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– Oi! Tudo bem! Você deve ser o Johnny? Meu nome é Ana Paula Cintra e sou
Psicóloga.
JOHNNY
– Bem doutora! Já vou logo avisando que eu não acredito na psicologia como
uma ciência e que uma mulher possa compreender os sentimentos de um
homem, embora eu reconheça que neste momento da minha existência
miserável você seja a única pessoa que pode me ajudar.
PSICOLOGA
JOHNNY
PSICOLOGA
– Tudo bem Johnny tente ficar calmo. A juíza solicitou uma avaliação, eu vou
fazer algumas perguntas e você vai poder dizer tudo o que aconteceu.
JOHNNY
PSICOLOGA
– O que?
JOHNNY
– A avaliação psicológica.
PSICOLOGA
JOHNNY
PSICOLOGA
– Certo, vou tentar fazer. Bem... Freud dizia que a análise é como uma partida
de xadrez, somente a abertura e o final podem ser sistematizados, o meio-jogo,
porém, não é possível prever o que vai acontecer. Vamos começar? Você já foi
diagnosticado com alguma doença mental alguma vez?
PSICOLOGA
JOHNNY
– Massoterapia serve?
PSICOLOGA
– Não.
JOHNNY
– Mas é quase a mesma coisa, sozinho com uma mulher estranha que cobra
uma hora e só dá cinquenta minutos!
PSICOLOGA
PSICOLOGA
JOHNNY
PSICOLOGA
JOHNNY
– Sou casado.
JOHNNY
PSICOLOGA
JOHNNY
– Sim, embora eu amasse minha mulher, ela não era o suficiente para mim,
por isso eu tinha que ter muitas mulheres, tantas quantas fossem possíveis,
porém, depois que eu fico uma ou duas vezes com uma mulher eu enjoo dela e
me afasto.
PSICOLOGA – Tudo bem, agora fale um pouco da sua infância, preciso saber
como seus pais te tratavam e como foi seu desenvolvimento.
JOHNNY
– Não gosto de falar sobre isso, mas parece que não tenho muita escolha,
certo?
PSICOLOGA
– Eu estou aqui para te ajudar Johnny e para isso eu preciso fazer essas
perguntas.
JOHNNY
– Minha história familiar não foi nada boa, quando nasci minha mãe sofreu de
depressão pós-parto e com isso me amamentou apenas uma ou duas vezes e
depois me rejeitou.
– Meus familiares (avôs e tios) insistiram para que ela cuidasse de mim e me
amamentasse, mas ela dizia ”Quero que essa praga morra!”.
– Mas o pior ainda estava por vir. Quando eu tinha cinco anos e alguns meses
minha mãe me abandonou, ela deixou meu pai e foi embora com outro homem.
PSICOLOGA
JOHNNY
– Meu pai também fazia muitas festas aos finais de semana na oficina e levava
os amigos e muitas mulheres, com nove anos eu já comecei a beber junto com
ele.
PSICOLOGA – Quer dizer que seu pai te ensinou a aplicar golpes e depois
com o dinheiro vocês faziam festas regadas a bebida e mulheres?
JOHNNY – Exatamente.
JOHNNY
– Quando eu fiz dezoito anos meu pai morreu e eu assumi a oficina com ajuda
de alguns amigos, foi a partir daí que eu comecei a usar cocaína e sedativos. É
um para acordar e o outro pra dormir entendeu?
PSICOLOGA
– O que significa para você uma relação de intimidade com uma mulher?
JOHNNY
PSICOLOGA
JOHNNY
JOHNNY
– O rapaz está triste porque foi abandonado pela mulher que ele tanto ama.
PSICOLOGA – E o que acontece depois?
JOHNNY
– Ele promete a si mesmo que nunca mais permitirá que alguém o faça sofrer.
E que deste dia em diante se vingará de todos que lhe trouxeram sofrimento.
PSICOLOGA
JOHNNY
– Não, porque toda vez que ele faz as pessoas sofrerem ele também sofre e
acaba por sentir-se muito sozinho e culpado.
PSICOLOGA
JOHNNY
PSICOLOGA – E depois?
JOHNNY
– Ela liga pra ele, mas ele não atende ao telefone, já que para ele a relação
não teve nenhum significado.
PSICOLOGA
PSICOLOGA
JOHNNY – Já acabou?
PSICOLOGA – Sim!
PSICOLOGA
PSICOLOGA
JOHNNY
– Espero que algum dia, quando isso tudo acabar eu possa ir morar nalgum
lugar legal e um dia você possa me visitar. Certamente você seria muito bem
recebida. E você não ia precisar ser tão séria. Você me faz lembrar alguém do
passado com o qual tenho sonhos recorrentes.
JOHNNY – Sonho que estou indo para uma balada no centro e no caminho
encontro Márcia, uma garota com quem tive um caso amoroso alguns anos
atrás. Márcia parece atormentada e maltrapilha, e demonstrava desejo de
reatar comigo. Sinto-me confuso, com sentimento de culpa, e tentado a ficar
com ela; E sinto-me atraído sexualmente como geralmente me sinto em
relação às mulheres que julgo serem infelizes ou sem nenhum atrativo.
