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EDUCAR PARA QUÊ?

A VISÃO CONFUCIONISTA SOBRE A EDUCAÇÃO

Helayne Cândido1 (FAFIUV)

Orientador: Prof. Dr. André Bueno 2

Resumo: O presente texto pretende abordar questões sobre a


educação, na visão de Confúcio (551 a.C. – 479 a. C.), filósofo que viveu
na China. Sendo a educação um tema sempre tão importante e
debatido na sociedade, em seus mais diferentes aspectos, sugere-se
aqui uma nova e, por que não, antiga, visão de uma educação para o
desenvolvimento de um ser humano ideal.

Palavras – chave: China. Confúcio. Educação.

Partindo do pressuposto de que as culturas orientais e


ocidentais, se diferenciam em muitos aspectos e que ambas precisam
se conhecer mutuamente, o presente texto, pretende abordar a questão
da educação, sob o olhar de Confúcio, filósofo da China antiga, que
apresentou abordagens, propostas educativas para o seu tempo e que
embora muitos séculos tenham se passado, muito do que este sábio
dizia, pode nos servir nos dias de hoje, contribuindo para a reflexão de
que tipo de educação temos e, queremos.
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1

Acadêmica do 2° ano do curso de História, da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de


Página

União da Vitória – Paraná.


2
Sinólogo, Doutor em Filosofia, Mestre em História e Professor de História da FAFIUV – União da Vitória,
Paraná.
Durante a Dinastia Han, a China viveu um período próspero, com
estimulação para a expansão comercial, controlando a rota da seda,
ampliando as vias marítimas e territoriais, aperfeiçoando a burocracia
responsável pela administração e fiscalização em todos os níveis e
adotando o confucionismo como prática oficial entre os chineses. “A
Dinastia Han criara finalmente a estrutura que serviria de base para o
desenvolvimento de todas as outras dinastias [...].” (BUENO, 2007)

Percebe-se, que a cultura chinesa sempre despertou interesse


nos povos distantes; seja economicamente e/ou, culturalmente, e que
deles apreenderam valiosos ensinamentos. Os povos que dela queriam
se aproximar, tinham a intenção de conhecer e aprender com os
chineses e também, manter contatos diplomáticos É interessante
salientar, que a sociedade chinesa, se diferencia das sociedades do
resto do mundo, não apenas pelo aspecto geográfico, mas também, por
ter se desenvolvido, ao longo dos anos, de maneira diferenciada,
compreendendo o tempo histórico de outro modo.

E de que nos servem essas informações?

Ora, para compreendermos muito do que se passa hoje no


mundo e em nossa sociedade, é preciso que voltemos nossa atenção
para o passado, buscando em livros e nos escritos da antiguidade, as
bases para os pensamentos que norteiam os dias de hoje.

E não é voltar um pouco no tempo, há alguns séculos atrás. É


voltar na origem, no berço da civilização, no cerne de toda uma
estrutura que foi se emoldurando, se modificando, se estruturando e
reestruturando, tendo o homem e suas organizações como agente
destas mudanças. É buscar nos livros e nos escritos deixados pelos
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pensadores da antiguidade, a compreensão de um mundo que para nós


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ocidentais é desconhecida e/ou despercebida, mas que muito
contribuíram, nos mais diferentes aspectos.

E o que é mais impressionante: como os pensamentos de mais de


dois milênios podem fazer sentido, ainda nos dias de hoje!

O que Confúcio almejava era que as pessoas tomassem


consciência de seu papel na sociedade, sendo críticos, atuantes e
participativos dos modos de vida que os rodeavam. E já naquele tempo,
o sábio enfatizava a importância do estudar. Mas não o estudar por
estudar. E sim, a busca pelo aprendizado com significado, juntamente,
com o prazer pelo que se faz, alcançando assim, a felicidade.

