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CAPApetróleo
23 de setembro de 2009 I Z7
r- ~-.. . - ~.~
CAPA petróleo
esde que foram anunciadas re-
D servas gigantescas de petróleo
na camada do pré-sal da costa
brasileira, há quase dois anos,
uma acalorada discussão começou sobre
os riscos para o país com a extração a
granel da riqueza do fundo do oceano. A
advertência: a abundância de petróleo,
se não for bem gerida, pode se tomar
uma maldição, em lugar de uma bênção,
a exemplo do que acontece em tantos
países - riquíssimos em petróleo, pau-
pérrimos no restante. Aos poucos, os
medos de que o Brasil repita na econo-
mia a trajetória de nações como Vene-
zuela, Nigéria ou Líbia começam a se
dissipar, diante da constatação de que as
imensas riquezas encontram um país ro-
busto e diversificado.Nas últimas sema-
nas, porém, os brasileirosforam apresen-
tados a outra face da maldição do petró-
leo, a política - e dessa não está fácil
de escapar. A miragem de bilhões de
reaisjorrando em alto-mar- os cálculos
sobre as reservas variam de 30 bilhões a
100 bilhões de barris de petróleo - tem
levado os políticos em Brasília a uma
espécie de delírio, evidenciando uma
sina bem conhecida dos brasileiros.
Trata-se da velha prática de uso das cau-
sas nacionais como meio de obter ganhos
pessoais e partidários. O próprio governo
puxou a fila, quando apresentou, em 31
de agosto, as propostas para o marco re-
gulatório do pré-sal com brados ufanistas
que lembram os dos tempos de regime
militar. Num discurso nacionalista e es-
tatizante, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disparou contra o que chamou
de enfraquecimento da Petrobras no go-
verno anterior e declarou que quer refor-
çar o papel da empresa, a qual chamou
de "meu querido dinossauro". Aprovei-
tou a ocasião também para levantar a
bola de sua candidata à sucessão, a mi-
nistra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Emocionada, ela chegou às lágrimas e
afirmou que o pré-sal "abrirá as portas
da felicidade material e espiritual" para
os brasileiros, proporcionando "mais
casa, mais comida e mais saúde". Entre
políticos de todas as cores e vieses, a
grande discussão é quem ficará com o
dinheiro do pré-sal. A educação? A cul-
tura? Os pescadores artesanais? As co-
281 www.exame.com.br
.....
munidades ribeirinhas? Já se fala num
substituto da CPMF para remendar a
saúde pública. Os bilhões de reais arre-
cadados com a contribuição não resol-
veram o problema, como se sabe. Por
que o dinheiro do petróleo resolveria?
São questões até agora sem resposta.
Palanques à parte, faltou explicar, de
fato, como e sob que regras o petróleo
do pré-sal se transformará em riqueza.
As propostas apresentadas foram deli-
neadas durante 20 meses de discussões
que envolveram diversos ministérios do
governo. O anúncio, porém, teve o efei-
to inverso ao esperado - em vez de
esclarecer, só gerou mais confusão. O
que fará a nova estatal Petro-Sal? Como
se relacionará com a Petrobras? Quem
zelará pelas regras no setor, a Agência
Nacional do Petróleo ou o governo?
Aliás, como ficarão as próprias regras?
A pouca transparência em relação ao
futuro da maior empresa brasileira dei-
xou em estado de alerta I milhão de
investidoresda Petrobras,tanto nacionais
como estrangeiros. Na Bolsa de Valores
de São Paulo, logo após o anúncio, as
ações da Petrobras, que, em teoria, deve-
riam se valorizar,caíram 4%. Burocratas
do governo aparentementedesconhecem 1 O REGIMEDE PARTILHA
que a companhia não é uma estatal pura, PARAEXPLORARO PETRÓLEO
mas uma empresa mista - mais de 60% É CONSTITUCIONAL?
de seu capital é negociado no mercado,
Ogovernoquerqueaexploração
tanto na bolsa paulista como na de Nova
York. Entre seus acionistas há 55 000 do pré-salsejafeitanumregime
departilhado petróleocomas
brasileiros que converteram o fundo de empresas.em lugardo modeloatual
garantia em cotas da empresa. Para eles, deconcessões. Apartilhaé adotada
a principal insegurança diz respeito a por paísescomo~ola
seus direitos como minoritários.Entre as
propostas há uma de capitalizar a Petro- ARGUMENTOA FAVOR
bras - não se sabe como -, o que au- Em2005.o SupremoTribunal 11
mentaria a fatia do governo e diluiria a Federalconsiderouqueo regimea
participação dos demais acionistas. ser adotadoparaexploraçãode
petróleoe gásé umaopçãopolítica.
PARACOMPLICARAS COISAS,o go- Ogovernoterialiberdadedeescolha -=
verno impôs um prazo exíguo para o '..
Congresso se posicionar sobre as medi- ARGUMENTO CONTRA
~
.
das. Ante os quase dois anos que gastou OartigonQ
176daConstituição
gestando as proposta.<;,o Executivo deu determinaque"apesquisae alavra ;
I
derecursosmineraissomente ...
três meses para as duas casas legislativas
estudarem os temas e se pronunciarem, poderãoser efetuadasmediante
autorizaçãoou concessãoda União. .
tempo depois esticado em mais 24 dias. nointeressenacional':Assim.
O aperto é mais grave porque essas pro-
o regimedepartilhaviolariaaCarta
postas são controversas sob o ponto de
vista jurídico, com nós que ninguém sa-
Fonte: Siqueira Castro Advogados
~

