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ABRINDO A CAIXA-VERDE: ESTUDO SOBRE A IMPORTÂNCIA ECONÔMICA


DO AUTOCONSUMO NA AGRICULTURA FAMILIAR MERIDIONAL

Flávio Sacco dos Anjos


Nádia Velleda Caldas
Catia Grisa
Paulo André Niederle
Evandro Pedro Schneider

RESUMO

O artigo focaliza o tema do autoconsumo na perspectiva da agricultura familiar, à luz de


recente pesquisa (UFPEL-UFRGS) que vem sendo desenvolvida no Rio Grande do Sul, sob
os auspícios do CNPq e FAPERGS. Envolveu um total de 238 estabelecimentos familiares
pesquisados, distribuídos em quatro microrregiões da geografia gaúcha. A atenção está posta
na análise sobre as diferenças existentes entre as explorações do ponto de vista das práticas de
autoconsumo por força das transformações estruturais desencadeadas a partir da revolução
verde e dos efeitos a ela vinculados. Explora, igualmente, o peso da matriz cultural como
chave explicativa para entender os contrastes verificados entre os estabelecimentos situados
em diferentes microrregiões. A primeira secção aborda a relevância do autoconsumo enquanto
objeto de reflexão acadêmica e de política pública, enquanto a segunda enfoca o marco
teórico/metodológico da pesquisa. A terceira secção situa as características essenciais de cada
uma das zonas estudadas em termos dos aspectos histórico-culturais mais proeminentes. A
quarta secção analisa os dados relativos a cada uma das zonas estudadas, revelando a
respectiva importância do autoconsumo na composição da renda familiar, bem como as
causas que permitem entender tais diferenças. A quinta e última secção reúne as conclusões
principais do trabalho. Destaca-se a Serra Gaúcha, representada pelo município de
Veranópolis, como a localidade onde o autoconsumo adquire uma importância absoluta e
relativa considerável em relação às demais áreas de estudo.

Palavras-chave: agricultura familiar, autoconsumo, segurança alimentar.

1. INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DE PESQUISA

A década precedente estabelece um importante ponto de inflexão na história


econômica e social brasileira face à consolidação da noção correspondente à agricultura
familiar enquanto objeto de reflexão, momento no qual dá-se o aparecimento de uma
experiência inédita de um programa de fomento - o PRONAF - comprometido com um setor
que, segundo algumas fontes (GUANZIROLI et al, 2001), abrigaria em seu interior 4,139
milhões de estabelecimentos agrícolas. Do ponto de vista das ciências sociais o problema que
se apresenta é fundamentalmente gerir a diversidade de situações que se ocultam sob a égide
desta noção, no sentido de estabelecer critérios básicos de definição do que se entende como
situações típicas de agricultura familiar. A maior ou menor rigidez não pode ser entendida
como simples arbitrariedade ou um mero afã classificatório, mas como um meio através do
qual estabeleçam-se as bases para aperfeiçoar o processo de intervenção estatal de modo a
2

atender às demandas específicas que se apresentam diante da realidade concreta, visando


aumentar a eficácia das políticas públicas, segundo o público-alvo a que se dirijam.
A questão é que os esquemas usuais de enquadramento apresentam-se como
essencialmente apoiados na velha oposição entre trabalho familiar e trabalho assalariado
enquanto eixo de definição e critério classificatório. O fato é que não são poucos os estudos
que retratam a natureza paradoxal de explorações familiares onde não são incomuns as
situações em que encontramos o duplo estatuto de patrão e empregado numa mesma pessoa
(MARINI e PIERONI, 1988), dependendo das formas de inserção nos mercados de trabalho
ou da dinâmica das atividades desenvolvidas pelos indivíduos. O mesmo "colono-operário"1
empregado em uma fábrica de calçados é também o patrão que contrata temporariamente seu
vizinho para lavrar o terreno para a lavoura ou para roçar o potreiro da pastagem nativa. Por
outro lado, se os processos de produção agropecuários são cada vez menos tributários do uso
da força de trabalho familiar, substituída progressivamente pelas inovações tecnológicas, em
que se apóia então a natureza familiar da agricultura familiar? A saída ante este dilema pode
estar no entendimento de que o estudo da dinâmica da agricultura familiar passa
inexoravelmente pelo entendimento de que é a família e não o estabelecimento rural a unidade
pertinente de análise. É nesse sentido que nos parecem bastante acertadas as considerações de
CARNEIRO (2000, p. 155), visto que:
[...] a família agrícola integra uma variedade de relações sociais que, geralmente,
não são levadas em conta nas análises. Nestes termos, cabe chamar a atenção para a
especificidade estruturante da unidade de produção familiar. Trata-se da inter-
relação entre os domínios do parentesco e do trabalho. É dessa inter-relação que
resultam os princípios que orientam as relações sociais e que, ao serem
identificados, permitem apreender a lógica de atuação dos indivíduos seja na
unidade familiar ou na de produção.
O equívoco reside justamente no reducionismo do enfoque convencional que
circunscreve o estudo da agricultura familiar ao universo da produção imediata de bens e de
suas relações com o mercado. De modo recorrente, ditas análises acentuam os termos
desiguais das trocas, as assimetrias de poder, os handcaps estruturais das unidades familiares
de produção que se subordinam a mecanismos implícitos de extração do seu sobretrabalho.
Nessa dimensão estão ainda os que justificam sua existência com base no fato de que esta
forma social de produção é a única capaz de atender funções essencialmente importantes
como a produção de alimentos a um custo extremamente baixo, de modo a permitir com que
os baixos salários dos trabalhadores urbanos sejam orientados à compra de bens duráveis,
configurando o que convencionalmente passou-se a chamar de "cheap food policy". Quando
examinadas as distintas estratégias de reprodução social, incluída aí a prática da
pluriatividade, na multiplicidade de mecanismos hoje identificados pelos recentes estudos de
caso realizados no país, a ênfase sempre recai no resgate de aspectos vinculados à renda ou do
incremento do ingresso econômico familiar que o exercício destas iniciativas é capaz de
propiciar.
Em suma, nos inúmeros estudos consagrados à agricultura familiar é possível
vislumbrar uma perspectiva recorrente, qual seja, a de que outros processos reiteradamente
são negligenciados, a exemplo do que se convencionou chamar de esfera do "autoconsumo
familiar" ou do que alguns chamam de "consumo improdutivo". Uma definição preliminar
seria a de que se tratam de produtos ou processos que atendem fundamentalmente às
necessidades imediatas do grupo doméstico, sendo gerados na própria exploração com base
no uso da força de trabalho familiar.
Mas antes de avançar no exame desta matéria é preciso deixar claro que:

