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Copyright do texto © 2020 Tibério Z

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reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio,
eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema
de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito,
exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou
artigos de revistas.

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

ISBN nº 978-65-00-18386-3

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Prefácio do Autor

Olá, sou Tibério Z, metafísico e estudante da espiritualidade e


estou imensamente grato de você estar aqui interessado em
Atenção Plena, seja para aprender do zero ou para acrescentar algo
aos conhecimentos que já tenha.

Esse livro foi escrito de forma singela, mas muito amorosa,


com a intenção de ser um curso teórico e prático sobre como
aplicar a Atenção Plena no nosso dia a dia.

Espero que você esteja empolgado e aberto a todas as


mudanças positivas que a Atenção Plena pode trazer para sua vida.
Não é exagero dizer que ela mudou a minha em todos os aspectos!
Praticar Atenção Plena é caminhar pela jornada de transformação da
mente de um mal senhor para um bom servo à consciência. Vamos
juntos?

'Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo.'

Provérbio Africano

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Prefácio da Editora

Conheci o trabalho do professor Tibério em uma dessas incríveis


sincronicidades da vida. Eu estava fazendo o ~maravilhoso~ curso
de Cristais dele e um dia pensei, 'nossa seria incrível trabalhar com
esse cara!'. Na hora não entendi esse pensamento, pois minha área de
atuação profissional era bem diferente das que um possível trabalho
com ele exigiriam, então não dei ouvidos à minha intuição e deixei
passar.

O Universo em sua infinita bondade, resolveu me dar uma nova


chance e ao acompanhar o grupo do telegram do professor, li um
comentário em que ele dizia estar precisando de alguém para ajudá-lo
com seus textos, mas que sabia que o Universo agiria a favor, então
me enchi de coragem e me candidatei à vaga. Felizmente, o
professor, tanto quanto eu, acredita nas sincronicidades dos bons
encontros e me acolheu muito receptivamente.

Assim nossa parceria começou e fico imaginando para além da


terceira dimensão tudo que não precisou ser orquestrado para esse
simples encontro. Aliás, tamanha simplicidade e fluidez me
lembram que esse é o nosso maior tesouro e a nossa maior riqueza.

Esse trabalho, e por consequência, esse livro são tão valiosos em


meu coração que não consigo nem quantificar. Aprendi muito e
coloquei em cada linha mais amor do que já havia. Esse projeto
nasceu porque quis nascer, certamente alguém no mundo precisa dele
e eu fico imensamente grata de, juntamente com o professor Tibério,
ser um instrumento dessa realização.

Milena Rosa

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Um parêntese

Vamos abrir um parêntese antes da introdução e de falar


sobre a Atenção Plena em si, para primeiro entender o que é o
cérebro. Desse modo, alguns conceitos que virão logo adiante
ficarão ainda mais fáceis de serem compreendidos.

O cérebro é o equipamento físico que está no corpo físico e


é utilizado pela consciência, que não está no corpo físico, para
se manifestar na 3ª dimensão. A grande confusão da humanidade é
que a maioria das pessoas se identifica com seus pensamentos. Elas
associam que o que elas pensam é o que elas são, quando na
verdade o que elas pensam é o resultado de uma produção
mental do cérebro.

Ele é um computador biológico com a função de gerar


pensamentos e aliás, faz isso muito bem e sem parar. Então, assim
como o coração bombeia o sangue e os pulmões fazem as trocas
gasosas, o cérebro cria pensamentos. E, assim como não podemos
falar que somos nosso coração ou o sangue em nossas veias, nem
os pulmões ou o ar dentro deles, não podemos dizer que somos
nosso cérebro ou nossos pensamentos.

O desafio é quando esses pensamentos não são elevados e


nos identificamos com eles, pois geram sentimentos que acabam
por baixar nossa frequência energética, além de alterar nossas
taxas hormonais. Na verdade, todo o corpo se modifica de acordo
com o pensamento e o sentimento gerado quando nos identificamos
com ele, quando acreditamos que somos ele.

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Para nosso cérebro físico existem três tempos, passado,
presente e futuro. Quando lembramos do passado, com
frequência geramos sentimento de culpa e perda, que podem ser
por algo que fizemos a alguém ou à nós mesmos. E quando
pensamos no futuro, muitas vezes geramos um sentimento de
ansiedade, vivenciamos mentalmente experiências que ainda não
chegaram.

Estar mentalmente no passado e no futuro são as causas das


maiores disfunções psicológicas, químicas e hormonais que
podemos ter no corpo e essa está sendo a sina da sociedade
moderna. Quando, para sermos saudáveis, o único tempo que a
nossa consciência deveria estar presente é no tempo presente.

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Módulo 1 – Introdução
A origem da expressão Atenção Plena

Mindfulness ou Atenção Plena é a tradução da palavra Sati,


um termo budista que surgiu da palavra Satti do sânscrito.

A palavra Satti é uma abreviação de Satipatthana, que é uma


palavra constituída de dois elementos, Sarati e Patthana.

Sarati significa clareza mental, atenção no momento


presente, estar consciente, vigilante e diligente.

Patthana significa proximidade, estabelecimento firme e


estável, aplicação e fundamento.

Juntas essas palavras significam que através da intenção


colocamos a atenção no momento presente, ou seja, a
atenção plena se desenvolve através da vontade do observador de
estar no momento presente.

A técnica de estar em atenção plena é o que vamos aprender


a partir de agora.

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Budismo e Atenção Plena

Buda criou um método avançado de meditação ao qual deu o


nome de foco quádruplo. Ele afirmava que se alguém
desenvolvesse o foco quádruplo por sete dias alcançaria a
iluminação, mas para chegar no resultado prometido por Buda o
praticante deve vencer os cinco obstáculos preliminares:

1- Desejo sensual;
2- Má vontade;
3- Preguiça e torpor;
4- Inquietação e ansiedade;
5- Dúvida.
E para abandonar os cinco obstáculos devem ser
desenvolvidos os quatros fundamentos da atenção plena, que de
acordo com Buda, são:

1º Fundamento: Plena Atenção Sobre o Corpo;


2º Fundamento: Plena Atenção (Consciência) às Sensações;
3º Fundamento: Plena Atenção à Mente e aos Estados Mentais;
4º Fundamento: Plena Atenção aos Assuntos do Dharma.

Agora vamos abordar cada fundamento resumidamente, mas


eles serão desenvolvidos com mais profundidade dentro do contexto
do curso. O primeiro fundamento nos fala da consciência plena
sobre o corpo, ou seja, saber identificar cada desconforto, prazer,
necessidade e emoção manifestada nele. Essa prática se torna um
treinamento mental porque a atenção no corpo nos devolve para o
presente, que é onde o corpo sempre está.

O segundo fundamento é atenção plena às sensações. Toda


sensação física vem de uma emoção manifestada, então sempre

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vamos ligar a sensação à uma emoção anterior a ela. Nosso
coração acelera quando sentimos raiva de alguém, ou seja, a
emoção raiva desencadeou a sensação física.

É através da atenção plena que percebemos que o estresse


gerado em nosso corpo é fruto das emoções densas que
manifestamos. Essa clareza de saber associar sensações físicas e
emocionais, umas às outras, saber identificá-las como uma via de
mão dupla, nos permite mudar padrões de comportamento
indesejáveis.

O terceiro fundamento é plena atenção à mente e aos estados


mentais. Basicamente quer dizer estar atento ao que estamos
pensando, ser o observador de nossos próprios pensamentos.
Ter a percepção se estamos pensando no passado, no presente ou
futuro. Pois podemos passar o dia inteiro pensando em coisas
negativas, gerando medo, raiva, escassez e nem percebermos que
esse é o nosso padrão mental.

Além disso, o que pensamos está diretamente ligado ao que


sentimos, inclusive, um modo simples de saber a qualidade de
nossos pensamentos é perceber como nos sentimos na maior
parte do dia.

Como estão interligados, pensamento e sentimento, facilmente


ficamos presos em um looping mental que pode não ser positivo.
Nesse looping, pensamento gera sentimento, sentimento gera
sensação física, sensação física gera um novo sentimento e o
sentimento gera um novo pensamento.

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O quarto fundamento é a plena atenção aos assuntos do
Dharma. Esse tópico está mais diretamente ligado ao Budismo e não
foi considerado na adaptação ocidental da atenção plena. De
maneira simples, podemos dizer que Dharma e Karma, são sistemas
universais, onde o Dharma contabiliza toda ação positiva, toda
ajuda e todo ato de bondade e o Karma todo ato prejudicial a algo
ou alguém.

O Dharma e o Karma estão ligados à atenção plena, porque


“somar pontos” em um deles está relacionado aos sentimentos
gerados por nossas ações. Por exemplo, quando roubamos,
nosso sentimento é de culpa e escassez, mesmo que de modo
inconsciente, então somamos pontos no Karma. Já quando
ajudamos, nosso sentimento é de generosidade e abundância, então
vamos somar em nosso Dharma.

Mas embora, a atenção plena venha do Budismo, não


precisamos ser budistas para praticá-la, nem sermos espiritualizados
ou termos como objetivo atingir a iluminação espiritual. Pois como
vimos, a conexão entre sentimentos, pensamentos e sensações atua
diretamente sobre a vida de todos nós e através da atenção plena
aprendemos a usar essa interação em prol da nossa qualidade de
vida.

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Como a Atenção Plena veio para o Ocidente

Nos anos 60 a humanidade presenciou o surgimento do


movimento hippie, inicialmente nos Estados Unidos e depois se
espalhando para o restante do mundo. Essa onda facilitou o
intercâmbio cultural entre o Ocidente e o Oriente, em
especial com a cultura indiana. Desse modo, muitas práticas de
meditação chegaram aqui através de gurus que se tornaram muito
populares na época.

O Dr. Jon Kabat-Zinn, professor da Universidade de


Massachusetts, percebeu os efeitos positivos na redução do estresse
nas pessoas que começaram a aderir a essas práticas meditativas.
Então, adaptou o foco quádruplo Budista e seus quatro
fundamentos, para uma técnica mais dentro do gosto da cultura
Ocidental e chamou de Mindfulness, ou em português, Atenção
Plena.

Como vimos, nessa adaptação ele retirou o último


fundamento, Plena Atenção aos Assuntos do Dharma, por trazer
conceitos ainda fora da visão materialista científica do Ocidente.
Em substituição, foi introduzido o quarto conceito, prestar atenção
aos conteúdos mentais, que se refere a estar atento à qualidade dos
nossos pensamentos. Então, segundo o Dr. Jon Kabat-Zinn, os
quatro conceitos da Atenção Plena, são:

1- Prestar atenção no corpo;

2- Prestar atenção em sensações e sentimentos;

3- Prestar atenção na mente e na consciência;

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4- Prestar atenção aos conteúdos mentais.

Ele também foi o responsável pela criação do primeiro


programa de Mindfulness no mundo. Seu programa original possui 8
semanas de práticas pré-estabelecidas e embasadas por seu
estudo e pesquisa. Essa adaptação e organização facilitou a
adesão por ocidentais, que costumam valorizar mais os conteúdos
fixos, textos escritos e cronogramas.

Seu programa é utilizado até os dias de hoje por diversas


universidades, profissionais da saúde, empresas e organizações
como a Força Aérea Norte Americana. No Brasil, temos a
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade de
São Paulo (USP) como referências em pesquisa e oferecimento de
ações envolvendo a atenção plena.

Sempre recomendo aos estudantes da atenção plena que


busquem variadas fontes de estudo. Para quem é mais
espiritualista, sugiro um templo budista, independente de religião,
pois geralmente eles oferecem meditações diárias abertas ao
público.

Para os mais céticos, sugiro o programa do Dr. Kabat-Zinn,


alguma organização ou profissional que atue com a técnica. Sigam
também neste curso comigo, pois abordo a atenção plena por um
novo prisma, holístico e metafísico, mas de uma forma simples e
descontraída.

Bom, agora sabemos que o movimento hippie, trouxe não


somente sua contracultura no pós guerra, seu apelo por paz e amor

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e muitos psicodélicos, mas também a oportunidade de nos
inspirarmos na milenar arte Oriental da meditação.

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Os benefícios da Atenção Plena

A atenção plena traz inúmeros benefícios para o corpo, mente


e espírito, o principal deles é o relaxamento. Pois, sintonizando a
mente no presente e em cada ação que estamos realizando
paramos de ter angústia do passado e ansiedade do futuro, desse
modo, todo o corpo e a mente relaxam.

Quando focamos a atenção naquilo que estamos fazendo, o


corpo não tem tempo de produzir substâncias nocivas a ele mesmo.
Ao contrário, por exemplo, se estamos lavando louça e começam a
vir imagens do passado e se neste momento nos associamos à
essas imagens, a consciência deixa de estar no presente, estamos
então vivenciando um teatro mental.

Essas vivências imaginárias que criamos começam a modificar


nossos padrões hormonais, nossas funções químicas e físicas,
podendo culminar em quadros de ansiedade e tristeza. Quando
estamos realizando uma tarefa e começamos a pensar em alguém
que nos traz um sentimento nocivo, esse pensamento gera tensões
que obrigam nosso corpo físico a trabalhar mais, a dilatar as
artérias, o coração a bombear mais sangue e as taxas hormonais a
mudar.

Essa tensão se retroalimenta e entramos em um círculo


vicioso. Ao passo que, se tivéssemos apenas concentrado na
tarefa, estaríamos completamente relaxados. Pois quando estamos
focados em uma ação, o relaxamento é natural, nosso foco está no
que estamos fazendo e não na associação com os pensamentos,
que é a fonte de toda tensão gerada no corpo físico.

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Um segundo benefício é o aumento de produtividade.
Quando estamos realizando uma ação completamente focados, sem
interferência dos pensamentos, a produtividade aumenta
consideravelmente, porque todo nosso sistema está envolvido
apenas em realizar aquela atividade. Lá no final do curso, vamos ter
uma prática focada em exponenciar ainda mais esse resultado
natural da atenção plena.

Outro benefício é melhorar o sistema imunológico. Pois,


quando eliminamos todos os pontos de tensão do organismo,
paramos de gastar energia à toa, criando uma reserva de energia
física para combater os micro-organismos invasores. Já quando o
corpo está constantemente tenso, gasta mais energia, reduzindo o
que seria direcionado ao sistema imune. Isso agravado pela péssima
alimentação que a maioria de nós leva no Ocidente, com baixíssima
reposição da energia física.

A criatividade é outro benefício que a atenção plena traz.


Quando estamos focados completamente em uma ação, liberamos
áreas do cérebro que estariam produzindo e associando
pensamentos, com essa liberação podemos pensar de modo mais
construtivo, trazendo soluções para os problemas.

Comumente as pessoas chamam esse processo de intuição,


que nada mais é do que o cérebro trabalhando num subnível, ele
gerando soluções e essas soluções emergindo no consciente como
uma ideia, quando na verdade você simplesmente liberou espaço
nele, o que te permitiu acessar e processar uma nova informação.

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O cérebro é como o processador de um computador,
quanto menos comandos são dados, mais ágil ele fica. Mas quando
inundamos esse processador de pensamentos, do passado ou do
futuro, estamos sobrecarregando o sistema, reduzindo a capacidade
dele de processar funções úteis, como soluções de problemas e
planejamentos a médio e longo prazo.

A atenção plena também melhora o sono. Geralmente quem


tem insônia, deita-se e fica mergulhado em pensamentos, um
levando ao outro sem parar e gerando uma cascata de reações
físicas. Esse exemplo ilustra bem o que Buda falava sobre termos
macacos incontroláveis na mente e o que a atenção plena faz é
justamente nos ensinar a controlá-los, pode acreditar que ficará
mais fácil dormir assim.

Esses são alguns benefícios que a meditação plena pode


trazer, acredito que ela seja o melhor que podemos fazer por nós
mesmos. Nascemos em uma sociedade que não nos ensina como
funciona o cérebro, como controlamos o pensamento, nem como os
sentimentos são gerados, por isso as pessoas estão cada vez mais
tristes e deprimidas, simplesmente porque não sabem usar a
máquina que possuem.

Vivemos dentro de um corpo físico, com um computador na


cabeça que funciona de maneira descontrolada. Mas não podemos
deixar que os pensamentos nos dominem, nós dominamos os
pensamentos e assim também os sentimentos, e dominando os
sentimentos, aumentamos nossa frequência energética e
vibracional, atraindo o que for mais elevado para nossa vida,
simples assim.

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Como começar a praticar a Atenção Plena

Quando começamos a praticar atenção plena, alguns atributos


nos ajudam a levar adiante esta resolução. Considero-os como
pilares para a prática por sua importância na manutenção diária do
compromisso que começamos a firmar, são eles a atenção, a
intenção, a atitude e a compaixão.

A primeira é a atenção, vamos conversar mais sobre esse


tópico tão fundamental mais adiante, mas por agora precisamos
entender que temos a capacidade de direcionar nossa atenção,
de colocarmos ela onde queremos. Isso nos torna o observador e
como observadores temos distanciamento suficiente para decidir
além dos nossos pensamentos automáticos.

É possível escolher pensar em algo ou não, mas precisamos


praticar antes e estamos aqui para isso. Ao longo desse curso
veremos várias práticas que exercitam essa habilidade tão
fundamental de escolher conscientemente o que merece nossa
atenção e o que não, pois a mente não tem filtro, ela apenas
dispara os pensamentos e é papel da consciência fazer essas
escolhas.

O segundo pilar é a intenção, que inicialmente pode ser


confundida com a atenção, mas elas são diferentes. A intenção
nasce antes, é a partir dela que direcionamos nossa atenção,
porque mais do que a capacidade de fazer isso, precisamos antes
querer. Então, por exemplo, temos a intenção de focar em um
objeto, temos a intenção de não focar em um pensamento

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destrutivo, temos a intenção de focar em nossa respiração e através
dessas intenções é que vamos direcionar nossa atenção.

Por isso, temos que ter a intenção de estar em atenção plena,


a intenção de observar nosso corpo o tempo todo, a intenção de
observar o nosso pensamento, a intenção de sermos o observador.
Desse modo, saímos do modo automático e passamos a ir para
o modo do querer, damos voz a vontade de nosso ser.

O terceiro pilar é a atitude, ou seja, decidimos estudar e


praticar atenção plena, então vamos realmente fazer. Não
desenvolvemos nossos músculos apenas lendo sobre musculação,
sem treinar e praticar antes. Para a atenção plena vale o mesmo
princípio, pois ela é um treinamento para o cérebro, por isso, tudo o
que veremos aqui precisa da atitude de ser colocado em prática.

E o quarto pilar, elemento chave pois sem ele não se pratica


atenção plena, é a compaixão, a compaixão por si mesmo. Em
nossa sociedade, colocamos uma pressão enorme em tudo o
que vamos fazer, começamos a estudar algo e já temos que ser o
melhor naquilo. Não há espaço para as falhas, rejeitamos os erros e
os vemos como um sinal de fracasso.

Essa visão nos põe em um nível muito alto de cobrança e a


questão é que não existe aprendizado sem erro, não há como
termos boas ideias, saímos do automático, sermos criativos, sem
abrir espaço e naturalizar o erro. O medo de errar leva à zona
de conforto, porque a cobrança e a autocobrança são tão grandes
a cada nova tentativa de aprendizado, que achamos melhor nem
começar.

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Na atenção plena, a compaixão por nós mesmos nos permite
alinhar mais corretamente as expectativas, nós somos nós, não
somos Buda e não precisamos ser, é irreal exigir a perfeição de
si. Além disso, nosso progresso deve ser comparado a nós mesmos
e não aos outros. Se meditávamos 30 segundos e agora meditamos
1 minuto, vamos comemorar! Fizemos um enorme progresso!

Não precisamos ser os melhores em tudo o que fazemos, o


melhor pai, a melhor mãe, o melhor funcionário, o melhor líder, pois
esse nível de exigência retira a leveza e a diversão de tudo. Não
devemos fazer da atenção plena mais uma obrigação chata,
precisamos encará-la como algo gostoso, como uma
autodescoberta, sempre seguindo em frente, mas sem cobranças.

Pois essa pressão de sermos os melhores em tudo nos adoece,


não temos que ser os melhores, temos que ser felizes. No fim tudo
se resume a isso, qualquer dia desses todos nós vamos embora
daqui e o que levaremos? Levaremos os erros, mas também os
aprendizados ou só levaremos só medo de errar? Por isso, ressalto,
não temos que ser os melhores, temos que ser felizes.

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Meditação com foco na Respiração

Chegamos à nossa primeira prática, sim, já na introdução!


Como mencionado, esse é um curso teórico, mas também prático e
essa meditação que vamos aprender é simples, porém o princípio
da atenção plena. Ela vai ser a âncora que te permitirá praticar
tudo o mais que ainda veremos, por isso, não deixe para depois,
vamos começar a praticar juntos agora.

Inicialmente, recomendo que se faça essa meditação por um a


três minutos, não mais que isso, pelo menos uma vez ao dia. Pare
tudo o que está fazendo, sente ou se deite confortavelmente, feche
os olhos e simplesmente inspire e expire. Respire de modo lento e
calmo, mas fluido e natural, enquanto faz isso, observe seus
pensamentos, mas não se fixe neles, apenas os perceba surgindo,
passando pela sua mente e então indo embora.

Continue inspirando e expirando, e se um novo pensamento


surgir em sua mente, apenas o deixe passar novamente. Se em
algum momento você perceber que foi longe nos pensamentos e
não está mais prestando atenção na respiração, apenas retorne o
foco para a respiração, sem julgamentos ou punições.

