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Observações sobre Mateus 24

e 25

Por Jader Silveira


Introdução de Davi Caldas
Os textos de Mateus 24 e 25 tem sido muitas vezes lidos, ao longo da
história, de maneira sensacionalista e até mesmo distante do sentido
original que Jesus quisera dar a ele. No texto a seguir, do amigo pastor
Jader Silveira, vamos fazer uma leitura mais atenta desses capítulos, a fim
de extrair dele os ensinamentos que Cristo tinha para seus discípulos e
como eles se aplicam a nós hoje.

Parte 1: Mateus 24:3-29


Os discípulos pedem para Jesus descrever o “sinal” que precede sua
vinda. No primeiro momento Jesus não responde essa pergunta, mas
antes ele descreve eventos que não são sinais da sua vinda, são apenas o
princípio das dores. Jesus quer que os discípulos estejam calmos e sejam
pacientes. Quando parece que tudo irá ruir, eles serão tentados a reagir a
esses eventos, pensando que agora é o fim, mas Jesus diz que não é o fim.

Preste atenção nesses pessoas que dizem que o apocalipse está próximo,
as temperaturas estão subindo, aquela pessoa que te manda um vídeo de
uma teoria da conspiração, nova ordem mundial etc. Esses mensageiros
frenéticos são falsos profetas, simplesmente porque apontam para falsos
sinais sobre a vinda de Cristo.

Por causa dos falsos profetas é que o amor esfriará. Pense bem, quantas
vezes você já ouviu sobre o fim do mundo e começou a ficar descrente a
cada vez que essa “profecia” falhava? Resultado do ensinamento de falsos
profetas.

A perseguição também, nunca foi uma grande ameaça para o cristianismo.


Cristãos passaram por inúmeras perseguições desde o começo de sua
história e apesar disso o movimento crescia cada vez mais. O que destrói
a igreja é o inimigo interno, os falsos mestre e falsos cristos que enganam
muitos, encorajando a anomia e esfriando o amor dos santos. Esses falsos
profetas, muitas vezes se apresentam dizendo que tem uma novidade, um
assunto que ninguém tinha pensado e que não querem que você saiba,
cuidado! Não seja como Mateus diz: “onde estiver o cadáver, aí se
ajuntarão os abutres” (v. 28). Porque perder seu tempo com carniça
quando pode se alimentar do pão da vida?

Falsos profetas, guerras, conflitos e fomes irão ocorrer antes da volta de


Jesus e com intensidade, mas não são os sinais do fim (24:6), não fiquem
agitados ou impaciente quanto a isso, porque é apenas o princípio das
dores.
Porque esses acontecimentos não são sinais do fim? Em parte, porque
esses sinais não são distintos o suficiente para ser o sinal de qualquer
coisa. Por exemplo, nos anos 1804 a 1815, quando aconteceram as
guerras napoleônicas, cerca de 4 milhões de pessoas morreram, Primeira
e Segunda guerra mundial juntas, pelo menos 80 milhões pessoas
morreram. Só a gripe espanhola, matou 50 milhões de pessoas no mundo.

Essas coisas podem aumentar antes que a real crise venha, porém, são
regulares demais para serem sinais. Tomar isso como sinais causa
descrença e esfria o amor das pessoas.

Mas a razão mais importante de que esses acontecimentos não são sinais
é porque eles são uma má interpretação de como a história funciona. A
história desse mundo não é dirigida pelo poder, a história desse mundo é
dirigida pela soberania de Deus, e é sobre esta soberania que o povo de
Deus no mundo todo deve responder.

Quando focamos nossa atenção em guerras, reino contra reino ou quando


achamos que se tal pessoa subir ao poder será o fim porque determinará
uma política mundial, caímos nas garras da idolatria do poder.

Nossa percepção do mundo é moldada pelo que lemos nos noticiários


(Rádio, Tv e internet). Essas fontes de informações sobre os
acontecimentos do mundo são obcecadas por debates políticos e eventos
que moldam os poderes do mundo. As eleições presidenciais são um
exemplo. Mas pense no maior acontecimento que esse mundo presenciou:
o nascimento, vida, morte e a ressurreição de Jesus. Nenhum tipo de
media pensou em captar esses eventos, porque todos eles, esquerda ou
direita estão presos na idolatria do poder.
Precisamos nos afastar das nossas paixões políticas, da idolatria do poder,
que vê a distribuição dos poderes políticos como chave para o futuro do
mundo.

