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Alberto de Oliveira Ventura

Ética e Deontologia Profissional Docente e a Declaração Universal dos Direitos


Humanos

Universidade Pedagógica

Maputo

2018
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Alberto de Oliveira Ventura

Ética e Deontologia Profissional Docente e a Declaração Universal dos Direitos


Humanos

Licenciatura em Ensino Básico

Trabalho de fim de curso desenvolvido no


âmbito da conclusão da licenciatura em Ensino
Básico com habilidades em Administração e
Gestão de Educação, a ser submetido a
Faculdade de Ciências da Educação e
Psicologia, como requisito parcial para
obtenção do grau de licenciatura em Educação
de Básico.

Universidade Pedagógica

Maputo

2018
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Índice
Introdução.........................................................................................................................................3

CAPITULO I: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL DO PROFESSOR.................4

I.1 Ética e Deontologia dos Professores...........................................................................................4

I.2 O Professor, a Ética e a Deontologia Profissional......................................................................5

I.3 Deontologia na profissão docente...............................................................................................6

CAPITULO II: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS......................8

II.1 Os Direitos Humanos na sala de aula........................................................................................8

Conclusão.......................................................................................................................................10

Referencias Bibliográficas..............................................................................................................11
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Introdução
A escola tem uma função educativa muito importante, que deve ser desenvolvida tendo em conta
o respeito por princípios éticos. Aos professores é atribuída esta missão de grande valor, pelo que
a sua função tem que ser eticamente exercida, sob orientação de princípios éticos gerais e por
normas mais específicas ajustadas às situações concretas da realidade escolar. O professor tem a
árdua missão de formar agentes a fim de garantir a identificação recíproca entre a identidade
cultural do povo e a escola.

O estudo surge o âmbito da conclusão do curso de licenciatura em Ensino Básico e está


subordinado ao tema: ética e deontologia profissional do professor e direitos humanos. É o
tema que se configura importante na medida em que procura perceber até que ponto, as boas
praticam no trabalho docente podem se reflectir na sociedade replicando-se directamente nos
alunos e dando importância a sua profissão. O meu interesse por este tema decorre de duas
circunstâncias concomitantes: a primeira é ser formado na área de educação e estar directamente
envolvida na prática docente; a outra é ter estado ligada, durante algum tempo, à actividade
pedagógica.

O estudo desenvolveu-se procurando atingir os seguintes objectivos:

Geral

Compreender a importância das regras de conduta da actividade docente e a sua influência na


salvaguarda dos Direitos Humanos.

Específicos

 Caracterizar os princípios éticos e deontológicos que devem reger o exercício da


actividade docente;
 Descrever a importância do conhecimento dos Direitos Humanos e como podem ser
abordados pelo professor na sala de aula.
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Para o alcance destes objectivos usou-se como técnica de colecta de dados a recolha
bibliográfica. O trabalho está estruturado em duas partes que descrevem, de um modo
sequencial, o tema da investigação, trazendo no fim a lista das literaturas consultadas.

CAPITULO I: ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL DO PROFESSOR

I.1 Ética e Deontologia dos Professores


A ética é uma das palavras que se pronuncia sempre que o assunto diz respeito a juízo de valores.
Na verdade, o termo é de origem grega ethos que significa carácter, modo de ser que uma pessoa
vai adquirindo por seu modo de agir. Segundo Reimão (2007:53) esse modo habitual de agir se
sedimenta em hábitos bons e maus que, por sua vez, inclinam, predispõem e facilitam continuar
agindo no mesmo sentido.

Ética é um princípio que deve nortear a qualquer indivíduo dentro do seu contexto para garantia
da socialização nas relações inter e intra-pessoais. A Ética, numa perspectiva filosófica, segundo
(Marques, 2008:38).

“É concebida como parte da Filosofia que se ocupa de costumes, da moral, dos


deveres do Homem; ciência que trata da ambivalência entre o bem e o mal e
estabelece o código moral de conduta”

Assim dito, a ética pressupõe que exista uma articulação racional do bem, estando sempre
relacionada com uma determinada cultura.