PSICOLOGA – E como você a conheceu?
JOHNNY
PSICOLOGA
– Você disse que sente especial atração por mulheres que julga serem
infelizes e pouco atraentes, porque você acha que isso acontece?
JOHNNY – Acho que é por causa da minha primeira namorada, uma prima
baixinha de seios grandes com quem tive algumas brincadeiras sexuais na
infância.
PSICOLOGA
JOHNNY
– Sim! Pouco atraente e infeliz como todas as outras com o qual me relacionei.
Da mesma maneira como você também me parece pouco atraente e pouco
confiável, como eu lhe disse não acredito na psicologia como ciência e tão
pouco acredito que uma mulher possa compreender os sentimentos de um
homem.
PSICOLOGA
– Johnny você se lembra de algum evento na sua infância que possa ter
contribuído para este seu sentimento de que as mulheres não são confiáveis?
JOHNNY
– Não sei responder a isso, provavelmente sim, toda minha vida foi permeada
de decepções que se repetem uma pós-outra.
PSICOLOGA
– Mas você precisa entender que não é porque uma mulher (e neste caso sua
própria mãe) te decepcionou uma vez que todas as outras mulheres vão fazer
a mesma coisa.
– Pelo que você me contou sua mulher é leal a você e sua filha também, e eu
estou aqui com o proposito de te ajudar, não precisa generalizar e tratar mal a
todo mundo porque você teve uma experiência ruim no passado, ninguém é
igual a ninguém.
JOHNNY
JOHNNY
PSICOLOGA
– Não sei dizer Johnny, você vai precisar um pouco de paciência e confiar na
justiça...
FINAL: “O Julgamento” (Parte II).
Entra em cena, a juíza, o promotor de justiça, a advogada de defesa, os
jurados e o oficial de justiça, cada qual se assenta em local determinado.
OFICIAL DE JUSTIÇA
JUIZA
OFICIAL DE JUSTIÇA
JUIZA
OFICIAL DE JUSTIÇA
JUIZA
MEFISTÓTELES
– É evidente que esta petição foi feita pela defesa com o único objetivo de
postergar a eminente condenação do réu e eu espero que o júri se atente a
isto.
PSICOLOGA
– Não, o réu não possui nenhum tipo de comprometimento mais grave de seus
atributos psíquicos.
MEFISTÓTELES
– Então ele não é louco do modo como a defesa falsamente tentou imputa-lo?
MEFISTÓTELES
– Sendo assim já que tudo ficou esclarecido eu preciso fazer uma recepção no
inferno, então me entrega o que é meu que eu já vou indo embora...
– Senhor promotor, por favor, o senhor já foi avisado. O senhor sabe muito
bem que esta casa trabalha com ordem e existe todo um procedimento a ser
aplicado nestes casos. Mas fique tranquilo que o senhor não vai voltar para o
inferno de mãos vazias.
ADVOGADA
– Doutora Ana Paula a senhora disse que o acusado não possui nenhum tipo
de comprometimento mais grave das funções psicológicas, poderia esclarecer
melhor para nós o que isso significa?
PSICOLOGA
ADVOGADA
PSICOLOGA – Sim.
PSICOLOGA
ADVOGADA
PSICOLOGA
ADVOGADA
PSICOLOGA
ADVOGADA
PSICOLOGA
– Exatamente.
ADVOGADA
JUIZA
PSICOLOGA
ADVOGADA
– Você pode nos explicar como uma criança pode vir a desenvolver o
transtorno?
PSICOLOGA
– Ao nascer o ego do bebê não tem força o bastante. É intolerável para o bebê
quando percebe que perdeu o objeto bom internalizado, o seio do qual
depende.
ADVOGADA
PSICOLOGA
ADVOGADA
– interessante!
PSICOLOGA
– Lida com isso fantasiando que, na figura de sua prima – o protótipo de todos
os seus objetos sexuais posteriores –, ele possui o seio.
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
– E a que devo o desprazer da sua visita? Vai dizer que ainda está chateado
por que o rapaz foi absolvido?
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
– Eu ainda não entendi o que você veio fazer aqui, você não deveria estar
preocupado com os líderes religiosos?
MEFISTÓFELES
– Hoje em dia quem está ajudando as pessoas são os psicólogos. E olhe lá,
porque dentro da sua classe também tem aqueles que trabalham em favor da
perpetuação do status quo e o sistema dominante, Esses daí estão todos aqui
na minha mão!
– É por isso que eu vim aqui, vir propor um pacto e eu quero que você pense
muito bem a respeito disso Senhorita Ana Paula, eu quero que você saiba que
eu posso te dar tudo o que você quiser. Eu posso realizar todos os seus
sonhos, até mesmo os seus desejos mais secretos...
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES
– Como não sabe? Não é assim que funciona o sistema do mundo? Vocês
usam uns aos outros como mercadorias em benefício próprio, não é assim que
vocês fazem? E eu fico muito feliz com isso!
– Vamos fazer o seguinte, vou deixar meu cartão com você e você pensa a
respeito e eu volto numa outra hora para nós discutimos os detalhes do acordo,
Poder ser assim? (Entrega um cartão).
PSICÓLOGA
MEFISTÓFELES