou ações penais. De igual modo, nega o benefício em situações
de furto qualificado (STF, Plenário, HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG,
Rel. Min. Roberto Barroso, j. 3/8/2015 - Info 793).

Contudo, há precedentes em sentido contrário. É de se destacar que a


reincidência ou a habitualidade delitiva não impedem, por si sós, que o juiz da causa
reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto.
Vejamos o recente julgado da 2ª Turma do STF, envolvendo furto famélico:

Agravo regimental em habeas corpus. Penal. Furto


qualificado (CP, art. 155, § 4º, inciso IV). Pretendido
reconhecimento do princípio da insignificância.
Possibilidade excepcional, à luz das circunstâncias do
caso concreto. Agravo provido. 1. À luz dos elementos dos
autos, o caso é de incidência excepcional do princípio da
insignificância, na linha de precedentes da Corte. 2. As
circunstâncias e o contexto que se apresentam permitem
concluir pela ausência de lesão significativa que justifique
a intervenção do direito penal, mormente se
considerarmos a inexpressividade dos bens subtraídos
(avaliados em R$ 116,50) e o fato de o ora agravante não
ser, tecnicamente, reincidente específico, já que a única
ação penal à qual responde não transitou em julgado. 3.
Há de se ponderar, ainda, a condição de hipossuficiência
do agente, além do fato de que a sua conduta foi praticada
sem violência física ou moral a quem quer que seja, sendo
certo, ademais, que os bens furtados foram restituídos à
vítima, afastando-se, portanto, o prejuízo efetivo. 4. Agravo
regimental ao qual se dá provimento. (HC 141440 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, 2ª T., j. 14/08/2018, Info 911).

A Primeira Turma do STF tem entendimento distinto e bastante peculiar, pois


apesar de não reconhecer a insignificância por conta da reincidência, usou as
circunstâncias menos graves do caso para determinar a substituição da pena
restritiva de liberdade por restritiva de direitos (manobra expressamente vedada
pela literalidade da redação legal):

HABEAS CORPUS. FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.


INAPLICABILIDADE. REITERÂNCIA DELITIVA. SUBSTITUIÇÃO
DA PENA CORPORAL POR RESTRITIVA DEDIREITOS. 12
CONCESSÃO DE OFÍCIO. 1. A orientação firmada pelo
Plenário do STF é no sentido de que a aferição da
insignificância da conduta como requisito negativo da
tipicidade, em crimes contra o patrimônio, envolve um
juízo amplo, que vai além da simples aferição do resultado
material da conduta, abrangendo também a reincidência
ou contumácia do agente, elementos que, embora não
determinantes, devem ser considerados (HC 123.533,
Relator Min. Roberto Barroso, DJe de 18/2/2016). 2. Busca-
se, desse modo, evitar que ações típicas de pequena
significação passem a ser consideradas penalmente lícitas
e imunes a qualquer espécie de repressão estatal,
perdendo-se de vista as relevantes consequências
jurídicas e sociais desse fato decorrentes. 3. A aplicação do
princípio da insignificância não depende apenas da
magnitude do resultado da conduta. Essa ideia se reforça
pelo fato de já haver previsão na legislação penal da
possibilidade de mensuração da gravidade da ação, o que,
embora sem excluir a tipicidade da conduta, pode
desembocar em significativo abrandamento da pena ou
até mesmo na mitigação da persecução penal. 4. Não se
mostra possível acatar a tese de atipicidade material da
conduta, pois não há como afastar o elevado nível de
reprovabilidade assentado pelas instâncias antecedentes,
ainda mais considerando os registros do Tribunal local
dando conta de que o réu possui diversos registros
criminais, ostentando, inclusive, uma condenação com
trânsito em julgado por delito de natureza patrimonial, o
que desautoriza a aplicação do princípio da insignificância,
na linha da jurisprudência desta Corte. 5. Quanto ao modo
de cumprimento da reprimenda penal, há quadro de
constrangimento ilegal a ser corrigido de ofício. A
imposição do regime inicial semiaberto, com arrimo na
reincidência, parece colidir com a proporcionalidade na
escolha do regime que melhor se coadune com as
circunstâncias da conduta de furto de bem pertencente
a estabelecimento comercial, avaliado em R$ 31,20 (trinta
e um reais e vinte centavos). Acrescente-se que as
circunstâncias judiciais são favoráveis, razão por que a
pena-base fora estabelecida no mínimo legal (cf.
HC123.533, Tribunal Pleno, Rel. Min. Roberto Barroso), de
modo que a conversão da reprimenda corporal por
restritivas de direito melhor se amolda à espécie. 6. Ordem 13
de Habeas Corpus concedida, de ofício, para converter a
pena corporal em sanções restritivas de direito, cabendo
ao Juízo de origem fixar as condições das penas
substitutivas. (HC 137217/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red.
p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 28/08/2018, Info 913).

Traremos decisões relevantes envolvendo o princípio da insignificância


quando examinarmos os tipos penais respectivos. No entanto, atenção para
as súmulas nº 599 e 589 do STJ.

Súmula 589: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou


contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas. STJ. 3ª Seção. DJe 18/09/2017

Súmula 599: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a


administração pública. STJ. 3ª Seção. Dje 27/11/2017

Finalmente, ainda há divergência sobre a possibilidade de o Delegado de


Polícia aplicar o princípio da insignificância em Auto de Prisão em Flagrante ou até
em um Inquérito Policial. Tal tema não deve ser abordado em prova objetiva,
todavia, é possível que apareça em prova subjetiva.

A defesa para aplicação se dá na celeridade, eficiência, além da carreira de


Delegado de Polícia ser carreira jurídica. Já imaginou deixar um cidadão que furtou
duas balas preso por 24h só por que o Delegado não pode aplicar o princípio?

De outra banda, doutrina clássica entende que o Delegado só teria que


verificar a tipicidade formal, não podendo aplicar o princípio da insignificância.

O que é bagatela imprópria?

Na bagatela própria, o fato já nasce irrelevante para o direito penal, gerando


atipicidade material do fato (ex.: sujeito furta uma folha de papel).

Na bagatela imprópria, o fato nasce relevante para o Direito Penal, sendo


típico, ilícito e culpável (existe desvalor da conduta e do resultado). Porém, no
momento da sentença, o julgador entende que a aplicação da pena é desnecessária
(falta do interesse de punir).

Lesividade ou ofensividade.

A lesividade, considerada por alguns como princípio autônomo, significa que


apenas condutas que causam efetiva lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico
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podem ser objeto de repressão penal.

Não há crime sem ofensa (nullum crimen sine iniuria). Se a conduta, no caso
concreto, não violar o bem jurídico, nem sequer ameaçá-lo, não existe crime.

É uma decorrência da intervenção mínima, mais especificamente do


subprincípio da fragmentariedade, delimitando a incidência do Direito Penal tanto
em âmbito administrativo como no âmbito jurisdicional.

A lesividade não se confunde com o princípio da alteridade (proibição da


punição por mal causado a si mesmo). O direito penal não pune a autolesão.

Adequação social.

Significa que uma conduta, sendo aceita e aprovada pela sociedade, não pode
ser considerada materialmente típica. Constitui uma decorrência da intervenção
mínima (mas, assim como a ofensividade e insignificância, há autores que
classificam a adequação social como princípio autônomo). Exemplo:
Casa de prostituição - CP, art. 229 - Ilicitude afastada pela
realidade social e evolução dos costumes - Conceito moral
ultrapassado e já sem sustentáculo na atualidade - Sua
consequente atipicidade. - Embora ainda figure no Código
Penal vigente, - este dos idos de 1940 -, a conduta a que se
refere o seu art. 229 (casa de prostituição) deixou de ser
vista à conta de delituosa. E deixou de sê-lo, porque se
trata de um conceito moral reconhecidamente
ultrapassado e que já não tem mais como sustentar-se nos
dias atuais. A sociedade hodierna culminou por ditar uma
realidade que acabou por afastar a ilicitude daquela
conduta - a do art. 229 -, tornando-a, em consequência,
atípica, em nome da evolução dos costumes (TJMG.
Apelação Criminal 1.0024.04.375455-5/001. 2ª Câmara
Criminal. Rel. Des. Hyparco Immesi. j. em 26.06.2008)

Cabe lembrar que a redação do art. 229 do CP já foi modificada, prevalecendo


o delito unicamente quando há prática de exploração sexual. O STJ entende que a
adequação social não afasta a tipicidade da conduta de expor à venda CDs e DVDs
piratas, como diz a já referida Súmula 502 da aludida Corte.

1.2.4. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA 15


CF, art. 5º, XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre
outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos.

É um princípio constitucional expresso (art. 5º, inciso XLVI, 1ª parte).

Significa que a pena deve ser individualizada para cada caso, evitando-se
padronizações.

A individualização se dá em três planos:


O legislador comina a pena mínima e a pena máxima
abstratamente cabíveis.
Legislativo

Ex.: “Pena – reclusão, de 1 a 4 anos”.

O juiz do processo de conhecimento aplica a pena no caso


concreto, tomando por base a sanção mínima e a máxima
estabelecidas na lei.
Judiciário
Obs.: A individualização judicial compreende não só a fixação
da quantidade de pena, também a fixação de regime inicial,
possibilidade de substituição por restritiva de direitos ou
concessão de sursis etc.

No momento da execução da pena, o juiz fará as adaptações


ao caso concreto, já que o Estado deve zelar por cada
condenado de forma individual, mediante tratamento
Executório ou
penitenciário ou sistema alternativo no qual se afigure
Administrativo
possível alcançar a finalidade da pena - retribuição, prevenção
e ressocialização. (ex.: progressão de regime, regressão de
regime, indulto, remição etc.) 16

Há relevantes decisões do STF sobre individualização da pena nos crimes


hediondos e tráfico de drogas, que trataremos oportunamente.

1.2.5. CULPABILIDADE

É princípio constitucional implícito e genérico, que possui três vertentes:

a) proibição de responsabilização penal sem dolo ou culpa;

b) vedação de aplicação da pena sem culpabilidade, isto é,


desprovida de imputabilidade, possibilidade de
conhecimento da ilicitude do ato e exigibilidade de outra
conduta;

c) a gravidade da pena deve ser proporcional à gravidade do


fato cometido.
Portanto, são incompatíveis com o princípio da culpabilidade: versari in re
illicita (imputação do ato criminoso ao agente só por ter agido de maneira
voluntária, ainda que sem dolo ou culpa); a fundamentação ou agravamento da
pena pelo simples resultado; a desconsideração da importância das modalidades
de erro jurídico-penal.

1.2.6. HUMANIDADE

CF, art. 5º, XLVII - não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.

Trata-se de princípio constitucional expresso (art. 5º, XLVII e XLXIX).


17
Determina o respeito à integridade física e moral dos acusados e
sentenciados, vedando quaisquer tipos de penas desumanas ou cruéis. Vale citar:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE
DETENTO. ARTIGOS 5º, XLIX, E 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL - “É dever do Estado e direito subjetivo do preso
que a execução da pena se dê de forma humanizada,
garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e o de
ter preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º,
inciso XLIX, da Constituição Federal”). – (RE 841526/RS –
Tribunal Pleno, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/03/2016).

1.2.7. PROPORCIONALIDADE

No âmbito do Direito Penal, significa que a severidade das penas deve ser
proporcional à gravidade dos delitos praticados.

A proporcionalidade deve ser observada tanto pelo legislador, ao cominar


abstratamente a pena de cada infração penal, quanto pelo julgador, que deve
aplicar a pena de modo a torná-la equilibrada em relação ao fato praticado. Como
se percebe, o princípio guarda relação com o da individualização da pena.

Com base na proporcionalidade, reconhecendo a inconstitucionalidade do


preceito secundário do art. 273, § 1º-B, V, do CP:

STJ: “É inconstitucional o preceito secundário do art. 273,


§ 1º-B, V, do CP, de reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos,
e multa, devendo-se considerar, no cálculo da reprimenda,
a pena prevista no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006 (Lei
de Drogas), com possibilidade de incidência da causa de
diminuição de pena do respectivo § 4º. De fato, é viável a
fiscalização judicial da constitucionalidade de preceito
legislativo que implique intervenção estatal por meio do
Direito Penal, examinando se o legislador considerou
suficientemente os fatos e prognoses e se utilizou de sua
margem de ação de forma adequada para a proteção
suficiente dos bens jurídicos fundamentais. (...) A ideia é a
de que a intervenção estatal por meio do Direito Penal,
como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo princípio
da proporcionalidade [...]” (STJ, AI no HC 239.363-PR, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, j. 26/2/2015, DJe 10/4/2015). 18

O princípio da proporcionalidade é bastante estudado em Direito


Constitucional, apresentando um sentido mais amplo, aplicável a todos os
ramos do Direito. Nesse enfoque, conforme a base teórica de Robert Alexi, a
proporcionalidade apresenta 3 subprincípios: adequação, necessidade e
proporcionalidade em sentido estrito.

Proibição da proteção deficiente (untermassverbot) e proibição do


excesso (übermassverbot)

Tradicionalmente, o princípio da proporcionalidade relaciona-se à proibição


de excesso do poder estatal, evitando a hipertrofia da punição.

Modernamente, também se extrai do princípio o sentido de proibição da


proteção deficiente: o Estado tem o dever de tutelar direitos fundamentais frente a
ataques de terceiros (imperativo de tutela). Na jurisprudência:
STF: HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO
DESMUNICIADA. (A)TIPICIDADE DA CONDUTA. CONTROLE
DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. MANDATOS
CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO E MODELO
EXIGENTE DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS
LEIS EM MATÉRIA PENAL. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO
EM FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
LEGITIMIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA
DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA. 1. CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. (...) Pode-se
dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas
uma proibição do excesso (...), como também podem ser
traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou
imperativos de tutela (...). Os mandatos constitucionais de
criminalização, portanto, impõem ao legislador, para o seu
devido cumprimento, o dever de observância do princípio
da proporcionalidade como proibição de excesso e como
proibição de proteção insuficiente (STF, HC 104410, Rel.
Min. Gilmar Mendes, 2ª T., Dje 27/03/2012 – destacou-se).

2. LEI PENAL
19
2.1. FONTES DO DIREITO PENAL

De onde emana o Direito Penal?

2.1.1. FONTES MATERIAIS (SUBSTANCIAIS OU DE PRODUÇÃO)

São as fontes responsáveis pela criação do Direito Penal. A competência para


legislar sobre direito penal é Privativa da União (art. 22, I, CF).

Exceção: os Estados, se autorizados por Lei Complementar editada pela União,


poderão legislar sobre questões específicas (art. 22, p.ú., CF).

2.1.2. FONTES FORMAIS (COGNITIVAS OU DE CONHECIMENTO)

De que maneira o Direito Penal exterioriza suas normas? São formas de


exteriorização do Direito Penal.

2.1.2.1. Fonte imediata ou direta

É a LEI: Direito penal incriminador somente pode se exteriorizar por meio de


lei em sentido estrito, norma emanada do Congresso. Situações peculiares:
- Lei Complementar à Constituição – a maioria da doutrina
admite (Ex.: LC 105/2001, art. 10).

- Lei delegada – não cria lei penal (é delegação ao Presidente


da República, e o Presidente da República não edita lei penal).

- Medida provisória não pode criar crime. O art. 62 da CF veda.

- Medida provisória a favor do réu – admissível. A CF somente


proíbe contra o réu (STF, RE 254718).

2.1.2.2. Fonte mediata ou secundária

a) Costumes

São normas de comportamento que as pessoas adotam como se fossem


obrigatórias. Não podem criar crime nem penas. Excepcionalmente, podem influir
no direito penal. Ex.: princípio da adequação social; conceito de repouso noturno no
crime de furto, que varia de uma localidade para outra etc.

Mas atenção, alguns autores optam por classificar os costumes como Fontes
Informais do Direito Penal.

b) Princípios Gerais do Direito 20


São os valores, premissas e orientações fundamentais que inspiram a
elaboração, a interpretação e a preservação do ordenamento jurídico. Costumam
ser utilizados em decisões absolutórias. Ex: principio da insignificância.

c) Atos Administrativos

Os atos administrativos são considerados como fontes mediatas do Direito


Penal quando servem de complemento da norma penal em branco.

d) Outras fontes mediatas ou secundárias

Não obstante a divergência doutrinária, é válido ressaltar que alguns autores


entendem que também são fontes mediatas do Direito Penal: a doutrina, a
jurisprudência e os tratados internacionais de direitos humanos.

i) Doutrina: Por explicar ou interpretar as fontes imediatas, a doutrina pode


ser considerada fonte do Direito Penal.

ii) Jurisprudência: A jurisprudência é fonte reveladora do direito penal,


podendo, inclusive, ter caráter vinculante.
iii) Tratados e convenções internacionais de direitos humanos: Entende-
se que não podem criar crimes e penas para o direito interno, apenas no âmbito do
direito internacional. No entanto, tais tratados podem ser utilizados quando a
questão versar sobre direito penal não-incriminador.

2.1.3. Constituição Federal

Atuando como limite e fundamento do Direito Penal, a Constituição não


contém crimes e penas, mas traz princípios penais e processuais penais, rol de
penas permitidas e proibidas etc.

Fala-se atualmente também em mandatos constitucionais de


criminalização (expressos ou implícitos), determinando ao legislador a proteção
suficiente/eficiente em determinados temas. Tal se dá, por exemplo, com o crime
de racismo (art. 5º, XLII), crimes hediondos e equiparados (art. 5º, XLIII), ação de
grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV)
e crimes ambientais (art. 225, 3º).

2.2. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL

2.2.1. ANALOGIA (ARGUMENTO ANALÓGICO OU APLICAÇÃO


ANALÓGICA)
21
A analogia não é forma de interpretação da lei penal. Trata-se de processo de
integração da norma, cuja finalidade é suprir lacunas. Consiste em aplicar a um
fato não disciplinado por norma alguma norma disciplinadora de fato semelhante.