Já o termo deontologia, do ponto de vista etimológico deriva do grego deonta (dever) e logos
(razão) que segundo Alonso (2008:179) “é um código de deveres e as obrigações do profissional
e que ela se impõe a si própria, inspirada nos seus valores fundamentais”

O autor sublinha ainda que ainda que estes valores não podem ser distintos dos valores da
sociedade em que determinada profissão se insere, nem dos valores universais. O normal é que
essas formas tenham sido regidas, compiladas em um código escrito e aprovado pelo colectivo
profissional. Notamos aqui que o professor no contexto moçambicano, no âmbito deontológico,
deve obedecer ao plasmado no Estatuto do Professor conjugado com o Estatuto Geral dos
Funcionários e Agentes do Estado.
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Como se pode perceber, a formação ética estabelece a fronteiras para o bom desempenho da
prática profissional, tornando cada agente responsável pela sua acção, sem desculpas nem
subterfúgios. Os professores não só devem acolher os seus alunos, como tem o dever de lhes
servir de modelo sem lhes impor o que quer que seja. Nesta relação com o outro, o professor deve
ser capaz de sugerir sem obrigar, sem responsabilizar e sem impor.

I.2 O Professor, a Ética e a Deontologia Profissional


Qualquer professor é também um educador moral, não se confinando à designação de mero
transmissor de saberes. Por esta razão, segundo Estrela, (2010: 98) é importante que na sua
formação (seja inicial ou contínua) se dedique o tempo necessário a esta componente formativa,
fazendo-se a articulação entre princípios de carácter filosófico com princípios de carácter
científico sobre a pessoa (...)
A autora sublinha a ideia de que “a ética só se realiza em acção se passar pela cultura e que o
grande desafio da educação é conseguir que todos passem a gostar do bem, partindo da Ética para
a Cultura”. Justifica este interesse lembrando que entre os vários aspectos que permitem
caracterizar o profissionalismo se conta o:

“ (...) exercício correcto e autónomo de uma função socialmente reconhecida


como altruísta, de que o código ético constitui uma expressão, como se fosse uma
espécie de imagem de marca da profissão.” (p-67)

A profissão docente exerce-se por delegação social e assenta num conjunto articulado de saberes,
saberes-fazer e atitudes (…) e um ideal de serviço que lhe confere significado e que remete para o
conceito de profissionalismo. Esse ideal consubstancia o exercício ético da competência
profissional e os fins e valores que uma sociedade acha dignos de serem transmitidos e
exemplificados através do processo educativo.

Para satisfazer este pressuposto, é inevitável que o professor cumpra com isenção, modéstia, com
honra, brio profissional e com um elevado sentido de responsabilidade esta tarefa de ensinar e
educar. Em toda sua actividade profissional, o professor deve colocar em primeiro lugar o
brilhantismo, a ética e a deontologia profissionais. Quando procede desta maneira, o professor
estará em condições de responder e de corresponder com a dimensão funcional da sua tarefa.
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Neste sentido, o professor tem como dever transmitir claramente os conhecimentos, as


experiências e os valores culturais aos seus alunos assim como adquirir as experiências dos
mesmos que sempre têm alguma coisa para transmitir e aprender.
Nos meandros desta discussão, considero que a tarefa do professor pode ser fragilizada pela
acção humana interferindo negativamente no seu trabalho diário criando situações inusitadas para
a sua profissão. Nesta conformidade, o professor deve, lutar por todos os meios ao seu alcance
contra todas as influências capazes de ferir a sua ética e deontologia profissionais.
A responsabilidade da formação de quadros nos mais variados níveis de ensino, é sem dúvida do
professor. O futuro de um país depende primordialmente da quantidade e qualidade de quadros
que formar, numa estreita relação entre as necessidades do país e as do indivíduo enquanto
sujeito das transformações endógenas e exógenas.

I.3 Deontologia na profissão docente


Na actividade docente predomina um profissionalismo funcionalista, muito baseado e fixado à
didáctica dos programas. Monteiro (2008) propõe como alternativa a um profissionalismo
reflexivo, ou seja, um profissionalismo centrado na reflexão acerca da prática e da capacidade
docente para tomar decisões ajustadas. Esta alteração envolve uma perspectiva mais larga e uma
implicação maior no acto pedagógico.

Segundo Rosa, (1999: 22) para a opinião pública a função do professor é ensinar alguma
coisa, no âmbito escolar é aquele que ensina uma disciplina curricular. Contudo, a função do
professor vai muito para lá da perspectiva do senso comum, ou seja, vai muito para lá do simples
ato de ensinar uma determinada matéria. “O professor exerce sobre os alunos que estão ao seu
cuidado uma influência geral e permanente”. O professor, ao ter por função a formação de
jovens, exerce uma actividade que congrega uma função humanizadora e uma função
socializadora (é neste sentido que se reporta à ética). Participa na construção/modificação do ser
humano, na obtenção de hábitos e costumes, por parte dos alunos. Indirectamente, o professor
também tem um papel activo na configuração da própria sociedade, na medida em que, ao estar
incumbido da formação de novos sujeitos, dos fundadores da nova sociedade, estão a intervir na
edificação da sociedade (Silva, 1995: 32).
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Na função docente está implícito quer a instrução quer a educação, sendo dois elementos
indissociáveis. Assim, ressalta desta função do professor o primeiro critério de uma deontologia
do educador/professor: A acção do educador tem, como matéria e como fim, o desenvolvimento
pessoal e social das crianças e jovens com quem trabalha.
Segundo Monteiro (2008) os professores têm direito profissional à formação, ao estatuto e
remuneração decorrente da sua actividade, condições materiais e dignas no exercício da sua
função, direito à autonomia e responsabilidade profissional, participação no governo da escola e
ainda na definição da política da educação.