Sempre siga a lógica 'um pensamento roubou minha atenção,


volto para a respiração', continue nesse processo pelos três
minutos, mesmo que constantemente os pensamentos surjam e te
roubem o foco. É assim mesmo, no início não parece fazer sentido
permanecer na prática, mas persista um pouco a cada dia e verá
aos poucos os resultados.

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Lembre-se que é um treino, um processo, então, não se
cobre, não se julgue e não fique irritado. Depois de tantos anos de
pensamento descontrolado, você não espera conseguir domar sua
mente na primeira tentativa, não é? Então use sua intenção para
manter o compromisso e não esqueça de se divertir pelo caminho.

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Módulo 2 – Conceitos

O que é Meditação?

Podemos dividir a meditação em dois grandes grupos, a


meditação passiva e a ativa. A meditação passiva é quando tiramos
um horário do dia para ficar em uma posição x e praticar o ato de
meditar, ou seja, paramos tudo o que estamos fazendo e
vamos praticar a atividade de meditação.

Já a meditação ativa ocorre quando o corpo está acostumado


com a meditação passiva, com as frequências cerebrais mais baixas
que são alcançadas nesse estado e incorpora a meditação ao dia a
dia. Desse modo, é possível meditar lavando louça, correndo,
conversando com alguém ou fazendo qualquer atividade.
Inclusive, grandes meditadores podem estar sempre em estado
meditativo.

No Ocidente temos uma ideia equivocada do que é meditação,


acreditamos que é o ato de ficar de olhos fechados, imóveis e sem
fazer nada, mas não é isso. Meditação é o ato de controlar os
pensamentos e conseguir colocar foco no que se está fazendo, é
quando o pensamento silencia e esse silenciar não é forçado.

Uma parábola budista conta que o discípulo chegou para o


Mestre e perguntou: 'Mestre, qual é a coisa mais importante da
vida'? O Mestre pegou a cabeça do discípulo e afundou em um
tanque de água, quando ele estava quase se afogando, o Mestre o
soltou. Desesperado, o discípulo levantou a cabeça e respirou
profundamente. Então o Mestre falou: 'nesse momento o mais
importante é a respiração'.

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Com o pensamento ocorre o mesmo, não conseguimos parar
de pensar, assim como não conseguimos parar de respirar. Por isso,
não devemos tentar obrigar o cérebro a parar de pensar durante a
meditação, ele foi feito para produzir pensamentos, ele pensa 24
horas por dia e ao tentar pará-lo criamos resistências corporais.

A questão não é parar de pensar e sim não se associar aos


pensamentos. Quanto menos nos associamos com eles, mais
intervalos de silêncio criamos na mente e é nesse intervalo de
silêncio que se atinge o estado de não ser. Nesse estado está a paz
absoluta e com muito treino, podemos alcançá-la mesmo no dia a
dia, pois o corpo e a atenção estarão na atividade, mas a mente
estará no silêncio.

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O que é Atenção?

A atenção é a concentração da atividade mental sobre um


objeto determinado. É similar a usar um microscópio, quando
isolamos todas as possibilidades e direcionamos o foco em
apenas um ponto que escolhemos ver.

No dia a dia, podemos usar nossa atenção para desempenhar


qualquer tarefa, como fazer um artesanato, lavar a louça ou se
exercitar. Fechamos todo campo mental e visual e nos
concentramos apenas no que estamos fazendo. Quando surge
um pensamento, deixamos ele passar, não nos associamos, nem o
deixamos se desenvolver e assim continuamos com a mente focada.

Muitas pessoas associam meditação e atenção plena com


zerar os pensamentos ou com não fazer nada, mas obviamente não
é isso. Durante milhares de anos, o cérebro evoluiu para produzir
pensamentos que garantem nossa sobrevivência, com a atenção
plena não estamos tentando obrigá-lo a deixar de pensar, estamos
apenas treinando a atenção, treinando colocar o foco onde
queremos.

Por isso que, mesmo sendo iniciante na prática, podemos


treinar a atenção plena no dia a dia, fazendo o que
normalmente faríamos em nossa rotina. Para isso, precisamos
direcionar nosso foco para cada detalhe da ação. Quando um
pensamento surgir, ignoramos e voltamos o foco para nossa
atividade.

No começo virá uma enxurrada de pensamentos, temos


apenas que deixá-los passar. Vamos sempre nos lembrar da frase

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'um pensamento roubou minha atenção, volto para a respiração',
que vimos na meditação anterior. A diferença é que agora a
meditação é ativa e a atenção vai, portanto, para a atividade.

Colocar a atenção na tarefa que estamos realizando significa,


sentir os objetos que estamos tocando, suas texturas, o cheiro que
está no ar, sentir a própria respiração, o próprio corpo, sentir
como está se sentindo. Isso é estar no presente, sentir o que
realmente estamos sentindo no agora e não aquilo que nossa mente
está produzindo.

Quando nos associamos com os pensamentos, estamos


vivendo uma realidade virtual e, portanto, vivendo suas sensações
que também são irreais. A única realidade que existe é a realidade
do tempo presente, é a realidade que estamos sentindo agora.
Por isso, o que sentimos é real desde que não sejam sensações
físicas geradas a partir dos pensamentos. Ficamos tristes, nervosos,
estressados, irritados, doentes, com dor e tudo isso é real sim, se
for do agora.

Outro ponto que gostaria de ressaltar é que a atenção vale


para todos os tipos de sensações, não apenas as positivas, temos
que focar nossa atenção em tudo que sentimos. Se no momento
estamos irritados, não reagimos a isso, apenas observamos a
irritação e a aceitamos. Ela já existe, portanto, não adianta lutar
contra.

Apenas colocamos atenção nesse sentimento, percebemos


onde ele se aloja no corpo, que tipos de pensamentos disparam
com essa sensação. E ficamos nesse processo de se auto-
observar. Quando damos esse passo para trás como observadores

25
de si, o sentimento irá ensinar muito, deixará de ser um inimigo e
passará a ser um mestre.

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Quem é o Observador?

Falamos anteriormente sobre sermos o observador de nós


mesmos, agora vamos além e entender quem é esse observador em
última instância. Para isso, precisamos esclarecer o que é a
consciência e essa é uma conversa mais metafísica. Peço,
portanto, que se ao final não ressoar com você, tudo bem, apenas
continue o curso.

Podemos dizer que a consciência é o espírito, é a alma? Sim.


Mas podemos dizer que ela é o corpo físico? Não. O corpo físico é
o instrumento para a consciência exercer seu papel aqui na
terceira dimensão. O corpo é um robô biológico em que a
consciência está ancorada e que ela anima.

Indo um pouco mais além, precisamos entender que tudo o


que existe, seja cadeira, mesa, planta, eu ou você, é Deus, não
existe nada fora Dele. Não há um Deus que está lá ou que está
aqui, Ele está em tudo. Quanticamente falando, toda energia, todos
os prótons, elétrons e nêutrons que existem nessa dimensão e em
todas as dimensões, são Deus, compõe Deus.

Então tudo que existe é Deus no sentido energético e no


sentido atômico, cada átomo é um pedaço Dele. Logo, não existe
eu ou você individualmente, só existe a consciência unificada de
Deus. Se conseguíssemos entrar 100% no micro ou nos
afastássemos 100% no macro, no fundo, no fim, sempre
encontraríamos um ponto e esse único ponto é Deus, por isso, tudo
o que existe é Ele.

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Mas então, por que Deus resolveu criar eu, você e tudo o
mais? Porque só se desdobrando em infinitas possibilidades Ele
poderia experimentar. Imagina um ser extremamente poderoso,
com toda eternidade e com todo amor, mas sem poder trocar, Ele
cairia no tédio, na zona de conforto se nada fizesse. Como a zona
de conforto é a pior coisa que existe, Deus resolveu se
desdobrar em pequenas consciências e se espalhar por infinitas
dimensões para experimentar Ele mesmo.

Agora pense em um grande computador quântico, porque


Deus é como um grande computador quântico, imagine tudo o que
existe, em todas as dimensões, recebendo essas informações,
esse fluxo constante, 24 horas por dia pelo infinito.

Deus recebe essas informações e elas vão modificando as


formas energéticas Dele e Ele vai se abastecendo e criando mais
informações. Ele cria e se abastece de informações sem parar.
Nós nada mais somos do que fagulhas de Deus, receptáculos de
informações, como se Ele possuísse infinitos tentáculos, que vão
recebendo informações de tudo o que existe, nós somos um
tentáculo Dele, essa é nossa consciência.

Poderíamos aprofundar os conhecimentos sobre a consciência,


mas por agora basta saber que esta consciência é uma fagulha de
Deus individualizada em tudo o que existe. Como vimos, a
consciência se manifesta na terceira dimensão ancorada no corpo
físico, então ela vai comer, ela vai sair, ela vai ir ao cinema, ela vai
se casar, ela vai namorar, ela vai ter filho, tudo isso para alimentar
o banco de dados do Criador.

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Mais especificamente falando da atenção plena, podemos dizer
que se essa consciência está ancorada no corpo físico e se esse
corpo físico possui um cérebro, é a consciência que deve
dominar o cérebro e não deixar o cérebro correr sozinho, certo?

Essa consciência é o observador, ela tem que se pôr perante o


cérebro e os pensamentos e selecionar aquilo que ela quer, o que é
destrutivo e o que é construtivo. Ela é o filtro que vai escolher as
informações que são positivas e que podem ajudá-la no
desenvolvimento aqui na terceira dimensão, das negativas que
devem ser descartadas.

No começo pode parecer impossível controlar os


pensamentos, pois provavelmente estivemos sendo guiados pela
mente até agora. Então nos sentimos como se estivéssemos em um
mar agitado com ondas gigantes, mas quanto mais damos espaço
para a consciência, quanto mais mergulhamos no fundo do mar,
mais encontramos a paz.

Em cima têm todas essas ondas, essas revoadas de


pensamentos, mas embaixo existe a paz absoluta, a paz que vem
da consciência. E ela só existe quando aprendemos a controlar os
pensamentos, sem isso não somos capazes de ter paz, e a paz é o
bem mais valioso que temos.

Para finalizar, te convido a refletir quanto custa sua paz. Você


já sentiu paz de espírito? Aquela paz em que internamente está
tudo bem, que não importa o que se passa no exterior, não existe
conflito, tensão nenhuma, só um estado de êxtase, um nirvana,
uma felicidade plena.

29
E ela não vem da conquista de bens materiais, a paz vem do
domínio do pensamento, do autodomínio, em ignorar o passado e o
futuro e viver no presente. Agora te pergunto, quanto custa sua paz
de espírito? As pessoas costumam vender sua paz por muito pouco,
mesmo sendo seu item mais valioso.

30
As duas flechas de Buda

As duas flechas é uma antiga parábola budista, e através dela


vamos fazer um exercício mais filosófico e reflexivo, com
grande potencial de impulsionar a atenção plena na sua vida.

Começaremos com dois exemplos, primeiro imagine que está


andando na rua, então se desequilibra, cai e machuca o joelho, essa
foi a primeira flecha. Então você fica muito chateado, sai
praguejando e se perguntando por que aquilo foi acontecer logo
com você, essa foi a segunda flecha.

Agora imagine que acabou de ser demitido, essa foi a


primeira flecha. Então você foi para casa e ficou remoendo, com
raiva e mágoa do que aconteceu. Uma semana se passou e ainda se
sente triste e injustiçado, lembrando diariamente da demissão, essa
foi a segunda flecha.

O que os dois casos têm em comum? A primeira flecha foi o


destino, o universo, a vida quem mandou, pois, depois que
ralamos o joelho não temos como voltar atrás, depois que somos
demitidos, não há nada que possamos fazer. Já na segunda flecha,
nós que escolhemos continuar sofrendo.

Buda falava que é impossível evitar a primeira flecha, mas é


possível evitar a segunda. Sei que vocês estão pensando que não
tem como não sentir dor, que é muito difícil não se entristecer com
uma demissão, mas a questão não é deixar de sentir dor e sim a
importância que damos para ela.

Quando um fato que nos desagrada acontece, não tem como


o tempo voltar, é aquela história que já conhecemos do leite

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derramado. Então, se aconteceu e não temos como desfazer, por
que se dar a segunda flechada? Ela não diminui o desconforto,
só o aumento, portanto, aceite a primeira flechada e rejeite a
segunda.

Mas o que esse ensinamento de Buda tem a ver com atenção


plena? Tem que se você foi demitido na semana passada e seguiu a
semana inteira remoendo esse fato, você deixou de viver no
presente. Algumas pessoas fazem isso por anos, ficam dando essa
auto flechada, relembrando aquilo que aconteceu e que não pode
ser mudado, ficam se torturando com esse pensamento.

Aceitar a primeira flechada, que é da vida e inevitável, envolve


a aceitação de que milhares de coisas vão nos acontecer, coisas
que constroem e coisas que destroem. Essas duas energias estarão
presentes na nossa vida, na verdade, há potencial para acontecer
de tudo, o possível e até mesmo o inimaginável, existem tantas
probabilidades na vida, que chega a ser infinito.

E para que você não seja seu próprio algoz com a segunda
flecha entenda que o que aconteceu, aconteceu! Não tem como
mudar. Tenha seu tempo de luto, de absorver a ideia, de ficar
triste, de deixar que vários sentimentos brotem, mas depois desse
tempo siga em frente, não fique remoendo o que já aconteceu.

Portanto, use a primeira flecha para viver o que tem que ser
vivido, melhorar algumas experiências e ter mais informações sobre
a vida. E se pergunte em que situações está cravando uma
segunda flecha em você mesmo, então em vez de se punir com

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ela, largue-a e pense como pode usar esse tempo e energia para
melhorar a sua vida agora, não amanhã, nem ontem, hoje.

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Módulo 3 - Fundamentos Básicos da Atenção Plena

Prestar Atenção

Atenção é focar nossa consciência em uma única ação.


Portanto, tudo o que fazemos, seja lavar a louça, escrever um
relatório da empresa ou dirigir, deve ser o foco de nossa atenção
no momento da ação e os pensamentos que surgirem simplesmente
os observamos.

Não devemos tentar frear os pensamentos, mas sim jogar


nossa percepção nas respostas orgânicas do corpo, ou seja, nas
sensações das pontas dos dedos, no olfato, no paladar, na postura
que o corpo está. Pois, os pensamentos começam pequenos e se
ampliam gradativamente, mas quando o foco está no corpo, na
tarefa ou na respiração, eles naturalmente diminuem e somem.

No começo, eles surgem em fluxos constantes, mas quando


aprendemos a não focar neles, passam a existir intervalos de
silêncio, ou seja, espaços de tempo em que os pensamentos não
se manifestam. Com a prática, esse intervalo de silêncio irá crescer
e é justamente neles que vamos experimentar uma sensação maior
de relaxamento, de paz e plenitude.

O objetivo da atenção plena é aumentar os intervalos de


silêncio, não importa o quão pequenos eles sejam no começo.
Devemos treinar diariamente enquanto executamos algumas
tarefas simples e assim progredir nem que seja 10 segundos a mais
de silêncio por dia. Conforme ganhamos habilidade vamos
ampliando esse treino para outras atividades da nossa vida.

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Os pensamentos não deixarão de ter utilidade, mas sim serão
usados com foco, para alguma atividade específica ou para resolver
algum problema prático. Nesses casos, eles apenas deixam de
ser automáticos, há atenção envolvida e sabedoria da hora de
desligá-los e deixar a consciência agir.

Para chegar nesse ponto, começamos com o básico que é


aprender a prestar atenção, por isso exercite esse primeiro
fundamento. Pratique-o diariamente em suas atividades e evolua
seus intervalos de silêncio. Paradoxalmente, é através do silêncio
que a consciência fala conosco, você quem decide o quanto quer
ouvi-la ou não.

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Momento Presente

O segundo fundamento nos traz a ação de estar no momento


presente como um caminho para a atenção plena. Para isso,
precisamos ignorar qualquer tipo de pensamento que a mente
produza em relação ao passado e ao futuro, sejam esses
pensamentos, lembranças da infância ou uma tarefa que precise ser
entregue.

Uma ferramenta para lidar com esses momentos é sempre


se perguntar: 'Em que tempo eu estou? Então afirme: 'Eu estou no
hoje, tudo está bem!' Repita quantas vezes forem necessárias no
seu dia, quando vir um pensamento do passado, uma preocupação
de algo no futuro ou mesmo para pensamentos negativos, de
doença, pobreza e carência.

Pense 'Em que tempo eu estou? Eu estou no hoje, tudo está


bem!' e volte para o presente. Mas lembre-se de não tentar
chegar na excelência em um mês, é realmente treino, pois não
fomos acostumados a usar o cérebro de maneira eficiente e para
reaprender demora. Precisamos ter paciência e amorosidade
conosco e saber comemorar as pequenas vitórias.

Estar no momento presente passa por cultivar o hábito de


focar no que temos hoje, não nos deixarmos levar por medos de
perdas, de falta, de escassez. Nunca deixe as projeções dos seus
medos, ou seja, os medos criados na mente tomarem conta de
você, sempre retorne seu foco para a situação que se apresenta no
momento presente.

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Na maioria das vezes nossos problemas são projeções de um
passado que já foi ou de um futuro que nem chegou. Além disso, o
único momento em que podemos fazer algo para resolver uma
questão é no presente e talvez fugimos dele justamente por medo
de resolver o que nos atormenta.

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Não reagir aos pensamentos

Não reagir significa escolher não responder imediatamente aos


pensamentos e sentimentos. E a palavra-chave aqui é escolher,
pois podemos acreditar que nascemos ou não com o dom da não
reatividade, mas a verdade é que, como tudo em nossa
personalidade, é fruto de intenção e treino.

Um pensamento sempre vai nos ligar à um sentimento,


podemos reagir a esse sentimento de maneira positiva ou de
maneira negativa, a questão é que na maioria das vezes não temos
nem consciência desse processo, a reação ocorre de modo
automático.

Quando surge um pensamento de um trauma ou uma situação


difícil pela qual passamos, se desencadeia um sentimento que já
está relacionado a esse pensamento. Esse sentimento vai
influenciar toda nossa química corporal, trazendo tensão e estresse,
mesmo que a intenção inicial tenha sido reagir positivamente a ele.

Portanto, o treino agora é manter-se neutro em relação aos


pensamentos, ser o observador, porque pode ser frustrante tentar
reagir positivamente a algo e não conseguir. Por isso, antes de
tentarmos direcionar nossa reação precisamos ter consciência dos
pensamentos que as disparam, isso torna tão importante
simplesmente observar.

Sim, não reagir também pode ser difícil. Se no começo


conseguimos só observar e não reagir à 1 de 100 pensamentos do
passado ou do futuro, já é motivo de comemoração, pois quer dizer
que conseguimos praticar e aplicar a técnica com um

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pensamento. Reafirmo que não façamos cobranças pois elas levam
à frustração.

Para ajudar nesse processo de manter-se neutro, precisamos


entender que o pensamento passa. É um processo natural, se
não nos apegarmos a ele, ele vai surgir e sumir naturalmente. Os
pensamentos possuem início, meio e fim.

Com o tempo e treino, o intervalo entre os pensamentos vai


aumentando, então o cérebro entende que não adianta lançar
imagens, pois não vamos reagir a elas. Assim, a mente fica cada
vez mais no presente e fatos que aconteceram no passado ou que
podem acontecer no futuro, já não vão mais nos atingir
emocionalmente como antes.

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Não Julgar

Em algum momento das nossas vidas ligamos a chave do


julgamento, passamos a julgar o que fazemos, pensamos, sentimos,
tudo e todos. E geralmente, esse julgamento ocorre de duas
formas, se acreditando que algo está certo ou se acreditando que
algo está errado.

Fazemos julgamentos de beleza, essa mesa é feia, essa mesa


é bonita, julgamentos de gosto, essa comida é gostosa, essa comida
é ruim, julgamentos morais, isso está certo, isso está errado. De tal
forma que se torna uma constante em nossa vida e assim,
passamos a julgar o mundo e não a experimentá-lo.

Ao julgar como ruim uma fruta que nunca comemos,


perdemos a chance de prová-la. Ao julgar uma pessoa por sua
aparência, perdemos a chance de conhecer um ser humano que
poderia ser extraordinário. Com esses exemplos, vemos que o
processo de julgamento elimina as possibilidades de ampliar a
nossa consciência, o julgamento nos afasta tudo e todos.

Lembra do primeiro fundamento visto nesse módulo? Não dê


atenção aos pensamentos passados e futuros, dê atenção ao
presente! Portanto, o exercício para praticar a atenção plena é não
julgar nada nem ninguém, mas principalmente não julgar os
pensamentos.

Quando damos atenção a um pensamento passado ou futuro


é porque estamos associando um julgamento a ele e há grandes
chances de ser um julgamento negativo, de que o que aconteceu foi
ruim ou o que acontecerá será ruim.

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Julgamos que se não tivermos aquilo que queremos, que se
não recebermos a promoção ou que se não mudarmos de casa, não
vamos estar felizes. Percebam como o julgamento está infiltrado
em nossa mente e acaba por ser um processo automático e
nocivo para nós.

Por isso, também vamos exercitar pensar em tudo como


experiências, não importando se foram boas ou ruins e sim que as
vivenciamos, pois viemos à Terra só para vivê-las. Quem coloca o
julgamento, começa a determinar o que é bom e o que é ruim, é o
ser humano.

