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I. Textos
III. Escrita
I. Textos
A Cor da Letra desenvolve desde 1998 projetos situações de risco. Ficamos impressionados com
centrados na leitura e na literatura em várias e enorme capacidade deles de se exprimir e falar
regiões do Brasil. Forma pessoas muito de sua experiência de maneira direta, engajada e
diferentes nessa arte das relações, com base na autêntica, e não a partir de um discurso
mediação de leitura, a fim de que "a leitura de informativo, alheio, padronizado sobre os
histórias seja incorporada na rotina das supostos benefícios da leitura; e ficamos
instituições ou em diversos espaços da impressionados pela acuidade de suas
comunidade", com a esperança de que essas observações.
"ilhas de expressão, de transmissão e de criação
de cultura" se multipliquem. Esse centro de Como os adolescentes brasileiros, jovens de um
estudos trabalha com instituições que se dedicam bairro popular da grande Buenos Aires
a cuidar de crianças e jovens em situação de aprenderam a ler em voz alta, em grupo. “O
risco, ONGs, escolas públicas e privadas, centro de leitura, com a leitura compartilhada e
hospitais, bibliotecas, centros sociais e culturais, em voz alta, me ajudou a encontrar vida nas
em especial nos bairros urbanos pobres e no palavras, estar com os livros sem pudores”, diz
interior. uma jovem argentina. Em outras palavras, esses
objetos não podem constituir um monumento
No trabalho com adolescentes em uma favela, intimidador, enfadonho. Apropriar-se efetivamente
Patrícia Pereira Leite, psicanalista e integrante de de um texto pressupõe que a pessoa tenha tido
A Cor da Letra, relata que, ao cabo de de alguns contato com alguém — uma pessoa próxima para
meses, a própria possibilidade de expressão quem os livros são familiares, ou um professor,
linguística dos jovens, oral como escrita, um bibliotecário, um fomentador de leitura, um
desenvolveu-se significativamente, fato que amigo — que já fez com que contos, romances,
alguns linguistas também chegaram a confirmar. ensaios, poemas, palavras agrupadas de maneira
O psicolinguista Evelio Cabrejo-Parra e eu estética, inabitual, entrassem na sua própria
encontramos alguns deles. Tornaram-se experiência e que soube apresentar esses
mediadores de leitura em favelas, no campo, em objetos sem esquecer isso. Alguém que
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desconstruiu o monumento, fazendo com que sutil e lento no "esclarecimento dos sentimentos"
encontrasse uma voz singular. que as mediações, por meio da literatura e das
atividades associadas a ela, provocavam. Como
Os que impulsionaram a oficina destinada aos para esse velho guerrilheiro colombiano, que
jovens observaram uma reelaboração da história explica: "A gente tem a cabeça... Como dizer,
pessoal, um desenvolvimento das capacidades emaranhada, como se estivesse cheia de nós.
de expressão, mudanças de pontos de vista, o Pude organizar minhas idéias, pensar, tendo mais
poder transformador do relato, graças ao qual os calma, sem fazer as coisas às pressas, mas mais
adolescentes organizaram de maneira distinta as lentamente e aprendendo a ter sentimentos”.
suas experiências, freqüentemente com a ajuda
de imagens ou de um acontecimento no texto que Adaptado de PETIT, Michèle. A Arte de Ler, ou
não tinha aparentemente nenhuma relação com o como resistir às adversidades. São Paulo: Editora
que eles tinham vivido. Observaram o trabalho 34, 2009.
É o início do ano. Eles falharam, bem aqui. Nesta - Você vai ler este livro inteiro para nós... Em voz
escola, aqui. Na frente daquele professor. alta? - alguém pergunta ao ver o catatau de 600
páginas que o professor retirava da bolsa,
"Encalhado" é a palavra. Rejeitados na praia, enquanto se acomodava despreocupado na mesa
quando seus amigos, ontem mesmo, zarparam a da sala.
bordo de transatlânticos com destino às grandes
"carreiras". Destroços abandonados pela maré da - Não sei bem como você poderia me ouvir se eu
escola. lesse em voz baixa...