J Os projetos de lei enviados pelo governo ao Congresso para alterar as regras da exploração de petróleo lançaram
o setor num buraco negro do ponto de vista jurídico. Hoje ninguém sabe dizer se os projetos são ou não legais
- há argumentos aparentemente irrefutáveis tanto a favor como contra as principais mudanças propostas pelo governo
2 O GOVERNOPODE 3 É LEGALA PETRO-SAL
PRIVILEGIARA PETROBRAS? TER SUPREMACIANOS
Osprojetosde leipretendemcriarpreferênciaspara CONSÓRCIOS?
aestatalnaáreado pré-sal:a Petrobrasreceberiareservas Anovaestatalteria participação
deaté5 bilhõesdebarris:ganhariacontratosdepartilha obrigatóriaemtodososconsórcios
deproduçãocomdispensadelicitação;teriaparticipação formadosparaexploraro pré-sal.
obrigatóriacomooperadoraemtodososconsórciosa Poderianomearmetadedosmembros
serformados.empercentualnuncainferiora30% do comitêoperacionaldosconsórcios.
incluindoseupresidente.Naprática.
ARGUMENTOA FAVOR issopermitiriaà Petro-Saldetero
AConstituiçãoestabelecequerecursosdosubsolo podersobreasdecisõesdo negócio
sãopropriedadedaUniãoedizquea exploração
de petróleoé seu monopólio.Essemonopóliofoi ARGUMENTOA FAVOR
relativizadopor emendaem1995.mascontinua Tratando-sedeumbemda União.
existindonaCarta.Assim.caberiaà Uniãodecidira serianaturalatribuir ao governo.
formade exploração.Emrelaçãoaodeverderealizar especialmente numaáreada
licitação.a Constituiçãopermitequehajaexceções magnitudedopré-sal.o controle
dessas atividades
ARGUMENTOCONTRA
Comoo SupremoTribunalFederaljá estabeleceu. a ARGUMENTOCONTRA
exploraçãodepetróleoéumaatividadeeconômicade É incompatível com a Constituição
Poresse critério,quandoo governo
sentidoestrito(1). o dirigismo estatal exercido sobre
opta por contratar particulares, é obrigado a abrir atividadesprivadas.casodos
concorrência. Se der preferências à Petrobras, consórciosa serformadospara
violará o princípio de livre concorrência a exploraçãodopré-sal

(1)Asatividades
econômicasemsentidoestritosedistinguemdasprestadas
comoserviçospúblicos.
Nestas,
o Estado
é otitulare podeIntervirnaexecução.
Jánaquelas.
deveprevalecer
aliberdadedeiniciativae deconcorréncia
eo Estado
deveabster-se
deexercê-Ias
diretamente,
anãoseremsituações excepcionais.
comoasde
segurança
nacional.
Mesmonessescasos.noentanto.devecompetiremigualdade decondiçôes comosparticulares
 - "~".-- - --- - ----...--....

CAPApetróleo

be como desatar. "São questões comple-

xas e há argumentos tanto para conside-
rá-Ias legais como ilegais", diz o advo-
gado Carlos Roberto Siqueira Castro.
Num cenário para lá de obscuro, uma
das poucas certezas é a opção do gover-
no por intervir mais no setor - o quejá
vem fazendo também em outras áreas
-, seja por meio do reforço da muscu-
latura da Petrobras, seja pela criação da
Petro-Sal. Numa área em que a globali-
zação é o nome do jogo, em que as tec-
nologias são desenvolvidas
por centena.<;de empresas de
diferentes países e todo ca- MANIFESTO
pital, independentementeda AFAVOR DA
bandeira, é bem-vindo, o PmoBRAS
Brasil flerta com uma peri- -EM-BRAS(LIA:
gosa volta ao passado. O UFANISMO,
excessivo poder que será ESTATIZAÇÃO E
dado à Petro-Sal é um dos NACIONALISMO
aspectos' que mais incomo- EMASCENSÃO
dam as empresas do setor.A
nova estatal, que não deverá
fazer investimentos e, portanto, não cor- Pesquisas Energéticas, ligada ao Minis- cedores dos leilões os consórcios que
rerá riscos, terá domínio sobre a condu- tério de Minas e Energia. Uma pergunta oferecerem à União a maior parcela de
ção dos projetos nos consórcios de ex- que se faz a respeito é: a Agência Nacio- petróleo a ser extraído. O modelo de
ploração do pré-sal, dos quais se tornaria nal de Petróleo já não cumpre essa fun- concessão é adotado, além de no Brasil,
sócia compulsoriamente. Ao lado disso, ção? "Não sei que poder terá a Petro-Sal, nos Estados Unidos e no Canadá. Se for
a Petrobras seria imposta como opera- mas a sensação é que a ANP não terá feita a mudança para partilha, o Brasil
dora de todos os novos campos, com mais autonomia para ditar as regras da trocará essas companhias pelas de An-
participação nunca inferior a 30%.nos exploração", diz David Zylberstajn, ex- gola, Indonésia, China e Egito.
consórcios. "Há um desequiHbrio.E di- presidente da agência. O incrível é que, como se verá adian-
fícil imaginar que uma empresa privada Outra proposta controvertida é a de te, mesmo nesse ambiente de incerteza,
investirá 70% do capital de um projeto abandono do sistema atual de concessões a exploração do pré-sal avança - o que
com poder de decisão mínimo", diz João de blocos de exploração a empreende- não deixa de seruma mostra do potencial
Carlos de Luca, presidente do Instituto dores privados. Nesse regime, fica com de negócios. "Há detalhes importantes
Brasileiro do Petróleo, que reúne 194 um bloco quem oferece o maior bônus que precisam ser discutidos, mas já tra-
companhias do setor.O governo defende em leilão promovido pela ANP. Caso balhamos com partilha em outros paí-
a criação da nova estatal como uma es- encontre petróleo, a-empresa paga royal- ses", diz Murilo Marroquim, presidente
pécie de fiscal dos sócios privados. "O ties e impostos sobre o volume que ven- da filial da petroHferaamericana Devon,
papel da Petro-Sal será zelar pelos inte- der. No lugar desse modelo, considerado que opera 12 blocos no Brasil. Na área
resses da União, evitando que os custos bem-sucedido desde que foi implantado de equipamentos e seIViços,os negócios
sejam superestimados, o que reduziria a com o fim do monopólio da Petrobra.<;, já andam em marcha acelerada. "Mesmo
parte que cabe ao governo", diz Maurício em 1997, passaria a ser empregado um com as novas limitações que a mudança
Tolmasquim, presidente da Empresa de sistema de partilha, em que sairiam ven- do marco regulatório pode trazer, creio
que as petrolíferas continuarão interes-
~
sadas nas novas reservasbrasileiras", diz
i
I' MESMOCOMINCERTEZAS,A EXPLORAÇAO Lisa Viscidi, analista-chefe para a Amé-
rica Latina da consultori31Energy Intelli-
DOPRÉ-SAL
AVANÇA,DIANTEDOTAMANHO gence, de Nova York."E verdade que se
trata de uma empreitada inédita na his-
DASJAZIDAS,AS EMPRESAS
ESTRANGEIRAS tória da exploração do petróleo, mas,
diante da enormidade das jazidas, o in-
NAOQUEREM FICARDEFORA teresse é também gigantesco:" 8

