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Língua Portuguesa:

Estudos Gramaticais

EDUCAÇÃO SUPERIOR
Modalidade Semipresencial
Carlos Augusto Andrade

Língua
Portuguesa:
Estudos
Gramaticais

São Paulo
2017
Sistema de Bibliotecas do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional
PRODUÇÃO EDITORIAL - CRUZEIRO DO SUL EDUCACIONAL. CRUZEIRO DO SUL VIRTUAL

A553l
Andrade, Carlos Augusto.
Língua portuguesa: estudos gramaticais. / Carlos Augusto Andrade.
São Paulo: Cruzeiro do Sul Educacional. Campus Virtual, 2017.
80 p.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-8456-186-5

1. Linguística. 2. Gramática. I. Cruzeiro do Sul Educacional. Campus


Virtual. II. Título.
CDD 415

Pró-Reitoria de Educação a Distância: Prof. Dr. Carlos Fernando de Araujo Jr.

Autoria: Carlos Augusto Andrade

Revisão textual: Selma Aparecida Cesarin

2017 © Cruzeiro do Sul Educacional. Cruzeiro do Sul Virtual.


www.cruzeirodosulvirtual.com.br | Tel: (11) 3385-3009
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e detentor dos direitos autorais.
Plano de Aula

Língua Portuguesa:
Estudos Gramaticais

SUMÁRIO
9 Unidade I – Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais

25 Unidade II – Classes de Palavras

41 Unidade III – Classes de Palavras

59 Unidade IV – Concordância Nominal e Concordância Verbal

69 Unidade V – Regência Nominal e Regência Verbal


PLANO DE
AULA

Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem Conserve seu
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua material e local de
formação acadêmica e atuação profissional, siga estudos sempre
algumas recomendações básicas: organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
Assim: de se alimentar
e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da hidratado.
sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário
fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.

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Objetivos de aprendizagem
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
Unidade I

» Nesta Unidade, iniciaremos o estudo observando algumas questões relativas ao conceito de Gramática e de Variação
Linguística, detendo-nos mais sobre um dos aspectos da morfologia da Língua – as classes de palavras/vocábulos,
inclusive, refletindo sobre as suas classificações e flexões.
» Estudaremos duas classes de palavras: substantivo e artigo.

Classes de Palavras
Unidade II

» Dando continuidade aos estudos sobre as classes de palavras, estudaremos, nesta Unidade, os adjetivos, numerais e
pronomes, bem como alguns desdobramentos das relações que eles produzem.
Unidade III

Classes de Palavras
» Agora, estudaremos os verbos, os advérbios, as preposições, as conjunções e as interjeições.

Concordância Nominal e Concordância Verbal


Unidade IV

» Estudaremos, nesta Unidade, a Sintaxe de Concordância, observando como ela ocorre em relação aos nomes e
aos verbos.
» A Unidade observará a Gramática da variante padrão.

Regência Nominal e Regência Verbal


Unidade V

» Estudaremos, nesta Unidade, a Sintaxe de Regência, observando como ela ocorre em relação aos nomes e aos verbos.
» A Unidade observará a Gramática padrão.

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I
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Contextualização
Há muitas dúvidas por parte de professores e de estudantes dos motivos para o
estudo de Gramática na prática escolar. Elas surgem devido ao próprio desconheci-
mento do “que” é Gramática e de “como” ela deva ser abordada na escola.

Durante o curso de Letras, observaremos uma variedade de relações entre as


diversas disciplinas e os estudos de Gramática da Língua Portuguesa. Para tanto,
nesta disciplina, faremos uma breve passagem por alguns princípios da Gramática
Normativa, deixando claro que não estudaremos todas as questões referentes à ela.
O que pretendemos é refletir sobre alguns dos aspectos relacionados à morfologia
da Língua, ligados às classes de palavras a alguns aspectos da sintaxe. Optamos
por uma abordagem que possibilite ao futuro professor conhecimento teórico que
possa dar suporte às suas futuras atividades profissionais em relação a questões
gramáticas, lembrando de que em outras disciplinas os conteúdos aqui desenvolvi-
dos serão utilizados para atividades mais práticas.

Nesta Unidade, além de revermos o que é Gramática e Variação Linguística,


estudaremos sobre um dos conteúdos da Morfologia, mais especificadamente, as
classes de palavras/vocábulos que compõem uma parte da estrutura da Língua.

Para trabalharmos com mais eficácia e eficiência, dividimos o estudo das classes
em três grupos: 1. Substantivos e Artigos, 2. Adjetivos, Numerais e Pronomes; 3.
Verbos, Advérbios, Preposições, Conjunções e Interjeições. O objeto de estudo
desta Unidade serão as do primeiro grupo.

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O que é Gramática
É muito bom saber que passaremos alguns momentos juntos estudando questões
relativas a alguns estudos gramaticais.

Começaremos pensando no próprio termo “Gramática”. Ele é de origem


grega (γραµµατική, grammatiké) e, posteriormente, adquire sua forma latina
(grammatica), como pode ser observado nos dicionários de Língua Portuguesa. Na
forma grega, origina-se do termo “grámma”, que quer dizer “letra”. É importante
entendermos o sentido estrito da palavra “Gramática” como o sistema de regras
de uma Língua em funcionamento. Esse sentido foi se ampliando com o tempo.

Hoje, falamos de alguns tipos de Gramática:

Descritiva – Preocupa-se com o funcionamento da Língua em determinado


contexto específico. Ou seja, ao estudar uma expressão do tipo “nós fumo
hoje na praia”, a preocupação da Gramática Descritiva é com a descrição das
questões que permitiram a elaboração desse enunciado no contexto em que
ele foi produzido;

Gramática Normativa – Preocupa-se com a prescrição de regras, baseadas


na construção de dialetos de prestígio de uma determinada Língua. Ou seja, na
maioria das Línguas, buscam-se em seus escritores de prestígio as estruturas
linguísticas que foram utilizadas por seus falantes para exemplificar qual seria
a forma “correta” para se dizer ou escrever. Como ela apresenta o dialeto de
prestígio da sociedade, ela é a que se ensina na Escola, com a finalidade de
proporcionar aos alunos a possibilidade de conhecimento de uma norma que
evite a discriminação pelo uso de outras em contextos diversificados;

Gramática Histórica – O objetivo de estudo dessa Gramática é estudar as


origens e a evolução de determinadas Línguas.

Como nosso objetivo é refletir sobre a Gramática Normativa, é fundamental


que a compreendamos em seu status de norma culta, padrão e exemplar, pois ela
trabalha com as estruturas linguísticas que socialmente são consideradas exemplares
e prestigiadas, garantido, como dizem os gramáticos, a existência de um padrão
linguístico de certa forma uniforme, no qual se registre a produção cultural de uma
sociedade. Portanto, conhecer essa norma seria uma maneira de ter acesso a esse
nível de produção, evitando, assim, discriminações linguísticas.

Para aprofundarmos um pouco sobre esse conhecimento da norma, é impor-


tante entendê-lo no âmbito de suas relações com as variações linguísticas. É o que
veremos a seguir.

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Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Variações Linguísticas
Antes de falarmos sobre variação linguística, é fundamental entendermos o que
seria norma, variação e registro. Há uma tendência escolar em observar apenas o que
se tem chamado de tradição normativo-prescritiva da Língua. Recorremos a Coseriu
(1978), que define sistema como um conjunto de possibilidades de uma Língua, ou
seja, toda forma de expressão que pode ser utilizada por um falante ou uma determina-
da comunidade. Para ele, o sistema é o mais alto nível de abstração da Língua. O autor,
quando trata da Língua, define-a por um conjunto infinito de possíveis realizações lin-
guísticas, desenvolvidas pelas diferentes possibilidades de relações, por meio das unida-
des constantes do sistema, sendo ela a realização individual e concreta de cada falante.
Já observando o conceito de norma, Coseriu diz que ela seria algo mais arbitrá-
rio, que estaria entre o abstrato do sistema e a concretude da fala, sendo apenas
uma das possibilidades oferecidas pelo sistema e que implicaria a repetição de cer-
tos modelos anteriormente apresentados.
É importante explicitarmos que norma para esse autor não seria a prescritiva das
gramáticas, mas sim, o que é normal e regular nos usos. Aquilo que é utilizado com
regularidade pelos falantes, ou seja, a norma se impõe ao falante (no uso) e limita a
liberdade de expressão desse falante. Para Coseriu (1978), o falante, em sua ativi-
dade linguística, poderia conhecer ou não a norma. Ao não conhecê-la, guiar-se-ia
pelo sistema, podendo estar ou não de acordo com a norma, para aquele contexto.
A Gramática Normativa, chamada de normativo-prescritiva, está vinculada ao
“certo” e ao “errado”, pois tudo o que se distancia do modelo proposto pela norma
de prestígio seria qualificado como “erro”.
No entanto, é bom salientarmos que existem outras variantes que são instrumen-
tos de comunicação e não devem ser consideradas menores ou maiores. São formas
de comunicação de menor prestígio social, mas, são utilizadas em diversos contextos
e podem ser descritas assim, como a chamada variante padrão, portanto, caberá ao
futuro professor respeitar as variações que seus alunos apresentam em sala de aula,
buscando mostrar que existe uma variante que é prestigiada e que, conforme bem
aponta Bechara (2006), todos devem tornar-se “poliglotas em sua própria língua”,
sabendo articular as variedades em seus diversos contextos de produção e utilizar a
norma padrão, para não serem desprestigiados e discriminados nos convívios sociais
que a exijam; função primeira do ensino de Língua Portuguesa.
Agora, vamos refletir um pouco sobre as variações linguísticas.

Alguns Tipos de Variações Linguísticas


Há vários estudos que apresentam algumas classificações das variações linguís-
ticas, no entanto, para esse momento, gostaríamos de apresentar os realizados
por Travaglia (1997), que nos apresenta a seguinte configuração:

Dialetos: variações que ocorrem em função das pessoas que utilizam a


Língua. Ela pode ocorrer em seis dimensões: territorial, social, de idade, de
sexo, de geração e de função profissional;

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Registros: variedades que ocorrem em função do uso que se faz da Língua,
conforme a situação em que o usuário e o interlocutor estão envolvidos. As
variações de registro podem ocorrer em três dimensões: grau de formalidade
(formal/informal), modo (modalidade escrita ou falada) e sintonia (de acordo
com a tecnicidade, a cortesia).
Bem, pensando assim, podemos dizer que as pessoas interagem em seus
contextos e que, dependendo das necessidades comunicativas, procurarão tornar-
se inteligíveis, buscando a melhor forma de interagir.
Entre jovens, por exemplo, o verbo “ficar” não tem hoje o mesmo significado
que apresentava no meu tempo. Quando dizíamos “Ficarei com você hoje”, era
simplesmente uma forma de marcar nossa presença em algum lugar, sem nenhuma
conotação de manter algum tipo de relacionamento. Hoje, no entanto, ao dizer
“fiquei com determinada pessoa”, o jovem está afirmando que manteve com ela
um relacionamento amoroso ou até sexual.
É comum reconhecermos alguns dialetos regionais. Ao ouvirmos um carioca,
um mineiro ou um gaúcho, conseguimos perceber com clareza pelos falares a
origem linguística deles.
Dessa forma, começamos a entender que, mesmo estudando a variante de
prestígio, não podemos deixar de lado os estudos relacionados a outras variantes,
que serão, inclusive, objeto de estudo de outras disciplinas.
A partir dessa pequena introdução, vamos começar sistematicamente com
nossos estudos sobre a variante de prestígio, ressaltando que procuraremos, de
certa forma, mostrar a teoria alicerçada em exemplos práticos.

Gramática Normativa
Para compreendermos melhor em que lugar da Gramática estão relacionadas as
“classes de palavras”, observemos o esquema a seguir, que apresenta uma divisão
dos estudos da Gramática Normativa apontada pela maioria dos estudiosos.

Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images

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Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I

Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Fonte: Quino/Clarin

Quanto ao estudo da estrutura da Língua, a Gramática é composta por três


partes: Fonologia, Morfologia e Sintaxe. Os estudos de semântica realizados,
no entanto, não estão diretamente ligados à estrutura e sim, aos contextos de
comunicação, pois ela se preocupa com a significação.

A seguir, apresentamos os conceitos de cada uma delas, observando o que está


disposto no Dicionário de Linguística de Dubois e outros (2007).

Fonologia – Cabe a ela o estudo sonoro dos idiomas. Ao estudá-lo, ela


se preocupa em saber como os fones (sons) se organizam na Língua. As
menores unidades da Língua, chamadas de fonemas, são traços distintivos
que estão armazenados na memória e representam as unidades sonoras.
Estudos sobre os fonemas, os encontros consonantais e vocálicos, a sílaba,
a ortoépia (ocupa-se da correta produção da palavra) e a prosódia (ocupa-
se do estudo da correta posição da sílaba tônica) serão objeto de estudo de
disciplina própria durante o Curso;
Morfologia – De acordo com a tradição gramatical, é o estudo das formas,
flexões e derivações das palavras. Estuda, portanto, a estrutura e a formação
das palavras, as classes de palavras e as classificações, flexões e derivações.
Nesta disciplina, iremos nos ocupar em fazer uma revisão dos estudos das
classes de palavras, realizados em níveis de escolarização anteriores. Como
apontado em nosso objetivo, observaremos as classes em uso, mediante
os exemplos que serão apresentados. A intenção é, também, promover a
percepção dos sentidos que elas podem adquirir em contextos diferenciados
de produção frásica, oracional ou mesmo textual;
Sintaxe – É o estudo das funções que as palavras possuem nas frases e
orações, observando as relações sintagmáticas. Estuda a diferença entre
frases e orações, os termos constituintes das orações (essenciais, integrantes
e acessórios), as relações dos períodos compostos, a sintaxe de concordância,
de regência e de colocação. Serão objetos de estudo desta Disciplina as
sintaxes de concordância, regência e colocação pronominal;

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Semântica – É observada como o meio pelo qual se representam os
significados dos enunciados. A teoria semântica preocupa-se em explicar as
regras gerais que condicionam a interpretação.

Após essas breves considerações, reflitamos no estudo das classes de palavras.

A Gramática apresenta dez classes: substantivo, artigo, adjetivo, numeral,


pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. Como dissemos,
nesta Unidade, iremos nos preocupar com algumas das classes variáveis, mais
precisamente, com o substantivo e o adjetivo.

Só como nota, gostaríamos de assinalar que alguns estudos apontam para


apenas duas classes fundamentais: a dos nomes e a dos verbos, opostas apenas
pelos paradigmas flexionais. Enquanto os primeiros estariam numa visão estática
da realidade, os segundos traduziriam representações mais dinâmicas (MONTEIRO,
1991, p. 212).

Retomamos, mais uma vez, para que fique bem claro, que o estudo realizado
nesta Disciplina tem por base a Gramática Normativa da Língua Portuguesa,
buscando algumas reflexões em seus usos, mas não nos aprofundaremos em
estudos linguísticos. Tais reflexões serão apontadas, durante o curso de Letras, por
outras Disciplinas, criando, assim, um processo interdisciplinar de construção do
conhecimento na área.

Classes de Palavras
As palavras e os vocábulos da Língua estão divididos em classes, como já
dissemos, em dez. Trataremos aqui dos substantivos e dos artigos, apresentando
seus conceitos e flexões correspondentes.