E, claro, não gostamos de ler. Muito vocabulário Piada discreta. Mas, a jovem bagunceira do
nos livros. Muitas páginas também. Para ser fundão não se deixou seduzir. Em um sussurro
honesto, muitos livros. Não, definitivamente não alto o suficiente para ser ouvido por todos, ela
gostamos de ler. Pelo menos é o que indica a solta:
unanimidade de dedos levantados quando o
professor faz a pergunta: - Já passamos da idade.
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- Se em dez minutos você achar que esse livro história. Não sabíamos que um romance deveria
ainda está abaixo da sua idade, levante o dedo e ser lido como um romance: primeiro para saciar
seguiremos em frente, ok? nossa sede de narrativa.
- Mas o que é isso? Que tipo de livro? - pergunta Para saciar esse desejo, há muito tempo
outro fiel sócio do clube do fundão, que era, aliás, contávamos com a pequena tela, que fazia seu
praticamente a sala inteira. trabalho diário, juntando desenhos, séries,
novelas e filmes de suspense em uma sequência
- Um romance. interminável de estereótipos intercambiáveis:
nossa ração diária de ficção.
- O que isso quer dizer?
Enchem a cabeça como se enche o estômago de
- É difícil dizer até que vocês leiam. Fim das pizza; saciam, mas não se apegam ao corpo.
negociações. Vamos lá. Digestão imediata. Você se sente tão só depois
como antes.
Estamos céticos, mas aceitamos. Talvez pela
estranheza da proposta, talvez pela oportunidade ***
da soneca que se anuncia.
Com a leitura pública do catatau do professor
- Capítulo um... Fantástico, nos deparamos com o autor: uma
história, certamente, uma bela história, divertida e
*** barroca, mas também uma voz, a voz do escritor
(mais tarde, em um ensaio que chamaremos de
Chamemos a experiência de um sucesso "estilo"). Uma história, sim; mas, sobretudo,
retumbante. Joãozinho, que só queria jogar contada por alguém, e lida ainda por outro
basquete e nunca havia sequer se aproximado de alguém.
um livro, perguntava em toda aula o que
aconteceria no capítulo seguinte. Mariazinha, a Certamente, a voz do professor ajudou nesta
bagunceira do fundão, começou a pedir para que reconciliação com a leitura: poupando-nos o
a sala ficasse em silêncio e parasse de fazer esforço de decodificar, desenhando claramente
perguntas, porque queria saber o final. Zezinho, o as situações, plantando os cenários, encarnando
soneca do fundão, já tinha uma lista de quais as personagens, sublinhando os temas,
seriam as próximas leituras da classe. acentuando as nuances, fazendo o seu trabalho
como um revelador fotográfico.
Mas, no fundo, gostávamos mesmo era da
expectativa de ver o professor Fantástico ler, de Só há uma condição para essa reconciliação com
novo, a cada aula. Gostávamos mesmo era da a leitura: não pedir nada em troca. Absolutamente
surpresa que ele nos traria depois que nada. Não construa nenhum baluarte de
terminássemos o catatau - porque, fatalmente, conhecimento preliminar em torno do livro. Não
seu repertório era maior e melhor que o nosso. E faça perguntas. Não dê o menor dever de casa.
passamos, da noite para o dia, a respeitá-lo. Não acrescente uma única palavra às páginas
lidas. Sem julgamento de valor, sem explicação
Nada milagroso aconteceu, no entanto. O mérito de vocabulário, sem análise de texto, sem
do professor é quase nulo nesta matéria. É que o indicação biográfica. Proíba-se absolutamente de
prazer da leitura estava muito próximo, prescrever um exercício do tipo "disserte sobre".
sequestrado nesses sótãos adolescentes por um
medo secreto: o - muito, muito antigo - medo de Presenteamos a leitura. Lemos e esperamos.
não entender. Não forçamos a curiosidade, nós a despertamos.
Tínhamos simplesmente esquecido o que era um Leia, leia e confie nos olhos que se abrem, nos
livro, o que ele tinha a oferecer. Esquecemos, por rostos que se alegram, na pergunta que surgirá e
exemplo, que primeiro um romance conta uma que levará a outra pergunta.