Estudar, portanto, não é em essência uma obrigação:


é, de fato, um exercício que temos de fazer para nos
melhorarmos naquilo que queremos alcançar e
saber. (BUENO, 2011, p. 21)

O Confucionismo é uma escola filosófica que tem seus princípios


e fundamentos no conceito de Dao, que significa caminho. Uma escola
baseado nas ideias de Confúcio, que acreditava poder reestruturar sua
sociedade por meio da moral e dos rituais, buscando perpetuar as
tradições do passado, enfatizando o exemplo, como fator
predominante para a formação de qualquer ser humano.

O pensamento de Confúcio (551-479 a.C.), grande filósofo chinês,


recomendava que as relações, fossem elas públicas ou privadas,
deveriam ter a ética como orientadora das ações humanas, e assim,
pensar criticamente as ações e relações entre as pessoas, refletindo
sempre os valores e costumes da sociedade.
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A educação confuciana estava aberta para todos,
indiscriminadamente – ricos e pobres, nobres e
plebeus. Seu propósito era primordialmente moral: a
realização intelectual era apenas um meio para o
autodesenvolvimento ético. ( LEYS, 2005, p. XXXI)

Confúcio acreditava que o ser humano possui uma vocação para


determinadas habilidades. E todas elas teriam sua função na sociedade.
Por isso, o ideal seria descobrir e aprimorá-la, tendo assim, a realização
pessoal. Esta realização não deve ser entendida como fortuna e poder.
E sim, a busca de valores interiores, a busca por realizar aquilo nos faz
bem. Para este sábio, quando se realiza algo de que gostamos,
inevitavelmente estaremos nos aperfeiçoando, pelo puro prazer de
querer fazer melhor.

Em uma sociedade que entende o ganho monetário como sendo


de grande importância, vale refletir os ensinamentos do sábio
Confúcio. Fica claro, que cada função e/ou profissão numa sociedade,
tem sua importância, tem seu valor, e que para que ela funcione da
melhor maneira possível, é preciso que tudo esteja harmoniosamente
sintonizado, para que tenha bons resultados e as pessoas vivam bem.

E qual a relação da educação com todo este processo?

Ora, educar significa orientar um indivíduo de acordo com as


expectativas de uma sociedade. Então, para Confúcio, a educação se
daria seguindo os preceitos da ordem e da beleza, para a formação de
um ser humano pleno, buscando a superioridade da alma. Esta ordem
não seria imposta e nem sua falta seria punida com castigos. Ele
buscava esta ordem através da educação e seu grande questionamento
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era como ensinar e como aprender. Segundo Jaspers, (2003, p. 79) “[...]
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o modo de aprender e ensinar tornou-se um problema.”


Confúcio acreditava que a ordem social seria uma consequência
das ações humanas, aprendidas através da educação, vinda da escola e
também da família. Acreditava que “o homem precisa ser educado em
um ambiente que estimule as virtudes coletivas.” (BENJAMIN, 2012)

Todavia, esse conhecimento de nada adiantaria, se acompanhado


dele, não viesse a práxis, ou seja, é necessário aplicar tal saber na vida
cotidiana das pessoas, buscando sempre o bom relacionamento com o
próximo. Para Confúcio, o homem precisa melhorar-se sempre, na
busca pela solidariedade, amor, compaixão e compromisso com o
outro, perfazendo um caminho (Dao), aprimorando-se sempre.

O Dao, na cultura chinesa e nos ensinamentos de Confúcio, seria


o caminho para se alcançar a plenitude do ser humano, aprendendo,
ensinando e interiorizando os exemplos vindos dos antigos,
valorizando-os e colocando-os em prática. É o método pelo qual, o
mestre acreditava, que educando as pessoas, poderia transformar a
sociedade, tornando-a mais harmoniosa e humanizada, obtendo a
essência do homem. Segundo BUENO (2007), “[...] Dao de Confúcio
seria, assim, a prática do Ren” .