Para ajudar a diminuir o julgamento ao outro, vamos tomar


consciência que geralmente nós nos incomodamos muito com
pessoas que são iguais a nós. Buda falava do espelho, isto é,
quando uma pessoa é muito parecida conosco, quando ela possui
traços negativos muito similares aos nossos traços negativos, nos
incomodamos com ela porque ela é um espelho das nossas
sombras.

Então, na verdade, toda pessoa que nos incomoda, que nos


faz reagir, é um mestre em nossa vida, porque nos dá a
possibilidade de ver nossas sombras. Portanto, vamos utilizar
positivamente essa oportunidade fazendo um autoexame em vez de
cultivar o julgamento alheio.

Se julgamos alguém porque o achamos muito arrogante,


temos que nos perguntar: 'Por que a arrogância dessa pessoa me
incomoda tanto?' Pode ser uma verdade um pouco indigesta, mas a
sombra que não temos não nos incomoda. Mas não julgue a

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você também por isso, como disse, são experiências e
oportunidades de aprendizado.

A consciência se expande muito a partir desse processo de


perceber que o que mais nos incomoda nos outros é aquilo que
mais temos dentro de nós. Quando reconhecemos nossa
sombra, os aspectos negativos de nossa personalidade,
conseguimos então começar a mudar.

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Coração Aberto

Esse quinto fundamento nos convida a fazermos o treino


diário da atenção plena com o coração aberto, não com um
sentimento de obrigação, mas como um experimento. Abrirmos o
coração, testar e sentir em nossa vida as modificações que ela
traz, sem julgamentos sobre o processo e os possíveis resultados.

É importante dedicar-nos à atenção plena um pouco todo dia,


pois é na vivência que realmente conhecemos algo. Com certeza
aprendemos somente em ler sobre a técnica, mas nem perto do que
podemos conquistar e expandir a colocando em prática.

Em uma sociedade que não ensina e valoriza o controle


mental, estudar e praticar a atenção plena é um ato de
autocuidado, coragem e humildade. Pois, no processo,
precisamos reconhecer nossas limitações, tentar novamente a cada
falha e priorizar a saúde de nosso ser em prol de outras
possibilidades.

Estar de coração aberto é pensar 'O que posso melhorar? Que


erros posso não mais cometer'? O comum é jogarmos para
debaixo do tapete as experiências traumáticas, tentar não pensar
no que nos dói ou em partes de nós que não gostamos tanto. Na
atenção plena precisamos encarar esses pensamentos, para através
do não julgamento, deixá-los ir.

Quando olhamos sem julgamentos nossa sombra, nosso


trauma ou nossa dor, trazemos luz a eles, pouco a pouco
aceitamos que vivemos aquilo, que nos modificou, mas passou e
que agora pode ir, não precisamos mais guardar dentro de nós.

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Todo esse processo exige muita paciência com nós mesmos,
não somos uma máquina que se desprograma e programa
imediatamente, muito foi acumulado dentro de nós durante toda
nossa existência. É preciso um coração aberto pois as mudanças
podem parecer lentas em uma sociedade tão imediatista.

Te convido agora, a definir uma característica que quer mudar


e então tentar ser um pouco melhor nela a cada dia. Sem obrigação
de conseguir, não se frustre se você falhar, apenas preste atenção
nesse aspecto de coração aberto. Buscando mudar um pouco a
cada dia, você vai se tornando um ser com a consciência mais
expandida, um ser mais centrado, um ser mais dentro daquilo que
sonha para si mesmo.

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Módulo 4 - Bons Hábitos

Ser e Fazer

Nesse módulo vamos acompanhar 8 bons hábitos que sugiro


serem desenvolvidos para favorecer e potencializar a prática da
atenção plena. Claro, sempre respeitando a vontade e a
disponibilidade de cada um. Na sequência da explicação de cada
hábito haverá um exercício para orientar a aplicação dele no dia a
dia.

O primeiro bom hábito é praticar o ser e o fazer. O ser é um


estado natural, todo mundo é, mas na sociedade moderna, temos
a crença de que se não fazemos algo, não somos nada.
Poderíamos passar a vida inteira contemplando árvores, rios,
vivendo de forma retirada, fazendo nada, e ainda sim,
continuaríamos sendo.

Nossa consciência continua existindo, não importa se fazemos


algo ou não, continuamos sendo um ser importante, relevante,
uma fagulha de Deus no Universo. Porém, nossa organização social
programa as pessoas para acreditarem que se não produzem, não
valem nada e isso é uma grande mentira.

Então essa é a primeira ilusão que devemos quebrar, não


precisamos o tempo todo estar produzindo para sermos
alguém. Obviamente, para nossa subsistência material, para termos
uma vida harmoniosa, vamos ter que realizar algumas ações, trocas
materiais com outras pessoas e isso de modo algum é um problema.

O problema é que esse estado de fazer está na nossa vida de


modo descontrolado. Não temos um momento de descanso, de

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relaxamento, não conseguimos nos permitir não fazer nada nem por
um instante, temos que estar produzindo como uma máquina o
tempo todo.

A maioria de nós separa cerca de 8 horas diárias para


trabalhar ou produzir de alguma forma, então o expediente acaba e
não conseguimos parar, nosso cérebro continua produzindo. Nem
que seja em pensamento, pois o fazer nem sempre é uma ação
física, pode ser não conseguir parar de projetar o futuro e criar
planos, mesmo quando visivelmente isso não é eficaz ou produtivo.

Quantas vezes tentamos resolver um problema na mente?


Mesmo sabendo que sua solução demanda um recurso prático ou
que não depende de nós. Contra toda a lógica, continuamos a
tentar resolvê-lo através de pensamentos repetitivos e teimamos em
chamar isso de produtividade ou dedicação.

Viver esse padrão distorcido da sociedade está nos


enlouquecendo, não temos um momento de ser. Sentimos quase
como uma heresia ter um tempo de relaxamento ou apreciação.
E isso causa um desgaste enorme de energia psíquica e física, além
de ser um curto caminho para a ansiedade.

Se observarmos a natureza, veremos que uma leoa tem


momentos de fazer e momentos de ser. Se está com fome, ela
caça uma zebra, se alimenta e depois simplesmente fica em estado
contemplativo. Aliás, os animais em geral se permitem, sem culpa,
ficar nesse estado.

A natureza é contemplativa, tudo o que existe é para


sentirmos, para vivermos, mas o estado frenético de fazer não nos

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permite. Seria como uma leoa que não para de caçar, abate
uma zebra, mal termina de comer e caça outra.

Se observarmos a expressão das pessoas por aí, veremos que


muitas estão caçando o tempo todo e tensas, isso quando já não
estão desgastadas, deprimidas, saturadas do fazer. Por isso, esse
primeiro bom hábito é um convite para quebrarmos esse
paradigma e assim como os animais, nos permitirmos ter
momentos de simplesmente contemplar nossa existência.

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Exercício Ser e Fazer

O primeiro passo é diferenciar em qual momento você


está produzindo algo e em qual não está. Porque os momentos que
você for produzir algo, que está no modo fazer, você tem que estar
100% focado naquilo que está fazendo e quando você determinar
que está no modo ser, você tem que ignorar completamente o
fazer.

Na prática, quando está trabalhando ou em outras tarefas, já


identificadas como o seu fazer, você se concentra no presente e faz
tudo bem feito, o seu melhor mesmo que não goste da tarefa.
Mas, acabado o horário de fazer, você deve entrar no modo ser.

No modo ser, você se recusa a pensar no fazer, a deixar a


mente trabalhando. Faça isso com a consciência de quem já
desempenhou seu papel no fazer e deu o seu melhor, portanto
pode simplesmente ser por um tempo.

Agora vem o desafio para o ocidental, como só ser? Você pode


fazer nada, pode meditar, pode ficar em estado contemplativo ou
pode fazer algo com a condição de que te dê prazer, mas um
prazer real, que nutra o seu ser, não vale ficar nas redes sociais
com a desculpa de que gosta disso.

O fazer que está relacionado ao ser não está atrelado à uma


recompensa. Estamos acostumados a fazer algo pelo ganho que
podemos obter, seja o salário, um elogio ou um like. O ser te
convida a experimentar fazer algo para você mesmo, por fazer,
apenas por prazer, sem a pretensão de ser bom, útil ou ficar bonito.

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Você gosta de cantar, cante. Você gosta de dançar, dance.
Você gosta de montar quebra-cabeças, monte. Você gosta de um
assunto, estude, mas sem ser para aumentar o currículo. Faça pelo
prazer em si, não por algum objetivo posterior.

Obviamente aqui na terceira dimensão não é possível ser 24


horas por dia, precisamos trabalhar, trocar com as pessoas os
nossos serviços. Precisamos do modo fazer, mas acabado esse
tempo de troca com a humanidade, precisamos também saber
entrar no modo ser.

Faça o treino diário de desligar o modo fazer e ligar o


modo ser. Para trazer essa consciência, utilize a pergunta 'Eu estou
sendo ou fazendo?' Se estiver fazendo, foque sua atenção em fazer
o melhor possível. Se estiver sendo, então se permita aproveitar o
prazer que vem do ser.

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Aceitação

A aceitação é um bom hábito que devemos cultivar no


caminho da Atenção Plena, mas aceitar as coisas como elas são
pode ser bem desafiador para o nosso ego. Quando toco no
assunto a primeira coisa que ouço é 'ah, mas esse mundo é muito
injusto e eu gostaria que fosse diferente'.

Porém, a difícil verdade para nossos egos, é que não importa


o que gostaríamos, o mundo é o que é e ponto final. Sei que é um
desafio assimilar que não temos controle sobre o mundo, mas a não
aceitação apenas nos traz sofrimento, não nos torna um objeto
da mudança.

Observe como a queixa vem sempre no futuro, 'eu gostaria


que o mundo fosse diferente, que minha vida fosse diferente', e isso
não é à toa, pois o futuro não existe e só podemos agir no presente.
E falando assim, será que estamos querendo ser parte da mudança
ou só queremos reclamar?

Se pôr em um papel de vítima nunca resolveu problema


nenhum, precisamos aprender a olhar o agora mais friamente. Se
questione: 'O que a vida está me dando agora?' Responda
sinceramente e sem drama, então pense: 'Bom, a vida está me
dando isso, como eu resolvo?' Esse é o tipo de mentalidade que
te permite chegar na solução.

Pois, o único modo de resolver algo é olhando de frente,


vendo realmente como a situação é, sem as nossas projeções, para
a partir daí utilizar a consciência e chegar na solução mais
satisfatória, e isso passa totalmente pelo processo de aceitação.

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Sempre haverá esses dois caminhos mentais frente às
situações desafiadoras, o do vitimismo e o da
autorresponsabilidade. E a verdade é que os problemas
humanos são sempre muito parecidos, o que nos diferencia é qual
caminho escolhemos.

Quando culpamos a vida, tendemos a não fazer nada para


mudar e não é dessa aceitação que estou falando. Estou falando da
aceitação que escolhe não sofrer e se coloca numa posição de
mudança e resolução. E só chegamos nesse nível de
profundidade de resolução de problemas através da aceitação.

A vida não é pessoal, por isso não adianta cultivar raiva


acreditando que ela é injusta, pois ela não é. Ela simplesmente
lança informações e acontecimentos, de acordo com o que
precisamos, há na vida uma sabedoria intrínseca muito maior
que nós.

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Exercício Aceitação

Uma maneira bem simples de começar a “virar a chavinha” da


aceitação é independentemente se a vida te mandou sol ou
chuva, uma situação boa ou ruim, você repete para si, 'eu aceito'.
Só isso! Se está tendo um dia maravilhoso, repita 'eu aceito'. Se
está tendo um dia ruim, repita igualmente, 'eu aceito'.

Facilita muito esse processo quando entendemos o fluxo


natural de tudo, pois no Universo nada é linear, sejam as
situações, a vida ou a natureza. A linearidade é uma percepção
limitada do nosso ego, isso significa que naturalmente, tudo tem
altos e baixos, tudo oscila e se modifica, como o verão e o inverno.

Nossa vida também não é linear, ela é mais como uma onda
e sendo assim terá horas em que estaremos no alto, no pico e horas
em que estaremos embaixo, no vale. Assim como as estações, às
vezes seremos verão, recebendo um fluxo positivo de energia, às
vezes seremos inverno, quando essa onda começa a cair e então
recebemos um fluxo negativo de energia.

Mas essa característica de impermanência não é algo


ruim, pois é o contraste que nos dá as sensações, nunca
sentiríamos alegria se não soubéssemos o que é a tristeza, não
saberíamos o que é a saúde se não conhecêssemos a doença. A
vida precisa criar contrastes para vivenciarmos tudo o que existe.

Então cabe a nós aceitar essa sabedoria universal, de que a


vida não é feita apenas de verão, nem todo dia é de sol. Na vida,
existem micro e macro períodos de sol e de chuva, por isso, quando
estiver tudo fluindo, dando certo, aceite. E quando tudo estiver

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meio travado, dando errado, aceite também, pois faz parte do
fluxo.

Mas se a aceitação for muito desafiadora para você, comece


com coisas simples, por exemplo, você está tomando leite, o copo
cai e quebra. Dá para você refazer o copo quebrado? Não, não dá,
então aceita. Vai lá, limpa a bagunça sem reclamar e segue a vida.
'Ah, mas era o copo que eu amava'. Paciência, ele quebrou, aceite
isso.

Então, pratique a aceitação minuto a minuto do seu dia, cada


vez que uma coisa negativa acontecer, pare e pense 'eu aceito'.
Pare de lutar com os pensamentos, de lutar com as pessoas
mentalmente, de lutar com a vida. Aceite o que a vida traz e encare
tudo como experiências que vão te levar à uma consciência
maior.

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Paciência

Sabemos que nós, humanos, somos parte da natureza, o que


nem sempre percebemos é que a realidade que nosso cérebro cria
não faz parte dela. Por isso, nem estranhamos quando queremos
tudo para hoje, para o ego é um sofrimento a ideia de esperar até
amanhã.

Um exemplo disso é a quantidade de pessoas endividadas que


existe. Isso ocorre, em sua maioria, porque o desejo de comprar
algo naquele momento é tão grande que se gasta o que não se
tem, mesmo quando se sabe das consequências.

O ego sem controle atrapalha muito nossa vida, porque ele


não quer esperar, não aceita o tempo necessário para algo
acontecer e esse querer para hoje é contrário às leis naturais. A
natureza não tem pressa, tudo tem seu tempo para existir e ela é
paciente em suas criações.

Um bebê demora 9 meses para nascer, uma macieira precisa


de pelo menos 3 anos para dar frutos, a Terra demora 365 dias para
dar uma volta em torno do Sol. Isso mostra que a paciência é
fundamental para realizarmos nossos projetos, uma vez que fizemos
o que havia para ser feito, precisamos esperar o Universo agir,
esperar acontecer.

Se plantamos uma macieira, não adianta apressá-la, a maçã


não virá mais rápido porque desejamos. O ego, porém, não quer
esperar e esse tipo de sensação pode levar a duas ações. Nem se
planta pensando em como vai demorar para desfrutar da maçã, ou
seja, nem se inicia um projeto por conta do tempo que pode levar

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para realizá-lo ou se planta a macieira, mas se desiste no meio do
caminho, achando que a maçã nunca virá.

O projeto pode estar andando, a macieira brotando e virando


uma pequena árvore, mas a expectativa da maçã ainda não se
realizou, o projeto mental da maçã começa então a se tornar uma
frustração para o ego, nesse ponto a maioria das pessoas desiste
de seus projetos. A maçã está a caminho mesmo que elas não
vejam, mas não há paciência para esperar.

Na Grécia Antiga, se difundiu o conceito de psiquê, ou seja,


algo que permeia tudo o que existe, trazendo consciência a tudo,
uma psiquê única, seja uma mesa, uma cadeira, eu ou você. A
psiquê que há em tudo controla as sincronicidades que ocorrerão
por nós e através de nós. Sincronicidade é um conceito junguiano
para definir acontecimentos que ocorrem por significado e não por
uma relação causal.

Por exemplo, alguém precisa de um produto específico para


solucionar um problema que possua, de repente num dia qualquer,
aparece no caminho dessa pessoa alguém que oferece o produto. A
pessoa que vendeu estava precisando muito do dinheiro, desse
modo, o Universo, com uma única ação beneficiou duas pessoas.

A psiquê controla todo esse movimento complexo do Universo


e para promover suas sincronicidades ele precisa de tempo. Quando
paramos para observar fica claro, que o Universo está sempre
agindo, unindo a pessoa A com a pessoa B no momento exato de
suas necessidades, orquestrando situações perfeitas, mas não

55
temos paciência de esperar, queremos resolver tudo para ontem,
não é?

Antigamente, quando se estava mais conectado com os ciclos


da natureza, e ainda hoje, quem trabalha diretamente com ela,
consegue ter uma noção maior do tempo, pois sabe que quando se
planta, não há outro modo além de esperar frutificar. Mas nas
cidades, se está perdendo essa noção, não desenvolvemos a
paciência e por isso nos sentimos muito angustiados
constantemente.

Isso se estende para tudo na vida, se o projeto é meditar,


logo nos frustramos pois não nos tornamos exímios meditadores em
um mês. Mas se passamos anos fazendo mau uso do cérebro,
não podemos querer que em um mês meditar seja um hábito já
consolidado como escovar os dentes.

O ego não aceita que desenvolver uma nova habilidade é um


treino lento, como aprender um esporte, um instrumento ou uma
nova língua. Não existe mágica no universo, por isso, não busque
fórmulas prontas. Principalmente quando se tem contato com o
espiritual, pode-se acreditar que tudo se resolverá como um
milagre, mas esse é um pensamento infantil.

A criança por ainda não ter noção de como está estruturada a


sociedade, quando ganha um brinquedo, acredita que ele
simplesmente brotou ali. Ela ignora que o brinquedo foi
produzido, vendido, comprado e que tudo isso exigiu tempo e
esforço.

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Muitos de nós cresce ainda com essa visão infantil, com a
ilusão de que tudo vai se resolver em um passe de mágica, sem
tempo e dedicação próprias, mas tudo exige uma ação. Por isso,
tantos buscam nas religiões soluções imediatas para resolver os
problemas que eles próprios levaram anos criando.

Também é importante ter clareza de que semente estamos


escolhendo quando plantamos. Se o objetivo for colher maçãs, não
adianta plantar alface. Por mais óbvio que seja dizer isso,
quantos de nós não insiste anos a fio nesse erro?

Mas uma vez se tendo certeza de ser a semente certa, os


próximos passos são estudar o melhor modo de fazer essa semente
frutificar, agir de acordo e então esperar o tempo do Universo de
fazer todas as coisas acontecerem.

Quando o ego começar a tomar conta e a paciência vacilar,


lembre-se que o Universo sabe o que é melhor para nós. Deus é
puro amor, portanto é inadmissível crer que Ele queira o mau de
alguma das suas criações. Ele tem o tempo dele, a natureza tem o
tempo dela e só cabe a nós ter a paciência de esperar.

Ser paciente pode parecer difícil, mas não ser é muito mais.
Quanto menos paciência temos, mais angústia sentimos, mais
neuroses desenvolvemos e maior a chance de nossos projetos
falharem, isso quando nos permitimos começá-los.

A natureza pode ser uma grande fonte de inspiração, seja em


uma pedra virando areia, seja numa planície virando montanha,
num córrego virando rio, num bebê sendo gestado. A natureza nos

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ensina diariamente que com ação, tempo e paciência, tudo pode
existir.

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Exercício Paciência

Pode parecer uma antítese, mas uma forma muito eficaz de


treinar a paciência é estando em situações de impaciência. Portanto,
aproveite esses momentos que surgem naturalmente e quando se
perceber impaciente, ansioso, angustiado, repita para si 'paciência,
paciência, paciência', como um mantra.

Por exemplo, você está na fila do banco e há dez pessoas na


sua frente, você poderia ficar impaciente, então nesse momento,
repita mentalmente 'paciência, paciência, paciência'. Com o tempo
esse exercício vai trazendo a clareza da arrogância que é querer
que tudo funcione no nosso tempo, querer prioridade de
atendimento e situações privilegiadas.

Esquecemos que vivemos em sociedade e precisamos esperar


nossa vez e que também há a vez do outro. A paciência nos coloca
no nosso lugar, porque o ego encontra mil desculpas e
justificativas para ter vantagens, 'eu tenho que ser atendido
primeiro pois estou atrasado para outro compromisso'. Paciência!

Outra ótima fonte de exercício da paciência são os


engarrafamentos no trânsito. Não importa com quanta pressa você
esteja, você pode gritar, ficar bravo, querer avançar o carro em
cima do outro, ainda continuará preso no engarrafamento e terá
que esperar sua vez de andar.

Aproveite essa oportunidade, pois a vida praticamente está te


forçando a aprender a esperar. Quando começar a vir a ansiedade e
a raiva, repita o mantra da paciência. No começo é difícil, mas

59
pouco a pouco, você vai doutrinando a mente, fazendo ela
entender que precisa esperar sua vez para tudo.

Esse entendimento favorece a Atenção Plena, pois geralmente


quando não temos paciência, estamos projetando o futuro, 'estou
no banco, mas gostaria de estar no trabalho', 'estou no inverno,
mas gostaria de estar no verão'. Mas você está onde está, admita
que você está no banco, admita que ainda é inverno. A verdade é
que não é estar em outro lugar ou em outro momento que te traria
paz.

Então foque sua mente no presente, relaxe, relaxe os ombros


e repita o mantra da paciência. Depois de algum treino você começa
a ver que pode aproveitar esses momentos para ser mais feliz. É
sempre uma questão de escolha tornar um momento desafiador,
que não pode ser evitado, no melhor possível.

