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I . INTRODUÇÃO
.
P George trata o económico de forma a manter uma unidade
parcial neste económico, mas sem que essa unidade parcial seja pro
duto das contradições inerentes ao modo de produção, isto é, sem que
-
a unidade seja uma unidade de contrá rios . Se nos detivermos no tra
tamento que ele dispensa aos ramos da Economia, verificaremos que,
-
embora trate da produção, da circula ção e do consumo, jamais fala da
distribuiçã o . Essa posiçã o traz em si um comprometimento sério,
pois é na distribuição que aparecem claramente, não só os participan -
tes do processo produtivo, ou seja, os trabalhadores e os n ão-trabalha
dores, mas também como se d á a distribuição desigual dos frutos da
-
produção entre o salá rio e o lucro . O autor não trata essa quest ão,
talvez porque, na sua opini ão, isto não seja objeto nem da Economia
nem da Geografia, mas da Sociologia . Novamente teremos que admi -
tir que a ética, produto da divisão do trabalho acad êmico, seja a res
ponsá vel pelo desvio teórico . Parece-nos evidente que o tratamento da
-
unidade contraditória do económico deve trazer consigo uma postura
crítica da sociedade ; caso contr á rio, cairemos num economicismo vul
gar .
-
O autor prefere o caminho da divisão técnica, ante uma outra
linha que vê no estudo da divis ão técnica apenas parte de uma preocupa -
ção que se estriba na divisã o social, obviamente produto das relações de
produ ção . Tal desvio acoberta uma perspectiva aparentemente neu -
tra de uma produção validada cientificamente .
Como se fosse possível defender uma posição consistente a res-
.
peito de uma ciência neutra Como se o cientista , ao “ produzir” sua
“ ciência” , sa ísse do mundo dos mortais e produzisse a “ verdade” dos
imortais .
É na prática que as posições teóricas tornam-se claras e objetivas.
A prá tica teórica de P . George na obra Geografia Económica é uma
prá tica comprometida politicamente, pois as reais e objetivas causas
da unidade contraditória do económico aí n ã o são encontradas .
Marx, na Contribuiçã o à Crí tica da Economia Polí tica , é claro nas
colocações sobre a unidade contraditória do económico: “ Na produ -
ção, os membros da sociedade adaptam ( produzem, d ão forma a ) os
produtos da natureza em conformidade com as necessidades humanas;
a distribuição determina a proporção em que o indivíduo participa na
repartição desses produtos; a troca obtém-lhe os produtos particulares
em que o indivíduo quer converter a quota-parte que lhe é reservada
46 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA
-
nesse sistema, 400 milhões beneficiam-se das condições de países técni
ca e economicamente desenvolvidos, e 1 bilh ão sofrem a condição de
subdesenvolvidos” ( GEORGE, 1970:40 ) .
É como se nos países “ técnica e economicamente desenvolvi -
dos” n ão houvesse uma classe explorada e em condições humanas
questionáveis, como se todos alcançassem a plenitude do desenvolvi -
mento ; é a unidade, mas n ão uma unidade contraditó ria, e sim uma
.
unidade homogénea Isso só é possível através do discurso ideológi-
co, lógico, que se concretizou nos “ manuais” das universidades brasi-
leiras . Como se nos países chamados “ subdesenvolvidos” n ão exis -
tissem as classes dirigentes ( classes dominantes ) em condi ções mate-
riais, se não superiores às dos “ países avançados” , pelo menos seme-
lhantes .
Outras colocações contraditórias est ã o presentes na obra: “ A
economia capitalista fundamenta-se sobre o princípio da livre concor-
rência e da iniciativa individual . Repousa sobre a criação de empre-
sas, tendo como fim o enriquecimento de seu fundador e a utilização
de uma m ão-de-obra assalariada, remunerada de acordo com um
salá rio imposto inicialmente pelos empregadores e, mais tarde, debati-
do e fixado por contrato entre empregadores e organizações sindicais”
( GEORGE, 1970: 41 ) , Aparentemente tal colocação pode parecer
consentânea com o materialismo histórico ; no entanto, tal nos pare -
ce um equívoco, pois o modo de produ ção capitalista cont ém o prin -
cípio da livre concorrência de forma parcial, mesmo na etapa concor -
rencial, e hoje vivemos sua etapa monopolista . Além disso, o modo
de produ ção capitalista fundamenta-se na produção da mais valia
para o propriet á rio do capital, e para que tal ocorra deve existir no
mercado o “ trabalhador nu” ( despojado dos meios de produção ) .
A respeito de tal postura achamos oportuna uma citação de J .