E ainda,

Confúcio nunca estabeleceu um limite para quem


poderia ou não entender o caminho (Dao) por ele
proposto. A base desse Humanismo, assim como do
ritual e da conduta eram, sempre, os estudos. Estudar
a si próprio, estudar os outros, estudar a cultura,
formando assim um arcabouço íntimo de idéias e
valores: eis o mister dos autênticos
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confucionistas. (BUENO, 2004)


Página
Pensar a educação idealizada por Confúcio, é analisar como uma
filosofia e a prática educacional conseguiu, e consegue, se fazer
presente nas práticas pedagógicas até os dias de hoje. Num mundo
onde várias concepções pedagógicas são adotadas a todo momento
como modismos de época, estudar o Confucionismo e sua busca pela
formação do homem e de uma sociedade melhor, é vislumbrar outro
tipo de formação que apresenta outros valores, diferentes dos que
estamos acostumados a nos deparar. É necessário observar o que de
bom ela pode contribuir para melhorar nossa formação. Com certeza, o
fato de desejar desenvolver seres humanos críticos, já é um ponto
muito relevante.

Numa China conturbada, Confúcio percebeu que a origem dos


problemas de sua sociedade, estavam na falta de valores morais e,
acreditava que para resgatá-los era preciso aprimorar a educação e tê-
la como instrumento para a formação de cidadãos críticos e,
consequentemente, uma melhoria na sociedade chinesa. Porém, este
sábio também se questionava sobre que tipo de educação estava sendo
desenvolvida, “se mal aplicada ou desenvolvida, a educação seria, por
si só, incapaz de resolver os problemas sociais e individuais” (BUENO,
2011, p. 8).

Para Confúcio, a educação possui um papel importantíssimo na


formação do ser humano. Para ele, para que um país tenha ordem, é
preciso que o indivíduo passe pela escola, reforçando costumes, que
devem se iniciar no campo familiar. E a educação recebida nos
primeiros anos de vida e, se estendendo por toda ela, deveriam servir
de guia para se alcançar uma cultura melhor e preservá-la, atingindo,
assim, a harmonia em sociedade.
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“A ordem é necessária porque a essência do homem só se realiza


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na comunidade humana.” (JASPERS, 2003, p. 93) Ou seja, o indivíduo


cumprindo as leis e os costumes, alcançaria a harmonia na sociedade e,
isto se daria através da educação, fazendo sentido e sendo
interiorizada pela pessoa, e por fim, sendo colocada em prática. “O
sentido de toda aprendizagem é a práxis.” (JASPERS, 2003, p. 81)

Sendo assim, o que se pretende é descrever quem foi Confúcio e


seus ensinamentos, procurando interpretá-los, com base em seus
escritos.

Portanto, que contribuições os pensamentos de Confúcio, um


filósofo que viveu antes de Cristo, pode nos oferecer à respeito da
educação nos dias atuais?

Confúcio (551 - 479 a. C.) viveu na antiguidade e se dedicou a


estudar as instituições, os costumes e as tradições. Viveu numa época
de crise, onde a corrupção era generalizada, a economia e a sociedade
passavam por mudanças, a miséria e a criminalidade aumentavam e,
então, ele procurava uma reestruturação da sociedade através de
modelos do passado, porém, com uma metodologia inovadora.

Para Bueno (2004), Confúcio, procurava as causas da corrupção


em sua sociedade e percebeu que a mesma tinha origem no fato de que
as vontades da natureza não eram cumpridas. O ser humano,
entendido como parte dela, precisaria viver em harmonia com a
mesma, visto que qualquer ação contra ou a favor dela, teria uma
resposta imediata na vida das pessoas.

[...] toda a operação do ser humano realizada contra a


favor da natureza tem algum tipo de repercussão –
mas este processo tem com fundamento, a princípio
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o próprio ser humano, e não necessariamente parte


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de uma vontade instável do Deus Céu. (BUENO,
2004)

Neste sentido, o estudar e compreender as leis, seria o


aprimoramento do caráter, sólido e crítico, da pessoa, buscando viver
plenamente em harmonia consigo, com a natureza e com o universo.
Quando as leis da natureza são cumpridas e colocadas em prática, com
seu entendimento claro, na vida das pessoas, existirá uma harmonia
social. E isto se dá através da educação. Ensinado harmonicamente, leis
e costumes, é possível, evitar males que assombram a humanidade.