Se estiver paciente, você pode estar parado no trânsito,


relaxado, escutando uma música, praticando um exercício de
respiração ou cantando com o rádio. E quando for contabilizar todos
os momentos da sua vida, os momentinhos alegria e prazer, serão
maiores que os de aborrecimento.

60
Confiança

Você acredita que quando uma águia pousa em um galho, ela


tem medo do galho quebrar? Não, ela não tem. Ela confia em
suas asas e sabe que mesmo que o galho quebre, ela pode sair
voando.

Então a partir dessa pergunta vamos refletir sobre a falta de


confiança, que penso ser sempre, na verdade, falta de acreditar que
existe um ser consciente por trás de todo Universo, que controla
tudo e que quer o bem de todo mundo, o que gera, por
consequência, uma falta de confiança em si mesmo.

O Criador está por trás de tudo, porque Ele é tudo que existe,
como vimos, Ele é cada átomo, próton, elétron, cada quark e além.
E se Ele é tudo, não vai querer para si algo que O faça infeliz, Ele
quer abundância, amor, alegria, quer o melhor para Ele mesmo.

O que impede as pessoas de vivenciarem o melhor é a falta de


confiança nelas e na vida. E confiar é parar de por pressão. Se eu
confio que o arroz vai cozinhar em 15 minutos, eu não fico a cada 2
minutos verificando se ele está cozinhando mesmo, eu coloco o
arroz no fogo e sei que a natureza se encarregará do restante.

A confiança traz um senso de relaxamento, faz com que


paremos de ficar projetando o futuro e lembrando do passado, cria
um sentimento de que tudo flui como tem que fluir, como Deus
quer. Por isso a falta de confiança está atrelada à falta de fé.

Quando observo pessoas falando 'eu acredito em Deus' e


percebo na vida delas uma total falta de confiança, que colocam

61
pressão em tudo o que fazem, que querem a vida do jeito delas,
vejo que é uma fé vazia, uma fé da boca para fora.

Quando confiamos totalmente em Deus, não existe motivo


para acordar da cama tenso, não há motivo para exigir do
Universo o que se quer, porque Ele sabe o que é melhor para nós.
Se Ele mandar chuva, é chuva o melhor, se Ele mandar sol, é sol o
melhor.

Essa confiança nos torna mais relaxados na vida, pois


começamos uma ação, fazemos o possível dentro da nossa
capacidade humana e então confiamos que o Universo vai pegar
essa ação e vai nos levar para onde Ele quiser, não está mais
sob nosso controle. Afinal, não sabemos quais são os planos Dele
para Ele mesmo, ninguém sabe o que Ele quer experimentar através
de nós.

Certamente você consegue pensar em algo na sua vida, que


aconteceu há muito tempo, mesmo que algo simples, como uma ida
ao shopping ou à um show, mas que se não tivesse acontecido, não
teria desencadeado várias outras ações, algumas de grande
impacto na sua vida até hoje.

Dessa forma, percebemos como uma única ação é


fundamental para que todas as outras ações aconteçam, mas a
nossa mente não é capaz de processar a quantidade de variáveis
que uma vida pode ter. E já que ela não é capaz de processar todas
as sincronicidades, a única coisa que nos resta é confiar!

Confiar que existe uma consciência muito superior à nossa,


com real capacidade de calcular os acontecimentos e tomar

62
conta de tudo. Cabendo a nós simplesmente se dedicar para fazer
um trabalho melhor, para ser uma pessoa melhor, estudar, estudar
e estudar, então relaxar e entregar o restante para Deus e seu fluxo
natural.

Não existe fé sem confiança e não adianta confiar só quando


tudo está bem. Confiar é confiar até o fim, mesmo nos períodos de
turbulência. Confiar na vida é saber que mesmo um grande
problema desencadeia uma série de ações que sempre nos levarão
à um lugar melhor, sempre.

Por isso, todo processo que possa parecer negativo em nossa


vida, como uma doença, um desemprego ou o fim de um
relacionamento, vão a médio e longo prazo desencadear outras
ações com potencial positivo, apesar dos desafios iniciais. A
natureza sempre encaminha todos os seres para um lugar melhor,
mesmo que não consigamos enxergar ainda nessa vida.

Na verdade, podemos demorar várias vidas para lapidar


situações ou características, talvez sem entender o porquê de
determinados eventos, mas de repente em alguma vida, aqui ou em
outro planeta, vamos entender que sem aquele evento passado, não
teríamos chegado ao estado atual de desenvolvimento.

63
Exercício Confiança

Geralmente quando não temos confiança é porque estamos


criando na mente uma imagem do passado de alguém que nos
diminuiu ou de algo que fizemos e não deu certo. De alguma forma,
essa imagem reverbera até hoje causando um pensamento de
que não somos capazes de realizar e não há como ser confiante
sem mudar esse padrão mental negativo.

Pense, qual a diferença entre uma pessoa que sabe fazer algo
de uma que não sabe? A pessoa que sabe estudou, pesquisou,
treinou, tem um conhecimento técnico sobre o assunto, mas mais
que isso, ela confiou que podia. A pessoa que não sabe, não
estudou aquele conhecimento específico, mas isso de maneira
alguma quer dizer que ela não fosse capaz, talvez só tenha faltado
confiança em si.

Percebam como é mais uma questão de confiança para


começar do que de ter capacidade ou não. Muitas vezes nem
começamos porque temos muitos pensamentos de incapacidade
minando nossa mente. Você não consegue, por exemplo, ser um
químico avançado, se não tiver se dedicado e estudado para isso,
mas antes de tentar não tem como saber se você seria capaz
ou não.

Pensamentos derrotistas, como a lembrança de algum familiar


desacreditando de nossas capacidades ou uma experiência dolorosa
em algum emprego podem rondar nossa mente, mas não podemos
seguir deixando que eles influenciem nossas atitudes hoje. Eles

64
referem-se somente à uma situação do passado, o que importa é o
que podemos fazer agora.

Portanto, pare de rotular que não consegue, que não é capaz


de algo. A confiança vem principalmente do seu estudo e da sua
pesquisa. Para ser confiante, domine o assunto que é mais
importante para você no momento, estude, pesquise e pratique.
Depois de um tempo esse conhecimento vai estar dentro de você e
então será um processo natural se sentir mais confiante a partir
dele.

Durante esse caminho, o exercício que sugiro, é policiar


constantemente sua mente para quando vir um pensamento
negativo, imediatamente lançar um positivo em cima. Por
exemplo, pensou 'eu não posso', imediatamente pense, 'eu posso'.
Pensou 'não consigo', coloca um 'eu consigo' por cima, pensou 'eu
sou um inútil', pense 'eu sou útil como tudo o que existe na
natureza'.

Cada vez que vier um pensamento que vai tirar sua confiança,
te depreciar, te jogar para baixo, use essa técnica de rebater a
afirmação negativa com uma positiva, não se deixe convencer
pelo pior. Se te deram uma tarefa desafiadora, sua mente vai falar
'você não consegue fazer isso', então imediatamente lance o
pensamento em cima 'sim, eu posso fazer isso, eu consigo'.

No começo pode ser difícil, pois sua mente já está habituada a


você se associar com pensamentos ruins sobre si, mas conforme vai
deixando de se associar, o cérebro vai entendendo que esse tipo de
pensamento não ressoa mais, que não é para ele ficar lançando

65
isso na sua mente. Então, aos poucos os pensamentos negativos
vão se silenciando e se atenuando.

Repita para si 'eu posso tudo, sou capaz de tudo'. E, na


verdade, todos podemos tudo, desde que estudemos e tomemos
ações rumo a fazer o que queremos. Claro, seja coerente com as
possibilidades, não adianta se dizer capaz de construir um foguete,
sem o conhecimento especializado, sem a matéria-prima, e no caso,
talvez um emprego na Nasa.

A questão é que depreciamos até mesmo as coisas mais


simples em nós. Você quer cozinhar algo diferente, mas se limita,
nem tenta porque se sente incapaz. Sonha com uma viagem, mas
não se permite nem pensar por que não tem dinheiro. Com isso está
sempre colocando um pensamento de impotência na mente,
roubando seu poder pessoal e sua capacidade de realização.

Independente dos seus sonhos serem simples ou complexos,


sempre se pergunte 'o que eu posso fazer para que isso se realize?'
Estude a sério a situação e descubra o que você está disposto a
abrir mão para fazer o que realmente quer. Na maioria das vezes há
caminhos e possibilidades, desde que se esteja disposto a alguns
sacrifícios, a se fazer escolhas e renunciar às idealizações.

Podemos tudo, só não podemos nos deixar derrotar pelo


primeiro pensamento que aparece. É esse pensamento que nos
distância do que nos dá prazer e realmente queremos vivenciar. Ao
substituir pensamentos negativos por positivos, estudar e
desenvolver nossas habilidades intelectuais, vamos entendendo que

66
somos a experiência de Deus na Terra e, portanto, não há
limitações para os desejos reais de nosso coração.

67
Curiosidade

O ser humano percebe o universo através dos 5 sentidos, mas


quando nos comparamos com algumas outras espécies concluímos
que nossa percepção do que está acontecendo a nossa volta é
limitada. O cachorro, por exemplo, tem uma audição duas vezes
mais ampla que a nossa, e ainda sim, não possui nem 1/3 da
capacidade auditiva de um golfinho.

Já no olfato, os cães nos superam em pelo menos 25 vezes.


Quando o assunto é visão, se for de longo alcance perdemos fácil
para as aves de rapina e para os felinos, para os coelhos perdemos
em amplitude, para a coruja em visão noturna, já na visão colorida
perdemos feio para uma espécie de camarão, na verdade, quando o
assunto é ver cores, perdemos até mesmo para os pombos.

Esses são só alguns exemplos para mostrar que cada ser


desenvolveu uma potencialidade de sentidos para perceber o
universo e a realidade que existe. E nós, os seres humanos,
também usamos os sentidos para perceber a realidade, só que os
sentidos possuem uma faixa de atuação, por isso percebemos
uma fatia muito pequena da realidade e do universo.

É loucura, ingenuidade ou soberba achar que aquilo que nós


percebemos com nossos sentidos é toda a realidade, o universo é
muito mais amplo e complexo. Há uma infinidade de partes da
realidade que sequer nossos sentidos percebem, o universo vai
imensamente além do que nós experienciamos dele através dos
nossos sentidos.

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Por isso, pare de associar a verdade a aquilo que os sentidos
percebem, não é porque você não enxerga a luz ultravioleta, que
ela não existe, não é porque você não enxerga os micro-
organismos, que eles não existem, não é porque você não enxerga
outras dimensões, que elas não existem. Tudo continua existindo,
nós só não percebemos.

Então, como um ser que percebe tão pouco da realidade, do


que ela realmente é, pode determinar que essa realidade é a
verdade? Nossos sentidos são um instrumento muito fraco para
perceber a existência inteira, percebemos aquilo que é necessário
para continuar existindo nesse planeta e só.

Por isso a curiosidade é importante, porque nos incentiva a


usar os sentidos e ir além. Se limitamos a vida apenas ao que os
sentidos oferecem, chega um momento que não temos mais
curiosidade por nada. A mente acredita que aprendeu tudo que
poderia aprender sobre essa realidade, então fixa a ideia e enrijece
os pensamentos, porque julga que não há mais nada para ser
descoberto.

Perdemos o sentimento de surpresa, de espanto, de cada dia


descobrirmos um pouquinho da realidade que Deus “escondeu” de
nós e que está para além dos nossos sentidos. É como crianças
entediadas quando há uma infinidade de ovos de Páscoa para se
procurar pelo jardim. Elas acreditam que não há mais nada porque
não veem, não importa o quanto tenha sido dito que há muito mais.

O que ocorre é que estamos sempre nos fechando para o


novo, seja em nossas profissões, em nossos relacionamentos, na

69
vida. Nós fechamos inclusive ao que os sentidos oferecem, paramos
de explorar a realidade que nos é naturalmente oferecida,
ficamos com o que é conhecido e rejeitamos todo o restante.

Mas se não nos abrirmos a explorar os sentidos como


poderemos sequer cogitar ir além? Precisamos nos permitir
experimentar comidas novas, novos cheiros, novos toques, novos
sons, novas paisagens. Alimentar mais fartamente esse banco de
dados sobre a realidade que temos.

Nascemos como crianças, seres naturalmente curiosos,


chegamos a um novo planeta, com um cérebro novo, recebendo
muitas novas informações, afinal tudo para a criança é uma
descoberta, tudo é uma exploração e uma aventura. Mas depois de
uma certa idade perdemos isso, a vida deixa de ser uma aventura e
passa a ser uma rotina maçante, por quê?

Porque fechamos nossa mente, definimos que o mundo é A, B


ou C e pronto, não mudamos por nada essa mentalidade que
fixamos. Quando na verdade, cada dia que passa, nossa mente
poderia ampliar mais, o mundo poderia ser uma fonte infinita de
novas descobertas, um pouco a cada dia, mas sempre em
expansão.

Se não tivermos curiosidade, vamos viver eternamente no


passado, com conceitos antigos, numa eterna nostalgia, achando
que o passado é sempre melhor e que hoje tudo é complicado.
Então a mente se refugia nesse passado, perdemos contato com
o presente, viramos uma espécie de zumbi. Nisso, a Atenção Plena

70
nos ajuda a reconectar com o momento presente e com cada novo
segundo que vivemos.

A vida dá novos dados a todo momento, mas se nós fechamos


em nós mesmos, numa imagem mental de passado, paramos de
expandir nossa consciência. Só que parar a expansão é contra as
leis naturais do universo, leva a doenças no corpo físico e logo se
torna incompatível com estar aqui na Terra. Então vamos para outra
dimensão para mais a frente nascer em um outro corpo físico, com
uma nova mente, para continuar recebendo novas informações.

Ou seja, se chegamos a um momento de nossa encarnação,


que estamos tão fechados no passado que qualquer conceito novo
não entra mais em nossa mente, precisamos desencarnar, voltar
em um novo corpo, com uma mente nova, para nos darmos a
possibilidade de ampliar os conhecimentos e as percepções, por isso
a curiosidade é tão fundamental aqui e agora.

Devemos perceber a realidade com a premissa de que tudo é


novo, que não sabemos nada e estamos aqui como
observadores, não como julgadores. Não estamos definindo,
sabendo tão pouco, que a realidade é A, B ou C. Então, estando
nessa posição, a vida vai trazendo novas informações
continuamente, que pouco a pouco vão ampliando nossa
consciência.

A realidade toda apenas o Criador consegue enxergar, a


verdade que tanto brigamos para possuí-la, apenas Ele tem
capacidade consciencial de conhecê-la. Todos os outros seres, as
pequenas fagulhas que Ele lançou de Si, veem pequenas fatias da

71
realidade, pequenas percepções do que é a verdade, isso quando
estão de olhos abertos para verem.

72
Exercício Curiosidade

Para praticar a curiosidade precisamos estar focados


totalmente no presente, não conseguimos ser curiosos se a mente
não estiver no agora. Se estivermos viajando em pensamentos do
passado ou do futuro, não há como sermos curiosos, estaremos
apenas vivendo no teatro mental.

Ser curioso é olhar as coisas do mundo, quem tem cachorro


sabe que eles costumam ser curiosos. Se veem um bichinho novo
pelo chão, eles observam seus movimentos, mexem com a patinha,
enfiam o focinho, brincam. Isso porque os cães estão totalmente no
agora, então a curiosidade aflora naturalmente para eles.

O ser humano por viver no pensamento, se afasta do mundo e


do momento presente, com frequência estamos num local e nem
damos conta de nada que está ali, do que está acontecendo e
muitas vezes nem das pessoas presentes. Atualmente com o celular,
é ainda mais desafiador, estamos constantemente presos no
mundo mental.

Digo que o celular é um mundo mental, não concreto, porque


as imagens e as palavras estão somente na mente. Por exemplo,
ver a foto de uma paisagem é bem diferente de estar no local da
paisagem. Quando vemos a foto criamos uma imagem mental, mas
quando estamos de corpo presente nessa mesma paisagem, tudo o
que estiver ao redor desperta nossos sentidos e nos enche de
novas informações.

Mas é preciso estar de corpo e mente presente, assim


conseguimos ser curiosos com a vida. E quanto mais curiosos, mais

73
percebemos a grandiosidade da criação, são milhares de insetos,
tons de cores, tipos de sabores, milhares de tudo. Tanto que é
impossível em uma única vida termos a experiência sensorial de
tudo que existe aqui, mas ser curioso é expandir ao máximo o
que se pode experimentar no agora.

Então, o exercício é, onde você estiver, preste atenção em


todos os detalhes, esteja presente. Preste atenção na parede e
em como ela foi pintada, no móvel e na lasquinha do móvel. Mas
prestar atenção não é julgar, ser detalhista é simplesmente tentar
absorver o máximo possível de informação do ambiente em que se
está.

Se você estiver na rua, indo até a padaria, por exemplo, você


presta atenção no caminho, no cheiro que as plantas emanam,
preste atenção nos carros, no vapor que sai do asfalto num dia
quente, preste atenção num pássaro que pousa na árvore. Sempre
sem julgamentos, isso é ser um observador real.

Mas, se estiver com os pensamentos no passado ou no futuro,


não há como prestar atenção nas coisas como elas são agora.
Não é à toa que a curiosidade é um excelente exercício para a
atenção plena e a atenção plena é totalmente necessária para a
curiosidade.

Ser curioso é o tempo todo estar explorando, buscando novas


informações, ampliando seus dados sensoriais e o que seus sentidos
podem trazer para você. Fazendo esse treino, cada vez mais será
meticuloso, detalhista, se sentirá à vontade em explorar novos

74
aspectos da realidade e cada vez mais sua consciência expandirá
com isso.

75
Bondade

Estudos sociológicos mostraram que nas comunidades em que


as pessoas são mais bondosas, existe maior chance de
sobrevivência, do que nas comunidades em que as pessoas têm
uma tendência predatória e não há senso moral quanto a destruir o
outro.

A bondade não é uma característica religiosa, não é


metafísica, ela é um instrumento de sobrevivência da espécie,
seja qual ela for. Se a espécie não tiver bondade, senso de ajuda,
de cooperação e de coletivo com os outros da sua espécie, ela em
pouco tempo deixa de existir.

Então, a bondade é muito mais um instrumento material da


existência, do que um instrumento abstrato. Falam de bondade
como santificação, mas ela está mais relacionada à percepção de
ajudar o sistema a funcionar melhor, cooperar com a fluidez
dos processos, ajudar o mundo e as pessoas a se desenvolverem.
Se todos tivessem esse senso ampliado de bondade, os problemas
sociais seriam quase inexistentes.

Por isso, digo que não existe governo perfeito, qualquer utopia
racional que o ser humano crie da sociedade ideal não vai existir, se
individualmente, cada pessoa desse planeta, não tiver a percepção
de fazer o que é melhor para a sociedade como um todo, fazer o
que é melhor coletivamente.

Mas, relacionaram bondade com santidade, que é preciso ser


santo para ser bom ou que basta ser bom uma vez na semana.
Porém, a bondade tem muito mais a ver com ética, com a máxima

76
que diz 'não vou fazer para o meu próximo aquilo que eu não
gostaria que fizessem para mim'. Viver essa máxima já seria a base
de toda bondade, pois não iríamos prejudicar, trapacear, roubar o
outro pois certamente não queremos nada disso para nós mesmos.

Entretanto, a ideia de santidade afastou muito as pessoas do


conceito real de bondade e até do conceito real de espiritualidade.
As pessoas creem que para ser espiritualizadas precisam ser
santas, mas não, somos um ser falho, erramos em muitos
momentos, falamos o que não devíamos ter falado, temos nossos
vícios e hábitos prejudiciais, definitivamente não somos a imagem
de um santo.

Cremos, então, que é preciso abdicar da nossa vida para ser


bom, que é preciso ser pobre, fazer sacrifícios, não ter prazeres,
dedicar totalmente nossa vida ao outro. Mas, tudo o que
precisamos, na realidade, é fazer nossa pequena parte no dia a
dia, assim contribuiremos muito para o desenvolvimento da nossa
sociedade.

Vamos imaginar um planeta semelhante a Terra e supor que


foi determinado um tempo hipotético de 20 mil anos para que a
sociedade desse planeta se desenvolvesse e resolvesse
problemas sociais e climáticos. Esse é o desafio que o universo
deu, 20 mil anos para como sociedade, se organizar, evoluir
moralmente, criar aparatos tecnológicos e soluções para esse
problema ou a raça acabará consequentemente por ser extinta.

Isso é o que, mais ou menos, ocorre conosco hoje, temos um


tempo x para resolver os problemas do nosso planeta, nossos

77
problemas sociais e morais antes de sermos extintos. Todas as
civilizações que existiram antes de nós, também tiveram a
oportunidade de resolver seus desafios. Mas se somos hostis, se um
quer prejudicar o outro o tempo todo, se não desenvolvemos o
senso de bondade e coletividade, não haverá tempo hábil para
resolver o desafio.

A natureza e o universo não têm apego ao nosso corpo físico,


são átomos, prótons e elétrons, se essa raça for extinta, começa
outra, mesmo que leve alguns bilhões de anos, pois se tem a
eternidade. Só que nos é dado a oportunidade de como seres
prosperar, basta sermos bondosos, empáticos e ajudar o
coletivo. Se todos fizessem um pouquinho disso, incluindo eu e
você, concluiremos o nosso desafio com sucesso.