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foi Flaubert que ouvimos, pela voz, nessa
Se o pedagogo em mim se ofende por não bagunça enorme!
"apresentar o trabalho no seu contexto", devo
persuadir o dito pedagogo de que o único ***
contexto que importa, por enquanto, é o desta
aula. Falar sobre uma obra para adolescentes e pedir
que “dissertem sobre” ele pode ser muito útil, mas
Ler. Em voz alta. Sem pedir nada em troca. Sem não é um fim em si mesmo. O fim é a obra. O
pedir a assaltante “compreensão de leitura”. Sem livro em suas mãos. E o primeiro de seus direitos
exigir a pedante “interpretação de texto”. E, acima de leitura é o direito ao silêncio.
de tudo: ler em voz alta.
***
***
O homem constrói casas porque está vivo, mas
Mas não basta ler em voz alta. Devemos também escreve livros porque se sabe mortal. Ele mora
contar histórias, oferecer nossos tesouros, em grupo porque é gregário, mas lê porque se
desempacotá-los na praia da ignorância. Somos sabe sozinho. Essa leitura é uma companhia que
arquivo. Somos repertório. Temos, não substitui nenhuma outra, e que nenhuma
obrigatoriamente, mais quilômetros rodados que outra pode substituir. Ela não oferece nenhuma
nossos alunos: geralmente cronologicamente, explicação definitiva sobre seu destino, mas tece
mas, certamente, em termos de leituras. E uma rede de relações entre ele e a vida.
precisamos dar a ver o museu que abrigamos. Pequenas e secretas relações, que falam da
“Ouça, veja, e veja como é linda uma história!” felicidade paradoxal de viver, ao mesmo tempo
que lançam luz sobre o trágico absurdo na vida.
Não há melhor maneira de despertar o apetite do Nossas razões para ler são tão estranhas quanto
leitor do que farejar uma orgia de leitura. E a nossas razões para viver. E ninguém é obrigado a
bagunceira do fundão, a cética, diria no intervalo: nos responsabilizar por essa privacidade.
- Ele não apenas leu. Ele nos contou! Ele estava Os poucos adultos que me deram a ler sempre se
nos contando sobre Dom Quixote! Madame colocaram atrás dos livros. Tiveram o cuidado de
Bovary! Grandes pedaços de inteligência, mas não me perguntar o que eu entendia. Para eles, é
que ele nos serviu, como histórias. Sancho, na claro, falei de minhas leituras. Fizeram de mim
boca do professor Fantástico, tornou-se uma pele quem me tornei. Ou, a bem da verdade: eles me
de vida; e o Cavaleiro da Triste Face, um grande fizeram, por inteiro. Vivos ou mortos, dedico-lhes
feixe de ossos armado de certezas estas páginas.
dolorosamente dolorosas! Emma Bovary, como
ele nos disse, não era apenas uma idiota Adaptado de PENNAC, Daniel. Como um
atormentada pela "poeira das velhas salas de romance. São Paulo: Editora Rocco, 1999.
leitura", mas uma bolsa fenomenal de energia, e
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II. Língua portuguesa e texto
a. Gêneros textuais
Gênero textual é um modelo geral que orienta a escrita de textos. O gênero é definido pelos conteúdos
temáticos de que normalmente trata, pelo estilo de linguagem que emprega, e pela estrutura
(construção composicional).
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Textos instrutivos ou regras, cartas.
comunicativos dão orientações,
definem normas e acordos,
regras e condições de uso.
O texto expositivo mostra, dá a ver um tema. Pretende deixar à mostra, sem intervir. Almeja, quando muito,
mostrar relações já presentes no interior do assunto.
“Um país politicamente tenso. Parlamentares divididos entre o apoio incondicional e a revolta latente contra
um governo que muitos consideram populista, corrupto, espúrio e incapaz de manter as conquistas
recentes da nação. Um governante que perde popularidade entre os mais pobres, enquanto é sustentado
pelos mais ricos que dele dependem. Uma população volúvel, cuja opinião flutua ao sabor do discurso do
orador mais sedutor. Uma liderança despótica, desgastada e isolada, contra quem mesmo os antigos
apoiadores incondicionais já conspiram nos bastidores. Uma personalidade que não tolera má notícia nem
contestação, mas ainda resiste, em nome da República, a ceder à última tentação autoritária. Evidente de
que país se trata: trata-se de Roma, março de 44 a.C., últimos dias do governo de Julio César. E trata-se
também do Brasil, do atual presidente [...].”
