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Primeiramente, gostaria de introduzir a autora com um mapa visual:
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coloca em suspensão o ser mulher. Escrever foi uma ação muito
crucial para sua existência - ela se apropriou desta ferramenta para
situar-se com o mundo; ela mesma não se denominava filósofa, mas
escritora. Acima de tudo, ela se dizia escritora existencialista - (...)
toda sua produção literária, política- ela é pautada, ela é guiada por
certos valores e valores principalmente o da liberdade e o da
autenticidade. (...) esses valores (...) tem como ponto de partida
sempre procurar o sentido da ação e do engajamento no mundo na
própria existência, no mundo, sem recorrer a nenhum elemento
exterior ao mundo: ‘transcendente’, ‘inumano’, ‘supra-humano’,
‘suprassensível’, ‘para-além-do-mundo’. (...). Ou seja, eu só posso
me pronunciar no âmbito da própria existência.” (Entrevista de Izilda
Johanson com Maíra Clini: Fenô na Rede).
Sobre esta abordagem moral, existencialista de Beauvoir - estudada
por Izilda Johanson - decorrerei esta reflexão, de modo a relacioná-la
com o tema existencial e absurdo de Samuel Beckett. Vale ressaltar
que esta relação começa com a proximidade entre o contexto histórico
de Simone de Beauvoir e Samuel Beckett, ambos filhos de um mundo
pós guerra, onde a razão se esgotou, se exibiu em um desfile e ao
chegar na coxia acertou um tiro na própria cabeça – lato sensu.
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cerne da existência – como manifesta muito bem o personagem
inominável de Samuel Beckett: Que tudo fique escuro, que tudo fique
claro, que tudo permaneça cinza, é o cinza que se impõe, para
começar, sendo o que é, podendo o que pode, fingir de claro e de
escuro, podendo se esvaziar deste, daquele, para não ser um mais que
o outro. Mas talvez eu teça sobre o cinzo, no cinza, ilusões
(BECKETT, 1953, p. 41). A relação do ser com o cinza, por mais que
possa ter potencial estéril (que possa coagular pensamentos vazios) ela
é uma relação de reconhecimento de um absoluto inominável
intrínseco a ele mesmo. Este reconhecimento, por mais que exale um
cheiro detestável, é também o próprio princípio ativo da força da
pessoa que nele habita.
Não há escolha quanto à existência: o ser existe. A escolha reside
nas condições de existência -se e como viver- e nisto ele é
inteiramente livre. Segundo Beauvoir, a dinâmica presente no
reconhecimento desta escolha possibilita abandonar o sonho de uma
objetividade inumana (JOHANSON, 2018, p. 4); ver que Godot
(BECKETT, 1952) nunca chegará, que Godot é uma invenção – e isto
é libertador. A partir do reconhecimento desta ficção externa, abstrata,
o ser tem a possibilidade de recusar a espera e situar-se em uma
pluralidade de seres concretos, singulares, que se projetam em
direção ao mundo, em meio ao mundo (JOHANSON, 2018, p. 8).
Nesta possibilidade de viver em situação, de conferir sentidos ao
mundo - o sexo é um marco crucial e inegável.
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Le sexe et l’effroi, 1994
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Simone e sua melhor amiga Zaza
Vale lembrar, que temos uma figura nacional que come a ética
existencialista de Beauvoir e Sartre, e expele em carne viva nos palcos
do teatro: José Celso.
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