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Experiências de Gestão do Conhecimento na Saúde Pública do Brasil

Ao longo dos últimos anos, a GC tem sido incorporada cada vez mais às
pesquisas e às organizações em saúde brasileiras. Embora as publicações científicas
ainda sejam escassas e predominantemente recentes, demonstram tendências crescentes,
em função da importância que o tema vem adquirindo no atual contexto da saúde
pública nacional (CICONE, 2015; ROCHA et al., 2012, OPAS, 2009). Na medida em
que esse debate avança, observa-se que o Brasil também vem despontando no cenário
internacional na realização de estudos e desenvolvimento de experiências.

As experiências que serão apresentadas a seguir evidenciam o despertar e


ascensão da GC no país:

Evipnet (Evidence-Informed Policy Network)

É uma iniciativa mundial criada em 2005 pela OMS e adotada pelo Ministério
da Saúde do Brasil (Evipnet-Brasil) em 2007, como uma alternativa para a formação de
uma rede de operacionalização da GC com o objetivo de fortalecer a saúde pública
mediante ao uso sistemático e institucionalizado de conhecimento.

A Evipnet-Brasil é constituída por instituições parceiras como a OMS, a OPAS,


a Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde
(BIREME), a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), a Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (Abrasco), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), o Observatório Ibero-
americano de Sistemas e Políticas de Saúde (OIAPSS) e diversas secretarias de saúde
municipais, faculdades e escolas de saúde pública.

Essas instituições estão articuladas formalmente a partir de ações que envolvem


principalmente os processos de tradução e disseminação do conhecimento e promoção
do intercâmbio entre pesquisadores, gestores/tomadores de decisões e representantes do
controle social para assegurar que organização do conhecimento seja utilizada como
subsídio para a tomada de decisão na saúde pública, prioritariamente por gestores
(DIAS et al, 2014).
A metodologia mais utilizada é a ferramenta Supporting Policy relevant
Reviews and Trials (SUPPORT), por meio da qual os membros da rede podem sintetizar
evidências científicas a partir do uso de revisões sistemáticas. O uso dessa ferramenta
proporciona às organizações em saúde momentos de diálogos deliberativos, nos quais os
gestores, profissionais de saúde e demais interessados possam debater temas de saúde
com base em sínteses de conhecimento científico específicas. Com isso, espera-se que
haja incorporação de experiências locais e contextuais, num processo de debate para
produção de consenso, que sugestivamente deve subsidiar a tomada de decisão.

Essa ferramenta é utilizada nas capacitações das organizações em saúde para que
comecem a gerir o conhecimento de forma sistemática e institucionalizada. Nessa
perspectiva, normalmente são implantados os Núcleos de Evidências (NEv) nas
organizações em saúde, que tem por objetivo ser a estrutura institucional com
capacidade de adquirir, avaliar, adaptar e aplicar o conhecimento científico aos outros
tipos de conhecimento sobre problemas de saúde prioritários. Esses espaços de GC
proporcionam fortalecimento da rede de operacionalização da GC no contexto de
múltiplos níveis de gestão que compõem o SUS.

Até final de julho de 2018, existiam cadastrados 12 (doze) NEv espalhados por
todo o Brasil.  A Evipnet-Brasil é uma iniciativa inovadora e que tem destaque dentro
da Evipnet Global. É a escolha do Ministério da Saúde para ser, institucionalmente, a
base da GC no SUS (DIAS et al, 2014).

Organização Pan-americana em Saúde (OPAS)

A OPAS possui um modelo de gestão de conhecimento que se baseia em acesso


a evidências científicas por meio de repositórios em plataformas oficiais, padronização
de linguagem em seus documentos e, escalabilidade, viabilizada pela seleção e emprego
de ferramentas aptas a atender a demandas externas e internas, no intuito de garantir um
espaço de construção cooperativa de conhecimento em rede. Sua estrutura operacional
envolve recursos humanos, estrutura tecnológica e política (OPAS, 2009).

Nesse caso em particular, a GC se operacionaliza por meio de grupos de apoio


com responsabilidades específicas como: investigação e desenvolvimento tecnológico,
produção de conhecimento, controle de qualidade de todo o processo, cooperações
técnicas e inovação. Os recursos humanos atuam principalmente no sentido de garantir a
redução de barreiras de acesso à informação aos gestores em saúde (OPAS, 2009).

Redes, Comunidades de Práticas e Espaços Virtuais de Educação à Distância

As redes, as comunidades de práticas e os espaços virtuais de educação à


distância são experiências de práticas de GC que se organizam a partir da construção de
espaços de compartilhamento de dados, informações e conhecimento, que propiciam o
avanço na direção ao partilhamento de saberes e práticas. São formas de disseminar
modelos de gestão da informação e conhecimento, na perspectiva colaborativa e da
inovação cooperativa (OPAS, 2009).