1
Sobre este tema ver especialmente Seyferth (1974; 1992), Sacco dos Anjos (1995); Schneider (1999).
3

[... ] não são as características do produto nem as quantidades produzidas que


definem o produto como comercial ou de autoconsumo. Ele se classifica numa ou
noutra situação a partir da lógica que orientou sua produção. É essa orientação das
unidades em relação a cada produto que define seu sentido. Por isso, o produto
vendido não é nem um resíduo nem um excedente da produção de autoconsumo, da
mesma forma que este último não é uma subtração ao produto comercial
(LOVISOLO, 1989, p.143).
O que se está propondo nestes termos é que se abandone o clássico antagonismo entre
culturas comerciais e culturas de autoconsumo, como se fosse possível no universo da
agricultura familiar a existência de dois departamentos distintos: o setor da autoprovisão e o
setor comercial. A transcendência deste assunto é agora revisitada no compromisso assumido
pelo atual governo em aplacar a insegurança alimentar e nutricional nos quatro cantos do país.
Entrementes, há exatos quarenta anos surgia um dos mais importantes estudos etnográficos
brasileiros (Os parceiros do Rio Bonito), escrito por Antonio Cândido, no qual era inclusive
proposto uma "sociologia dos meios de subsistência" que desse conta da complexidade dos
fenômenos envolvidos. Em resumidas contas é destacado o fato de que as necessidades têm
um duplo caráter: natural e social, mais além de simples impulsos orgânicos (CÂNDIDO,
1987, p.23). Ou seja,
Há com efeito para cada cultura uma técnica de viver de que a alimentação faz parte,
e a que deve submeter-se a fome para ser satisfeita, não obstante o seu caráter
inelutável. Além disso, ela se torna o centro de um dos mais vastos complexos
culturais, abrangendo atos, normas, símbolos, representações. A obtenção da comida
percorre, do esforço físico ao rito, uma gama vastíssima em que alguns têm querido
buscar a gênese de quase todas as instituições sociais. (CÂNDIDO, 1987, p.29)
Uma das mais emblemáticas formas em que se cristalizam estes vínculos com a
natureza cultural do processo de autoprovisão nos é dada à luz da formação social do Brasil
meridional com o assentamento dos imigrantes europeus não-ibéricos e com as
transformações operadas ao longo do tempo no qual consolidaram-se as formas familiares de
produção. A título de referência evocamos estudos como os de Tedesco (1999); Woortmann
(1995), que enaltecem o que poderíamos aludir como sendo o "mito da autonomia" enquanto
manifestação dos traços fundamentais associados à tradição camponesa européia implantada
no Sul do país. A expressão em epígrafe representa o arraigado costume de assegurar uma
dieta familiar não somente rica em termos da diversidade e quantidade de alimentos, mas,
sobretudo, que esteja apoiada num processo de produção desencadeado nos limites do terreno
de que dispõem os grupos domésticos. Não são poucas as alusões ao chamado "ethos de
colono" enquanto quadro de referências específicas, formas de vida, disposições morais,
estéticas e culturais ou condutas, "todas elas em dinamismo/confronto com processos sociais
e visões de mundo" (TEDESCO, 1999, p.20).
Neste contexto, o afã por assegurar uma dieta familiar satisfatória não aparece apenas
como reafirmação da condição camponesa trazida do velho continente, mas como imperativo
diante das condições em que se desenvolveu o surgimento dos núcleos coloniais na Região
Sul do Brasil. É bastante eloqüente o caso descrito por Seyferth ao descrever dito processo no
Vale do Itajaí (SC) com o assentamento de imigrantes germânicos.
"A policultura foi, portanto, adotada desde o início e, por esse motivo, o colono
trabalhava na lavoura durante todo o ano, plantando sucessivamente a mesma roça.
Em virtude do isolamento da colônia e da dificuldade de obter mercadorias de
primeira necessidade, o colono obtinha na sua propriedade o necessário à sua
subsistência, com exceção do sal, roupas e ferramentas. A policultura era a condição
essencial à sobrevivência e nos primeiros anos só um mínimo de excedente da
produção era canalizado para a venda" (SEYFERTH, 1974, p.59).
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Ainda que as análises sobre a dinâmica da agricultura familiar admitam como válida
as alusões ao ethos de colono como traço recorrente em amplas zonas do Brasil meridional,
não há como fechar os olhos ante o leque de transformações impostas no bojo da revolução
verde. Mais além das mudanças estritas nos processos de produção com a introdução
progressiva dos insumos modernos, ergue-se como decisivo o impacto do que a literatura
consagrou como sendo o processo de mercantilização do espaço rural (MARSDEN, 1990).
Em resumidas contas, podemos defini-lo como sendo a frenética busca por converter
mercadorias quaisquer em valores de uso por parte de muitos grupos domésticos enquanto
estratégia de resistência à própria desaparição, incluindo o recurso à pluriatividade2. Mas não
se trata aqui, como assevera Graziano da Silva (1997, p.62),
[...] de um processo de proletarização que resulta da decadência da propriedade
familiar, mas sim como uma etapa da diferenciação social e econômica das famílias
agrícolas, que já não conseguem se reproduzir apenas nos espaços agrícolas do novo
mundo rural que está sendo construído a partir de uma valorização de bens não
tangíveis antes ignorados, como a paisagem, o lazer, os ritos dos cotidianos agrícola
e pecuário.
É exatamente nesta dimensão que se insere o objeto deste trabalho. Diante de um
quadro de mudanças estruturais tão profundas, cabe indagar; qual a real dimensão do
autoconsumo no marco do processo de reprodução social das unidades familiares de
produção? Até onde é possível imaginar que a tradição da autoprovisão, tão cara ao
mencionado ethos de colono é preservada no contexto do processo de mercantilização e do
conjunto de mudanças que incidiram no meio rural do Brasil meridional, com ênfase no peso
da especialização e do produtivismo "a ultranza" ? Ou ainda, que critérios seriam os mais
adequados para aferir o peso correspondente às culturas e criações de subsistência na
formação da renda familiar? São estas, em síntese, as grandes questões que orientaram a
pesquisa que trazemos a público. Se a primeira secção deste artigo explicitou o problema de
pesquisa, a segunda tem por objetivo descrever o marco teórico-metodológico e as definições
utilizadas na análise dos dados. A terceira secção apresenta uma descrição sucinta do universo
empírico da pesquisa, destacando aspectos de interesse para este estudo, ao passo que na
quarta secção dedicamo-nos à apresentação e discussão dos dados. A quinta e última parte
reúne as conclusões do trabalho.

2. A PESQUISA E O MARCO TEÓRICO-METODOLÓGICO

No início de 2001 o CNPq lança a chamada para projetos de ciência e tecnologia para
Agricultura Familiar. Nesta Chamada-edital previa-se a apresentação de projetos para
Pesquisa e Desenvolvimento em cinco áreas temáticas, sendo uma delas denominada
“Atividades Rurais Não-Agrícolas, Multifuncionalidade e Desenvolvimento Local”. É nesse
contexto que se insere o projeto intitulado: "Agricultura Familiar, Desenvolvimento Local e
Pluriatividade: a emergência de uma nova ruralidade no Rio Grande do Sul". Em linhas
gerais, é possível resumir como grande objetivo a realização de um estudo comparativo em
quatro grandes zonas da geografia gaúcha que, ao serem investigadas, fossem reveladoras dos
processos subjacentes à dinâmica da agricultura familiar no Sul do Brasil. Mas a grande
questão a que nos propomos resolver não se restringia a um estudo da unidade familiar de per
si, senão revelar os traços do contexto em que esta se acha inserida com a mirada posta nas
possibilidades que o entorno oferece enquanto espaço de viabilização dos processos de
reprodução social da agricultura familiar gaúcha.