NORMA AUSÊNCIA DE NORMA

FATO FATO SEMELHANTE

É possível analogia em Direito Penal?

Analogia contra o réu (analogia in mallam partem) → vedada, já que tal


hipótese feriria o princípio da legalidade.
Analogia a favor do réu (analogia in bonam partem) → admissível, se a omissão
legislativa for involuntária. O silêncio eloquente não permite o uso da analogia,
ainda que favorável ao réu.

2.2.2. Interpretação extensiva

Processo de extração do significado da norma, ampliando o seu alcance para


possibilitar sua aplicação lógica.

Há controvérsia sobre a possibilidade de interpretação extensiva contra o réu.


Há duas correntes:

1) Possível, pois não é um processo de criação de normas,


sendo tão somente de interpretação. Ex.: Pune-se a bigamia
(casar duas vezes). Por interpretação extensiva, deve-se punir
a poligamia (casar múltiplas vezes) / O art. 172 pune a
emissão de duplicata em desacordo com a venda realizada.
Por interpretação extensiva, deve-se punir a emissão de
duplicata quando não existir a venda.

2) Não é possível, pois a lei penal incriminadora deve ser


interpretada restritivamente. Nesse sentido:
22
STJ: “O princípio da estreita legalidade impede a
interpretação extensiva para ampliar o objeto descrito na
lei penal. Na medida em que as multas não se inserem no
conceito de tributo é defeso considerar que sua cobrança,
ainda que eventualmente indevida – quer pelo meio
empregado quer pela sua não incidência - tenha o condão
de configurar o delito de excesso de exação, sob pena de
violação do princípio da legalidade, consagrado no art. 5º,
XXXIX, da Constituição Federal e art. 1º do CP” (STJ, HC
476.315, Rel. Min. Celso Limongi, 6ª T., j. 17/12/2009).

2.2.3. Interpretação analógica (intra legem)

Processo de extração do significado da norma, utilizando-se os elementos


fornecidos pela própria norma interpretada. É admissível, pois prevista na própria
lei. O legislador utiliza uma cláusula genérica seguida de uma fórmula casuística.
Assim, aquela (a cláusula genérica) deve ser compreendida em harmonia com os
casos equivalentes (a fórmula casuística). Exemplos:
CP, art. 121, § 2°: Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; (...)

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

Vale a pena registrar a seguinte diferença:

- Interpretação Analógica: interpreta aplicando o próprio


conteúdo da norma.

- Analogia: integra a norma suprindo lacunas.

2.2.4. Norma penal em branco (norma cega ou aberta)

São normas penais cujo conteúdo do preceito primário não é determinado,


porém determinável, exigindo-se complementação por outra norma (integradora
ou complementar).

Divide-se em:

a) Norma penal em branco imprópria ou em sentido amplo ou 23


homogênea;

b) Norma penal em branco própria, heterogênea ou em sentido estrito.

2.2.4.1. Norma penal em branco imprópria ou em sentido amplo ou


homogênea

A fonte de produção do tipo penal em branco e do complemento é


homogênea, ou seja, ambos derivam do Congresso Nacional e se exteriorizam por
meio de lei. A norma penal em branco homogênea se subdivide em:

a) Homovitelina – O complemento dado pelo legislador está


no mesmo corpo normativo do tipo principal.

Ex.: os crimes funcionais e o conceito de funcionário público


estão no Código Penal (art. 327).

b) Heterovitelina – O complemento normativo dado pelo


legislador está em outro diploma legal, distinto daquele que
contém o tipo principal.

Ex.: art. 236 do CP – contrair casamento ocultando


impedimento (conceito de impedimento está no CC/2002).

2.2.4.2. Norma penal em branco própria, heterogênea ou em


sentido estrito

A fonte de produção do complemento do tipo penal em branco (que deriva da


União e se exterioriza por meio de lei) é diversa da do tipo criminal. Na norma penal
em branco heterogênea o complemento encontra-se em atos infralegais, como por
exemplo, portarias e decretos do Poder Executivo.

Ex.: relação de drogas, no crime de tráfico, consta em portaria editada pelo


Ministério da Saúde.

A lei penal em branco HETEROGÊNEA é constitucional ou há violação ao


princípio constitucional da legalidade?

A discussão ocorre porque o complemento da NPB heterogênea encontra


previsão em ato infralegal.

É amplamente majoritário o entendimento de que não é inconstitucional. Para


que se atenda ao princípio da legalidade basta que o TIPO PENAL esteja previsto em
lei em sentido formal. A norma é indeterminada, mas determinável.
24
2.2.4.3. Norma penal em branco invertida ou ao revés ou às
avessas/lei penal incompleta/imperfeita ou crime remetido:

Há inversão quanto ao local no qual se exige a complementação normativa. O


tipo penal traz satisfatoriamente a descrição do preceito primário, no entanto, o seu
preceito secundário (cominação da pena) é lacunoso ou incompleto. Ex.: lei de
genocídio (Lei 2.889/56, art. 1º) que remete às penas do Código Penal.

Nesse caso, o complemento (sanção aplicável) só pode ser fornecido por lei
em sentido estrito, sob pena de violação do princípio da reserva legal.

2.2.4.4. Norma penal em branco de fundo constitucional

Ocorre quando o complemento do preceito primário é uma norma


constitucional.

Ex: Art. 246 do Código Penal – “Deixar, sem justa causa, de prover à instrução
primária de filho em idade escolar”. O conceito de instrução primária pode ser
encontrado no art. 208, I da Constituição Federal – “educação básica obrigatória e
gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”.
2.2.4.5. Norma penal em branco ao quadrado

Verifica-se quando o complemento da lei penal em branco necessita também


de complemento.

Ex: Art. 38 da Lei 9.605/98: “Destruir ou danificar floresta considerada de


preservação permanente, mesmo que em formação, ou utilizá-la com infringência
das normas de proteção”. O conceito de “floresta de preservação permanente” é
conferido pelo art. 6º da Lei 12.651/12, mas além das hipóteses da lei, há uma
ressalva: “Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando declaradas
de interesse social por ato do Chefe do Poder Executivo, as áreas cobertas com
florestas ou outras formas de vegetação destinadas a uma ou mais das seguintes
finalidades”. Assim, podemos identificar que, em alguns casos, o complemento
(conceito de floresta de preservação permanente) também precisa de outro
complemento (ato do Chefe do Poder Executivo).

2.2.4.6. Tipo penal de DUPLA FACE EM BRANCO

Preceitos primário e secundário estão em branco. Ex.: artigo 304 do Código


Penal (uso de documento falso).

2.3. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO TEMPO


25
2.3.1. SUCESSÃO DE LEIS PENAIS NO TEMPO

2.3.1.1. Retroatividade e ultratividade.

CP, art. 2º, parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer
o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.

A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (irretroatividade da lei
penal ou retroatividade da lei penal benéfica).

Regra à Aplicação da lei vigente à época dos fatos (tempus regit actum).

Exceção à extratividade - Aplicação da lei a fatos ocorridos antes ou depois


de sua vigência. É admissível desde que para favorecer o acusado.

A extratividade se divide em:

a) Retroatividade: aplicação da lei nova benéfica a fato anterior à sua


vigência. Ex.: Sob a égide da lei “A”, sujeito pratica um furto. Sobrevém a lei “B”, que
reduz a pena do furto. A lei “B” retroagirá para beneficiar o acusado.
[...] A Lei 13.654/18 extirpou o emprego de arma branca
como circunstância majorante do delito de roubo. Em
havendo a superveniência de novatio legis in mellius, ou
seja, sendo a nova lei mais benéfica, de rigor que retroaja
para beneficiar o réu (art. 5º, XL, da CF/88). 4. Recurso
parcialmente provido a fim de reduzir a pena imposta ao
recorrente ao patamar de 2 anos, 1 mês e 18 dias de
reclusão, mais o pagamento de 5 dias-multa, mantidos os
demais termos da condenação. (AgRg no AREsp
1249427/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ªT.,
j. 19/06/2018, DJe 29/06/2018).

Embora a causa de aumento alusiva à “arma branca” tenha sido restabelecida


pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), agora constando do artigo 157, §2º, VII, do
Código Penal, tal disposição só passou a ser aplicável aos roubos cometidos a partir
da sua vigência (25.01.2020), restando assim favorecidos todos os réus que,
anteriormente, tivessem se valido desse meio para a cometer o delito.

b) Ultratividade: aplicação da lei já revogada após o seu período de vigência.


Ex.: Sob a égide da lei “A”, agente pratica um furto. Sobrevém a lei “B”, que aumenta
a pena do furto. No momento da sentença, o juiz aplicará a lei “A” (já revogada, mas
vigente à época do fato) que terá, portanto, ultratividade. Logo: 26
Novatio legis incriminadora

Novatio legis in pejus (lei nova prejudicial) NÃO retroage

Lex gravior (lei mais grave)

Novatio legis in mellius (lei nova favorável)

Lex mitior (lei mais suave) Retroage

Abolitio criminis (revogação da conduta criminosa)

Cuidado com crime permanente e crime continuado, sobre os quais haverá


exposição a seguir.

Exemplo (1): Sujeito pratica os furtos “1”, “2” e “3”, nas mesmas condições de
tempo, lugar e modo de execução, configurando-se o crime continuado (art. 71 do
CP). Imaginemos que os furtos “1” e “2” foram praticados sob a égide da lei “A”, que
é mais benéfica. Sobrevém a lei “B”, prejudicial ao réu, e, sob a égide dela, ele pratica
o furto 3. Qual lei se aplica?

Lei “A” Lei “A” Lei “B” (prejudicial ao


réu)

Furto 1 Furto 2 Furto 3

A Lei “B” é aplicada aos 3 furtos praticados em continuidade delitiva. O mesmo


vale para o crime permanente.

Exemplo (2): Sujeito sequestra a vítima sob a égide da Lei “A”. Enquanto a
vítima está em cativeiro, sobrevém Lei “B”, prejudicial ao acusado. Qual lei se aplica?

Lei “A” Lei “B” (prejudicial ao réu)

Sequestro (começa sob a égide da Lei “A” e se prolonga até o advento da Lei “B”)

27
Aplica-se a Lei “B”. Nesse sentido é a súmula 711 do STF:

Súmula 711 do STF: A lei penal mais grave aplica-se ao


crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da
permanência.

CP, art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

2.3.1.2. Abolitio criminis (descriminalização)

É a revogação de lei penal incriminadora. A abolitio criminis afasta a tipicidade


da conduta. Trata-se, portanto, de lei benéfica ao acusado. Nos termos do art. 107,
III, do Código Penal, extingue-se a punibilidade do agente “pela retroatividade de lei
que não mais considera o fato como criminoso”. Exemplo: o crime de sedução foi
revogado pela Lei 11.106/2005.

Efeitos: apaga os efeitos penais da condenação (elimina o dever de


cumprimento de pena, não gera reincidência etc.). Porém, os efeitos civis
(extrapenais) permanecem (ex: a obrigação de reparar o dano continua intacta).
Instituto interessante surgiu, por exemplo, com o advento do Estatuto do
Desarmamento. Isso porque, visando estimular o uso regular de armamentos, o art.
30 e seguintes do Estatuto trouxeram o que a doutrina denomina de abolitio
criminis temporária (descriminalização temporária ou vacatio legis indireta).

A Lei 10.826/03 fixou prazo para que os possuidores e proprietários de armas


de fogo as entregassem ou regularizassem os seus registros. Com isso, o sujeito
que, durante o período estabelecido, fosse encontrado com arma de fogo não
estaria cometendo qualquer dos crimes previstos no art. 12 ou 16 do Estatuto (Vide
Súmula 513 do STJ).

Princípio da continuidade normativo-típica: Por vezes, determinada figura


delitiva é revogada, porém, o seu conteúdo é transferido para outro tipo penal
(houve apenas uma alteração topográfica da conduta incriminadora).
Exemplo: o artigo 214 do CP, que punia o crime de atentado violento ao pudor,
foi revogado. Todavia, seu conteúdo foi transferido para o art. 213 do CP. Não
houve, portanto, abolitio criminis, que para ocorrer exige a revogação material
e formal da lei. Confira-se, na jurisprudência:

28
STJ: O princípio da continuidade normativa típica ocorre quando uma norma
penal é revogada, mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal
revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro dispositivo,
ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário (HC
187.471, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª T., j. 04.11.11).

2.3.1.3. Competência para aplicação da lei nova mais favorável

Em princípio, cabe ao juiz do conhecimento. Se o processo estiver em grau de


recurso, cabe ao Tribunal. Se estiver em fase de execução, cabe ao juiz da execução.
Em síntese: a lei nova mais favorável será aplicada pelo órgão do Poder
Judiciário em que a ação penal estiver em trâmite.

Súmula 611 do STF: Transitada em julgado a sentença


condenatória, compete ao Juízo das execuções a aplicação
de lei mais benigna.

2.3.1.4. Combinação de leis penais.

Indaga-se se é possível a combinação de leis penais.

Ex.: Imaginemos que um indivíduo praticou tráfico de drogas sob a égide da


Lei 6.368/1976. Por ocasião da sentença, já havia sido editada a Lei 11.343/2006.
Poderia o juiz combinar as duas leis, aplicando a pena cominada na Lei 6.368/1976
(mais benéfica) com a causa de diminuição prevista no § 4º da Lei 11.343/2006?

Combinação de leis
Lei 6.368/1976,
Lei 11.343/2006, art. 33:
art. 12:
(possível?)

Pena – 3 a 15 anos Pena – 5 a 15 anos de reclusão Pena – 3 a 15 anos de


de reclusão. (mais gravosa que a lei anterior). reclusão.

Figura privilegiada (art.


Figura privilegiada (art. 33, § 4º).
33, § 4º) – Possibilidade
Não existia a Possibilidade de redução da pena de redução da pena de
figura privilegiada. de 1/6 a 2/3 1/6 a 2/3.

(benéfica em relação à lei anterior).

Duas correntes:

29
a) Majoritária - Não pode. O juiz, ao criar uma terceira norma (lex tertia),
estaria legislando, usurpando a competência do Poder Legislativo (Teoria da
Ponderação Unitária ou Global).

STF: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO


GERAL RECONHECIDA. PENAL. PROCESSUAL PENAL.
TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. CRIME COMETIDO
NA VIGÊNCIA DA LEI 6.368/1976. APLICAÇÃO RETROATIVA
DO § 4º DO ART. 33 DA LEI 11.343/2006. COMBINAÇÃO DE
LEIS. INADMISSIBILIDADE. PRECEDENTES. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. I – É inadmissível a aplicação da
causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 à pena relativa à condenação por crime
cometido na vigência da Lei 6.368/1976. Precedentes. II –
Não é possível a conjugação de partes mais benéficas
das referidas normas, para criar-se uma terceira lei,
sob pena de violação aos princípios da legalidade e da
separação de Poderes. III – O juiz, contudo, deverá, no
caso concreto, avaliar qual das mencionadas leis é mais
favorável ao réu e aplicá-la em sua integralidade. IV -
Recurso parcialmente provido” (RE 600817/MS, Rel. Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Pleno, j. 07/11/2013)
Súmula 501 do STJ: É cabível a aplicação retroativa da
Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência
das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao
réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976,
sendo vedada a combinação de leis.

b) Possível. O juiz, ao combinar as leis, extrai a posição mais benéfica ao réu,


agindo de acordo com os princípios constitucionais da retroatividade da lei penal
mais benéfica e irretroatividade da lei penal mais gravosa (Teoria da Ponderação
Diferenciada). Trata-se, na verdade, apenas de um processo de integração da lei
penal (Basileu Garcia).

2.3.1.5. Vacatio legis

Lei benéfica em vacatio legis é aplicável? Duas correntes:

- Majoritária – Não. Deve-se aguardar entrar em vigor


(Damásio, Frederico Marques, Nucci).

- Minoritária – Vacatio legis é um instituto benéfico, para as


pessoas tomarem conhecimento da norma. Se o intuito é
benéfico, assim como o da retroatividade da lei benéfica,
deve-se aplicar (Alberto Silva Franco, Paulo José da Costa Jr.). 30
2.3.1.6. Jurisprudência

Alteração jurisprudencial benéfica retroage?

O entendimento clássico é no sentido de que não retroage.

Recentemente, tem-se modificado esse panorama. Edição de súmulas


vinculantes e decisões em sede de controle abstrato de constitucionalidade
benéficas ao acusado retroagem.

Há tendência de se admitir a retroatividade mesmo em se tratando de


decisões tomadas em sede de controle concreto proferidas pelo STF
(abstrativização do controle difuso) ou edição/cancelamento de súmulas em geral,
benéficas ao acusado.
2.3.1.7. Leis intermitentes

Lei excepcional ou temporária

CP, Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de


sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao
fato praticado durante sua vigência.

São leis elaboradas para terem curta duração. São leis ULTRATIVAS E
AUTORREVOGÁVEIS.

Leis intermitentes é gênero, do qual são espécies as leis temporárias e as leis


excepcionais:

a) Leis temporárias – Normas cujo prazo de vigência vem


determinado no próprio texto. São dotadas de
autorrevogação. Ex.: até o dia “X”.

b) Leis excepcionais – Normas editadas para serem


aplicadas durante uma situação ou período de
excepcionalidade. Ex.: calamidade pública.

O art. 3o, ao prever a ultratividade das leis excepcionais ou temporárias, é 31


constitucional? Duas correntes:

a) O art. 3o é inconstitucional, pois o art. 5o, XL, da CF


estabelece a retroatividade da lei penal benéfica, sem
exceções (“a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu”). Esta corrente sempre foi minoritária, mas tem ganhado
força (Nucci).

b) O art. 3o é constitucional. Não há violação ao princípio


da retroatividade da lei penal benéfica. Nas leis
excepcionais e temporárias, o tempo de vigência é elemento
do tipo penal. Ex.: Falsificar produtos entre janeiro e
dezembro de 2012. Há a introdução do elemento temporal
na tipicidade. Há dois tipos penais: falsificar e falsificar entre
janeiro e dezembro de 2012. (Luis Flavio Gomes).