Confúcio buscava o aprimoramento moral e ético; a busca por


um ser humano superior, nobre de alma; o aperfeiçoamento do ser.
Por isso, pode-se dizer que Confúcio é considerado um filósofo
humanista e uma de suas contribuições de grande valia, é a de que,
para além do estudo, é preciso estar atento à conduta. “[...] estudar sem
raciocinar é perigoso” (LY, 2:15).

O mestre almejava uma educação com base em repetições dos


saberes dos antigos, de seus ancestrais, procurando entendê-las e
atualizando-as, renovando assim, as tradições. Ele entendia a
individualidade de cada pessoa e acreditava na potencialidade dessas
características, valorizando a ação criativa da pessoa, desenvolvendo-a.
O que Confúcio sugeriu foi uma pedagogia voltada ao ensino de várias
áreas, como a música, a caligrafia, o arco e flecha entre outras, para que
a pessoa pudesse passar por tais experiências, vivenciando-as e
percebendo com qual mais se identificaria e assim poder praticá-la,
estudando-a e buscando melhorar sempre.

[...] despertar a potencialidade do educando,


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revelando aquilo ao qual ele seria mais propenso; em


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seguida, estimulá-lo a aperfeiçoar suas habilidades


de modo saudável e realizador; por fim, fazer com
que o uso de suas habilidades esteja de acordo com
as regras necessárias ao bom entendimento com o
restante da sociedade [...] (BUENO, 2011, p. 11)

Sendo considerado o primeiro a pensar nos problemas do mundo


de maneira universal, Confúcio foi e é referência para o entendimento
da estrutura do pensamento chinês, e nos serve de base para a
compreensão da sociedade oriental. Sociedade esta, que valoriza a
tradição, os costumes e busca no que é considerado antigo, as bases
para a reestruturação do presente. “Revelando-se o passado,
compreende-se o presente.” (LY, 2:11)

Tudo isto baseado em uma proposta educacional inovadora, que


almejava o ser humano sábio, sensível, comedido e perpicaz. Numa
época em que a China passava por transtornos, ele acreditava que a
formação do povo seria o agente transformador de toda uma mudança
para a sociedade.

Para o pensamento Confucionista, qualquer pessoa pode


aprender e educar-se para a formação de um ser humano melhor. E foi
esta idéia e exercendo atividades de rituais e da cultura, buscando na
estrutura da vida antiga, nos ancestrais, os alicerces da existência da
China.

Todos os males da sociedade, de forma moral, corrupções e


disputas pelo poder, apareciam porque as pessoas não compreendiam
a importância de tais rituais antigos e por isso, se tornavam seres
humanos egoístas, pela sua má formação educacional.
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Para Confúcio, o ato de educar era de grande valia, pois para ele,
é através do estudo que se busca e se encontra uma conduta reta e
justiça nos atos públicos e para com as pessoas.

“Para o Mestre, a conduta não era apenas uma


forma polida de etiqueta: era um meio pelo qual as
pessoas conheciam seus limites internos e externos,
garantindo seu bom relacionamento com o
próximo.” (BUENO, 2004)

E aqui, não se deve entender etiqueta, como ela é entendida hoje,


numa visão elitizada, de diplomacia comportamental. Mas sim,
entender a “etiqueta” de Confúcio é compreender a sua conduta moral,
na sociedade em que está inserido, repensando suas atitudes e
relacionamentos.

Temos uma noção muito hipócrita da etiqueta, que


em nossas concepções apresenta-se como uma forma
diplomática de relacionamento, muito ligada à
cultura de elite. A idéia dos confucionistas ia bem
além da mera formalidade: o hábito da retidão na
conduta moral deveria forçar o ser a repensar suas
atitudes, perante seu papel na sociedade. Assim
sendo, as práticas de relacionamento não seriam uma
mera repressão dos sentimentos, mas sim uma
expressão digna e respeitosa do íntimo, que através
da formalidade, seriam filtradas de forma não
agressiva. (BUENO, 2004)
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E este repensar, baseia-se no estudo. No estudo de si próprio e
do outro, que tem como fundamento o conceito do amor,
compreendido como sendo um sentimento mútuo e recíproco entre as
pessoas.