Anderson, que define tal situação, presente na Geografia: “ Se a Geo-
grafia parece ser conservadora, n ã o é tanto porque ela é ideológica
( e ideologias, com efeito, são conservadoras ) , mas porque suas ideo
logias tendem a ser ultrapassadas . Considere-se por exemplo a per-
-
-
sistência das noções do laissez fciire . A Geografia é mais uma ‘trans-
missora’ que uma ‘produtora’ de ideologias , . , ” ( ANDERSON,
1974: 4) . P . George n ão fugiu à regra.
Ao tratar dos lucros na economia capitalista, o autor afirma:
“ Esses lucros resultam da diferença entre as despesas da exportação,
a amortizaçã o do capital inicialmente investido, os investimentos
anuais para a renovação e modernização do material de produção,
energia, matérias-primas e salá rios, e o total das vendas” . Reafir -
r
48 BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA
FOLKE, S . ( 1974 )
—
First ThougUls on lhe Gcography of Imperialism . Ant í
pode 5 ( 3 ) : 16 20 .
-
GEORGE, P . ( 1970 )
—
Geografia Económica 5 ed . Rio de Janeiro, Edi-
tora Fundo de Cultura . 333 p .
. .
MARX, K . ( 1971)
—
O Capital ( Cr í tica da Economia Política ) . Livro 1
Volumes 1 e 2 . 2 . ed . Rio de Janeiro, Civiliza ção Brasileira . —
MARX, K . (1974a )
3 . —
Contribuição para a Crítica da Economia Política
ed . Lisboa, Editorial Estampa .
.
MARX, K . (1974 b ) —
O Capital ( Crítica da Economia Polí tica ) Livro 3 .
—
Volumes 4, 5 e 6 . Rio de Janeiro, Civiliza ção Brasileira .
MAOTSÊ-TUNG
33p .
— .
Sobre a Contradição Sé rie Textos Fundamentais, n ? 1,
.
OLIVEIRA , A . U ( 1977 ) —
Uma Contribuição aos Estudos das Atividades
Agrárias: O uEstado Isolado” de Von Thunen . Tese de Doutoramen -
to ( inédita ) .
I
1
RESUMO
Este trabalho procura iniciar uma discussão sobre a presença dos con -
ceitos econó micos, da infra -estrutura da Sociedade, tratada por Pierre George
em sua obra Geografia Económica .
Procuramos discutir primeiramente a questão do objeto de estudo da Geo -
grafia Econ ómica em sua obra e julgamos que tal discussão deve inserir-se numa
discussã o maior que é do pr óprio objeto de estudo da Geografia .
Em outra parte do artigo levantamos pontos, també m para discussão, sobre
o mé todo na Geografia Económica de Pierre George, onde julgamos residir
a chave para esclarecimentos sobre sua obra .
-
Em seguida tratamos da unidade contraditó ria da infra estrutura económi -
ca : a produçã o, a distribuiçã o, a circulação e o consumo na obra objeto de
estudo, procurando demonstrar, praticamente, a ausência desse instrumental
-
teó rico ( do materialismo histó rico e dialético ) , ao mesmo tempo em que encon
tramos justificativas para admitir a existência na obra do m étodo histórico da
escola histó rica da economia .
E concluí mos o artigo com algumas achegas para discussã o sobre a pre-
sença da Hist ória e da Ideologia na Geografia Económica de Pierre George .
SUMMARY
Secondly some issues are raised about the methods used in Pr écis de G éo -
graphie Economique, which may be the key elements to understand it .
R ÉSUM Ê
-
Ce travail essaye d’ initier une discussion sur la pr ésence des concepts éco
nomiques, de rinfrastructure de la socié té, trait ée par Pierre George dans son
livre Précis de G êographie Economíque .
-
Nous essayons d’ abord de discutor la question de 1’objet d’é tude de la G éo
graphie Economique dans ce livre, puisque nous consid é rons qu *une telle dis
cussion doit être ínserée dans une discussion píus large qui est 1’objet d’é tude
-
de la G êographie .
Ensuite, également pour une discussion, nous posons des questions sur la
méthode utilisé e dans la G êographie Economique de Pierre George, ou à no
tre ayis se trouve la clé pour des éclaircissemenls à propos de son oeuvre .
-
Puis nous nous occupons de Puniíé contradicíoire de rinfrastructure éco
nomique: la production, la distribution, la circulation et la consommation dans
-
-
Toeuvre en question, tout en essayant de montrer, d ’ une façon pratique, 1’absen
ce de cet instrumental th éorique ( c’est-à-dire, du mat érialisme historique et
dialectique ) , en même temps que nous présentons des justifications pour admet
tre 1’exístence dans cet oeuvre de la m é thode historique de 1’école historique
-
de TEconomie.