Vamos a elas!

Os Substantivos
Todos os seres e as coisas, reais ou imaginários, são nominados. O substantivo
é a classe de palavra responsável por essa nominalização.

Quando dizemos: “Carlos está na sala de jantar”, percebemos rapidamente que


há nesse enunciado duas palavras que apontam para algo que existe no mundo, uma
delas animada e a outra inanimada. Temos, então, Carlos e sala. Essas palavras
são chamadas de substantivos. A expressão “de jantar” relaciona-se à sala, e “está”
aponta para o lugar no qual Carlos se encontra.

Tendo em vista a nominalização que fazemos das pessoas e das coisas que estão
no mundo, podemos classificar os chamados substantivos em alguns tipos que
veremos a seguir.

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Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Classificação dos Substantivos
Os substantivos são classificados por meio de uma dicotomia. Observemos.

Próprio ou Comum
Os substantivos próprios nomeiam um ser em particular; por essa razão serão
grafados com letra maiúscula. Vejamos os exemplos:

Ex.: Madalena foi sempre fiel ao esposo.

São Paulo é um estado do Brasil.

Os comuns nomeiam seres de uma mesma espécie. Observemos os exemplos:

Ex.: O carro quebrou novamente.

Mário amava as andorinhas que pousavam na casa dele.

Entre os substantivos comuns, temos alguns que indicam um agrupamento desses


seres de mesma espécie. São chamados de coletivos. A seguir, alguns exemplos.

Ex.: Para atravessar o deserto, alugou uma cáfila (cáfila = agrupamento de camelos).

Passeando pela floresta, Mariolano foi atacado por uma alcateia (alcateia =
agrupamento de lobos).

Simples ou Compostos
Podemos observar, quanto à estrutura (formação), que os substantivos formados
por apenas uma palavra (um radical /um morfema lexical) serão classificados como
simples. Se houver mais de um, serão compostos.

Ex.: Felisberto comprou um livro (simples).

Coreolano foi à biblioteca e deixou seus materiais no guarda-livro


(composto).

Nota: radical ou morfema lexical é a parte da estrutura da palavra na qual está o


núcleo da significação. Todas as outras partes que a ele são anexadas chamamos de
morfemas gramaticas (desinências, vogais temáticas...), que modificam o sentido
da palavra primitiva, por meio de um processo derivacional. Essas questões serão
aprofundadas em Disciplina específica de morfologia da Língua. Exemplos: casa,
casinha, casebre, casarão.

Concreto ou Abstrato
Os substantivos concretos nomeiam seres reais ou imaginários que independem
de outro ser para existirem de forma contínua. São diferentes dos abstratos, que
sempre se tornarão observáveis devido à presença de um ser que os materializa.
Os abstratos estão ligados mais aos sentimentos, às qualidades, às ações derivadas
de verbos, aos estados e às sensações.

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Ex.: A fada Sininho encontrou Peter Pan. Escolher um personagem do imaginá-
rio foi proposital para que tenhamos a clareza de que, mesmo fazendo parte
da ficção, personagens presentes no imaginário coletivo passam a existir a
partir da obra criada pelo autor, portanto são substantivos concretos, como
casa, garfo, rua, Deus, ar etc.

Ex.: O trabalho é essencial para a vida (trabalho é substantivo derivado do verbo


trabalhar e, como dissemos, depende do ser para se tornar perceptível),
portanto, é abstrato.

Nota: importante esquecermos o conceito proliferado de que substantivo concreto


seria aquele que eu posso pegar, e abstrato não. Como faríamos com “Deus” ou
“ar” e tantos outros que eu não posso pegar e são classificados como concretos?

Primitivo ou Derivado
Chamamos de substantivos primitivos aqueles que não sofreram modificações
na estrutura, e de derivados aqueles que foram construídos a partir de uma inclusão
de morfema na sua formação primitiva. Vamos aos exemplos.

Ex.: João de Oliveira trocou todos os vidros da casa dele. Foi à vidraçaria para
escolher os novos.

É possível classificar um determinado substantivo observando os pares


apresentados. Por exemplo:
• Marcos – substantivo próprio, simples, concreto e primitivo;
• loja – substantivo comum, simples, concreto, primitivo;
• lojista – substantivo comum, simples, concreto, derivado;
• amor – substantivo comum, simples, abstrato, derivado;
• lanche – substantivo comum, simples, concreto, derivado;
• guarda-chuva – substantivo comum, composto, concreto, primitivo.

Flexão dos Substantivos


Quanto à flexão, podemos dizer que os substantivos podem variar em gênero e
número. Até bem pouco tempo, as gramáticas apresentavam a variação de grau,
que hoje fica por conta do processo de formação de palavras por meio da derivação
sufixal. Estudaremos essa questão na Disciplina do Curso que tratará da Morfologia
da Língua, posteriormente.

A flexão de gênero, como aponta Azeredo (2008) é uma categoria gramatical


inerente ao substantivo e que serve para distribuí-lo em dois grupos: masculino e
feminino. Lembremos de que, geralmente, o gênero é uma característica marcada
pelo uso. Não devemos confundir gênero com “sexo”. O primeiro identifica a
categoria de qualquer substantivo animado ou inanimado, como, por exemplo,
“cadeira” é uma palavra feminina, pois dizemos “a” cadeira. O segundo é uma
marca biológica dos animais em geral (racionais ou irracionais).

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Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Quanto ao número, observemos que é uma categoria que marca uma oposição
entre quantidades. Para os substantivos há dois grupos: “singular”, que marca
apenas “um” ser, e “plural”, que marcaria “mais de um” ser.

Ex.: “Um homem recebe uma carta. O envelope tem o brasão do ministério”.
(BARUC, 2009).

Uns homens recebem umas cartas. Os envelopes têm os brasões dos


ministérios.

Observemos, a seguir, algumas considerações sobre essas categorias do substantivo.

Ex.: As meninas brincaram o dia inteiro.

É fácil identificar que há dois substantivos no enunciado “meninas” e “dia”.


Podemos variar a palavra “meninas”. Se quiséssemos uma variação de gênero
(masculino e feminino), poderíamos dizer “meninos”. Se a variação fosse de
número (singular e plural), teríamos “menina”.

No entanto, como estamos falando em um enunciado, a variação do subs-


tantivo modificaria as relações dele com os outros elementos da oração em que
está inserido. Assim:
1. Gênero – As meninas brincaram o dia inteiro (Os meninos brincaram o
dia inteiro);
2. Número – As meninas brincaram o dia inteiro (A menina brincou o
dia inteiro).

Cabe apontarmos desde agora que uma determinada classe de palavra se


constitui na relação que estabelece no contexto em que está sendo usada. Ela é
definida por um critério semântico. Observe:

Maria menina foi à feira com a avó. Cresceu, virou Maria mulher. Tanto a
palavra menina, quanto a palavra mulher, observadas isoladamente, nomeiam seres
que existem no mundo. No entanto, essas palavras, no contexto apresentado,
tornaram-se caracterizadoras das palavras que mantêm relação direta com elas, no
caso, Maria. Observadas neste contexto... deixam de ser substantivos e adquirem
valor de adjetivos.

Nota: é sempre no contexto de produção que as palavras devem ser observadas,


pois nele, elas podem adquirir sentidos que modificam a própria classificação. Esse
novo sentido, na perspectiva apontada, relaciona-se ao processo de derivação
imprópria que será estudado na Disciplina que trata de Morfologia da Língua.

Outro aspecto a ser considerado quando falamos em gênero do substantivo diz


respeito à mudança ou não da estrutura da palavra para representar o masculino e
o feminino. Dizemos que o substantivo é uniforme quando ele mantém a mesma
estrutura para o masculino e para o feminino e biforme quando há mudança.

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Ex.: Mefibosete apresentou aos amigos a mãe e o pai. Os substantivos destacados
são de gêneros diferentes, como são grafados de formas diferentes, são
chamados de biformes. Isso também acontece com pequenas variações,
como no caso de menino/menina; aluno/aluna.

Nos casos dos substantivos uniformes (aqueles que possuem a mesma forma
para o masculino e o feminino), como no exemplo: A estudante chegou / O
estudante chegou, há uma classificação especial para eles:
a) Epicenos – São os substantivos que nomeiam animais de um só gênero e,
para tanto, usamos os termos “macho e fêmea” para indicar o gênero.

Ex.: cobra macho/cobra fêmea; jacaré macho/jacaré fêmea.


b) Comum de dois – substantivos usados para os demais seres que possuam
a mesma forma para o masculino e para o feminino, podendo-se observar a
diferença pela indicação do “artigo”.

Ex.: a estudante/o estudante.


c) Sobrecomum – Esses substantivos têm a mesma forma para os dois gêneros.
Não há como reconhecê-los mediante a colocação de artigo. O gênero só
poderá ser observado no contexto oracional.

Ex.: vítima/indivíduo. A vítima foi assaltada perto da Rua Cipriano Mendes. Ao


dar o depoimento, Aurora disse que não conseguiu ver o rosto do bandido.
Como podemos observar no exemplo, só sabemos que o substantivo vítima é do
gênero feminino, pela relação que estabelece com o substantivo Aurora.
Ao tratarmos de “número do substantivo”, já dissemos que ele varia em singular
e plural. A formação do plural dos compostos depende da classificação das palavras
que o formam e da relação que elas fazem entre si.
Se o substantivo composto for grafado sem hífen, seu plural será realizado como
se ele fosse um substantivo simples.

Ex.: aguardente – aguardentes.

Se forem separados por hífen, devemos obedecer algumas condições que serão
apresentadas no quadro a seguir:

Flexionam-se os dois Flexionam-se apenas o primeiro Flexionam-se apenas o segundo


elementos quando formados elemento quando formados elemento quando formados
1. substantivo + substantivo 1. verbo + substantivo 1. adjetivo + adjetivo
Ex. couve-flor / couves-flores Ex. abre-lata / abre-latas Ex. doce-amargo / doce-amargos
2. substantivo + adjetivo 2. Nomes compostos por locução. 2. substantivo – adjetivo apocopado
Ex. amor-perfeito / amores-perfeitos Ex. água-de-cheiro / águas-de-cheiro Ex. Grã-cruz – Grã-cruzes

3. numeral + substantivo 3. substantivo + substantivo 3. Primeiro elemento é uma


(o segundo determina o primeiro) vocábulo invariável
Ex. segunda-feira / segundas-feiras Ex. caneta-tinteiro / canetas-tinteiro Ex. bem-amado / bem-amados
4. verbo + verbo 4. Compostos formados por
Ex. pisca-pisca / piscas-piscas onomatopéias
(alguns gramáticas apontam para a Ex. reco-reco – reco-recos
variação apenas do segundo elemento)

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Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Alguns substantivos compostos são invariáveis quando:
1. Formados de verbo + substantivo pluralizado:

Ex.: conta-gotas.
2. Os indicativos de cores:

Ex.: azul-marinho.

Observação: quando formado para exprimir duas cores diferentes, o segundo


elemento varia. Ex.: rubro-negro/rubro-negros
3. Formados por verbos antônimos:

Ex.: ganha-perde.
4. Locuções substantivas:

Ex.: Maria-vai-com-as-outras; Chove-não-molha.


5. Formado de dois advérbios e de verbo + advérbio:

Ex.: bota-fora.

Nota: apócope - é um dos metaplasmos por queda ou supressão de fonemas


a que as palavras podem estar sujeitas à medida que uma dada Língua se modifica
no tempo.

Podemos, ainda, dizer que o substantivo exerce papéis diferentes na oração.


Ele pode ser sujeito, objeto, complemento nominal, agente da passiva. Esses
conteúdos serão estudados na Disciplina Língua Portuguesa: Sintaxe. No entanto,
como exemplificação, vejamos:
1. O carro estava muito caro. O substantivo “carro”, nessa oração, exerce a
função de sujeito;
2. Ele vendeu o carro. Nesse exemplo, a mesma palavra “carro” exerce a
função de objeto direto;
3. O carro foi vendido por ele. Aqui carro é sujeito paciente, pois a oração está
na voz passiva.

Como podemos notar, o mesmo substantivo exerceu várias funções sintáticas


no enunciado. Sujeito no primeiro exemplo, objeto direto no segundo e agente da
passiva no terceiro. É possível, ainda, ver o mesmo substantivo empregado para
formar uma outra palavra, como no exemplo a seguir:

Ex.: O carro de boi passou pela Igreja há pouco. O substantivo “carro” uniu-se
à expressão “de boi”, tornando a expressão com um único valor semântico
indicativo de uma espécie de transporte específica.

Dessa forma, as possibilidades de criação e formação de palavras, objeto de


estudo da Morfologia, são imensas. Calma!!! Não entraremos nisso aqui. vocês
terão uma Disciplina só para tratar desses casos.

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Para finalizar, depois de tanta classificação e possíveis flexões, não se assustem,
mas se fôssemos classificar o substantivo, em todas elas, teríamos:

Alcateia – substantivo comum (coletivo), simples, concreto, primitivo, feminino, singular.

Devemos nos lembrar de que ler a bibliografia apontada é fundamental para o


aprofundamento dos estudos do substantivo.

Continuando, vamos estudar os artigos.

Os Artigos
Observemos o texto que segue:
Fúlvio é um homem calmo. Um homem tranquilo, preparado para dizer
oi, tchau, foi um prazer. As pessoas sempre gostam dele. Sempre
apreciam o bom corte de seu cabelo. Sempre elogiam a lavanda em
suas roupas. Sempre disfarçam quando se perdem olhando para seus
olhos incrivelmente castanhos (BRITES, p. 12).

Neste excerto do texto Território de Brites, ocorre, como podemos observar nas
partes assinaladas, substantivos precedidos de artigos. Esses vocábulos que sempre
acompanham o substantivo, chamados de artigos, servem para particularizar ou
generalizar o sentido desses substantivos.

Nesse jogo de particularização (artigos definidos) e de generalização (artigos


indefinidos), tais vocábulos concordam com os substantivos a que se referem em
gênero e número.

Ex.: Um homem tranquilo.

As pessoas sempre gostam dele.

Assim como os substantivos, os artigos também possuem uma classificação.


Vamos a ela.

Classificação
O quadro a seguir apresenta a classificação dos artigos:

Definidos Determinam os substantivos de forma particular. No contexto, indicam que o


a, o, as, os
substantivo a que se refere é conhecido.
Indefinidos Ao contrário dos definidos, não deixam claro o substantivo a que se referem. um, uma, uns, umas

Observemos, nos exemplos, essas considerações:

Ex.: Conversei com o médico sobre seu problema.

21
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
O artigo “o”, que precede o substantivo “médico”, faz com que o leitor do
enunciado subentenda que aquele médico explicitado é conhecido, por isso usamos
o artigo definido. No entanto, se tivéssemos:

Ex.: Conversarei com um médico sobre seu problema. Nesse caso, o médico
ainda não é conhecido, mas o sujeito da oração entrará em contato com
ele, possivelmente um especialista no caso, para tratar do assunto, por isso
usamos um artigo indefinido.

No primeiro exemplo, temos artigo que define o substantivo, e no segundo um


que não o define.

Vamos agora à flexão dos artigos.