Mas, apenas isto não basta! Para Confúcio é preciso compreender


também a noção de altruísmo, o ato de ajudar sem esperar nada em
troca, buscando o equilíbrio e uma relação sadia entre as pessoas,
favorecendo assim, uma estabilidade entre os participantes da
sociedade. O mestre entendia a caridade, apenas como uma forma
emergencial, mas que à longo tempo, seria desprezível. “Era necessário
empreender a educação comum, a ajuda mútua e a distribuição do
trabalho para que todos pudessem viver em uma harmonia digna,
justa.” (BUENO, 2004)

Então, podemos compreender que para Confúcio, qualquer


pessoa poderia entender o caminho (Dao), se assim o desejasse.

Observa-se com frequência que as sociedades mais


dinâmicas e bem-sucedidas do Leste e Sudeste
asiáticos (Japão, Coréia, Taiwan, Hong e Cingapura)
compartilham uma cultura confuciana em comum.
Deveríamos, portanto, concluir que os Analectos
efetivamente contêm uma fórmula secreta [...] (LEYS,
2005, p.XXX)

Para Confúcio, a educação é a base para a transmissão dos


conhecimentos, os costumes, as artes e toda uma cultura, para as
futuras gerações. Sem deixar de lado a educação recebida em casa,
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vinda da família, considerada por ele, a base de toda organização


social, para ele, todo ensinamento é fundamental na formação do
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homem.
E Confúcio, já no século VI a.C. foi capaz de elaborar
uma proposta, em muitos aspectos invejável, para a
resolução de problemas sociais que parecem
atravessar a existência humana com persistência e
tenacidade, sobre os quais apenas a vontade íntima é
capaz de se sobrepor. (BUENO, 2004)

Percebe-se que a conduta moral que o Mestre empenhou-se em


ensinar, orientava para uma foram de governo justo, bem como para a
vida das pessoas, com a busca pela retidão na vida pública e privada,
através do exemplo. Enfatizando a auto-disciplina e a generosidade,
como virtudes fundamentais para o desenvolvimento pleno de um bom
ser humano, sabendo que este processo é longo e contínuo, ou seja, não
há um fim. O próprio mestre salienta que toda sua vida foi uma
aprendizagem e, que ele buscava aperfeiçoar-se sempre,

“quanto a si próprio, o filósofo tencionava ensinar


uma moral ao alcance de todos; há sentimentos,
como o amor filial ou fraternal, ou a amizade, que são
comuns a todos os homens; Confúcio pensava que
convinha a toda gente cultivá-los, para os poder
comunicar pelo exemplo e pela palavra.
(BUENO,2007)

A doutrina confucionista possui dois conceitos importantes. O Li,


que seriam as cerimônias, os rituais, a etiqueta e os bons costumes. E o
Ren, que seria a harmonia nas relações entre os seres humanos. Então,
praticando o Li e o Ren, a paz, a justiça e a harmonia, estariam
assegurados, tendo como resultado, relações mais equilibradas entre
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as pessoas.
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O importante não é a pessoa acumular informações,
técnicas e habilidades especializadas, mas
desenvolver sua própria humanidade. Educação não
se refere a ter mas a ser. (LEYS, 2005, p. XXXII)

Confúcio, que afirmava não criar nada, e sim transmitir os


ensinamentos dos antigos, “Eu transmito, não invento nada. Confio no
passado e o amo.” (LY, 7.1), acreditava que o exemplo era uma forma
importante de todo este processo de aprender: seja em casa, afinal é
nela que a criança recebe os primeiros ensinamentos, instruções ou
rituais; e seguindo, mais tarde, na escola, respeitando aos professores,
e mais adiante, já na vida adulta, no âmbito social. “[...] Melhor é o
exemplo. Pois, onde forem as leis a conduzir, o povo fugirá sem
vergonha aos castigos. Onde, pelo contrário, reger o exemplo, o povo
sentirá vergonha e corrigir-se-á. [...]” (JASPERS, 2003, p. 85)

