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1Aqui centro-me no que elas são efetivamente, e não apenas no que elas não são, ou seja, na crítica às
epistemologias do Norte. Este tema foi tratado em maior detalhe na Primeira Aula: Por que as
epistemologias do Sul?
2 Veja-se Santos & Meneses (2010) e Santos (2014).
explicar o mundo. A segunda ideia forte assenta no pressuposto de que a compreensão
do mundo e a forma como ela cria e legitima o poder social tem muito que ver com
concepções do tempo e da temporalidade. A terceira ideia assume que uma das
principais características da concepção moderna eurocêntrica de racionalidade é o facto
de, por um lado, contrair o presente e, por outro, expandir o futuro. A contracção do
presente, ocasionada por uma peculiar concepção da totalidade, transformou o presente
num instante fugidio, entrincheirado entre o passado e o futuro. Do mesmo modo, a
concepção linear do tempo e a planificação da história permitiram expandir o futuro
indefinidamente. Quanto mais amplo o futuro, mais radiosas serão as expectativas
confrontadas com as experiências do presente. Ao contrário, defendo que é necessária
uma racionalidade cosmopolita,3 que permita expandir o presente e contrair o futuro.
Esta opção é crucial para criar o espaço-tempo necessário para conhecer e valorizar a
inesgotável experiência social que o mundo desconhece. A expansão do presente é
possível através da sociologia das ausências: tornar visíveis e credíveis as experiências
sociais que, por ocorrerem do outro lado da linha abissal, são desconhecidas ou
invisibilizadas pelo conhecimento hegemónico.4 A contracção do futuro dá-se por via da
busca e identificação de possibilidades concretas de futuro aqui e agora através da
sociologia das emergências. Tanto a sociologia das ausências como a sociologia das
emergências, longe de serem sociologias convencionais, são transgressivas, constituídas
pela articulação entre conhecimentos científicos e conhecimentos não científicos,
artesanais, populares. A essa articulação chamo a ecologia de saberes. Quando
estudamos as realidades em diferentes regiões do mundo, como é o caso do projeto
ALICE, estamos a identificar utopias concretas, que estão a surgir em vários lugares.
Porém, estas utopias não são credibilizadas, não são conhecidas. Por isso defendo que é
urgente criar o que chamo de um pensamento alternativo de alternativas, a que venho
chamando as epistemologias do Sul. Como será construído este pensamento? Em vez de
uma teoria geral, proponho um processo de tradução intercultural capaz de criar uma
inteligibilidade mútua entre diferentes experiências possíveis e disponíveis. As
epistemologias do Sul, como me dedicarei a explicar aqui, assentam no pressuposto de
3Tenho utilizado este conceito de Leibniz para situar o trabalho de reflexão teórica e epistemológica que
estou a realizar. De entre os vários textos onde desenvolvo esse argumento, veja-se Santos (2000).
4 Santos (2002a, 2006 e 2007a).
que a alternativa a uma teoria geral consiste na promoção de uma ecologia de saberes,
combinados com tradução intercultural. O que está em causa é a ampliação da
diversidade do mundo através da ampliação do presente. E só através de um novo
espaço-tempo será possível identificar e valorizar a riqueza inesgotável do mundo e do
presente. Este reconhecimento é fundamental para mostrarmos efetivamente que a
realidade do mundo é muito mais ampla do que aquilo que o conhecimento dominante
nos dá como existente e como possível. 5 Vejamos estes conceitos-chave em pormenor.
5 Como argumento noutros textos, a modernidade eurocêntrica, dominada pela razão metonímica, não só
tem uma compreensão limitada do mundo, como tem uma compreensão limitada de si própria. Veja-se,
entre outros, Santos (2002a).