Podemos perceber que há uma seleção natural do próprio


universo, entre a raça que consegue se unir, resolver seus
problemas juntos, como humanidade, e, portanto, prospera, e a
raça que fica um brigando com o outro, querendo ser mais que o
outro, subjugando o outro, querendo somente vantagens individuais
e acaba por se autodestruir.

Esse caminho natural de autodestruição de uma sociedade


que tende à crueldade já foi provado em alguns estudos com
simulações computadorizadas e em comunidades de ratos. Toda
raça que permanece na hostilidade com o outro, em pouco tempo
chega à extinção, mas quando alguns fores dessa comunidade
resolvem ajudar o outro e isso se propaga, há uma estabilização e a
raça acaba por prosperar.

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Por isso é importante parar de pensar em bondade como
santidade. Não somos santos, mas devemos ser bons. Todos
encarnamos para resolver problemas mentais, emocionais e as
várias pendências conscienciais que temos. Então, não ache que
para ser bom e espiritualizado você precisa ser santo, nem use mais
isso como desculpa.

Existe uma parábola que nos conta de um Mestre que antes


de se iluminar pegava água do poço e cortava madeira para levar
para casa. Um dia um discípulo perguntou: 'Mestre, como sua vida
mudou depois que você se iluminou?' E o Mestre agora já iluminado,
respondeu: 'Eu continuo cortando madeira e pegando água do poço,
nada m udou'.

O que muda é que conseguimos ver um pouco mais amplo, a


fatia que se vê da realidade amplia, é só isso. Não tem a ver com
santidade, com andar descalço, com a Netflix que você vê ou não,
se você sai, frequenta restaurantes, viaja ou não. Você pode ter sua
vida normal, afinal estamos aqui para viver essa vida, não para
renegá-la.

Qualquer um que tente renegar a vida, se tranque em uma


caverna, acreditando ser a única forma de estar mais perto de Deus,
está errado. Ele não está longe ou em um lugar específico, seja uma
caverna ou um templo, Deus é tudo o que existe, é a comida que
você come, o carro que você dirigiu, você mesmo, tudo é Ele,
portanto, Ele está em todo lugar. Já dizia Cristo, 'levante uma
pedra e me encontrarás'.

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Para ter contato com Deus só precisamos estar no tempo
presente. Ele conversa no agora, basta silenciar o turbilhão mental,
e prestar atenção no que Ele está falando. Não precisamos estar em
estado de oração ou meditação profunda, nem ir para o Ganges, só
precisamos silenciar a mente por alguns segundos e escutar o que
Ele quer dizer. Eu não me surpreenderia se uma consciência pura
amor nos dissesse para lembrarmos da bondade que já existe em
todos nós.

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Exercício Bondade

O exercício da bondade é tão simples, que proponho um


desafio a você! Preparado? Por um mês se comprometa a ajudar
o mundo, fazendo dois movimentos, pare o máximo possível de
atrapalhar as pessoas, as situações e o universo, e ajude o máximo
possível tudo o que estiver ao seu redor.

Nesse mês, faça tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar
o universo a funcionar melhor. Ao entrar no elevador, dê a vez
para outra pessoa, se fez sua refeição na praça de alimentação do
shopping, leve sua bandeja para o restaurante, viu que algo caiu no
chão, junte, passou por um lixo na rua, leve-o até a lixeira.

Se dedique a praticar a bondade e a perceber as situações em


que você pode exercê-la. Se está dirigindo e alguém precisa entrar
na sua frente, dê a passagem, viu alguém precisando de ajuda para
atravessar a rua, se disponibilize, um amigo está triste, ofereça
apoio e palavras de motivação. Comece a desenvolver esse olhar
atento às necessidades alheias e que, na maioria das vezes, com
pouco esforço, você pode suprir.

Mas, lembre-se que ajudar não é ser tonto, vivemos em um


planeta em que grande parte das pessoas não desenvolveu a
consciência de unicidade e coletivo e, portanto, tem costume de
fazer as outras de marionete, de usá-las. Então aproveite a
oportunidade para entender quais são os seus limites e aprender
a colocá-los com segurança e gentileza quando o outro ultrapassá-
lo.

81
Por outro lado, jamais esqueça que temos livre-arbítrio, às
vezes as pessoas não querem ser ajudadas, respeite essa vontade
sem julgamentos. Não ultrapasse o limite delas, por mais que o
benefício de ser ajudado seja óbvio para você, o outro não é
obrigado a querer receber, portanto, só ajude quem quer ser
ajudado.

E estenda essa ajuda não só às pessoas, mas a tudo que


conseguir pensar, passe a se enxergar como um facilitador,
alguém que coopera para que tudo a sua volta funcione melhor.
Aproveite para colocar em prática ações positivas para o planeta,
para os animais, para a natureza, que talvez você já tenha
consciência de fazer e venha adiando.

Se disponha a resolver qualquer coisa que esteja atrapalhando


o fluxo, conserte, arrume, jogue no lixo, organize, não espere o
outro fazer, nem caia na armadilha de acreditar que não é sua
obrigação. Faça o máximo que puder para tudo funcionar melhor,
para transformar positivamente onde quer que você esteja, para
colaborar com o desenvolvimento das pessoas e da sociedade.

Mas faça tudo isso sem julgamentos, sem ficar se achando


melhor do que quem não faz, não se torne um arrogante
tentando ser caridoso. Obviamente tenha paciência com você no
processo, apesar de simples, existem armadilhas para o ego quando
resolvemos ser bondosos.

Pratique um mês esse exercício de ajudar sempre que puder,


e você vai começar a ver a transformação que ocorrerá na sua
vida, não vou falar mais que isso, nem prometer nada aqui, mas

82
você verá com os próprios olhos o que ocorre quando sua
frequência começa a subir.

O universo passará a te perceber em uma frequência


criadora, de alguém que ajuda o sistema a funcionar, que colabora
com o fluxo e deixará de te perceber como uma frequência
destruidora, de alguém que prejudica o sistema, que atrapalha o
fluxo. E então algo poderoso acontece, vemos na prática que
ninguém supera Deus em bondade, Ele sempre quer ser quem
retribui mais.

83
Gratidão

A primeira gratidão que devemos ter é por estarmos aqui, mas


sei que há quem ache o mundo cruel, que preferiria não estar,
talvez nem existir como consciência e tem o direito de pensar assim.
Porém, para aqueles que já conseguem ver um aspecto mais
profundo da vida, a primeira gratidão é ter um corpo físico, estar
encarnado em um planeta, sentindo tantas sensações e vivendo
tantas experiências.

Mas temos que ter atenção para não tentarmos ser gratos por
comparação, ou seja, usar o outro como referencial. Por exemplo,
acreditar que devemos agradecer a comida porque outras pessoas
não têm, que devemos agradecer a vida porque outras pessoas têm
uma vida pior, isso não é gratidão, é julgamento.

Cada ser recebe um conjunto de influências sensoriais


específico e não possuímos a base necessária para fazermos
julgamentos do que é melhor ou pior, simplesmente não
sabemos. Não temos como julgar uma situação como melhor do
que outra, uma vida como melhor do que outra. A gratidão
simplesmente é, ela independe de fatores externos e comparações.

Mas, ser grato pela existência em si, e não por comparações


de melhor ou pior, passa por entender que o Criador poderia não ter
se individualizado em eu, você e tudo o que existe. Esse é o amor
do Criador, propiciar às pessoas, às coisas, aos seres e todas as
consciências que troquem informações, que vivam e que
experenciem. Por isso, tudo que vivemos é um presente, cada
respiração e cada segundo.

84
Assim, cada momento da nossa existência é valioso porque Ele
poderia estalar os dedos e tudo deixaria de existir, mas Ele propicia
que tudo continue existindo, nos vários níveis e dimensões, porque
Ele realmente ama a tudo e a todos, não há outro motivo além do
amor para tanta doação incondicional, então esse é o nosso
primeiro motivo de gratidão.

O segundo motivo de gratidão são nossas conquistas e


avanços conscienciais. Sejam pequenos como aprender a abrir
uma lata de ervilha, ou maiores, e aqui vou dar um exemplo
próprio, eu era egoísta e acreditava que estava tudo bem, até que
vivi experiências que me levaram a perceber que o egoísmo não
leva há nada, então aprendi o valor do compartilhar. Antes eu não
sabia, agora eu sei, portanto, devo agradecer essa vitória
consciencial que tive.

Muitas vezes, o que aprendemos parece menor perto de


conquistas materiais, nem paramos para identificar o quanto
estamos expandindo a cada ano. Mas a gratidão tem mais a ver
com agradecer as mudanças de ponto de vista e as melhorias como
ser humano e menos com o que conseguimos comprar ou ter. Os
bens materiais serão todos acrescentados naturalmente, o esforço
do universo está em expandir nossa consciência, aí é que está o
amor de Deus em ação.

Saia da escala humana de tempo, de 70 anos uma vida


terrena e pense nos bilhões de anos da nossa existência, em
quantas informações foram dadas a nós, o quanto expandimos
nossa consciência, só por isso já devíamos agradecer
diariamente. Já o que temos, obedece a uma ordem natural,

85
quando confiamos e estamos na mesma frequência do Criador,
entregues, tudo vem automaticamente.

A prosperidade, a alegria, o amor, tudo isso são naturais e nos


oferecido constantemente, os recebemos por uma lei assim como
a gravidade. Se estamos positivos, relaxados, no tempo presente,
fazendo nosso melhor, praticando a bondade, aceitando e confiando
plenamente em Deus, vamos atrair tudo aquilo que estamos
vibrando de bom, mas se estamos em uma frequência negativa,
ansiosos, sem confiança, sem perdão, vamos atrair aquilo que
estamos vibrando de ruim.

Então o agradecimento real não é pela matéria, porque isso é


uma lei física, uma lei natural de atração do nosso campo
magnético, tudo nos é dado sempre, nós que barramos o
recebimento. E sim o agradecimento por ser consciente e
experimentar, por ver uma fatia do universo, por ser um pouco
melhor a cada mês, a cada vida, e durante milhões ou bilhões de
anos de nossa existência entender um pouco mais do universo.

Novamente falo, se Ele fosse cruel, egoísta, se tudo não fosse


um ato de amor, Ele estalaria os dedos e tudo deixaria de existir.
Então o agradecer final é 'obrigado, eu existo'. E quando temos essa
gratidão pela existência, ela permeia tudo, se está sendo grato
por tudo, por todo conjunto de coisas que nossa existência precisa
aqui na terceira dimensão, seja algo material, seja amor, saúde,
tudo que existe.

Quando vivemos esse sentimento 24 horas por dia, estamos


tirando o sentimento de escassez e de carência da mente e

86
estamos colocando o de gratidão no lugar. Ao agradecer, focamos
no que temos, e se a gratidão é verdadeira, acreditamos que já
temos tudo o que precisamos, paramos de reclamar do que não
temos e então o que precisamos e mais de repente surge em nossa
vida.

A gratidão cria uma imagem mental de que já temos tudo o


que precisamos, nada nos falta, e quando isso fica completamente
enraizado no nosso inconsciente, automaticamente tudo é
preenchido na vida, não há carência, não há falta, não há
escassez. Por isso a gratidão pela existência é o primeiro passo para
a prosperidade e não existe prosperidade sem gratidão.

Então, quando somos gratos pela existência, tudo o mais


começa a se encaixar, a se resolver, porque abandonamos o
sentimento de carência, o sentimento de não ter e de não poder e
nutrimos o sentimento de 'obrigado por existir, por ser quem
sou, pelas experiências que vivo, por tudo o que sinto, obrigado,
obrigado, obrigado'.

87
Exercício Gratidão

A gratidão está intimamente ligada à aceitação e à


prosperidade. A aceitação vem antes, porque para ser grato é
preciso aceitar a própria realidade, e a prosperidade vem depois,
porque só é próspero quando já se é grato pelo que se tem. Pois, se
não formos gratos pelo que temos, como seremos gratos por aquilo
que ainda nem conseguimos?

Vivemos em um mundo material e tudo que existe aqui na


terceira dimensão, tirando nossa consciência, é um empréstimo.
Não levaremos nada de material daqui, pois tudo, absolutamente
tudo, nos é emprestado pelo Criador. Ele nos empresta o carro,
empresta a casa, empresta diariamente o prato de comida,
empresta o corpo físico, tudo é Ele e Dele, nada é nosso.

Aprendemos desde pequenos que quando alguém,


independente de quem seja, nos empresta algo, o mínimo a fazer
é agradecer. Se pedimos açúcar à um vizinho e ele nos empresta,
nós agradecemos, não é? Ou vamos dizer 'não fez mais que a
obrigação em me emprestar o açúcar'? Imagino que não. Então por
que não agradecemos diariamente a Deus que nos empresta tudo?

Ele empresta por amor, empresta a si próprio porque quer o


bem de tudo e todos, o fluxo perfeito. Para Ele estar bem, eu
preciso estar bem, você precisa estar bem e Ele certamente não
mede esforços para isso. Mas agimos como crianças, não
percebemos as bençãos do prato diário de alimento, estamos
sempre chorando por um brinquedo a mais e quando ganhamos
já queremos um próximo.

88
Por isso, o exercício da gratidão é repetir 'obrigado, obrigado,
obrigado', como prática diária, em vez de reclamar do que não se
tem, agradecer o que se tem. Ao fazer as tarefas diárias, repetir
mentalmente 'obrigado', vai comer, 'obrigado', está dirigindo seu
carro, 'obrigado', está fazendo um passeio com a família, 'obrigado',
vai tomar banho, 'obrigado', ganhou um presente, 'obrigado', está
com saúde, 'obrigado'.

Esse pensamento repetitivo de obrigado vai começar a gerar


um sentimento de gratidão e o sentimento é muito mais forte que o
pensamento. Então, se no começo o pensamento é forçado, com o
tempo, conforme vai se tornando uma verdade interna, se
transforma em um sentimento natural, seremos realmente gratos.
Nesse ponto começamos a sentir a prosperidade fluir, já que a
gratidão e a prosperidade estão ligadas, lembra?

Quando somos plenamente gratos pelo que temos, vibramos


plenitude e satisfação, pois se temos a certeza de ter tudo, não há
por que sentir medo, escassez ou ansiedade. Sabemos que temos o
que precisamos para estar aqui, então o universo pode acrescentar
mais. O Criador adora uma oportunidade de ser mais generoso,
mais abundante, mas isso não pode acontecer se nós mesmos
estamos olhando só a escassez.

Além disso, sendo gratos, o universo sabe que já somos


felizes, o que for acrescentado só irá melhorar. Pois para o ingrato,
não importa se ele já tem tudo, e provavelmente tem, ele não
percebe e quanto mais recebe do universo mais falta vê, então
gera para si mais e mais medo, ansiedade e escassez. O material

89
que vem a essa pessoa mais prejudica que ajuda, então o universo
está sendo bondoso em pouco acrescentar a ela.

Pratique a gratidão com a intenção de torná-la cada vez mais


a sua verdade, mesmo que inicialmente não seja natural, insista,
coloque seus pensamentos para trabalhar a seu favor e então torne
a gratidão um sentimento. É quando renunciamos às infantilidades
do ego e nos tornamos adultos, não só no corpo, mas também no
espírito, que sentimos a satisfação de ter o coração repleto de
gratidão e vê-la em expansão por toda nossa vida.

Mantrar o 'obrigada' como um exercício para a gratidão é


simples e poderoso, a própria ciência e a psicologia positiva vêm
provando os benefícios de cultivá-la em nossa rotina. A gratidão
pelo material é só a ponta do iceberg, mas muitas vezes é por onde
nos faz mais sentido começar, porém a partir dela conseguimos
expandir genuinamente nossa percepção de que só é grato pelo que
se tem, quando se é grato pelo que se é.

90
Perdão

Todos nós carregamos um saco de pedras nas costas, sim,


pedras! Desde pequenos vamos pegando pedrinha por pedrinha,
umas bem pequenas, outras maiores e bem pesadas e vamos
adicionando nesse saco. Essas pedras são as mágoas, as rusgas, os
ranços, os ressentimentos, tudo que fizeram para nós e que não
perdoamos.

Esses sentimentos citados, como a mágoa e a raiva, começam


principalmente no hábito de viver no passado. Estão relacionados
ao que não liberamos, ao que não perdoamos, a mente
projetando uma imagem e a revivendo repetidamente.

Estamos, então, indo constantemente para o passado mental,


resgatando aquela imagem que nos gera esse sentimento de mágoa
ou ressentimento. E assim, não viveremos o presente, a vida real e
sim uma vida subjetiva, vivendo em looping algo que já
aconteceu.

Essas imagens mentais se repetem sem parar, não importa se


aconteceram há uma semana, um ano ou cinquenta anos, elas
travam a mente, assim como ocorreria com um computador, é um
bug no processamento mental, e então simplesmente não
conseguimos sair disso, desse pensamento cíclico.

Mas é no presente que vivemos, é no presente que


realizamos, que exploramos o mundo, que expandimos a
consciência, e isso não é possível quando estamos repetidamente
vivendo o passado. Precisamos, então, quebrar esse ciclo e o único

91
modo de quebrar o looping da mágoa, do ressentimento e do rancor
é através do perdão.

Assim como ocorre com a bondade, o perdão foi associado à


santificação, algo possível somente para os iluminados, para alguns
poucos escolhidos, mas esqueça isso! O perdão é uma ferramenta
prática para quebrar os loopings mentais, para te tirar do passado
e te trazer para o presente, para aliviar o peso do saco de pedras
que carregamos nas costas.

Muitas vezes as pessoas nos magoam, mas sem a intenção de


machucar, elas também têm problemas, também estão vivendo
seus loopings, também estão com os pensamentos e os sentimentos
desorganizados. Exigir que ninguém te machuque, é exigir um
mundo perfeito que não existe, é somente uma projeção do
futuro.

Cada pessoa é o que é, não adianta querer que elas sejam


diferentes, e se queremos, fica evidente que precisamos
desenvolver a aceitação. Porque ou aceitamos alguém como é
ou nos afastamos, o que não podemos é ficar julgando, discutindo,
apontando o dedo e juntando cada vez mais pedrinhas.

O perdão é a ferramenta que nos permite largar as pedras,


desistir delas por perceber que elas não trazem nada de bom e só
dificultam a caminhada. Reviver o passado sem parar, rouba
energia física, mental e emocional, energia essa que poderia ser
usada para produzir, aprender, buscar novas experiências e ser feliz.

Se alguém te magoou, pense 'eu não posso fazer mais nada a


respeito', pois o que aconteceu não pode ser mudado ou desfeito. O

92
que se pode fazer é decidir não carregar esse sentimento em si, não
carregar as pedras. E não porque você é santo, mas porque essa
mágoa te prejudica, ela dificulta o seu caminho, tem a ver com
você e não com quem te magoou.

O ser humano sai coletando tudo que encontra pelo caminho,


não interessa se é lixo, se faz bem ou faz mal. Vira um catador de
pequenas pedrinhas, tudo o que o outro faz ou deixa de fazer vira
raiva, vira ranço, vira rancor, vira mágoa e no fim da vida, a maioria
das pessoas, é um grande saco de ressentimentos. Mas para
que carregar tudo isso?

E chegar no fim da vida nem é garantia de que o


ressentimento acaba, se pode ficar revivendo isso pela eternidade,
morrer e continuar nesse surto mental, virar encosto do outro,
buscando uma espécie de compensação. 'Ah, mas em 1875 fulano
colocou fogo na minha fazenda de café'. Amigo, o tempo passou, o
tempo correu.

Reconheça as pedras que você carrega, algumas talvez já


tenham até virado de estimação, mas você pode viver sem elas,
e vai viver melhor, vai se sentir mais livre, mais leve, mais focado
no presente, tudo será melhor. Use o perdão para se libertar dos
pesos que você mesmo tem escolhido carregar, solte suas pedras.

93
Exercício Perdão

Acabamos de falar sobre o perdão e a importância de largar


pesos desnecessários através da sua prática. E uma técnica que
ajuda muito nesse processo e que veremos agora, é o
ho'oponopono, uma antiga técnica havaiana para o perdão,
desenvolvida por Kahuna Simeona.

Pense em um fato que aconteceu no passado, que te


magoou muito e que você não consegue esquecer. Coloque esse
fato em destaque na sua mente, preste atenção aos pensamentos
que surgirem e de onde eles vêm. Fixe esses pensamentos que
estão gerando a mágoa, a raiva, na sua tela mental, como se
estivesse dando pause em um filme, se há uma pessoa envolvida na
situação, olhe fixamente para ela, então repita 'sinto muito, me
perdoe, eu te amo, sou grato'.

Repita essa frase mesmo que se, pelo seu julgamento, você
esteja certo e a pessoa errada, você seja a vítima e o outro o algoz,
não importa. Porque o ho'oponopono, tem como base a ideia de
que todos estamos interligados, seja por um contato nessa vida
ou em vidas passadas e que é impossível o universo te trazer uma
vivência equivocada.

Imagine que três vidas atrás prejudiquei alguém, roubei o


carneiro da pessoa, bati nela, passei com a carruagem por cima,
gritei com ela na rua, cuspi, enfim, a lista de possibilidades é
enorme. Então, passaram-se duas vidas, eu a encontrei de novo e
ela me devolveu aquilo que fiz, talvez tenha levado meu celular
ou gritado comigo no trânsito.

94
A questão é que, no universo, não existe ação sem reação,
mesmo que elas pareçam separadas por algum espaço de tempo.
Em algumas culturas isso é chamado de karma, e essa reação
recebida seria o karma negativo acumulado. Na verdade, o universo
é um grande espelho, o que você manda para ele, retorna para
você, não importa quantas vidas atrás foi.