2
Sobre este tema ver a propósito: Campanhola et al (2000); Del Grossi (1999); Schneider e Navarro (2000);
Sacco dos Anjos (2003).
5

Partimos do pressuposto de que as condições agronômicas e as potencialidades do


meio físico são insuficientes enquanto instrumentos de interpretação destes processos face a
diversidade de situações que se ocultam no universo da agricultura familiar. Pareceu-nos
interessante a idéia de trabalhar com a noção de dinâmicas territoriais de desenvolvimento
enquanto ferramenta que permitisse estabelecer um diálogo entre o âmbito da produção
familiar (nossa unidade de análise) e a dimensão mais ampla da sociabilidade local. Além do
recurso às fontes secundárias (dados censitários, confrontação de índices compostos, etc),
valemo-nos da elaboração de um questionário estruturado que resultou num banco de dados
(SPSS - EXCELL) contendo aproximadamente 1300 variáveis (quantitativas e qualitativas).
Ao todo foram entrevistados 238 estabelecimentos que representam um universo de
aproximadamente 2.500 explorações familiares (ver Mapa 1) distribuídos em quatro
microrregiões (IBGE), quais sejam: Pelotas (Sul do Estado); Cerro Largo (noroeste, na
fronteira com a Argentina); Frederico Westphalen (no Alto Uruguai-fronteira com Santa
Catarina) e Caxias do Sul (Serra Gaúcha). A escolha destas microrregiões deu-se não apenas
em função da questão das dinâmicas territoriais de desenvolvimento, mas do esforço de captar
a diversidade social, cultural e geográfica da agricultura familiar gaúcha num mesmo marco
teórico-metodológico que permitisse administrar estes supostos contrastes que esperávamos
encontrar in loco.

Mapa 1 - Localização das microrregiões e municípios estudados, RS.


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Uma vez escolhida a microrregião, o passo seguinte consistiu na escolha de um


município que pudesse representar, em termos medianos, as características sociais,
econômicas e culturais que marcaram a formação e desenvolvimento da agricultura familiar
naquele território. Este processo foi realizado tendo por critério o número de agricultores
familiares ali existentes, utilizando-se a informação do Censo Agropecuário como uma proxy,
pois é sabido que a definição do que seja um agricultor familiar não é uma questão meramente
estatística, mas de natureza sociológica, a qual depende de conceituações e do referencial
teórico que inspira a investigação. Definidos os municípios, optamos por privilegiar um
número de entrevistas que ficasse em torno de 10% a 15% do total dos estabelecimentos
existentes em cada município, o que via de regra significou um número aproximado de 60
entrevistas/município. Este critério, não aleatório, adotou-se em consonância com o esforço
de compatibilização com a estimativa de custos financeiros para a aplicação dos questionários
e a disponibilidade orçamentária.
O método para amostragem utilizado nos estudos de caso do projeto de pesquisa foi a
amostragem sistemática por comunidade/localidade, que é considerada uma pesquisa
amostral probabilística. Neste tipo de pesquisa, o erro amostral pode ser aproximado ao da
amostragem aleatória simples, cuja principal vantagem é de que a aleatoriedade fica mantida e
todas as comunidades entram na amostra, algo que não seria garantido se a amostragem fosse
apenas sistemática para todo o município. O sorteio da família entrevistada ocorre em todas as
comunidades, e não somente no começo da amostra. Estabelecemos sete grandes eixos
norteadores do questionário, tal como consta na Quadro 1. Os dados foram levantados ao
longo do ano 2002, tendo por base o ano agrícola 2001-2002 como data de referência.

Quadro 1 - Os grandes eixos norteadores da pesquisa:

Eixos norteadores da pesquisa Aspectos analíticos mais relevantes


1. A unidade doméstica Idade, sexo, escolaridade, disponibilidade de meios
2. A estrutura fundiária A terra, capital e trabalho disponível
3. A estrutura produtiva O trabalho e os processos produtivos
4. O valor gerado As rendas agrícolas e não-agrícolas e outras rendas
5. O ambiente social e econômico local As características do território, infra-estruturas e
potencialidades
6. o capital social Aspectos sociais e políticos que afetam a agricultura
familiar e o desenvolvimento local

7. As políticas públicas Acesso ao Pronaf, à previdência social, etc.

Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

2.1 O cálculo do Autoconsumo

Segundo o guia metodológico da pesquisa FAO/INCRA (1999), quando um agricultor


de uma unidade de produção produz algum bem, e este é consumido pela própria família
(alimentos, artesanato, lenha, materiais para, a construção, etc), tal produção deve ser
considerada para efeito de cálculo do produto bruto. Em geral, para as famílias rurais o valor
que estes produtos autoconsumidos possuem é igual ao valor que teriam caso tivessem de ser
7

comprados no mercado local. Segundo o manual da pesquisa da FAO/INCRA é pelo preço de


compra desses bens que se deve valorizar o autoconsumo.
Como exemplo, pode-se citar o caso do leite, que em algumas comunidades é trocado
entre os vizinhos, sendo valorado pelo preço pago pelo lacticínio ou indústria que atua nas
proximidades. Nesse caso, verifica-se que o preço do leite para o autoconsumo e para
produção que é vendida é o mesmo. Contudo, é freqüente que hajam situações em que os
agricultores tenham que comprar as mercadorias que irão consumir, o que fazem recorrendo
ao varejo nos pequenos comércios locais. Nesse caso, é pelo preço de compra no mercado que
deve ser computado aquele produto, ou seja, pelo preço ao consumidor (FAO/INCRA, 1999,
p.52).
Este procedimento para o cálculo do valor do autoconsumo possui vantagens e
desvantagens. Ao se utilizar os preços de compra dos produtos praticados no mercado local
onde os agricultores realizam suas transações econômicas, acaba-se atribuindo um preço que
sobrevaloriza mais a produção do agricultor. Muitos analistas, contudo, criticam este
procedimento argumentando que o agricultor jamais obtêm os mesmos preços do varejo como
pagamento aos produtos que possui e não vende, utilizando-se então, para o consumo próprio
ou para alimentar os animais dentro da propriedade. Critica-se este procedimento porque
acarreta uma superestimação do valor do autoconsumo. É bem verdade, contudo, que a
contra-argumentação também é verdadeira, ao afirmar que a utilização dos preços recebidos
como referência para o cálculo do valor do autoconsumo acabaria por subestimar os valores.
Levando-se em consideração esta argumentação, o procedimento adotado nesta
pesquisa foi o de calcular o valor do autoconsumo tomando como referência os preços
recebidos pelo agricultor em cada localidade. Embora sensíveis aos argumentos acima
esboçados, a opção por este método de cálculo do valor do autoconsumo assenta-se na
justificativa de que há uma variação muito grande de preços de mercado para os produtos, os
quais variam enormemente em cada localidade estudada. Deste modo, considerou-se que seria
mais adequado utilizar os preços recebidos pelos agricultores e admitir-se, deliberadamente,
que o método escolhido pode implicar em subestimação do valor gasto no autoconsumo pelos
agricultores familiares pesquisados. Quando a pessoa entrevistada não soubesse informar o
valor correspondente estimar-se-ia o dado com base na média geral informada pelos demais
entrevistados para este mesmo artigo. É oportuno frisar que na dimensão do autoconsumo não
nos ativemos estritamente ao conjunto de produtos imediatamente consumíveis, como são os
vegetais verdes e produtos hortifrutícolas, mas igualmente aos produtos de origem animal,
bem como os artigos resultantes da chamada indústria doméstica rural, como são as geléias,
conservas, queijos e outros produtos lácteos (nata, requeijão, etc.), incluindo também a
produção de embutidos. Ainda assim, não foram poucas as dificuldades para desenvolver o
trabalho, especialmente no tratamento dado à chamada produção insumida, como no caso da
silagem que o produtor gera para alimentar as vacas cujo leite se destina ao autoconsumo.
Nestes casos, optamos por aferir junto ao produtor o custo de produzir este insumo para
chegar ao que denominamos de produção de autoconsumo líquido, ou seja, deduzidos os
dispêndios decorrentes de sua geração. Na secção 4 discutiremos estes dados.