A primeira deriva da monocultura do saber e do rigor do saber. Este modo de
produção de não-existência opera através da transformação da ciência moderna e da alta
cultura em critérios únicos de verdade e de qualidade estética, respectivamente. A
cumplicidade que une a ciência e a alta cultura reside no facto de ambas arrogarem ser,
cada uma no seu campo, cânones exclusivos de produção de conhecimento ou de
criação artística. Tudo o que o cânone não legitima ou reconhece é declarado
inexistente, insignificante. Conhecimento não científico é considerado erro, superstição,
opinião subjetiva. A não-existência assume aqui a forma de ignorância ou de incultura.6
A segunda lógica assenta na monocultura do tempo linear, a ideia de que a
história tem sentido e direcção únicos e conhecidos. Este sentido e esta direcção têm
sido formulados de diversas maneiras nos últimos duzentos anos: progresso, revolução,
modernização, desenvolvimento, crescimento, globalização. Comum a todas estas
formulações é a ideia de que o tempo é linear e que na frente do tempo seguem os
países centrais do sistema mundial e, com eles, os conhecimentos, as instituições e as
formas de sociabilidade que neles dominam. Esta lógica produz não-existência
declarando atrasado tudo o que, segundo a norma temporal linear, é assimétrico em
relação ao que é declarado avançado.7 É nos termos desta lógica que a modernidade
nortecêntrica produz a impossibilidade de convergirem no mesmo tempo diferentes
modos de ser contemporâneo, a ideia de que a simultaneidade esconde as assimetrias
dos tempos históricos que nela convergem. Por exemplo, o encontro entre um camponês
africano e um funcionário do Banco Mundial em trabalho de campo é um encontro
simultâneo entre dois não contemporâneos. Neste caso, a não-existência assume a forma
da residualização que, por sua vez, tem, ao longo dos últimos dois séculos, pelo menos,
adotado várias designações, a primeira das quais foi o primitivo ou selvagem, seguindo-
se outras como o tradicional, o pré-moderno, o simples, o obsoleto, o subdesenvolvido.
Quem é etiquetado com tais designações não existe de uma forma relevante ou válida.
O terceiro modo de produção da não-existência é a lógica da classificação social
que assenta na monocultura da naturalização das diferenças. Esta lógica opera através
da distribuição das populações por categorias que naturalizam e hierarquizam as
6 Este tema tem sido tratado em vários momentos. Veja-se, entre outros, Santos (1995a, 2003) e Santos
(org.) (2004 e 2005a).
7 Sobre este tema veja-se também Fabian (1983) e Marramao (1995).
diferenças. A classificação etno-racial e a classificação sexual são as mais salientes
manifestações desta lógica. Ao contrário do que sucede com a relação capital/trabalho, a
classificação social assenta em atributos que negam a intencionalidade da hierarquia
social. A relação de dominação é a consequência e não a causa dessa hierarquia e pode
ser mesmo considerada como uma obrigação de quem é classificado como superior (por
exemplo, o “fardo do homem branco”8 na sua missão civilizadora). Embora as formas
de classificação de acordo com o sexo e as características etno-raciais sejam decisivas
para que a relação capital/trabalho se estabilize e se difunda globalmente, a classificação
racial foi a mais profundamente reconstruída pelo capitalismo, como vários autores têm
referido.9 De acordo com esta lógica, a não-existência é produzida sob a forma de
inferioridade insuperável porque natural. Quem é inferior, porque é insuperavelmente
inferior, não pode nunca ser uma alternativa credível a quem se considera superior.
O quarto modo de produção da inexistência é a lógica da escala dominante. Nos
termos desta lógica, a escala adotada como principal determina a irrelevância de todas
as outras possíveis escalas. Na modernidade de matriz eurocêntrica, a escala dominante
aparece sob duas formas principais: o universal e o global. O universalismo é a escala
das entidades ou realidades que vigoram independentemente de contextos específicos.
Têm, por isso, precedência sobre todas as outras realidades que dependem de contextos
e que por essa razão são consideradas particulares ou vernáculas. A globalização é a
escala que nas últimas décadas adquiriu uma importância sem precedentes nos mais
diversos campos sociais.10 Trata-se da escala que privilegia as entidades ou realidades
que alargam o seu âmbito a todo o globo e que, ao fazê-lo, adquirem a prerrogativa de
designar entidades ou realidades rivais como locais. No âmbito desta lógica, a não-
existência é produzida sob a forma do particular e do local. As entidades ou realidades
definidas como particulares ou locais estão aprisionadas em escalas que as incapacitam
8 The White Man's Burden – em português, “O fardo do homem branco” – é um poema de Rudyard
Kipling escrito em 1899, e que simboliza o apelo à conquista imperial do mundo pelas potências norte-
americanas e europeias. Kipling considerava o controlo colonial do planeta como uma missão sacrificial
que todos os homens brancos deviam assumir, um fardo que os “mais” civilizados do mundo teriam de
carregar para retirar os povos que consideravam bárbaros e selvagens desse estado de atraso.