Uma deontologia profissional, com grande pendor ético e social (como é o


caso da profissão docente), deve ter como princípios normativos os seguintes
desígnios: o respectivo estatuto profissional, o quadro legislativo nacional e a
jurisprudência pertinente e as normas internacionais existentes sobre a
profissão e a respectiva jurisprudência. (P.81)

Segundo este posicionamento e olhando para o regulamento jurídico moçambicano, pode-se


afirmar que são fontes normativas internacionais os seguintes instrumentos:
 Declaração universal dos direitos do homem;
 Convenção sobre a luta contra a discriminação no domínio do ensino;
 Convenção sobre os direitos da criança;
 Recomendação sobre a condição do pessoal docente;
 Recomendação sobre a condição do pessoal docente do ensino superior.

As fontes normativas nacionais os seguintes textos jurídicos:


 Constituição da República Portuguesa;
 Lei de bases do sistema educativo;
 Código de Conduta Profissional dos professores de Moçambique;
 Estatuto Geral dos funcionários e agentes do Estado.

Estas normativas internacionais e nacionais estabelecem a base jurídica fundamental dos


princípios que devem nortear a profissão docente
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CAPITULO II: DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Os direitos humanos são direitos alienáveis, inquestionáveis e garantidos por sua Declaração
Universal de 1948 onde consta como 1º artigo que “todos os seres humanos nascem livres e
iguais em dignidade e em direitos” Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Sendo
assim, todos os homens de qualquer nação e de qualquer classe social têm que conhecer e
entender seus direitos para que os mesmos não sejam esquecidos e/ou negligenciados por
nenhuma instituição, ou autoridade ou quem quer que seja.

II.1 Os Direitos Humanos na sala de aula

A sala de aula é um dos principais momentos de aprendizagem dos alunos. É o momento da


transmissão de conhecimento e da troca entre alunos e professores, pois ambas as partes têm uma
bagagem cultural, cognitiva e emocional que devem ser valorizadas. Segundo Freire (1996) os
direitos humanos podem ser abordados em meios as disciplinas tradicionais através de textos e
exemplos da história, mas também podem ser abordados através de temas transversais e projectos
interdisciplinares. O ambiente da sala de aula deve ser o mais respeitoso e harmonioso possível
para que a convivência professor/aluno seja rica e proveitosa para ambos. Mas para os
professores serem respeitados, eles têm que mostrar respeito aos alunos também. Respeitar sua
história, sua vida, a comunidade em que vivem e não desmerecer de maneira nenhuma, nenhum
aluno. O respeito deve ser, obrigatoriamente, mútuo. O respeito é um dos pilares dos direitos
humanos, e se houver falha nesse princípio a convivência será comprometida negativamente.

Diehl (2000) vai mais afundo ao defender a importância de trabalhar os direitos humanos na
formacao de professores. Segundo o autor, o objectivo de falar sobre direitos humanos dentro
das salas de aulas é interiorizar nos alunos princípios de respeito, tolerância, igualdade para que
os mesmos busquem e lutem também por uma sociedade mais justa e igualitária e elencou
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algumas estratégias para que as escolas e suas equipes pedagógicas desenvolvam trabalhos
orientados para assegurar os direitos humanos. São as que a seguir se descrevem:

1. Ponto de partida: para Diehl, é fundamental que as escolas reconheçam que é papel da
educação garantir os direitos humanos. “É preciso ter o entendimento de que todos os
indivíduos precisam ter sua dignidade garantida, o que implica em ter direito a opinião,
liberdade, identidade, acesso a educação, cultura e saúde”.

2. Valorizar culturas minoritárias: outro aspecto fundamental, em sua opinião, é


contextualizar a luta pelos direitos humanos. “Mais do que abordar a Declaração
Universal dos Direitos Humanos e a Constituição da Republica, é necessário apresentar as
lutas que levaram a tais resoluções”.

