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de Estado para
inteligência artificial
Raphael M. O. Cóbe
Luiza G. Nonato
Sérgio F. Novaes
José A. Ziebarth
Silvertiger/123RF
Chairat Saengdamuk/123RF
resumo abstract
nho ruim nessa corrida pode gerar uma De um modo geral, algumas áreas são
desvantagem impossível de ser recuperada recorrentes na formulação das políticas apre-
no futuro, causando atraso que não apenas sentadas nos documentos. São elas: pesquisa
terá impacto no desenvolvimento econômico científica, desenvolvimento de talentos, desen-
como poderá inclusive comprometer nossa volvimento de habilidades, industrialização,
segurança e soberania. ética, infraestrutura digital e de dados, ser-
viços governamentais e inclusão. No entanto,
CASOS DE SUCESSO cabe destacar que cada estratégia possui ele-
mentos particulares. Assim, a análise trans-
DE IMPLANTAÇÃO
versal de todas as estratégias, ainda que dese-
DE POLÍTICAS ESTATAIS jável, implica a relativização de elementos
importantes a cada estratégia individualmente.
Nos últimos três anos, mais de 40 países Observa-se, porém, que a industrializa-
estabeleceram comitês e grupos de trabalho ção figura como prioridade estratégica para
ou elaboraram estudos para o desenvol- grande parte desses países. A Coreia do Sul,
vimento e definição de compromissos no por exemplo, já em março de 2016, publicou
campo da inteligência artificial, dos quais o documento Mid-to long-term master plan
mais da metade divulgou documentos ofi- in preparation for the intelligent informa-
ciais lançando suas estratégias nacionais. A tion society: managing the fourth industrial
União Europeia, por sua vez, busca definir revolution, no qual são definidos os pilares
uma abordagem supranacional para a IA. A da estratégia sul-coreana para o desenvolvi-
Tabela 1 lista os países e suas respectivas mento da chamada Intelligent IT, com foco
estratégias nacionais, indicando ainda as no fomento das tecnologias da Quarta Revo-
datas de anúncio e o orçamento previsto, lução Industrial, termo cunhado por Klaus
quando aplicável. Schwab, diretor do Fórum Econômico Mun-
Nesse conjunto de países que desperta- dial, que designa a revolução digital em curso
ram para a importância da IA, é possível desde a virada do século XXI.
identificar três estágios de formulação de A Quarta Revolução Industrial caracte-
estratégias nacionais: há países que defini- riza-se principalmente pela onipresença e
ram políticas específicas, em alguns casos mobilidade da internet, pelo uso de sensores
reservaram orçamento para financiar seu cada vez menores e mais potentes e pela
desenvolvimento; outros países iniciaram inteligência artificial. Essas tecnologias, ainda
estudos, publicaram guias e white papers, que não sejam exatamente novas, tornam-se
para orientar a formulação de políticas cada vez mais sofisticadas e integradas. Outra
públicas para a IA. Nesses casos, pode-se característica importante é a velocidade com
afirmar que tais documentos demonstram que as tecnologias emergentes se difundem.
uma movimentação no sentido da elabo- O conceito de indústria digital – ou indústria
ração de uma estratégia nacional. E um 4.0 – também não é recente. Remonta ao ano
terceiro caso, em que a IA é tratada como de 2011, durante a feira Hannover Messe, na
um tipo de tecnologia dentro de uma estra- Alemanha, quando o governo alemão lan-
tégia digital mais ampla. çou sua estratégia nacional de interconectar
tabela 2
De acordo com o Relatório Global de nacional. Nesse contexto, o Brasil não pode
Competitividade, produzido pelo Fórum se permitir perder essa oportunidade histó-
Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 72a rica, sob o risco de comprometer seriamente
posição em um ranking com cerca de 140 seu futuro científico-tecnológico, com impor-
países. Esse índice é apenas uma ilustração tantes reflexos socioeconômicos, na segurança
da nossa situação como país, mas também e na própria soberania nacional.
é uma oportunidade para demonstrar como Para tanto, faz-se necessário que sejam
uma política pública estruturada e com subs- identificadas as prioridades estratégicas, no
tantiva governança na área de inteligência curto e no longo prazo, nas áreas em que
artificial pode conduzir o Brasil a um novo o Brasil tenha maior vantagem competitiva
patamar tecnológico. frente aos demais países. Isso certamente
A inteligência artificial tornou-se o novo passará pela necessidade de consolidação de
foco de competição por se tratar de uma um parque industrial qualificado às novas
tecnologia que liderará o futuro. Os prin- tecnologias, pela qualificação e formação de
cipais países desenvolvidos já tomaram o profissionais nas áreas da ciência, tecnolo-
desenvolvimento da inteligência artificial gia e inovação, e pela retenção de talentos,
como principal estratégia para o aumento como também deverá considerar questões
da competitividade e proteção da segurança éticas e normativas.