9 Veja-se, entre outros, Du Bois (1915); Wallerstein & Balibar (1991); Quijano (2000) e Escobar (2005).
10 Discuto este tema em maior detalhe em Santos (2002b, p. 25-102).
de serem concebidas como alternativas credíveis ao que existe de modo universal ou
global.
A última lógica produtora de não-existência é a lógica produtivista, que assenta
na monocultura dos critérios de produtividade capitalista. Nos termos desta lógica, o
crescimento económico é um objetivo racional inquestionável e, como tal, é
inquestionável o critério de produtividade que mais bem serve a este objetivo. Este
critério aplica-se tanto à natureza como ao trabalho humano. A natureza produtiva é a
natureza maximamente fértil num dado ciclo de produção, enquanto o trabalho
produtivo é o trabalho que maximiza a geração de lucros igualmente num dado ciclo de
produção. Segundo esta lógica, a não-existência é produzida sob a forma do
improdutivo que, aplicada à natureza, é esterilidade e, aplicada ao trabalho, é preguiça,
improdutividade ou desqualificação profissional.
Estas cinco lógicas são geradoras de várias formas sociais de não-existência,
nomeadamente o ignorante, o residual, o inferior, o local e o improdutivo. São formas
sociais de inexistência porque as realidades que elas conformam estão apenas presentes
como obstáculos em relação às realidades que contam como importantes, sejam elas
realidades científicas, avançadas, superiores, globais ou produtivas. São partes
desqualificadas de totalidades homogéneas que, como tal, apenas confirmam o que
existe e tal como existe. São o que existe sob formas irreversivelmente desqualificadas
de existir. Como tenho vindo a sublinhar, a produção social destas ausências resulta na
subtração do mundo e na contração do presente e, portanto, no desperdício da
experiência. A sociologia das ausências busca identificar o âmbito desta subtração e
desta contração, de modo a que as experiências produzidas como ausentes sejam
libertadas destas relações de produção e, por esta via, se tornem presentes.
Em suma, a sociologia das ausências visa, assim, criar uma carência e
transformar a falta da experiência social em desperdício da experiência social. Com
isso, cria as condições para ampliar o campo das experiências credíveis neste mundo e
neste tempo e, por esta razão, contribui para ampliar o mundo e dilatar o presente. A
ampliação do mundo ocorre não só porque aumentamos o número das experiências
credíveis existentes, como também porque, com elas, aumentamos as possibilidades de
experimentação social no futuro. A dilatação do presente ocorre pela expansão do que é
considerado contemporâneo, pelo policentrismo do tempo presente, de modo a que,
tendencialmente, todas as experiências e práticas que ocorrem simultaneamente possam
ser consideradas contemporâneas, ainda que cada uma à sua maneira.
Tal como a conceptualizo, a sociologia das ausências parte de duas
interrogações. A primeira diz respeito às razões pelas quais uma concepção tão estranha
e tão excludente de totalidade obteve tão grande primazia nos últimos séculos. A
segunda interrogação busca identificar os modos de confrontar e superar esta concepção
de totalidade e a razão que a sustenta. Se a primeira interrogação tem sido abordada em
múltiplos estudos críticos, considero que a segunda tem sido menos analisada, razão
pela qual lhe dedicarei mais atenção aqui.