3. Buscar o diálogo: Também é fundamental que o trabalho se dê em diálogo com os


estudantes e respeitando as reais necessidades deles. “Com crianças, é preciso se ancorar
no lúdico, trazer essas informações com o apoio das lendas, do folclore, por exemplo;
com os mais velhos, já é possível promover debates políticos atuais e relevantes”,.

4. Se posicionar: segundo Diehl, o professor deve se posicionar diante dos fatos e se mostrar
preocupado com o destino do mundo. “A filósofa Hannah Arendt já dizia que a educação
é feita pelo exemplo e que mais do que ser embrionária de um novo mundo, a educação
tem o papel de contar as histórias do velho mundo. Então, penso que os professores não
devem chamar os alunos para as revoluções que acredita, mas apresentá-los a elas”.

5. Buscar referências: outro ponto benéfico para este tipo de trabalho é o professor buscar
referências que possam respaldá-lo. “É possível acessar a literatura e outros materiais, e
também os estudantes e seus repertórios, como o rap ou a literatura periférica, por
exemplo”.

6. Permitir consensos e dissensos: as dinâmicas precisam permitir que os estudantes


transitem em lugares favoráveis e de oposição. “Não se pode ter medo que os alunos
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discordem de certas posições”, enfatiza Renata ao reforçar que essa é a base para a
construção de uma cultura democrática.

Conclusão
No que concerne ao problema que serviu de ponto de partida para a investigação, a resposta
sintética que emerge da análise feita é que os deveres profissionais, o conceito de professor, os
princípios orientadores das práticas docentes, entre outros aspectos, são formulados em termos
muito semelhantes e valorados de forma idêntica pelos professores. O ideal de uma educação de
qualidade não pode estar afastado de pressupostos morais e éticos. Todos os envolvidos na
relação pedagógica têm de adquirir uma consciência moral inerente à sua função nessa relação.
Os professores têm de formar uma identidade profissional mais profunda, alicerçada a todas as
contingências da função de educador. Os professores têm de contribuir para a promoção do
desenvolvimento sociomoral dos alunos, e isto só será possível quando se verificar um paradigma
deontológico adequado à realidade do modelo e paradigma educativo vigente. A perspectiva ética
e moral que os professores possuem, determinam a forma como assumem a sua função de
educadores morais e éticos.

Analisando por essa linha, vê-se a importância da maneira que os valores são apresentados às
crianças e o modo como elas se apropriam deles. Dessa forma, salienta-se também a importância
da formação dos docentes em seu caminho académico e a importância da postura que o mesmo
apresenta dentro da escola. Não só o docente, mas toda a equipe escolar, desde a direcção até
seus funcionários são exemplos e referências para os alunos que estão ali construindo sua
personalidade e seus valores morais. Diante desses motivos, é fundamental que o respeito, a
cidadania, a aceitação de toda diferença que foge do padrão devem ser trabalhados diariamente na
escola e devem ser trabalhados por profissionais que realmente acreditam que estão contribuindo
para uma sociedade mais justa e igualitária.
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Neste medida, pensa-se que os objectivos do trabalho terão sido alcançados e espera-se ter
conseguido lançar alguma luz sobre o pensamento dos professores relativamente aos aspectos
éticos - ou a parte deles, pelo menos - que envolvem as práticas profissionais docentes; isto sem
perder de vista, no entanto, que toda a investigação qualitativa, dado o seu pendor marcadamente
interpretativo, se deverá sempre considerar incompleta e em aberto.

Referencias Bibliográficas
DIEHL, D. A. Democracia e educação em direitos humanos: um debate sobre o PNDH-3 e
NEDH à luz da pedagogia freireana. Revista dos Estudantes de Direito da UnB, 2012.
ESTRELA, M. T. Profissão Docente. Dimensões Afectivas e Éticas. Porto: Areal Editores. 2010
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática docente. São Paulo: Paz e
Terra. 1996
MARQUES, R. O livro da Nova Educação da Carácter Edições Almedina. Coimbra. 2008
MONTEIRO, A. R., Qualidade, Profissional idade e Deontologia na Educação, Porto Editora.
Porto. 2008
ONU.. Declaração universal dos direitos humanos. 1948. Disponível em: http://www.onu-
brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>. Acesso 26/09/2015.
REIMÃO, R. Ética da Profissão docente. Actas do colóquio Luso-Espanhol de Ética das
profissões. Braga. 2007
ROSA, J. C. D., Escola Superior de Educação João de Deus. Lisboa 1999.
SILVA, L. A Profissão Docente e a Deontologia dos Professores, Coimbra, Ed. Sindicato dos
Professores da Região Centro.1995

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