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HELENA KOLODY: UMA PERSONAGEM POÉTICA, LITERARIA OU HISTÓRICA?

Juliane Kasiuk Scibor


História FAFIUV

RESUMO: Helena Kolody é escritora e poetiza de importância local, regional, nacional e até
internacional que possui em sua poesia a densidade e a amplitude de diferentes linguagens. Sendo
relevante a importância de identificar e analisar esses diferentes tipos de linguagens, uma vez que,
esses estão presentes de forma cultural em nossa sociedade, percebendo que a memória está
sempre ligada à história,assim como está ligada a literatura e a poesia, o que de fato é percebido na
poesia de Helena Kolody, uma personagem que nasce no município de Cruz Machado e tem sua
história profissional e pessoal em destaque nacional, porém, sempre se voltando a sua terra natal.
Tendo na biografia da autora as possibilidades de relação com a memória transformada em história
através de seus escritos poéticos que relatam toda uma história de vida e sucesso, assim como as
frustrações encontradas através das lembranças de um passado de dificuldades em torno da
imigração de sua família vinda da Ucrânia e estabilizando em Cruz Machado.

Palavras chave: história; poesia; e literatura.

Cronologia de sua vida

Helena Kolody nasceu no dia doze de outubro de mil novecentos e doze às


oito horas da manhã em um dia de sol e geada, no núcleo colonial de Cruz
Machado, que mais tarde viria a se tornar um município. Seus pais eram
ucranianos, que se conheceram e se casaram no Paraná, Helena era a primogênita e
primeira brasileira da família. Miguel Kolody seu pai nasceu na parte da Ucrânia

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chamada Galícia Oriental, no ano de mil oitocentos e oitenta e um, como seu pai
havia falecido vitima de uma epidemia de cólera que assolou a região, Miguel
imigrou para o Brasil com a mãe e os irmãos, onde anos mais tarde, conheceu a
jovem Victória Szandrowska que também havia nascido na Galícia Oriental e veio
para o Brasil no ano de mil novecentos e onze, os dois se casaram em Cruz
Machado em janeiro de mil novecentos e doze. (CHAIN, 1991, p. 645)
Segundo CHIN (1991, p. 654) em mil novecentos e quatorze sua família
muda-se para a vila catarinense de Três Barras, mas Helena decide ir mais à frente
onde ingressa no grupo escolar “Barrão de Antonina”, na cidade de Rio Negro,
concluindo assim, o curso primário em mil novecentos e vinte e dois. Estuda em
Curitiba, no colégio Divina Providência e na Escola Intermediária (atual instituto
de Educação do Paraná). No ano de mil novecentos e vinte e quatro passa a residir
em Mafra SC, na cidade vizinha a Rio Negro P.R. É ai que estuda piano, pintura, e
escreve os primeiros versos, três anos mais tarde sua família se transfere para
Curitiba, onde Miguel Kolody se estabelece com uma casa de secos e molhados na
Rua Itupava, esquina com a Sete de Abril. Um ano depois Helena teve sua primeira
publicação na revista “O Garoto”, editada por um grupo de estudantes, o poema
era: “A Lágrima”. Apaixonada pelos estudos Helena cursa a Escola Normal
Secundária, diplomando-se em mil novecentos e trinta e um.
Helena Kolody começou a escrever muito jovem, por volta dos treze anos,
más só a partir de mil novecentos e trinta seus poemas passaram a ser publicados
em jornais e revistas, especialmente na revista “Marinha”, editada em Paranaguá,
que foi a maior divulgadora de seu trabalho nesta época. (CHIN, 1991, p. 654)

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É importante ressaltar que Helena Kolody, foi uma importante poetiza, que
nasceu em Cruz Machado e desabrochou em sua capacidade artística, escrevendo
renomados poemas onde em alguns de seus versos conta um pouco da sua
infância, e do tempo em que permaneceu no município, onde iniciou sua história
de vida. Infelizmente no ano de dois mil e quatro, nos deixa, Por morte natural e
nos deixando como lembrança a beleza de seus versos, possuindo uma coletânea
de mais de vinte livros publicados, em toda a escritora faz questão de colocar
algumas linhas que falam sobre sua origem e infância:

Embora de sangue Eslavo, nasci como uma índia e me orgulho disso.


Antes do alvorecer, milhares de pássaros se punham a gorjear: Eu me
acordava e ficava ouvindo aquele canto. Impregnei-me da natureza
desde os primeiros dias de minha vida. Talvez isso explique o aspecto
telúrico de muitos de meus poemas. Sai de Cruz Machado com menos de
dois anos de idade. (KOLODY, Helena. 1997 p.21-27)

Em 1987, Helena Kolody recebeu o título de cidadã honorária da cidade de


Curitiba, e em 02 de junho de 1997, pela lei nº 616/97, foi homenageada com o
título de cidadã benemérita do município de Cruz Machado. (CHIN, 1991, p. 654).