Por isso, o ho'oponopono ensina a pedir perdão mesmo


quando nos julgamos certos, porque não sabemos! Se você está
vivendo uma situação desafiadora, é porque de alguma forma
merece, não está errada a máxima que diz que colhemos o que
plantamos. Então, sim, somos responsáveis pelo que nos acontece,
mas devemos ver isso sem julgamento, apenas como sensações e
experiências.

Mas o mais comum é que tenhamos a atitude infantil de nos


vitimizarmos e culparmos o outro ou Deus, pelo que nos ocorre de
negativo, relutamos em aceitar que somos responsáveis por
nossa existência. Perdoar implica nos tornarmos adultos
conscienciais, adultos espirituais e desenvolver a
autorresponsabilidade.

Então, se algo aconteceu na sua vida de positivo ou negativo,


tenha a consciência de que você atraiu aquilo, ninguém te mandou,
Deus não está te punindo, você não é uma vítima das
circunstâncias, nada disso, você atraiu. Por isso, se alguém está te
prejudicando, a pergunta a ser feita, para trazer consciência e não
necessariamente para encontrar a resposta, é 'o que eu fiz para
essa pessoa estar fazendo isso comigo?'

95
Repetir o mantra do ho'oponopono, 'sinto muito, me perdoe,
eu te amo, sou grato' dissolve os desconfortos e começa a gerar
amor. Isso porque a energia do amor é positiva e capaz de
dissolver a energia negativa do ressentimento. Ou explicando
quanticamente podemos dizer que quando fazemos uma atitude
positiva, agregamos matéria, quando fazemos uma atitude negativa,
agregamos antimatéria, e apenas a matéria consegue aniquilar a
antimatéria e chegar no neutro novamente.

Portanto, quanto mais raiva você sentir, mais antimatéria


acumulará no seu campo, antimatéria acumulada induz à
desequilíbrios que se agravam cada vez mais, inclusive no plano
físico. Quando nos dispomos a resolver uma situação com amor,
com perdão e agregando matéria, ela vai aniquilando aos poucos
a antimatéria acumulada em nosso campo quântico, em nosso
campo energético.

Enquanto não perdoar, o passado continuará assombrando


sua mente, roubando seu foco do presente, pois só através do
perdão é possível livrar-se dos fantasmas do passado, não há
outro caminho. Mesmo que desencarne, quando acordar em outra
dimensão, esses fantasmas continuarão existindo. Apenas
perdoando é possível limpar a mente, parar de viver no passado e
focar a atenção no presente.

Então, perdoe, pegue todos aqueles fatos que não consegue


lidar, todas aquelas pessoas que sente raiva, que nutre
ressentimentos, coloque uma por uma na sua tela mental e repita
'sinto muito, me perdoe, eu te amo, sou grato'. Quantas vezes e por
quanto tempo precisar, talvez leve meses até você sentir apenas

96
amor, porém a energia negativa será aniquilada pela positiva e um
dia somente o positivo existirá em você.

97
Módulo 5 - Práticas fundamentais da Atenção Plena

Silêncio

Nesse módulo veremos 10 práticas fundamentais no caminho


da Atenção Plena e que podemos incorporar no nosso dia a dia, elas
irão potencializar a prática, trazendo mais rapidamente os
inúmeros benefícios da atenção plena.

A primeira prática é o silêncio, nela te convido a passar algum


tempo quieto e relaxado. Pode ser por 5, 10 ou 15 minutos, o
importante é você reservar um tempo do seu dia para ficar
absolutamente em silêncio. Escolha também um canto da sua casa
que seja mais reservado, sem interrupções e confortável para si.

Porém, ficar em silêncio não é só ficar quieto, não é só não


falar, ficar em silêncio também é ficar em silêncio mental. Então,
nesse tempo que você reservou para a prática, não se associe com
nenhum pensamento, como sabemos, eles irão começar, irão se
formar e você simplesmente os deixará passar.

Esse tempo não é para ser usado para refletir sobre a vida,
nem para planejar nada, sua meta é o silêncio interno. Sente ou se
deite, permita-se relaxar, perceba o fluxo dos seus pensamentos,
mas não os compre. Com o tempo esse fluxo fica cada vez menor e
você vai começar a experimentar intervalos de silêncio na sua
mente.

O intervalo de silêncio é que vai reconstruir todo seu corpo, te


harmonizar, te trazer mais paz, diminuir o estresse e trazer mais
confiança. Quanto mais silêncio tiver em sua mente, maiores
serão os benefícios que você colherá.

98
Mas não esqueça que é um treino, precisa haver compromisso
de todo dia silenciar no período reservado. Não há problema que
inicialmente seja por poucos minutos, com o tempo você vai
conseguir silenciar por horas, isso porque a prática vai sendo
incorporada no dia a dia e mesmo realizando suas tarefas
continuará em silêncio.

Então, essa é a primeira prática sugerida, simples e


fundamental. Espero que você firme esse compromisso consigo
mesmo e passe algum tempo quieto, exercitando essa valiosa
habilidade que é o silêncio.

“O silêncio é um espaço vazio. O espaço é o lar da mente desperta.”

Buddha

99
Conecte-se às pessoas

Você se sente conectado às pessoas a sua volta ou sente


como se estivesse em um mundo à parte? Bom, se você se sente
desconectado, assim como a maioria, saiba que existem dois erros
básicos que nos afastam de uma conexão real com o outro, são
eles, o julgamento e o hábito de ouvir, mas não escutar.

O julgamento é o primeiro a entrar em ação, pois tão logo


conhecemos alguém começamos a julgá-lo. Julgamos a roupa, a
aparência, como fala e se porta, se têm bens materiais e o valor
deles. A partir disso, criamos uma imagem dessa pessoa em
nossa mente, de acordo com as conclusões a que chegamos.

Porém, muitas vezes essa imagem mental está equivocada,


depois que conhecemos a pessoa, vemos que o que imaginávamos
dela não tinha tanto a ver com o que ela realmente era. Por isso,
comece trabalhando o não julgar, seja quando conhece alguém ou
com pessoas que já são do seu convívio. Evite formar uma imagem
mental delas e tirar conclusões precipitadas sem conhecê-las à
fundo.

O segundo erro básico na hora de se conectar às pessoas é


ouvir, mas não escutar. Pessoalmente, quando comecei a praticar
atenção plena muitos anos atrás, percebi que enquanto alguém
estava falando, eu mantinha um diálogo mental interno de como iria
retrucar o que a pessoa estava me dizendo. Na verdade, eu não a
escutava, na ânsia de responder logo e usar meu discurso pronto.

Comecei, então, o seguinte exercício para corrigir esse padrão,


toda vez que conversava com alguém, me obrigava a realmente

100
prestar atenção no que a pessoa estava dizendo, e quando se
formava um diálogo interno na minha cabeça, paralelo ao que
estava sendo dito, eu parava, tentava silenciar minha mente e
voltava minha atenção novamente ao outro.

A pessoa com quem estamos conversando sabe, olhando nos


nossos olhos, quando realmente estamos presentes ou quando
falamos uma coisa pensando em outra. Quando ela não percebe, é
porque também não está ouvindo o que você está dizendo, ambas
estão fingindo ter um diálogo, quando na verdade só existe dois
monólogos.

Isso ocorre porque o ego sempre quer ganhar a discussão,


mesmo que ela não exista, para ele tudo é uma chance de sair
vencedor e de ser dono da verdade. Fora o medo de parecer
vulnerável, de não saber uma resposta ou de soar burro. Então,
nem ouvimos a pessoa falar, estamos ocupados conosco nesse
momento, e tão logo a pessoa silencie, às vezes antes disso, já
falamos nosso discurso pronto, com o objetivo de mostrar que
nossa palavra é a que vale e não de criar empatia e conexões.

Por isso, quando estiver conversando e começar uma


tagarelice mental, pensamentos se formando sobre o que irá falar
depois, silencie. Silencie seus pensamentos, preste atenção no que
a pessoa está dizendo e quando for falar, certifique-se de
realmente estar respondendo o que a pessoa perguntou ou
comentou, não use um pensamento pronto como base para sua
fala.

101
Retomando, o primeiro exercício é não julgar as pessoas pela
aparência antes de conhecê-las, elimine a imagem mental criada
sobre elas. Só passamos a ter uma noção sobre quem a pessoa é
depois que convivemos muito tempo com ela, até lá nossas
percepções são muito rasas. Como pode estar certo julgar alguém
por um brinco, sapato ou a cor da pele, se cada ser é um universo
muito vasto? Acredito que, na verdade, nunca conhecemos
totalmente alguém, dada a nossa complexidade.

O segundo exercício é, enquanto estiver conversando, não crie


discursos mentais, realmente preste atenção no que está sendo
dito. Esse hábito te força a estar sempre no presente, porque
quando se está criando um discurso mental, se está criando no
futuro. Lembre-se, o ego está no passado e no futuro, o seu ser
está no presente, não fale o que vem do seu ego, fale o que vem
do seu ser.

102
Conecte-se à natureza

A natureza é uma das maiores fontes de conexão para o ser


humano, nosso corpo é feito de carbono, portanto veio da natureza,
somos um pedaço do planeta Terra. Por isso, tudo o que está
ligado à natureza e ao planeta, sejam as plantas, os cristais, o mar,
o vento, a montanha, a cachoeira, vão revitalizar nosso corpo e
nossa energia.

Há um tratamento médico no Japão, chamado shinrin-yoku ou


banho de floresta, que consiste em passeios em áreas naturais,
sejam realmente florestas ou até mesmo em parques. A única
condição é que se faça o passeio com presença, com atenção
plena. Cientificamente, o tratamento mostrou resultados na
diminuição do estresse, da pressão arterial e melhorias na
concentração e na imunidade.

O banho de floresta comprovou o que já dizia a sabedoria


popular, a natureza acalma o corpo e a mente. É só lembrar de
algum dia em que esteve estressado e ao entrar em contato com
ela se sentiu imensamente melhor depois. Isso ocorre porque o
corpo descarrega as energias densas e se energiza de energias
limpas quando em íntimo contato com sua primeira casa.

Por isso, sugiro que você reserve na sua rotina, alguns


momentos especialmente para se conectar com ela, pelo tempo que
for possível, talvez todo dia por 10 minutos, meia hora uma vez por
semana ou uma tarde no mês. Inicialmente, foque mais em existir
esse momento de reconexão do que na duração dele, já que pode

103
ser um ponto de desmotivação para pessoas com agenda muito
corrida.

Se não tiver uma natureza exuberante por perto busque


alternativas, como um parque arborizado, o contato consciente
com a água do banho, com plantas de um vaso ou com a lua,
mesmo que seja da varanda. Mas se for possível, aproveite a
natureza em sua forma mais pura, conectando-se no mar, na
cachoeira ou em uma densa área verde.

Aprecie o que ela tiver a te oferecer, lembrando que nesses


momentos o foco é a natureza, por isso não leve celular e não vá
com a intenção de pensar em nada. Caminhe descalço prestando
atenção nas árvores, sentindo o cheiro da vegetação, sentindo a
terra no chão e ouvindo os seus sons.

Aproveite para exercitar tudo o que vem aprendendo sobre


Atenção Plena, pois a natureza é um ambiente muito convidativo
para esquecer os compromissos, esquecer os prazos, esquecer as
tarefas a serem feitas e simplesmente ser.

104
Focar no presente

Uma das dificuldades de se estar no presente, é justamente os


pensamentos que teimam em ir para o passado e para o futuro,
então treinamos o controle mental jogando-os constantemente
para o agora e fazemos isso através da escolha consciente do
presente ao perceber os pensamentos vagando.

O exercício proposto é fazer dessa percepção uma prática


diária. Quando, por exemplo, começar um pensamento de
preocupação com um trabalho para entregar semana que vem, volte
para o presente, quando surgir um pensamento de culpa sobre algo
que já ocorreu, volte conscientemente para o presente.

Mas como a mente volta para o presente? Ela volta quando


nos conectamos com o corpo, com os sentidos, com as
sensações, com o que estamos fazendo neste momento, com a
pessoa que está conosco agora e com o ambiente em que estamos
fisicamente.

Exercite a presença constantemente, fazendo desse exercício


um hábito, pratique, mas não se force, seja gentil consigo quando
falhar em suas intenções. Porém, ao longo do tempo, como em
qualquer exercício, você vai ter uma capacidade muito maior de se
manter no momento presente em suas meditações e no seu dia
a dia.

105
Conecte-se aos pensamentos desagradáveis

Imagine uma visita indesejada que chega à sua casa e toca


insistentemente a campainha, que não desiste até você ir atender à
porta. Os sentimentos e pensamentos desagradáveis também agem
assim, eles persistem incansavelmente até pararmos de tentar
ignorá-los. Portanto, não adianta fingir que eles não existem, se
está com raiva, magoado, com inveja, ignorar não vai fazê-lo sumir,
é preciso encará-lo de frente.

Porém, aceitar que sentimos algo desagradável pode ser


desafiador, por isso sugiro quatro passos fundamentais nesse
processo. O primeiro é descobrir o porquê desse sentimento ter
surgido, já que não ocorrem à toa. Eles sempre querem trazer
clareza sobre algo que não estamos querendo ver. Se é raiva que
você sente, ao identificar a situação chave pode, por exemplo,
encontrar uma injustiça que sofreu ou alguma expectativa que foi
contrariada.

O segundo passo é aceitar esse sentimento, percebendo


em qual parte do corpo ele está. Para isso, pare e sinta qual parte
está mais tensionada quando o sentimento se manifesta, a raiva
geralmente se mostra no estômago ou nos ombros carregados. Com
essa identificação você está sinalizando para o seu sistema que está
consciente do sentimento e fica mais perto de aceitá-lo.

O terceiro passo é extravasar com segurança esse


sentimento, se permitindo expressá-lo sem julgamentos e
repressões. Num momento de privacidade, direcione o sentimento
para algo neutro, pode ser gritar, balançar o corpo ou socar uma

106
almofada, o importante é poder expressar corporalmente o
sentimento até se sentir aliviado.

Esse passo é fundamental porque aprendemos que é feio


sentir alguns sentimentos e acabamos por tentar reprimi-los, mas
isso só faz crescê-los até que acabamos por explodir. Por isso, se
permita sentir e esgotá-los, desse modo, eles vão embora
naturalmente. Se é um sentimento recorrente, faça esse terceiro
passo todos os dias, então uma hora terá ido completamente.

O quarto passo é resolver a situação, seguindo nossa


metáfora inicial quando abrimos a porta, a pessoa para de tocar a
campainha, mas então temos que encará-la e sermos sinceros,
nesse caso, dizer para a visita que ela não é bem-vinda. Portanto, é
importante não pular o passo um, porque ele te trará clareza sobre
os porquês e só assim você poderá tomar uma atitude concreta
rumo à solução.

Um ponto extra importante é se permitir sentir tudo, mas não


guardar nada. Se escolher guardar, saiba que isso traz
consequências nocivas. Então, olhe para o que está sentindo,
entenda por que isso surgiu, aceite, gaste o sentimento e deixe ele
ir. Não temos como impedir que esses sentimentos surjam à nossa
porta, mas é nossa escolha não fazer deles um residente.

107
Gratidão

Você deve estar pensando, gratidão de novo? Sim, não


estou brincando quando digo que ela é fundamental! Primeiro
falamos da gratidão mais básica que devemos ter, que é por nossa
existência, depois sobre ser grato por tudo o que temos e agora
vamos avançar um nível e falar sobre ser grato pelo que não temos.

Agradecer por aquilo que ainda não se tem, como se já


tivesse, parte do princípio de que não temos dúvidas de que o
universo está a nosso favor, que nos provê completamente, que é
abundante e de infinitas possibilidades. Se você quer um
carro, agradeça por ele como se já estivesse na garagem, se quer
um emprego, agradeça como se já estivesse trabalhando, sem se
preocupar com como ou quando.

Já alerto para não esperar a compreensão externa, pois a


maioria de nós ainda engatinha quando o assunto é gratidão, então
não vê sentido em alguém agradecendo o que não possui. O
padrão da sociedade é culpar a vida, ficar magoado e se sentir
esquecido por Deus, como se isso fosse possível.

Mas quem está disposto a abrir os olhos, começa a perceber


que o universo concede tudo o que precisamos, dentro do limite que
conseguimos lidar. Pois, muitos querem ficar ricos, mas poucos
conseguem lidar com a riqueza, muitos querem um amor
verdadeiro, poucos querem ser vulneráveis para viver sem amarras
e preconceitos. E o universo sabe disso.

O exercício que sugiro então, é identificar o que você quer


realmente conquistar em sua vida, seja material, emocional ou

108
espiritual e começar a agradecer como se já tivesse essas bençãos.
Esse sentimento de gratidão vai elevando sua energia e seu campo
vibracional, desse modo, você entra em uma faixa de prosperidade
e de amor, então tudo vem até você naturalmente, sem esforço.

É preciso sair da faixa da autopiedade, da reclamação, de


sentir-se inútil, porque, assim como sintonizamos uma estação de
rádio, você estará sintonizado com essa frequência e, portanto,
atraindo mais disso para si. E a melhor forma de aumentar a
frequência energética é agradecer, mesmo aquilo que não se tenha.

Aproveitando que estamos nos desafiando a respeito da


gratidão, vou mais longe e digo que devemos agradecer também às
situações e às pessoas difíceis. Tem um ditado árabe que diz
'árvore que não pega vento, não cria raiz'. Então, quanto mais a
pessoa tenta te prejudicar, mais ela te ensina a como se proteger e
a como se manter firme nas adversidades.

Pense nas pessoas e nas situações que mais te ensinaram,


grandes chances de serem justamente as que foram mais
desafiadoras, pois elas nos tiram da zona de conforto e ampliam
nosso conhecimento. E o universo sabe disso. Então agradeça as
pessoas difíceis que passam na sua vida, elas são os grandes
mestres que te ensinam a ser cada vez melhor, pois, embora muitos
neguem, todos estamos à serviço da Luz.

109
Use a tecnologia com sabedoria

A tecnologia de modo acessível e universal, é algo recente na


história e, portanto, não paramos para avaliar profundamente seus
impactos em nossas rotinas, com isso continuamos usando
nossos celulares indiscriminadamente e com pouca consciência.

Quase todo mundo possui um smartphone e tem acesso


constante às redes sociais, naturalmente que podemos usar
positivamente tanta acessibilidade às outras pessoas e informações.
A tecnologia está no mundo para ser usada, mas para ela ser bem
usada é preciso um pouco de sabedoria.

Usar a tecnologia com sabedoria significa saber identificar


quando ela é positiva e quando é negativa, ou seja, quando ela está
te acrescentando algo, como boas informações e conexões com
pessoas que agregam, ou te tirando algo, como tempo e
presença.

Há momentos que são marcadamente únicos, mas escolhemos


fazer uma foto ou vídeo a aproveitá-los ao máximo. Quem nunca
conheceu um ponto turístico ou uma beleza natural e ficou mais
preocupado em fazer a foto perfeita para o Instagram do que em
apreciar a vista? Quantos de nós vai à um show e aproveita
realmente, em vez de ficar filmando?

Precisamos nos questionar se queremos viver aquele momento


para ter a experiência ou para mostrar nas redes sociais que a
tivemos. Não estou dizendo para você não tirar fotos em suas
viagens, nem para não as postar, mas para se questionar quais
são suas prioridades e por quê. Viver o momento é apreciar

110
totalmente o presente com os sentidos e isso é incompatível com
olhar a paisagem por uma tela.

O celular não só nos rouba do presente, como nos coloca em


um lugar de constante comparação e julgamento. Se por um lado os
outros sempre parecem estar mais felizes e fazendo coisas mais
legais, por outro, ninguém parece saber de tudo tanto quanto nós,
nossa opinião parece ser a única possível e certa. O quão bem isso
pode fazer à nossa saúde? Estar com a mente em um eterno saltar,
de vítima à juiz em segundos.

Portanto, o exercício é identificar momentos em sua rotina em


que usa a tecnologia indevidamente, seja em um almoço com a
família, enquanto caminha em um parque, em um jantar com os
amigos ou enquanto se exercita na academia e então, não usar o
celular nesses momentos. Coloque no silencioso, desligue, não leve,
qualquer coisa que te faça não ficar olhando a cada 5 minutos para
a tela dele.

Reserve esses momentos unicamente para estar presente,


para apreciar a paisagem, as conversas, a comida, para usar melhor
seus sentidos. Se liberte do medo de não ser encontrado, de perder
algo muito importante ou interessante, se algo for realmente
importante para você, irá te encontrar. Priorize viver o presente
intensamente, depois, no momento certo, pegue o telefone e
interaja com ele.

São inegáveis os benefícios da tecnologia, a produtividade, a


informação, a conectividade e outros tantos, mas também é
inegável que não se pode estar em atenção plena se a usamos de

111
modo descontrolado. Se estamos constantemente nas redes sociais,
conversando, discutindo, julgando, vendo, estamos constantemente
no modo fazer, e se estamos no modo fazer, como já vimos, não
estamos no modo ser.

112
Sorria

Talvez você acredite que não tem motivos para sorrir, embora
espere que não depois de tanto conversarmos sobre gratidão. De
qualquer forma, não importa! A partir do momento que fazemos o
movimento muscular de sorrir, o cérebro automaticamente libera
endorfina, o hormônio da felicidade, então mesmo que não
tenha motivos para sorrir, sorria!