Flexão dos Artigos


Quanto à flexão, eles variam em gênero e número, em conformidade com o
substantivo a que se referem.

Masculino Feminino
o, os, um, uns a, as, uma, umas

Singular Plural
a, o, um, uma as, os, uns, umas

Assim, podemos afirmar que a relação do artigo com o substantivo está numa
relação de dependência, na qual o substantivo é o termo regente e o artigo é o
termo regido.

Bem, chegamos ao fim desta primeira Unidade. Esperamos que as questões


apontadas estejam claras. Qualquer dúvida, basta entrar em contato conosco.

Lembremos dos exercícios propostos. Eles fazem parte do processo avaliativo e


foram preparados para fortalecer nossa aprendizagem de forma bem prática.

Grande abraço e até a próxima Unidade.

22
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Nova Gramática do Português Contemporâneo
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley.
Caráter Pronominal do Artigo em Português
MONTEIRO, José Lemos.

Vídeos
#2 - O que é gramática
https://youtu.be/HtxEdwR8zUk
O Que é Gramática?
https://youtu.be/gefBet9jlW4

Leitura
A Variação Linguística e a Norma Culta
https://goo.gl/MNbp5b

23
Língua Portuguesa: Estudos Gramaticais
UNIDADE
I
Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.

BARUC, B. O xadrez das mariposas. In. CARIELLO, O. (org.). Alterego. São


Paulo: Terracota, 2009. p. 95-9.

BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12.ed. São Paulo:


Ática, 2006.

BRITES, C. Território. In. CARIELLO, O. (org.). Alterego. São Paulo: Terracota,


2009. p. 11-3.

________. Moderna Gramática Brasileira. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

COSERIU, E. Teoria del Lenguaje y lingüística general. Madri: Editorial Gredos,


S.A., 1978.

DUBOIS, J. e outros. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2007.

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991.

TRAVAGLIA, L. C.. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cortez, 1997.

SACONNI, L. A. Nossa Gramática. 30.ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

24
II
Classes de Palavras

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Contextualização
Dando prosseguimento ao nosso Curso, passaremos, neste momento, a estudar
três outras classes de palavras: os adjetivos, os numerais e os pronomes.

Ressaltamos, novamente, que não pretendemos aprofundar o estudo de tais


classes no nível morfossintático; faremos apenas algumas considerações, apontando
a classificação e a flexão dessas palavras.

A intenção é que possamos reconhecer cada uma delas, com a finalidade de


observar os usos em enunciados concretos. Vamos nos deter um pouco mais nos
pronomes, por se tratar de uma classe com mais variação, um pouco diferente
daquelas que vimos até o momento.

Esperamos que os conteúdos aqui apresentados contribuam para as suas


reflexões em relação às questões gramaticais trabalhadas. Qualquer dúvida, não se
esqueçam, estaremos sempre à disposição para esclarecê-las.

26
Os Adjetivos
Dando continuidade ao estudo das classes de palavras, passaremos agora ao “ad-
jetivo”. Observemos o poema abaixo, especialmente as palavras que estão grifadas.
Degradação

Presentificada pelo
Escárnio das mentes acomodadas,
Nesse atoleiro dos indigentes,
as almas esquecidas vivem apagadas,
desprezadas,
invisíveis.

Todos olham,
mas ninguém vê.
Visão apagada
pela degradação
consentida.
(ANDRADE, 2009, p.23)

Como podemos ver, há uma relação entre as palavras negritadas e as subli-


nhadas. Essa relação pode ser chamada de caracterizadora, ou seja, as palavras
sublinhadas caracterizam as negritadas e com elas concordam em gênero e núme-
ro. Quando uma palavra caracteriza outra, é chamada de adjetivo. No poema de
Andrade, temos:

Substantivos (nomeiam) Adjetivos (caracterizam)


Degradação Presentificada
Mentes Acomodadas
Esquecidas, apagadas,
Almas
desperezadas, invisíveis
Degradação Consentida

Encontramos em alguns livros didáticos e em algumas gramáticas pedagógicas o


conceito de que o adjetivo marca uma “qualidade” de um determinado substantivo.
Apesar de tal conceito ser empregado, semanticamente não é adequado, pois seu
valor sugere que o que estiver caracterizando um substantivo seja uma qualidade.
Nem todos os adjetivos representam qualidades, como em belos olhos, por
exemplo. Basta observar os exemplos a seguir: água quente, animal morto, lápis
azul e homem traficante, entre outros. As palavras quente, morto, azul e traficante
não representam nenhuma qualidade dos substantivos a que se referem. Por isso,
preferimos dizer que o adjetivo caracteriza o substantivo.

27
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Assim como os substantivos e os artigos, os adjetivos também possuem
classificação e flexão. Vamos estudá-las a partir de agora.

Classificação dos Adjetivos


Podemos classificar os adjetivos em duas categorias: restritivos ou explicativos.

Enquanto os restritivos particularizam o significado do substantivo a que se


referem, atribuindo-lhe uma característica que não é própria do ser, os explicativos
apresentam características essenciais, inerentes ao ser a que se referem.

Ex.: A neve estava mais fria que o normal. – Caracteriza o substantivo neve (a
neve é fria por natureza). O adjetivo, nesse caso, é explicativo.

Os cachos longos de seus cabelos fazem-me lembrar de Rapunzel. O


adjetivo “longo” particulariza os cachos, pois eles poderiam ser curtos.
Nesse caso, o adjetivo é restritivo.

Como foi destacado em relação aos substantivos, os adjetivos também devem


ser observados no contexto de produção. Observemos:

Ex.: O belo Carlos, professor de Língua Portuguesa, chegou de viagem. Nes-


se exemplo, o adjetivo belo caracteriza o substantivo Carlos. No entanto,
se tivéssemos:

O belo chegou. Nesse caso, belo está no lugar de um ser, portanto, ele é
um substantivo.

Flexão dos Adjetivos


Os adjetivos podem ser flexionados em gênero, número e grau. Observemos
o exemplo e logo em seguida a explanação:

Ex.: A bela casa que compramos será entregue na próxima semana.


1. Gênero - O belo carro (A bela casa) que compramos será entregue na
próxima semana;

Marcelo é inteligente. / Renata é inteligente;


2. Número - As belas casas que compramos serão entregues na próxima
semana;
3. Grau - A belíssima casa que compramos será entregue na próxima semana.

Como pudemos ver nos exemplos, quanto ao gênero, assim como os substantivos,
os adjetivos podem ser biformes ou uniformes pelo mesmo princípio (exemplo 1).

Em relação ao número, eles podem estar no singular ou no plural (exemplo 2).

28
No entanto, quanto ao grau, há algumas particularidades que gostaríamos
de apontar.

Segundo alguns estudiosos, a mudança de grau nos adjetivos, observando-se a


alteração na estrutura, seria apenas o grau “normal” (sem alteração na estrutura
primitiva), e o superlativo absoluto, com acréscimo de sufixo que, hoje em dia, é
estudado na medida em que se vê formação de palavras em morfologia, nesse
caso, a sufixação.

Ex.: inteligente – inteligentíssimo.

No entanto, para os adjetivos, a estrutura da oração pode alterar o grau de


determinado adjetivo com a inclusão de advérbios. Vejamos:
a) Grau Comparativo
• Igualdade – Coreolano é tão mesquinho quanto Marcelino. O adjetivo
“mesquinho” encontra-se numa proposição de comparação entre dois
substantivos da mesma categoria, portanto, dizemos que o adjetivo está no
grau “comparativo de igualdade”;
• Superioridade – Coreolano é mais mesquinho que Marcelino. Nesse caso,
temos ainda uma comparação entre dois substantivos da mesma categoria.
No entanto, o advérbio “mais” dá para Coreolano uma intensidade maior
que para Marcelino. Portanto, temos o grau comparativo de superioridade
para o adjetivo “mesquinho”;
• Inferioridade – Coreolano é menos mesquinho que Marcelino. Agora, o
advérbio “menos” diminui a intensidade do adjetivo sobre Coreolano. O
grau, aqui, para “mesquinho”, é o comparativo de inferioridade;
b) Grau superlativo

O grau superlativo, diferentemente do comparativo, destaca a caracterização


do adjetivo para seres de outras categorias ou para um determinado ser em
relação ao todo. Há dois tipos de superlativos: absoluto e relativo;
• Absoluto – Destaca a caracterização de um ser para um grupo de seres
não expressos no enunciado. Ele pode ser analítico ou sintético;

Ex.: Ele é muito rico. O adjetivo relaciona-se com o pronome ele. Nesse caso,
podemos analisar que ele é, entre várias pessoas, alguém que tem muita
riqueza – grau superlativo absoluto analítico;

Ele é riquíssimo. Da mesma sorte, apontamos para o pronome ele como


alguém que possui muita riqueza, mas, nesse caso, pegamos o adjetivo
“rico” e modificamos a estrutura dele, com acréscimo de sufixo. Temos,
assim, o grau superlativo absoluto sintético;
• Relativo – Como o absoluto, o grau relativo procura relacionar o adjetivo
a dois seres de categorias diferentes. Nesse caso, teremos, como no grau
comparativo, a presença de dois elementos.

29
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Ex.: Raiana é a mais alta de todas. Como podemos observar, há aqui uma
comparação entre dois substantivos de categorias diferentes. Dessa forma,
temos um superlativo relativo de superioridade.

Adilson é o menos inteligente da turma. Aqui, o advérbio “menos” provou


um sentido de inferioridade para Adilson em relação a uma coletividade.
Portanto, temos um superlativo relativo de inferioridade.

Nota: quanto à posição do adjetivo em relação ao substantivo no enunciado,


podemos dizer que, em Língua Portuguesa, ele poderá estar anteposto ou posposto.
Devemos tomar cuidado, pois em alguns casos, dependendo da posição, podemos
ter variação do sentido do enunciado.

Ex.: Pobre criança tem medo de tudo. A criança pobre foi levada ao orfanato.
No primeiro exemplo, temos o adjetivo “pobre” no sentido de indefesa e,
no segundo, de alguém que não possui bens.

Dando continuidade, vamos ao estudo de mais uma classe: a dos numerais.

Os Numerais
O numeral é uma classe utilizada quando desejamos ordenar, quantificar,
fracionar ou multiplicar os substantivos.

Observemos no texto a seguir como eles são empregados.

“Marcolino foi à feira fazer compras para sua mãe. Ao chegar, logo ouviu os
feirantes fazendo promoções. Seu Juvêncio, da barraca de laranjas, gritava com
rosto franzido, dizendo:

– Vamos freguesa, hoje tá tudo uma beleza. A dúzia só três reais. Duas dúzias
por cinco. Quem deixar pra depois, pode ficar comendo somente arroz.

Na correria para fazer suas compras, dona Marceliana não percebeu que deixou
a carteira em casa, ao ver o dinheiro que estava em seu bolso, percebeu que tinha
apenas dez reais. Em todas as bancas por onde passava, logo perguntava:

– Quanta custa meia dúzia? Até que chegou à barraca de seu Juvêncio e ele
logo respondeu.

– Pra senhora dona Marceliana, pra virar freguesa, meia dúzia fica um real e
cinquenta, vou pegar as primeiras da caixa que estão mais frescas, pra senhora
colocar na fruteira sobre a mesa”.

30
As palavras sublinhadas no texto acima quantificam, ordenam, fracionam ou
multiplicam os substantivos a que fazem referência. Reflitamos a seguir sobre a
classificação que a Gramática dá a esses numerais.

Classificação dos Numerais


Ao quantificarem, são chamados de cardinais, pois enumeram uma quantidade
de seres.

Ex.: Comprei dois abacaxis na feira.

Caso desejemos ordenar, usamos os numerais ordinais. Eles indicam a ordem


em que eu quero dispor algum ser no enunciado.

Ex.: Armando foi o primeiro colocado na corrida.

Na medida em que desejamos mostrar uma multiplicação, usamos os numerais


multiplicativos.

Ex.: Pago o dobro pelo seu carro.

E, se a intenção for repartir ou fracionar, usamos os numerais fracionários.

Ex.: Não se esqueça! Metade da laranja é minha.

Precisamos ficar atentos para algo importante: alguns aspectos sobre a grafia
dos numerais. Eles são geralmente grafados com algarismos arábicos.

Ex.: oito pastas; quatro milhões de reais etc.

Há, no entanto, alguns casos especiais.

Caso – Observações Exemplo


a) Depois do milhar separar por ponto Ele mora no 2.320 da rua 34.
b) Códigos Postais tem grafia própria CEP 08612-003
c) Porcentagem – uso do ordinal, mas sinal correspondente Ele adquiriu 80% das ações.
d) os ordinais em textos são grafados por extenso do primeiro Este é o sexto livro que leio no semestre. Este é 13º degrau
ao décimo, depois, ordinais numericamente: 11º, 58º etc desta escada.
e) Em se tratando de horas, usar algarismos arábicos seguidos São 12h36min. Você está atasado.
de abreviação de horas e minutos, sem espaço.
f) Não colocar ponto em numeral que marca ano Josina nasceu em 1954.
g) Em legislação, para marcar os artigos, usa-se os ordinais até §1º - Todos os políticos devem ser honestos.
o 9º, e depois ordinais ---
§10 – Todos os políticos devem observar o §1º da presente Lei,
ou serão indiciados e levados a julgamento imendiato.

31
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Caso – Observações Exemplo
h) Algarismos romanos são usados em casos muito especiais. O século XX (vinte) foi marcado por expressivas mudanças.
Observemos apenas a relação deles com os arábicos. O século VIII (oitavo)...
VIII (oitava) Feira de Agricultura.
I – um; II- dois; III- três; IV- quatro; V- cinco; VI- seis; VII- sete;
VIII- oito; IX- nove; X- dez; L- cinquenta; C- cem; M- mil. Os
demais são formados a partir desses.
Ex. 1340 – MCCCXL (lembrando que podemos repedir apenas
três vezes determinada letra)
Na indicação de séculos, usamos os algarismos romanos;
outras possibilidades, consultar bibliografia básica.
Quando o algarismo estiver depois do substantivo, de I a X,
lê-se como numeral ordinal (primeiro, segundo, terceiro...);
de XI em diante, como numeral cardinal (onze, doze, treze...).
Quando o algarismo estiver antes do substantivo, lê-se sempre
como numeral ordinal.

Bem, agora que passamos pelos numerais e muitos podem ter ficado assustados
por terem fugido da Matemática quando optaram por Letras, já puderam perceber
que não conseguimos escapar dos numerais.

Em seguida, passaremos a outra classe de palavra – os pronomes.

Classes de Palavras – Os Pronomes


Em todas as Línguas, encontramos palavras que substituem outras. Elas são
empregadas para fazer referência a outra mencionada anterior ou posteriormente
no enunciado.

Nota: anáfora é o termo que faz lembrar algo que foi dito, portanto, ela se encontra
depois da palavra a que se relaciona.

Ex.: Márcio é mecânico. Ele foi indicado para arrumar seu carro. Dizemos que
“ele” está numa posição anafórica, pois se relaciona com um antecedente,
fazendo lembrar a figura de Márcio, que o precedeu.

Catáfora – Ao contrário da anáfora, a catáfora tem a função de anunciar a palavra


que representa, portanto, ela vem antes dessa palavra.