Parte 2: Mateus 24:30-44 e 25:1-


Em Mateus 24:30 finalmente é respondida a pergunta dos discípulos
sobre qual seria esse sinal. Mas aqui outra questão se levanta: esse é um
sinal tardio demais para se preparar. Se o sinal da segunda vinda é a
própria vinda, não há tempo para preparo. Afinal, o propósito de um sinal
é você se preparar para o acontecimento que ele aponta.

Depois dessa desconstrução que Jesus fez com o que os discípulos


entendiam sobre “sinais”, Jesus vai ensinar os discípulos sobre como se
preparar a Sua volta.

A Parábola da Figueira
A parábola da Figueira (Mt 24:32-44) reforça mais uma vez que não
interessa ao ser humano saber o Dia e a Hora da vinda do Filho do
Homem (v. 36). Há a ênfase que o dia “está próximo, as PORTAS” (v. 33);
Ninguém sabe o “DIA e HORA (v. 36) e por isso, há o clamor “VIGIAI” (v.
42). Esses três palavras desempenharão um papel esclarecedor nas
histórias do servo, das virgens e dos talentos que vem a seguir,
mostrando de fato como se preparar para a Segunda Vinda e o que vigiar.

A Parábola do bom servo e do mau servo


A seguir, Jesus conta a parábola do servo fiel e do servo mau: depois que o
“Senhor” confia o cuidado de todos os empregados a um servo, ele se
ausenta. Então, no v. 48 é dito que o servo encarregado acha que seu
“Senhor” vai demorar para voltar. Esse pensamento de demora, faz com
que o servo encarregado revele seu verdadeiro caráter e ele passa a
espancar e maltratar as pessoas sobre seus cuidados.

No verso 50 é revelada a identidade do “Senhor” que vem em “DIA e


HORA” que o servo não sabe e fará justiça. O contexto da parábola da
Figueira nos diz que esse Senhor é o Filho do Homem.

Você que durante muito tempo vem esperando a volta de Jesus. Essa
“longa” espera, o seu grande tempo de vida cristã, tem feito você amar
mais as pessoas, cuidar, prover o sustento ou tem feito você se tornar
indiferente e até mesmo maltratar?

Essa primeira história Jesus ensina que devemos vigiar a maneira como
tratamos as pessoas diante da aparente demora da Vinda de Jesus.

A parábola das Virgens


Essa parábola possui o mesmo princípio, porém um outro aspecto
relacional de nossas vidas é enfatizado. Em 25:5, era esperado que o
noivo chegasse cedo, mas ele “demorou”. Você já pensou em algum
momento da sua vida em que Jesus voltaria em tal época? Qual foi a sua
reação após essa decepção? A história das virgens nos ensina que
devemos vigiar o nosso relacionamento com Cristo. Como essa aparente
demora tem afetado o seu relacionamento com Ele? Usando a frase de um
amigo:” “Não devemos esperar pelos sinais do tempo do fim, mas sim por
Aquele que os sinais apontam”. Portanto, vigie (25:13) o seu
relacionamento com Jesus, porque não importa o que esteja acontecendo
no mundo, na política ou até mesmo se seu país está vivendo um grande
conflito. As circunstâncias não devem interferir no seu relacionamento
amoroso com Deus e com o próximo.

A Parábola dos Talentos


Na parábola dos Talentos novamente acontece uma demora do “Senhor”
(v.19). Isso revela o verdadeiro relacionamento que aqueles servos
tiveram com o dinheiro. Como a aparente demora na vinda de Jesus tem
afetado o seu relacionamento com todos os bens que Deus te deu?

Relacionamento com o próximo, com Deus e com as coisas. É isso que


você tem que vigiar, porque é através dessa dinâmica no seu dia a dia que
você revela que tipo de cristão você é. Se você deixa pra ser “cristão” só
quando “os eventos finais” começarem a acontecer, a Bíblia tem um nome
pra isso: “virgens néscias”. Tentar desenvolver um relacionamento com
Cristo na última hora é loucura! Não vai funcionar.

O tempo está “próximo, as portas” (24:33) não pela data da volta de Jesus,
mas porque nossas vidas são muito curtas comparada com a história
desse mundo.