3. O CONTEXTO EMPÍRICO DA INVESTIGAÇÃO:


AS QUATRO ÁREAS DE ESTUDO E AS DINÂMICAS TERRITORIAIS DE
DESENVOLVIMENTO

Antes de entrar na discussão propriamente dita dos dados e confrontar a informação


disponível no âmbito das quatro grandes áreas de estudo é pertinente uma rápida aproximação
à realidade empírica em que se baseou este estudo, identificando os aspectos mais importantes
das respectivas dinâmicas territoriais de desenvolvimento. Estes traços serão fundamentais
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para entender como as transformações mais amplas acabam por interferir nos processos que
ocorrem no seio da unidade familiar, especialmente no que tange ao objeto deste trabalho,
qual seja, a esfera do autoconsumo como dimensão transcendental do processo de reprodução
da agricultura familiar.

3.1 A microrregião de Pelotas: Crise e estagnação:

O município de Morro Redondo foi escolhido como sendo uma localidade


representativa da microrregião de Pelotas em suas características essenciais. Seu surgimento,
enquanto município, deu-se em 1989 ao emancipar-se de Pelotas, do qual, até então, era
apenas um distrito. Trata-se de uma zona fisiográfica (Serra dos Tapes) marcada sobretudo
pelos traços da colonização germânica, italiana, francesa e portuguesa a partir do
assentamento de imigrantes desencadeado na segunda metade do século XIX. A parte plana
da região sul do Rio Grande do Sul, como é sabido, já havia sido ocupada com base nas
grandes estâncias voltadas à pecuária extensiva (regime de sesmarias) desde o começo do
século XIX e que teve seu auge, enquanto modelo econômico, até começos do século XX com
o ciclo do charque. Este produto, gerado a partir da salga da carne de vacum era exportado
para outros países (Cuba, EUA) e regiões do Brasil (São Paulo, Minas Gerais) como produto
presente na dieta alimentar de escravos de grandes explorações. É interessante advertir que a
vinda dos colonos europeus para a região coincidiu justamente com a crise da indústria
saladeril3, em que pese o fato da colonização privada, apoiada financeiramente pelo Governo
Imperial, converter-se em um negócio altamente lucrativo com base no assentamento de
imigrantes nas áreas de mato da região serrana. Superadas as dificuldades iniciais os colonos
desenvolveram um sistema econômico baseado não apenas na produção de alimentos para
serem vendidos no entorno de Pelotas, mas de artigos transformados no interior das
propriedades, como no caso da produção vitivinícola, de doces em pasta e sobretudo da
indústria de conservas de pêssego e aspargo. Os colonos melhor sucedidos acumularam algum
capital e instalaram pequenos moinhos para a produção de farinha de trigo e milho e as
primeiras fábricas de conservas vegetais.
Existe um certo consenso de que o auge deste modelo colonial deu-se entre o final do
século XIX até as quatro primeiras décadas do século XX. A ascensão de Vargas ao poder e o
apoio deliberado aos grandes grupos para o desenvolvimento industrial assumiu, no plano
local, uma conotação absolutamente dramática por força dos entraves que foram sendo
colocados às famílias rurais, que, da noite para o dia, conheceram toda sorte de embaraços
legais (rigorosas normas sanitárias e trabalhistas) ao funcionamento de suas pequenas
indústrias. Simultaneamente distribuem-se incentivos fiscais e creditícios para o grande
capital que determina aos produtores que sejam simples fornecedores de matéria-prima, como
ocorreu especialmente no caso do pêssego, do aspargo e do tomate para as indústrias de
Pelotas e região.
Segundo o último censo demográfico existem em Morro Redondo um total de 745
estabelecimentos rurais, dos quais 667 (89,5 %) têm menos de 50 hectares, sendo que 713 são
considerados como familiares, segundo o INCRA/SADE (2004). Além disso, como informa a
mesma fonte, o valor bruto total da produção é de R$ 5.952.000,00, sendo que 79,2% provém
da produção familiar.
Desse total de estabelecimentos familiares extraiu-se uma amostra representativa de 62
estabelecimentos rurais a serem investigados. O exame da realidade concreta revela um
cenário onde a crise de perspectivas aparece bastante evidenciada no discurso dos

3
Inúmeras são as causas apontadas para tal, como a extinção do regime escravocrata em distintos países, a
desorganização produzida pelos freqüentes conflitos bélicos, a exemplo das grandes revoluções, a concorrência
dos países do Prata, etc.
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entrevistados. A fruticultura de clima temperado, com ênfase no pêssego, atravessa a


alternância cíclica de queda nos preços pagos pelas indústrias, situação esta que se arrasta ao
longo das três últimas décadas, agravada ainda pela elevação nos custos de produção dos
pomares. A cultura do fumo tem ampliado o número de produtores integrados em face da
escassez de alternativas econômicas para as famílias rurais. O quadro geral é bastante
preocupante na medida em que não são poucas as comunidades de Morro Redondo que, dia
após dia, transformam-se em bairros rurais de uma população empobrecida e que depende
essencialmente dos recursos previdenciários e de ajudas governamentais. Trata-se, portanto,
de uma agricultura familiar que, no contexto mais amplo, enfrenta-se a um cenário de crise de
expectativas e estagnação.
3.2 A microrregião de Cerro Largo: Sob o império das commodities