30 Iwww.examecom.br.
 I;
CAPApetróleo
ONDEASCOISAS
i:.,
i:
ACONTECEM
Quase700000empregos. Investimentos
de
190bilhõesdedólares.Centenas denovas
empresas. Eiso cenáriodecrescimento
que
sedescortina como pré-sal.Enquantoos
políticosdigladiampordinheiroe poderem
Brasília,nomundorealotrabalhojá começou
CAMILAFusco E FABIANESTEFANO
cidade paulista de Nova Odessa
A não fica à beira do mar - está
i" , barris de óleo enterrados no fundo do
localizada perto de Campinas,
a 200 quilômetros do oceano
Atlântico. Também não tem nenhum
centro de pesquisa que desenvolva tec-
nologia para o setor de petróleo. Ainda
assim, Nova Odessa acaba de entrar pa-
ra a rota do pré-sal, ironicamente graças
aos fracassos do passado. No terreno de
uma antiga tecelagem, falida em decor-
rência da crise que castigou a indústria
11' têxtil da região nos anos 90, foi instalada
uma unidade da gaúcha Lupatech, fabri-
ti::
" cante de válvulas para o setor petrolífero
- imediatamente alçada.ao posto de
1:1 ' diosos. Os investimentos em exploração
p, EM 1997,O SETORDEPETRÓLEO
E GÁS
L o caixa das empresas fornecedoras de
1" I RESPONDIAPOR30/0DOPIBBRASILEIRO.
EM2008,A FATIAJÁ ERADE100/0
- EDEVE
',"
CHEGARA 200/0NA PRÓXIMADÉCADA
321 www.exame.com.br
~
maior empresa da cidade. fuaugurada no
final de agosto, com investimento de 56
milhõesde reais, a fábrica deve gerar400
empregos diretos quando estiver a plena
carga. E há mais por vir. Os planos da
Lupatech - empresa típica do novo ca-
pitalismo brasileiro, criada nos anos 80
e hoje cotada em bolsa - incluem ins-
talar outras duas linhas de montagem na
mesma área. "Não imaginávamos que,
tão longe do mar, acabaríamos nos be-
neficiando do pré-sal", diz Manoel Sa-
martin, prefeito de Nova Odessa.
A cidade, com seus 48 000 habitan-
tes, e a Lupatech, com seus 400 funcio-
nários e tecnologia de ponta, são exem-
:.:I"
pios das riquezas que já começam a ser
distribuídas no país antes mesmo de
campos como o de Tupi produzirem pe-
tróleo para valer - por enquanto, há
apenas testes de exploração. Enquanto
a discussão sobre o marco regulatório
do setor de petróleo tramita no Congres-
so e é usada em discursos nos palanques
políticos, os negócios que envolvem o
setor de equipamentos e serviçosjá estão
acontecendo. Para essas empresas, par-
ticipantes de uma enorme cadeia que
envolve desde a construção de platafor-
mas petrolíferas até a confecção de uni-
formes para os operários, o que importa,
politicagens à parte, é que bilhões de
mar precisarão ser extraídos - e, para
isso, muitos equipamentos terão de ser
fabricados, muitos serviços serão con-
tratados e muitos empregos serão gera-
dos. "Nos próximos dez anos, serão
necessários 80 bilhões de dólares para
financiar apenas a compra de máquinas
para a indústria do petróleo", disse a
EXAME Luciano Coutinho, presidente
do Banco Nacional do Desenvolvimen-
to Econômico e Social, presente à inau-
guração da nova unidade da Lupatech.
No mundo todo, os números que cer-
cam a economia do petróleo são gran-
e produção somaram 332 bilhões de dó-
lares em 2007, 70% do qual seguiu para
equipamentos e serviços. O resultado é
que essas companhias têm crescido à
taxa média anual de 19%, com margens
de lucro de pelo menos 15% do capital
investido. No Brasil não é diferente. Até
--.
 .
.. -

MONTAGEM DE
OO "e
EQUIPAMENTO
NAGE.EM
SÃOPAULO:
6 BilHÕESDE
DÓLARES DE
!~.. .
" NOYASRECEITAS
~
~L:
e ATE2014
'-li . .
~

.'

2013, a projeção de investimentos totais
no setor é de 190 bilhões de dólares -
média de 100milhões de dólares por dia.
A maior parte virá da Petrobras. Mas
""
isso deve ser só o começo. Na imagina-
ção dos analistas essas cifras extrapolam
mais ainda. Um estudo do banco UBS
li:: Pactual aponta que seriam necessários
600 bilhões de dólares para a exploração
Ir do equivalente a oito campos de Tupi
- cujas reservas, estimadas em 5 bi-
1+ lhões a 8 bilhões de barris de petróleo,
L representam uma parcela do que pode
haver no pré-sal. Por tudo isso, o setor
i
I:
!. , de petróleo e gás se tornou na última
década a mais dinâmica das grandes ca-
deias produtivas da economia brasileira.
Hoje, ele já responde por 10% do pro-
doto interno bruto - ante 5,5% da in-
dústria automobilística, outro ramo que
vem batendo recorde sobre recorde. Há
não muito tempo, em 1997, petróleo e
gás geravam o equivalentea apenas 2,8%
das riquezas do país. Com o pré-sal, a
estimativa é que a participação chegue a
20% do PIB até 2020.
ÉUM CENÁRIODOSMAIS OTIMISTAS,
não há dúvida. Mas o petróleo descober-
to milhares de metros abaixo do nível do
mar só servirá para alguma coisa quando
for tirado de lá. No mundo dos negócios.
transformar o ''bilhete premiado" do pré-
sal em riqueza real é um dos maiores
desafios atuais do ambiente empresarial
brasileiro. O grupo Queiroz Galvão, tra-
dicional na área de construção pesada.
já empenhou 1.6 bilhão de dólares e vai
investir outros 600 milhões nos próxi-
mos dois anos para prestar serviços de
perfuração relacionados ao pré-sal. Boa
parte dos recursos foi destinada à enco-
menda de três plataformas - em cons-
trução em Singapura e Abu Dhabi -
para operar na bacia de Campos. Em
agosto, a empresa estreou na perfuração
de águas ultraprofundas. "Não tenho
dúvida de que o Brasil será um dos prin-
cipais palcos das atividades de perfura-
ção flutuante no mundo", diz Antonio
Augusto de Queiroz Galvão, diretor-
geral de óleo e gás do grupo.
A movimentação de empresas do
mundo todo em torno do pré-sal brasi-

341 www.exame.com.br
 MARCELO'GOR,
DOUTORANDO
DACOPPE:
ANTESDE
CONCLUIR
CURSO,ELE
CRIOUUM NOVO
«
w ~
:5
'-'
NEGÓCiO
~<' ~
'"

o NÚMERODEEMPRESAS FORNECEDORASna superfície (veja quadro na pág. 38).

