Você está na página 1de 4

jusbrasil.com.

br
16 de Abril de 2020

Existe estupro virtual?

Por mais estranha que a pergunta do título possa parecer, busco


questionar, com este breve artigo, se há ou não necessidade de
contato físico entre o agressor e a vítima para que se configure o
crime de estupro.

Antes de (tentarmos) responder à questão, é de bom tom revisarmos,


brevemente, o que a vem a ser, para fins de Direito Penal, o crime em
análise.

Tal delito encontra previsão no art. 213 do Código Penal.

/
Consiste em: constranger (forçar, obrigar) alguém (qualquer pessoa,
desde que maior de 14 anos e com necessário discernimento),
mediante violência (uso de força física) ou grave ameaça (capaz de
provocar fundado medo), a ter conjunção carnal (introdução do pênis
na cópula vaginal) ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso (atos sexuais que não sejam conjunção carnal, a
exemplo do sexo oral, sexo anal, masturbação etc.).

A pena, inicialmente, é de reclusão, de 6 a 10 anos.

Perceba que o delito em análise pressupõe a realização de atos sexuais


forçados, ou seja, contra a vontade da vítima, que se vê intimidada,
violentada.

Assim, é possível falarmos em estupro virtual (à distância), ou tal


prática criminosa pressupõe o contato físico?

O tema ainda é pouco debatido.

Se fizermos um “recorte” do art. 213 do CP, identificaremos os


seguintes pontos, devidamente grifados: Constranger alguém/
mediante violência ou grave ameaça/ a ter conjunção carnal/ ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.

Nesses casos, o agente obriga a vítima a praticar (em si mesma) o


ato libidinoso ou a obriga a permitir que um terceiro pratique nela tal
ato.

Basta pensarmos no exemplo do sujeito que, por meio de uma chamada


de vídeo no WhatsApp, força a vítima a masturbar-se, pois, do
contrário, ele divulgará fotos íntimas dela. Em tal hipótese,
perfeitamente possível é a caracterização do crime de estupro, mesmo
sem contato físico entre o agente e a vítima.

/
Isso ocorre graças às alterações promovidas pela Lei nº 12.015/2009,
que unificou a figura do estupro (art. 213) com o antigo crime de
atentado violento ao pudor (art. 214, revogado pela referida lei). Ambos
passaram a constituir um único e mesmo crime: estupro.

Em resumo, em razão do breve exposto, a conclusão à qual podemos


chegar é pela possibilidade de ocorrência do estupro à distância,
virtualmente.

Mas, atenção! Havendo tal prática, não há previsão de um delito


autônomo no Código Penal denominado “estupro virtual”. Nesse caso,
a conduta será amoldada à previsão do artigo 213, já esboçado
anteriormente.

__________________________

Fonte:

Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial, volume


III / Rogério Greco. – 16. ed. Niterói, RJ: Impetus, 2019.

Imagem: Notícias da Hora

🔶🔶

Se gostou do texto, recomende para que outras pessoas do


Jusbrasil possam ler!

Compartilhe em suas redes sociais!

Instagram: https://www.instagram.com/victor_emiidio/?hl=pt-br

Disponível em: https://emidiovictor.jusbrasil.com.br/artigos/832035050/existe-estupro-virtual

/
/

Você também pode gostar