Ex.: Eu preciso comprar isto: duas borrachas e dois lápis. O pronome “isto”
vem antes daquilo com o qual se relaciona, portanto, dizemos que “isto”
está em posição catafórica.

Os pronomes podem estar se referindo ao substantivo ou ocupar o lugar dele.


Vejamos alguns exemplos a seguir:

Ex.: Ele fez a entrevista ontem.

Ex.: Marcos atendeu ao chamado do anúncio; ele fez uma entrevista ontem.

32
Nos dois casos, temos o pronome ele substituindo um nome, um ser. No primeiro
exemplo, o pronome utilizado está no lugar do nome. Já no segundo, o pronome
faz uma referência ao nome citado anteriormente (Marcos). Como dissemos na
nota, empregou-se o pronome anaforicamente.

Classificação dos Pronomes


De acordo com a natureza ou o uso efetivo no enunciado, a Gramática distingue,
em primeiro lugar, os pronomes, designando-os como pronomes substantivos
e pronomes adjetivos. Enquanto o primeiro está no lugar do nome, o segundo
acompanha-o, para atribuir-lhe alguma caracterização.

Ex.: Todos votaram contra. O pronome todos está no lugar das várias pessoas
que acabaram de votar. Ele é, portanto, um pronome substantivo.

Ex.: Algumas caixas estão quebradas. O pronome “algumas” está diretamente


ligado ao substantivo “caixas”; portanto, ele atribui a elas um sentido
particular, levando o leitor/ouvinte a entender que nem todas as caixas
estavam quebradas. Nesse exemplo, o pronome é adjetivo.

Ao observamos, ainda, a natureza de uso dos pronomes, além da classificação


como adjetivos e substantivos, a Gramática designa os pronomes como apresentamos
a seguir:

Pronomes Pessoais
São aqueles que indicam as pessoas do discurso e substituem ou acompanham
o substantivo.

Pessoas do Discurso Referência


1ª pessoa a que fala
2ª pessoa com quem se fala
3ª pessoa de quem se fala

Ex.: Eu admiro a tua dedicação na escola. Ela, nem tanto.

Os pronomes pessoais podem ser do caso reto e do caso oblíquo. São pronomes
retos aqueles que funcionam como sujeito das orações.

Pessoa do Discurso Singular Plural Exemplo


Eu vou ao cinema todos os domingos.
1ª pessoa Eu nós
Nós vamos ao teatro uma vez por mês.
Tu estás perto do aeroporto?
2ª pessoa Tu vós
Vós estais cansados e oprimidos.
Será que ela suporta toda pressão?
3ª pessoa ele/ela eles/elas
Eles não ficaram quietos.

33
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Já os pronomes do caso oblíquo exercem a função de complemento, ou seja,
objeto na oração. Podem ser átonos ou tônicos.

Pessoa do Discurso Átonos Tônicos


1ª pessoa me mim, nos
2ª pessoa te ti,vos
3ª pessoa se, lhe, o, os, as, lhes si, ele, ela, eles, elas.

Acompanham as formas verbais, como nos exemplos:

Ex.: Entreguei-lhe meu currículo, para as devidas providências.

Ex.: Ele apresentou-me suas considerações.

Os pronomes oblíquos tônicos são acompanhados de preposição no enunciado.


São eles: mim, ti, ele, ela, si, nos, vos, eles, elas. Observemos o exemplo:

Ex.: Meu pai comprou o violão para mim.

Nota: quando tivermos verbos terminados em -r, -s ou -z, elimina-se a desinência


de infinitivo (r) e os pronomes o(s), a(s) se tornam lo(s), la(s). Nos verbos terminados
em -am, -em, -ão e –õe, os pronomes se tornam no(s), na(s). Ex.: amar – amá-lo /
amaram – amaram-no.

Pronomes Possessivos
Os pronomes possessivos, como o próprio nome já revela, indicam posse.
Eles também se relacionam às pessoas do discurso, tal como no quadro a seguir:

Pessoa do Discurso Singular Plural


1ª pessoa meu(s), minha(s) nosso(s), nossa(s)
2ª pessoa teu(s), tua(s) vosso(s), vossa(s)
3ª pessoa seu(s), sua(s) dele(s), dela(s)

Ex.: O lápis é meu, a agenda é tua e a caixa é dela.

Pronomes Demonstrativos
Os pronomes demonstrativos são usados para produzir o sentido de localização
no discurso de um dado elemento ou de uma dada pessoa em relação a outros.

São pronomes demonstrativos:

Pessoa do Discurso Singular Plural


1ª pessoa Este, esta, isto Estes, estas
2ª pessoa Esse, essa, isso Esses, essas
3ª pessoa Aquele, aquela, aquilo Aqueles, Aquelas

34
Ao escrever um enunciado, quando queremos produzir sentido dizendo que
um objeto ou uma pessoa estão próximos de quem fala, usamos os pronomes
demonstrativos de 1ª pessoa. Quando estão perto da pessoa com que se fala,
usamos os de 2ª. Se estiverem próximos da pessoa de quem se fala, utilizamos os
de 3ª pessoa, conforme exemplos:

Ex.: Este pincel é meu.

Ex.: Essa fita verde ficou ótima em seus cabelos.

Ex.: Querido, posso fotografar aquela girafa?

Temos de ter cuidado com o uso dos pronomes demonstrativos, pois, além de
marcarem posição do objeto no espaço, eles marcam posição no tempo,

Os pronomes de 1ª pessoa indicam um tempo atual ao ato de fala.

Ex.: Este momento é muito importante para a vida dos nubentes.

Os pronomes de segunda pessoa marcam um tempo anterior, relativamente


próximo ao ato de fala.

Ex.: No mês passado, voltei para a casa de meus pais. Nesse mesmo mês, fui
chamado para lecionar.

Já os pronomes de terceira pessoa são usados para fazer referência ao que foi
dito há muito mais tempo.

Ex.: Todos se lembram daquele saxofone que eu tocava?

Observemos alguns casos:


• Os pronomes de primeira pessoa fazem referência ao que será dito:

Ex.: Espero sinceramente isto: que seja muito feliz!


• Quando queremos fazer alguma referência ao que foi dito, utilizamos os
pronomes de segunda pessoa.

Ex.: Os carros modernos não são tão fortes como os de antigamente. Essas
máquinas são feitas de material muito mais fraco.
• Os de terceira pessoa serão usados quando estiverem em oposição aos de
primeira, com a finalidade de nos referirmos ao mais distante. Veja:

Ex.: Cinema e teatro me agradam muito. Este pela proximidade que faz com o
público, aquele pelas possibilidades que tem de usar grandes efeitos especiais.

Pronomes Indefinidos
Os pronomes indefinidos referem-se à 3ª pessoa do discurso. Eles apresentam
sentido vago, impreciso ou genérico em relação às coisas, às pessoas ou aos lugares
a que fazem referência. Dão, ainda, a possibilidade de determinados conjuntos de
quantidade indeterminada.

35
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Substituem Pronomes Indefinidos
Pessoas quem, alguém, ninguém, outrem...
Lugares onde, algures, alhures, nenhures...
que, qual, quais, algo, tudo, nada, todo (a/s), algum (a/s), vários (a), nenhum (a/s), certo
Pessoas, lugares, coisas
(a/s), outro (a/s), muito (a/s), pouco (a/s), quanto (a/s), um (a/s), qualquer (s), cada...

Como podemos observar no quadro, alguns pronomes são variáveis em gênero


e número, e outros são invariáveis.

Ao empregar um pronome indefinido, devemos prestar atenção:


• Ao pronome “algum”, após o substantivo a que se refere, pois assume valor
negativo (= nenhum).

Ex.: Homem algum pode justificar a devastação;


• Ao utilizarmos o pronome indefinido “cada”, devemos, posteriormente,
adicionar substantivos ou numerais.

Ex.: Elas compraram dois lápis de olho cada uma;

Ex.: Cada macaco no seu galho;


• E nos lembrarmos de que alguns pronomes indefinidos, ao serem colocados
após substantivos, passarão a ser adjetivos:

Ex.: Eles sentaram nos lugares certos;


• Ao fato de o pronome “bastante” pode tornar-se adjetivo se estiver determi-
nando algum substantivo, unindo-se a ele por verbo de ligação.

Ex.: Isso é bastante para mim;


• Que na medida em que utilizamos o pronome “nada” junto a verbos ou a
adjetivos, ele equivalerá a advérbio.

Ex.: Ele não está nada feliz hoje;


• Que quando utilizarmos os pronomes indefinidos “todo ou toda” e eles ante-
cederem um substantivo, não devemos usar artigo.

Ex.: Toda empresa parou após a queda de energia.

Pronomes Interrogativos
Os pronomes interrogativos são pronomes indefinidos utilizados para formu-
lar perguntas.

São eles: que, quem, qual, quais, quanto(s), quantas(s).

Ex.: Quem descobriu o Brasil?

36
São utilizados para formular perguntas diretas ou indiretas. Enquanto as primeiras,
além do pronome interrogativo no início, terminam com ponto de interrogação, as
segundas não iniciam com o pronome interrogativo e terminam com o ponto final.

Ex.: Quem comeu o meu queijo? Enunciado interrogativo direto.

Ex.: Fale-nos como você chegou a São Paulo. Enunciado interrogativo indireto.

Pronomes Relativos
Entre os pronomes, os relativos são utilizados para representar uma palavra
substantiva que já foi citada anteriormente.

São pronomes relativos:

Variáveis Invariáveis
o qual, a qual, os quais, as quais Que
cujo, cuja, cujos, cujas Quem
quanto, quanta, quantos, quantas Onde

Vejamos alguns empregos importantes dos pronomes relativos:


• O pronome relativo que é o mais empregado. Também chamado de relativo
universal, pode fazer referência a pessoas ou coisas, no singular ou no plural:

Ex.: Entendo bem a professora de Matemática que chegou ontem (relacionado


à professora);

Ex.: Gostei do carro que comprei em sua loja (relacionado ao carro);


• Usamos o pronome quem para estabelecer relação com uma pessoa ou
com uma coisa personificada. Sempre que fizer referência ao termo anterior
explícito, deverá ser precedido de preposição.

Ex.: Não vi o político de quem você falou na reunião;

Ex.: Esse é o celular a quem devo minha vida. Graças ao sinal que ele emitiu
à polícia, conseguiram me achar no cativeiro;
• Devemos usar o pronome relativo “cujo” quando há sentido de posse, pois
nesses casos ele é equivalente a do qual, de que e de quem. Lembremos de
que ele deverá concordar sempre com a coisa possuída.

Ex.: Cortaram as árvores cujos troncos estavam podres;


• Os vocábulos quanto, quantos e quantas serão pronomes relativos à medida
em que seguem os pronomes indefinidos tudo, todos ou todas.

Ex.: O ladrão pegou tudo quanto pode;


• Há um descuido ao utilizar o relativo “onde”. Lembremos de que ele tem
sentido aproximado a lugar e deve ser usado quando não há movimento. Se
houver algum movimento, devemos utilizar “aonde”.

37
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Ex.: Esta é a casa onde habito;

Ex.: Todos estavam felizes em razão do casamento, mas não sabiam aonde ir
após a cerimônia.

Não devemos esquecer de que, para ampliar o conhecimento das questões


apresentadas, é fundamental a pesquisa nas Referências propostas e a realização
de todos os exercícios propostos.

Bem, agora passaremos à próxima Unidade, para estudarmos os verbos,


advérbios, preposições, conjunções e interjeições.

38
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Adjetivo
https://goo.gl/NG7Blg

Vídeos
Português Gramática - O que é Adjetivo?
https://youtu.be/7MqqdiDr7rw
Adjetivo e Substantivo
https://youtu.be/OUc4qVsviXk

Leitura
Substantivo e Adjetivo
https://goo.gl/V2Q4z8
Semântica Gramatical: A Significação dos Pronomes
https://goo.gl/8YXGK9

39
Classes de Palavras
UNIDADE
II
Referências
ANDRADE, C. A. B. Reflexos do descaso: interações poético-fotográficas. São
Paulo: Terracota, 2009.

AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:


Publifolha, 2008.

BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12.ed. SP: Ática,


2006.

________. Moderna Gramática Brasileira. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

COSERIU, E. Teoria del Lenguaje y lingüística general. Madri: Editorial Gredos,


S.A., 1978.

DUBOIS, J. e outros. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2007.

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991.

TRAVAGLIA, L. C.. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cortez, 1997.

SACONNI, L. A. Nossa Gramática. 30.ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

40
III
Classes de Palavras

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Classes de Palavras
UNIDADE
III
Contextualização
Dando continuidade à Unidade II, passaremos, neste momento, a estudar cinco
outras classes de palavras, como já dissemos na Introdução desta Unidade. Com
exceção dos verbos, a grande maioria das classes que serão estudadas é invariável,
portanto, teremos tópicos informativos menores nesses casos.

Ressaltamos que, como nas Unidades anteriores, não pretendemos aprofundar


o estudo de tais classes/vocábulos. A intenção é que possamos reconhecê-las/los e
observar as classificações e os usos dessas classes/desses vocábulos.

Esperamos que os conteúdos aqui apresentados contribuam para o seu


crescimento em relação às questões gramaticais trabalhadas. Qualquer dúvida, não
esqueçam de entrar em contato conosco.

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Os Verbos
Na Língua Portuguesa, o sistema verbal é composto pelos tempos verbais simples
e suas combinações. Ao falarmos em verbos, estamos trabalhando com palavras
que expressam algum tipo de ação, de estado ou de algum fenômeno natural.

Ex.: Marta andou de bicicleta. O verbo andar indica uma ação.

Joana estava com gripe na semana passada. O verbo estar relaciona o


sujeito Joana ao estado em que ela se encontrava na semana passada
(estado gripal).

Choveu muito em São Paulo. O verbo chover indica um fenômeno natural.

Ao estudarmos os verbos, trabalhamos com a classe de palavra mais rica em


variações, pois eles são flexionados em modo, tempo, pessoa e número.

Por exemplo, ao dizer/escrever o verbo flexionado “corremos”, sabemos que


ele está no tempo presente, do modo indicativo, na primeira pessoa do plural.
Calma, não é hora de ficarmos assustados, veremos a seguir essa questão mais
detalhadamente.

Quando dizemos que os verbos variam em número e pessoa, estamos falando


das pessoas do discurso, tais como vimos nos pronomes. Elas podem ser do singular
ou do plural, como demonstra o quadro a seguir:

Pessoa Singular Exemplo Pessoa Plural Exemplo


1ª Eu Eu compro 1ª Nós Nós Compramos
2ª Tu Tu compras 2ª Vós Vós comprais
3ª Ele/Ela Ele/Ela compra 3ª Eles/Elas Eles/Elas compram

Da mesma forma, os verbos podem variar em tempo e modo. Como seria isso?

Todos já vimos no Ensino Fundamental e Médio que há três modos em que


poderíamos flexionar o verbo. São eles:
• Indicativo – Ao ser flexionado, o verbo oferece o sentido de certeza, de fato,
ou seja, não paira uma dúvida sobre o que foi apresentado.

Ex.: As janelas da casa de campo foram levadas pelo furacão.

Marcelo venceu a corrida.

Nas próximas eleições, votaremos nos melhores candidatos.