Em provas objetivas, marcar de acordo com o texto do art. 3º.


2.3.1.8. Norma penal em branco

Alteração do complemento da norma penal em branco, benéfica ao acusado,


retroage? Há basicamente três correntes:

a) Retroage, pois a CF é clara (“a lei penal não retroagirá, salvo


para beneficiar o réu”) (Paulo José da Costa Jr.);

b) Não retroage. A revogação do complemento não atinge a


norma (Frederico Marques);

c) Depende. Se o complemento não possuir caráter


excepcional ou temporário, haverá abolitio criminis. Ex.: no
crime de tráfico, a retirada de uma determinada droga (ex.:
lança-perfume) do rol de substâncias proibidas. Por outro
lado, se o complemento possuir caráter excepcional ou
temporário, aplica-se o art. 3o, isto é, o complemento terá
ultratividade. Ex.: mudança de tabela em crime de
transgressão de tabelamento de preços (Alberto Silva
Franco). Nesse sentido, confira dois julgados do STF:

PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE.


LEI 6368/76, ARTIGO 36. NORMA PENAL EM BRANCO. 32
PORTARIA DO DIMED, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE,
CONTENEDORA DA LISTA DE SUBSTÂNCIAS PROSCRITAS.
LANCA-PERFUME: CLORETO DE ETILA. I. O paciente foi
preso no dia 01.03.84, por ter vendido lança-perfume,
configurando o fato o delito de tráfico de substância
entorpecente, já que o cloreto de etila estava incluído
na lista do DIMED, pela Portaria de 27.01.1983. Sua
exclusão, entretanto, da lista, com a Portaria de
04.04.84, configurando-se a hipótese do "abolitio
criminis". A Portaria 02/85, de 13.03.85, novamente inclui
o cloreto de etila na lista. Impossibilidade, todavia, da
retroatividade desta. II. Adoção de posição mais favorável
ao réu. III. H.C. deferido, em parte, para o fim de anular
a condenação por tráfico de substância entorpecente,
examinando-se, entretanto, no Juízo de 1º grau, a
viabilidade de renovação do procedimento pela eventual
prática de contrabando. (HC 68904/SP, Rel. Min. Carlos
Velloso, j. 17/12/1991)
Habeas corpus. - Em princípio, o artigo 3º do Código Penal
se aplica a norma penal em branco, na hipótese de o ato
normativo que a integra ser revogado ou substituído por
outro mais benéfico ao infrator, não se dando, portanto, a
retroatividade. - Essa aplicação só não se faz quando a
norma, que complementa o preceito penal em branco,
importa real modificação da figura abstrata nele prevista
ou se assenta em motivo permanente, insusceptível de
modificar-se por circunstâncias temporárias ou
excepcionais, como sucede quando do elenco de doenças
contagiosas se retira uma por se haver demonstrado que
não tem ela tal característica. "Habeas corpus" indeferido.
(HC 73168 / SP, Min. Moreira Alves, j. 21/11/1995)

2.3.2. TEMPO DO CRIME (tempus commissi delicti)

Trata-se do estudo da aplicação da lei penal no tempo.

Em regra, os doutrinadores apresentam três teorias acerca do tema:

a) Teoria da Atividade: considera praticado o crime no


momento da conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja
o resultado.
33
b) Teoria do Resultado ou do Evento: considera praticado o
crime no momento da produção do resultado.

c) Teoria Mista ou da Ubiquidade: considera praticado o


crime no momento da conduta e da produção do resultado.

Para o CP, quando o crime se considera praticado? É importante saber, pois


o momento do crime determina qual a lei penal a ser aplicada ao caso concreto.

CP, Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado.

CP adota a teoria da atividade. Ex.: Agente, antes de completar 21 anos,


atira na vítima, que fica 2 semanas internada e morre após aquele completar 21
anos. Vale o momento da ação, de modo a incidir a atenuante da menoridade
relativa (“Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena: I - ser o agente
menor de 21, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data da sentença”).
Assim, o estudo das teorias acerca do tempo do crime tem relevância quando
a conduta é praticada em um determinado momento, mas o resultado só ocorre
em momento posterior.

Não confundir tempo do crime com competência criminal, cujas regras


encontram previsão no CPP.

2.4. EFICÁCIA DA LEI PENAL NO ESPAÇO

2.4.1. LUGAR DO CRIME

CP, art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação


ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria
produzir-se o resultado.

Em regra, os doutrinadores apresentam três teorias acerca do tema:

a) Teoria da Atividade ou da Ação: considera praticado o


crime no lugar em que ocorreu a conduta (ação ou omissão).
34
b) Teoria do Resultado ou do Evento: considera praticado o
crime no lugar em que ocorreu a produção do resultado.

c) Teoria Mista, Unitária ou da Ubiquidade: considera


praticado no lugar em que ocorreu a conduta, no todo ou em
parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado. É a adotada pelo nosso Código Penal.

A adoção da Teoria da Ubiquidade visa viabilizar a aplicação da lei penal


brasileira sempre que os efeitos da prática delitiva sejam de alguma forma
sentidos/sofridos pela sociedade nacional, quer quando a conduta (ação ou
omissão) seja aqui praticada, quer quando o resultado de conduta iniciada fora do
território nacional opere aqui seus efeitos. O dispositivo legal se refere, então, aos
crimes à distância ou de espaço máximo (abrange território de dois ou mais
países), tema de Direito Penal Internacional.

Destaque-se que a lei brasileira será aplicável com a prática, em território


nacional, de qualquer ato executório, sendo assim também em relação à tentativa.
Não se confunde com crimes plurilocais (abrangem dois ou mais territórios do
mesmo país – ex.: capital e interior do Estado). Nesse último caso, aplicam-se
as regras de competência do art. 70 do Código de Processo Penal
(estudaremos oportunamente no tópico “competência”).

L ugar

U biquidade

T empo

A tividade

2.4.2. TERRITORIALIDADE

Territorialidade 35
CP, Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e
regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

Territorialidade (aplica-se a lei brasileira ao crime cometido no território


nacional) temperada (sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional).

Assim, de acordo com o princípio da territorialidade temperada ou


mitigada, é possível a existência de fatos criminosos que, mesmo ocorridos no
território brasileiro, não ensejarão a aplicação da nossa lei penal. Trata-se do
instituto da intraterritorialidade (Ex.: Diplomatas).

§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território


nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a
serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar.

Território brasileiro por equiparação:


§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

Em suma:

a) Embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública


ou a serviço do governo brasileiro, em território nacional ou
estrangeiro são consideradas parte do território brasileiro;

b) Embarcações e aeronaves estrangeiras privadas, em


território nacional é aplicável a lei brasileira;

c) Embarcações e aeronaves privadas, em alto-mar ou espaço


aéreo correspondente seguirão a lei do país conforme a
bandeira que ostentam.

Assim, conforme Rogério Sanches (Manual de Direito Penal, 2020) território


nacional é a soma do espaço físico (ou geográfico), com o espaço jurídico (espaço
físico por ficção, por equiparação, por extensão ou território flutuante).

2.4.3. EXTRATERRITORIALIDADE 36
Aplicação da lei brasileira a crimes cometidos no estrangeiro. A
Extraterritorialidade da lei penal brasileira pode ser: incondicionada, condicionada
e hipercondicionada.
CP, Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:

I - os crimes: Princípio/Extraterritorialidade

a) contra a vida ou a liberdade do


Presidente da República;
Princípio da defesa, real ou da proteção
b) contra o patrimônio ou a fé (considera o bem jurídico protegido ser
pública da União/ DF/ Estado/ nacional).
Território/ Município/ Empresa púb./
Sociedade de econ. mista/ Autarquia Extraterritorialidade incondicionada (o
ou fundação instituída pelo Poder agente é punido segundo a lei brasileira,
Público; ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro).
c) contra a administração pública,
por quem está a seu serviço;

Princípio da justiça universal, da justiça


cosmopolita, da competência ou da
jurisdição universal, da jurisdição ou da
repressão mundial ou da universalidade
d) genocídio, quando o agente for do direito de punir (bem jurídico de
brasileiro ou domiciliado no Brasil; interesse transnacional). 37
Extraterritorialidade incondicionada (o
agente é punido segundo a lei brasileira,
ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro).

Princípio do Domicílio: não importa a


nacionalidade do sujeito - ele é julgado
pela lei do país do seu domicílio.
e) genocídio, quando o agente for
brasileiro ou domiciliado no Brasil; Extraterritorialidade incondicionada (o
agente é punido segundo a lei brasileira,
ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro).
II - os crimes:*

Princípio da justiça universal, da justiça


cosmopolita, da competência ou da
jurisdição universal, da jurisdição ou da
a) que, por tratado ou convenção, o repressão mundial, ou da universalidade
Brasil se obrigou a reprimir; do direito de punir (bem jurídico de
interesse transnacional).
Extraterritorialidade condicionada.*

Princípio da nacionalidade (ou


b) praticados por brasileiro; personalidade) ativa (autor brasileiro).
Extraterritorialidade condicionada.*

c) praticados em aeronaves ou Princípio da representação, bandeira,


embarcações brasileiras, pavilhão, subsidiário ou da substituição
mercantes ou de propriedade (não havendo outro critério, prevalece o
privada, quando em território fato de ser a bandeira brasileira).
estrangeiro e aí não sejam julgados. Extraterritorialidade condicionada.*

* Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
38
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

A lei brasileira aplica-se também ao


crime cometido por estrangeiro
contra brasileiro fora do Brasil, se,
Princípio da nacionalidade (ou
reunidas as condições previstas no
personalidade) passiva (vítima brasileira)
par. anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a


extradição Extraterritorialidade (hiper)condicionada

b) houve requisição do Ministro da


Justiça
Não basta uma leitura superficial. É preciso memorizar as tabelas acima.
Quando essa matéria é cobrada, exige-se que o candidato tenha decorado os
princípios, os requisitos e se a extraterritorialidade é condicionada,
incondicionada ou hipercondicionada.

2.4.3.1. Pena cumprida no estrangeiro

CP, Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil


pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

2.5. VALIDADE DA LEI PENAL EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

2.5.1. IMUNIDADES DIPLOMÁTICAS

Fonte: Convenções de Viena (1961, sobre relações diplomáticas; 1963, sobre


relações consulares), aprovadas pelos Decretos 56.435/1965 e 61.078/1967. Trata-
se de prerrogativa de direito público internacional.

Quem possui?

- Chefe de governo ou de Estado estrangeiro e sua família e


39
membros da comitiva;

- Embaixador e sua família;

- Funcionários do corpo diplomático e sua família;

- Funcionário de organizações internacionais, quando em


serviço (ex.: ONU).

OBSERVAÇÃO: A imunidade abrange os membros do pessoal administrativo


e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com eles
vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditado nem nele tenham
residência permanente (art. 37, 2, Convenção de Viena).

OBSERVAÇÃO: Estão excluídos das imunidades os empregados particulares


dos diplomatas (exemplo: faxineira, cozinheiro etc.).
Características:

a) Inviolabilidade pessoal - Não podem ser presos ou


detidos, nem obrigados a depor como testemunhas.

b) Isenção da jurisdição - O agente diplomático goza de


imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Por essa
razão, o fenômeno é denominado intraterritorialidade
(aplica-se a lei estrangeira a fato ocorrido no Brasil). Se o
fato for impunível no país de origem, o agente não será
responsabilizado. O diplomata não pode abrir mão de sua
imunidade, mas o país que o envia sim (Estado acreditante).

c) Inviolabilidade de domicílio - A Convenção de Viena


estabelece que as sedes diplomáticas e as residências dos
membros da missão são invioláveis. Contudo, não são
consideradas extensões do território estrangeiro.

A imunidade do agente consular restringe-se aos atos de ofício (imunidade


funcional relativa). Nos termos do art. 43, I, da Convenção de Viena sobre Relações
Consulares (1963), “os funcionários consulares e os empregados consulares não estão
sujeitos à Jurisdição das autoridades judiciárias e administrativas do Estado receptor
pelos atos realizados no exercício das funções consulares”. Logo, se praticar crime 40
comum, responde de acordo com a lei brasileira; se praticar crime funcional,
relacionado com a sua função, ficará sujeito à lei do país de origem.

2.5.2. IMUNIDADES PARLAMENTARES

2.5.2.1. Imunidade parlamentar absoluta (substancial, material,


real, inviolabilidade).

CF, art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

Natureza jurídica das Inviolabilidades:

Corrente majoritária, adotada, inclusive, pelo STF, esclarece que é causa de


atipicidade. A imunidade material serve para assegurar a democracia.

A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de


todas as pessoas à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88.
Assim, mesmo quando desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras
dos congressistas, desde que guardem alguma pertinência com suas funções
parlamentares, estarão cobertas pela imunidade material do art. 53, caput, da CF.
(STF. 1ª T., Inq 4088/DF e 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 01/12/2015, Info 810).

OBSERVAÇÃO sobre a súmula nº 245 do STF: “A imunidade parlamentar não


se estende ao corréu sem essa prerrogativa”.

Segundo boa parte da doutrina, a súmula somente é cabível no caso de


imunidade formal (ver abaixo) e não é aplicável na hipótese de imunidade
material (inviolabilidade parlamentar), prevista no caput do art. 53 da CF.

Deve, no entanto, existir nexo entre as opiniões, palavras ou votos e o


exercício da função desempenhada pelo agente. Esse vínculo é presumido de
forma absoluta se o parlamentar estiver nas dependências da casa legislativa. Já
quanto aos fatos ocorridos fora da Casa, mas relacionados com a função
parlamentar, a presunção quanto ao nexo funcional é relativa, sendo possível a
produção de prova em contrário de eventual ofendido e a consequente
responsabilização do parlamentar por suas opiniões, palavras e votos.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.642.310/DF. REL. MIN. NANCY


ANDRIGHI. CASO JAIR MESSIAS BOLSONARO x MARIA DO
ROSARIO NUNES. “A imunidade parlamentar não é
absoluta, pois, conforme jurisprudência do STF, “a 41
inviolabilidade dos Deputados Federais e Senadores, por
opiniões palavras e votos, prevista no art. 53 da CF, é
inaplicável a crimes contra a honra cometidos em situação
que não guarda liame com o exercício do mandato”. 6. Na
hipótese dos autos, a ofensa perpetrada pelo recorrente,
segundo a qual a recorrida não “mereceria” ser vítima de
estupro, em razão de seus dotes físicos e intelectual, não
guarda nenhuma relação com o mandato legislativo do
recorrente. 7. Considerando que a ofensa foi veiculada em
imprensa e na Internet, a localização do recorrente, no
recinto da Câmara dos Deputados, é elemento meramente
acidental, que não atrai a aplicação da imunidade. 8.
Ocorrência de danos morais nas hipóteses em que há
violação da cláusula geral”.

Segundo a jurisprudência do STF a imunidade não abrange crimes eleitorais


(injúria, calúnia, difamação em época de eleição).
STF: A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no
sentido de que a imunidade parlamentar material incide
de forma absoluta quanto às declarações proferidas no
recinto do Parlamento e os atos praticados em local
distinto escapam à proteção absoluta da imunidade
somente quando não guardarem pertinência com o
desempenho das funções do mandato parlamentar. 2.
Esta Corte entende que, embora indesejáveis, as ofensas
pessoais proferidas no âmbito da discussão política,
respeitados os limites trazidos pela própria Constituição,
não são passíveis de reprimenda judicial. Imunidade que
se caracteriza como proteção adicional à liberdade de
expressão, visando a assegurar a fluência do debate
público e, em última análise, a própria democracia. 3.
Embargos de declaração recebidos como agravo interno a
que se nega provimento. (STF, RE 443953 ED, Rel. Min. Luis
Roberto Barroso, 1ª T., j. 19/06/2017)

2.5.2.2. Imunidade parlamentar relativa (formal, processual,


adjetiva)

a) Relativa em relação à prisão (art. 53, § 2º, CF) 42


Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para
que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão.

Regra: parlamentares não poderão ser presos provisoriamente (prisão em


flagrante, preventiva, temporária).

Exceção: poderão ser presos em flagrante por crime inafiançável. Neste caso
o auto de prisão será remetido à casa respectiva que resolverá, no prazo de 24
horas, em juízo político, sobre a conveniência e oportunidade da prisão, podendo
relaxá-la, por meio de voto aberto.

OBSERVAÇÃO 1: A prisão decorrente de sentença definitiva não está


abrangida por esta imunidade relativa.

OBSERVAÇÃO 2: Ver caso prisão do ex-senador Delcídio do Amaral antes da


condenação definitiva por embaraço à operação lava-jato. O ministro relator
do caso destacou a excepcionalidade da prisão preventiva e, mais ainda, que
em caso de prisão de parlamentar no exercício do mandato só é permitida em
situação de flagrante por crime inafiançável, conforme prevê o artigo 53,
parágrafo 2º, da Constituição Federal. Entretanto, o relator observou que no
caso em questão caracteriza-se um estado de crime permanente, a partir de
formação de associação criminosa com o objetivo de atrapalhar as
investigações. Esse estado de permanência, segundo o relator, mantém a
caracterização do flagrante para fins de prisão cautelar.

b) Relativa em relação ao processo

Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido


após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de
partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros,
poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.

O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo


improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.

A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o


mandato.

A imunidade não se estende e nem alcança os inquéritos instaurados contra


os congressistas. 43
c) Relativa em relação à condição de testemunha (art. 53, § 6º, da CF)

Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre


informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre
as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

Observações finais:

1 - Deputados estaduais gozam dos mesmos privilégios que


os federais (imunidade substantiva e processual) (art. 27, § 1º,
CF).