O processo de ocupação e colonização da Microrregião de Cerro Largo (zona das


Missões, noroeste Riograndense) ocorreu no início do século XX, como resultado da política
migratória do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Através de um contrato firmado
entre o Northwestbahn4, o Governo Estadual e o Bauernverein5 estabeleceram-se as condições
para a colonização da gleba Serro Azul – Boa Vista, no prazo de 10 anos, através do
assentamento de famílias de origem alemã. Coube ao Volksverein6 a organização e
assentamento das famílias pioneiras, oriundas das “Colônias Velhas”, assim denominadas as
regiões circunvizinhas à capital (Porto Alegre), como São Leopoldo e arredores, bem como os
municípios pioneiros onde surgiram os primeiros assentamentos de imigrantes alemães em
julho de 1824 (WENZEL, 1997).
Desde 1902, data de chegada dos primeiros moradores ao noroeste gaúcho, até a
completa implantação das comunidades, foi sendo forjado um estilo de vida identificado com
os mesmos traços da colonização germânica operada em outros rincões da geografia do Brasil
meridional. A colônia, enquanto espaço de produção e reprodução social, e a "stadtplatz"
(vila) como locus das atividades econômicas, sociais e sede administrativa (SEYFERTH,
1974).
A Microrregião de Cerro Largo, como de resto o noroeste riograndense, passou por
diversas fases, sendo a primeira correspondente à instalação, compreendendo a derrubada de
florestas nativas e abertura de áreas para cultivo. A suinocultura foi a base econômica no
espaço de tempo compreendido entre as décadas de 1950 a 1980, mantendo-se como
alternativa de renda para um reduzido número de propriedades na atual conjuntura. O período
compreendido entre 1970 e 1985 evidencia uma etapa caracterizada pela “revolução verde”,
no qual dá-se a ênfase na mecanização agrícola e quimificação dos processos produtivos via
expansão da exploração comercial de cereais. Este momento é marcado, entre outros aspectos,
pela consolidação do "binômio trigo-soja", haja vista a vocação natural de solos pela ampla
possibilidade de mecanização das áreas de cultivo. Nas atuais circunstâncias as atividades
agropecuárias representam, indiscutivelmente, o fulcro da matriz econômica e produtiva desta
localidade, com ênfase nas culturas de soja, trigo, milho e sorgo, ao lado da produção leiteira
que vem recebendo incentivos e fomento por parte do poder público municipal.
O fato a ser destacado é que desde o chamado "boom da soja" houve transformações
profundas na fisionomia da região, sendo Salvador das Missões mais um exemplo
emblemático dos efeitos da especialização produtiva no que afeta à expulsão reiterada da
força de trabalho das explorações familiares. Na atual conjuntura os fluxos migratórios para
outras regiões do Estado e do país arrefeceram em decorrência do reconhecimento, por parte
dos agricultores, de que os destinos tradicionais para os expulsos do campo, mormente

4
Companhia de Estrada de Ferro Alemã (WENZEL, 1997, p. 67).
5
Sociedade de Agricultores Riograndenses (WENZEL, 1997, p.68).
6
Ramo católico da Companhia de Estrada de Ferro Alemã (WENZEL, 1997, p.68).
10

grandes cidades e capitais, reduziram enormemente sua capacidade de absorvê-los enquanto


força de trabalho industrial.
Segundo o IBGE (1995/1996) existe em Salvador das Missões um total de 608
estabelecimentos rurais, dos quais, 597 (98,2%) são classificados como unidades familiares de
produção, segundo os critérios adotados pelo INCRA/SADE (2004) e 98,7% tem menos de 50
hectares. Do universo de estabelecimentos familiares (597) extraiu-se uma amostra de 58
estabelecimentos rurais de agricultores familiares que foram submetidos à aplicação de
questionário estruturado. O valor bruto da produção agropecuária ascende a R$ 5.690.000,00,
sendo 95% proveniente da agricultura familiar.

3.3 A microrregião de Frederico Westphalen: Entre a acumulação e a exclusão

A terceira microrregião tem Três Palmeiras por município referencial da região


conhecida como Alto Uruguai, na fronteira com Santa Catarina. Trata-se de uma das mais
deprimidas zonas da geografia gaúcha, marcada pela forte presença da colonização italiana,
do elemento indígena e do caboclo sulriograndense. Tal como assevera Kliemann (1986,
p.122), consiste numa região marcada, desde os albores do século XX, pelo fenômeno da
"intrusão", no qual dá-se a invasão de terras indígenas por parte dos nacionais e estrangeiros
que abandonavam as colônias velhas, à época já superpovoadas, para apossarem-se de áreas
de aldeamentos, também chamadas de "toldos". A bem da verdade, passados cem anos os
conflitos são ainda presentes, sendo parcialmente solucionados com o surgimento da Reserva
da Serrinha. A demarcação desta área envolveu o desalojamento de aproximadamente mil
famílias de três municípios do Alto Uruguai, incluindo Três Palmeiras, os quais, em sua
grande maioria, foram reassentados e indenizados pelas benfeitorias realizadas nas áreas que
ocupavam.
Do mesmo modo que em Salvador das Missões, houve em Três Palmeiras
transformações profundas a partir da revolução verde e consolidação do binômio trigo-soja. A
diferença é que os solos de Três Palmeiras não possuem o mesmo nível de excelência em
razão de um menor potencial agronômico. Na atual conjuntura surgem alguns projetos
inovadores que buscam diversificar a matriz econômica e reduzir a dependência em relação
aos mercados internacionais, sobretudo o que define o preço da soja. Entrementes, a falta de
densidade do tecido econômico, a escassez de indústrias e as históricas dificuldades
estruturais (ligação com grandes centros, escassez de investimentos públicos, etc) fazem do
Alto Uruguai uma região totalmente tributária do desempenho das grandes culturas.
Ainda que a agricultura familiar seja indiscutivelmente a forma social dominante,
nosso estudo comprovou a existência de traços claros de diferenciação social. Num mesmo
contexto convivem, lado a lado, unidades com fortes indícios de acumulação (máquinas e
equipamentos) e propriedades cujas famílias são extremamente empobrecidas, sobrevivendo
de como diaristas que trabalham para outras propriedades, bem como de transferências sociais
(aposentadorias, bolsa-escola, bolsa-família, etc).
Segundo o censo agropecuário (IBGE, 1995/1996) existe em Três Palmeiras um total
de 740 estabelecimentos rurais, dos quais 93,6 % tem menos de 50 hectares. Deste total, 724
(97,8 %) são classificados como unidades familiares de produção, segundo os critérios
adotados pelo INCRA/SADE (2004). O valor bruto da produção agropecuária ascende a R$
6.575.000,00 sendo que 72,4 % procede da agricultura familiar.
Do aludido universo de estabelecimentos familiares (724) extraiu-se uma amostra de
58 estabelecimentos rurais de agricultores familiares que foram submetidos à aplicação de
questionário estruturado.