O modo indicativo apresenta seis tempos verbais:


a) Presente – Expressa um sentido de algo que está acontecendo.

Ex.: Eu leio Jorge Amado nas horas de folga.

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Classes de Palavras
UNIDADE
III
Há três pretéritos, ou seja, sentidos que se voltam ao passado. Observem a
diferença entre eles:
b) Pretérito perfeito – Como o próprio nome diz, expressa um sentido que já
foi concluído no passado.

Ex.: Marta estudou para a prova.


c) Pretérito imperfeito – O sentido que os verbos flexionados nesse tempo
expressam é de que os fatos não foram totalmente concluídos; esses fatos são
contínuos, mas não terminados.

Ex.: Eles contemplavam os quadros, enquanto as portas do museu se


mantiveram abertas.
d) Pretérito mais que perfeito – Ele é utilizado quando o sentido que
desejamos dar ao enunciado é o de uma ação pretérita concluída, antes de
outra ação pretérita ter se iniciado.

Ex.: Quando Joana chegou, Marcelo já comprara os móveis da casa.

Há dois tipos de futuro. É importante saber utilizá-los. Vejamos a diferença


entre eles.
e) Futuro do presente – Empregaremos esse tempo quando quisermos criar
um enunciado no qual a ação ou o fato ainda se realizará. Vejam os exemplos:

Ex.: No próximo Natal, ganharei uma bicicleta nova.


f) Futuro do pretérito – Esse tempo verbal deverá ser usado observando-se
alguns contextos específicos:

– Quando se enunciam fatos que acontecerão, relacionando–os a outro


do passado:

Ex.: Geraldo falou que não chegaria tarde para o jantar.

– Para enunciar um fato que poderá ou não acontecer; que sempre dependerá
de alguma condição;

Ex.: Se eu pudesse escolher, levaria a Fernanda ao baile.

– Enunciar algo incerto, ou fazer insinuações:

Ex.: Quem seria aquele professor bonito que leciona a Disciplina Estudos
Gramaticais no curso de Letras a Distância da Universidade Cruzeiro do Sul?

– Outra forma de uso se justifica à medida que fazemos sugestões ou pedidos de


maneira mais educada:

Ex.: Você poderia tirar seu carro da minha vaga?


• Subjuntivo – Diferentemente do modo Indicativo, o Subjuntivo exprime
dúvida, desejo, trabalhando com ações hipotéticas. Temos três tempos que
compõem esse modo: Presente, Pretérito Imperfeito e Futuro. Vejamos cada
um deles.

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a) Presente – Expressa ações incertas, hipotéticas ou desejadas no presente.
Observe os exemplos:

Ex.: Afirmo que ele lê todo o livro hoje.

Duvido que ele leia todo o livro hoje.

Enquanto no primeiro exemplo temos o verbo destacado no Presente do


Indicativo, pois a oração exprime certeza, no segundo, ao contrário, temos o
verbo no Subjuntivo, declarando uma dúvida expressa.
b) Pretérito Imperfeito – Assim como o Presente do Subjuntivo, o Pretérito
Imperfeito exprime ações incertas, hipotéticas, nesse caso, no passado.
Vamos observar os seguintes exemplos:

Ex.: Eu não tenho dúvidas de que ele comprou a fazenda.

Eu não tinha clareza de que ele comprasse a fazenda.

Da mesma forma que ocorre no Presente do Subjuntivo, ao usarmos no


desenvolvimento de nossos textos enunciados que expressem dúvida, devemos
observar se estamos empregando o verbo no modo e tempo adequados.
c) Futuro - Expressará ações que, se forem realizadas, condicionarão a segunda
ação citada. Para melhor compreensão, vamos observar os exemplos:

Ex.: Como você é inteligente; não terá dificuldade nas avaliações.

Se você for inteligente, não terá dificuldade nas avaliações.

Quando se conjuga os verbos no Subjuntivo, geralmente se utiliza para o Presente


a conjunção “que”, para o Pretérito Imperfeito “se” e para o Futuro “quando”.

Presente Pretérito Imperfeito Futuro


Que eu cante Se eu cantasse Quando eu cantar
Que nós cantemos Se nós cantássemos Quando nós cantarmos
Que eles cantem Se eles cantassem Quando eles cantarem

Costuma-se dizer que o Subjuntivo é utilizado com frequência em orações encai-


xadas, ou seja, fazendo relação com outras orações em processos de subordinação.
• Imperativo – A classificação tradicional é quem coloca o Imperativo distinto
do Indicativo e do Subjuntivo, em um modo à parte. Como veremos no quadro
a seguir, ele está mais próximo do Subjuntivo. O que o diferencia, então? É o
sentido que se deseja empregar em função do contexto de uso que indicará se
o verbo deve ou não estar no Imperativo. Se o desejo é produzir sentidos para
manifestar ordem ou apelo em orações não encaixadas, devemos usá-lo.

O verbo no Imperativo, como estudaremos mais adiante, é classificado como


defectivo, ou seja, não se conjuga em todas as pessoas do discurso. Nesse caso,
na primeira, pois ninguém dá uma ordem ou exprime um desejo a si mesmo. Sua
formação pode ser observado no quadro a seguir:

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UNIDADE
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Presente do Indicativo Presente do Subjuntivo Imperativo Afirmativo Imperativo Negativo
Tu compras Que tu compres Compra tu Não compres tu
Ele compra Que ele compre Compre você Não compre você
Nós compramos Que nós compremos Compremos nós Não compremos nós
Vós comprais Que vós compreis Comprai vós Não compreis vós
Eles compram Que eles comprem Comprem vocês Não comprem vocês

O que observamos é quase a replicação do Subjuntivo para o Imperativo, com


exceção das segundas pessoas do singular e do plural, que são mantidas, tais como
no Presente do Indicativo, retirando-se apenas o “s”. No entanto, quando usamos
a forma negativa, todos os verbos se mantêm na mesma conjugação do Subjuntivo.

Vamos aos exemplos:

Ex.: Lute pelos seus direitos.

Leve sua própria cruz.

Pensando ainda nos verbos, podemos dizer que a relação entre ele e o sujeito é
chamada de concordância verbal. Teremos uma Unidade somente para trabalhar
essa questão. Aguardem!

Dissemos, no começo, que os verbos variam. Tal variação é possível, pois o


sistema da Língua permite alterar a estrutura por meio de morfemas gramaticais,
que são chamados também de desinências. Essas questões serão abordadas com
mais profundidade na Disciplina que tratará da Morfologia da Língua. Neste
momento, queremos observar apenas como eles se classificam.

Classificação dos Verbos


Só para conhecermos, de forma bem objetiva, os verbos são classificados como:
a) Regulares – Aqueles que mantêm o mesmo radical (morfema lexical) na
conjugação.

Dar destaque – Radical é a parte da palavra que não se modifica durante a


conjugação do verbo.

Pretérito Imperfeito Futuro do Pretérito


Presente do Indicativo Futuro do Subjuntivo
do Indicativo do Indicativo
Eu canto Eu cantava Quando eu cantar Eu cantaria

Vejam que o termo “cant”, chamado de radical ou de morfema lexical, não se


altera na conjugação; por isso o verbo cantar é considerado regular.
b) Irregulares – Esses já têm alguma alteração na estrutura, na medida em que
conjugamos o verbo.

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É o caso do verbo ouvir. No presente do indicativo, primeira pessoa, ele fica
“eu ouço”; no pretérito perfeito, já aparece na primeira pessoa como “eu
ouvi”, alterando o radical.
c) Anômalos – são verbos irregulares, cuja modificação é muito intensa, como
a dos verbos ser e ir, por exemplo.

Pretérito Imperfeito Futuro do Pretérito


Presente do Indicativo Futuro do Subjuntivo
do Indicativo do Indicativo
Eu sou Eu era Quando eu for Eu seria
Eu vou Eu ia Quando eu for Eu iria

d) Defectivos – São os verbos que deixam de ter alguma flexão.

Ex.: “Abolir” não se conjuga na primeira pessoa, mas se conjuga em outra.

A princesa Isabel aboliu a escravidão no Brasil.


e) Abundantes – Os verbos abundantes apresentam formas equivalentes,
tais como:

Entregar Entregado Entregue


Aceitar Aceitado Aceito
Eleger Elegido Eleito
Emergir Emergido Emerso

Não devemos esquecer de que, para ampliar o conhecimento das questões


apresentadas, é fundamental a pesquisa nas Referências propostas.

Bem, agora passaremos a estudar os Advérbios.

Classes de Palavras – Os Advérbios


Os advérbios, de acordo com a norma gramatical, são vocábulos invariáveis,
utilizados para exprimir alguma circunstância em que se deseja modificar a oração
como um todo ou o verbo, o adjetivo e até mesmo o próprio advérbio. Vejamos os
exemplos a seguir:

Ex.: Ele pensava muito.

Ganhou na mega sena. Estava muito feliz.

Ele ganha muito bem.

Lamentavelmente, o Brasil perdeu a copa.

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UNIDADE
III
Como podemos observar, no primeiro exemplo, temos o advérbio “muito”,
que modifica o sentido do verbo “pensar”, atribuindo a ele uma intensidade. No
segundo, o mesmo advérbio intensifica também, mas, nesse caso, o adjetivo “feliz”.
Para que haja clareza nesse sentido, procuramos, no terceiro exemplo, mostrar o
mesmo advérbio intensificando agora o advérbio “bem”. Já “lamentavelmente”, no
quarto exemplo, refere-se a toda oração.

Nota: já que utilizamos o advérbio “muito”, é bom lembrar que quando ele se refere
a um substantivo, deixa de ser advérbio e passa a ser pronome adjetivo indefinido.

Ex.: Hoje estou com muito calor.

Classificação dos Advérbios


A Gramática Normativa apresenta alguns tipos de advérbios, classificando-
os de acordo com a circunstância que enunciam. A seguir, um pequeno quadro,
mostrando alguns casos. Ressaltamos, no entanto, que não se deve esquecer de
que, no contexto de uso, muitas dessas circunstâncias são modificadas não só em
seu sentido, mas também em sua classificação.

Tipo Advérbios
Afirmação Sim, certamente, realmente, efetivamente, certo, decididamente, realmente
Dúvida Acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez etc.
Intensidade Muito, demais, pouco, menos, bastante, pouco, mais, menos etc.
Lugar Aqui, dentro, ali, adiante, fora, atrás, além, lá, cá, acima etc.
Modo Bem, mal, assim, melhor, pior, depressa, debalde, devagar etc.
Negação Não, nem, nunca, jamais, tampouco etc.
Tempo Hoje, amanhã, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora, cedo etc.

Alguns estudiosos, ao tratarem dos advérbios em relação ao uso, observam


que os de afirmação e de negação não indicam circunstância propriamente dita,
mas negam ou afirmam algo, preferindo dizer que a classe indica certos valores
semânticos ao invés de falarem em “circunstância”.

Vamos observar como o advérbio pode ser modificado pelo contexto.

Observemos o exemplo: O sim da questão é este. Todos devem fazer boas


escolhas na vida.

O vocábulo “sim” está na relação de advérbios e isoladamente diríamos que é


um advérbio de afirmação. No entanto, no exemplo, tornou-se um substantivo,
pois foi levado a essa classe pela presença do artigo “o”.

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Vejam como, em algumas expressões, o sentido de determinados advérbios
modificam em função do contexto oracional ou da expressão linguística.

Ex.: Você pode me ajudar? Pois não, disse Carmem a Antônio.

Você pode me ajudar? Pois sim, disse Renato a João, tenho mais o que fazer.

As expressões “pois sim” e “pois não” adquirem sentidos completamente


inversos aos dos advérbios que fazem parte delas. Vejam só, ali, “pois sim” quer
dizer não e “pois não” quer dizer sim.

Podemos usar o sufixo “mente” para transformar outras classes em advérbios.

Ex.: O carro é veloz.

Velozmente, o carro de Astrogildo passou pela bandeira de chegada.

Como podemos ver, ao inserirmos o sufixo “mente” no adjetivo “veloz”,


construímos o advérbio de modo “velozmente”.

Nota: ao usar dois advérbios que tenham o sufixo “mente”, lembremos de que há
uma regra para tornar o discurso claro. Para tanto, basta usar o sufixo no segundo
deles. Observemos o exemplo: Perfeita e adequadamente, as roupas foram todas
despachadas para à Europa.

Locuções Adverbiais
As locuções adverbiais são formadas por dois ou mais vocábulos. Elas têm o
mesmo valor do advérbio; equivalem a ele, podendo ser classificadas em um de
seus tipos. Elas se formam com a presença de uma preposição, em conjunto com
um substantivo ou um advérbio. Vamos aos exemplos:

Tipo Locuções Adverbiais


Afirmação sem dúvida, por certo etc.
Intensidade de pouco, de todo etc.
Lugar em cima, de cima, à direita, à esquerda, ao lado, de fora, por fora etc.
Modo às claras, às pressas, à vontade, à toa, de mansinho, em silêncio, frente a frente etc.
Negação de modo algum, de jeito nenhum etc.
Tempo à noite, à tarde, de manhã, de vez em quando, às vezes, de repente etc.

Bem, resumindo um pouco o que foi apresentado, vejamos o que a Banda Sujeito Simples
Explor

apresenta em relação aos advérbios.


Disponível em: https://youtu.be/oWifZlz79tA

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Classes de Palavras
UNIDADE
III
As Preposições
As preposições são vocábulos invariáveis. Não sofrem flexão de gênero, número
ou grau. Sozinhas, não possuem sentido. A principal função é relacionar as palavras
e, nesse contexto, elas adquirem sentidos a partir dessas relações.

São preposições:

a, ante, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre etc.

Nota: há alguns estudos que procuram mostrar como se utiliza ou utilizou a


preposição “per”. Apesar de ser usada muito mais no passado, ainda hoje
podemos observá-la, por exemplo, na expressão latina per capita, em português,
por cabeça. Notemos, também, que as contrações pelo, pela, pelos, pelas
contêm essa preposição que continua em uso e justifica as expressões “per si”
e “de per si”. Outros estudiosos concluem que essa preposição de origem latina
tem as mesmas funções sintáticas que “por”. Por conta disso, concluem que, por
grande semelhança eufônica e escrita dessas preposições, poderíamos considerar
que ambas formam as contrações pelo, pela, pelos, pelas.

Classificação das Preposições


Ao atuarem exclusivamente como preposições, são chamadas de essenciais.

No entanto, palavras de outras classes podem ser usadas como preposições.


Quando isso ocorrer, tais palavras serão chamadas de preposições acidentais.

São elas:

que, durante, conforme, segundo, como, salvo, fora, exceto etc.

Há expressão mais clássica “Tenho de sair”, acabou dando lugar a “Tenho que
sair”. Temos, no primeiro exemplo, uma preposição essencial e, no segundo, mais
usado na oralidade, uma acidental.

Contração e Combinação das Preposições


Em algumas situações, as preposições podem ser combinadas ou sofrer processo
de contração com outras palavras.

Dizemos que combinam quando não há perda de nenhum fonema.

Ex.: Ele assistiu ao filme.