Se a sociologia das ausências procura dar conta de saberes ocultados,
invisibilizados e silenciados, a ecologia de saberes e a tradução intercultural procuram
valorizar as pequenas experiências humanas que podem ser potenciais embriões de
transformações mais amplas. A primeira lógica de produção da não-existência, isto é, a
lógica da monocultura do saber e do rigor científico, tem de ser questionada pela
identificação de outros saberes e de outros critérios de rigor que operam credivelmente
em contextos e práticas sociais declaradas não-existentes pela moderna racionalidade
científica. Esta credibilidade contextual deve ser considerada suficiente para que o saber
em causa tenha legitimidade para participar de debates com outros saberes,
nomeadamente com o saber científico. A ideia central da sociologia das ausências neste
domínio é que não há ignorância em geral, nem saber em geral, como já referi. Toda a
ignorância é ignorante de um certo saber e todo o saber é a superação de uma ignorância
particular. Deste princípio de incompletude de todos os saberes decorre a possibilidade
de diálogo e de disputa epistemológica entre os diferentes saberes. O que cada saber
contribui para este diálogo é o modo como este saber orienta uma dada prática na
superação de uma certa ignorância. Tal como os conceptualizo, o confronto e o diálogo
entre os saberes é um confronto e diálogo entre diferentes processos através dos quais
práticas diferentemente ignorantes se transformam em práticas diferentemente sábias.
Neste contexto, a sociologia das ausências tem por objetivo substituir a
monocultura do saber científico por uma ecologia de saberes.11 Esta ecologia de saberes
16 O tópico da “douta ignorância” encontra-se desenvolvido em maior detalhe em Santos (2008, p. 11-43).
17 Veja-se Santos (2004, p. 77-90); Santos (2005), e Santos (2014, p. 212-35).
A dificuldade da tradução entre saberes resulta, muitas vezes, da assimetria entre
estes, ou seja, é produto de uma diferença epistemológica. Há várias formas de lidar
com esta assimetria. Uma das opções a que temos assistido aposta num maximizar da
ignorância em relação a outros saberes, levando a que seja declarada a sua inexistência,
o que tenho vindo a designar de fascismo epistemológico. Esta forma de lidar com a
diferença epistemológica tem predominado nas epistemologias do Norte. Pelo contrário,
a ecologia de saberes parte de um reconhecimento da assimetria e faz dela o motor da
comparação entre saberes.
Tal como o fascismo epistemológico, a ecologia de saberes é uma opção
epistemológica e política. À partida, é possível um número ilimitado de ecologias de
saberes, tão ilimitado quanto o da diversidade epistemológica do mundo. Cada exercício
de ecologia de saberes implica uma seleção de saberes e um campo de interação onde o
exercício tem lugar. Um e outro são definidos em função de objetivos não
epistemológicos. A incerteza sobre a diversidade inesgotável da experiência do mundo
decorre de uma preocupação em não desperdiçar a experiência do mundo num contexto
em que este parece ter esgotado a capacidade de inovação libertadora. Do mesmo modo,
a incerteza sobre a possibilidade e a natureza de um mundo melhor decorre de um
sentimento contraditório de urgência e de mudança civilizacional a respeito de uma
exigência de transformação social. Desta dupla preocupação, nasce o impulso para a
ecologia de saberes. Os contextos específicos que geram os problemas e as lutas
determinam os saberes que integrarão um dado exercício de ecologia dos saberes. Por
exemplo, a preocupação pela preservação da biodiversidade pode levar a uma ecologia
entre o saber científico e o saber camponês ou indígena. A preocupação da luta contra a
discriminação pode conduzir a uma ecologia entre saberes produzidos por diferentes
movimentos e organizações sociais: feministas, antirracistas, de orientação sexual, de
direitos humanos, indígenas, afrodescendentes, etc. A preocupação com a dimensão
espiritual da transformação social pode levar a ecologias entre saberes religiosos e
seculares, entre ciência e misticismo, entre teologias da libertação (feministas, pós-
coloniais) e filosofias ocidentais, orientais, indígenas, africanas, etc. A preocupação com
a dimensão ética e artística da transformação social pode incluir todos estes saberes e
ainda as humanidades, no seu conjunto, a literatura e as artes, etc.18
As preocupações que suscitam os exercícios de ecologia de saberes são
partilhadas por diversos grupos sociais e comunidades que, em dado contexto,
convergem na ideia de que as suas aspirações e os seus interesses só podem ser
prosseguidos com êxito em articulação com outros grupos sociais e, portanto, com os
saberes dos outros grupos e comunidades. A ecologia de saberes é a dimensão
epistemológica de uma solidariedade de tipo novo entre atores ou grupos sociais. É uma
solidariedade internamente diversa em que cada grupo apenas se mobiliza por razões
próprias e autónomas de mobilização, mas, por outro lado, entende que as ações
colecivas extravasam daquilo que é possível levar a cabo por um só ator ou grupo
social. A ecologia de saberes sinaliza a passagem de uma política de grupos,
organizações e movimentos sociais para uma política intergrupos, interorganizações e
intermovimentos sociais. Esta caracterização das razões que criam a necessidade da
ecologia de saberes e selecionam os saberes que, numa situação concreta, a integram,
ajuda-nos igualmente a identificar os campos de interacção em que a ecologia de
saberes ocorre. Estes campos não são epistemológicos.