No Brasil temos a Rede da Biblioteca Virtual de Saúde, o modelo das


comunidades de práticas na Organização Pan-americana da Saúde, o Campus Virtual
em Saúde Pública, a Universidade Aberta do SUS, a Escola do Instituto de Saúde
Coletiva da Universidade Federal da Bahia (componente navegar é preciso da NET
Escola) e a Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (Campus Virtual de Saúde
Pública).

Sala de Situação

A Sala de Situação de Saúde na América-Latina, da Rede RIPSA e dos


Observatórios de Recursos Humanos em Saúde, são iniciativas que visam dialogar
diretamente com o grave problema das políticas públicas brasileiras de escassez do uso
da informação em saúde para a tomada de decisão (OPAS, 2009).

Existem também publicações brasileiras que abordam experiências de GC em


serviços de saúde pública e ou em situações de emergência em saúde pública, tratam das
metodologias e descrevem as dificuldades para a implantação.

Cassini e Tomasi (2010) realizaram um estudo de caso no Hospital Júlia


Kubitschek, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte no estado de Minas
Gerais. Segundo os autores, a prática tem baseia-se em atividades de Gestão de Pessoas
na perspectiva do desenvolvimento da GC e já ganhou premiações.

Os resultados apontam para um maior uso de informações relacionadas à gestão


de pessoas, investimento na capacitação dos servidores, no desenvolvimento de
pesquisas, com ampliação das redes de trocas e compartilhamentos, gerando mais
comunicação, agilidade na captura de informações, nos processos de trabalho e na
tomada de decisão. Verificou-se também melhoria na infraestrutura física e de
equipamentos para propiciar maior acesso à informação e o compartilhamento do
conhecimento gerado na instituição e ampliou o acesso aos recursos bibliográficos
(CASSINI; TOMASI, 2010).

Outro estudo analisou a GC da epidemia de Síndrome Congénita do Zika Vírus


(SCZ) no estado de Pernambuco, utilizando um modelo analítico adaptado a uma
epidemia em saúde pública, que explora cinco capacidades diádicas da GC:
mapeamento e aquisição do conhecimento, produção e destruição do conhecimento,
integração e compartilhamento do conhecimento, multiplicação e proteção do
conhecimento, e desempenho do conhecimento e inovação. Os resultados mostraram
lacunas no último componente, especialmente, com relação à medição dos resultados e
consequências alcançadas pela reprodução do conhecimento (ALBUQUERQUE at al.,
2018).

Em 2002, a Escola Nacional de Administração Pública, a experiência que criou a


metodologia para desenvolvimento, implementação e avaliação de prontuários
assistenciais adotada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul foi
premiada como prática inovadora de gestão pública. Entre 1998 a 2002, no hospital,
foram implantados prontuários assistenciais para quinze patologias, com o objetivo de
melhorar os desfechos clínicos e permitir os pacientes se beneficiem do conhecimento
científico e das melhores práticas disponíveis (BATISTA, 2012).

No entanto, Batista (2012) faz uma análise da prática, destacando-a como uma
iniciativa que envolve a GC, visto que, foi possível verificar a ocorrência dos principais
processos de GC: identificação, criação, armazenamento, compartilhamento e aplicação
do conhecimento. Segundo o autor, essa experiência mostrou como a GC pode
beneficiar gestor público, as equipes de trabalho, as organizações públicas e a
sociedade.

Nome/título da experiência

    No contexto atual do país, trata-se de um processo não linear, dinâmico, configurado
por diferentes variáveis e concretizado por uma série de iniciativas que vêm sendo
desenvolvidas, operacionalizadas pela Coordenação-Geral de Documentação e
Informação do Ministério da Saúde. As principais atividades são: Desenvolve como
atividades prioritárias: a gestão de documentos de arquivo, garantindo transparência das
ações de governo; a preservação e o gerenciamento das fontes primárias pela adoção de
metodologias e tecnologias nos arquivos correntes e de atividades que garantam a
agilidade na recuperação de informações e documentos de arquivo para a tomada de
decisão; o desenvolvimento de ações capazes de garantir autenticidade, segurança e
acesso aos documentos oficiais; e, a gestão e atualização de tecnologias e metodologias
arquivísticas, dentre outras (OPAS).

BATISTA, F. F. Modelo de gestão do conhecimento para a administração pública


brasileira: como implementar a gestão do conhecimento para produzir resultados em
benefício do cidadão. Brasília: Ipea, 2012. 132 p.

POLANCZYK, A. C. Protocolos assistenciais como estratégia de adesão às melhores


práticas clínicas e otimização de recursos. Ações premiadas no 7o Concurso de
Inovações na Gestão Pública Federal — 2002. Gustavo Amorim Coutinho (Org.).
Brasília: ENAP, 2002.  229p.

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