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Temos, no exemplo, a combinação da preposição “a” mais o artigo definido
“o”. Vamos observar alguns exemplos a seguir:
• na – preposição em mais artigo definido a;
• da – preposição de mais artigo definido a;
• do – preposição de mais artigo definido o;
• daquele – preposição de mais o pronome demonstrativo aquele;
• donde – preposição de mais advérbio onde;
• naquela – preposição em mais pronome demonstrativo aquela.

Uma questão importante para o bom uso das preposições é que as essenciais
regem a forma oblíqua tônica dos pronomes pessoais, enquanto as acidentais a
forma reta. Consideremos os exemplos:

Ex.: Você irá sem mim à formatura?

Todos, exceto eu, votaram favorável ao aumento de salários dos Deputados.

A seguir, apontamos algumas expressões que o uso tem desviado da norma.


Alguns casos por desconhecimento da regência verbal.

a) Ele gosta que você fale de Antropologia. (inadequado)

Ele gosta de que você fale de Antropologia. (adequado). O verbo gostar é


transitivo indireto; por isso necessita de preposição.

b) Em vez de utilizar a preposição “após” antes de verbos no particípio, prefira


a locução “depois de”.

Ex.: Ele comprou o carro após consultar vários preços. (inadequado)

Ele comprou o carro depois de consultar vários preços. (adequado)

c) Não usar a preposição “a” depois de após.

Ex.: Alfredo retornou após ao término do jogo. (inadequado)

Alfredo retornou após o término do jogo. (adequado)

Outros exemplos podem ser encontrados nas Referências.

Locuções Prepositivas
As locuções prepositivas, assim como as locuções adjetivas e as adverbiais, são
um grupo de palavras que, neste caso, tem o mesmo valor das preposições. Assim
como as preposições, as locuções prepositivas não variam em gênero e número.
São expressões fixas.

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Classes de Palavras
UNIDADE
III
A Gramática aponta para algumas formas utilizadas muitas vezes na oralidade,
que são inadequadas do ponto de vista da norma. O quadro a seguir apresenta
algumas delas:

Uso inadequado Uso adequado


a nível de em nível de
à medida em que na medida em que
ao mesmo tempo que ao mesmo tempo em que
apesar que apesar de que
de modo a de modo que
a longo prazo em longo prazo
em vias de em via de
ao ponto de a ponto de

As Conjunções
Assim como as preposições, as conjunções têm como função estabelecer
relações. As primeiras com palavras, as segundas com palavras e orações.

Elas podem ser de dois tipos principais: conjunções coordenativas ou conjunções


subordinativas.

As primeiras relacionam termos ou orações que são sintaticamente completos


neles mesmos. Já as segundas ligam termos ou orações que possuem uma relação
de dependência.

Ex.: Herculano assina o Diário de São Paulo e Marcelo prefere ler o Estadão.

Marcela cantará a música “Angel”, se sua voz estiver afinada.

No primeiro exemplo, a conjunção “e” relaciona duas orações que são


sintaticamente completas. No entanto, no segundo, há uma relação de dependência,
pois a conjunção “se” constrói na relação entre as orações um sentido de condição.

Para efeito de conhecimento, mostraremos, nos dois quadros a seguir, as


conjunções e as respectivas classificações. No entanto, voltamos a falar no contexto
de uso que pode mudar os efeitos de sentido nas relações que elas estabelecem.

Não queremos que nossos alunos fiquem decorando as conjunções. É importante


perceber os valores semânticos que elas adquirem, que elas adquirem na medida
em que se relacionam nas orações e nos termos.

Classificação das Conjunções


Observemos, a seguir, o quadro das conjunções coordenativas:

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Tipos Conjunções Sentido na relação
Adicionam um termo a outro, ou uma oração a outra de mesma função
Aditivas e, nem... gramatical.
Ex.: Ele jogou bem e eu pude aplaudi-lo no campo.
mas, porém, contudo, Relacionam duas orações ou palavras, promovendo ideia de contraste.
Adversativa
todavia, entretanto... Ex.: Estudou muito, mas foi reprovado.
O sentido que essas conjunções estabelecem em suas relações é de
ou, ou...ou, ora, já...já, alternância.
Alternativa
quer...quer.
Ex.: Vai cortar os cabelos ou fazer as unhas?
Exprimem sentido de conclusão ou de consequência.
logo, pois (depois do
Conclusivas Ex.: Leu tudo sobre teatro musical, logo não terá problemas em sua
verbo), portanto...
exposição sobre o assunto.
Na relação que faz entre as palavras ou as orações, essas conjunções
que, porque, pois (antes produzem o sentido de explicar ou justificar algum fato.
Explicativas
do verbo) , porquanto
Ex.: Ela conseguiu o papel, porque conhecia o diretor.

Nota: a conjunção “pois” poderá ser conclusiva ou explicativa; para tanto, como
mostra o quadro, ela deverá se posicionar após o verbo, quando o sentido é
de conclusão. Caso o sentido que se deseja expressar seja o de explicação, ela
deverá estar antes do verbo, conforme os exemplos.

Ex.: Milton é um grande cantor, gravará, pois, seu CD rapidamente (conclusiva).

Osmar ficou no banco de reserva, pois estava contundido (explicativa).

Para fazer as relações entre as orações, há um grupo de vocábulos denomi-


nados “locuções conjuntivas”. Para as conjunções coordenativas, expressam os
mesmos sentidos.

Observemos o quadro:

Tipos Locuções Conjuntivas Sentido na relação


não só... mas também, não Adicionam um termo a outro, ou uma oração a outra de mesma
Aditivas só...como também, bem função gramatical.
como, não só...mas ainda. Ex.: Ele não só fez o gol, como também ganhou a partida.
Relacionam duas orações ou palavras, promovendo ideia de
Adversativa no entanto, não obstante... contraste.
Ex.: Deu um bom lance no carro, no entanto não consegui adquiri-lo.
Exprimem o sentido de conclusão ou de consequência.
Conclusivas por conseguinte, por isso...
Ex.: Jairo fez um bom trabalho, por isso recebeu a promoção.

Vamos observar o quadro de conjunções subordinativas a seguir, no qual estão


apresentados seus tipos:

Tipos Conjunções Sentido na relação


porque, pois, porquanto, Elas iniciam a oração subordinada dando-lhe o sentido de causa.
Causais
como [= porque]... Ex.: Os aviões voam porque têm asas e um motor possante.
que, qual (depois de tal), A relação explicita uma comparação.
Comparativas quanto (depois de tanto),
como... Ex.: Ferdinando é tão alto quanto o pai.

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Classes de Palavras
UNIDADE
III
Tipos Conjunções Sentido na relação
Elas iniciam orações subordinadas, para estabelecer relações de oposição, não
Concessivas embora, conquanto, que... implicando em impedimento de uma das ocorrências.
Ex.: Embora chova, Adolfo continuará a corrida.
A relação que elas propiciam é de hipótese, condição.
Condicional se, caso, quando...
Ex.: Se os políticos olhassem mais para o povo, haveria menos miséria no país.
conforme, como [= O sentido expresso por elas é o de conformidade.
Conformativa conforme], segundo,
consoante... Ex.: Faremos tudo, conforme seu Juvêncio ordenou.
que (combinada com os Elas indicam a consequência do que já estava declarado.
Consecutiva vocábulos tal, tanto, tão ou
tamanho). Ex.: Marcela estava tão mal que quase faleceu.
A relação que elas estabelecem é de finalidade.
Finais porque [= para que], que... Ex.: O professor indicou a bibliografia para que todos pudessem se preparar
para as avaliações.
Indicam circunstâncias de tempo.
Temporais Quando...
Ex.: Ronaldinho marcou o gol quando a defesa do outro time titubeou.
São usadas para anteceder as orações substantivas, exercendo as funções de
sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e
Integrantes que, se. aposto.
Ex.: Marinaldo falou que todos estavam bem.

Da mesma forma que as coordenativas, temos locuções conjuntivas subordina-


tivas. Observemos seus tipos e exemplos no quadro a seguir.

Tipos Conjunções Sentido na relação


Elas iniciam a oração subordinada, dando-lhe sentido de causa.
pois que, por isso que, já que, uma
Causais Ex.: Andavam de um lado para o outro, pois que o calor estava
vez que, visto que, visto como...
insuportável.
do que (depois de mais, menos, A relação explicita uma comparação.
Comparativas maior, menor, melhor, pior), assim
como, bem como, como se, que nem. Ex.: O apartamento de Ernesto é maior do que a casa de Fagundes.
ainda que, mesmo que, posto que, Elas iniciam orações subordinadas, para estabelecer relações de
Concessiva bem que, se bem que, apesar de que, oposição, não implicando em impedimento de uma das ocorrências.
nem que... Ex.: Ainda que chova, não faltarei ao trabalho.
A relação que elas propiciam é de hipótese, condição.
contanto que, salvo se, sem que,
Condicional
dado que, desde que, a menos que... Ex.: Poderá sair da cidade, contanto que deixe algo de garantia
para quitar o aluguel.
Elas indicam a consequência do que já estava declarada.
de forma que, de maneira que, de
Consecutiva Ex.: Juvêncio abrirá o Conservatório de forma que todos poderão
modo que, de sorte que...
praticar antes da audição.
A relação que elas estabelecem é de finalidade.
Finais para que, a fim de que... Ex.: O silêncio estava por toda parte para que todos pudessem
descansar.
à medida que, ao passo que, à
proporção que, enquanto, quanto
mais... (mais), quanto mais... (tanto Indicam fato realizado ou para se realizar simultaneamente com a
mais), quanto mais... (menos), oração a que se referem.
Proporcionais
quanto mais... (tanto menos), quanto
menos... (menos), quanto menos... Ex.: À medida que ele falava, ela reclamava dos maus tratos.
(tanto menos), quanto menos...
(mais), quanto menos... (tanto mais)

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Tipos Conjunções Sentido na relação
antes que, depois que, até que, logo Indicam circunstâncias de tempo.
Temporais que, sempre que, assim que, desde Ex.: Juvêncio confessou antes que fosse acusado de todas as
que, todas as vezes que... barbáries cometidas por Francisco.

Bem, estamos chegando ao final desta Unidade. Vamos à última classe a ser
estudada: as interjeições.

As Interjeições
Última das dez classes de palavras, as interjeições são “palavras-frase”, pois
expressam um sentido particular, logicamente observado no contexto em que
estão inseridas.
Segundo a Gramática, é um vocábulo invariável que exprime emoções e
sensações, ou funciona como auxiliadora expressiva, atuando sobre o leitor/
ouvinte, de modo que ele adote certo comportamento.
Elas podem ser formadas por:

a) apenas um único som.

Ex.: Oh!, Ah!, Ô, Ó.

b) por palavras: Oba!, Olá!, Claro!

c) por grupos de palavras, chamadas de locuções interjetivas, como: Meu Deus!,


Ora bolas! etc.

Assim como em outras classes, o sentido que expressa a interjeição dependerá


da entonação e do contexto em que ela estiver inserida.

Ex.: Psiu!!!, não consigo ouvir ninguém. (solicitação de silêncio)

Psiu!!!, a garota vai para que lugar? (flerte)

As interjeições podem exprimir satisfação, espanto, dor, surpresa, desejo etc.

Ex.: Oba! Meu time foi campeão. (satisfação)

Nossa!!! Levei um susto quando vi alguém passar na estrada. (espanto)

Ai!!! Não gosto de motorzinho no dente. (dor)

Puxa! Você tirou essa nota alta? (surpresa)

Hum!!! Que vontade de dar uma mordida nesse seu lanche. (desejo)

Não nos esqueçamos de fazer os exercícios propostos e praticar bastante. Unir


teoria e prática é fundamental para aprendermos constantemente.

Bem, agora passaremos à próxima Unidade, que sairá do campo da Morfologia,


para entrar nas relações sintáticas, observando a concordância nominal e verbal.

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Classes de Palavras
UNIDADE
III
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Morfologia - Aula Língua Portuguesa - Advérbios
https://youtu.be/MK0zorvzzFA
Verbos: Parte 1
https://goo.gl/O8rRMy
Verbos: Parte 2
https://goo.gl/8HGgik

Leitura
Preposições e os Verbos Transitivos Indiretos: Interface Sintaxe-Semântica Lexical
https://goo.gl/csQIGV
Análise Gramatical dos Advérbios de Frase
https://goo.gl/X6pJr8

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Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.

BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12.ed. São Paulo:


Ática, 2006.

________. Moderna Gramática Brasileira. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

COSERIU, E. Teoria del Lenguaje y lingüística general. Madri: Editorial Gredos,


S.A., 1978.

DUBOIS, J. e outros. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2007.

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991.

TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cortez, 1997.

SACONNI, L. A. Nossa Gramática. 30.ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

57
IV
Concordância Nominal e
Concordância Verbal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Concordância Nominal e Concordância Verbal
UNIDADE
IV
Contextualização
Esta Unidade sai do campo da Morfologia e entra no campo da Sintaxe.
Quando falamos em Sintaxe de Concordância, estamos observando como estudar
as relações entre vocábulos.

Vimos, anteriormente, que algumas classes se flexionam e, dessa forma, que ao


serem utilizados em enunciadas concretos devem observar a concordância em suas
relações. Assim, artigos, substantivos, adjetivos, numerais, pronomes e verbos, ao
serem usados, devem respeitar certas regras, que veremos no conteúdo temático
que estudaremos aqui.

Dividimos a Unidade em dois momentos. No primeiro, estudaremos a


Concordância Nominal e, no segundo, a Concordância Verbal.

Esperamos que os conteúdos aqui apresentados contribuam para o seu


crescimento em relação às questões gramaticais trabalhadas. Qualquer dúvida, não
esqueça, basta entrar em contato.

60
Concordância Nominal
Como o próprio nome diz, um dos objetos de estudo desta Unidade é como
podemos promover a concordância de artigos, adjetivos, numerais e pronomes
com o substantivo a que se referem.

Ao desenvolver textos, devemos observar algumas regras que a Gramática


preceitua para as relações nominais entre as palavras do enunciado.

Como nas Unidades anteriores, estudamos as classes de palavras, procuramos


topicalizar as regras de concordância por classe, para facilitar nosso estudo, vez que
a concordância está relacionada diretamente à flexão das palavras que já vimos,
procuramos desenvolver os conteúdos em quadros, para dar mais objetividade ao
estudo pretendido.

Concordância do Artigo
Regra Exemplos
1. O artigo deve concordar em - O menino andava de bicicleta.
gênero e número com o substantivo. - A menina andava de bicicleta.

Concordância do Adjetivo
1. O adjetivo concorda em gênero e número com o - A bela casa foi entregue ontem.
substantivo. - O belo carro foi entregue ontem.
2. Adjetivo concordando com mais de um substantivo:
a) com substantivos de gêneros diferentes, o artigo vai a) A máquina e o binóculo importados foram entregues
para o masculino plural; no prazo.
b) caso o adjetivo faça referência a apenas um dos b) A geleia e o pão torrado foram servidos no café da manhã.
substantivos, concorda com ele;
c) Eles mantêm a ideia e o pensamento fixo na proposta
c) se os substantivos forem sinônimos, o adjetivo de compra.
concorda com o mais próximo; caso sejam antônimos
irá para o plural.
3. Dois adjetivos relacionados a um substantivo posposto:
a) se apenas o substantivo vier precedido de artigo, a) Fizeram concurso para as polícias federal e estadual.
apenas ele varia;
b) Fizeram concurso para a polícia federal e a estadual.
b) se o substantivo vier precedido de artigo, e o segundo
adjetivo também, o substantivo fica no singular.
4. Se tivermos dois adjetivos na função de predicativo do
a) A diretora e o professores estão preocupados com as
sujeito (características do sujeito situadas no predicado),
notas do terceiro ano.
eles ficarão no plural.
5. Adjetivo anteposto a dois substantivos de gêneros
a) Adquiriu belas casas e apartamentos.
diferentes, deverá concordar com o mais próximo.