Os saberes que dialogam, que mutuamente se interpelam, questionam e avaliam,
não o fazem em separado como uma atividade intelectual isolada de outras atividades
sociais. Fazem-no no contexto de práticas sociais constituídas ou a constituir, cuja
dimensão epistemológica é uma entre outras, e é destas práticas que emergem as
questões postas aos vários saberes em presença. Tais práticas são práticas de resistência,
de luta e de proposta, tais como: defender os direitos à saúde e à educação ante as
políticas de privatização; defender a agricultura camponesa ou agroecológica da invasão
da agricultura industrial e dos agrotóxicos que ela usa massivamente; lutar pela
integridade dos territórios indígenas, vítimas de tanta destruição desde o século XVI, e
em tempos mais recentes cobiçados pelas empresas de mineração e de madeira; lutar
contra os despejos de famílias vítimas de crise financeira, do desemprego e da
especulação imobiliária; defender o meio ambiente perante projetos imobiliários,
industriais ou de extrativistas com forte potencial de dano ambiental; lutar contra a
18Trato da nova relação ecológica entre ciência e outros saberes em vários trabalhos. Veja-se, entre
outros, Santos (org.) (2005a) e Santos, Meneses & Nunes, (2005, p. 21-121).
discriminação racial e sexual, pelos direitos dos imigrantes e refugiados; defender o
sistema democrático contra a corrupção, a manipulação mediática ou o sequestro por
interesses económicos poderosos, etc., etc.
As questões epistemológicas só são relevantes na medida em que forem práticas,
isto é, tiverem consequências para o contexto das práticas em que a ecologia de saberes
tem lugar. Daí que os saberes sejam confrontados com problemas que, por si, nunca
poriam. Em geral, tais problemas tomam os saberes de surpresa e estes, com frequência,
revelam-se incapazes de os resolver. A interpelação cruzada dos saberes nasce do
reconhecimento desta incapacidade e da tentativa de a superar.
Esta prioridade das práticas produz uma transformação fundamental na relação
entre os saberes em presença. A superioridade de um dado saber deixa de ser definida
pelo nível de institucionalização e profissionalização deste saber para passar a ser
definida pelo seu contributo pragmático para uma dada prática. Fica assim desativado
um dos motores do fascismo epistemológico que tem caracterizado a relação da ciência
moderna com outros saberes. Para certas práticas, a ciência será certamente
determinante, tal como para outras será irrelevante ou até contraproducente. Esta
deslocação pragmática das hierarquias entre saberes não elimina as polarizações entre
os saberes, mas redu-las às que decorrem dos contributos práticos para a ação que se
deseja realizar. Este descentramento dos saberes é fundamental para que a ecologia de
saberes atinja os seus objetivos: a promoção de práticas sociais eficazes e libertadoras a
partir da interpelação cruzada dos limites e das possibilidades de cada um dos saberes
em presença.
O descentramento dos saberes tem ainda uma outra dimensão. O campo de
interações práticas (isto é, com objetivos práticos), em que se realiza a ecologia de
saberes, exige que o lugar da interpelação dos saberes não seja um lugar exclusivo dos
saberes, como frequentemente decorre em face da pressão hegemónica de um dado
saber, por exemplo, as modernas universidades ou centros de investigação. O lugar de
enunciação da ecologia de saberes são todos os lugares onde o saber é convocado a
converter-se em experiência transformadora. Ou seja, são todos os lugares que estão
para além do saber enquanto prática social separada. É o terreno onde se planeiam ações
práticas, se calculam as oportunidades, se medem os riscos, se pesam os prós e os
contras. É este o terreno da artesania das práticas, o terreno da ecologia de saberes.