3.4 A microrregião de Caxias do Sul: A terceira Itália brasileira


11

A quarta área de estudo que a pesquisa envolveu se insere na Serra Gaúcha,


representada pela microrregião de Caxias do Sul, tendo Veranópolis como município de
referência. De longe chama a atenção por ser a "capital brasileira da longevidade", marcada
sobretudo pelos traços da imigração italiana, iniciada precisamente no ano 1875. Sem sombra
de dúvida trata-se de uma das regiões mais desenvolvidas do país, não somente pelo alto nível
de desenvolvimento humano, mas sobretudo pela densidade das atividades econômicas. O
parque industrial é extremamente diversificado, formado de pequenas e médias empresas,
apoiadas sobretudo no uso da força de trabalho residente nas áreas rurais. Não são infundadas
as ilações que identificam a pujança da Serra Gaúcha com o padrão Terceira Itália, o qual,
aliado ao dinamismo empreendido pelas atividades turísticas, torna os pequenos municípios
um terreno propício para o pioneirismo e a inovação.
Paradoxalmente defrontamo-nos com as piores condições agronômicas dos solos, se
comparados com as demais regiões estudadas (declividade, pedregosidade, etc). Ainda assim,
trata-se da localidade com o maior valor bruto agropecuário entre as quatro investigadas e que
vivia, à época do trabalho de campo, um grande entusiasmo com a vitivinicultura. O
incremento no consumo brasileiro de vinhos tem empurrado os produtores a substituírem
antigas vinhas por novas variedades de alta qualidade enológica. O dinamismo econômico não
tem repercutido no sentido de induzir à concentração dos meios de produção nas áreas rurais.
Muito antes pelo contrário. A forma familiar de produção é dominante, assim como o nível de
capitalização dos grupos domésticos em termos das condições de vida, do acesso aos bens
públicos, das condições estruturais, etc.
De acordo com o IBGE (1995/1996) há em Veranópolis 683 estabelecimentos rurais,
dos quais, 93,1 % tem menos de 50 hectares. Segundo o INCRA/SADE (2004), 659 (96,5 %)
são classificados como unidades familiares de produção. Do universo de estabelecimentos
familiares (659) extraiu-se uma amostra de 59 estabelecimentos rurais de agricultores
familiares que foram submetidos à aplicação de questionário estruturado. O valor bruto da
produção agropecuária ascende a R$ 13.761.000,00 sendo que 90,4 % gerado no âmbito da
agricultura da agricultura familiar.

4.1 O AUTOCONSUMO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A AGRICULTURA


FAMILIAR

Os dados da Tabela 1 mostram que a esmagadora maioria dos 238 estabelecimentos


investigados possui horta (92%) e pomar (89,5%). Entre os municípios destaca-se
Veranópolis onde 98,3% das propriedades possui horta e Morro Redondo com a mais alta
proporção de estabelecimentos que dela não dispõem. No primeiro dos casos, fica evidenciada
a importância dos traços culturais da colonização italiana onde é abundante a produção de
vegetais verdes, assim como a maior diversidade encontrada entre todas as regiões estudadas.

Tabela 1 - Distribuição porcentual dos estabelecimentos que possuem horta e pomar nos
quatro estudos de caso.

Possui Horta (%) Possui Pomar (%)


Município
Sim Não Sim Não
Morro Redondo 87,1 12,9 87,1 12,9
Salvador das Missões 93,1 6,9 91,4 8,6
Três Palmeiras 89,8 10,2 94,9 5,1
Veranópolis 98,3 1,7 84,7 15,3
Total 92,0 8,0 89,5 10,5
12

Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Indagados se consideravam que a horta e o pomar existentes na propriedade eram


suficientes para atender as necessidades de consumo da família (Tabela 2), nossos
entrevistados revelaram diferenças quanto a essa questão. Para o conjunto de
estabelecimentos investigados constatou-se uma alta proporção (83,1%) que informou ser a
horta suficiente, dado este bastante inferior no caso das frutas onde o pomar cobre 73,9% das
necessidades de frutas. A diferença decorre da dificuldade natural de produzir frutas em
condições climáticas bastante variáveis, incluindo o rigor do inverno na serra gaúcha que
impede o cultivo de plantas tropicais, bem como as preferências das pessoas por consumirem
produtos forâneos em detrimento das frutas de época ou de estação e da própria região. É
bastante comum encontrarmos camionetes de comerciantes que percorrem as comunidades
rurais distribuindo produtos adquiridos em outras regiões do Estado e inclusive do país.

Tabela 2 - Distribuição dos entrevistados sobre a suficiência de hortas e pomares para


atender as necessidades de consumo da família.

A horta é suficiente? (%) O Pomar é suficiente? (%)


Município
Sim Não Sim Não
Morro Redondo 68,5 31,5 52,5 47,5
Salvador das Missões 75,9 24,1 69,8 30,2
Três Palmeiras 94,3 5,7 87,5 12,5
Veranópolis 93,1 6,9 88,0 12,0
Total 83,1 16,9 73,9 26,1
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Paradoxalmente, num dos municípios mais tradicionais na produção de frutas de clima


temperado e hortifrutigranjeiros, como é precisamente o caso de Morro Redondo,
encontramos os mais baixos indicadores em ambos quesitos. A explicação para este fato
parece apontar no sentido da perda de raízes culturais, muito antes que por outros fatores de
ordem técnica. O mesmo traço do imigrante europeu de outras zonas da geografia gaúcha não
é suficiente para fortalecer o desejo de resgatar uma vocação tão cara à agricultura familiar,
como é precisamente o caso da ênfase no autoconsumo. As entrevistas revelaram que é
exatamente em Morro Redondo onde encontramos a mais alta taxa de insatisfação das pessoas
em relação à atividade agrícola (37,1% assim se expressaram) entre todas as regiões
investigadas.
Este quadro de perda de raízes culturais em Morro Redondo aparece também
identificado no fato de que 54,8% dos nossos entrevistados informam que não vêem
perspectivas na agricultura, ao passo que para Salvador das Missões, Três Palmeiras e
Veranópolis o mesmo dado chega a respectivamente a 41,4%; 27,1% e 35,6%. Parece claro
que este dado não justifica tal discrepância mas pode lançar luzes sobre a questão da
vulnerabilidade com que a condição camponesa acha-se submetida nesta localidade. O ideal
da autonomia na produção de seus próprios alimentos compõe parte deste cenário.
As famílias entrevistadas foram consultadas sobre o valor que atribuíam aos produtos
do autoconsumo (Tabela 3) gerados na propriedade, tanto os oriundos da horta quanto do
pomar. Houve grande dificuldade em obter tal informação da parte das pessoas na medida em
que raros são os casos em que as pessoas sabem o quanto produziram das chamadas "culturas
do gasto da casa". Mais difícil ainda torna-se atribuir um valor a elas. Outrossim, fica
evidenciado que o município onde transparece a preservação do alto grau de importância do
autoconsumo (Veranópolis) é justamente a localidade em que temos um valor médio mais alto
13

da produção familiar. O oposto ocorre justamente no caso de Morro Redondo. A produção é