É sempre nítida a prática do respeito aos mais velhos,


obedecendo uma certa hierarquia. Este exemplo, que deve ser seguido,
também deve vir acompanhado de um hábito e de uma reflexão. E esta
hierarquia, precisa vir acompanhada de bons exemplos para que seja
respeitada. Caso contrário, o Mestre concorda que é possível
desobedecer regras injustas e incorretas moralmente. Neste sentido,
percebe-se que o que o mestre nos convida, é a conhecer e seguir os
exemplos de nossos ancestrais. E ao mesmo tempo, buscando o
aprimoramento pessoal e a valorização desses saberes, desenvolver
um senso crítico referente aos acontecimentos à nossa volta.

Confúcio estabeleceu bases para os relacionamentos sociais


entre as pessoas e as instituições, buscando o aprimoramento interno
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da pessoa, e consequentemente, da sociedade. Toda esta questão de


exemplos, veneração e respeito que os jovens devem ter para com os
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mais velhos, em contrapartida, os mais velhos também têm sua


responsabilidade para com os jovens, tendo a responsabilidade de
cuidá-los, com benevolência. Aqui o afeto e o amor, se apresentam,
mais uma vez, como um ingrediente desta visão confucionista da
educação.

Numa sociedade em que as relações humanas estão cada vez


mais conturbadas, vale explorar a idéia deste filósofo, sobre o amor à
todos, sem distinção, onde a aprendizagem seria o processo de
aperfeiçoamento do ser humano. E para que esta aprendizagem seja
significativa, o estudar envolve um processo de pensar e refletir, caso
contrário, a aprendizagem não será proveitosa. Para que o ser humano
evolua, é preciso atingir o que está além dos olhos, seu próprio auto-
conhecimento, para que este contribua com suas vivências, na
sociedade em que está inserido.

Aqui entra o papel do professor! Que possui uma


responsabilidade enorme, na condução de seus alunos. Para tal, o
profissional da educação precisa estar consciente da sua
responsabilidade, e cuidar com benevolência, daqueles que lhe são
entregues algumas horas por dia. Talvez aqui, apareça aquele
professor que faz diferença na vida do aluno, porque além de lhe
ensinar os conteúdos programáticos, ele ensinou lições para a vida. E
por mais que sejam apenas algumas horas, essas poucas horas, fizeram
a diferença.

“ Ora, alguém que torne agradável e fácil o


aprendizado, e faz com que os estudantes pensem
por si mesmos será o que se pode chamar de um
bom professor.” (Liji – Recordações dos Rituais, 18)
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Sendo assim, este tema possui um caráter inovador, buscando no
antigo, alicerces para um pensamento e um olhar novo sobre a
educação.

Por fim, os pensamentos de Confúcio, nos fazem refletir sobre


como levamos nossa vida, que valores permeiam nossas práticas. Que
fins, que meios e de que forma queremos viver. Que ensinamentos
recebemos e o que queremos deixar para as gerações futuras.
Compreendendo assim, o que os olhos não vêem...

Considerações Finais

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano e as


sociedades passam por modificações, transformações, das mais
diferentes maneiras. E a educação aparece tendo um papel
fundamental na formação das pessoas, e consequentemente, na
sociedade em que se almeja.

Toda e qualquer criança, desde o momento de seu nascimento,


está em processo de aprendizagem. Por este motivo, o pensar
“educação” não se resume simplesmente ao ambiente escolar. Mas,
também, ao ambiente familiar, ao ambiente de trabalho, etc.

Mas, para quê estudar algo tão distante de nós? Justamente, por
ser distante, por ser diferente e, ao mesmo tempo, servir tão bem aos
dias de hoje, é que possui sua validade.

Confúcio pensava e zelava, por uma educação voltada à idéia de


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que se pode sim, melhorar a sociedade em que vivemos e nos


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melhorarmos. Basta querer, praticar, seguir o caminho, fazer a sua


parte, e assumir esta responsabilidade. Afinal, a educação ainda é a
melhor opção!

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