61
Concordância Nominal e Concordância Verbal
UNIDADE
IV
Concordância do Numeral
1. Quando dois ou mais numerais, no singular, acompanham o
mesmo substantivo, teremos: a) O primeiro e o segundo artigo (artigos) da constituição
a) Se os numerais estão precedidos de artigo, o substantivo atendem as nossas necessidades legais.
poderá ficar no singular ou ir para o plural; b) O primeiro e segundo artigos da Constituição atendem as
b) Se apenas o primeiro numeral for precedido de artigo, o nossas necessidades legais.
substantivo deverá ficar no plural.

Casos Especiais
Há alguns vocábulos da Língua cuja concordância se expressa de maneira
própria. Nos quadros a seguir, apresentamos grande parte deles.

a) Márcia disse antes de proferir seu discurso: “Obrigada pelo


1. Obrigado, mesmo e próprio carinho”.
– São palavras que concordam com o substantivo ou com o b) Elas mesmas fizeram as tarefas.
pronome a que se referem.
c) Já disse que este relatório deve ser feito por elas próprias.
2. Sós e só
a) Quando significarem “sozinho (a), sozinhos(as) a) Elas compraram tudo sós.
(adjetivo)”, concordarão com o elemento a que fazem
Ela comprou tudo só.
referência.
b) O juiz disse para ele falar só isso.
b) Quando significarem “somente” (advérbio), ficarão
invariáveis.
a) Nós estamos quites.
3. Quite, anexo, incluso e junto
b) As cartas anexas devem seguir via malote.
– Essas palavras concordam com aquela que estão
c) Todas as taxas foram inclusas.
relacionadas.
d) Ele estava junto quando ela faleceu.
4. A locução adverbial em anexo ficará sempre invariável. e) Os documentos seguem em anexo.
5. O vocábulo meio terá a seguinte concordância:
a) Quando significar “metade”, concordará com sua a) Lídia chupou meia laranja.
referência.
b) Hoje ela está meio triste.
b) Caso signifique “um pouco, mais ou menos”, permane-
cerá invariável.
a) Ela parece estar fora de juízo, no entanto é uma pseudo
6. Menos e pseudo
fanática.
– Esses dois vocábulos permanecerão sempre invariáveis
b) Durante o dia, houve menos reclamações.
7. Muito e bastante a) Bastantes pessoas estavam no show.
a) Ao se relacionarem a substantivos, os vocábulos serão Muitas pessoas assistiram ao show.
pronomes indefinidos adjetivos, assim concordarão
b) Eles estavam bastante alegres.
com eles.
Márcia e Arnaldo andaram muito.
b) Caso se relacionem com verbos, adjetivos ou advérbios,
serão advérbios, portanto, invariáveis. Os feridos não estão muito bem.
8. A palavra “grama” pode ter duas concordâncias de gênero.
a) Caso signifique “unidade de massa”, será masculino. a) O grama de ouro aumentou.
b) Representando as chamadas “plantas gramíneas”, será b) Genésio aparou a grama do quintal.
feminino.
9. Quando temos silepses de gênero e de número (figura que a) Rio de Janeiro é maravilhosa.(concordância com “cidade”)
aponta para a concordância com o sentido e não sintática), b) Estaremos aberto nos finais de semana.(concordância com
a concordância se realiza com o termo não expresso. “estabelecimento”).

62
Não devemos ficar assustados com tantos pormenores. A Gramática Normativa
se preocupa justamente em estabelecer regras, com a finalidade de manter o
que chamamos de padrão linguístico de prestígio. Com o tempo e com o uso,
passaremos a utilizar as questões apontadas aqui com mais efetividade.

Quando tivermos dúvidas, além de consultarmos o professor ou os tutores, é


fundamental fazermos uso de uma Gramática, para que ela se torne parte integrante
do cotidiano dos futuros professores de Língua Portuguesa.

Da mesma forma que temos concordância entre as categorias nominais, veremos


a seguir como devemos proceder quando estamos falando da concordância verbal.

Concordância Verbal
A Concordância Verbal é um mecanismo no qual o verbo se flexiona com a
finalidade de se ajustar ao sujeito da oração.

Como regra geral, podemos dizer que o verbo concorda com o sujeito em
pessoa e número. Estão lembrados? Na Unidade II, falamos sobre essa questão.
Veja o exemplo:

Os americanos invadiram o Vietnã.

O sujeito “os americanos” está na terceira pessoa do plural; portanto, o verbo


deve acompanhá-lo.

Assim como na Concordância Nominal, a Verbal também apresenta uma série


de regras que devemos observar. Para tratá-las objetivamente, usaremos quadros,
conforme fizemos com a primeira parte desta Unidade.

Regra Exemplos
1. Sujeito composto e anteposto ao verbo:
a) Se os termos que estão no sujeito forem de famílias a) A máquina de lavar e a geladeira foram levadas para o
semânticas diferentes, o verbo vai para o plural; concerto.
b) Quando as palavras que formam o sujeito forem b) Medo e temor tomaram (tomou) posse de todos os
sinônimas ou de mesma família semântica, o verbo convidados.
pode ir para o plural, ou ficar no singular; c) Em dias de tempestade, os ventos, os relâmpagos, os
c) Se tivermos uma gradação de substantivos no sujeito, o trovões não os incomodava (incomodavam).
verbo poderá ficar no singular ou ir para o plural; d) Em dias de tempestade, os ventos, os relâmpagos, os
d) Se tivermos uma gradação de substantivos no sujeito, trovões, nada os incomodava.
e eles vierem resumidos por alguma expressão, como: e) Eu, tu e ele vamos ao parque.
‘nada’, ‘tudo’, ‘alguém’..., o verbo ficará no singular;
Tu e ele vais ao parque.
e) Se o sujeito for composto por pessoas do discurso
diferentes, o verbo deve concordar com o plural da Eu e tu vamos ao parque.
pessoa de menor número.
2. Sujeito composto e posposto ao verbo.
Passarão o céu e a terra.
O verbo concordará no plural ou com o núcleo do sujeito
Passará o céu e a terra.
mais próximo.

63
Concordância Nominal e Concordância Verbal
UNIDADE
IV
Regra Exemplos
Discutiu-se a estratégia para construção da rodovia.
3. Verbo apassivado pelo pronome “se”.
Discutiram-se as estratégias para
Nesse caso, o verbo concordará com o sujeito em número.
construção da rodovia.
4. Verbo acompanhado por “se”, como índice de indetermina-
ção do sujeito.
Assistiu-se à derrota do time com muita tristeza.
Neste caso, o verbo ficará sempre na terceira pessoa do
singular.
Bateram duas horas.
5. Verbos dar, bater e soar, na indicação de horas, concordam
Soou uma hora
com o número das horas.
Deram oito horas.
6. Sujeito coletivo.
a) O enxame invadiu o celeiro e atacou os animais que
a) O verbo ficará no singular se estiver próximo ao sujeito;
estavam lá.
b) Caso venha seguido de expressão no plural, o verbo, b) A multidão de fiéis seguiram o cortejo.
também, vai para o plural.
7. Sujeito formado por nomes próprios.
Vassouras é uma cidade do Rio de Janeiro.
Se esses nomes não vierem precedidos de artigo, o verbo Os Estados Unidos ficam na América do Norte.
ficará no singular.
Fui eu que falei.
8. Quando o sujeito de um verbo for o pronome relativo “que”,
Foste tu que falaste.
o verbo deverá concordar com o termo que o antecede.
Foram eles que falaram.
9. Quando o sujeito de um verbo for o pronome relativo
“quem”, teremos duas formas para a concordância: a) Fui eu quem falou.
a) o verbo concordará na terceira pessoa do singular; b) Fui eu quem falei.
b) poderá concordar com o termo que o antecede.
10. Se o sujeito for um pronome de tratamento, o verbo Vossa Excelência deseja um café?
ficará sempre na terceira pessoa do singular, ou plural,
dependendo do pronome. Vossas Excelências desejam um café?
11. Quando temos no sujeito as expressões “mais de” ou Mais de um carro foi vendido.
“menos de”, o verbo concordará com o numeral que vier
depois delas. Mais de dez alunos saíram da sala.
Exceção: com a expressão mais de um, o verbo pode ir Menos de vinte telefones foram grampeados.
para o plural em duas situações: a) Mais de uma mota se aparelharam.
a) quando o verbo dá ideia de situação recíproca; b) Mais de um diretor, mais de um professor estavam
b) quando a expressão mais de um vem repetida. presentes na Formatura.
12. Núcleos do sujeito ligados pela conjunção “ou”:
a) Se a conjunção cria uma relação de exclusividade, a) Sebastião ou Marcelo será eleito Deputado Federal.
o verbo fica no singular;
b) Alimentação saudável ou exercícios físicos são fundamen-
b) Se a relação não for de exclusividade, o verbo vai tais para a saúde.
para o plural;
c) Ele ou eu irei ao velório de Astrogildo.
c) Se a conjunção liga dois núcleos de pessoas do discurso
diferentes, o verbo concordará com o mais próximo.
13. Com as expressões “um dos que” e “uma das que”, o verbo a) Maria foi uma das que mais comeu.
pode ficar no singular ou no plural. b) Maria foi uma das que mais comeram.
14. Com o sujeito formado pela expressão “Nem um nem a) Nem um nem outro estava cansado.
outro”, o verbo pode ficar no singular ou no plural. b) Nem um nem outro estavam cansados.

64
Regra Exemplos
15. Verbo parecer seguido de infinitivo admite duas
construções: a) Após o bombardeio, os prédios parecem cair como blocos
a) Flexiona-se o verbo parecer e se mantém o outro verbo de isopor.
no infinitivo; b) Após o bombardeio, os prédios parece caírem como blocos
b) Deixa-se o verbo parecer no infinitivo e se flexiona o de isopor.
outro verbo.
16. Silepse de pessoa, à medida que o verbo passa a concordar
a) Os Metaleiros somos barulhentos. (como me inclui, está
com uma pessoa não expressa. Ela está implícita na
implícito o “nós”).
oração.
17. Verbos impessoais:
a) Ficarão sempre na terceira pessoa do singular; a) Fará muito calor amanhã.
b) Os verbos auxiliares que se colocam junto aos b) Deverá fazer umas dez horas que eles não dão sinal de
impessoais, formando uma locução verbal, também vida.
não se flexionam; c) Todos já haviam comprado seus presentes de Natal,
c) quando o verbo “haver” for auxiliar de outro verbo, ele quando os ladrões entraram na loja.
se flexionará.
18. Concordância do verbo “ser”. Tal concordância oscila entre a) Teu suporte são coisas que eu não entendo. Teus caminhos
o sujeito e o predicado. Vamos apresentar algumas dessas são fonte de aprendizagem para muitos.
concordâncias:
b) Ele é o seu pensamento. Sua alegria eram os netos.
a) Quando o sujeito e o predicativo são nomes de coisas e
pertencem a números diferentes, preferencialmente o c) É uma hora. (São sete horas). É um kilômetro, (São sete
verbo concorda com o que está no plural; kilômetros). É primeiro de novembro. São quinze de
outubro.
b) Quando o sujeito ou o predicativo for nome de pessoa,
o verbo deverá concordar com o nome; d) Duzentos kilômetros é muito para chegarmos.
c) Nas indicações de horas, dias e distância, o verbo “ser” Quatorze quadras é bastante para correr, mas ele conseguirá
concorda com o predicativo; chegar sem muito esforço.
d) Com as expressões “é muito”, “é pouco” e “é bastante”, o Ele disse que duzentos reais é pouco para o trabalho que
verbo ficará sempre invariável. realizou.

Bem, chegamos ao fim de mais uma Unidade. Sabemos que todos estão
preocupados com a quantidade de regras de concordância, porém, não nos
esqueçamos de fazer os exercícios e praticar essas regras, pois somente isso nos
deixará mais próximos desse conhecimento.

Aguardamos a todos na próxima Unidade, que será regência verbal e nominal.

65
Concordância Nominal e Concordância Verbal
UNIDADE
IV
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos
Concordância Verbal e Nominal exemplos
https://youtu.be/Fb-zBUUY3l4
Os melhores do Mundo – Sequestro
https://youtu.be/cszA3o0X75M

Leitura
Concordância Nominal e Verbal: Contribuições para o Debate sobre o Estatuto da Variação em Três Variedades
Urbanas do Português
https://goo.gl/cJyjHu
Concordância Nominal em Duas Variedades do Português: Convergências e Divergências
https://goo.gl/MtrmaJ
Aspectos Funcionais e Estruturais da Concordância Verbal no Português Falado
https://goo.gl/b6wCbm

66
Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.

BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12.ed. São Paulo:


Ática, 2006.

COSERIU, E. Teoria del Lenguaje y linguística general. Madri: Editorial Gredos,


S.A., 1978.

DUBOIS, J. e outros. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2007.

________. Moderna Gramática Brasileira. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991.

TRAVAGLIA, L. C.. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cortez, 1997.

SACONNI, L. A. Nossa Gramática. 30.ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

67
V
Regência Nominal e Regência Verbal

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Carlos Augusto Andrade

Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Regência Nominal e Regência Verbal
UNIDADE
V
Contextualização
Esta Unidade continua como a anterior, neste caso, no campo da Sintaxe de
Regência. Ela cuida das relações de dependência entre as palavras na oração, ou
entre orações. Alguns termos exigem a presença de outros, para que a produção
de sentidos seja completa. Haverá Regência Nominal na medida em que os termos
regentes forem substantivos, adjetivos ou advérbios. Caso a regência seja de verbo,
haverá Regência Verbal.

Dividimos a Unidade em três momentos. No primeiro, estudaremos a Regência


Nominal; no segundo, a Regência Verbal; e, finalmente, devido à própria ligação
do conteúdo com a regência, estudaremos o fenômeno da crase.

A palavra “regência” é um substantivo derivado do verbo reger, em latim,


regere, que significa “dirigir”, “guiar”, “conduzir”. É nesse sentido que veremos
como algumas palavras e alguns verbos trazem em sua constituição semântica a
propriedade de serem termos regentes, que exigem complementos chamados de
termos regidos.

Esperamos que os conteúdos aqui apresentados contribuam para o seu


crescimento em relação às questões gramaticais trabalhadas. Qualquer dúvida,
entre em contato conosco/com o seu tutor.

70
Regência Nominal
Damos o nome de Regência Nominal à relação existente entre um substantivo, um
adjetivo ou um advérbio e os respectivos complementos dessas classes gramaticais.

Normalmente, o complemento de um nome vem regido de preposição.

Ex.: Ele estava alheio a tudo.

Marcelino estava apto a realizar o teste.