A referência à artesania remete para uma forma peculiar de produção que se
distancia de um pressuposto homogeneizante e hegemónico da ciência a serviço do
capitalismo, colonialismo e patriarcado. A artesania transporta múltiplos significados
culturais, históricos, de movimentos ou associações, refletindo conhecimentos e práticas
geradas a partir de experiências de luta. Estes conhecimentos e práticas são
continuamente reatualizados, enquanto parte integrante dos processos identitários, em
sintonia com as demandas atuais.
O reconhecimento da incompletude dos saberes e a ecologia dos saberes são as
vias para enfrentar uma das condições de incerteza do nosso tempo: a diversidade
infinita da experiência humana e o risco que se corre de, com os limites de
conhecimento de cada saber, se desperdiçar experiência, isto é, de se produzir como
inexistentes experiências sociais disponíveis ou de se produzir como impossíveis
experiências sociais emergentes.
25Expressão partilhada por várias línguas bantu na África austral e que traduz a ideia de humanidade para
com os outros. Como vários filósofos afirmam, no centro do ubuntu está a ideia de que uma pessoa só é
pessoa através das outras pessoas. Veja-se Ramose (2003). Ver a minha Conversa do Mundo com Mogobe
Ramose em <http://alice.ces.uc.pt/en/index.php/democratising-democracy/conversation-of-the-world-vi-
boaventura-and-mogobe-b-ramose/?lang=pt>.
26Expressão originária da língua quechua, da região andina da América Latina. “Sumak” traduz-se como
bem, plenitude, e “kawsay”, viver, ou seja, “bom viver”. Esta expressão é usada para fazer referência ao
modelo de alternativa ao desenvolvimento que se procura aplicar nalguns contextos e que implica um
conjunto organizado, sustentável e dinâmico dos sistemas económicos, políticos, socioculturais e
ambientais, que garantem a realização do bom viver, de forma mais comunitária e em harmonia com a
Mãe Terra ou Pachamama. A Constituição do Equador de 2008 expressa o reconhecimento do “direito da
população de viver num ambiente são e ecologicamente equilibrado, que assegure a sustentabilidade e o
bom viver, sumak kawsay”. Veja-se também Acosta & Martínez (orgs.) (2009) e Gudynas et al. (2014).
27 O termo hindu tem sido historicamente utilizado como um identificador geográfico, cultural ou
religioso para os povos indígenas do subcontinente indiano. Apesar de o hinduísmo incluir uma ampla
gama de filosofias e culturas religiosas, atualmente, porém, o termo hindu centra-se essencialmente na
referência a quem cultural, étnica ou religiosamente se identifique com os aspectos do hinduísmo (visto
como a religião ou modo de vida dominante no Sul da Ásia).
28 I Conferência Mundial dos Povos sobre Mudança Climática e Defesa da Vida, que teve lugar em
Tiquipaya (Cochabamba – Bolívia), tendo como um dos seus principais objetivos a criação de um
Tribunal de Justiça Climática e Ambiental.
Terra, a ideia de que a natureza é um ser vivo que não pode ser humilhado, destruído,
sem nenhuma consequência para nós, era partilhada por aqueles jovens ecologistas; eles
identificavam-se com essa concepção. São jovens urbanos, a maioria vive em cidades
europeias ou norte-americanas. Mas esta concepção de natureza, de alguma maneira,
gerou muito interesse, precisamente pelas consequências ecológicas a que eles são,
hoje, muito mais sensíveis que as gerações anteriores.
Mas convém ressaltar que a ideia de que a distinção entre natureza e sociedade
tem que terminar não é exclusiva dos povos indígenas, sendo partilhada pela ecologia
política. Trata-se de uma concepção benéfica não só para os grupos indígenas, africanos
e hindus, mas para toda a humanidade.