Nos próximos três anos a encomenda
pode triplicar. A GE tem também con-
DEEQUIPAMENTOESERViÇOS PARAO tratos para fornecer à OGX, braço pe-
SETOR RESCE
A CADAANO.ERAM210NO trolífero do grupo de Eike Batista, e às
multinacionais do ramo no país. Recen-
INíCIO DÉCADA.HOJ[ SÃOQUASE2 000 temente, a empresa avaliou as oportuni-
dades adicionais de negócios que pode-
rá ter até 2014, com base no pacote de
leiro acontece antes mesmo de qualquer Há dois meses, a americana GE fechou estímulos que o governo, por meio da
definição política por duas razões pro- um contrato de 250 milhões de dólares Petrobras. do BNDES e de outras fren-
saicas. A primeira: as encomendas das apenas para fornecer à Petrobras as "ca- tes, anunciou para combater a crise. A
empresas de petróleo - a Petrobras en- beças de poço" - peças de aço coloca- conta do faturamento adicional possível
tre elas - estão ocorrendo. O dinheiro das na entrada do furo, no fundo do para a GE no Brasil chegou a 8,4 bilhões
do pré-sal já está em circulação na eco- oceano, e sobre as quais é montada a de dólares. As vendas de equipamentos
nomia. A segunda: as companhias que "árvore de natal molhada", um conjun- para petróleo e gás devem gerar até 75%
chegam primeiro a esse novo ambiente to de válvulas que direcionam o fluxo do valor - cerca de 6 bilhões -, na
de negócios tendem a levar vantagem. de óleo para dutos ligados à plataforma, avaliação de João Geraldo Ferreira, pre-

23 de setembro de 2009 135

 o setor de petróleo e gás, incluindo a cadeia de serviços e equipamentos que o cercam, tornou-se o mais pujante
da economia brasileira nos últimos anos. antes mesmo das descobertas no pré-sal. Eis alguns indicadores
GERAÇÃO DE RIQUEZA
Entregrandes setores. o de petróleo e gás foi
o que mais ampliou sua fatia na economia do país
, Previsão
PETRÓLEO
E GÁS
~~==--
{ 20:"
INDÚSTRIA
DE ALIMENTOS ~~~ i =:%
INDÚSTRIA 1997 "'4.5%
AUTOMOBILíSTICA200à-~5,5%
INDÚSTRIÂ 1997 1114,4%
ELETROELETRÔNICA2008'''~ 4,3%
sidente da GE no Brasil. "Os pedidos
são de longo prazo, mas já entraram no
nosso dia adia", diz Ferreira.
Qualquer que seja o tamanho dos ne-
gócios do pré-sal, tudo indica que a Pe-
trobras irá liderar o processo - e, se
vingar a proposta do governo, com pre-
ponderância ainda maior. Não é para
menos que a estatal venha sendo tão cor-
tejada pelo mercado mundial de equipa-
mentos. A alemã Siemens considera a
Petrobras hoje sua mais importante
cliente no setor em todo o mundo. "Ela
é a menina mais bonita da festa, todos
querem dançar com ela", diz Luiz Edu-
ardo Rubião, diretor de soluções em
petróleo e gás da Siemens no Brasil. Pa-
ra conquistar o par, os fornecedores têm
de apresentar um alto índice de naciona-
lização dos equipamentos - que, por
regra já fixada pelo governo desde 2003,
deve ser da ordem de 70% do valor dos
projetos.A Siemens tem planos de trazer
duas linhas de produção para seu com-
plexo industrial localizado em Jundiaí,
no interior de São Paulo. São as linhas
de compressores e turbinas a gás, equi-
pamentos produzidos hoje somente na
361www.exame.com.br
;
..
~ PARQUEEM EXPANSÃO
! Desde o inícioda década. a quantidade de fornecedoras de
! equipamentose serviçosparao setorno Brasilvemse multiplicando
! Númerode empresas I' EMPREGOS
200 000
é o número atual de
trabalhadores da cadeia
produtiva. abrangendo
desde as plataformas de
petróleo até a indústria
petroquímica
656000
postos de trabalho
devem ser abertos na
Petrobras e na cadeia
; 2000 01 02 03 04 05 06 07 2008 do setor até 2013
Alemanha, no Reino Unido e na Suécia.
"Quem já trabalha para a Petrobras quer
aumentar suas vendas. Quem não traba-
lha ainda está louco para entrar", afirma
Ricardo Ourique, diretor-geral da divi-
são de engenhariae construçãodo grupo
italiano Techint. A empresa, montadora
de módulos de operação das platafor-
mas, mira na licitação que a Petrobras
fará para equipar oito navios que servi-
rão no polo de Tupi. Antes mesmo de a
disputa pelas encomendas começar, a
Techint está reformando sua fábrica pró-
xima ao porto de Paranaguá, no Paraná,
para tomá-Ia a base do pré-sal.
ASATIVIDADES
VOLTADAS
para o pré-
sal vêm ocorrendo em diversos pontos
da costa brasileira. Em Pernambuco, um
novo estaleiro deverá ser construído jun-
to ao porto de Suape. O consórcio do
grupo Alusa, da Galvão Engenharia e da
coreana Sungdong, deverá investir 500
milhões de dólares para instalar a nova
fábrica de navios que irá disputar as fu-
turas rodadas de licitação tanto da Petro-
bras quanto da Transpetro, o braço de
transporte da estatal. Perto dali já fun-
 CAPApetró~o

PROJETOS
EMALTA Comoos O IMPULSODAS
Considerando os planos da investimentosda PROFUNDEZAS
Petrobras e de outras operadoras. Petrobrasserão
55 sondas
deperfuraçãodevemser Asprevisõesda
o setor estima até 2013: distribuídos
entreguesà Petrobrasaté Petrobrasparao que
(emdólares) podeserfeitoaté 2020
Exploração 2017esomar-seaoparque
Inve:'timentos(l) 190 b'lhões e produção atualde47já emoperação especificamentecom
totaIS I 59% "..." "... exploraçãodo pré..sal
",.....................................................................

Aquisições de Refinoe INVESTIMENTO

equipamentos 133 bilhões transporte 36 plataformas PROJETADO
e serviços
".." ""."...".." ".."....................
deproduçãoserão 111 bilhões de dólares
2S%"""""'-'''''''''''''''''j necessárias
à Petrobrasaté "...".".." " ""._"......

Compras Gáse energia

no Brasil 101bilhões 7% ,j
~
2015.Atualmente,a empresa VOLUME
DE
tem 109emoperação
"

''''''''''''''''''''''''''''''" PRODUÇÃO
ASER
Investimento
Petroquímica [
~.
~ . ALCANÇADO
3% ,. A capacidade de refmo
: 1,8 milhão
""

da Petrobras
28 bilhões nopaístambémvaiaumentar

1
~

nopré-sal de barrispordia
""..." " "."..."" "

" "..................

Médiaanual
de compras
D,~rit"';ção. ,: !