2 - Vereadores somente têm imunidade substantiva, desde


que suas opiniões, palavras e votos sejam proferidos no
exercício do mandato (nexo material) e na circunscrição do
Município (critério territorial) (art. 29, VIII, CF).

3 – SV nº 45: “A competência constitucional do Tribunal do Júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela constituição estadual”.
2.6. DISPOSIÇÕES FINAIS

2.6.1. EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA

Eficácia de sentença estrangeira

CP, Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz


na espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:

I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos


civis;

II - sujeitá-lo a medida de segurança.

Parágrafo único - A homologação depende:

a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;

b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de


cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
requisição do Ministro da Justiça.

O artigo é autoexplicativo, cabendo apenas remeter o aluno ao CPP (arts. 787


e ss.), onde se encontram as regras do processo de homologação, que tramitará
44
perante o STJ (art. 105, I, “i”, CF/88), cabendo apenas alertar que, segundo doutrina
(por todos, Rogério Sanches e Damásio de Jesus), a homologação para efeitos de
reincidência, é dispensável.

2.6.2. CONTAGEM DE PRAZO

Contagem de prazo

CP, Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os


dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

A contagem de prazos processuais penais segue a regra do art. 798, caput, do


CPP: “Todos os prazos correrão em cartório e serão contínuos e peremptórios,
não se interrompendo por férias, domingo ou dia feriado”.

CPP, art. 798, § 1º Não se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se,


porém, o do vencimento.
2.6.3. FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA

CP, Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restritivas


de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

2.6.4. CONFLITO APARENTE DE NORMAS

2.6.4.1. Conceito

O conflito aparente de normas ocorre para hipótese em que, ao mesmo fato,


pareçam ser aplicáveis duas ou mais normas, embora somente uma delas
efetivamente o seja.

Exemplo: sujeito efetua disparo de arma de fogo contra o seu desafeto,


matando-o. Poderia haver dúvida se responderia somente pelo crime de homicídio
(art. 121 do CP) ou também pelo disparo de arma (art. 15 da Lei 10.826/2003). No
caso, o disparo é meio para a prática do homicídio, ficando por este absorvido.

Veja-se que o conflito é meramente aparente ou ilusório, pois existem critérios


determinantes de qual das normas deve ser aplicada. São eles:

45
a) especialidade;

b) subsidiariedade;

c) absorção ou consunção.

Alguns autores incluem ainda os seguintes critérios:

d) sucessividade;

e) alternatividade.

2.6.4.2. Critério da especialidade

A norma especial tem preferência sobre a norma geral (lex specialis derogat legi
generali). É especial a norma que possui certa particularidade objetiva ou subjetiva.
Contém todos os requisitos da geral, além de elementos especializantes.

Exemplo: o homicídio culposo está disciplinado no art. 121, § 3º, do Código


Penal. Porém, se a conduta tiver sido praticada na particular situação de estar o
agente na direção de veículo automotor, passará a incidir o tipo previsto no art. 302
do CTB (Lei 9.503/1997), que é especial em relação à figura do Código Penal.
2.6.4.3. Critério da subsidiariedade

Significa que a norma principal deve ser aplicada em detrimento da subsidiária


(lex primaria derogat subsidiariae). Norma subsidiária é a que está prevista, inserida
em outra. Tem-se um tipo acessório e outro principal.

A subsidiariedade pode ser explícita/expressa (como o nome diz,


expressamente prevista na norma) ou implícita/tácita (não se autoproclama
subsidiária, mas é). Exemplos:

Subsidiariedade expressa:

Subtração de incapazes

Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o


tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento
de outro crime.

Subsidiariedade tácita:

Art. 148 em relação ao art. 159, ambos do CP: 46


Sequestro e cárcere privado Extorsão mediante sequestro
Art. 148 - Privar alguém de sua Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de
liberdade, mediante sequestro ou obter, para si ou para outrem, qualquer
cárcere privado: vantagem, como condição ou preço do
resgate:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Art. 155 em relação ao art. 157, ambos do CP:

Furto Roubo
Art. 155 - Subtrair, para si ou para Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para
outrem, coisa alheia móvel: si ou para outrem, mediante grave ameaça
ou violência a pessoa, ou depois de havê-la,
Pena - reclusão, de um a quatro
por qualquer meio, reduzido à
anos, e multa.
impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e
multa.
2.6.4.4. Critério da absorção ou da consunção

Significa que a norma que prevê o fato de forma menos abrangente deve ser
preterida em relação a outra que contenha o mesmo fato, mas de maior amplitude
(lex consumens derogat consumptae).

Assim, significa que o crime-meio deve ser absorvido pelo crime-fim. Aqui, a
relevância está na existência de um fato da vida real que engole outro.

Enquanto na subsidiariedade, há um fato disputado por duas normas, na


absorção há dois fatos, com um absorvendo o outro. Não há, necessariamente, uma
relação de delito mais grave abarcando o menos grave, ou seja, não é relação de
espécie e gênero, mas de parte a todo, de meio e fim (Rogério Sanches, Manual de DP,
2020, pág. 193). Eis um exemplo de absorção pelo crime menos grave:

Súmula 17 do STJ: Quando o falso se exaure no


estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido.

O critério da absorção, na prática, depende da política criminal. Em alguns


casos, entende-se que há absorção; em outros, que há concurso de crimes.

Algumas hipóteses em que há consunção: 47


- Antefactum não punível – hipótese em que um crime é
praticado como meio necessário para a realização de outro
crime. Na aplicação do princípio da consunção, é
imprescindível que o crime meio e o crime fim tenham
ocorrido no mesmo contexto fático. Ex.: súmula 17 acima.

- Post factum não punível – Aqui, o fato posterior é que fica


absorvido. Após consumar o crime, há agressão contra o
mesmo bem jurídico. Ex.: após furtar o celular da vítima, o
agente o danifica. Responderá apenas pelo furto.

2.6.4.5. Critério da sucessividade

Diz respeito à sucessão de leis penais no tempo. Significa que lei posterior tem
preferência à lei anterior que cuide do mesmo fato (lex posterior derogat legi priori).
O correto seria o legislador revogar expressamente a lei anterior, mas, em muitas
vezes, não o faz. Ex.: art. 32 da LCP derrogado pelo art. 309 do CTB.
Súmula 720 do STF: O art. 309 do Código de Trânsito
Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de dano,
derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no
tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.

2.6.4.6. Critério da alternatividade

Aplicável em se tratando de crime de ação múltipla ou tipo misto alternativo.


Nesses casos, mesmo que o agente pratique mais de uma conduta, no mesmo
contexto fático, responderá por um só crime. Ex.: agente adquire e conduz coisa
produto de crime. Responderá por um crime de receptação, mesmo tendo
praticado duas condutas (“CP, art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou
ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte”).

3. TEORIA GERAL DO CRIME

3.1. CONCEITO DE CRIME

O crime pode ser examinado sob 4 enfoques:

Material (substancial) → Leva em consideração a própria


essência da conduta, tida como perniciosa pela sociedade. 48
Nessa visão, crime é o comportamento humano causador de
lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico tutelado.

Formal (sintético) → Leva em consideração a contradição do


fato à norma penal. Nessa visão, crime é a conduta (ação ou
omissão) devidamente prevista em lei como tal, sob ameaça
de sanção penal.

Analítico (dogmático) → Leva em consideração a concepção


da ciência do Direito. Sob tal enfoque analisa-se os elementos
estruturais que compõem a infração penal. Majoritariamente,
entende-se que o crime é fato típico, antijurídico e culpável.

Legal → Leva em consideração o conceito trazido pelo


legislador, na forma do art. 1º da Lei de Introdução ao Código
Penal: “Considera-se crime a infração penal que a lei comina
pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas,
alternativa ou cumulativamente.” Temos, então, um sistema
dicotômico que estabelece uma diferença de grau ou
quantitativa e não ontológica entre crime e contravenção
penal.

3.2. SUJEITOS ATIVO E PASSIVO DO CRIME

3.2.1. Sujeito ativo

Sujeito ativo é aquele que pratica a infração penal.

Denomina-se crime comum aquele que não exige sujeito ativo especial ou
qualificado (ex.: homicídio), e crime próprio aquele que exige sujeito ativo
qualificado ou especial (ex.: a qualidade de mãe é essencial para a configuração do
crime de infanticídio).

Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo de crime? Diz o art. 225, § 3º/CF:

Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio


ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

49
Na esteira da CF, diz o art. 3º da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais):

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e


penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja
cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das


pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.

Nesse contexto, existem basicamente duas correntes sobre a possibilidade de


responsabilização penal da pessoa jurídica. Vejamos:
NÃO
SIM (majoritária)
(societas delinquere non potest)

Pessoa jurídica é uma ficção jurídica, Pessoa jurídica é um ente autônomo,


não tem vontade, não atua com dolo ou tem vontade própria. Ainda que assim
culpa. Admitir a responsabilidade penal não fosse, é possível admitir,
da pessoa jurídica seria uma forma de excepcionalmente, a responsabilidade
responsabilidade penal objetiva. penal objetiva.

O Direito Penal tem como característica Ainda que não possa sofrer privação de
essencial a possibilidade de aplicação liberdade, a PJ pode sofrer outras
de pena privativa de liberdade. Pessoa espécies de sanções no âmbito penal,
jurídica não pode sofrer privação de como multas, suspensão das
liberdade. Logo, a utilização do Direito atividades, interdição, etc. A
Penal é desnecessária, podendo-se condenação criminal é mais grave,
empregar outros instrumentos, como repercutindo de forma mais intensa e
multas administrativas. negativa que a aplicação de multa civil.

Punir a pessoa jurídica é uma violação A punição é dirigida contra a pessoa


ao princípio da responsabilidade jurídica, não contra os empregados.
pessoal. Afinal, quem vai sofrer as Logo, não há ofensa ao princípio.
consequências não será a pessoa Efeitos reflexos da pena sempre
jurídica, mas os seus empregados (ex.: atingem terceiros. Ex.: ao se condenar o 50
vão perder o emprego). chefe de família, pode-se estar
atingindo os seus dependentes.

Não há amparo legal. O art. 225, § 3º, da O art. 225, § 3º, da CF, permite a
CF, que trata dos crimes ambientais, aplicação de sanções penais às PJs (“As
permite a aplicação de sanções penais condutas e atividades consideradas
às pessoas físicas e apenas sanções lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
administrativas às pessoas jurídicas. infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a
sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de
reparar os danos causados”).

O STJ admitia a responsabilidade penal da pessoa jurídica, desde que


houvesse simultaneamente a imputação à pessoa física que atua em seu nome ou
em seu benefício. É a chamada teoria da dupla imputação.

Atualmente, STF e STJ admitem a responsabilização penal da pessoa jurídica


por crimes ambientais, sendo desnecessária a responsabilização simultânea da
pessoa física que agia em seu nome. (STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 6/8/2013 - Info 714; STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 - Info 566).
Pessoa jurídica de Direito Público pode ser sujeito ativo de crime ambiental?

Duas correntes, não havendo por hora uma que se sobressaia:

1C - Não. As pessoas jurídicas de direito público, por sua


própria natureza, só agem em prol do interesse coletivo e
destinam-se, somente, a buscar fins lícitos, não podendo
receber o mesmo tratamento das pessoas jurídicas de direito
privado. Do contrário, não estará o administrador agindo “no
interesse ou benefício da entidade”, conforme preceitua o art.
3º da Lei 9.605/98, devendo apenas a pessoa física ser
responsabilizada criminalmente por delito ambiental.

2C – Sim. A CF não traz qualquer distinção entre a natureza


jurídica da pessoa jurídica, assim, tanto a pessoa jurídica de
direito público quanto a de direito privado podem ser
responsabilizadas criminalmente.

A única observação é que, dependendo do caso concreto, algumas das


sanções previstas na Lei Ambiental poderão se revelar inaplicáveis, como a
“proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios,
subvenções ou doações” (art. 22, III, Lei 9.605/1998).
51
3.2.2. Sujeito passivo

Sujeito passivo é o titular do bem jurídico atingido pela infração. É a pessoa ou


ente que sofre as consequências da infração penal. Divide-se em:

a) Sujeito passivo constante, mediato, formal, geral ou


genérico – É sempre o Estado (por isso “constante”), por seu
interesse na manutenção da paz pública e na ordem social.

b) Sujeito passivo eventual, imediato, material, particular


ou acidental – É o titular do bem jurídico diretamente
atingido pela infração. Pode coincidir com o sujeito passivo
constante. Ex: crimes contra a Administração Pública.

O sujeito passivo eventual pode ser comum ou próprio.

Diz-se que o sujeito passivo é comum quando o tipo penal não exige qualquer
qualidade especial da vítima, ou seja, aquele delito que pode ser praticado contra
qualquer pessoa (ex.: homicídio). Por outro lado, o sujeito passivo é próprio quando
o tipo penal demanda alguma qualidade da vítima (ex.: ser o filho no crime de
infanticídio, a vulnerabilidade no estupro de vulnerável, etc.).
Nessa linha, crimes bipróprios são aqueles que exigem uma qualidade
especial do sujeito ativo e também do sujeito passivo. Um exemplo é o próprio
crime de infanticídio (“art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o
próprio filho, durante o parto ou logo após”). O sujeito ativo é qualificado (a mãe) e
o sujeito passivo também é qualificado (o filho).

Obs. 1: Crimes de dupla subjetividade passiva são aqueles que têm,


obrigatoriamente, pluralidade de vítimas.

Obs. 2: Morto não é sujeito passivo de crime, nem animais.

Obs. 3: A mesma pessoa não pode figurar, ao mesmo tempo, como sujeito
ativo e passivo do crime, caso contrário haveria violação ao princípio da
alteridade. (Rogério Greco traz o crime do art. 137 do CP como única exceção).

Obs. 4: Pessoa jurídica pode ser vítima de crime (ex: para o STF e STJ, a PJ
poderá ser vítima nos crimes de difamação).

3.3. OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL DO CRIME

a) Objeto Jurídico

Objeto jurídico é o bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. (ex: 52
no homicídio, o objeto jurídico é a vida; no furto, protege-se o patrimônio).

Não existe crime sem objeto jurídico, a missão do direito penal é a tutela dos
bens jurídicos indispensáveis à convivência humana.

Há crimes, inclusive, que protegem pluralidade de bens jurídicos. São os


chamados crimes pluriofensivos (ex: latrocínio protege a vida e o patrimônio).

b) Objeto Material

Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.


(ex: o objeto material do homicídio é a vítima; do furto, a coisa alheia subtraída). O
Objeto material pode coincidir com o sujeito passivo da infração penal (ex: no
homicídio a vítima é o sujeito passivo e também o objeto material).

A doutrina majoritária ensina que é possível a existência de crime sem objeto


material, como nos crimes de mera conduta. Ex.: Omissão de socorro.

3.4. DISTINÇÃO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL

Infração penal é um gênero, tendo como espécies os crimes e as


contravenções (que também recebem o nome de delito liliputiano ou crime-anão).
Confira a distinção (axiológica ou de valor – fatos mais graves rotulados como
crime e os menos graves rotulados como contravenção penal, por opção do Poder
legislativo) no quadro a seguir:

Infração penal
Crime Contravenção penal
(gênero)

Lei das Contravenções Penais


Principal diploma Código Penal
(DL nº 3.688/1941)

Tipo de pena Reclusão, Prisão simples


privativa de
liberdade aplicável Detenção ou multa ou multa (art. 5º, LCP)

Reclusão → Fechado,
semiaberto ou aberto
Prisão simples → Semiaberto
Detenção → Semiaberto ou aberto
Regime inicial
ou aberto
cabível Inadmissível a regressão para
Possível a regressão o fechado (art. 6º, LCP)
para o fechado (art. 33,
caput, CP)

Regime fechado →
Prisão simples deve ser
53
penitenciária (art. 87,
cumprida sem rigor
LEP)
Local de penitenciário, em
cumprimento de Semiaberto → colônia estabelecimento especial ou
pena privativa de agrícola, industrial ou seção especial de prisão
liberdade similar (art. 91, LEP) comum, em regime
semiaberto ou aberto (art. 5º,
Aberto → casa do
LCP)
albergado (art. 93, LEP)

LEP, art. 84, § 1º (com redação dada pela Lei


13.167/2015): Os presos provisórios ficarão separados
de acordo com os seguintes critérios:
I - acusados pela prática de crimes hediondos ou
equiparados;
Divisão dos
II - acusados pela prática de crimes cometidos com
sentenciados
violência ou grave ameaça à pessoa;
III - acusados pela prática de outros crimes ou
contravenções diversos dos apontados nos incisos I e II.
§ 3º Os presos condenados ficarão separados de acordo
com os seguintes critérios:
I - condenados pela prática de crimes hediondos ou
equiparados;
II - reincidentes condenados pela prática de crimes
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
III - primários condenados pela prática de crimes
cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa;
IV - demais condenados pela prática de outros crimes ou
contravenções em situação diversa das previstas nos
incisos I, II e III.

Pública (incondicionada A contravenção penal só


Tipo de ação penal ou condicionada) ou admite a Ação Penal Pública
privada (art. 100, CP) incondicionada (art. 17, LCP)

Punível Não é punível


Tentativa
(art. 14, II, CP) (art. 4º, LCP)

Justiça Estadual – art. 109, IV


da CF (exceto se o autor da
contravenção for detentor de
foro por prerrogativa de
função no âmbito da JF)
54
Justiça Federal ou Súmula 38 do STJ: “Compete
Competência à Justiça Estadual comum, na
Estadual
vigência da CF/1988, o
processo por contravenção
penal, ainda que praticada
em detrimento de bens,
serviços ou interesse da
União ou de suas entidades”.