Diferentes linguagens em uma única identidade.

Todos nós, enquanto seres humanos estamos condicionados a um conjunto


de valores sócio-culturais, pois, possuímos em nosso interior lembranças que
constroem nossa vida, o que torna relevante a proposta de analisar a biografia da
poetisa Helena Kolody valorizando a história de uma localidade, de seu povo e suas

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tradições, como de fato é possível com relação ao município de Cruz Machado, sua
cidade natal, sendo o mesmo, possuidor de um contexto, que pode ser difundido,
entre a visão histórica, literária e poética, com fontes de presença e autoria, tanto
local quanto regional.
Segundo POLLAK, (1992, p. 200), a questão torna-se mais instigante ainda
quando procuramos voltar nossos estudos a um rico contexto de linguagens, sendo
que envolvem a dedicação de quem escreve e o interesse de quem lê. Sabemos que
não há nada melhor do que despertar o nosso próprio interesse e de outras
pessoas por um assunto próprio e interessante, através do aprofundamento de
estudo dessas linguagens e da capacidade de visualização e integração entre
sociedade e cultura, bem como, a característica notável de poder difundir a
capacidade de perceber a memória proposta na narrativa escrita, a qual pode
relatar um momento, uma passagem ou uma lembrança, que avalia um fato
acontecido, uma recordação, a qual possibilita a construção e a valorização da
história.

A utilização de uma linguagem falada, depois escrita, é de fato


armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair dos
limites físicos do nosso corpo para estar entreposta, querem-nos, outros
quer nas bibliotecas. Isto significa que, antes de ser falada ou escrita,
existe certa linguagem sob a forma de armazenamento de informações
na nossa memória. (LEGOFF, 1996, p.161)

Assim quando nos permitimos adentrar ao estudo do tema proposto é


necessário consolidar o fascínio pela literatura e pela poesia juntamente com a

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diversidade de temas e obras que as mesmas abrangem sabendo que quando o
autor escreve, o mesmo tende a colocar um pouco de sua alma na obra, permitindo
que o leitor possa sentir-se presente, o que de fato, acarreta a necessidade de saber
entender e interpretar sem que haja o risco de confundir a literatura e a poesia do
que realmente é história. Pois sabemos que a literatura e a poética são temas que
estão ligados a imaginação e à memória fazendo parte do ser humano e que ao
serem passadas para o papel recebem um caráter social sendo possível perceber
que a utilização da memória por vezes permite que o indivíduo torne-se parte
integrante da sociedade. Pois segundo ECO, (2002, p. 175) seria o “dever do
homem de cultura [...] o manter-se alerta para escrever a cada dia a enciclopédia”.
O que nos leva a perceber que de tempo em tempo a cultura e o povo mudam não
sendo uma falha da história e sim do ser humano adiantar-se por vezes no seu
próprio conceito de história. Como relata ECO (2002, p. 275) visivelmente é
possível perceber a densidade que a literatura e a poesia possuem em seu
conteúdo, pois tanto, uma obra literária quanto um poema podem conter em seu
interior passagens da memória de quem os escreve e estas serem fatos ou
acontecimentos pertencentes à história pessoal ou social, pois segundo POLLAK
(1992, p.05) “O trabalho de enquadramento da memória se alimenta do material
fornecido pela história”. O que nos leva a perceber a dimensão que estas
linguagens apresentam enquanto expressões de identidade.
Ainda segundo POLLAK, que acredita que a memória por vezes encontra-se
em uma disputa pela veridicidade dos fatos, que se perde, no silêncio e
esquecimento individual e coletivo, onde se constata ser muito mais fácil
relembrar de fatos que marcaram pela dor e pelo sofrimento. “[...] ele consiste mais

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na erupção de ressentimentos acumulados no tempo e de uma memória da
dominação e de sofrimentos que jamais puderam se exprimir publicamente.”
(POLLAK. 1992. p.6). Mas que, no entanto, não é uma verdade totalmente presente
nas obras poéticas da escritora paranaense Helena Kolody, sendo que a mesma
argumenta em sua poesia um imperativo psicológico onde caracteriza não apenas
as suas lembranças, e sim tudo que em sua volta lhe é considerado belo e
apresenta harmonia com a vida e com o contexto geral em que ela esta inserida,
apesar da mesma ser conhecida singelamente por sua poesia é dona de uma
personalidade humana e literária marcante, qualidades que podem ser percebidas
em várias de suas obras, e que contemplam a escrita como uma forma de se
reproduzir a história. PAZ, (1982, p. 133) considera que o poema é uma obra
provida de um tempo e de um lugar, ou seja, é um produto histórico. O poema é
histórico como um produto social “[...] como uma criação que transcende o
histórico [...]” (p.133). Ou ainda, “[...] a experiência poética não é a mesma coisa que
a relação da condição humana, isto é dessa sede sem cessar no qual reside
precisamente sua liberdade essencial”. (p.232).
De fato, tal constatação nos leva a perceber que a memória está sempre
ligada à história, assim como está ligada a literatura e a poesia. Existem lugares da
memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma
lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico.
(POLLAK. 1992, p.202-203). A poesia de Kolody também possui certo contexto
onde a memória transforma-se em história, como podemos analisar no seguinte
poema:

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SAGA

(1980)

No fluir secreto da vida,

Atravessei os milênios

Vim dos Vikings navegantes,

Cujas naus aventureiras

Traçaram rotas nos mapas.

