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CRÍTICAS
1. O ICMS
Sob o rótulo ICMS, convivem pelo menos três impostos diferentes (cf. art. 155, II, da
CF/1988): (a) sobre operações relativas à circulação de mercadorias; (b) sobre serviços
de transporte interestadual ou intermunicipal; e (c) sobre serviços de comunicação.
Em síntese, o ICMS, que tem suas normas gerais expressas na LC 87/1996, incide sobre
qualquer negócio jurídico que implique a passagem da mercadoria para a fase seguinte
de sua circulação (desde a produção até o consumo), bem como sobre as prestações de
serviços de transporte transmunicipal e de comunicação.
A legislação estabelece que o imposto incidente nas operações 1, 2 e 3 (com aves vivas
ou abatidas, com leite in natura, por exemplo), será pago por D (estabelecimento
industrial que tenha adquirido tais mercadorias para utilização em seu processo fabril).
(b) Quando, ao contrário, o remetente é que deve cumprir obrigação que normalmente
teria, no destinatário, o contribuinte, ocorre a substituição “para frente” (progressiva).
Ou seja, no caso de:
Como visto, o tema “substituição tributária” não apresenta grande complexidade, pelo
menos no nível conceitual. Contudo, alguns de seus aspectos e as respectivas disciplinas
legais embatem-se com preceitos superiores e embaraçam a aplicação prática do
sistema (como à frente se demonstrará). Particularmente nas operações interestaduais
reside alguma dificuldade para sua implementação. A solução que a lei prevê para casos
tais é condicionar sua aplicação à realização de acordos entre os Estados respectivos, o
que se faz mediante protocolos e convênios (cf. art. 9.º da LC 87/1996).
“a) o valor da operação ou prestação própria realizada pelo substituto tributário ou pelo
substituído intermediário;
Cabe lembrar que “ICMS a ser retido” significa a quantia que o contribuinte substituto
deverá receber do substituído (atacadista ou varejista para quem vendeu a mercadoria),
e, no prazo regulamentar, recolher aos cofres do Estado.
3. REFLEXÕES E CRÍTICAS
Todavia, sob o enfoque jurídico, não se difere nada, porque nas operações submetidas a
tal regime, nunca nasce a obrigação de pagar ICMS, tampouco se substitui alguém, na
medida em que o contribuinte substituto não paga dívida de outrem, mas sim o imposto
do qual ele próprio é sujeito passivo (conforme expressão da lei).
Com efeito, o que recebe o nome de “substituto” é, na realidade, o único sujeito passivo
do tributo, pagando dívida tributária própria por fato gerador alheio (praticado por
terceiro), com o direito de recuperação, face àquele, do dispêndio fiscal que a lei lhe
imputou diretamente, pelo que de melhor cabimento a designação “destinatário legal
tributário”, na feliz construção de Hector Villegas (cf. artigo Destinatário legal tributário
– Contribuinte e sujeitos passivos na obrigação tributária. Revista de Direito Público. vol.
30. p. 271. São Paulo: Ed. RT, jul.-ago. 1974).
Apressada leitura de sobredito dispositivo da lei complementar pode fazer crer que (a) a
lei complementar teria limitado a adoção da substituição às operações interestaduais
com petróleo e energia elétrica e (b) nas operações interestaduais, seria dispensável a
edição de lei estadual instituindo o regime, bastando um acordo entre os Estados.
Com vistas à segunda, de ciência certa que convênios firmados entre os Estados e o
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
CRÍTICAS
Distrito Federal não se equiparam à lei formal exigida no art. 6.º da LC 87/1996, e,
sobremais, que suas edições pressupõem a vigência de lei ordinária instituidora do
regime de substituição, além de prestarem-se tão só para atribuir extraterritorialidade a
esta, no caso de operações/prestações interestaduais (ex vi do art. 102 do CTN).
(a) Basta que um Estado, por razões diversas (inclusive de fonte judicial), retire do
sistema uma determinada mercadoria, para instalar-se uma concorrência desleal em
desfavor dos compradores localizados em outros Estados; primeiro porque, na
substituição, o imposto é pago antecipadamente, se comparado com o sistema de
recolhimento periódico por operações próprias; segundo porque a margem para cálculo
do imposto retido, por arbitrada, alcança, muitas vezes, um valor menor do que a
praticada pelo vendedor final (substituído).