Limite de 30 anos (até jan/2020)


5 anos
cumprimento de 40 anos (pós pacote
pena (art. 10, LCP)
anticrime - art. 75, CP)

Regra: 2 a 4 anos

Período de prova do (art. 77, caput, CP) 1 a 3 anos


sursis Exceção: 4 a 6 anos (art. 11, LCP)
(art. 77, § 2º, CP)

Ocorre quando o agente Ocorre quando o agente


Reincidência comete novo crime, pratica uma contravenção
depois de transitar em depois de passar em julgado
julgado a sentença que, a sentença que o tenha
no País ou no condenado, no Brasil ou no
estrangeiro, o tenha estrangeiro, por qualquer
condenado por crime crime, ou, no Brasil, por
anterior (art. 63, CP) contravenção (art. 7º, LCP)

Extraterritorialidade Admite (art. 7º, CP) Não admite

Admissível nos casos do


Prisão preventiva e
art. 313, CPP e art. 1º, III, Não admite
temporária
Lei 7.960/1989

Instrumentos ou
produto do crime
podem ser confiscados Instrumentos de
Confisco (art. 91, II, a, CP) e contravenção não podem ser
confiscados
Confisco Alargado
(art. 91-A, CP - anticrime)

Habeas corpus. Penal. Princípio da consunção. Alegação


de que o crime de falso (art. 304 do CP) constitui meio de
execução para a consumação da infração de exercício 55
ilegal da profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41). Não
ocorrência. Impossibilidade de um tipo penal previsto
no CP ser absolvido por uma infração tipificada na Lei
de Contravenções Penais. Ordem denegada.

“1. O princípio da consunção é aplicável quando um delito


de alcance menos abrangente praticado pelo agente for
meio necessário ou fase preparatória ou executória para a
prática de um delito de alcance mais abrangente. 2. Com
base nesse conceito, em regra geral, a consunção acaba
por determinar que a conduta mais grave praticada pelo
agente (crime-fim) absorve a conduta menos grave (crime-
meio). 3. Na espécie, a aplicabilidade do princípio da
consunção na forma pleiteada encontra óbice tanto no
fato de o crime de uso de documento falso (art. 304 do CP)
praticado pelo paciente não ter sido meio necessário nem
fase para consecução da infração de exercício ilegal da
profissão (art. 47 do DL nº 3.688/41) quanto na
impossibilidade de um crime tipificado no Código
Penal ser absorvido por uma infração tipificada na Lei
de Contravenções Penais. 4. Habeas corpus denegado”.
(HC 121652, Rel. Min. Dias Toffoli, 1ª T., j. 22/04/2014)
3.5. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES

3.5.1. Crime comum e próprio e crime de mão própria

Comum - Pode ser praticado por qualquer pessoa (ex.: homicídio, furto).

Próprio - Exige sujeito ativo qualificado ou especial. Essa qualidade pode ser
de direito (ex.: ser funcionário público, no crime de corrupção passiva – art. 317) ou
de fato (ex.: ser a mãe, no crime de infanticídio – art. 123).

De mão própria - É aquele que somente pode ser praticado pelo próprio
agente, diretamente. Exigem atuação pessoal. A conduta da pessoa exigida pela lei,
para a caracterização do crime, é infungível. Ex.: falso testemunho. Somente a
própria testemunha pode ir ao juiz e praticar o crime.

Os crimes de mão própria admitem participação, mas não coautoria


(examinaremos melhor isso oportunamente).

3.5.2. Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos


permanentes

É classificação quanto ao momento consumativo. De acordo com a definição


contida no art. 14, I, do CP, o crime considera-se consumado quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal.
56
Crime instantâneo - Aquele que se consuma num momento específico,
determinado, ou seja, não se prolonga no tempo. Ex.: homicídio, furto.

Crime Permanente - Aquele cuja consumação se arrasta, prolongando-se no


tempo, por vontade do agente. Caracteriza-se por ter momento consumativo
duradouro. Ex.: sequestro ou cárcere privado. Enquanto a vítima está em cativeiro,
o crime está se perpetuando.

O crime permanente admite prisão em flagrante a todo tempo, enquanto


durar a sua realização. A prescrição da pretensão punitiva somente começa a
ser contada a partir da cessação da permanência (art. 111, III, do CP). Além disso,
nos crimes permanentes há aplicação da súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave
aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior
à cessação da continuidade ou da permanência”.

Crime instantâneo de efeitos permanentes - Aquele que se consuma num


momento específico, ou seja, instantaneamente, porém os seus efeitos se
prolongam no tempo, mas independentemente da vontade do agente. A
subsistência dos efeitos do crime é inerente ao fato praticado.
Ex.: bigamia. Ao se casar pela segunda vez, está consumado o crime. A
manutenção do segundo casamento é o efeito do crime, que se prolonga no tempo.

3.5.3. Crime comissivo e omissivo (omissivo impróprio e comissivo


impróprio)

Classificação quanto à forma pela qual a conduta é praticada. A conduta


compreende a ação ou omissão consubstanciada no verbo nuclear.

Crime Comissivo ou de ação - A conduta configura-se com uma ação do


agente (ex.: roubo). A conduta positiva viola norma penal proibitiva.

Crime Omissivo ou de omissão - A conduta ocorre com uma omissão do


agente, um não fazer. Ex.: omissão de socorro (art. 135). Nos crimes omissivos a
norma violada pelo agente tem natureza imperativa ou mandamental.

O crime omissivo subdivide-se em:

Crime Omissivo impróprio ou impuro Omissivo próprio ou puro


ou comissivo por omissão

São crimes comissivos (descrevem uma O tipo penal descreve uma omissão:
ação) praticados por meio de uma para identificá-los, basta a leitura da
inatividade. norma.
57
É o que se dá nos casos em que está Há violação do dever genérico de
presente o dever jurídico de agir (dever agir, desta feita, o sujeito ativo da
específico) para evitar o resultado (art. omissão pode ser qualquer pessoa
13, § 2º, do CP). (ex. art. 135 do CP).
Logo, o sujeito ativo da omissão São crimes unissubsistentes: a
imprópria somente são as pessoas conduta é composta de um único ato
elencadas nos incisos I a III, do § 2º, art. e, por isso, são crimes que não
13 do CP. São crimes próprios, admitem a forma tentada.
materiais e admitem a tentativa.
A natureza jurídica do citado artigo é de
norma de extensão e a adequação
típica se dá por subordinação indireta.

3.5.4. Crime de dano e de perigo

Classificação quanto ao resultado jurídico ou normativo (lesão ou ameaça


de lesão ao bem jurídico tutelado).
Crime de dano ou de lesão - Crime de dano é aquele que se consuma com a
efetiva ocorrência de um dano ao bem jurídico tutelado. É assim com a maior
parcela das infrações penais. Ex.: homicídio, roubo, furto, estupro.

Crime de perigo - Crime de perigo é aquele que se consuma com a simples


exposição do bem jurídico tutelado a um perigo de lesão. São criados como
anteparo, justamente para evitar o dano. Dividem-se em crimes de perigo abstrato
e crimes de perigo concreto.

Crimes de perigo abstrato ou presumido - São aqueles em


que o perigo é absolutamente presumido pelo legislador.
Consumam-se com a prática da conduta, dispensando a
comprovação do perigo real no caso concreto. Ex.: porte ilegal
de arma de fogo.

Súmula 575 do STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar


a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se
encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB,
independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano

58
concreto na condução do veículo.

Para a configuração do crime do art. 310 do CTB, não é exigida a demonstração


de perigo concreto de dano. Isso porque, no referido artigo, não há previsão, quanto
ao resultado, de qualquer dano no mundo concreto, bastando a mera entrega do
veículo a pessoa que se sabe inabilitada, para a consumação do tipo penal. Trata-
se, portanto, de crime de perigo abstrato (STJ. 6ª T., REsp 1.468.099-MG, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 19/3/2015, Info nº 559).

Crimes de perigo concreto - São aqueles em que o perigo ao


bem jurídico deve ficar comprovado nos autos, pois a lei exige
que a conduta do agente provoque perigo real. Ex.: expor a
vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente (art.
132). A acusação precisa provar, no caso concreto, que a
conduta do agente gerou o perigo direto e iminente.

3.5.5. Crime unissubjetivo e plurissubjetivo

Classificação quanto à pluralidade de sujeitos como requisito típico.

Crime unissubjetivo (monossubjetivo ou de concurso eventual) - É aquele


que pode ser cometido por um só agente ou por várias pessoas, em concurso de
agentes (art. 29, CP). Ex.: homicídio. A maioria dos crimes são unissubjetivos.
Crimes plurissubjetivos (de concurso necessário ou coletivo) - É aquele que
exige a presença de mais de um agente para se configurar: a conduta descrita no
verbo nuclear sempre deve ser praticada por duas ou mais pessoas, sem
necessidade do socorro da norma de extensão do art. 29 do CP. Exemplo:
associação criminosa, rixa. Subdivide-se em:

Crimes de condutas paralelas - os agentes colaboram


mutuamente para um resultado comum. Ex.: associação
criminosa (art. 288).

Crimes de condutas convergentes ou bilaterais - as


condutas partem de pontos opostos, encontrando-se, com a
consequente produção do resultado. Ex.: bigamia (art. 235).

Crimes de condutas divergentes ou contrapostas - as


condutas se desenvolvem umas contra as outras. Ex.: rixa
(art. 137).

Crimes acidentalmente ou eventualmente coletivos - São crimes em que a


presença de mais de um agente provoca elevação da pena. Ex.: furto
qualificado pelo concurso de agentes (art. 155, § 4º, IV). 59

Sob o enfoque processual, se uma infração é praticada por várias pessoas, seja
em concurso eventual, seja em concurso necessário, dar-se-á o vínculo de
continência por cumulação subjetiva que, em regra, motivará a reunião dos
processos para julgamento conjunto (art. 77, I, do CPP).

3.5.6. Crime simples e complexo

Crimes simples - São aqueles constituídos simplesmente por uma conduta


típica. Ex.: homicídio.

Crimes complexos - Os crimes complexos se dividem em:

Crimes complexos em sentido estrito - São aqueles constituídos pela junção


de mais de uma conduta típica. Ex.: roubo = constituído pelo furto (subtração de
coisa alheia móvel) + lesão corporal ou ameaça.

Crimes complexos em sentido amplo – São aqueles constituídos pela junção


de uma conduta típica e outras condutas que, em si consideradas, não são típicas.
Ex.: estupro = constrangimento ilegal (conduta típica) + conjunção carnal ou outro
ato libidinoso (não são condutas típicas se isoladamente consideradas).

Alguns ainda mencionam os crimes ultra complexos – Crime complexo ao


qual é acrescido outro crime, que funciona como qualificadora ou causa de
aumento de pena. Ex.: roubo com causa de aumento por conta do emprego de arma
de fogo. Tem-se um crime complexo (roubo) acrescido de uma causa de aumento
que, isoladamente, constitui um tipo autônomo (porte ilegal de arma).

3.5.7. Crimes progressivos e progressão criminosa

Crime progressivo (de passagem) – Ocorre quando o agente, para chegar a


um crime mais grave, precisa passar por um crime menos grave. Ex.: para atingir
a consumação do homicídio, precisa passar pela lesão corporal. Neste caso, desde
o início a vontade era a de praticar o crime mais grave - no caso, matar.

Progressão criminosa - Ocorre quando o agente, logo após praticar um crime


menos grave, delibera e alterando seu dolo inicial, vem a praticar um crime mais
grave. Há uma evolução criminosa na vontade do agente. Ex.: sujeito decide
agredir a vítima e faz isso. Em seguida, fica ainda com mais raiva dela e decide matá-
la, vindo a eliminar sua vida.

Em ambos os casos há incidência do princípio da consunção. O agente 60


responderá, somente, pelo crime mais grave, que absorverá a infração mais branda.

3.5.8. Crime habitual

A habitualidade consiste, em matéria penal, na prática de um só crime


mediante a reiteração da conduta delitiva. Ex: art. 282, CP (exercício irregular da
medicina). Se uma pessoa se faz passar por médico e de modo habitual, começa a
clinicar, incorre nas penas do art. 282, mas saliente-se que haverá um só crime, o
qual abrange todas as falsas consultas médicas por ele realizadas. A prática de uma
só consulta, de forma isolada, não configura o crime.

Requisitos do crime habitual:

a) Repetição de atos;

b) Identidade entre tais atos;

c) Nexo de habitualidade entre eles.

Crimes habituais admitem tentativa?

Primeira Corrente - Não. Ou se forma um conjunto de atos,


consumando o crime, ou não se forma, e o fato será atípico.
(Nucci, majoritária).

Segunda corrente - Sim. Se o agente der início aos atos


executórios e for possível identificar a finalidade de
habitualidade, pode-se configurar o crime tentado. Como
registrado por Mirabete, “não há que se negar, porém, que se
o sujeito, sem ser médico, instala um consultório e é detido
quando de sua primeira consulta, há caracterização da
tentativa de crime previsto no artigo 282”.

Crimes habituais admitem prisão em flagrante a qualquer tempo?

1ª Corrente - Sim. Nesse sentido, Mirabete: “não é incabível a


prisão em flagrante em ilícitos habituais se for possível, no
ato, comprovar-se a habitualidade. Não se negaria a situação
de flagrância no caso da prisão de responsável por bordel
onde se encontram inúmeros casais para fim libidinoso, de
pessoa que exerce ilegalmente a medicina quando se
encontra atendendo vários pacientes etc.”.

2ª corrente - Não. O delito habitual, quando se consuma, não


se transforma em permanente. São classificações distintas.
Veja-se, por exemplo, que o crime permanente não exige 61
repetição de atos, cada um tem requisitos próprios. (Nucci)

Crime habitual próprio ou crime necessariamente habitual - é o crime


habitual propriamente dito. A habitualidade é requisito do fato típico, de maneira
expressa ou implícita. É o crime estudado acima.

Crime habitual impróprio ou acidentalmente habitual – neste caso, a


existência do crime não depende da reiteração da conduta; se esta ocorrer,
entretanto, haverá um só crime. Nesse sentido:

“O crime de gestão fraudulenta pode ser visto como crime


habitual impróprio, em que uma só ação tem relevância
para configurar o tipo, ainda que a sua reiteração não
configure pluralidade de crimes. Portanto, a sequência de
atos fraudulentos perpetrados já integra o próprio tipo
penal, razão pela qual não há falar, na espécie, em crime
continuado” (STJ, AgRg no AREsp 608646 / ES, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, 6ª T., j. 20/10/2015).
Crime habitual distingue-se de crime profissional. Aqui, temos um crime
habitual com exclusiva intenção de lucro. Ex: art. 230 do CP – Rufianismo.

3.5.9. Crimes de atividade e de resultado

Crimes de atividade - se consumam com a mera prática da conduta, mesmo


sem resultado naturalístico. Dividem-se em formais e de mera conduta.

Formais (ou crimes de resultado cortado) - São aqueles que se consumam


com a mera prática da conduta, embora seja possível a ocorrência de resultado
naturalístico como consequência direta da conduta. Exemplo: prevaricação (art.
319). Para sua consumação, basta que o agente deixe de praticar o ato de ofício
para satisfazer interesse pessoal, sendo desnecessário resultado naturalístico.
Porém, é possível que o crime provoque mudanças no mundo dos fatos (ex.:
causando efetivo prejuízo ao Estado).

O crime formal é espécie do gênero crime de intenção ou de tendência interna


transcendente. Veja que no crime de resultado cortado ou separado, o resultado
naturalístico (dispensável para a consumação do delito), não está na esfera de
decisão do agente, ou seja, NÃO DEPENDE de sua vontade. Outro exemplo é a
extorsão mediante sequestro, cuja vantagem ilícita visada depende de terceiros,
62
com o pagamento do resgate.

Crime Mutilado de dois atos: outra espécie de crime intenção, mas, nesse, o
resultado visado, igualmente dispensável para a consumação do delito, DEPENDE
de um novo comportamento seu, como ocorre coma falsificação de moeda, que já
se configura pela falsificação em si, mas que é praticado visando colocar o
numerário falso em circulação.

De mera conduta - São os crimes que se consumam com a mera prática da


conduta, não admitindo resultado naturalístico como consequência direta da
ação. Ex.: violação de domicílio.

Crimes de resultado (causais ou materiais) - Dependem da ocorrência de


resultado naturalístico para se consumarem. Ex.: homicídio, estupro.

3.5.10. Crime unissubsistente e plurissubsistente

Classificação que diz respeito ao número de atos executórios que integram a


conduta criminosa.

Unissubsistente – Pode ser praticado via um só ato executório, apto a


produzir a consumação. Ex.: injúria verbal. São crimes em que não cabe tentativa.
Plurissubsistente – Exige a prática de diversos atos executórios. Ex.: roubo,
estupro. É possível a tentativa, já que a conduta pode ser fracionada.

3.5.11. Crime de forma livre e forma vinculada

Crime de forma livre é aquele que não pressupõe uma maneira específica
para sua prática. Ex.: furto.

Crime de forma vinculada é aquele cuja configuração pressupõe que seja


cometido de uma maneira específica. Ex.: art. 284 do CP - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II
- usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III - fazendo diagnósticos.

3.5.12. Crime vago ou de vítimas difusas

Não possui sujeito passivo determinado. O sujeito passivo é a coletividade.

3.5.13. Crime remetido

Remete a outro tipo penal - a sua compreensão depende da consulta a essa


figura remetida. Exemplo: uso de documento falso (art. 304 do CP – “Fazer uso de
qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302”).

3.5.14. Crime condicionado 63


Aquele que depende do advento de determinada condição externa para o
início da persecução penal. Exemplo: crimes falimentares (Lei 11.101/2005, art. 180
- “A sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a
recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de
punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei”).

3.5.15. Crime de atentado ou de empreendimento

É aquele que equipara a punição da forma tentada à da forma consumada.


Exemplo: Evasão mediante violência contra a pessoa (art. 352 do CP - Evadir-se ou
tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva,
usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da
pena correspondente à violência).