em menor quantidade, assim como o valor correspondente atribuído pelos nossos
entrevistados. Ou seja, existe uma certa coerência entre o valor que atribuem e os cálculos
indiretos que formam parte da pesquisa.
O valor do autoconsumo total exprime o somatório do autoconsumo vegetal, animal e
da indústria doméstica rural em termos médios para cada estabelecimento das localidades
estudadas. Lembramos que se trata do valor bruto, ou seja, desconsiderando o custo
correspondente à produção destes gêneros. Como podemos ver na Tabela 4, a média
observada em Veranópolis pode ser considerada bastante alta em relação aos demais
municípios investigados, haja vista ser 43,5% superior à média observada em Morro
Redondo. Chamamos igualmente a atenção para o fato de que em Três Palmeiras não haver
sido informada a geração de produtos da indústria doméstica rural. Ou seja, numa região
marcada pela importância da colonização italiana, não aparece um peso correspondente na
produção de embutidos, derivados lácteos e outros produtos. Possivelmente estejamos diante
de um quadro onde a expansão da soja e o processo de mercantilização que lhe seguiu sejam
alguns dos fatores que permitam entender este aspecto.
Entretanto, fica a questão: por que em Salvador das Missões, marcado fortemente
pelos efeitos deste mesmo processo, tal situação é exatamente oposta, tendo em vista que
temos o maior valor da transformação caseira? Nesta localidade, marcada pela colonização
alemã, preservam-se sobretudo a produção de derivados da cana-de-açúcar (melado, açúcar
mascavo, rapadura), bem como a produção de biscoitos, embutidos e conservas vegetais. Ou
seja, diferentemente de Três Palmeiras, a consolidação do binômio trigo-soja não acarretou o
abandono total destas práticas desenvolvidas sobretudo pelas mulheres rurais cujo papel na
produção das commodities vem sendo bastante reduzido com a entrada da mecanização e
quimificação do processo de produção. O tema é controverso e merece ser aprofundado.

Tabela 3 - Distribuição dos entrevistados segundo o valor anual médio atribuído aos
produtos do autoconsumo.

Município Valor (R$) dos produtos


Horta Pomar
Morro Redondo 453,1 299,3
Salvador das Missões 668,5 674,9
Três Palmeiras 390,6 416,4
Veranópolis 715,1 656,5
Total 555,1 508,4
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Tabela 4 - Produto Bruto do autoconsumo em Reais (R$) nos municípios investigados


segundo a natureza (vegetal, animal e transformação caseira).

Produto Bruto Autoconsumo em Reais (R$)


Vegetal Animal Tranf. Caseira Total
Morro Redondo 1.053,46 565,34 158,83 1.727,14
Salvador das Missões 1.584,18 1.922,23 336,68 3.593,13
Três Palmeiras 1.337,84 1.566,57 0 2.904,41
14

Veranópolis 2.153,26 1.820,17 79,34 3.973,44


Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

A importância do autoconsumo acaba por se refletir no comportamento da renda


agrícola e, conseqüentemente, na renda total das explorações. Este fato demonstra de modo
inequívoco a importância que pode assumir esta dimensão do processo de reprodução
familiar. Chama a atenção o fato de que é justamente em Veranópolis onde encontramos
enormes restrições agronômicas para o desenvolvimento de cultivos de ciclo anual diante das
condições topográficas extremamente desfavoráveis para grandes lavouras comerciais.
O esforço por seguir avançando no objetivo de desvendar o “caixa verde” das famílias
rurais fez com que buscássemos outras informações adicionais que permitissem avaliar a real
dimensão do autoconsumo na composição do ingresso econômico das famílias rurais. É esta a
informação reunida nas Tabelas 5, 6, 7 e 8. Em linhas gerais, o que os dados mostram é que
especialmente no estrato de menor renda anual total média a participação do autoconsumo
líquido7 é absolutamente máxima, chegando a situações, como em Três Palmeiras,
caracterizado, como dissemos, por um alto nível de concentração8 de rendas, em que o
respectivo porcentual do autoconsumo chega a 73,80% nas explorações cuja renda total anual
média é inferior a R$ 6.000.

Tabela 5 - Autoconsumo médio líquido anual, Renda total média anual e participação
porcentual respectiva na Renda Total segundo estratos de renda no município de
Morro Redondo, RS.

Estrato de Autoconsumo médio líquido (R$) Renda Total média (R$) % AM/RT
renda * AM RT

A 1.292,67 2.908,95 44,44


B 1.561,17 7.419,38 21,04
C 2.012,81 13.815,90 14,57
D 1.823,07 30.403,53 6,00
(*) A: até R$ 6mil; B: R$ 6 a 10 mil; C: R$ 10 a 20 mil; D: mais de R$ 20 mil.
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Tabela 6 - Autoconsumo médio líquido anual, Renda total média anual e participação
porcentual respectiva na Renda Total segundo estratos de renda no município de
Salvador das Missões.

Estrato de Autoconsumo médio líquido (R$) Renda Total média (R$) % AM/RT
renda* AM RT

A 2.131,79 3.885,39 54,87


B 2.231,05 8.248,55 26,47

7
Tal como esclarecemos na secção 2.1, autoconsumo líquido representa o autoconsumo deduzido das despesas
ou gastos para produzir estes mesmos bens.
8
Segundo dados do O índice de Gini de Três Palmeiras é o mais elevado entre os quatro municípios estudados,
ainda que se houvesse reduzido entre 1991 e 2000, passando de 0,67 para 0,59 respectivamente.
15

C 3.285,39 14.105,83 23,29


D 5.339,46 35.849,50 14,89
(*) A: até R$ 6mil; B: R$ 6 a 10 mil; C: R$ 10 a 20 mil; D: mais de R$ 20 mil.
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Em linhas gerais, o que podemos constatar é que conforme passamos para estratos de
renda mais elevados declina naturalmente o peso do autoconsumo em relação à renda total
média anual dos estabelecimentos. Este quadro decorre do fato de que vai sendo diluída sua
respectiva importância, mesmo que em termos absolutos o valor do autoconsumo tenha se
elevado consideravelmente. Esta situação é muito clara no caso de Veranópolis, em que o
autoconsumo anual médio do estrato de renda mais elevado (D) é mais do que três vezes
superior ao do subgrupo de menor renda total (A). Entretanto, se para o primeiro a
participação do autoconsumo é de 66,51%, para o segundo ela chega a 12,11%, ou seja,
bastante alta mesmo no caso de explorações que possuem uma renda total anual que supera os
vinte mil reais.

Tabela 7 - Autoconsumo médio líquido anual, Renda total média anual e participação
porcentual respectiva na Renda Total segundo estratos de renda no município de
Três Palmeiras.

Estrato de Autoconsumo médio líquido (R$) Renda Total média (R$)


% AM/RT
renda AM RT

A 2.601,37 3.524,75 73,80


B 2.515,02 7.589,88 33,14
C 3.481,33 13.991,76 24,88
D 4.161,90 45.242,08 9,20
(*) A: até R$ 6mil; B: R$ 6 a 10 mil; C: R$ 10 a 20 mil; D: mais de R$ 20 mil.
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Tabela 8 - Autoconsumo médio líquido anual, Renda total média anual e participação
porcentual respectiva na Renda Total segundo estratos de renda no município de
Veranópolis.