(b) Por outro lado, considerando que tudo que integrar as operações futuras inclui-se na
base de cálculo do ICMS a ser retido e pago pelo substituto, verifica-se flagrante
distorção no caso concreto dos laboratórios farmacêuticos: os estrangeiros, que
desenvolvem seus produtos fora do Brasil, e os nacionais.
Pois, aqueles, no mercado, trabalham com o produto saindo da fábrica com 75% do
valor, e entre distribuidor e varejo, acrescenta-se 25%. Significa dizer que a fábrica
recebe 75%, ficando o distribuidor e o varejista com 25% (margem pequena), porque
trabalham com produtos mundialmente conhecidos.
Com certeza, este regramento dá ensejo a que empresa que adquire produtos de micros
e pequenos empresários assuma parcela do imposto, na medida em que o crédito
apropriável é calculado não pela alíquota normal do ICMS, mas por percentual inferior
(igual ao da parcela do Simples Nacional correspondente ao ICMS). Induvidoso, então,
que, quando os revende, por hipótese em operação isenta, aquela empresa não debita o
ICMS, tampouco o transfere para o consumidor final. Agora se tiver havido substituição
tributária relativamente a tais produtos, resta desrespeitada a isenção, na medida em
que o imposto foi pago sobre o preço estimado de venda ao consumidor final, com as
parcelas dos acréscimos previstos na lei (frete, seguro etc.)
(d) As indústrias de automóvel fixam o preço que ela entende ser o do consumidor. Ora,
quando se tem a concorrência dos importados, que pagam uma vez Cofins e os nacionais
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
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(e) Relativamente aos produtos vendidos por preço inferior ao de custo (liquidações), o
Fisco recebe ICMS sobre os descontos concedidos, porque o preço de mercado nada vale
em razão da substituição. Aí outro problema se configura (quando a substituição não
encerra o ciclo da tributação), que é o dos créditos que permanecem (não aproveitados),
decorrente do pagamento do ICMS por um valor superior ao valor de mercado. Como a
operação é por valor menor, determinadas empresas ficam com créditos que não
conseguem usar, obrigando-se a negociar no mercado. Nasce aí mais um prejuízo, pois o
custo do crédito negociado no mercado é um custo com deságio. Significa, em síntese,
que quando se diz que o contribuinte tem liberdade de transferir o seu crédito
acumulado de ICMS, não é verdade total, pois essa transferência é onerosa.
(f) São suficientes os exemplos acima para não deixar dúvida de que substituição
tributária produz efeitos indesejáveis na ordem econômica, máxime quando referida a
imposto incidente sobre o consumo de bens e serviços (como o ICMS), por ensejar
modificações nos preços das mercadorias submetidas ao regime, em comparação com os
demais, além de, com a antecipação do pagamento do imposto, elevar-se o custo do
adquirente, dentre outras consequências.
Assim, para que se dê a regular cobrança do ICMS, cada fato imponível deve ser
isoladamente considerado. Demais disso, sua base de cálculo há de ser sempre o valor,
certo e determinado, da operação mercantil realizada (ou do preço do serviço). Qualquer
coisa diferente disso desvirtua o arquétipo constitucional do imposto, que deixa de ser
sobre operações mercantis. Entretanto, como vimos, a exigência do ICMS, na
substituição tributária, dá-se antes do fato jurídico do imposto.
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
CRÍTICAS
Há quem comece por asserir a inexistência de preceito legal que vede a cobrança de
tributos sem fato gerador, para depois perfilhar que não há objeção teórica (e prática) a
que se faça uma inversão temporal entre o recolhimento e o fato geratriz do tributo. E
elencam-se fortes exemplos disso: no ITBI, dá-se obrigatoriamente o pagamento antes
da lavratura da escritura de aquisição do imóvel; nas taxas de polícia, por exemplo,
vinculada à vistoria de automóveis (RJ), o pagamento antecede em três ou quatro meses
a respectiva atividade estatal etc. Outros perfilham a irrelevância de o fato gerador
ocorrer posteriormente, porquanto, em sede jurídica, a obrigação nasce no momento em
que o substituto realiza a operação com a mercadoria destinada ao substituído.