{ (,m mil~ '" "'"" "" do) PARA QUANTOVAI

A PRODUÇÃO
TOTAL
.-.8- --. BRASILEIRA
da Petrobras
no mercado
20 bilhões B,,,,,m""""'"
~:~m m''''''''''''-'''--j
corporativa
,n

L...- ~
~l=- . - 3,9 milhões
,.-.-.- de barrispordia
nacional 2%.."." "." ,,.._._--

(1) Previsão. descontando investimentos da Petrobras no exterior Fontes: Abemi, ANP. Sain & Company, MCl Onip e Petrobras

ciona, com 3 000 traba- a nova sede da Petrobras, no centro da

NOVAFÁBRICA
DALUPATECII
NOINTERIOR
PAWSTA:
lONGEDE
A trução de 49 navios nos
INDÚSTRIA
A próximos anos. Em
PLENACARGA Suape, no dia 11 de se-
tembro, o presidente
Luiz Inácio Lula da Sil-
va armou palanquepara anunciar o início
da montagem do primeiro petroleiro do
Atlântico Sul, que deve ser entregue em
abril. No litoral de São Paulo, Santos foi
definida como uma espécie de futura
capital do pre-sal.A Petrobras vai erguer
na cidade três edifícios para abrigar
2 000 funcionários que controlarão as
operações da bacia de Santos.Uma preo-
cupação da prefeitura é que a cidade não
apresente os problemas de infraestrutura
vistos em Macaé, no norte fluminense,
que inchou descontroladamente depois
ffi que recebeu a base de serviços da bacia
'3 de Campos. Uma das providências pre-
~ vistas na Baixada Santista é a implanta-
* ção de um metrô de superfície para ligar
lhadores, o Estaleiro cidade, ao porto e ao município de São
Atlântico Sul, que está Vicente- projetoquedeveráconsumir
!
construindo petroleiros 600 milhões de reais. I
para a Transpetro. O A corridado petróleo, no entanto, não
governo prevê a cons- está restrita a obras de envergadura e a
grandes grupos empresariais. O volume Ilj
de recursos movimentado nesse setor
costuma ser capilarizado numa extensa
rede de contratadas e subcontratadas pa-
!
ra fornecer serviços, equipamentos e
materiais. Estima-se que investimentos
feitos pelas empresas de exploração pos-
sam propagar-se por até seis níveis da
cadeia de fornecimento, desde os óbvios
fabricantes de dutos e válvulas até os
serviçosde alimentação,A paulistana De
Nadai, do ramo de alimentação, ingres..
sou há seis anos no segmento de hotela-
ria marítima para prestar serviços nas
plataformas. Alimentação, recreação,
lavanderia e arrumação 24 horas por dia
são requisitados para atender o pessoal
que trabalha em alto-mar. Os 16 contra-
tos de serviço em plataformas - 13
deles com a Petrobras - rendem à De
Nadai 60 milhões de reais por ano. "Com
o pré-sal, logo devemos dobrar esse fa..

23 de setembro de 2009 137

 I:

I
CAPApetróleo

turamento", diz Luís Camilo Silva, dire-

tor da empresa, cujo faturamento total
foi de 230 milhões de reais no ano pas-
sado. A cadeia de equipamentos e servi-
ços que está se expandindo no país p0-
derá ter um horizonte mais amplo do que
o pré-sal brasileiro. A maioria das novas
fronteiras de exploração petrolífera no Globalização é a marca das
mundo está em águas ultraprofundas. Se plataformas e dos navios
o Brasil consolidar uma rede de bens e de exploração de petróleo.
serviços para esse perfil de exploração Amaioria das tecnologias
poderá exportar muito mais do que pe- utilizadas. mesmo quando os
tróleo. "Hoje, as exportações de óleo da equipamentos já são fabricados
Noruega estão caindo, mas os negócios no Brasil. é internacional.
internacionais das empresas fornecedo- Veja os exemplos
ras que se desenvolveram no país estão
crescendo", afinna o consultor Pedro
Cordeiro, sócio da Bain & Company, que
fez extenso estudo sobre a indústria pe- ÁRVORE
trolífera para o BNDES. A proposta de DE NATAL
desenvolvimento dessa cadeia é do inte- MOLHADA
resse do país e é uma das discussões que Equipamento
já estão pegando fogo. A questão é se o decontrolede
estímulo para o setor se dará por meio fluxolocalizado
li, de medidas que proporcionarão ao mes- nacabeçado
mo tempo a melhoria da competitividade poço.Utiliza ..
de todas as atividades produtivas ou se, tecnologia
americanae ~;<;' -;:!'!'=-;,,~
como alguns lobbies já defendem. ocor-
rerá com reservas de mercado e benesses europeia.como "", .;z " ~ '''!iI E'!i1:!!:1Ii Iij
li dosfabricantes '" "'~~
~;~~. ~ " ,o:;~-
dirigidos a grupos selecionados. _. ~~.~ .. i:i ~,.,"'~
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GE.ABBe FMC ". ~~\ ~~~ ;~.;i'

ASRESERVAS
SERIAMERROS
jurás- 'i,." "'e,i!'
sicos aplicados num setor que, por na-
~~ ~ '"
""!!~1iII ':"'i:i'"
tureza, não admite fronteiras. O desafio ~
""
I,
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~',AJ
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tecnológico do pré-sal é gigantesco até '-.~ I;!~~~
mesmo para as maiores e mais expe-
rientes empresas do setor. Assim como ;c~=-:~.~! --::~ ~
.~
a descoberta das reservas do Mar do
Norte, na Noruega, levou as grandes
e-.i
companhias de petróleo a estudar aque-
las águas, o pré-sal inaugura uma nova
era de pesquisa. A franco-americana
Schlumberger. uma das maiores forne-
cedoras de equipamentos para explora- DUTOSRíGIDOS
ção e produção petrolífera, decidiu Sãooscanosqueconduzem
instalar seu primeiro centro de pesquisa o petróleodentrodo
no Rio de Janeiro após seis décadas poço.resistentesaaltas
operando no país apenas com soluções pressões.Oduto-sanduíche.
importadas. No centro, serão desenvol- desenvolvido noBrasil
vidos desde softwares de geociências pelaCoppe.combinaduas
até processos de medições sísmicas e camadasdeaçointercaladas
eletromagnéticas. "Com isso, teremos complásticoe éuma
projetos mais rápidos, com resultados alternativaparao pré-sal
em até dois anos, embora algumas li-
nhas de pesquisa de base possam demo-

