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Fenomenologia III - Fabíola Freire - PSICO-MA3

Maria Victoria B. V Abdalla – RA00209263

Reflexão sobre as aulas de fenomenologia em 1/2020 a partir das


aulas com a Fabíola Freire, da leitura do artigo Moral Da
Ambiguidade, Liberdade e Libertação: Filosofia e Feminismo em
Simone de Beauvoir de Izilda Johanson e das obras O Inominável
e Esperando Godot de Samuel Beckett.

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Primeiramente, gostaria de introduzir a autora com um mapa visual:

Como podemos ver acima, Simone de Beauvoir foi uma mulher


com posicionamento crítico, apesar de crescer circundada por um
modo impessoal de ser. Foi ensinada desde cedo a ser uma moça bem
comportada e apesar disto, escreve um livro - O Segundo Sexo- que

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coloca em suspensão o ser mulher. Escrever foi uma ação muito
crucial para sua existência - ela se apropriou desta ferramenta para
situar-se com o mundo; ela mesma não se denominava filósofa, mas
escritora. Acima de tudo, ela se dizia escritora existencialista - (...)
toda sua produção literária, política- ela é pautada, ela é guiada por
certos valores e valores principalmente o da liberdade e o da
autenticidade. (...) esses valores (...) tem como ponto de partida
sempre procurar o sentido da ação e do engajamento no mundo na
própria existência, no mundo, sem recorrer a nenhum elemento
exterior ao mundo: ‘transcendente’, ‘inumano’, ‘supra-humano’,
‘suprassensível’, ‘para-além-do-mundo’. (...). Ou seja, eu só posso
me pronunciar no âmbito da própria existência.” (Entrevista de Izilda
Johanson com Maíra Clini: Fenô na Rede).
Sobre esta abordagem moral, existencialista de Beauvoir - estudada
por Izilda Johanson - decorrerei esta reflexão, de modo a relacioná-la
com o tema existencial e absurdo de Samuel Beckett. Vale ressaltar
que esta relação começa com a proximidade entre o contexto histórico
de Simone de Beauvoir e Samuel Beckett, ambos filhos de um mundo
pós guerra, onde a razão se esgotou, se exibiu em um desfile e ao
chegar na coxia acertou um tiro na própria cabeça – lato sensu.

Chamberlain, Ribbentrop e Hitler em Munique, Alemanha

Primeiramente, segundo a visão de Beauvoir, o mundo moral é


aquele onde a vontade humana constrói - e a fonte daquilo que pode
ser construído, a fonte na qual escorre a vontade, é a liberdade. O
sentido desta fonte/liberdade é a ambiguidade; a ambiguidade é o

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cerne da existência – como manifesta muito bem o personagem
inominável de Samuel Beckett: Que tudo fique escuro, que tudo fique
claro, que tudo permaneça cinza, é o cinza que se impõe, para
começar, sendo o que é, podendo o que pode, fingir de claro e de
escuro, podendo se esvaziar deste, daquele, para não ser um mais que
o outro. Mas talvez eu teça sobre o cinzo, no cinza, ilusões
(BECKETT, 1953, p. 41). A relação do ser com o cinza, por mais que
possa ter potencial estéril (que possa coagular pensamentos vazios) ela
é uma relação de reconhecimento de um absoluto inominável
intrínseco a ele mesmo. Este reconhecimento, por mais que exale um
cheiro detestável, é também o próprio princípio ativo da força da
pessoa que nele habita.
Não há escolha quanto à existência: o ser existe. A escolha reside
nas condições de existência -se e como viver- e nisto ele é
inteiramente livre. Segundo Beauvoir, a dinâmica presente no
reconhecimento desta escolha possibilita abandonar o sonho de uma
objetividade inumana (JOHANSON, 2018, p. 4); ver que Godot
(BECKETT, 1952) nunca chegará, que Godot é uma invenção – e isto
é libertador. A partir do reconhecimento desta ficção externa, abstrata,
o ser tem a possibilidade de recusar a espera e situar-se em uma
pluralidade de seres concretos, singulares, que se projetam em
direção ao mundo, em meio ao mundo (JOHANSON, 2018, p. 8).
Nesta possibilidade de viver em situação, de conferir sentidos ao
mundo - o sexo é um marco crucial e inegável.

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Le sexe et l’effroi, 1994

O sexo feminino, abordado por Beauvoir como segundo sexo,


convive envolto de fatos e mitos que oprimem uma mediação singular
entre querer e poder ser no mundo. Homens julgam ser natural uma
série de atributos femininos, tornando o ser em mulher. Este ser – ente
provido tanto de transcendência quanto de imanência – intitulado
mulher e caracterizado por uma rede de seres do primeiro sexo, ou
seja, do sexo que está no mundo, no primeiro plano do cenário – se
torna aquilo que está em segundo plano, o objeto decorativo da sala,
ou melhor: o segundo sexo. Como disse Beauvoir, Nenhuma essência
precede a existência . Não existe uma essência do ser mulher, mas
este ser tornou-se tal em meio a existência. Esta existência, marcada
por um caráter opressivo, expele não só o modo como a mulher é
percebida pelos outros, mas o modo como ela concebe ela mesma.
Para uma transformação desta concepção opressora do feminino,
em direção a libertação, Beauvoir ressalta a importância da via
coletiva. Como traz Johanson: é preciso que o espírito, como todas as
suas riquezas se projete num céu vazio que lhe cabe povoar; mas se
mil laços tênues o amarram à terra, desfaz-se seu impulso. [...]
Enquanto [a mulher] ainda tiver que lutar para se tornar um ser
humano, não lhe é possível ser uma criadora (BEAUVOIR, 2016, p.
539).
O projeto existencialista abordado por Beauvoir é neste sentido
ético; a escritora manifestou tanto na sua obra como na sua vida a
encarnação deste projeto. Ela convivia com mulheres, fenomenólogos
e mantinha um relacionamento assexuado com Jean-Paul Sartre.

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Simone e sua melhor amiga Zaza

Vale lembrar, que temos uma figura nacional que come a ética
existencialista de Beauvoir e Sartre, e expele em carne viva nos palcos
do teatro: José Celso.

Para finalizar, gostaria de me autoavaliar neste semestre de


Fenomenologia. Acredito que meu engajamento com as aulas foi
baixo devido as escolhas que tenho tomado em meu percurso pessoal.
Por mais que o método fenomenológico tenha uma linguagem na qual
dança meu amor, minha presença foi de carácter passivo e não
mantive minhas leituras em dia. Acredito que meu desempenho para
este semestre, de 0 a 10, seja 8.

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