(a) Em princípio, só pode ser posta, pelo legislador, como sujeito das relações
obrigacionais tributárias, a pessoa que, explícita ou implicitamente, é referida pelo texto
constitucional como destinatário da carga tributária. No Brasil, é sujeito passivo a pessoa
que provoca, desencadeia ou produz a materialidade da hipótese de incidência de um
tributo, a saber, segundo o Código Tributário Nacional (art. 121, parágrafo único, I),
quem tenha relação pessoa e direta com essa situação. Corolário disso é vedar-se ao
Estado não definir uma pessoa, como sujeito passivo, para discricionária e
arbitrariamente, colher outra.
E tal deriva da norma constitucional de competência, pelo que não é livre o legislador
ordinário. Antes, é obrigado a estabelecer como contribuinte somente aquela pessoa que
realmente corresponda às exigências do aspecto pessoal da hipótese de incidência,
assim como pressuposta, em seus contornos essenciais, pelo próprio texto
constitucional: o “realizador” da operação tributável. Caso contrário, esvai-se o fato
tributável, referido constitucionalmente como “necessário e suficiente” para a exigência
do tributo, implicando a verdadeira inutilidade da discriminação constitucional de
competências tributárias. Não por outro motivo o art. 128 do CTN dispõe que tal
responsabilidade por substituição só possa ser imputada a quem esteja vinculado ao fato
imponível.
Mesmo quem não acata as ponderações acima, admite que a menção do art. 6.º da LC
87/1996, atribuindo a condição de substituto tributário a “depositário a qualquer título”,
não pode ser interpretada no sentido de alcançar depositário de qualquer coisa, mas sim
de mercadoria que vai ensejar a tributação respectiva.
pessoa a tenha antes assumido. O substituto é posto, pela lei, no lugar do sujeito
passivo originário da obrigação tributária.
(c) Nesta altura, emerge a questão de a substituição tributária implicar, ou não, exclusão
da responsabilidade do substituído.
Mas tal não se dá, porquanto a regra do reembolso faz valer o princípio, i.e., a que
confere o direito de o substituto receber do substituído o ICMS por este devido (embora
a ser recolhido por aquele, ao Estado). E o mecanismo opera-se, antes do vencimento da
obrigação do substituto, mediante o sistema de retenção do numerário no momento da
venda que este efetua. Ademais, o § 5.º do art. 8.º da LC 87/1996 ao tratar do cálculo
do imposto a ser retido (e recolhido pelo substituto), reza que ele “corresponderá à
diferença entre o valor resultante da aplicação da alíquota prevista para as operações ou
prestações internas do Estado de destino sobre a respectiva base de cálculo e o valor do
imposto devido pela operação ou prestação própria do substituto.”
Não custa sublinhar, por outro lado, que o fato de o substituto deixar de proceder à
retenção, junto ao substituído, não o exime de proceder ao pagamento do imposto
relativo à substituição, embora possa exercitar o direito de regresso (cível), face ao
substituto.
Nessa ordem de ideias, a desfiguração da base de cálculo do ICMS fazendo com que
passe ele a incidir, não sobre o objetivo e preciso valor da operação realizada, mas sobre
outra qualquer cifra, aleatoriamente estabelecida (ainda que pela lei), nega-lhe o caráter
de imposto sobre operações mercantis. Inegável violência à nossa Carta Política
constitui, portanto, a adoção de critérios arbitrários e aleatórios, estimativos ou a forfait,
na legislação do ICMS, no respeitante à base de cálculo do tributo.
Em que pese vigorar certa sintonia na doutrina quanto aos assertos acima, os
mecanismos “de reembolso” (acertamento) e “de restituição” (pagamento indevido)
legitimam (e enquadram) o sistema. Ademais, base de cálculo estimada não constitui
heresia jurídico-tributária, não apenas se previsto o ajuste ao final do período de
apuração, entre esta e a real, mas sobretudo em razão de sua quantificação partir de
dado certo (valor da operação praticada pelo substituto), acrescida de outros encargos e
de margem de valor agregado fixada com a participação de entidades representativas
dos setores interessados (cf. art. 8.º, § 4.º, da LC 87/1996), admitida a possibilidade de
impugnação pelo interessado.