31A Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS) nasceu no Fórum Social Mundial de 2003,
com o objetivo de promover a partilha de conhecimentos e ampliar, articular e fortalecer formas de
resistência à globalização neoliberal, ao capitalismo, ao colonialismo, ao sexismo e a outras relações de
dominação e opressão. O conceito de coaprendizagem da UPMS supera a distinção convencional entre
educador e educando, assentando nas ideias de aprendizagem recíproca e ecologia de saberes. O ponto de
partida é a constatação de ignorâncias recíprocas e o ponto de chegada a produção partilhada de
conhecimentos. A aprendizagem resulta de debates entre ativistas, líderes de movimentos sociais,
cientistas sociais, intelectuais e artistas. Mais informações disponíveis em http://
www.universidadepopular.org/site/pages/pt/em-destaque.php>.
A riqueza da ontologia triádica
Um terceiro exemplo da diversidade do mundo, que pode e deve ser resgatada a
partir das epistemologias do Sul, é a ontologia triádica. Na cultura eurocêntrica, a
ontologia é todo o conhecimento sobre os seres, sobre o que existe. Toda a nossa cultura
eurocêntrica, toda a nossa ontologia, é uma ontologia dos seres vivos. Não temos uma
ontologia dos não vivos, porque estes estão mortos. Mas muitas outras culturas têm uma
ontologia do que nós chamamos os seres invisíveis, os espíritos. A espiritualidade
andina, ou a espiritualidade africana – e aqui não se trata da ideia da criação de uma
religião, não se trata de um Deus pessoal –, baseiam-se na ideia de uma transcendência
neste mundo, numa relação complexa entre o imanente e o transcendente, e isto é que
caracteriza a espiritualidade. A cultura de matriz eurocêntrica não é capaz de entender a
espiritualidade porque a expulsou do campo das relações sociais. Precisamente porque a
ciência não trata nem dos fins nem dos princípios; a ciência trata apenas do meio, que é
a transformação do mundo, pragmática e nada mais. Mas existe uma ontologia de seres
invisíveis que é parte da cosmovisão de muitas pessoas. Não é irracionalidade, são os
seus ancestrais, são os seus antepassados, por exemplo, que são fundamentais para
entender o ciclo da vida das pessoas. E existe também a ontologia dos que ainda não
nasceram. As culturas não ocidentais estão muito orientadas para a cultura dos que vêm
depois, dos que estão para vir. Trata-se de uma ontologia mais rica, porque não olha
apenas para os vivos, mas também para os seres que a nossa razão não permite ver e
sentir e para os que ainda não nasceram.
Temos uma grande dificuldade, por exemplo, de dar direitos humanos às
próximas gerações. Os nossos direitos humanos são dos humanos vivos. Os mortos não
têm direitos humanos. Mas os espíritos não estão mortos, estão vivos. E as próximas
gerações, as futuras gerações, também não têm direitos, porque devido à nossa
dissimetria entre direitos e deveres, quem não tem deveres não tem direitos. Como as
próximas gerações não têm deveres, não podem ter direitos. Esta ontologia
empobrecida, como está bem explícito na Declaração Universal dos Direitos Humanos,
polariza o indivíduo e o Estado e praticamente não reconhece outras entidades
ontológicas. Quem está primeiro, o indivíduo ou a comunidade? Só na cultura
capitalista é que o indivíduo pode ser pensado sem uma comunidade. Nós tivemos que
criar o conceito de sociedade civil depois de desmembrar a comunidade. É quase
impossível conceber uma ontologia onde o ser individual convive com o ser coletivo.
Porque obviamente temos que afirmar a nossa individualidade pessoal, a nossa
liberdade, mas sabemos que ela existe numa comunidade, ela não é pensável sem uma
entidade coletiva que a rodeia. Como pensar o coletivo e o individual? É muito difícil
fazer isso dentro do conceito ocidental de cultura que obviamente permeia todas as
epistemologias do Norte. Existe uma outra ontologia para a qual vos quero chamar a
atenção. É preciso repensar se esta ideia de uma dimensão não material da vida é parte
da vida material.
Viver o tempo
Penso que atualmente não vivemos o tempo, vivemos no tempo da cultura
nortecêntrica. E com o desenvolvimento do capitalismo nós começamos por viver no
tempo e agora vivemos na falta de tempo.