- 381 www.exame.com.br
 o HELICÓPTERO 8 MONITORAMENTO
DEPOÇOS
Os helicópteros que
eCOMUNICAÇÃO eMANIFOLDS
Tecnologias Sãosistemas
~ ~ levam funcionários Ofuncionamento complexas queintegram
da plataforma até o da plataforma envolvema osdutos
continente precisam é controlado transmissão flexíveisà
ter autonomia de porprogramas de dados,voz plataforma.
600 quilômetros para querodamem e imagensdas Atecnologia
ir e vir dos campos do supercomputadores. plataformasàs é americana
pré-sal. A Petrobras AsamericanasHP, basesemterra. e europeia,
avalia a compra de 18M,Intele a alemã Ossistemassão comoa
aparelhos franceses, SAPdesenvolvem fornecidospor daAker
ingleses, russos e sistemasdedicados empresascomo Kvaerner,
americanos a essafinalidade a alemãTKD da Noruega

.GERAÇÃO DE ENERGIA
Uma plataforma,
o COMPRESSÃO
DE GÁS
f)CASCOS
Adaptado da estrutura de
quando opera a 100% Essesequipamentos são um navio comum, o casco
da capacidade, consome instalados na plataforma de um FPSO precisa ser
energia equivalente à para comprimir e resistente o bastante para
que iluminaria uma cidade armazenar o gás produzido suportar os equipamentos.
de 200 000 habitantes. no poço. As tecnologias Os países-referência na
A tecnologia dos navios de compressão utilizadas fabricação de cascos
é predominantemente costumam ser de origem são os Tigres Asiáticos.
europeia, como a da Siemens americana ou europeia especialmente Singapura

PAíSES DE ORIGEM DAS TECNOLOGIAS DAS PLATAFORMAS

Canadá Dinamarca

Estados ...
Unidos
~JapãO

.~ . !iio~ :t'.' CoreiadoSul

-- ~ India~ ~~õr I' China
~
Malásia~ ..~~i\ ~ HongKong
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23 de setembro de 2009 139

'"
 ~ ~ c_--~ -'~=oo

CAPApetróleo

rar até dez anos", diz Ana Zambelli, de pesquisas. "Estamos em busca gene- o preço do petróleo até a 35 dólares o
presidente da empresa no Brasil. ralizada de respostas para as tecnologias barril", diz Formigli.
A chegada da Schlumberger ao cam- nas ~ouas ultraprofundas", diz Cristiano Além da inteligência tecnológica tra-
po das pesquisas demonstra que não há Sombra, gerente do pré-sal do Centro de zida por fornecedores globais, o setor de
como o país se isolar nessa corrida tec- Pesquisa e Desenvolvi- petróleo e gás se beneficia
nológica. Hoje, as quatro maiores em- mento da Petrobras de uma grata exceção no
presas de equipamentos e serviços - a (Cenpes). A estatal inves- DOII8AÀ contexto brasileiro: as
Schlumberger e as americanas Hallibur- tiu 1,7 bilhão de reais em PADARIA: pesquisas nas universida-
ton, Baker Hughes e Weatherford - sua área de pesquisa no NAFUNDAÇÃO des caminham lado a lado
concentram 23% do mercado mundial. ano passado - o maior GETULIOVARGAS com a indústria. Ao con-
Globalização é a marca da exploração DORIODEJANEIRO,
do petróleo e as plataformas são o maior AULADEGESTÃO
exemplo disso. Embora exista um índice DEPROJETOS;NO
de nacionalização médio de 70% do va- SENACDEMACAÉ,
lor- obrigando que componentessejam FABIANAPEREIRA
adquiridos de empresas com vínculo no APRENDEA SER
Brasil-, a origem das tecnologias em- PADEIRADE '~ .1
pregadas é majoritariamente internacio-
nal. A Petrobras é a única brasileira entre
20 empresas que requisitaram um total
PLATAFORMA
~
de 2 247 patentes no setor de petróleo no
Brasil desde 1990. A anglo-holandesa
Shelllidera a lista, com 196registros. A
Petrobras vem em segundo, com 173.
''Nenhum 'país do mundo domina a ca-
deia toda. E como no setor aeronáutico,
em que a Embraer não fabrica turbina.
A intenção deve ser aproveitaro máximo
dos fornecedores internacionais", diz
David Zylberstajn, especialista do setor
e ex-presidente da Agência Nacional do
Petróleo. No caso das águas ultraprofun-
das, a articulação de fornecedores glo-
bais de tecnologia já começou. A ame-
ricana Intel, líder mundial na fabricação
de chips, forneceu à Petrobras seu novo
processador de alto desempenho cinco
meses antes do lançamentoespecialmen-
C.J te para as pesquisas do pré-sal, cujos
gráficos demandam pelo menos o dobro =>
'"
da capacidade computacional disponí- ~
veL "O papel da Petrobras é atuar como 6'"
=>

um maestro, que rege uma legião de for- 8

necedores de vários lugares do mundo

para tocar projetos num mesmo ritmo",
diz José Miranda Formigli Filho, geren-
te executivo do pré-sal da estatal.
! combinação entre materiais e técnicas
I' , NÃOHÁEQUIPAMENTOS PRONTOS no
mercado para atender aos desafios de
sugar o petróleo encravado em rochas
porosas a mais de 5 000 metros de pro-
fundidade e a 300 quilômetros da costa.
Fornecedores mundiais de todos os ní-
veis da cadeia estão numa fase intensa
orçamento de inovaçãodo país. Entre os
resultados recentes do Cenpes está uma
de construção para reduzir o tempo de
perfuração no pré-sal de um ano e meio
para três meses, com corte no custo de
240 milhões de dólares para 80 milhões.
"A tecnologia de perfuração já evoluiu
e, hoje, conseguimos visualizar que a
exploração do pré-sal valerá a pena com
trário do que ocorre em diversas outras
áreas, a academia não fica restrita aos
aspectosteóricosdo petróleoe tem.trans-
formado ciência em projetos práticos. A
Petrobras mantém 38 redes de pesquisas
compostas de até oito universidades pa-
ra complementar seus estudos internos
e investe por ano 400 milhões de reais
nessa colaboração e na qualificação de
engenheiros. A liderança em matéria de