Sorrir é importante porque relaxa a mente e o corpo, traz


uma sensação de bem estar, alivia dores e diminui o estresse. Por
isso, supere o medo de parecer bobo, ria, sorria e se quiser ir além,
gargalhe. Lembre-se que não precisa de motivos, apenas precisa
fazer, comece fingindo se necessário, e então, em algum momento,
a risada será como um mantra e se verá capaz de rir por meia hora
sem parar.

Por isso, a sugestão de exercício é sorria o máximo que


puder, se precisar reserve 10 minutos do seu dia, vá para o quarto
e ria sozinho, isso vai transformar sua bioquímica corporal e
melhorar visivelmente seu dia. Não tenha medo de ser alegre, a
vida é um paradoxo entre ser séria e uma brincadeira ao mesmo
tempo.

Rir de si mesmo e das situações embaraçantes em que nos


colocamos alivia o peso de tudo, não adianta ficar se punindo por
algo que está além do nosso controle, então se você fez uma
besteira, passou vergonha, ria junto. Conserte o que pode ser
consertado e ria do que não pode.

113
Nós levamos a sério demais, esquecemos que estamos aqui
aprendendo, a vida na Terra é como um workshop de fim de
semana de uma experiência sensorial e material. Afinal, o que é 70
anos perto do infinito? Não seria nem como 0,00001 segundo
nosso cérebro nem consegue processar essa informação. Por isso,
cumpra seu dever, mas relaxe.

O riso, assim como o choro, é contagiante e se espalha em


uma onda energética, portanto, quando estiver em um local pesado,
fale uma bobagem, faça os outros rirem, seja a pessoa que
transforma positivamente o ambiente. A alegria deixa tudo mais
leve, por isso, quebre a expectativa da seriedade, conecte-se com
seu lado humorista, conecte-se com seu lado criança.

114
Mude a sua rotina

Se você poderia ter sido inspiração para a música do Seu


Jorge que diz 'todo dia ela faz tudo sempre igual', se prepara
porque vou contar o porquê devemos mudar isso. Os humanos
possuem uma capacidade natural de transformar tudo em rotina,
isso é uma exigência cerebral evolutiva, que visa economizar
energia.

Aprender algo novo, seja uma nova habilidade ou apenas


fazer um novo caminho, exige grande parte da atenção cerebral e
consome muita energia, pois novas conexões entre os neurônios
estão sendo criadas. Com o tempo e conforme as conexões vão se
estabelecendo pela prática, qualquer ato passa a ser mais natural, a
depender menos de nossa atenção e da mente consciente, até o
ponto de ficar automático.

Então, se quando aprendemos a dirigir precisamos pensar em


tudo, em cada ação feita, quando já se tem prática não se precisa
pensar em mais nada para se ir do ponto A ao B. Mas quando esse
processo acontece nas diversas áreas de nossa vida, sem nunca
trazermos questionamentos e revisões, tendemos a nos colocar em
um modo robô com relação ao que falamos e fazemos.

Além disso, nosso cérebro uma vez automatizado, libera


espaço mental para a criação de pensamentos, e sabemos que na
maioria das vezes esses pensamentos gerados enquanto fazemos
uma tarefa são pensamentos do passado ou do futuro.

A atenção plena nos ensina a vigiar esses pensamentos e


jogá-los para o presente, ou seja, se colocar em uma situação

115
mental de aprendizado, mesmo para funções já aprendidas. Mas
então por que é importante mudar a rotina? Porque fazendo isso
usamos a biologia a nosso favor!

Em vez de só treinar seu cérebro para que ele fique no


presente em situações já conhecidas, você cria situações
desconhecidas para que ele naturalmente faça isso. Dirigir é uma
ação única, mas a verdade é que temos blocos de ações
preestabelecidas que executamos durante o dia no automático.
Acordamos e fazemos as mesmas coisas, do mesmo jeito, tudo
sempre igual, repare.

Aposto que você acorda, levanta e vai fazendo uma sucessão


de tarefas simples sem nem pensar muito nelas, a mente já
vagando nas atividades maiores que virão ao longo do dia. Mal
percebe que escova os dentes, lava o rosto sempre da mesma
forma, vai para o trabalho pelo mesmo caminho, trabalha no
automático tanto quanto possível e então volta para casa para fazer
o mesmo de sempre.

Se não fossem os imprevistos do dia, o que ocorre para além


do nosso controle, todo dia seria igual. Para a maioria de nós, o
único momento de mudança que planejamos são as férias e veja o
quanto elas são desejadas e esperadas. Também contamos os dias
para o fim de semana e por quê? Será que nosso problema é
trabalhar ou é uma vontade desesperadora de quebrar a rotina?

Por isso, o exercício é, escolha alguns dias para mudar


suas ações. Comece pelas pequenas, se você acordava e ia lavar o
rosto, acorde e vá fazer o café, se ia para o trabalho por um

116
caminho, vá por outro, se trabalha seguindo passos fixos, tente
mudar isso, almoce em um lugar diferente ou em um horário
diferente. Busque em sua rotina as várias pequenas coisas que
podem ser alteradas.

Feito isso, se desafie um pouco mais e remova ou insira


atividades na sua rotina. Se não fazia exercício, comece, ou talvez
um curso sobre algo que você gosta, coma algo que nunca comeu,
oportunize conhecer novas pessoas, estude um novo idioma, e
quando essas coisas ficarem automáticas, mude-as novamente.

Os xamãs chamam isso de espreita, o ato de se colocar em


situações novas na vida. E quanto mais dificuldade de estar no
presente você tem, mais precisa mudar radicalmente suas ações,
mais precisa estar à espreita, atento às oportunidades de sair da
zona de conforto. Uma vez estando no presente, vai sentir-se mais
energizado, mais atento, mais feliz, vai sentir um novo rumo na
vida.

Esse é o motivo, aliás, para nos sentirmos tão bem em


viagens de férias, voltamos para casa reenergizados, descansados e
rejuvenescidos. Será que é o simples ato de viajar ou o fato de a
rotina ter mudado radicalmente? Será que o lugar era mágico ou
você se sente tão melhor porque se permitiu experimentar
coisas novas? Agora pense, por que não se sentir sempre
consciente das infinitas possibilidades do dia?

Cada vez que se coloca novos desafios e situações, uma nova


onda de energização é gerada. Por isso, não tenha medo de
experimentar, de fazer diferente e de mudar a rotina. Guarde o

117
medo para a possibilidade de viver todo ano o mesmo ano e de
seguir sempre os mesmos caminhos no cérebro e na vida.

118
Pensamentos não são fatos

Chegamos ao último exercício das 10 práticas para o dia a dia


e se no exercício anterior tivemos que olhar o nosso exterior e
entrar em ação para mudar a rotina, nesse vamos olhar o interior e
organizar o que se passa em nossa mente. Ele te convida a
perceber que pensamentos não são fatos. Preparado para se livrar
das ilusões?

O cérebro forma um pensamento a partir da junção de várias


imagens, situações, experiências e traumas. Toda nossa bagagem
individual é usada como base para a formação de um pensamento.
É por isso, que uma mesma situação pode gerar ideias opostas em
duas pessoas, pois o que pensamos não é a realidade, o que
pensamos é um produto do nosso cérebro.

Por exemplo, você tem um trauma de abandono, seja por uma


memória familiar ou porque vivenciou essa experiência. Então,
começa a se relacionar com uma nova pessoa, mas não consegue
parar de pensar que a qualquer momento ela vai ir embora. A
fonte desse pensamento é o trauma e não a realidade em si. O
relacionamento pode estar ótimo, o outro nem cogitando partir, mas
você seguirá buscando os menores indícios de que a pessoa irá te
deixar.

Muitas vezes nesse ponto ocorre autossabotagem, você tem


tanta certeza de que a pessoa vai embora que não sossega até que
vá mesmo. Se pararmos para analisar, isso permeia tudo em nossa
vida, a formação do pensamento é neutra, mas o ser humano é tão

119
incrustado de traumas, que nossas ações são mais ditadas pelo
medo e pela não realidade do que imaginamos.

Temos uma tendência a enfatizar as dores e elas parecem


criar uma cicatriz muito mais profunda do que as alegrias. E essa
cicatriz faz gerar pensamentos que não tem base na realidade atual.
É como quando éramos pequenos e tínhamos medo do monstro
embaixo da cama, nosso medo era real, a sensação da presença do
monstro também, mas ele não era. Crescemos, mas ainda temos
nossos monstros.

Por isso, sempre analise se o que está pensando tem base


na realidade ou não, se decidir que não, ignore o pensamento,
não aja de acordo com ele. Traumas profundos são mais
desafiadores, costumam ser mais insistentes e exigem mais da
nossa capacidade de perceber que não são reais. A maneira de lidar
com eles é a mesma, identificando, ignorando e não agindo de
acordo, mas não hesite em buscar ajuda psicológica ou
terapêutica para lidar melhor com esse processo.

Uma vez que se tenha entendido que pensamentos não são


fatos, minha sugestão de exercício, para trazer clareza à sua mente
é, coloque os pensamentos de um dia inteiro no papel.
Depois, separe-os em duas colunas, em uma os pensamentos reais
e em outra os que identificou como não reais. Esse pode ser um
processo longo e profundo, então seja paciente consigo, não tenha
pressa, mas comece.

Trago dois exemplos de pensamentos possíveis, para ficar


mais claro sobre o que é ou não real. 'Quando saio na chuva eu me

120
molho', esse vai para a coluna do real, 'não concluo nada que
começo', esse para a coluna do não real, pois grandes chances de
ser algo que ouvimos, acreditamos e então materializamos
por autossabotagem. Além disso, certamente concluímos muitas
coisas, mas focamos nas não concluídas.

Uma vez feita a lista, ignore o que não for real, lembrando que
ignorar não é reprimir, não proíba o pensamento de surgir, somente
o identifique na hora como não real e deixe-o ir. Com o tempo ele
ficará cada vez menos regular, até que terá desaparecido da sua
mente. Lembre-se que você ficou alimentando esse pensamento
por muito tempo, portanto, pode levar um tempo até o cérebro
entender que esse pensamento não é verdade e que não se associa
mais a ele.

Pense o quão mais simples tudo será se tivermos claro em


nossa consciência que pensamentos não são fatos, que são uma
representação do mundo interior. E o quão mais claro tudo ficará
com a sabedoria de entender que o mundo interior não
necessariamente condiz com o mundo exterior.

121
Módulo 6 – Lidando com o Estresse

O que é o estresse?

Iniciamos agora uma pequena série para falar sobre o


estresse, entendê-lo da perspectiva da atenção plena e desmistificar
algumas ideias sobre ele. O estresse é uma reação natural do
corpo mediante o perigo, algo muito necessário para nossa
sobrevivência como espécie, principalmente na época em que
convivíamos com animais selvagens e dependíamos constantemente
de uma ação rápida para lutar ou fugir.

Esse mecanismo ocorre através de comandos cerebrais que


fazem lançar uma enxurrada de hormônios na corrente sanguínea e
que vão causar uma série de mudanças corporais, como a
alteração da pressão arterial, dos batimentos cardíacos, da
respiração e outros. Tanto que em situações de estresse, ocorre de
se conseguir ir além das capacidades físicas do estado normal, como
correr mais, levantar pesos maiores ou pular mais longe.

Desse modo, vamos desmistificar a ideia de que o estresse


não é saudável, na verdade ele é saudável e útil em situações de
riscos reais. O que não é saudável é estar nesse modo luta ou
fuga diariamente, o que acontece com frequência em nossa
sociedade moderna. Esse excesso de liberação hormonal mantém o
corpo em constante estado de ação e com o tempo isso gera danos
ao sistema como um todo.

Quando estamos parados em casa, sem um risco iminente,


nenhum leão à espreita, essa liberação hormonal é desencadeada
pelos nossos pensamentos. O corpo não sabe diferenciar o que é

122
real e o que é pensamento, então se estamos pensando em uma
situação de perigo, seja do passado ou projetada no futuro, algo
que nem ocorreu, ele acredita que o perigo é real e imediato.

Só que nesse caso o perigo não existe, é uma projeção


mental, mas que leva igualmente a um estado de alerta físico, então
não conseguimos dormir, relaxar, não conseguimos nos relacionar
amigavelmente com as pessoas, estamos constantemente
agressivos, estamos no modo luta ou fuga mesmo quando no sofá
de casa.

Como lidamos com as situações do dia a dia pode ir


reforçando esse estado, como o que penso quando sou fechado no
trânsito, se sinto medo constante por minha saúde, por minha
segurança, se me sinto ameaçado de alguma forma por algo ou
alguém. Assim, ficamos esgotados energeticamente, pois o
estado de alerta consome nossa glicose, rouba a energia que seria
gasta com as funções básicas de nossos órgãos e com o tempo
vamos sentindo o impacto disso em nossa vitalidade e saúde.

Não é possível obrigar nosso corpo a não produzir hormônios,


mas podemos aprender a controlar nossos pensamentos e aí
sim frear a cascata do estresse bem em seu princípio. Assim como,
também podemos aprender a utilizá-lo a nosso favor, pois há
momentos em que precisamos agir rápido e de uma dose extra de
energia.

Portanto, não é o estresse que é um inimigo, mas nossa


incapacidade de identificar os perigos reais, por isso é fundamental
aprender a discernir o que é um perigo real de um perigo

123
imaginado, e se não é real então não o alimentar. Se sua cozinha
está pegando fogo, o perigo é real, então aja. Se você está
imaginando que isso pode acontecer um dia, então o perigo não é
real, é projetado, deixe ir e relaxe.

Reveja o que em sua vida está te colocando em estresse


constante, às vezes pequenas mudanças já nos permitem relaxar
em nosso dia a dia. Não caia na loucura social de acreditar que
estar em constante tensão nos afasta dos perigos externos, na
verdade, tudo o que conseguimos com isso, é alimentar um perigo
interno.

124
Estresse Físico

O estresse físico, surge da repetição inadvertida de uma ação


física por um longo período, e um bom exemplo disso é a famosa
tendinite. A questão é que essa ação e o tempo necessário para que
ela cause estresse variam de pessoa para pessoa, sendo
indispensável o autoconhecimento nesse caso.

A resposta ao estresse físico também varia, mas costuma se


apresentar como um processo doloroso, que dificulta ou impede o
movimento. O corpo pode simplesmente travar, inflamar, quebrar
ou romper alguma estrutura. É como uma máquina que pifa se
exigida além da conta, e fazemos isso com nosso corpo quando
estamos inconscientes da nossa realidade corporal.

Para resgatar esse autoconhecimento precisamos estar mais


atentos ao que nosso corpo pode fazer, até onde ele pode ir e
entender os limites dele. Essas informações nenhum livro pode
trazer, pois por mais que se possa indicar exercícios e intensidades,
cada corpo é único e têm demandas únicas, que só o próprio dono
do corpo tem, ou deveria ter, condições de dizer até onde vão.

Temos uma ideia de que o cérebro controla totalmente o


corpo, mas na verdade, principalmente quando falamos dos desejos
de nossa mente egóica, existe um máximo que pode ser feito por
meio exclusivo da vontade. Então, se nunca praticamos exercício e
vamos à academia, não podemos querer que nosso corpo tenha a
capacidade física de alguém que malha diariamente a cinco anos e
se forçarmos que tenha, com certeza vamos pagar o preço por
isso.

125
Por mais óbvio que pareça, tenho certeza de que muitos se
identificam com essa inconsciência corporal, com fazer valer mais os
desejos do ego, com ser mais importante acompanhar outra
pessoa em um exercício ou habilidade, do que respeitar a nossa
própria capacidade. Por isso, a primeira palavra fundamental
quando falamos de corpo é respeito, senão somos pouco amorosos
quando se está em jogo a comparação ou a sensação de
pertencimento em relação ao outro.

Então, se por exemplo, começar a praticar uma atividade física


ou iniciar um emprego que exija muito do seu corpo, fique atento
aos seus limites, não os ultrapasse. Pouco a pouco, com respeito,
amor, sem cobranças e comparações, você irá desenvolver as novas
habilidades necessárias. Foque em estar no presente, em olhar para
si em vez de se projetar no outro.

Assim como na atenção plena, nas atividades físicas, também


precisamos saber da necessidade de treino para se obter bons
resultados. Não podemos querer consertar em um mês o que às
vezes levamos anos para estragar. O corpo demanda um processo
lento de repetição, sempre dentro do seu limite, pois para mas
você o estressa, para menos você não adquire os benefícios
desejados.

A segunda palavra então é constância, e não intensidade,


pois mais vale dez minutos de exercício diário, do que três horas em
um único dia do mês, mais vale cinco minutos de meditação diária,
do que um retiro no final de semana. O corpo precisa de constância
e recompensa largamente por isso.

126
Apreciar os processos evita a ansiedade de querer resultados
imediatos, que mais paralisam que realizam. Busque seus
propósitos com amor, respeito e consistência, se está cansado,
descanse, se algo não saiu como o esperado, recomece. Aos poucos
vá entendendo e trabalhando seus limites e qualidades, sem
precisar fazer seu corpo sofrer no caminho.

Nós somos nosso próprio corpo, mas também o que vem


antes dele e o que vem depois, somos o inconsciente, o consciente
e o ego, somos nosso passado, presente e futuro, e todas nossas
camadas merecem ser tratadas com amor. Sempre que for
atuar em seu corpo físico lembre-se, do processo lento, mas eficaz,
de como a natureza transforma as pedras em areia, com o pingar
de milhares e milhares de gotas de chuva.

127
Estresse Mental

O estresse mental é cada vez mais comum em nossa


sociedade, isso porque, nosso cérebro tem uma capacidade
limitada de processamento de informações diária e em um
mundo conectado como o nosso, a quantidade de informações a
que estamos expostos se multiplica freneticamente.

Esse limite de processamento que dita, por exemplo, a


necessidade de se ter aulas por períodos, sendo que quanto menor
a capacidade de atenção, menor deve ser essa duração. Na escola
também percebemos que quanto mais informações temos que
assimilar, mais tempo precisamos. Quando tentamos estudar o
conteúdo de um ano em um dia, descobrimos que não saímos da
superficialidade e ainda geramos um grande estresse mental.

Novamente a palavra é constância, ou seja, fazer um pouco


todo dia, com atenção e frequência. Não adianta forçar
desempenho, é como tentar rodar um jogo atual em um
computador antigo, ele trava. Mas também não estou dizendo que
os limites são fixos, para a mente vale o mesmo princípio de treino
que vimos para o corpo físico.

Para melhorar a capacidade mental, comece identificando qual


é o seu limite atual, qual é o tempo que você fica concentrado em
determinada tarefa, seja estudar, trabalhar ou tocar um
instrumento. Perceba quando começa a dispersar sua atenção e em
vez de automaticamente ir para o celular, determine
conscientemente uma pausa e uma outra atividade para fazer
durante ela.

128
Pode ser tomar uma água, dar uma caminhada, brincar com o
cachorro, depois retorne para a tarefa inicial e repita o processo de
auto-observação do momento em que necessitará de uma nova
pausa. Então, assim como ocorre com o corpo físico, sua
capacidade de concentração vai aumentando com o tempo e com o
treino constante e consciente.

No trabalho, pode ser mais desafiador estabelecer esse limite,


pois nem sempre a empresa entende que produtividade não é
número de tarefas, mas o quão eficientemente se resolve um
problema. Um funcionário que entrega três tarefas bem feitas é
mais produtivo que aquele que entrega dez que precisarão ser
refeitas. Aqui, um diálogo claro com seu chefe sobre carga de
trabalho e desempenho pode ser necessário se você se sente
exigido além do que deveria.

A questão é que se você não estabelecer um limite,


dificilmente o seu chefe o fará. Se mesmo após a conversa,
continuar se sentindo esgotado, procure outro emprego, precisamos
nos respeitar não estando em um ambiente que nos trata como
descartáveis. Não estou falando para você pedir demissão amanhã,
mas para criar uma estratégia que te permita se livrar disso mais
à frente.

Permita-se buscar novos caminhos se o atual não está te


trazendo felicidade, prazer e paz. Aqui novamente a palavra
respeito surge como algo fundamental, pois muitas vezes nos
mantemos em situações ruins porque estamos nos comparando ao
outro e não respeitamos os nossos limites. Esquecemos que somos
únicos no universo e que merecemos o melhor.

129
Quando largamos a autocobrança, de termos que fazer isso ou
aquilo, e focamos em nós, nas nossas capacidades, limites,
qualidades e no que pode ser aperfeiçoado, estamos oportunizando
que o nosso exterior também reflita um cenário melhor. Mas se
somos os primeiros a nos castigar, punir e a manter uma situação
degradante, por que quem está ao redor não faria o mesmo?

Estamos aqui para sermos felizes, não para sermos máquinas


de produção, o trabalho é para ser fonte de prazer e de realização,
mas se você não se sente assim, revise sua vida, veja o que te
traz aborrecimentos e pressões, então, direcione-se para a
mudança. Cumpra suas responsabilidades, mas não se coloque
obrigações irreais, nosso único dever é viver o presente.

130
Estresse Emocional

Comumente temos em nossa vida alguns momentos que


geram estresse emocional, por exemplo, quando perdemos um
ente querido ou quando um amigo próximo muda de país. Em
ambos os casos, há uma ruptura brusca de um convívio
estabelecido, então nossa mente precisa de um tempo para
trabalhar essa nova configuração.

Esse luto é normal e necessário, pois as emoções precisam


ser organizadas e elaboradas novamente até estarem calmas dentro
de nós. Portanto, se você perdeu alguém ou algo muito importante,
não se cobre por estar vivendo um luto, em algum momento seu
corpo assimilará tudo e trará um novo significado dessa experiência
para você.