3.5.16. Crime militar próprio e impróprio

São aqueles previsto no Código Penal Militar. Dividem-se em:

Crime militar próprio – Aqueles previstos apenas no Código Penal Militar.


Exemplo: Deserção (Art. 187 – “Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que
serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias”).
Crime militar impróprio – Aqueles previstos no Código Penal Militar e
também em outros diplomas. Exemplo: estupro. Se praticado por militar nas
condições do art. 9º do CPM, configura o crime do art. 232 do CPM. Do contrário,
configura o crime do art. 213 do CP.

3.5.17. Crime comum e político

Em razão do atentado contra vida do então candidato Jair Bolsonaro à


Presidência da República, atenção para esta classificação.

Políticos são os crimes praticados com propósitos políticos; por exclusão,


crimes comuns são todos os demais.

Para configuração do crime político, exige-se motivação ou finalidade


política (critério subjetivo ou finalidade especial) e que a conduta esteja
enquadrada na lei de Segurança Nacional (requisito objetivo). Diz a lei 7.170/83:

Art. 1º - Esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão:

I - a integridade territorial e a soberania nacional;

Il - o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de


Direito;
64
Ill - a pessoa dos chefes dos Poderes da União;

Art. 2º - Quando o fato estiver também previsto como crime no Código Penal,
no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão em conta, para a
aplicação desta Lei:

I - a motivação e os objetivos do agente;

II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.

Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere


privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal
ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de
fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou
subversivas.

Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se


até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo.
3.5.18. Crime exaurido

Refere-se a resultados ocorridos posteriormente à consumação. Ex.: A


extorsão mediante sequestro está consumada com a restrição da liberdade da
vítima, sendo o pagamento do resgate apenas mero exaurimento.

3.5.19. Crime a prazo

É aquele cuja configuração depende do advento de um prazo. Exemplo:


Apropriação de coisa achada (art. 169, II, CP) – ”Quem acha coisa alheia perdida
e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo
possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de quinze dias”.

3.5.20. Crimes funcionais

Praticados por funcionário público, conforme o art. 327 do CP. Podem ser:

Crimes funcionais próprios – Ausente a qualidade de funcionário público, o


fato é atípico (ex.: prevaricação).

Crimes funcionais impróprios ou mistos – Ausente a qualidade de


funcionário público, o fato continua sendo típico, porém constituindo outro delito
(ex.: quando um funcionário público subtrai para si, da repartição que trabalha,
determinado objeto, comete peculato; se um trabalhador subtrai para si, de seu
65
local de trabalho, algum bem, comete furto).

3.5.21. Crime à distância, crime em trânsito, crime de trânsito e


crime plurilocal

Crime à distância (ou de espaço máximo) - É aquele que abrange o território


de dois ou mais países. Aplica-se a teoria da ubiquidade ou mista (art. 6º -
“Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado”).

Mnemônico: Veja que o crime à Distância perpassa por Dois ou mais países.

Crime plurilocal - São aqueles cujo iter criminis abrange dois ou mais
territórios do mesmo país – ex.: capital e interior do Estado. Aplicam-se as regras
de competência do art. 70 do CPP (firmada pelo local da consumação).

Crime em trânsito (em circulação) - Dá-se quando o agente pratica o fato


em mais de um país, mas em um ou mais deles não atinge nenhum bem jurídico
de seus cidadãos. Também se denomina passagem inocente. O exemplo que
costuma ser trazido pela doutrina é o da carta injuriosa que é apenas elaborada em
um país ou passa por ele antes de chegar ao seu destino.
Crime de trânsito (de circulação) – É aquele praticado na utilização de
veículos automotores em vias terrestres, aplicando-se o CTB.

3.5.22. Crime de tendência ou de atitude pessoal

Cuidam-se de infrações penais cuja caracterização é condicionada à intenção


do agente. A análise do comportamento objetivo, isoladamente, não revela
correspondência entre o fato e a norma penal, exigindo-se investigação acerca da
finalidade do agente. São crimes que trazem como elementar uma finalidade
especial, a qual não precisa ser alcançada para a caracterização do delito.

Ex. o ato do médico que toca a região genital de uma mulher pode caracterizar
apenas um exame ginecológico ou o crime de violação sexual mediante fraude, a
depender da sua vontade.

3.5.23. Crime de opinião ou de palavra

Abrange todas as infrações penais decorrentes do abuso de liberdade do


pensamento. Não importa o meio pelo qual é praticado (por palavras, imprensa, ou
qualquer outro veículo de comunicação).

3.5.24. Crimes transeuntes ou de fato transitório (delicta facti


transeuntis) e crimes não transeuntes ou de fato permanente (delicta 66
facti permanentis)

Crime transeunte ou de fato transitório: é aquele que não deixa vestígios


materiais. Ex: injúria verbal. Não é preciso perícia.

Crime não transeunte ou de fato permanente: é aquele que deixa vestígios


materiais. Ex: homicídio. Há necessidade de perícia (exame de corpo de delito), nos
termos do art. 158 do CPP.

3.5.25. Crime gratuito

Aquele praticado sem motivo algum. Entende-se que a falta de motivo não
configura motivo fútil.

3.5.26. Crime multitudinário

Aquele cometido por um grande número de pessoas, num contexto de


tumulto (ex: briga generalizada entre duas torcidas de futebol). Quando o agente
pratica o fato sob influência de multidão em tumulto, se não foi provocador, recebe
uma atenuante na hipótese de condenação (art. 65, III, ”e”, CP).
3.5.27. Crime de ímpeto e crime premeditado

Crime de ímpeto é aquele cometido por impulso, sem prévia racionalização


ou planejamento.

Crime premeditado, ao contrário, é aquele precedido de prévia


racionalização e planejamento.

3.5.28. Crimes de acumulação

São crimes cuja conduta, isoladamente praticada, aparenta ser inofensiva.


Porém, quando praticadas reiteradamente, conforme análise conjunta, lesionam o
bem jurídico. Ex.: morador joga uma diminuta quantidade de dejetos em córrego.
Porém, todos os moradores da comunidade fazem o mesmo, poluindo o rio. Ex2:
sujeito colhe pequena quantidade de palmito. Porém, toda a população de
determinada região decide fazer o mesmo, comprometendo a vegetação. É um
fundamento para se afastar, em tais casos, o princípio da insignificância.

Por razões didáticas e para evitar repetições desnecessárias, outras


classificações serão tratadas ao longo do nosso estudo.

3.6. BEM JURÍDICO

3.6.1. NOÇÕES
67
Para uma compreensão inicial, segundo lição de Roxin, bens jurídicos
podem ser definidos como circunstâncias reais dadas ou finalidades
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta a todos os direitos
humanos e civis de cada um na sociedade ou para o funcionamento de um
sistema estatal que se baseia nestes objetivos. Cabe ao legislador, na sua
propícia função, proteger os mais diferentes tipos de bens jurídicos,
cominando as respectivas sanções, de acordo com a sua importância para a
sociedade. Assim, haverá o ilícito administrativo, o civil, o penal, etc.

O bem jurídico-penal, por seu turno, compreende os bens existenciais


valorados positivamente pelo Direito e protegidos, dentro e nos limites de uma
determinada relação social conflitiva, por uma norma penal.

No entanto, a elevação de um bem jurídico aos status de bem jurídico-penal,


não pode se afastar da execução de uma atividade seletiva dos valores existenciais,
estritamente ligada ao caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal, pois
somente assim a atuação legiferante penal poderá ser considerada legítima e em
consonância com os valores do Estado Democrático de Direito.
O direito penal, assim, somente atua e protege os bens jurídicos mais
importantes para o corpo social (vida, liberdade, patrimônio, liberdade sexual,
administração pública, etc.).

Bem jurídico não se confunde com objeto material. Objeto material é a pessoa
ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.

Exemplo (1): homicídio – o bem jurídico tutelado, ou seja, o que se busca


proteger com o tipo penal é a vida. O objeto material (ou seja, aquilo contra quem
se volta o agente) é a pessoa.

Exemplo (2): furto – o bem jurídico tutelado é o patrimônio. O objeto material


é a coisa subtraída.

3.6.2. FUNÇÕES DESEMPENHADAS PELO BEM JURÍDICO

Função Não existe crime sem bem jurídico. Este dá


fundamentadora fundamento, substrato, ao crime.

Função sistemática
O sistema é montado a partir de bens jurídicos. No
próprio CP, os crimes são classificados por bem
68
jurídicos (crimes contra a pessoa, patrimônio, etc.).

O tipo penal deve ser interpretado conforme o bem


Função interpretativa
jurídico a ele correspondente.

O bem jurídico atingido orienta a própria determinação


da competência. Ex.: se o crime é contra o trabalhador
Função processual individual, a competência, em princípio, é da Justiça
Estadual. Se há lesão à organização do trabalho, como
um todo, a competência passa a ser da Justiça Federal.
4. QUESTÕES
1. (DPC-SP/PCSP/2011) A ideia de que o Direito Penal, deve tutelar os valores
considerados imprescindíveis para a sociedade, e não todos os bens jurídicos,
sintetiza o princípio da

a) adequação social.

b) culpabilidade.

c) fragmentariedade.

d) ofensividade.

e) proporcionalidade.

2. (DPC-CE/CESPE/2011) Julgue o item que se seguem, relativos à aplicação da lei


penal: Aplica-se a novatio legis in mellius aos fatos anteriores, ainda que decididos
por sentença condenatória transitada em julgado, sem que haja violação à regra
constitucional da preservação da coisa julgada.

( ) Certo
69
( ) Errado

3. (DPC-SE/CESPE/2018) Julgue o item seguinte, relativo aos direitos e deveres


individuais e coletivos e às garantias constitucionais.

Em razão do princípio da legalidade penal, a tipificação de conduta como crime deve


ser feita por meio de lei em sentido material, não se exigindo, em regra, a lei em
sentido formal.

( ) Certo

( ) Errado

4. (PF – Perito Criminal/CESPE/2018) A fim de garantir o sustento de sua família,


Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas para posteriormente revendê-los. Certo dia,
enquanto expunha os produtos para venda em determinada praça pública de uma
cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que apreenderam a
mercadoria e o conduziram coercitivamente até a delegacia.
Com referência a essa situação hipotética, julgue o item subsequente.

O princípio da adequação social se aplica à conduta de Pedro, de modo que se


revoga o tipo penal incriminador em razão de se tratar de comportamento
socialmente aceito.

( ) Certo

( ) Errado

5. (DPC-MA/CESPE/2018) No direito penal, a analogia

a) é uma forma de autointegração da norma penal para suprir as lacunas


porventura existentes.

b) é uma fonte formal imediata do direito penal.

c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar


hipóteses não previstas em lei.

d) corresponde a uma interpretação extensiva da norma penal.

e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do direito.
70

6. (CESPE – PF – Agente de Polícia Federal – 2018) Depois de adquirir um revólver


calibre 38, que sabia ser produto de crime, José passou a portá-lo municiado, sem
autorização e em desacordo com determinação legal. O comportamento suspeito
de José levou-o a ser abordado em operação policial de rotina. Sem a autorização
de porte de arma de fogo, José foi conduzido à delegacia, onde foi instaurado
inquérito policial.

Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item seguinte.

Se, durante o processo judicial a que José for submetido, for editada nova lei que
diminua a pena para o crime de receptação, ele não poderá se beneficiar desse fato,
pois o direito penal brasileiro norteia-se pelo princípio de aplicação da lei vigente à
época do fato.

- Certo

- Errado
7. (PF – Agente/CESPE/2012) Julgue os itens a seguir com base no direito
penal.

O fato de determinada conduta ser considerada crime somente se estiver como tal
expressamente prevista em lei não impede, em decorrência do princípio da
anterioridade, que sejam sancionadas condutas praticadas antes da vigência de
norma excepcional ou temporária que as caracterize como crime.

( ) Certo

( ) Errado

8. (TJRS/FAURGS/2016)

I - Em nome do princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica, a abolitio


criminis e a lex mitior alcançam todos os fatos delitivos anteriores à sua entrada em
vigor, inclusive aqueles previstos em legislação penal temporária ou excepcional.

II - A lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos a bordo de embarcações


e aeronaves estrangeiras de propriedade privada que estejam localizadas no mar
territorial ou sobrevoando o espaço aéreo brasileiro, sendo também consideradas
como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, 71
mercantes ou de propriedade privada, localizadas em mar territorial ou no espaço
aéreo de outro país, desde que estejam a serviço do governo brasileiro.

III - Segundo dispõe o princípio da consunção, quando a concretização da prática de


um crime depende direta e necessariamente da prática de uma conduta delitiva
antecedente, o juiz, no momento da sentença, deve afastar o reconhecimento do
concurso de infrações, aplicando ao réu apenas a pena do crime mais grave.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e II.

e) Apenas II e III.
9. (DPC-AC/IBADE/2017) Analise as seguintes assertivas acerca da norma penal:

“O suicídio é um crime (assassínio) [...]. Aniquilar o sujeito da moralidade na própria


pessoa é erradicar a existência da moralidade mesma do mundo, o máximo
possível, ainda que a moralidade seja um fim em si mesma. Consequentemente,
dispor de si mesmo como um mero meio para algum fim discricionário é rebaixar a
humanidade na própria pessoa (homo noumenon), à qual o ser humano (homo
phaenomenon) foi, todavia, confiado para preservação” (KANT, Immanuel, a
Metafísica dos Costumes).

A extinção da própria vida já foi objeto de sancionamento penal em diversos países.


Esclarece Galdino Siqueira (Tratado, tomo III, p. 68) que o direito romano punia com
confisco de bens o ato de suicidar-se para fugir a uma acusação ou à pena por outro
delito. A mesma pena foi aplicada em França. O confisco-segundo o autor-persistia
na Inglaterra no início do século XX, desde que o suicídio não fosse efeito de uma
desordem mental provada. Tendo por base o confisco de bens outrora
pertencentes ao suicida - que tem herdeiros - como forma de punição penal, é
correto afirmar que responsabilização de terceiros pela conduta de alguém viola o
princípio penal, denominado:

a) individualização judicial da pena.

b) taxatividade. 72
c) intranscendência.

d) ofensividade.

e) inderrogabilidade.

10. (FCC/MPE-PE/2014) Consoante entendimento sumulado do Superior Tribunal


de Justiça,

a) é cabível a aplicação retroativa, desde que integral, das disposições da vigente lei
de drogas, se mais favoráveis ao réu, vedada a combinação de leis.

b) são irretroativas as disposições da vigente lei de drogas, ainda que mais


favoráveis ao réu, pois inadmissível a combinação de leis.

c) são retroativas as disposições da vigente lei de drogas, se mais favoráveis ao réu,


permitida a combinação de leis.

d) é cabível a aplicação retroativa, ainda que parcial, das disposições da vigente lei
de drogas, se mais favoráveis ao réu, vedada a combinação de leis.
e) são retroativas as disposições da vigente lei de drogas, mesmo que desfavoráveis
aos réus, vedada a combinação de leis.

11. (CESPE/TJBA/2019) De acordo com a doutrina predominante no Brasil


relativamente aos princípios aplicáveis ao direito penal, assinale a opção correta.

a) O princípio da subsidiariedade determina que o direito penal somente tutele uma


pequena fração dos bens jurídicos protegidos, operando nas hipóteses em que se
verificar lesão ou ameaça de lesão mais intensa aos bens de maior relevância.

b) O princípio da ofensividade, segundo o qual não há crime sem lesão efetiva ou


concreta ao bem jurídico tutelado, não permite que o ordenamento jurídico preveja
crimes de perigo abstrato.

c) O princípio da adequação social serve de parâmetro ao legislador, que deve


buscar afastar a tipificação criminal de condutas consideradas socialmente
adequadas.

d) O princípio da taxatividade, ou do mandado de certeza, preconiza que a lei penal


seja concreta e determinada em seu conteúdo, sendo vedados os tipos penais
abertos.
73
e) O princípio da bagatela imprópria implica a atipicidade material de condutas
causadoras de danos ou de perigos ínfimos.

12. (CESPE/TJPR/2019) Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi


estabelecido que os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o
dia 31 de dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar
que a referida legislação é um exemplo de lei penal:

a) excepcional.

b) temporária.

c) corretiva.

d) intermediária.

13. (FCC/TJBA/2019) Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de


Justiça, INAPLICÁVEL o princípio da insignificância:
a) aos crimes ambientais e aos crimes patrimoniais sem violência ou grave ameaça
à pessoa, se reincidente o acusado.

b) aos crimes praticados contra a criança e o adolescente e aos crimes contra a


ordem tributária.

c) às contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações


domésticas e aos crimes contra a Administração pública.

d) aos crimes de licitações e às infrações de menor potencial ofensivo, já que regidas


por lei especial.

e) aos crimes de violação de direito autoral e aos crimes previstos no estatuto do


desarmamento.

14. (VUNESP/TJRO/2019) A respeito dos princípios penais, é correto afirmar que:

a) são princípios norteadores da aplicação e execução da pena o da legalidade, o da


intranscendência da pena e o da intervenção mínima do direito penal.

b) o princípio da humanidade das penas veda que o réu permaneça algemado


durante audiência de instrução e julgamento, bem como que o condenado cumpra 74
pena em estabelecimento prisional em localidade distante da família.

c) são princípios constitucionais explícitos o da proporcionalidade, o da reserva legal


e o da insignificância.

d) o princípio da adequação social implica revogação da norma penal que estiver


em desacordo à ordem social estabelecida.

e) são princípios limitadores ao poder punitivo do Estado o da insignificância, o da


fragmentariedade e o da proporcionalidade.