A ideia de viver o tempo é uma ideia que dá um outro ritmo à vida, promove
uma outra relação com a vida, e que, certamente, também cria outra relação com aquilo
que nós erroneamente chamamos contemplação. Viver não é apenas transformar, é
também contemplar. E aí Marx estava errado.32 É evidente que devemos compreender e
transformar o mundo, mas também devemos saber contemplar. A nossa incapacidade de
contemplar é a que hoje se expressa no paroxismo da falta de concentração dos twitters
e do Facebook. A contemplação exige concentração e a nossa cultura presente é
totalmente adversa a qualquer concentração. Esta falta de concentração permite o
automatismo da ciência moderna, o automatismo da tecnologia, ou o automatismo do
consumismo que nos envolve no quotidiano.
É muito importante ter em conta estas diferentes ontologias porque elas trazem
toda uma ideia de fluxo, em que antes de pensar em totalidades pensamos em fluxos,
pensamos que o ser evolui. O ser não está fixo, não está engessado em campos
disciplinares, em entidades, indivíduos ou comunidades. Nem em identidades. Não há
43Veja-se o importante trabalho que está a ser desenvolvido no Brasil pelo Observatório da Política
Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (OBTEIA) e que pode ser
acompanhado em <http://www.saudecampofloresta.unb.br/>
44 Veja-se Andrade (2015).
45 Veja-se a Aula 7: O que significa a cidadania a partir dos que não são cidadãos?
46 Sobre as metodologias extrativistas, veja-se Santos (2018).
Como é que podemos conhecer com os outros e outras, em vez de conhecer
sobre os outros e outras? Em vez de extrair conhecimento dos outros e, ao extrair
conhecimento, como transformá-los em matéria-prima para nós próprios? Este é um
problema que temos de enfrentar. Precisamos saber que tipo de diálogo é possível
estabelecer entre todos. Que tipo de ações coletivas poderão reforçar e aproximar as
lutas urbanas das lutas camponesas, as lutas indígenas das lutas feministas, que
continuam a ter pouca ligação entre si.
No Brasil, por exemplo, existem três grandes movimentos que lutam pela terra,
de forma autónoma: os indígenas, os camponeses e os quilombolas. 47 Têm diferentes
concepções de terra, trabalham a partir de diferentes temporalidades. Para os indígenas
e para os quilombolas, a luta não é pela terra como matéria-prima, é também pelo
território como parte da sua identidade. E como é possível integrar estas diferentes
formas de conceber e fazer esta luta? Ou seja, as formas de saber têm que entrar no que
anteriormente vos apresentei como um processo de tradução intercultural.
Precisamos de tradução intercultural sempre que estamos convencidos de que
somos ignorantes-esclarecidos, que o nosso conhecimento, por mais valioso que seja, é
incompleto. E não há nenhum movimento ou organização social que por si só possa ter
êxito na sua luta se não se unir a outros, formando redes de saberes em luta. Essa união,
para ser possível no mundo de hoje, exige o reconhecimento efetivo da diversidade
cultural. Porque se a compreensão do mundo é muito mais ampla que a compreensão
nortecêntrica do mundo, então a transformação do mundo pode realizar-se segundo
caminhos que não estão no cânone do pensamento nortecêntrico. Por isso propus uma
reinvenção da emancipação social. 48
A tarefa é esta: neste momento em que as ciências sociais se sentem um pouco
tensas por falta de alternativas e, por outro lado, estão a ser atacadas, talvez a melhor
defesa seja uma ofensiva metodológica. E esta ofensiva deve desenvolver-se sabendo
problematizar a nossa realidade quotidiana. Porque corremos o risco, como sempre
48Veja-se, entre outros, Santos (2007b), op. cit. Entre 1999 e 2002, coordenei um projeto internacional
sobre “A reinvenção da emancipação social”, que envolveu 60 investigadores de 6 países (África do Sul,
Brasil, Colômbia, Índia, Moçambique e Portugal). Os resultados principais da investigação estão
publicados nos volumes Santos (org.) (2002a, 2002b, 2003, 2005a, 2005b e 2009).
digo, de nos nossos departamentos e centros estarmos a formar conformistas, pessoas
que ratificam o presente injusto que marca as nossas sociedades, quando temos de, cada
vez mais, formar rebeldes competentes. E para isso precisamos problematizar os
instrumentos com que trabalhamos nas ciências sociais, de que vos darei conta através
de alguns exemplos.
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