Para vivermos o luto, a internet precisa ver as lágrimas.

Em tempos de redes sociais, a falta de luto imediato pode significar sua morte também.

Perder alguém importante em nossas vidas nunca será fácil de lidar. Nunca estaremos
preparados para o momento de dizer adeus. A dor, o sentimento vazio que nos preenche é algo
extremamente difícil e agoniante de se conviver.

Como superar? Como ocupar aquele espaço, como resignificar uma memória? As perguntas são
infindáveis e as respostas quase sempre insatisfatórias.

Dentro dos campos de estudo da Psicologia, existe um consenso de que o luto é vivido em
etapas:

1. Negação

2. Raiva

3. Depressão

4. Barganha

5. Aceitação

A viagem realizada até o 5° passo é longa, solitária e demanda muita força, esperança e tempo,
principalmente. O tempo, dentro de nossa ínfima passagem pela Terra é um grande aliado e
inimigo.

As vezes um, assim como o outro.

Como respeitar nosso tempo para digerir situações tão inesperadas quanto dolorosas quando o
mundo em que vivemos simplesmente ignora a natureza deste conceito?

Na madrugada do dia 28 de agosto de 2020, Chadwick Boseman nos deixou para viver
novamente (e eternamente) entre nossos antepassados. Em algum lugar, onde os campos
verdes nunca perdem sua luz, o amanhecer trouxe um Rei como boas novas.

O impacto desta perda é intragável em muitos sentidos, pois a precocidade da partida (apenas
43 anos), aliada ao significado que Boseman trouxe àpalavra representatividade para a
comunidade negra como um todo, deixa tudo muito mais amargo.

Tentar explicar para uma criança preta que o seu herói favorito, aquele que cruza os braços e
grita com orgulho de onde vem, que tem o mesmo cabelo, o mesmo formato de boca e
principalmente, a mesma cor de pele, não está mais entre nós, é de fato uma conversa que
nenhum pai jamais imaginou ter.

Não tão cedo.

E o que dizer sobre a familia de Chad, que suportou em silêncio ao lado de nosso Pantera toda
sua luta contra o câncer? Como imaginar a dor dos amigos mais próximos, que nem ao menos
sabiam desta batalha?

Há alguns anos estamos vivendo uma era onde a velocidade em que as informações correm o
mundo é assustadora. E lado a lado à este avanço, existe a necessidade de posicionamento,
cobrado por uma multidão insensível e invasora, escondida atrás de uma tela de smartphone ou
computador.

Algumas pessoas assimilam a perda e possuem palavras de conforto para compartilhar de forma
imediata, enquanto outras se rendem às lagrimas.

Michael B Jordan faz parte do grupo em que o silêncio se torna o único aliado nesta batalha
contra o luto. Não houveram videos, textos ou qualquer tipo de declarações em suas redes
sociais.

Apenas silêncio.

Para os que se dizem fãs e inundaram o instagram do ator com mensagens acusatórias, esta
atitude tem apenas um significado: desrespeito.

É incrível o quanto a insensibilidade e excassez de empatia tornaram-se armas nas mãos de

pessoas incrivelmente vazias. A subversão de valores é tão comum e casual nos tempos atuais
que não existe remorso por tomar partidos tão vis como este.

Por experiência própria, posso afirmar que ao perder alguém tão querido e de forma tão
repentina é uma experiência que não apenas te destrói, mas também corrói. As lembranças se
tornam doloridas, as imagens ficam borradas e o coração se transforma num pequeno grão de
areia solitário, em meio à um mar de ondas escuras.

Quando se vive algo assim, você deseja poucas coisas. Talvez a última, na pequena lista
existente, seja falar.

Ao finalizar as gravações de Pantera Negra (2017), Michael B Jordan passou por uma rotina
intensa de terapia para se livrar do fardo de ter interpretado Erik Killmonger, antogonista da
trama retratada. A experiência de se isolar dentro da mente do personagem e viver toda sua
solidão, dor e angústia tiveram um custo extremamente alto ao ator, que na vida real já vive a
realidade de um negro em diáspora africana.

Image for post

Ter vivenciado algo desta dimensão ao lado de Chad, o qual Jordan classificou como mentor e
irmão mais velho, torna ainda mais difícil esta perda.

Mas para o nerd de camiseta de herói amarrotada e dedos ávidos atrás significado para uma
existência medíocre, o que importa é o post no Instagram.

Em seu tempo, houve pronunciamento e palavras ao amigo. Lindas e tristes palavras que
demonstraram a dimensão e o legado que o portador do manto, nosso Rei de Wakanda, deixou
para ele e para o mundo.

Em seu tempo, Jordan iniciou seu luto.

O tempo irá ajudar a todos que necessitam dele para superar os infortunios impostos pela vida.
Caso ele não tenha te atingido, seja decente, respeite os espaços individuais.

Respeite o tempo de cada um, pois um dia talvez seja o seu que esteja em risco e nessa hora,
você vai querer pouquíssimas coisas.

Menos falar.