Agora, quando sofremos por algo que não existe ou não


aconteceu, geramos um estresse emocional desnecessário.
Como, por exemplo, sofrer antecipadamente porque alguém que
amamos vai partir um dia. Na verdade, não faz sentido sofrer por
algo que não sabemos quando vai acontecer, mas que
inevitavelmente vai. O mesmo podemos pensar sobre sofrer
antecipadamente por uma demissão, ora, a não ser que nos
aposentemos nesse emprego, em algum momento pediremos
demissão ou seremos demitidos.

Por isso, precisamos aprender a soltar, a não ter apego,


pois ele que traz o estresse emocional. Quanto mais apego temos
por algo, sejam pessoas, coisas ou situações, mais estresse
emocional geramos quando as perdemos. Pode ser algo simples

131
como uma roupa ou algo profundo como uma mãe, sempre que
você sentir que perdeu algo a que é apegado, inevitavelmente vai
sofrer com isso.

Então, para não ter estresse emocional desnecessário, não


devemos ter apego e para não ter apego, precisamos entender que
não possuímos nada e que tudo é transitório. Tudo passa por
nossa vida, nós somente convivemos com o que está a nossa volta,
nada temos, portanto, tudo é um empréstimo, são instrumentos
para a expansão da consciência.

As coisas materiais estragam, as pessoas vêm e vão e nós


também um dia partiremos da vida delas. Mas insistimos em
nutrir apegos mesmo com coisas pequenas, deixamos de usar
uma roupa que amamos por medo de estragá-la, mesmo que ela
nos faça sentir melhor. Será que não é pior a sensação de ver uma
roupa que amamos nova, mas nunca usada? Como nos sentiremos
quando o tempo agir sobre ela e ela for uma novíssima roupa velha?

O desapego nos mostra que se nada é nosso e tudo é


passageiro, temos que aproveitar o máximo de cada coisa e de
cada pessoa. O momento de apreciar a companhia de quem
amamos é agora e só fazemos isso estando presentes. Aqui a
atenção plena nos ajuda a realmente estar nos momentos que
compartilhamos com elas, e se isso é feito, se esses momentos são
vividos, no momento da separação o estresse emocional é
minimizado.

Por isso, usufrua de tudo sem apego, com a consciência que


cada momento é único e sagrado e assim não terá estresse

132
emocional desnecessário. Estamos aqui para viver e não para ter,
ninguém tem nada, nem ninguém. Nada permanece igual por muito
tempo. Tudo, tudo o que está a nossa volta é um empréstimo. O
quanto antes aceitarmos essas verdades, menos dor e mais
prazer teremos em nossas jornadas.

133
Estresse Espiritual

Diferentemente do que talvez imagine, o estresse espiritual


não é o estresse causado pela pressão de seguir dogmas religiosos,
ou seja, manter-se de acordo com o sistema de crenças e regras da
religião que se segue. Mas sim o estresse causado por três
perguntas que precisam ser respondidas por nós, são elas: 'De
onde vim, o que faço aqui e para onde vou?'

Mesmo que a nível inconsciente, essas perguntas não


respondidas causam um estresse enorme em nosso sistema. Pense
em nossa vida aqui na Terra como um jogo, estamos encarnados,
com um ego que não lembra das existências anteriores e temos que
resolver esse quebra-cabeça interno, precisamos responder 'de onde
vim, o que faço aqui e para onde vou', senão a vida não faz
sentido.

Nosso cérebro precisa dessas respostas, da clareza dessas


respostas para sentir que realmente começou o jogo, senão a
sensação de que ficamos é de estar eternamente parados no
começo da primeira fase. Por isso, enquanto não resolver essas três
perguntas, ficamos com um buraco no peito e com uma sensação
de vazio, mas depois de resolvê-las começamos um período de
mais paz interior.

Chegar às respostas é um processo individual, mas trago aqui


minha explicação metafísica, para talvez trazer um norte à questão.
De onde viemos? Viemos da consciência do Criador, somos um
pedaço da consciência Dele. Já falamos sobre isso anteriormente,

134
sobre como somos uma centelha do Divino, de como tudo emerge
do Todo, inclusive nós.

O que estamos fazendo na Terra? Estamos acumulando


experiências, simplesmente isso. Digo pela lógica, pois estamos em
um corpo sensorial 24 horas por dia e possuímos um arsenal para
coletar informações sensoriais, como o tato, a visão, o paladar, os
sentimentos e mais. São milhares de informações que agregamos o
tempo todo. Logo, a vida nos mostra que estamos aqui para captar
essas informações e viver experiências.

Então, quanto mais informações coletamos, quanto mais


expandimos nossas percepções, mais estaremos cumprindo nosso
propósito de estar aqui. Se fosse para sermos seres iluminados
espiritualmente, não teríamos encarnado em um corpo físico na
Terra, vivendo no planeta do jeito que ele é hoje. Se estamos aqui é
porque são as experiências que ele oferece que precisamos ter,
sempre lembrando da autorresponsabilidade.

Então, só cabe a nós ampliar cada vez mais essas


experiências. Se estamos num corpo que nos permite sentir o
sabor dos alimentos, então vamos experimentar todos os tipos que
pudermos. Se podemos ver, então vamos ver o máximo de novas
paisagens, vamos olhar para tudo de verdade, com atenção plena.
Com essa mentalidade é que vivenciamos o máximo do que a vida
nos oferece.

E para onde vamos? Vamos voltar para o Criador. Assim


como saímos Dele, regressaremos à Ele. Sei que pode ser
desafiador entender o sentido disso, principalmente porque temos

135
muitas crenças do paraíso final, e tudo bem. Cada religião e cada
pessoa tem sua crença, portanto, acredite no que te faz melhor.

Como disse, encontrar essas respostas é um caminho


individual, então se você chegar a conclusões diferentes sobre de
onde veio e para onde vai, não tem problema, elas só precisam
realmente te trazer paz interior. Mas, sobre o que estamos
fazendo aqui na Terra, reforço que estamos vivendo uma
experiência sensorial e quanto mais nos permitirmos absorver
informações, mais significado encontraremos na nossa vida.

Por isso, não se feche nas experiências que já teve, nem se


limite por sua idade ou por achar que viveu tudo porque cumpriu o
protocolo social. Idade é relativo e enquanto estamos aqui nosso
corpo está recebendo informações, não há limite máximo.
Trabalhe em si crenças limitantes que nos fazem não experimentar
o novo, como acreditar que antigamente tudo era melhor, liberte-se
desse saudosismo exagerado.

Tudo está sempre em constante transformação e expansão,


não pare no tempo, senão a vida acaba por te arrastar. Ao
fazermos algo novo, seja ouvir uma música que nunca ouvimos ou
fazer uma nova amizade, é normal sentir algum estranhamento,
pois não estamos acostumados às informações que elas trazem,
mas isso é algo bom, pois significa que elas estão de fato trazendo
algo novo.

Por isso, se abra conscientemente para a experimentação e


quando ir para a próxima fase dessa existência terá adquirido muito
da única moeda que levamos daqui, as informações. Não se

136
acomode achando que já aprendeu ou experimentou o suficiente da
vida, pois nunca é o suficiente, sempre podemos expandir mais e
mais, pois não há limite para quantas moedas podemos coletar no
jogo da vida.

137
Módulo 7 – Treinando

Prática 1 – Aumentando a Produtividade

Começamos agora uma série de exercícios práticos com a


intenção de te levar um nível além do que você vem praticando. E o
primeiro é como aumentar (e muito!) a produtividade com a
atenção plena.

Produtividade está diretamente associada a amar o que se


faz. Esse é o caminho mais curto, pois se amamos o que fazemos,
nos sentimos bem fazendo e se nos sentimos bem, queremos fazer
mais e mais. Desse modo, você é produtivo por prazer e não por
uma exigência social.

Outra razão, é que quando amamos o que fazemos, os


pensamentos destrutivos e desgovernados são naturalmente
substituídos pelo prazer e concentração. Já quando fazemos o
que não gostamos, entramos no modo robô e deixamos a mente
viajar. Isso ocorre porque a maneira mais rápida de fugir de algo é
não pensar naquilo, principalmente quando não nos é dado a
possibilidade de ir embora fisicamente, seja por alguma obrigação
ou compromisso.

Atualmente, grande parte da população vive nessa fuga das


atividades que não gosta, mas faz simplesmente para sobreviver.
Num futuro, ainda utópico, as pessoas poderão fazer o que amam
sem se preocupar com o básico, então a produtividade será
crescente e natural. Mas até lá, enquanto ainda há obrigações não
prazerosas a cumprir, podemos usar a atenção plena para
transformar um problema em um aprendizado.

138
Isso porque, é fácil se concentrar naquilo que se gosta, o
desafio é fazê-lo com o que não se gosta. Por isso, proponho que a
partir de agora coloque atenção total mesmo nas tarefas
desagradáveis. Pois, ainda não podemos ter prazer em tudo o que
fazemos, mas colocando atenção plena, por mais contraditório que
pareça, podemos sofrer cada vez menos com elas.

E o caminho para isso é silenciar os pensamentos e não dar


espaço para a mente fugir. Desse modo, gostando ou não da
atividade, a produtividade aumenta, porque terminamos mais
rápido, com menos erros e com mais exatidão. Portanto, aplicar a
atenção plena nas tarefas desagradáveis te ajuda a fluir melhor por
elas.

Porém, reforço que tenha em mente que todo dia aqui na


Terra é valioso e deveria, no mínimo, não ter uma rotina que nos
deixasse desmotivados. Sempre se pergunte, se eu tivesse só mais
três dias de vida, quanto valeria um dia? Isso porque, ainda não
podemos não fazer algumas tarefas que nos desagradam, mas
também não podemos levar uma vida totalmente insatisfatória e
achar que a atenção plena vai nos salvar disso.

Mas independente do que façamos na vida, cada ato nosso


tem que ser um ato divino, o melhor que podemos dar. Não
estou falando de perfeição, nem de competição, mas sim, dentro de
você estar a certeza de que fez tudo o que podia. Se o outro não
acha suficiente, isso é outra história, o importante é você estar
comprometido com a sua maestria.

139
Prática 2 – Atenção na Respiração

Esse é um exercício básico, porém fundamental, para


desenvolver a atenção plena, que é colocar a atenção na
respiração. Percebam que quando uma pessoa está em crise de
ansiedade ou pânico, o exercício passado é que ela foque em
respirar, pois desse modo, para de prestar atenção nos
pensamentos e nos sentimentos que estão desorganizados e sem
controle.

Mas todos nós podemos nos beneficiar dessa prática, para


isso, inicialmente recomendo que reserve cinco minutos do seu dia,
tanto faz o horário, mas tem que ser diariamente, para somente
prestar atenção na respiração. Você pode estar sentado ou
deitado, o importante é que possa fechar os olhos e se concentrar
nela.

Inspire, sinta o ar entrando pelas narinas, sinta o ar inflando


os pulmões e ao expirar sinta o ar saindo deles. Inspire novamente
repetindo o processo, com calma, mas num fluxo natural. Quando
surgir um pensamento, simplesmente observe, deixe-o passar
sozinho, não julgue e não reaja aos sentimentos que ele possa
gerar. Apenas continue jogando toda sua atenção no ato de
inspirar e expirar nesses cinco minutos.

Conforme sinta seu progresso, sem pressa, pode ir ampliando


o tempo inicial em mais um minuto a cada semana ou mês. Quando
avançar ainda mais, pode ampliar o exercício para prestar atenção à
respiração enquanto faz outra atividade, como por exemplo, dirigir,
cozinhar ou tomar banho.

140
Portanto, cada vez que um pensamento crescer em sua
mente, cada vez que um sentimento te dominar, cada vez que você
sentir que se perdeu no passado ou no futuro, que seus medos e
preocupações estão te apagando por dentro, inspire e expire
conscientemente e retorne à fonte da vida, a respiração.

141
Prática 3 – Scanner corporal

Minha indicação é que uma vez que já se tenha criado uma


familiaridade com o exercício da respiração, você agregue o
exercício do scanner corporal a ele. Para isso, comece focando na
inspiração e na expiração como indicado no exercício anterior, então
leve sua consciência para o corpo, relaxando lentamente cada
parte, indo dos pés à cabeça.

Perceba se cada parte está tensa e dê um comando mental


para que relaxe. Sem pressa, vá sentindo a musculatura ceder,
seus ossos se aliviarem da tensão, até a região estar
completamente relaxada. Comece pelos dedos dos pés, então suba
um pouquinho, perceba o calcanhar e dê o comando para que
relaxe, observe, sinta ele relaxando. Passe para as canelas, para as
batatas das pernas, os joelhos, sempre se perguntando 'essa parte
está relaxada?' e dando o comando mental para que relaxe.

Continue subindo, chegue aos órgãos internos, dê um


comando para relaxar os rins, o estômago, o baço, o coração, o
abdômen... Cada parte do corpo, sempre de baixo para cima, vá
relaxando, até chegar nos ombros, nos braços, nas mãos, no
maxilar, na língua, nos olhos, nos músculos da face, nos ouvidos, no
couro cabeludo, então relaxe inclusive os pensamentos.

Fique nesse estado de relaxamento por um tempo, apenas


curtindo o momento. Seu corpo vai estar reaprendendo a ficar
relaxado e a aliviar seus pontos de tensão, desse modo, a energia
fluirá cada vez melhor por ele e os pensamentos ficarão
naturalmente mais calmos. Experimente começar ou terminar o dia

142
com esse exercício e verá a diferença na qualidade da sua noite ou
do seu dia.

Embora inicialmente esse exercício seja feito juntamente com


o foco na respiração, ele pode (e deve) ser feito sempre que
estiver tenso. Se passou por uma situação que te deixou nervoso,
sinta em qual parte essa tensão estagnou, se suas costas ficaram
tensas por exemplo, inspire, expire e dê um comando mental para
que elas relaxem, pois geralmente os sentimentos ficam grudados
em alguma parte do corpo causando a tensão.

Somos suscetíveis aos sentimentos, pois todos ficamos


nervosos, tristes, com raiva em algum momento e é normal sentir
isso. Não precisamos evitar as emoções, mas aprender a identificar
em nosso corpo onde elas ficaram armazenadas, relaxar e
então deixá-las ir. A partir do momento que respiramos
conscientemente e damos o comando mental para o relaxamento a
tensão e o sentimento acumulado vão naturalmente se dissipando.

Com a prática, esse relaxamento vai sendo cada vez mais


internalizado no seu dia a dia, trazendo uma melhor fluidez do chi,
da energia pelo seu corpo, diminuindo o peso das emoções densas
e aumentando a fluidez das emoções sutis.

143
Prática 4 - Atenção nos Sentidos

Nos últimos exercícios vimos como podemos meditar


colocando a atenção na respiração ou colocando a atenção no corpo
e agora vamos aprender como meditar colocando a atenção nos
sentidos.

Começamos escolhendo qual sentido queremos prestar


atenção e desenvolver. A audição e a visão se adaptam melhor com
meditações passivas, quando sentamos e reservamos um tempo
exclusivo para elas, embora assim como o olfato, o tato e o paladar,
possam ser adaptadas para meditações ativas, ou seja,
mescladas com outras tarefas no nosso dia a dia.

Para a audição, reserve um momento do dia, sente, relaxe e


foque apenas em ouvir, abra seus ouvidos para os sons ao redor,
sem julgamentos. Com esse passo você já perceberá uma grande
diferença no que é capaz de ouvir naquele momento, pois no dia a
dia nosso foco, além de estar distribuído entre todos os sentidos,
está voltado para os pensamentos, mas quando dirigimos nossa
atenção plena a um sentido, a percepção sensorial dele inunda
nosso sistema.

A visão é um sentido naturalmente muito usado, a questão é


que muitas vezes enxergamos, mas não vemos. Para exercitá-la
podemos meditar com um cristal, focando em perceber seus
mínimos detalhes, na verdade pode-se adaptar para qualquer
objeto, inclusive a própria mão. O fundamental é jogar toda atenção
em realmente ver e não apenas criar uma imagem mental do
objeto.

144
O tato é um sentido que pode proporcionar sensações muito
agradáveis quando colocamos o foco nele e podemos exercitá-lo
praticamente em qualquer tarefa, como por exemplo, lavando a
louça ou no banho. Há uma meditação ativa que consiste em levar a
atenção para as solas dos pés enquanto caminhamos, pode ser bem
desafiador no início, mas é uma excelente meditação, muito
libertadora pois favorece incrivelmente que a mente entre em
silêncio absoluto.

A atenção ao paladar e ao olfato pode ser desenvolvida em


situações que consideramos extremamente corriqueiras. Fazendo
uma refeição, por exemplo, podemos nos dedicar a sentir realmente
o sabor dos alimentos. Quando fazemos uma refeição com pressa,
preocupados com o trabalho ou comemos “qualquer coisa”, estamos
renunciando às incríveis sensações que poderíamos ter.

É um treino diário comer percebendo todos os sabores,


valorizando essa alquimia que é a comida, não caindo no
automático de só mastigar e engolir. Aliás, quando essa alquimia é
perfeita, essa combinação de sabores cria percepções cerebrais e
acaba por ser inesquecível para nós, não é à toa que muitos
chefes de cozinha e profissionais trabalham e estudam muito para
alcançá-la.

Então percebam como é rica a atenção plena aplicada aos


sentidos, como nos favorece imensamente em vários aspectos estar
presente e apreciar através deles os momentos. Quantas vezes não
buscamos prazeres fugazes como compras ou jogos porque estamos
nos privando do prazer dos sentidos? Precisamos saber que se os
usamos com consciência, eles são fontes naturais de alegria.

145
Prática 5 – Atenção nos Pensamentos

Chegamos à nossa última prática e ao contrário do que temos


falado até aqui, não vamos ignorar, mas aprender a como colocar
atenção nos pensamentos, usando essa habilidade a nosso
favor.

Existem duas forças básicas no universo, a criação e a


destruição. Nós humanos temos acesso a ambas, somos
inerentemente capazes de criar e de destruir. Essa dualidade
que possuímos, faz com que tenhamos um lado sombra e um lado
luz, sendo o lado luz os pensamentos construtivos, que ajudam a
sociedade, que enobrecem, que exaltam e lado sombra os
pensamentos destrutivos, que prejudicam, diminuem e corrompem.

Nosso livre-arbítrio está em escolhermos qual dessas forças


vamos utilizar na vida, se queremos ser parte da força criadora ou
parte da força destruidora. Mas é importante sabermos que
escolher um lado não anula o impulso oposto. Isso quer dizer
que mesmo escolhendo ser parte da força criadora, os pensamentos
de destruição que tivermos ainda existirão em nós.

Então, já que eles não vão simplesmente sumir, o que


devemos fazer é reconhecê-los. Se você percebe um impulso de
prejudicar alguém, algum egoísmo, inveja, olhe esse pensamento de
frente, não adianta tentar escondê-lo. É fundamental identificar e
assumir nosso lado sombra, pois fingir que um impulso
destrutivo não existe não o faz desaparecer, é somente encarando-o
que conseguimos resolvê-lo.

146
Fazemos isso fixando esse pensamento em nossa mente,
colocando atenção e foco nele e nos deixando ser inundados por
todas as sensações que ele trouxer. Nesse momento muitas
emoções podem vir à tona, choro, raiva, melancolia, medo, mas
tudo isso faz parte da catarse, é o processo de liberação
acontecendo.

Então seja extremamente gentil e acolhedor consigo próprio,


seja o melhor amigo que puder ser para si mesmo. Não se
julgue, não se culpe, não se puna, nem se vitimize, apenas permita-
se sentir e liberar o que vier. Quanto mais você fizer isso com seus
pensamentos destrutivos, mais essa conexão entre pensamento e
sentimento vai se esvaziando e esgotando.

Somos duas forças em um ser e podemos fazer disso uma


fraqueza ou uma potência. Por isso, não esconda seus pensamentos
destrutivos, encare seus monstros e medos de frente. Muitas vezes
acabamos por descobrir que eles eram muito menores do que
imaginávamos ou que, na verdade, nunca existiram, sempre foram
o monstro embaixo da cama que desaparece quando
acendemos a luz.

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Posfácio

Você chegou ao final desse livro/curso e eu não poderia estar


mais feliz. Como professor minha meta é levar informação de
qualidade, adquirida em muitos anos de estudo e experimentação, à
outras pessoas, de forma simples e acessível. E se você chegou até
aqui já posso sentir que parte disso se realizou.

O mérito é seu, é claro, e é maior do que imagina. Estudar


Atenção Plena em um mundo onde se incentiva o descontrole, em
que se enaltece a superprodução, em que se romantiza o estresse
mental é um grandessíssimo ato de coragem e até de
insubordinação, eu diria!

Afinal, o domínio do pensamento é extremamente temeroso a


quem ganha com o descontrole das massas. Mas seguimos nesse
trabalho de formiguinha, sabendo que o individual é tão
poderoso quanto o coletivo e que qualquer mudança começa
sempre por dentro.

Espero que você tenha aproveitado o livro, em sua mente, é


claro, mas também em seu coração. Não ache que ele foi menos
eficaz se você não conseguiu implementar a maioria dos exercícios,
pois há muito conteúdo nessas linhas, com práticas para uma vida
inteira.

Então vá no seu ritmo, coloque em prática o que lhe fez mais


sentido, releia o livro e faça anotações quando sentir, o importante
é seguir em frente e se manter sempre em expansão.

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