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Saint Clair Cordeiro da TRINDADE JR }
1 Tradução de Vera Ribeiro, a partir da segunda edi çã o inglesa , publicada em 1990 por Verso/New Lefl Books ,
de Londres, Inglaterra .
2 Professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Pará , doutorando do Programa de P ós-
graduação em Geografia Humana da Universidade de Sã o Paulo.
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Partindo da premissa de que as interpretações contemporâ neas da
realidade social têm enfatizado o tempo em detrimento do espaço, uma
“ geografia humana crítica pós- moderna” teria na reafirmaçã o do espaço
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sua tarefa mais relevante. Por conta disso, é uma abordagem que se ca-
racteriza pela “ resistê ncia ao fechamento paradigmá tico e ao pensamen -
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to rigidamente categó rico ; ...capacidade de combinar criticamente aquilo
que , no passado , era considerado antit é tico / imposs í vel de > 5
combinar ;...rejeição das l ógicas profundas totalizantes que cerceiam nos-
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quest ã o de combinar em seu livro urn pref á cio a um posf ácio, procuran -
do demonstrar com isso, que a l ógica que amarra sua obra é espacial - i
uma geografia de relações e sentidos simult â neos - e n ã o unicamente
temporal - a narrativa que se desdobra sequencialmente.
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do tema central da obra é feita com bastante propriedade por Soja nestes
capítulos. '
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era não apenas um produto social , mas repercutia para a moldagem das
relações sociais . Em outros termos , a espacialidade precisava ser vista ::
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Na abordagem da dialética sócio-espacial , o ponto central de dis -
cussão é, sem d ú vida, a id éia de considerar o espaço organizado como
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ferê ncia Geográfica do Valor - “ mecanismo ou processo através do qual
uma parte do valor produzido em dada localidade, á rea ou regi ã o é reali-
zada em outra , somando-se à base de acumulaçã o localizada da regi ão
receptora ” (p. l 40). Nesta interpretação , a regionaliza ção e o regionalismo
são vistos como processos sociais hierarquicamente estruturados pelas
rela ções fundamentais de produçã o.
Reafirmando a espacialidade, Soja parte em seguida para uma
.
ontologia do espaço Mostra como a hist ó ria do marxismo ocidental é
caracterizada pelas ilusões de espaço e de tempo, que podem ser resumi-
das a duas vertentes. A primeira, a “ ilusão de opacidade” , é capaz apenas
de mensurar e fazer uma descrição fenomênica. Trata-se de uma “ carto-
grafia cartesiana ” do espa ço , na qual a descrição substitui a explicaçã o, e
que est á presente , por exemplo , em Bergson . A segunda, refere-se à “ ilu -
sã o de transparência” . Aqui , o objetivismo sensorial é substitu ído pela
cogni çã o e desígnio mental , uma “ subjetividade ideativa ” , cuja fonte
principal é Kant.
Para fugir a essas vertentes propõe a necessidade de uma constru ção
ontológica em que se coloca a espacialidade existencial do ser . Para isso,
reavalia as ontologias de Sartre e Heidegger, dois fenomenologistas exis -
tenciais do século XX ; ontologias estas, segundo Soja, “ temporalmente
distorcidas” , mas que a despeito de suas conclusões ú ltimas deram suas
contribuições para a reafirmação do espaço na teoria social e na filosofia.
Este empreendimento inicial é retomado em seguida, quando o au -
tor analisa as obras de Giddens. Preocupado com a reconceituação cr íti-
ca da teoria social , sem perder de vista suas ra ízes históricas (Durkheim ,
Weber e Marx ), Giddens se empenha na sua teoria da “ estruturaçã o espa-
ço- temporal ” , segundo a qual “ os sistemas sociais . ..s ão concebidos como
prá ticas situadas , relações padronizadas (estruturadas) que se reprodu-
zem socialmente no tempo e no espaço” (p 173). Para ele, a matriz espa-
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cial abarca , situa e constitui toda a ação humana, concretizando a hist ória
e a geografia. É a Giddens que Soja atribui a elaboração, pela primeira
vez , de uma ontologia social sistem á tica capaz de sustentar a
reafirmaçã o do espaço na teoria social crítica . Em a “ Constituiçã o da
Sociedade” (1984), percebe-se, alé m disso, a combinação entre ação/es-
trutura, indivíduo/sociedade, subjetividade/objetividade. \
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conseguiram - dar sentido teó rico e pol ítico a ele. A janela para a aná lise
desse novo momento , segundo o autor, é dada pela compreens ã o do
“ pós- fordismo” , do “ pós-modernismo” e do “ pós - historicismo” . A sínte-
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se desses elementos é o assunto dos ú ltimos capítulos nos quais ele es-
tuda Los Angeles , “ o lugar onde tudo parece juntar- se” .
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