Parte 3: Mateus 25:31-46


Em muitas Bíblias o subtítulo de Mateus 25: 31 é “O Grande Julgamento”,
mas facilmente poderia ser trocado por uma única pergunta que Deus
fará: “você amou como eu amei?” Quero deixar bem claro que Deus nos
ama mais do que a Sua própria vida, foi por isso que Ele morreu por mim
e por você. É isso que Deus espera de seus seguidores. Aqui, o bom servo
é separado do mau servo, as prudentes são separadas das néscias e os
que se empenham na obra com tudo o que Deus dá, esses serão separados
daqueles que preferem enterrar o pouco que receberam, numa tentativa
de autopreservação.

“Tive sede e me deram de beber. Era estrangeiro e me convidaram para a


sua casa. Estava nu e me vestiram. Estava doente e cuidaram de mim.
Estava na prisão e me visitaram.” (v. 35, 36). Aqui vemos as
características de um bom servo, que por sempre vigiar seu
relacionamento independente do que esteja acontecendo no mundo, fez
tudo o que pode para cuidar daquelas pessoas que foram confiadas a ele.
Alguém que utilizou seus talentos para prover casa, comida, roupa e o
mais importante, um relacionamento com Cristo.

“Então os justos responderão: ‘Senhor, quando foi…?” (v. 37). Como que
alguém pode receber Cristo em sua casa, dar água, alimentar, vestir e
visitar mas não saber que aquele era Cristo? (v. 40). Esses justos não
sabem porque possuem um relacionamento semelhante as virgens
prudentes. É somente através de um relacionamento amoroso com Deus
que você pode olhar para o sedento e oferecer água, ao faminto dar
comida, ao nu dar uma roupa, ao estrangeiro oferecer descanso, ao
doente e preso fazer uma visita.

Quem ama a Cristo não escolhe quem amar nessa Terra. Como todos são
tratados como se fosse o próprio Cristo, há a surpresa quando Cristo se
diz representado pelos mais esquecidos da comunidade. É normal para
um justo tratar bem os desafortunados.

Por outro lado, há um grupo que realizou as mesmas obras. Esse grupo é
aquele que frequenta igreja, tem cargo, veste a roupa certa, se comporta
de maneira certa e fala do jeito certo, mas só são assim quando acham
que estão fazendo algo diretamente para Cristo. Se suas obras ficam no
anonimato, se não há prestígio e reconhecimento isso não interessa para
eles. Seu relacionamento com Cristo provém de interesse, são como as
virgens que foram comprar azeite de última hora, só querem entrar e sair
na foto, não há interesse nenhum no “Noivo”. Esses são alguns dos
motivos que levaram essas pessoas a se recusarem a ajudar os mais
necessitados (v.45).
Mateus 24 pode ser melhor compreendido quando lido junto com Mateus
25. Veja que em nenhum momento o texto falou de Nova Ordem Mundial,
Ecumenismo, partidos políticos, jesuítas ou qualquer outra questão que
você esteja acostumado a ouvir como “sinais” do fim. Porque isso não
interessa no preparo da vida cristã. Ou você acha que sabe mais do que
Cristo?

O evangelho de João menciona as únicas três características que ajudam


qualquer pessoa a identificar um verdadeiro discípulo de Jesus:

O discípulo “permanece na palavra” – 8:31

O discípulo “ama o próximo” – 13:35

O discípulo “produz fruto” – 15:8

Faz sentido que a maneira como Cristo restaura a vida de uma pessoa
através do processo de discipulado, seja o mesmo processo que prepara a
pessoa para a volta de Jesus. Não há espaço para conspirações na agenda
de Cristo. Deus não está interessado que você saiba das estratégias de
Satanás para enganar e manipular você. O próprio profeta Daniel viu a
história desse mundo até seu fim e o que saiu da sua boca foi:

“Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade, porque dele são a


sabedoria e a força; E ele muda os tempos e as estações; ele remove os reis e
estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e conhecimento aos
entendidos. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em
trevas, e com ele mora a luz. Ó Deus de meus pais, eu te dou graças e te
louvo, porque me deste sabedoria e força” (Dn 2:20-23).
Tudo o que precisamos para sobreviver no tempo do fim é beber da
palavra de Deus e deixá-lo nos tornar cada vez mais semelhantes a Ele.
Deixe sua vida ser dirigida pela soberania de Deus e não pelo próximo
presidente e você será verdadeiramente livre.
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