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Estratégias de Exemplo
contextualização
Descrição do cenário em que Sabemos todos como as coisas andam hoje em dia com
se enquadra o tema respeito à autoridade. Qualquer que seja nossa atitude pessoal
face a este problema, é óbvio que, na vida pública, e política, a
autoridade ou não representa mais nada - pois a violência e o terror
exercidos pelos países totalitários evidentemente nada têm a ver
com autoridade -, ou, no máximo, desempenha um papel altamente
contestado. Isso, contudo, simplesmente significa, em essência, que
as pessoas não querem mais exigir ou confiar a ninguém o ato de
assumir a responsabilidade por tudo o mais, pois sempre que a
autoridade legítima existiu ela esteve associada com a
responsabilidade pelo curso das coisas no mundo.
Exposição de dados ou O professor-tradutor vive para criar uma obra com mais potência do
posição de autoridade que aquela que, no presente, encontra em si.
“Viver – isto significa, para nós, transformar continuamente em luz e
flama tudo o que somos, e também tudo o que nos atinge; não
podemos agir de outro modo”. (Nietzsche).
Exposição de algum consenso Com a perda da tradição, perdemos o fio que nos guiava com
segurança pelos vastos reinos do passado, mas esse fio também
era a corrente que prendia cada geração sucessiva a um aspecto
predeterminado do passado. Pode ser que só agora o passado se
abra para nós com um frescor inesperado e nos diga coisas que
ninguém ainda teve ouvidos para ouvir.
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Onde os argumentos são usados, a autoridade é deixada em
suspenso. Contra a ordem igualitária de persuasão está a ordem
autoritária, que é sempre hierárquica. Se a autoridade deve ser
definida, então, ela deve estar em contradição tanto com a coerção
pela força quanto com a persuasão por meio de argumentos.
Exposição de abordagens em !
diversas áreas do saber
Relato de situação concreta No trabalho com adolescentes em uma favela, Patrícia Pereira Leite,
psicanalista e integrante de A Cor da Letra, relata que, ao cabo de
de alguns meses, a própria possibilidade de expressão linguística
dos jovens, oral como escrita, desenvolveu-se significativamente,
fato que alguns linguistas também chegaram a confirmar. O
psicolinguista Evelio Cabrejo-Parra e eu encontramos alguns deles.
Tornaram-se mediadores de leitura em favelas, no campo, em
situações de risco. Ficamos impressionados com e enorme
capacidade deles de se exprimir e falar de sua experiência de
maneira direta, engajada e autêntica, e não a partir de um discurso
informativo, alheio, padronizado sobre os supostos benefícios da
leitura; e ficamos impressionados pela acuidade de suas
observações.
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2. As regras por grupo
L têxtil, fácil
I tênis, lápis
N hífen, pólen, éden
US vírus
R caráter, fêmur
UM álbum
X látex
à ímã, órfã
ÃO órfão
ON íon, próton
PS fórceps, bíceps
A Amapá,
E jacaré
O avó
EM (-ENS) refém, parabéns
Verbos ter, vir e Na 3ª pessoa do singular: acento ele/ela obtém, detém, mantém, intervém
derivados (manter, agudo. *mas: ele/ela tem, vem
obter, intervir, convir
etc.) Na 3ª do plural: acento eles/elas obtêm, detêm, mantêm, intervêm
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circunflexo.
O mais importante:
LINUS RUMXÃÃO ON PS +
ditongo
III. Escrita
Texto expositivo sobre duas a três leituras da infância ou adolescência (livros da escola ou não). Uma a
duas páginas, a mão. A ideia é apresentar o enredo desses dois ou três livros, a partir da lembrança ou no
máximo de pequena pesquisa, e compará-los.
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