15. (2017 – FAPEMS - PC-MS - Delegado de Polícia) Com relação aos princípios
aplicáveis ao Direito Penal, em especial no que se refere ao princípio da adequação
social, assinale a alternativa correta:

a) o Direito Penal deve tutelar bens jurídicos mais relevantes para a vida em
sociedade, sem levar em consideração valores exclusivamente morais ou
ideológicos.

b) só se deve recorrer ao Direito Penal se outros ramos do direito não forem


suficientes.
c) deve-se analisar se houve uma mínima ofensividade ao bem jurídico tutelado, se
houve periculosidade social da ação e se há reprovabilidade relevante no
comportamento do agente.

d) não há crime se não há lesão ou perigo real de lesão a bem jurídico tutelado pelo
Direito Penal.

e) apesar de uma conduta subsumir ao modelo legal, não será considerada típica se
for historicamente aceita pela sociedade.

16. (FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia) No que diz respeito aos
princípios aplicáveis ao Direito Penal, analise os textos a seguir:

- A proteção de bens jurídicos não se realiza só mediante o Direito Penal, senão que
nessa missão cooperam todo o instrumental do ordenamento jurídico (ROXIN,
Claus. Der echo penai- parte geral. Madrid: Civitas, 1997.1.1, p. 65).

- A criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para


a proteção de ataques contra bens jurídicos importantes (BITENCOURT, Cezar
Roberto. Tratada de direito penal: parte geral. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p.
54).

Nesse sentido, é correto afirmar que os textos se referem ao:


75
a) princípio da intervenção mínima, imputando ao Direito Penal somente fatos que
escapem aos meios extrapenais de controle social, em virtude da gravidade da
agressão e da importância do bem jurídico para a convivência social.

b) princípio da insignificância, que reserva ao Direito Penal a aplicação de pena


somente aos crimes que produzirem ataques graves a bem jurídicos protegidos por
esse Direito, sendo que agir de forma diferente causa afronta à tipicidade material.

c) princípio da adequação social em que as condutas previstas como ilícitas não


necessariamente revelam-se como relevantes para sofrerem a intervenção do
Estado, em particular quando se tornarem socialmente permitidas ou toleradas.

d) princípio da ofensividade, pois somente se justifica a intervenção do Estado para


reprimir a infração com aplicação de pena, quando houver dano ou perigo concreto
de dano a determinado interesse socialmente relevante e protegido pelo
ordenamento jurídico.

e) princípio da proporcionalidade, em que somente se reserva a intervenção do


Estado, quando for estritamente necessária a aplicação de pena em quantidade e
qualidade proporcionais à gravidade do dano produzido e a necessária prevenção
futura.
17) (2014 – FUNCAB - PC-RO - Delegado de Polícia Civil) São princípios que
solucionam o conflito aparente de normas penais:

a) insignificância, consunção, subsidiariedade e alteridade.

b) insignificância , alteridade, consunção e alternatividade.

c) especialidade, alteridade, consunção e subsidiariedade.

d) especialidade, alternatividade, subsidiariedade e insignificância.

e) especialidade, consunção, subsidiariedade e alternatividade.

18) (2018 – NUCEPE - Delegado de Polícia Civil – PIAUÍ) Em relação à aplicação da


lei penal é CORRETO afirmar que:

a) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes


cometidos contra a vida ou o patrimônio do presidente da república;

b) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes


praticados por brasileiro; mesmo que o fato não seja punível também no país em
76
que foi praticado;

c) ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes contra


o patrimônio ou a fé pública da união, do distrito federal, de estado, de território,
de município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo poder público;

d) para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as


embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza privada onde quer que se
encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras mercantes, que
se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar;

e) é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou


embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso
no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto
ou em alto-mar.

19) (2019 – AOCP – Investigador da Polícia Civil – ES) De acordo com o Código
Penal, assinale a alternativa correta.
a) Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução, mas não os efeitos penais da sentença
condenatória

b) A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, exceto se decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

c) Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as


embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo
brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente,
no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

d) Considera-se praticado o crime no momento em que o agente atinge o resultado


pretendido.

e) Em nenhuma situação, a lei brasileira pode ser aplicada aos crimes praticados a
bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada.

20. (CESPE – PRF – Policial Rodoviário Federal - 2009) O art. 1.º do Código Penal
brasileiro dispõe que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal”. Considerando esse dispositivo legal, bem como os
77
princípios e as repercussões jurídicas dele decorrentes, julgue o item que se segue.

O presidente da República, em caso de extrema relevância e urgência, pode editar


medida provisória para agravar a pena de determinado crime, desde que a
aplicação da pena agravada ocorra somente após a aprovação da medida pelo
Congresso Nacional.

- Certo

- Errado

21. (CESPE – PF – Delegado de Polícia Federal – 2018) Em cada item a seguir, é


apresentada uma situação hipotética, seguida de uma assertiva a ser julgada com
base na legislação de regência e na jurisprudência dos tribunais superiores a
respeito de execução penal, lei penal no tempo, concurso de crimes, crime
impossível e arrependimento posterior.

Manoel praticou conduta tipificada como crime. Com a entrada em vigor de nova
lei, esse tipo penal foi formalmente revogado, mas a conduta de Manoel foi inserida
em outro tipo penal. Nessa situação, Manoel responderá pelo crime praticado, pois
não ocorreu a abolitio criminis com a edição da nova lei.

- Certo

- Errado

22. (MPE-RS, 2014) Considere, abaixo, a norma disposta no art. 7º, inciso II, alínea c,
do Código Penal.

“Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro [...], os crimes [...]
praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados”.

Esse inciso II, em sua alínea c, define o princípio da:

a) proteção.

b) justiça universal.

c) representação.

d) defesa.
78
e) territorialidade.

23. (FCC, TJ-SE, 2015) João, brasileiro, é vítima de um furto na cidade de Paris, na
França. O autor do delito foi identificado na ocasião, José, um colega brasileiro que
residia no mesmo edifício que João. A Justiça francesa realizou o processo e ao final
José foi definitivamente condenado a uma pena de 2 anos de prisão. Ambos
retornaram ao país e José o fez antes mesmo de cumprir a sua condenação. Neste
caso, conforme o Código Penal brasileiro:

a) não se aplica a lei penal brasileira, pois José já foi condenado pela justiça francesa.

b) aplica-se a lei penal brasileira por ser o furto um delito submetido à


extraterritorialidade incondicionada.

c) aplica-se a lei penal brasileira, desde que haja requisição do Ministro da Justiça.

d) aplica-se a lei penal brasileira, se não estiver extinta a punibilidade segundo a lei
mais favorável.

e) não se aplica a lei penal brasileira por ter sido o crime cometido em outro país.
24. (FUNTADEC – PC/RS – 2018 – Delegado de Polícia) Analise as assertivas a
seguir, de acordo com a classificação doutrinária dos crimes:

I. Os crimes formais também podem ser definidos como crimes de resultado


cortado.

II. O crime de furto é classificado como crime instantâneo, porém há a possibilidade


de um crime de furto ser considerado, eventualmente, crime permanente.

III. O crime de lesão corporal grave em decorrência da incapacidade para as


ocupações habituais por mais de 30 dias é classificado, em relação ao momento
consumativo, como um crime a prazo.

IV. Pode-se dizer que o crime de tráfico de drogas, previsto no artigo 33, caput, da
Lei nº 11.343/2006, é um exemplo de crime de perigo abstrato e unissubjetivo.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III e IV.


79
d) Apenas I, II e III.

e) I, II, III e IV.

25. (TJPR 2019) Nas disposições penais da Lei Geral da Copa, foi estabelecido que
os tipos penais previstos nessa legislação tivessem vigência até o dia 31 de
dezembro de 2014. Considerando-se essas informações, é correto afirmar que a
referida legislação é um exemplo de lei penal:

a) excepcional.

b) temporária.

c) corretiva.

d) intermediária.
26. (MPE-MG/FUNDEP/2018) O art. 14, II, Parágrafo único, do Código Penal,
estabelece que “salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços”.
Excepcionalmente, contudo, a lei penal pátria descreve condutas cujo tipo prevê a
punição da tentativa com a mesma pena abstratamente aplicável ao crime
consumado. É o que sucede, v.g., com o crime tipificado no art. 352, do Código Penal:
“Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de
segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa”: Tal espécie delitiva é
classificada pela doutrina como:

a) Crime vago.

b) Crime plurissubsistente.

c) Crime de empreendimento.

d) Crime de impressão.

27. (TJ-GO/FCC/2015) Segundo entendimento sumulado do Superior Tribunal de


Justiça, os crimes de extorsão e de corrupção de menores são de natureza:

a) material e de mera conduta, respectivamente. 80


b) formal.

c) formal e material, respectivamente.

d) material e formal, respectivamente.

e) material.

28. (MPE-MS/2011) Em que consiste o crime de mão própria?

a) O crime de mão própria pode ser praticado por qualquer pessoa;

b) O crime de mão própria somente pode ser praticado mediante paga ou promessa
de recompensa;

c) O crime de mão própria somente pode ser praticado contra criança ou


adolescente;

d) O crime de mão própria é aquele que somente pode ser praticado pela pessoa
expressamente indicada no tipo penal;
e) O crime de mão própria só pode ser praticado por pessoas de certa faixa etária.

29. (MPE-PB/2010) Analise as assertivas abaixo, assinalando, em seguida, a


alternativa que sobre elas contenha o correto julgamento:

I - O crime de apropriação de coisa achada é exemplo do que a doutrina denomina


de crime a prazo.

II - Os crimes condicionados não admitem tentativa.

III - Crimes vagos são aqueles que não possuem objeto material determinado.

IV - A ameaça praticada verbalmente constitui hipótese de crime não transeunte.

a) Todas as assertivas estão erradas.

b) Estão corretas apenas as assertivas I e II.

c) Nenhuma das assertivas está errada.

d) Estão corretas apenas as assertivas I e IV.

e) Apenas a assertiva III está errada. 81

30. (CESPE/TJ-DFT/2015) Acerca do crime e da aplicação da lei penal no tempo e


no espaço, julgue o item que se segue.

Sob o prisma formal, crime corresponde à concepção do direito acerca do delito,


em uma visão legislativa do fenômeno; sob o prisma material, o conceito de
crime é pré-jurídico, ou seja, é a concepção da sociedade a respeito do que pode
e deve ser proibido.

( ) Certo ( ) Errado

31. (CESPE/TJSC/2019) A respeito da classificação dos crimes, assinale a opção


correta:

a) O crime de associação criminosa configura-se como crime obstáculo; o de


falsidade documental para cometimento de estelionato é crime de atitude pessoal.

b) O crime de uso de documento falso configura-se como crime remetido; e o de


uso de petrechos para falsificação de moeda, como crime obstáculo.
c) O crime de tráfico de drogas configura-se como crime vago; o de extorsão
mediante sequestro constitui crime profissional.

d) O crime de falso testemunho configura-se como crime de tendência; e o de


injúria, como crime de ação astuciosa.

e) O crime de rufianismo configura-se como crime de intenção; o de curandeirismo


constitui crime de olvido.

32. (FCC/TJAL/2019) No que toca à classificação doutrinária dos crimes:

a) é imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico para a consumação dos


delitos materiais e formais.

b) é normativa a relação de causalidade nos crimes omissivos impróprios ou


comissivos por omissão, prescindindo de resultado naturalístico para a sua
consumação.

c) os crimes unissubsistentes são aqueles em que há iter criminis e o


comportamento criminoso pode ser cindido.

d) os crimes omissivos próprios dependem de resultado naturalístico para a sua 82


consumação.

e) os crimes comissivos são aqueles que requerem comportamento positivo,


independendo de resultado naturalístico para a sua consumação, se formais.

33. (DPCES – ACESSO – 2019) Tício, morador do Rio de Janeiro, começou a namorar
Gabriela, uma jovem moradora da cidade de São Paulo. Com o passar do tempo e
os efeitos da distância, Tício, motivado por ciúmes, resolveu tirar a vida de Gabriela.
Pôs-se então a planejar a prática do crime em sua casa, no Rio de Janeiro, tendo
adquirido uma faca, instrumento com o qual planejou executar o crime. No dia em
que seguiu para São Paulo para encontrar Gabriela, que lhe o esperava na
rodoviária, Tício combinou com a jovem uma viagem a passeio para o Espírito Santo.
Ao ingressarem no ônibus que os levaria de São Paulo para o Espírito Santo, Tício
afirmou para Gabriela que iria matá-la. Todavia, dada a calma de Tício, a jovem
achou que se tratava de uma brincadeira. Durante o trajeto, Tício, ofereceu a ela
uma bebida contendo substância que causava a perda dos sentidos. Após Gabriela
beber e dormir, sob efeito da substância, enquanto passavam pela BR-101, no Rio
de Janeiro, Tício passou a desferir golpes com a faca no peito da jovem. Quando
chegou ao destino, Tício se entregou para polícia, e Gabriela, embora tenha sido
socorrida, veio a óbito ao chegar ao Hospital.
O crime descrito no texto foi praticado, de acordo com a lei penal, no momento

a) da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. trata-se,


portanto, do momento em que tício desferiu os golpes em gabriela.

b) em que o agente se prepara para a promoção da conduta criminosa. ou seja,


trata-se do momento em que tício planejou e adquiriu as ferramentas necessárias
ao cometimento do crime.

c) em que a autoridade policial toma conhecimento do crime. ou seja, quando tício


se entregou para a polícia.

d) em que é alcançada a consumação do crime. trata-se, portanto, do momento da


morte de gabriela, que ocorreu no hospital.

e) da ação ou omissão, se este for concomitante ao resultado. não sendo possível


determiná-lo, no presente caso, em razão da separação temporal entre a conduta e
o resultado.

34. (2018 Banca: VUNESP - Delegado de Polícia - DPCSP) João comete um crime
no estrangeiro e lá é condenado a 4 anos de prisão, integralmente cumpridos. Pelo
mesmo crime, João é condenado no Brasil à pena de 8 anos de prisão. João 83
a) cumprirá 8 anos de prisão no brasil, uma vez que para essa quantidade de pena
não se reconhece o cumprimento no estrangeiro.

b) não cumprirá pena alguma no brasil caso de trate de país com o qual o brasil tem
acordo bilateral para reconhecer cumprimento de pena.

c) não cumprirá pena alguma no brasil, uma vez já punido no país em que o crime
foi cometido.

d) cumprirá 8 anos de prisão no brasil, uma vez que o brasil não reconhece pena
cumprida no estrangeiro.

e) ainda deverá cumprir 4 anos de prisão no brasil.

35. (MPE/MS/2018) Analise as proposições a seguir:

I. Segundo entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal, no crime


continuado, se entrar em vigor lei mais grave enquanto não cessada a continuidade,
aplica-se a lei penal mais grave.
II. O princípio da continuidade normativa típica, conforme posição do Superior
Tribunal de Justiça, ocorre quando uma norma penal é revogada, porém, a mesma
conduta continua tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente
diverso do originário.

III. Na fase de execução da sentença condenatória, com a definição da culpa do


condenado, não se aplica a lex mitior.

IV. A lei penal brasileira é aplicável aos crimes cometidos em aeronaves estrangeiras
de propriedade privada que estiverem sobrevoando o espaço aéreo brasileiro.

Assinale a alternativa correta.

a) Todos os itens estão corretos.

b) Somente os itens I, II e III estão corretos.

c) Somente os itens III e IV estão corretos.

d) Somente os itens I, II e IV estão corretos.

e) Somente os itens II, III e IV estão corretos.

84
36. (MPE-SP, 2015) Após leitura dos enunciados abaixo, assinale a alternativa falsa:

a) O princípio da legalidade tem como fundamento o princípio nullum crimen, nulla


poena sine praevia lege.

b) No tocante ao tempo do crime, o Código Penal Brasileiro adotou a teoria da


atividade, que o considera como o momento da conduta comissiva ou omissiva.

c) No tocante ao lugar do crime, o Código Penal Brasileiro adotou a teoria da


atividade, que o considera como o local onde ocorreu a conduta criminosa.

d) Lei excepcional, por ter ultratividade, pode ser aplicada a fatos praticados durante
sua vigência mesmo após sua revogação.

e) A lei penal, ao entrar em conflito com lei penal anterior, pode apresentar as
seguintes situações: novatio legis incriminadora, abolitio criminis, novatio legis in pejus
e novatio legis in mellius.
5. GABARITO COMENTADO
1. Letra “C”: A fragmentariedade decorre do raciocínio de que o Direito Penal
divide (fragmenta) as relações sociais para selecionar os “fragmentos” de bens
jurídicos cuja defesa é importante o suficiente para o aparato penal do Estado.

2. CERTO: A novatio legis in mellius retroage até mesmo nos casos de coisa
julgada, bastando a análise do parágrafo único do art. 2º do CP: “A lei posterior, que
de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado”.

3. ERRADO: É necessário que as normas penais incriminadoras estejam


previstas em lei em sentido formal, em observância ao princípio da reserva legal, o
que inclui o respeito ao devido processo legislativo.

4. ERRADO: Prevalece que se trata de conduta típica prevista no CP. Súmula


502 do STJ: Presentes a materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao
crime previsto no art. 184, 2º, do cp, a conduta de expor a venda cds e dvds piratas.

5. “A”: A fonte material da Lei penal é o próprio Estado. As fontes formais se


dividem em imediatas (lei) e mediatas (costumes, doutrina, jurispridência e
princípios gerais de direito). A analogia é meio de integração das normas penais,
apenas quando benéfica ao réu, pois veda-se a analogia in malam partem penal. A
analogia legis consiste na aplicação de norma jurídica já existente a um caso
85
semelhante, enquanto a analogia iuris se vale de princípios jurídicos para realizar a
integração, por não existir dispositivo legal semelhante no caso concreto.

6. Errada: Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória.

Parágrafo único - A LEI POSTERIOR, QUE DE QUALQUER MODO FAVORECER O


AGENTE, APLICA-SE AOS FATOS ANTERIORES, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.