Estrato de Autoconsumo médio líquido (R$) Renda Total média (R$)


% AM/RT
renda AM RT
A 1.517,28 2.281,17 66,51
B 3.307,92 7.900,89 41,87
C 3.482,42 15.774,43 22,08
D 4.614,74 38.117,21 12,11
(*) A: até R$ 6mil; B: R$ 6 a 10 mil; C: R$ 10 a 20 mil; D: mais de R$ 20 mil.
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

Estes dados confirmam o que vimos in situ ao visitar tais propriedades, saltando aos
olhos a importância que a colonização italiana da Serra Gaúcha atribui à geração dos
alimentos no próprio estabelecimento, posição esta alicerçada não somente do ponto de vista
16

da preservação dos costumes, mas também por considerarem que são muito mais saudáveis os
produtos por eles gerados que os adquiridos nos mercados locais. Em Morro Redondo, a
situação é exatamente oposta na medida em que são muito próximos os valores do
autoconsumo nas propriedades de menores e com maiores rendas totais anuais. Não somente
as hortas são mais escassas, mas sobretudo a criação de pequenos animais para o consumo
familiar.
Outra questão que nos pareceu interessante explorar sob a ótica do autoconsumo reside
na questão da disponibilidade de terra para os cultivos e criações. Ainda que estejamos diante
de explorações familiares, cuja lógica de funcionamento é a reprodução social de seus
membros, mais do que quaisquer outros objetivos, a realidade revelou novamente algumas
discrepâncias entre as áreas estudadas. No caso de Morro Redondo inexiste a influência da
maior ou menor disponibilidade de terra na dimensão do autoconsumo líquido, ao passo que
em Salvador das Missões os valores do autoconsumo crescem até o estrato C (entre 20 e 30
hectares). A partir daí declina sua dimensão provavelmente por tratarem-se de explorações de
maior densidade econômica onde a intensidade das relações econômicas pode estar
acompanhada de uma tendência à compra de produtos industrializados ou artigos adquiridos
em outras propriedades. Novamente destaca-se a situação de Veranópolis onde há uma maior
aproximação entre os valores do autoconsumo nos diferentes tipos de propriedades rurais. Nos
estabelecimentos mais de 40 hectares o valor do autoconsumo líquido é aproximadamente
76% superior aos que apenas possuem até 10 hectares.

Tabela 9 - Produto autoconsumo médio anual líquido (R$) segundo estratos de área total*
(ha).

Município Produto autoconsumo médio


A B C D
Morro Redondo 1.321,89 1.704,28 1.684,40 1.978,66
Salvador das Missões 2.105,78 2.815,57 5.324,05 4.483,20
Três Palmeiras 1.900,15 2.870,70 3.234,26 4.092,05
Veranópolis 2.546,04 3.598,55 4.594,51 4.479,25
(*) A: área até 10 hectares; B: entre 10 e 20 hectares; C: entre 20 e 30 hectares; D: Mais de 40 hectares
Fonte: Pesquisa AFDLP- CNPq/UFPel/UFRGS, 2003.

5. CONCLUSÕES

Ainda que não exatamente por razões acadêmicas, o tema do autoconsumo vem sendo
revisitado na perspectiva do aperfeiçoamento do processo de intervenção estatal em termos do
combate à insegurança alimentar e nutricional no país e simultaneamente aplacar as mazelas
de um modelo de desenvolvimento apoiado na exclusão social. Do ponto de vista da
agricultura e do mundo rural esta questão aparece claramente evidenciada no rápido resgate
que fizemos na primeira secção deste artigo. Na retórica do Estado desenvolvimentista da era
Vargas e das transformações subseqüentes os agricultores foram duramente penalizados por
produzirem a farinha e relegados a serem meros produtores de cereais. Em nome da falácia de
defesa do consumidor foram fechadas agroindústrias que geravam empregos e oportunidades,
como pequenas cantinas, fábricas de conservas vegetais, embutidos e produtos defumados,
assim com atafonas de farinha, etc., os quais hoje alguns governos estaduais tentam resgatar a
custa de programas específicos, como no caso do conhecido "Sabor Gaúcho".
Simultaneamente foi sendo paulatinamente esvaziado um dos esteios da tradição
camponesa do Brasil meridional, qual seja o que chamamos de mito da "autonomia
17

camponesa", com o abandono de muitas práticas vinculadas ao autoconsumo (hortas,


pomares, criação de pequenos animais e transformação caseira). Entrementes, com a crise na
agricultura, entendida aqui como a elevação dos custos de produção simultaneamente com a
queda do preço pagos aos produtores, há certos indícios de que estaria em marcha uma
revitalização do tema do autoconsumo. Alguns programas desencadeados pelas agências de
extensão rural têm sido implementados com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das
famílias rurais, com iniciativas específicas inclusive no âmbito dos assentamentos rurais.
Como alude Graziano da Silva (2004 citado em PROJETO RURBANO), a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) registrou quase 2 milhões de famílias (3,2
milhões de pessoas) que produzem exclusivamente para o autoconsumo, representando 4,5%
da população ativa e 18,5% da população agrícola ocupada semanalmente (uma hora ou mais)
na terra. A mesma fonte informa ainda que outras 547 mil famílias obtêm mais da metade de
sua alimentação dessa forma. Segundo estes dados, de cada quatro famílias brasileiras ligadas
à terra, três produzem para o autoconsumo. Não se trata apenas de agricultores familiares no
sentido estrito do termo, mas trabalhadores rurais e famílias que vivem nos espaços ainda não
urbanizados.
O estudo que aqui desenvolvemos visa insistir na importância deste assunto diante da
necessidade de, ao conhecer os mecanismos subjacentes ao autoconsumo familiar , possam
ser implementados programas que permitam reduzir os problemas associados ao projeto de
modernização apoiado no apoio deliberado às grandes culturas que acarretam,
indiscutivelmente, entre outros aspectos, um desprestígio da produção própria, o
enfraquecimento dos mercados locais, a insegurança alimentar e nutricional das famílias e a
perda de raízes culturais.
Os dados que aqui apresentamos revelaram que as razões estritamente técnicas não são
suficientes para entender as diferenças entre as regiões gaúchas investigadas. A
mercantilização do campo trazida no bojo da modernização agropecuária tem afetado a
produção familiar no sentido de reduzir a importância do autoconsumo. Os aspectos culturais
mostraram-se como decisivos para interpretar os contrastes entre as localidades que serviram
de base para esta pesquisa. A dimensão do autoconsumo na renda total é bastante variável
entre os estratos de renda total, chegando a quase 74% no caso de Três Palmeiras e 66,5% em
Veranópolis, para as famílias com um ingresso anual total de até R$ 6 mil.
Diante deste cenário surgem inúmeras questões que merecem ser oportunamente
aprofundadas. Todas as indicações apontam no sentido da complexidade de levantar
informações num contexto em que a maior parte dos estudos centram sua atenção na esfera
comercial dos estabelecimentos, desconhecendo ou negligenciando o papel transcendental da
autoprovisão, ou o que sugestivamente denominamos de "caixa-verde" das famílias rurais.

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