40 Iwww.exame.com.br
 parceria com empresas pertence à Coor-
denação de Programas de Pós-Gradua-
ção em Engenharia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. A Coppe abri-
ga experimentos exclusivos para simular
o desempenho de equipamentos em áre-
as do pré-sal, como o tanque oceânico
capaz de reproduzir as condições de
pressão no fundo do mar e o laboratório
de corrosão de soldagem, que estuda a
planejado para corrigir erros de medidas
nas chapas de aço do casco dos navios.
Um dos grandes clientes que a empresa
de ]gor e Castello já conquistou é o es-
taleiro Atlântico Sul. Paralelamente à
consultoria, a Innova trabalha nos proje-
tos do duto-sanduíche, composto de duas
camadas de aço intercaladas por uma de
cerâmica ou plástico para suportar a
maior pressão nos poços profundos. A
Para atender à demanda
crescente do setor de
de profissionais -
em . de
áreas - estão sendo
PROFISSIONAIS CAPACITADOS
'b:"~6iJ:'fg~9...==0207
i emprega 200 000 pessoas no país, mas
i
ÁREASDEATUAÇÃO
diferentes formações - de engenheiros
a pessoal de apoio das plataformas. A
capacitação rápida de levas de profissio-
nais é um dos múltiplos desafios impos-
tos ao setor. Ao final deste ano, 80 000
pessoas já terão sido treinadas em 185
especialidades definidas por um progra-
ma nacional de qualificação iniciado há
quatro anos para atender a Petrobras.
Com a coordenação da Associação Bra-
sileira de Engenharia Industrial, entida-
de que reúne 115 empresas, o programa
prevê o treinamento de pelo menos mais
210 000 profissionais até o final de
2013. Apenas no nível de gerência há
hoje 1 100 estudantes, graduados em
administração e engenharia, frequentan-
do os cursos. O carioca Marcus Vinícius
Gonçalves é um engenheiro químico
e que está cursando o MBA de gestão em
projetos da Fundação Getulio Vargasdo
Rio de Janeiro. Há cinco anos, ele dei-
xou o emprego na fabricante de vidro
Nadir Figueiredo para prestar serviços
de inspeção na indústria do petróleo.
"Todo dia aparece uma empresa nova
nessa área", diz Gonçalves, que fiscali-
za obras e equipamentos para a Petro-
í
OOO~) bras. Hoje, a cadeia de petróleo e gás
esse número deverá multiplicar rapida- I
mente. Segundo o planejamento estra-
tégico da Petrobras, serão abertos na 1'.1

Construçãoe empresa 207 000 postos de trabalho até :,

montagem 2013. No setor, serão quase 700 000.
n,50/0 Fabiana de Jesus Pereira, de 29 anos,
quer trabalhar em plataformas no alto- I
mar. Formada em gastronomia, ela faz
agora o curso de padeiro e confeiteiro
'"
;:: Engenharia
e Manutenção off shore no Senac de Macaé. O treina-
§ gestão operacional mento é centrado na produção de parte
~'" 7,3% 7,7% da alimentação da tripulação das plata-
"z
'" formas. As jornada.<;de trabalho são de
(1) Previsão Fontes: Abemi/Prominp/PNQP
12 horas diária.<;em períodos de 14 dias
(e outros 14 dias de folga), numa cozi-
resistência necessária dos dutos. patente da tecnologia é brasileira e, se- nha exígua onde são produzidos pães,
Das universidades também nascem gundo Igor, uma das oportunidades está bolos e sobremesa "Podemos trabalhar
ideias de negócios. É o que mostra o ca- em trabalhar em projetos do duto-san- também em rebocadores e petroleiros",
so de Marcelo Igor e Xavier Castello, duíche para empresas metalúrgica...já diz Fabiana, que começa a se familiari-
alunos de doutorado da Coppe. No ano fornecedoras da cadeia do petróleo. zar com os termos do mundo do petró-
pa.<;sado,eles criaram a Innova Offshore, Os estudantes da Coppe que viraram leo. É um mundo no qual, a despeito dos
empresa de projetos para melhoria de microempresários fazem parte do grupo prejuízos causados pelo jogo político,
processos e qualidade na construção de cada vez maior de profissionais brasi- haverá cada vez mais brasileiros traba-
navios e plataformas. Hoje, os estaleiros leiros que estão se especializando na lhando, mais negóciose, espera-se, mais
.. brasileiros gastam até 30% mais que o cadeia de petróleo. É gente com as mais riquezageradadaquipara a frente. .

23 de setembro de 2009 141

 CAPApetróleo

I:

, I

,,

, ,

421 www.exame.com.br
-.:
 inda faltam anos para que os
A poços do pré-sal comecem a
produzir petróleo comercial-
mente, mas os parlamentares
brasileirosjá iniciaram a corrida do pires
no Congresso. Alguns querem os recur-
sos para a inclusão social dos pescado-
res artesanais. Outros acham que o di-
nheiro deve ser investido na assistência
à agricultura familiar.Uma das emendas
apresentadas pede uma parte do quinhão
para uma renovação tecnológica das
Forças Armadas. A bancada ruralista
defende o uso de parte do dinheiro para
a "redenção" do setor agropecuário na-
cional, o que quer que a palavra signifi-
que no entendimento dos deputados,
afinal de contas, em matéria de campo
os produtores bra.sileirosestão entre os
mais eficientes e bem-sucedidos do
mundo. O projeto que cria o chamado
Fundo Social já recebeu mais de 90
emendas, e o número não deve parar por
o FUNDON RUEGU DOPETRLEO
ATINGIU400BILHÕESEDÓ ESEÉ
ADMINISTRADO PELOBANCO ENTRAL
C M TRANSPARÊNCEREGRAS RíGI
aí. Problemas que podem ser resolvidos
com dinheiro não faltam em lugar ne-
nhum do mundo, muito menos no Bra-
sil. Mas, em vez de sonhar agora com a
montanha de recursos do pré-sal- que
ainda estão no fundo do oceano -, seria
mais produtivo olhar para a experiência
de outros países que encontraram gran-
des riquezas minerais. Os exemplos do
que não deve ser feito são muitos. Vão
da Nigéria, que permanece como um
dos países mais pobres da África apesar
das enormes reservas de petróleo, à Ve-
nezuela, do ditador estatizante Rugo
Chávez. Se os congressistas de Brasília
e todos os brasileiros quiserem saber
como investir direito a bolada do tal "bi-
lhete premiado", existe um país essen-
cial para estudar: a Noruega.
As diferenças entre os dois países
não poderiam ser mais marcantes. A
~- --:~=~
Noruega é um país pequeno. A popula-
ção de 4,7 milhões de habitantes ocupa
um território ligeiramente menor que o
estado de Goiás. Os noruegueses ocu-
pam rotineiramente as primeiras colo-
cações do ranking de Desenvolvimento
Humano das Nações Unidas. Na edição
mais recente, estavam na segunda colo-
cação, atrás apenas dos islandeses. Já
os brasileiros ocupam o 7fYlugar entre
os 177 países pesquisados. Mas existe
uma semelhança fundamental entre os
dois países: ambos descobriram vastas
quantidades de petróleo e gás natural
no fundo do mar. O achado norueguês
aconteceu no começo dos anos 70,
quando estudos geológicos do país ha-
viam descartado a possibilidade. Desde
então, a produção de petróleo já entrou
em declínio: o ápice foi atingido em
meados da década passada, embora as
reservas de gás natural ainda durem
muitas décadas. Mas o modelo dese-
I
I
~
nhado pelo governo norueguês para
investir os recursos da riqueza mineral
é considerado um exemplo mundial.
Com respeito às regras, transparência e
I
eficiência nos investimentos, o Fundo
de Pensão do Governo tem tudo para
manter por gerações o bem-estar des-
frutado pelos noruegueses. "O fundo
mudou o patamar de nossa economia",
diz Kjetil Rove, diretor-geral da unida-
de brasileira da StatoilHydro, a estatal
norueguesa de petróleo.
O primeiro aspecto do FPG que me-
rece destaque é a competência de seus
administradores. No início da década, o
fundo tinha recursos de cerca de 50 bi-
lhões de dólares. Na metade deste ano,
havia atingido 400 bilhões de dólares,
montante quase equivalente ao PIB do
país. Esse resultado formidável se deve
a um misto de políticas rígidas de go-
23 de setembro de 2009 143
~~-
--~c",'g;~-"" """"," ,,-~ -
CAPA petróleo