Não há segredos em relação à regência. Apresentaremos, a seguir, uma relação


de vocábulos como apresentada por Infante em seu Curso de Gramática aplicada
a Textos:

SUBSTANTIVOS ADJETIVOS ADVÉRBIOS


Admiração a, por Acessível a Longe de
Atendendo a, contra Acostumada a, com Perto de
Aversão a, para, por Afável com, para com Advérbios em “mente” seguem o
regime dos adjetivos dos quais
derivam. Relativamente a
Bacharel em Agradável a
Capacidade de, para Alheio a, de
Devoção a, para com, por Análogo a
Doutor em Ansioso de, para, por
Dúvida a cerca de, em, sobre Apto a, para
Horror a Ávido de
Impaciência com Benéfico a
Medo a, de Capaz de, para
Obediência a Compatível com
Ojeriza a Contemporâneo a, de
Proeminência sobre Contíguo a
Respeito a, com, para com, por Contrário a
Curioso de, por
Descontente com
Desejo de
Diferente de
Entendido em
Equivalente a
Escasso de
Essencial a, para
Fácil de
Fanático por
Favorável a
Generoso com
Grato a, por
Hábil em

71
Regência Nominal e Regência Verbal
UNIDADE
V
SUBSTANTIVOS ADJETIVOS ADVÉRBIOS
Habituado a
Idêntico a
Impróprio para
Indeciso em
Insensível a
Liberal com
Natural de
Necessário a
Nocivo a
Paralelo a
Passível de
Preferível a
Prejudicial a
Prestes a
Propício a
Próximo a, de
Relacionado com
Relativo a
Satisfeito com, de, em, por
Semelhante a
Sensível a
Sito em
Suspeito de
Vazio de

Cada uma das palavras do quadro anterior são termos regentes, que precisam
de um termo chamado regido para completar o sentido delas.

Pensemos no substantivo doutor. Na oração:

Marcelo Augusto é doutor em Psicologia.

Se parássemos apenas no substantivo doutor, não teríamos o sentido pleno do


que se deseja comunicar. Poderíamos perguntar: doutor em quê? Nesse exemplo,
a palavra “doutor” é o termo regente e a palavra “Psicologia”, o regido.

Como um adjetivo da lista, teríamos a mesma coisa.

Fabiana é sensível a penicilina.

Agora, o termo regente é o adjetivo “sensível” e o regido, o substantivo “penicilina”.

Da mesma maneira, ao usarmos determinados advérbios, teremos o mesmo


processo. Vejamos:

O rato está perto da lareira.

72
Nessa oração, temos um advérbio (termo regente) que exige um complemento
“lareira” (termo regido).

Em todos os casos, foi necessário o uso da preposição como elemento de ligação


entre o termo regente e o termo regido.

Lembrar-se de todas essas palavras e suas regências, para a elaboração de


nossos textos, não é fácil. Apenas o uso e a experiência, com consciência da
variante padrão, irão nos ajudar nesse processo. Até nos apropriarmos do uso, a
melhor saída é consultar uma Gramática.

Passaremos agora, ao estudo da Regência Verbal.

Regência Verbal
Como já vimos na Unidade II, os verbos têm uma forma de flexão bem dife-
renciada das demais palavras. Além disso, eles se relacionam com os sujeitos das
orações, concordando com eles. Como palavra, apresentam também uma regência
de acordo com o sentido que possuem no enunciado em que estão inseridos.

Para entender essa regência, temos de/que relembrar conceitos que já foram
trabalhados no Ensino Fundamental e Médio – o de transitividade verbal.

A palavra “transitivo” vem do latim transitivus, que significa “passar”,


“decorrer”. A palavra trânsito tem a mesma origem e, fazendo uma analogia,
podemos dizer que, quando houver um verbo transitivo, para que o enunciado seja
completo, é necessário que o significado do verbo transite até o complemento. Os
complementos verbais podem ser objetos diretos, objetos indiretos e objetos
diretos e indiretos.

Segundo as gramáticas, os verbos podem ser: intransitivos, transitivos diretos,


transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos (ou bitransitivos).

Intransitivos – são verbos que não possuem complemento, ou seja, eles têm um
sentido completo. Sozinhos já indicam a ação ou o fato.

Ex.: Márcio levantou cedo.

Observação: importante dizer que “cedo” é um adjunto adverbial de tempo. Ele


não se configura pela Gramática Normativa como Complemento Verbal.

Transitivos – São verbos que exigem complemento, como termos regentes.


Mediante o sentido que têm nos enunciados, poderão ser transitivos diretos,
indiretos ou diretos e indiretos (bitransitivos).

Ex.: Márcio comprou uma casa.

Quem compra, compra alguma coisa. O verbo “comprar” exige que indiquemos
o objeto comprado; portanto, ele é transitivo.

73
Regência Nominal e Regência Verbal
UNIDADE
V
a) Transitivo Direto – Os complementos dos verbos transitivos diretos são os
objetos diretos. Entre o verbo e o complemento verbal não há preposição
obrigatória para o estabelecimento da relação de regência.

Ex.: Acharam o preço ótimo. “Achar” = verbo transitivo direto – VTD.

Observação: pronomes pessoais do caso oblíquo podem atuar como objeto


direto: o, a, os, as (tais pronomes poderão, ainda, ter a forma de lo, la, los,
las, se as formas verbais terminarem em –r, -s ou z; e as formas no, na, nos,
nas, se as formas verbais terminarem em sons nasais).

Ex.: Trabalharam muito para comprar a casa. Pintaram-na de azul. O verbo


conjugado na terceira pessoa do plural termina com som nasal.

Pegou a carta e deu-a para a irmã ler.

Ela fez tanta traquinagem da última vez que esteve na casa da tia, que ficaram
com vontade de deixá-la na casa da vizinha dessa vez.

b) Transitivo Indireto – Os complementos dos verbos transitivos indiretos são


os objetos indiretos. Nesse caso, entre o verbo e o complemento verbal haverá
preposição obrigatória para o estabelecimento da relação de regência.

Ex.: Todos gostam de abacate maduro.

Observação: pronomes oblíquos átonos podem estar na função de objeto


indireto. São eles: me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Os oblíquos tônicos também
podem ocupar a mesma posição. São eles: mim, ti, si, ele, ela, nós, vós,
eles, elas.

Ex.:

Ele gosta de mim.

Dê-me o relatório, que o encaminho ao superintendente.

c) Transitivo direto e indireto (Bitransitivo) - São verbos que possuem dois


complementos: objeto direto e objeto indireto.

Ex.: Paguei a conta ao Banco. Quem paga, paga alguma coisa a alguém. O
verbo pagar, nesse caso, é Transitivo direto e indireto.

A seguir, apresentaremos alguns verbos que, dependendo do sentido, podem


ter a transitividade alterada. Optamos, também, em fazer um quadro, para tratar a
questão objetivamente.

74
Verbo Sentido/Regência Exemplo
a) Fazer carinho – VTD a) Mariana agradava seu cachorro.
Agradar
b) Satisfazer – VTI b) O presente agradou ao aniversariante.
a) Cheirar, sorver – VTD a) Aspiramos o aroma das plantas.
Aspirar
b) Almejar, desejar – VTI b) Aspiramos a dias melhores.
a) O Presidente da empresa assiste em
a) Morar, residir – VI Florianópolis.
b) Ver, presenciar – VTI b) Assistimos ao filme ontem no cinema.
Assistir
c) Ajudar, dar assistência – VTD c) Os enfermeiros assistiram os doentes.
d) Caber, pertencer – VTI d) A legislação assiste a todos os
cidadãos brasileiros.
a) O técnico chamou os jogadores para a seleção.
a) Convocar – VTD
Chamar b) Chamou-no patife.
b) Apelidar, dar nome – VTD ou VTI
Chamou-lhe de patife.
a) Achar bom gosto, aprovar, estimar – VTI a) Gosto de suco de uva.
Gostar
b) Experimentar, provar – VTD b) Gostei o vinho no jantar.
a) Ter implicância – VTI a) O chefe implicou com os subordinados.
Implicar
b) Acarretar, envolver – VTD b) Isso implicará outras decisões.
a) Marcio namora Joana (cuidado para não
Namorar a) É sempre VTD
usar a preposição com)
a) Referindo-se a coisas – VTD a) Paguei as aulas.
Pagar e Perdoar
b) Referindo-se a pessoas – VTI b) Pagaram ao professor.
a) Imaginar, lembrar-se – VTI a) Pensava em Deus todos os dias.
Pensar
b) Aplicar curativo – VTD b) As enfermeiras pensavam os feridos.
a) Constrói-se com objeto direto e indireto
Obs.: a Gramática Normativa
Preferir preceitua que não devemos usar a) Prefiro a TV ao cinema.
para o verbo “preferir” a conjunção
comparativa “do que”, ou as de
reforço: como, mais, menos etc.
a) Desejar – VTD a) Eles sempre quiseram a felicidade dos filhos.
Querer
b) Amar, ter amizade – VTI b) Os filhos querem muito aos seus pais.
a) Mariano visou a caça e atirou.
a) Mirar, apontar – VTD
b) Assinou o cheque.
Visar b) Assinar, dar visto – VTD
c) Rute visou ao cargo de gerente, desde
c) Almejar, desejar – VTI
que entrou na empresa.

O estudo da Regência (Nominal e Verbal) é um dos mais complexos, como


pudemos ver, pois temos de conhecer não somente questões de transitividade, mas
também o sentido que os verbos promovem nesse processo, pois o sentido mudará
inclusive a transitividade deles.

Cabe-nos atenção e, como dissemos em praticamente todas as Unidades


estudadas até aqui, o uso efetivo dos conhecimentos ora apresentados é o que de
fato produzirá a sua aprendizagem. Portanto, não nos esqueçamos de realizar as
atividades propostas.

75
Regência Nominal e Regência Verbal
UNIDADE
V
O Uso da Crase
Achamos pertinente entrar no estudo da crase nesta Unidade, pois estamos
falando de Regência, e a crase é um produto (ou não) da relação de regência entre
as palavras. Em tais relações, como vimos nas regências nominais e verbais, os
termos regentes exigirão (ou não) a preposição. No caso da crase, observaremos a
questão pela utilização da preposição “a”.

Objetivamente, podemos afirmar que a crase é um fenômeno linguístico que


se estabelece a partir da fusão do “a” preposição com o artigo “a”, ou com os
pronomes demonstrativos “aquela, aquele, aquilo”.

Nota: cuidado! Crase não é um acento! É uma fusão! O acento que representa o
fenômeno da crase é chamado de acento grave.

Ao tratar da crase, mais uma vez os gramáticos nos apresentam regras. Como
em outros casos, precisamos estar atentos, pois há exceções.

Fica-nos claro que, como a crase acontece entre o “a” preposição e um “a”
artigo feminino, o fenômeno não existirá diante de palavras masculinas.

Ex.: Todos irão à padaria comprar pão. (há crase, pois o verbo “ir” exige
preposição, e a palavra “padaria” é feminina).

Em relação a nome de lugares, lembro-me de uma regra prática que aprendi.

Ex.: Vou à Bahia.

Vou a Pernambuco.

Como vemos, no primeiro exemplo usamos o acento grave, para representar a


crase; no segundo, não.

Pensemos:
Se vou a e volto da – crase há.
Se vou a e volto de – crase para quê?

Parece uma brincadeira, mas é real. Se vou a Bahia, volto da Bahia; no caso de
Pernambuco, volto de Pernambuco.

É só lembrar de que a condição necessária para que a crase exista é a de que o


termo regente exije a preposição, e o regido tem de ser uma palavra feminina que
admita o artigo.

Só para pensarmos nos pronomes demonstrativos, vejamos os exemplos


a seguir:

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Ex.: Refiro-me àquela candidata.
Comprei aquela fazenda.
Dedica-se àquele esporte.

A crase só acontece no primeiro e no terceiro exemplos. Para testarmos se


devemos ou não usá-la, basta substituir o pronome por um corresponde masculino.
Se tiver a combinação “ao”, devemos usar o sinal da crase no pronome relativo.
Analisando os exemplos, teríamos:
Ex.: Refiro-me ao candidato.
Comprei o carro.
Dedico-me ao esporte.

Seguindo a mesma proposição que fizemos até aqui, apresentaremos, no quadro


a seguir, algumas regras sobre a crase, dividindo-as em: 1. Casos em que sempre
haverá crase; 2. Casos em que não há crase; 3. Casos em que a crase é facultativa
(pode-se ou não usá-la).

Casos em que Casos em que a


Casos em que não há crase
sempre haverá crase crase é facultativa
a) Na indicação do número a) Antes de verbo. a) Antes de nome próprio feminino.
de horas. Ex.: Voltamos a observar Ex.: Refiro-me à (a) Marlene.
Ex.: Chegamos às oito horas. as pistas que nos foram entregues. b) Antes de pronome possessivo
b) Na expressão à moda de, b) Antes de palavras masculinas. feminino.
mesmo que a palavra moda Ex.: Ela demonstrou que gosta muito Ex.: Dirija-se à (a) sua casa.
venha oculta. de andar a cavalo. c) Depois da preposição até.
Ex.: Eles usam sapatos à (moda c) Antes de pronomes em geral; Ex.: Dirija-se até à (a) empresa agora.
de) Luís XV. exceção aos pronomes de
c) Nas expressões adverbiais tratamento: senhora,
femininas. senhorita e dona.
Ex.: Chegou à tarde (tempo). Ex.: Falou a você tudo o que queria.
Falou à vontade (modo). Dirigiu-se a V.Sa.
d) Nas locuções conjuntivas e com aspereza.
prepositivas; à medida que, à Deu à Sra. os pêsames pelo luto.
força de... etc. d) Em expressões formadas por
Ex.: À medida que ele fala, palavras duplicadas.
ela se cala. Ex.: Estamos cara a cara.
e) Quando o “a” vem antes de uma
palavra no plural.
Ex.: Não falo a pessoas estranhas.

Essas são as principais regras para o uso da crase. Lembremos de que o


aprofundamento do estudo pode ser feito por meio da bibliografia apresentada.

77
Regência Nominal e Regência Verbal
UNIDADE
V
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Moderna Gramática Brasileira
LUFT, Celso Pedro. 2ªed.rev e atual. São Paulo: Globo, 2002.
Da Linguagem Coloquial à Escrita Padrão
MOLLICA, Maria Cecilia – Rio de Janeiro: 7 letras, 2003.

Vídeos
Aula de Língua Portuguesa – Sintaxe – Regência Verbal: Parte 1
https://youtu.be/h1jU80SfNM4
Aula de Língua Portuguesa – Sintaxe – Regência Nominal
https://youtu.be/6TtZhzNkq5Q

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Referências
AZEREDO, J. C. de. Gramática Houaiss da Língua Portuguesa. São Paulo:
Publifolha, 2008.

BECHARA, E. Ensino da gramática. Opressão? Liberdade? 12.ed. São Paulo:


Ática, 2006.

COSERIU, E. Teoria del Lenguaje y lingüística general. Madri: Editorial Gredos,


S.A., 1978.

DUBOIS, J. e outros. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 2007.

________. Moderna Gramática Brasileira. 37.ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2009.

MONTEIRO, J. L. Morfologia Portuguesa. Campinas: Pontes, 1991.

TRAVAGLIA, L. C.. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de


gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cortez, 1997.

SACONNI, L. A. Nossa Gramática. 30.ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

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