1.ª: A norma constitucional sob comento (art. 150, § 7.º, da CF/1988) indica a “lei”
como veículo para instituir o regime de substituição tributária progressiva, certamente
que se referindo à “lei ordinária”. Entrementes, com vistas ao ICMS, a lei própria para
tanto é a complementar, face à disposição expressa no art. 155, § 2.º, XII, b, da
CF/1988. Deveras, a abrangência nacional do imposto e o objetivo de uniformização
justificam isso.
(a) Como antes asseverado, o art. 150, § 7.º, da CF/1988 garante validez à substituição
tributária. Há a exigência do ICMS antes da ocorrência do fato gerador (presumido), mas
se este não se concretizar, o substituído deverá ser ressarcido prontamente. Assim reza
a norma constitucional em referência.
Tem valimento destacar que são de três ordens as causas que autorizam a restituição de
ICMS pago antecipadamente, segundo o regime de substituição progressiva:
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
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2) A segunda diz com a hipótese de o valor final da operação ser inferior ao que serviu
de base para cálculo do imposto retido, cuja abordagem remete ao princípio da não
cumulatividade.
A doutrina praticamente não dissente quanto a isso, na esteira de que a base de cálculo
da retenção é definitiva e sujeita a uma aferição futura. Se ela é menor que a operação
final, por ser definitiva, não há complemento, mesmo porque o sistema, instituído pelo
Estado, não visa a satisfazer interesse do contribuinte, mas das Fazendas Públicas
(destas, portanto, a assunção do risco de erro na definição da respectiva base de
cálculo); se é superior ao montante da operação final, configura-se indébito tributário,
sujeito, por isso, à repetição (pagamento a maior é tão indevido quanto o montante
recolhido por operação não realizada). As Fazendas Estaduais, contudo, negam esse
direito, com o só argumento de que a disposição constitucional faz menção expressa a
fato gerador não ocorrido, fundamento também invocado em decisões do STF (AgRg no
RE 266.523/MG, por exemplo). Aproposita-se, aqui, relembrar que o Pretório Excelso
tem sob julgamento a ADIn. 2.675 (Informativo 455 do STF), com tendência (face à
votação parcial) a assegurar a restituição do ICMS pago antecipadamente no regime de
substituição tributária, nas hipóteses em que a base de cálculo da operação for inferior à
presumida.
Vale, nessa altura, refletir sobre a situação de certo contribuinte, que aliena produtos
sujeitos à substituição, fazê-lo por preço diferenciado (promocional para certo lote de
mercadoria) e normal para os demais (este superior ao que serviu de base para a
retenção). No momento em que apurar o ajuste de contas, deve apenas considerar o
valor das operações com preço inferior, ou considerar o volume total das operações,
neutralizando, nesta última hipótese, o pagamento a maior em algumas operações, com
antecipação a menor em outro conjunto de transações?
Sendo certo que a incidência do ICMS, in casu, dá-se por operação, depara-se lógico não
se compensarem, no momento do ajuste, as operações com valor superior ao da
substituição, para considerar-se apenas o volume das praticadas por preço inferior
àquele, pelo motivo, linhas atrás expendido, de que o risco de cobrar menos imposto o
Fisco assumiu ao criar e aplicar o regime.
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
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Além disso, faz crer que a lei complementar deu ao adjetivo “imediato” (= rápido,
instantâneo, cf. o Novo Dicionário Aurélio) outra significação (= que leva 90 dias).
Mudado o que deve ser mudado, verifica-se aqui o mesmo que ocorreu com o adjetivo
“provisório” da extinta CPMF, ou seja, ganhou outra acepção (= o que dura mais de 10
anos).
De enfatizar que, significando “imediato” o “momento que se segue”, não tem cabimento
exigir que o contribuinte formalize pedido de restituição (judicial ou administrativo).