7. ERRADA: A intenção da questão era confundir o candidato acerca das


normas temporárias ou excepcionais. Tais espécies são dotadas de ultratividade,
pois continuam a disciplinar situações ocorridas durante a sua vigência, mesmo
após sua revogação. No entanto, não se pode atingir o princípio da anterioridade,
gerando incidência retroativa de lei penal, como sugere a assertiva.

8. Letra "B": Nos termos do art. 5º do CP, "aplica-se a lei brasileira, sem
prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime
cometido no território nacional. § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como
extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza
pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como
as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves
ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em
pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas
em porto ou mar territorial do Brasil".

Quanto a assertiva I, as leis temporárias e excepcionais têm a marca da


ultratividade; no caso da III, não necessariamente é o crime mais grave que absorve
o menos grave, vide súmula 17 do STJ: “ quando o falso se exaure no estelionato,
sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.

9. Letra "C": Correto é o princípio da intranscendência, que basicamente


significa que a pena não deve passar da pessoa do condenado. Dentre os princípios
restantes, vimos que o da individualização da pena evita a padronização da
punição, ajustando a quantidade da reprimenda às circunstâncias de cada caso e
de cada agente. Deve ser respeitado na esfera legislativa, judiciária e executória
da pena. O da inderrogabilidade reza que uma vez praticada um delito, a pena
deverá ser aplicada (perdão judicial é exceção). A ofensividade traduz o caráter
de ultima ratio do Direito Penal e a taxatividade implica na exigência de definição
clara dos tipos penais, sem deixar dúvidas para a sua aplicação.
86
10. Letra “A”: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde
que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável
ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a
combinação de leis”.

11. Letra “C”

(A) INCORRETA: De acordo com o princípio da subsidiariedade, a atuação do


Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais
meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da
ordem pública. Em outras palavras, o Direito Penal funciona como um executor de
reserva, entrando em cena somente quando outros meios estatais de proteção mais
brandos, e, portanto, menos invasivos da liberdade individual não forem suficientes
para a proteção do bem jurídico tutelado.

(B) INCORRETA: De acordo com o princípio da ofensividade ou lesividade, não


há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão
ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência de delimitação do
Direito Penal, tanto em nível legislativo como no âmbito jurisdicional.
(C) CORRETA: De acordo com esse princípio, não pode ser considerado
criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afrontar o
sentimento social de Justiça.

(D) INCORRETA: “Lege certa”, taxatividade ou mandato de certeza O princípio


da legalidade jamais cumprirá seu papel se a lei, ainda que anterior à conduta,
puder ser editada de tal modo genérico ou vago, que não se possa delimitar, com
segurança e concretude, quais comportamentos a ela se subsumem. Por isso, são
inconstitucionais os tipos penais vagos. Deve a lei penal ser concreta e determinada
em seu conteúdo, sob pena de gerar incertezas quanto à sua aplicação e,
consequentemente, provocar indesejável insegurança jurídica. (André Estefam e
Victor Eduardo Rios Gonçalves - Direito penal esquematizado: parte geral) No
entanto, apesar de vedados os crimes genéricos/vagos, a taxatividade não impede
a formação de normas penais em branco ou os chamados tipos penais abertos.

(E) INCORRETA: Para tal princípio, sem previsão legal no Brasil, inexiste
legitimidade na imposição da pena nos casos em que, nada obstante a infração
penal esteja indiscutivelmente caracterizada, a aplicação da reprimenda desponte
como desnecessária e inoportuna. Apresenta desvalor da conduta e desvalor do
resultado. O fato é típico e ilícito, o agente é dotado de culpabilidade e o Estado
possui o direito de punir (punibilidade). É de se observar que a bagatela imprópria
tem como pressuposto inafastável a não incidência da bagatela própria. Com efeito,
se o fato não era merecedor da tutela penal, em decorrência da sua atipicidade,
87
descabe enveredar pela discussão acerca da necessidade ou não de pena.

12. Letra “B”: A Lei Geral da Copa insere-se perfeitamente no conceito de lei
temporária, que, segundo a doutrina, possui cláusula de autorrevogação, com data
específica e determinada para o término da vigência da lei. Difere da lei excepcional,
que prevê para o término de vigência um evento futuro, porém, sem data definida,
como o término de uma Guerra, por exemplo.

13. Letra “C”: A questão merece atenção, na medida em que a alternativa


correta é aquela que possui todos os exemplos compatíveis com a exigência do
enunciado. Assim sendo, temos:

(A) Incorreta: Para o STJ, aplica-se a insignificância aos crimes ambientais


(AgRg no AREsp 654.321/SC) e patrimoniais sem violência ou grave ameaça à pessoa
(AgRg no AREsp 19042/DF), se reincidente o acusado (REsp 1509985/RJ).

(B) Incorreta: Segundo o STJ, é INAPLICÁVEL o princípio da insignificância aos


crimes praticados contra a criança e o adolescente e APLICÁVEL aos crimes contra a
ordem tributária (REsp 1.709.029/MG).
(C) Correta: Para o STJ, é INAPLICÁVEL o princípio da insignificância às
contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações
domésticas (Súmula 589) e aos crimes contra a Administração pública (Súmula 599)

(D) Incorreta: Segundo o STJ, é APLICÁVEL o princípio da insignificância aos


crimes de licitações (Súmula 599-STJ) e às infrações de menor potencial ofensivo, já
que regidas por lei especial (Não há relação entre a aplicação do princípio da
insignificância e regência das infrações por leis especiais).

(E) Incorreta: Segundo o STJ, é INAPLICÁVEL o princípio da insignificância aos


crimes de violação de direito autoral (AgRg no REsp 1380149/RS ) e APLICÁVEL, aos
crimes previstos no estatuto do desarmamento (Há exceção, pois é inaplicável aos
crimes de posse e de porte de arma de fogo - HC 338153/RS).

14. Letra “E”

(A) INCORRETA: Só o princípio da intranscendência está ligado de forma mais


próxima à aplicação e à execução da pena, na medida em que significa que a pena
não pode passar da pessoa do delinquente. O princípio da legalidade, por sua vez,
é limitação do poder punitivo do Estado em face das máximas garantias do cidadão.
Por fim, o princípio da intervenção mínima visa garantir que a intervenção estatal
no plano individual ocorra, apenas, quando estritamente necessário.

(B) INCORRETA:
88
Princípio da humanidade das penas - a pena deve respeitar os direitos
fundamentais do condenado enquanto ser humano. Não pode, assim, violar a sua
integridade física ou moral (CF, art. 5.º, XLIX). Da mesma forma, o Estado não pode
dispensar tratamento cruel, desumano ou degradante ao preso. Com esse
propósito, o art. 5.º, XLVII, da CF proíbe as penas de morte, de trabalhos forçados,
de banimento e cruéis, bem como a prisão perpétua. Assim sendo, há proximidade
do mencionado princípio com a vedação do cumprimento de pena em
estabelecimento prisional em localidade distante da família. Por outro lado, a
vedação de que o réu permaneça algemado durante audiência de instrução e
julgamento, está mais estreitamente ligada ao princípio da presunção de inocência.

(C) INCORRETA: É explícito o princípio da legalidade da reserva legal (art. 5º,


XXXIX, CF). Entretanto, são implícitos o princípio da proporcionalidade e o da
insignificância.

(D) INCORRETA: Para o princípio da adequação social, não pode ser


considerado criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei,
não afrontar o sentimento social de Justiça. Todavia, a adequação social não implica
revogação da norma penal.
(E) CORRETA: Os princípios da fragmentariedade, da subsidiariedade e da
insignificância (que causa atipicidade material da conduta), decorrentes da
intervenção mínima, limitam o poder punitivo estatal afirmando ser legítima a
intervenção penal apenas quando a criminalização de um fato se constitui meio
indispensável para a proteção de determinado bem ou interesse, não podendo ser
tutelado por outros ramos do ordenamento jurídico.

15. Letra “E”: Traz a exata definição do princípio da adequação social.

16. Letra “A”: Conforme vimos no nosso ponto, os textos se encaixam


perfeitamente na noção de intervenção mínima do Estado. Somente devemos
“chamar” o Direito Penal quando os demais meios “falharem”. Como vemos na
própria assertiva: “Direito Penal somente fatos que escapem aos meios extrapenais
de controle social, em virtude da gravidade da agressão e da importância do bem
jurídico para a convivência social.”

17. Letra “E”: Os princípios da especialidade, consunção, subsidiariedade e


alternatividade são os que solucionam o conflito aparente, lembrando que o da
alternatividade não detém unanimidade da doutrina.

18. C:

a) Erro está em falar patrimônio do presidente.


89
b) os crimes praticados por brasileiro em território estrangeiro concorre para
uma série de condições dentre elas ser o fato punível também no país que foi
praticado (CP, art.7°, §2°, b).

c) CORRETO. (CP, art. 7°, I, b) - Princípio da Justiça Universal - Ficam sujeitos à


lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro: b) contra o patrimônio ou a fé
pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída
pelo Poder Público;

d) Erro está na palavra “privada”

e) O erro da alternativa está na parte final "... alto-mar", se a embarcação ou a


aeronave estiver em alto-mar será aplicada legislação do país que o navio estiver
matriculado e no caso da aeronave ao país que a pertencer.

19. C:

a) Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória.
b) Art. 2º, Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença
condenatória transitada em julgado.

c) Art. 5º, § 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do


território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou
a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que
se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

d) Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado.

e) Art. 5º, §2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo
de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

20. Errada: Nos termos da CF, art. 62, §1º, ‘b’, é vedada a edição de MP
versando sobre direito penal. Há o entendimento sobre ser possível em âmbito
penal quando for para beneficiar o réu, no entanto.

21. Correta: A questão trata do princípio da continuidade típico-normativa,


no qual um tipo penal é apenas redirecionado a outro, sem ocorrência de abolitio
90
criminis que consiste em efetiva “destipificação”. Lembre-se do exemplo do delito de
atentado violento ao pudor (art. 214/CP), que passou a ter o seu inteiro teor contido
no tipo penal de estupro art. 213/CP

22. "C”: Trata-se do princípio da representação, bandeira ou pavilhão.

23. “D”: Art. 7º, II, “b”, e § 2º, “e”, do Código Penal. O agente era brasileiro,
entrou no território nacional, o furto está incluído no rol de crimes que o Brasil
autoriza a extradição, o agente não foi absolvido no estrangeiro nem lá cumpriu a
pena, não estando extinta a punibilidade (ver tabelas acimas no ponto específico).

24. “E”: I: certo. Crimes formais = crimes de resultado cortado. O tipo penal
contém conduta e resultado naturalístico, mas dispensa esse último para fins de
consumação. Se o resultado ocorrer haverá o chamado exaurimento.

II: certo. O crime de furto é, em regra, crime instantâneo. No entanto, em


certos casos ele pode ser permanente, como no furto de energia elétrica.

III: certo. O crime de lesão corporal grave pela incapacidade para as ocupações
habituais por mais de 30 dias é denominado crime a prazo, pois a sua consumação
depende do decurso de certo lapso temporal. Veja o art. 168, §2º, CPP: Se o exame
tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá
ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

IV: certo. Segundo a posição majoritária, o tráfico de drogas é crime de perigo


abstrato: não é preciso demonstrar o perigo concreto que as condutas do tipo
apresentam, há presunção absoluta. Ademais, o delito pode ser denominado de
crime unissubjetivo ou de concurso eventual.

25. “B”: A Lei Geral da Copa insere-se perfeitamente no conceito de lei


temporária, que, segundo a doutrina, possui cláusula de autorrevogação, com data
específica e determinada para o término da vigência da lei. Difere da lei excepcional,
que prevê para o término de vigência um evento future, porém sem data definida,
como o término de uma Guerra, por exemplo.

26. C: aquele em que a lei pune de forma idêntica o crime consumado e a


forma tentada.

A. Incorreta. Crime vago é aquele em que figura como sujeito passivo uma
entidade destituída de personalidade jurídica, como a família ou a sociedade.
Exemplo: tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 33, caput), no qual o sujeito passivo
é a coletividade.

B. Incorreta. Crimes plurissubsistentes: aqueles cuja conduta se exterioriza


por meio de dois ou mais atos, os quais devem somar-se para produzir a
91
consumação. É o caso do crime de homicídio praticado por diversos golpes de faca.

D. Incorreta. Crime de intenção é o delito que desperta na vítima determinado


estado anímico. Pode ser dividido em: a) crime de sentimento: recai nas faculdades
emocionais, como a injúria; b) crime de inteligência: recai nas faculdades cognitivas
da vítima, enganando-a, como o estelionato; c) crime de vontade: recai na
autodeterminação, como o constrangimento ilegal.

27. B: Súmula n° 96 do STJ: O crime de extorsão consuma-se


independentemente da obtenção da vantagem indevida. Súmula 500 do STJ:
configuração do crime previsto no artigo 244-B do Estatuto da Criança e do
Adolescente independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de
delito formal.

28. D: O crime de mão própria é aquele que somente pode ser praticado pelo
próprio agente, diretamente. Ex.: falso testemunho. Somente a própria testemunha
pode ir ao juiz e praticar o crime. Os crimes de mão própria admitem participação,
mas não coautoria.

29. B: Crime a prazo é aquele que depende do advento de determinado


período para sua configuração. O crime de apropriação de coisa achada é exemplo
do que a doutrina denomina de crime a prazo. Quanto aos crimes condicionados,
entende-se que não admitem tentativa*.

* Nota: Embora ainda não tenhamos estudado a tentativa, o aluno poderia


resolver a questão apenas com o conteúdo trazido até então. Use o que sabe para
excluir assertivas. Não existe questão perdida!

Crime vago: figura como sujeito passivo uma entidade sem personalidade
jurídica. Crime não transeunte é aquele que deixa vestígios materiais.

30. Certo: A assertiva é autoexplicativa, trazendo os conceitos formal e


material de crime.

31. B

(A) Incorreta. De fato, a associação criminosa é crime-obstáculo (incriminação


antecipada) mas a falsidade documental para cometimento de estelionato não é
crime de atitude pessoal (delito de tendência), pois a falsificação do documento
configura crime por si só, bastando o dolo genérico de falsificar,
independentemente de dolo específico.

(B) Correta. O crime de uso de documento falso é de tipo remetido, pois a


redação do tipo penal faz referência (remete) aos arts. 297 a 302. O crime de
petrechos de falsificação de moeda é crime-obstáculo (incriminação antecipada,
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independente da efetiva falsificação).

(C) Incorreta. O tráfico de drogas de forma genérica é crime vago (sem vítima
específica, pois a vítima é a coletividade e o bem jurídico é a saúde pública). Já o
crime de extorsão mediante sequestro não é crime profissional, pois não se exige
que seja praticado no exercício da profissão ou em razão dela.

(D) Incorreta. O crime de falso testemunho é de ação astuciosa, pois vale-se o


agente de uma fraude, uma mentira, quando da sua prática. Já a injuria é delito de
tendência, pois é necessário o dolo específico de violar a honra subjetiva alheia.

(E) Incorreta. A doutrina entende que no rufianismo há crime de intenção, pois


o dolo específico é tirar proveito da prostituição alheia. Os crimes de olvido são os
crimes omissivos impróprios culposos, não se enquadrando o curandeirismo, que
não admite a culpa.

32. E

(A) Incorreta. É imprescindível a ocorrência de resultado naturalístico para a


consumação dos delitos materiais. Os crimes formais se caracterizam com a mera
prática da conduta não necessitando da ocorrência do resultado naturalístico,
embora seja possível.
(B) Incorreta. Os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são
crimes que descrevem uma ação e são praticados por meio de uma inatividade. Tais
crimes são próprios e materiais, ou seja, é imprescindível a ocorrência de resultado
naturalístico para a sua consumação.

(C) Incorreta. Os crimes unissubsistentes são aqueles em que a conduta é


composta de um único ato e, por isso, são crimes que não admitem a forma tentada.

(D) Incorreta. Os crimes omissivos próprios são crimes de mera conduta, ou


seja, não admitem resultado naturalístico como consequência direta da ação. Assim,
o omitente não responde pelo resultado naturalístico eventualmente produzido,
mas somente pela sua omissão.

(E) Correta.

33. A: A banca trouxe um enunciado enorme para cobrar algo bem simples
que vimos em nosso ponto, a teoria que explica o momento do crime no Código
Penal. O Código Penal em seu referido art. 4º, dispõe sobre a ação e omissão do
cometimento do crime, ou seja o tempo do crime, que se concretiza a partir da ação
do autor independente do resultado.

Tempo do crime

Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou


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omissão, ainda que outro seja o momento do resultado

34. E: Na época a questão trouxe muito alvoroço, mas, com a leitura do artigo
8º e um pouco de objetividade, chegaríamos à resposta. Não acho que foi a questão
mais brilhante já elaborada, mas, não concordo com uma questão clássica de
anulação. Vamos ao artigo:

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo


mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

35. “D”:

I - É exatamente o que se depreende do enunciado 711 da súmula do STF.

II - O enunciado retrata a aplicação do princípio da continuidade típico-


normativa. O caso mais conhecido é o da revogação do artigo que previa o atentado
violento ao pudor (art. 214) que, contudo, passou a ser contemplado por outros
delitos contra a dignidade sexual, não havendo que se falar em abolitio criminis
justamente em razão de continuar sendo penalmente relevante.

III - Incorreta. Prevê o art. 2º, parágrafo único, do CP, que a lei mais benéfica
deve ser aplicada mesmo diante da existência de coisa julgada.
IV - É exatamente o que prevê o artigo 5º, §2º, do CP.

36. “C”: Nos termos do art. 6º do CP, “considera-se praticado o crime no lugar
em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se
produziu ou deveria produzir-se o resultado”. Adota-se a teoria da ubiquidade ou
mista: o crime deve ser considerado praticado tanto no território brasileiro, quanto
estrangeiro. Ex.: Conduta se dá no Brasil, resultado se dá no exterior.

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