Ousados conquistadores

Fundaram Kiev antiga,

Plantando um marco na história

De meus ancestrais.

Vim da Ucrânia valorosa,

Que foi Russ e foi Retinia.

Povo indomável, não cala

A sua voz sem algemas.

Vim das levas imigrantes

Que trouxeram na equipagem

A coragem e a esperança.

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Em sua luta sofrida,

Correu no rosto cansado,

Com o suor do trabalho,

O quieto pranto doloroso.

Vim de meu berço selvagem,

Lar singelo à beira d água,

No sertão paranaense

Milhares de passarinhos

Acordavam-me nas primeiras

Madrugadas da existência.

Feliz menina descalça,

Vim das cantigas de roda,

Dos jogos de amarelinha,

Do tempo do “era uma vez...”.

Por fim acordei para sempre

Em teu coração paulatino,

Curitiba, meu amor!

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(KOLODY, 1997, p.21-22)

Onde a própria autora relata nos versos que escreve fatos dos quais sua
lembrança recorda e os mesmos encontram-se muito bem retratados na obra:
“Sinfonia da Vida”.
Segundo Antonio Donizete da Cruz, “Kolody realiza um fazer poético
enquanto busca da síntese, projetada nas formas escolhidas e no enxugamento dos
textos. Os poemas sintéticos [...] haicais (poesia de origem japonesa). (CRUZ, 2001,
p. 147).

Com consciência de que nada se repete na travessia-longa despedida


sem retorno-e que a própria vida não dura, torna mais precioso cada
instante existencial, com “seu agudo timbre de plenitude”. Helena Kolody
(CRUZ, 2001, p. 147)

Como coloca Cruz. “O fazer poético na poesia de Kolody remete a afirmativa


de Octavio Paz, quando diz que as experiências do poeta não são feitas de idéias ou
de sensações, mas de idéias-sensações. Dessa maneira, Paz observa que “o poeta,
ao nomear o que sentiu e pensou, não transmite as idéias e sensações originais:
apresenta formas e figuras que são combinações rítmicas nas quais o som é
inseparável do sentido” (PAZ, 1991, p. 19). Como se pode observar no haicai
“Desafio”, o sujeito lírico declara que os obstáculos que impedem a passagem
podem servir de estímulo para novas buscas. (CRUZ, 2001, p. 153).

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A vida bloqueada

Instiga o teimoso viajante

A abrir nova estrada. (KOLODY, 1993, p. 35).

Portanto a biografia da poetiza Helena Kolody é o objeto de pesquisa que


permite emergir as possibilidades da relação entre as diferentes linguagens
literárias e a história.
Por meio desse estudo foi possível percorrer toda a história de vida da
poetiza, analisando suas obras, sua poesia, sua maneira de expressar os
sentimentos e suas frustrações através de seus versos. Helena Kolody, pode ser sim
considerada uma personagem histórica, pois, a autora estabelece relações da sua
poesia com a literatura e a história, o que torna o estudo diferenciado e muito
atraente.
Dessa, forma se constata as possibilidades de promover o estudo de uma
personagem histórica que retrata não só a sua própria história, mas de toda uma
sociedade em que a mesma, encontra-se inserida. Fato que pode ser descrito em
uma pesquisa detalhada que desperte esses valores e os caracterize pela sua
importância pessoal e social.

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Anexos:

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Figura¹-² Helena Kolody por volta da década de 1960(Livro Sinfonia da Vida).

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Figura 2 (verso do livro, Sinfonia da vida).

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Referências

LEGOFF, Jacques. Memória. In: Romano (org.). Enciclopédia Einaudi: um v.


Memória – História. 1996.

KOLODY, Helena. Sinfonia da vida. Antologia poética. Saga 1980. Curitiba:


Posigraf. 1997.

PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro. Nova Fronteira, 1982.

POLLAK, Michael. Memória e identidade social. In: Estudos Históricos, Rio de


Janeiro. Cinco v. n. 10, 1992, p. 200-212.

CRUZ, Antonio Donizeti. A influência da arte oriental na poesia de Helena


Kolody e o ensino-aprendizagem do haicai. Acessado em: HTTP://e-
revista.unioeste.br/índex. php/rlhm em 25/08/2009 as 15:35

CHAIN. Dicionário Histórico Biográfico do Paraná: Curitiba, 1991. P. 654.

ECO, Umberto. Sobre Literatura. Editora: Record, São Paulo, 2002

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