Robustece isso, a um, o emprego do adjetivo “preferencial”, que expressa qualidade do
que se faz antes de qualquer outro interesse, ou seja, em primeiro lugar. E, a dois, o
fato de as legislações do ICMS determinarem o pronto estorno dos créditos, no caso de a
mercadoria ser alienada por importância inferior ao valor que serviu de base de cálculo
em sua entrada (cf. § 1.º do art. 37 da Lei estadual carioca 2.657/1996). Ora, fere a
lógica jurídica a adoção de dois pesos e duas medidas: montante a favor do Estado,
imediato estorno; valor pertinente a imposto pago a maior, o contribuinte credor
requerer, aguardar.
Agora, coisa pior se tem no art. 10, § 2.º, da LC 87/1996, quando, no caso de
indeferimento do pedido do contribuinte (obviamente após o prazo acima aludido),
concede-lhe o “prazo de quinze dias, da respectiva notificação, para proceder ao estorno
dos créditos lançados, também devidamente atualizados, com o pagamento dos
acréscimos legais cabíveis”.
Exsurge incoerente e injusto tal regramento, pois a apropriação creditícia efetuada pelo
contribuinte decorreu do fato de o Fisco não haver cumprido o prazo de 90 dias para
exame de seu pedido de restituição. Logo, a exigência de tais acréscimos legais deriva
da omissão da Fazenda e seria até admissível apenas no caso de o contribuinte
creditar-se de imediato, não após referida noventena.
Anote-se, logo, que as legislações estaduais contêm fórmula que permite equalizar o
ônus do ICMS retido pelo fabricante, entre o distribuidor e o varejista, o que se faz
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SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA NO ICMS: REFLEXÕES E
CRÍTICAS
Veem-se, daí, todos os cidadãos colocados na via da mais completa insegurança, já que,
numa interpretação literal (tão a gosto do Fisco), que não leve em conta o
imprescindível elemento subjetivo, até mesmo o consumidor final, adquirindo
mercadoria, pode concorrer para o não recolhimento do ICMS, tornando-se passível de
ser eleito substituto.
E se tem notícia que tal já ocorre na Argentina, onde se está apenando todo cidadão que
comprar mercadoria e não exigir nota fiscal, sob o pretexto de haver concorrido para a
prática infracional do vendedor (não emissão de documento fiscal e falta de pagamento
do imposto por ele devido).
2) Agora, se o autor for o substituído, que, por exemplo, venha a obter uma medida
liminar, sobressai desconfortável a posição do substituto, pois, se deixar de
operacionalizar a substituição, pode ser responsabilizado pelo fisco e, se continuar a
fazê-lo, poder-se-á imputar desobediência a ordem judicial. É certo, contudo, que tal
decisão só o atinge se nela constar expressa determinação no sentido de o substituto
deixar de aplicar o regime naquele caso (com a necessária intimação).
4. À GUISA DE CONCLUSÃO
(a) Em primeiro, não há negar que o regime de substituição tributária “para frente”
esbarra em certos princípios constitucionais, o que se manifesta na LC 87/1996, quando:
(i) delega às leis estaduais a competência para tratar da matéria (arts. 5.º e 6.º); (ii)
quando cria a substituição tributária de caráter punitivo (art. 5.º); (iii) quando admite,
como substituto, pessoa que não mantém qualquer relação com o fato tributado (art.
7.º); (iv) quando adota base de cálculo estimada para o recolhimento (art. 8.º); e (v)
quando não assegura, ao substituto, o imediato ressarcimento do ICMS pago (art. 10).
(b) Sem embargo, impõe-se a adoção de postura pragmática no sentido de ver, no § 7.º
do art. 150 da CF/1988, instrumentos que minimizam os vícios decorrentes da aplicação
prática do regime, mesmo porque nossos tribunais superiores inclinam-se por sua
constitucionalidade. É certíssimo, todavia, que a aplicação da substituição tributária (que
em si não é inconstitucional), só se pode dar em casos restritos e sujeitos a disciplina
rígida e cautelar excepcionais, única forma de estabelecer o necessário equilíbrio entre
os dois valores que a envolvem: a simplificação para a melhoria da arrecadação e o
arcabouço jurídico de proteção e garantia dos contribuintes.
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