vernança. independência e transparên-

cia. Apesar do nome, o fundo do petró-
leo não tem como única missão garantir
a previdência social do país. O FPG é
um fundo soberano que cumpre muitas
funções. Uma das principais delas, pa-
radoxalmente, é proteger o país da mal-
dição do petróleo. "A ideia é que o pe-
tróleo que jorra no mar nunca chegue à
costa", disse numa entrevista recente o
gestor do FPG, Yngve Slyngstad.
"Quando olhamos para a história, a
maioria dos países que receberam uma
bolada graças aos recursos naturais aca-
bou sendo prejudicada de um jeito ou
de outro." Para evitar que a afluência dos
petrodólares reduza a competitividade
de outros setores da economia e sujeite
o país a eventuais choques no preço do
barril, o fundo só pode investir fora de
suas fi:onteiras.Tipicamente, o FPG alo-
ca 60% ~dosrecursos em participações
minoritárias em empresas (elas são ho-
je cerca de 7 000 ao redor do mundo) e
40% em renda fixa. Seguindo essa re-
ceita. o fundo obteve um retomo anual
médio de pouco mais de 4% na última
década. Todos os noruegueses podem
acompanhar esse desempenho por meio
de relatórios públicos com divulgação
trimestral e anual.

OUTRA
CARACTERíSTICA
fundamental i
do FPG é seu desenho e sua integração
com as contas do país. O fundo perten-
ce ao Ministério das Finanças, órgão
responsável por ditar as políticas de in-
vestimento. A operação do dia a dia fica
a cargo do Norges Bank, o banco central
do país. De acordo com o engenhoso
modelo criado pelos noruegueses em
200 1, existe um limite para os repasses
do fundo para o orçamento do país. O
teto estabelecido é justamente de cerca
de 4%. Esse modelo obriga o governo a
cuidar das contas públicas - afinal, o
dinheiro do petróleo é de longo prazo e
não pode servir para cobrir buracos or-
çamentários. Também garante que o
capital do fundo seja preservado: ape-
nas o retomo anual médio é repassado
ao governo. A sofisticação não para aí.
O uso dos recursos do fundo pelo go-
verno faz parte do processo de decisão
orçamentária, para que o dinheiro não

441 www.exame.com.br
 suma depois de cair nas garras da má-
quina pública. Do lado do investimento,
há uma série de diretrizes que decidem
que empresas merecem receber recur-
sos. No ano passado, o FPG decidiu
o fundo criado pelo governo da vender suas participações no Walmart
Noruega para aplicar os recursos por considerar as políticas do gigante
do petróleo é considerado o varejista contra os sindicatos america-
mais bem-sucedido do mundo. nos incompatíveis com seu código éti-
Veja como ele funciona co. Também estão na lista negra empre-
sas envolvidas na fabricação de arma-
. O objetivo do fundo é permitir mentos. A atitude declarada do governo
a perpetuação da riqueza do é proteger todas as gerações futuras -
petróleo por várias gerações não somente as de noruegueses.
..........................................................................................
Apesar da sofisticação e do êxito do
. O dinheiro é repassado ao sistema, parece claro que o fundo não é
orçamento. mashálimitespara nem de longe a solução para todos os
evitarqueelesirvaapenaspara problemas do país - que, não custa
cobrirdéficits
.......................................................................................... lembrar, são pequenos quando compa-
rados aos brasileiros. A questão da se-
. Os recursos são aplicados de guridade social é uma interrogação im-
forma transparente: há relatórios
trimestrais e anuais portante. O número de pensionistas vai
.......................................................................................... passar de cerca de I milhão, hoje, para
.Asregrasparainvestimentos 1,4milhão nos próximos 20 anos. Como
o país tem baixas taxas de crescimento
sãopúblicase seguempráticas
internacionaisdeboagovernança demográfico, a população economica-
.................................-.............................-................. mente ativa também vai encolher - o
.Odinheiro é
exclusivamente
noexterior.
aplicado que só aumenta o peso da previdência
nas contas do governo. Mas a crítica
Ofundo tem participaçãoem mais feroz diz respeito à falta de diver-
mais de 7 000 empresas sificação da economia. Preservar o país
..........................................................................................
do mal do petróleo é louvável, mas uma
.Aestratégiadeinvestimentostem das críticas mais comuns ao modelo
sidoumsucesso:o retomo médio atual é a falta de estímulo ao empreen-
foi de 4,3% ao anonaúltima dedorismo. Eis uma das ideias levanta-
década das com frequência pelos críticos do
modelo atual: um uso mais agressivo
Valor de mercado do fundo dos recursos permitiria cortes de im-
norueguês (em bilhõesde dólares) postos, além de mais investimentos
400 '.."'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''-''''''''''-''''''........ públicos em educação e pesquisa em
desenvolvimento. Essas medidas, jun-
350 ....----...--...............................................
tas, poderiam estimular o desenvolvi-
300"''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''''
mento das empresas do país. Com ex-
ceção do setor pesqueiro, a Noruega
250"""""'''''''''''''''''''''''''''''''''''''''' não tem a pujança industrial que se es-
pera de um país de tamanha riqueza. O
200........................................... certo é que, mesmo com eventuais fa-
lhas, o modelo norueguês é considera-
do um dos mais bem-sucedidos e sofis-
100""""
ticados mecanismos de perpetuação de
riquezas minerais do mundo. Como
50. demonstra a experiência da Noruega, o
petróleo pode ser coisa de Deus -
o 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09"' mas, se não houver atenção, ele pode
serobradodiabo. .
(1) Até o segundo trimestre