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IMPACTOS DA SÍSMICA NA BIOTA MARINHA

O aspecto do levantamento sísmico com a maior probabilidade de


causar impacto sobre a fauna marinha corresponde aos disparos dos
canhões de ar (air guns). As fontes sísmicas do tipo air gun são
internacionalmente usadas e consideradas como dispositivos ambientalmente
limpos e seguros, quando comparadas ao uso de explosivos como fonte geradora
de ondas usada no passado, a qual causava intensos danos à biota marinha.

Embora o ruído da pistola de ar seja uma fonte de distúrbio, é, ao mesmo


tempo, uma forma muito efetiva de manter peixes e outros organismos marinhos a
uma certa distância dos navios de levantamento sísmico. Ondas transmitidas por
ar e água são comprovadamente uma maneira eficaz de se manter mamíferos
marinhos, aves e peixes a distâncias seguras da atividade sísmica. Os impactos
causados pela emissão de ruído e vibração do navio ou da operação da fonte
sísmica são insignificantes (embora possam causar desorientação em sirênios)
(MMA, 2003).

Os níveis de som emitidos por air guns são tipicamente da ordem de 226
dB re 1µPa a 1 metro de distância (para um único air gun) ou de 248 dB re 1µPa a
1 metro de distância (para um arranjo de air guns) e as freqüências utilizadas
encontram-se no range de 0 a 120 Hz (TURNPENNY & NEDWELL, UKOOA,
1994). Diferentemente do que ocorre com explosivos químicos, que podem matar
ou prejudicar peixes, aves e mamíferos marinhos em uma escala significativa, as
pistolas de ar raramente têm causado danos físicos diretos sobre animais. Danos
significativos sobre ovos, larvas ou peixes adultos, por exemplo, parecem ocorrer
somente a níveis sonoros superiores a 220 dB re 1µPa, muito próximo da fonte de
disparo; a níveis da ordem de 160-180 dB re 1µPa pode-se observar
comportamento de fuga dos peixes, sendo os efeitos comportamentais, de um
modo geral, onde recaem as maiores preocupações (TURNPENNY & NEDWELL,
op. cit.).

A preponderância de efeitos comportamentais sobre a fauna marinha é


confirmada também em estudos mais recentes (McCAULEY et al., 2000).

As ondas de som advindas da pistola de ar viajam a longas distâncias e


algumas ondas de som de baixa freqüência do levantamento sísmico podem ser
detectáveis a dezenas de quilômetros das fontes. O tempo de exposição do sinal
da pistola de ar será determinado pela seqüência de disparos, pela velocidade de
deslocamento da pistola através da água e pela freqüência do som de interesse.
Para parâmetros básicos de pistola de ar, a duração da exposição descrita na
Tabela 6.2.B-1 pode ser esperada (McCAULEY, 1994, apud ARTHUR D. LITTLE,
2001). Na prática, a fauna de maior mobilidade, como os peixes, as aves e os
mamíferos, provavelmente irá se afastar da origem da pistola de ar nos
níveis de som mais altos, reduzindo, dessa forma, seus níveis de exposição.
Nos seres vivos a recepção dos sons e vibrações é realizada pelo aparelho
auditivo e através de receptores cutâneos especializados, também relacionados
com a manutenção do equilíbrio (FAPECO, 2003).

O som desempenha um papel fundamental para várias espécies do


ambiente marinho, transmitindo informações relativas à presença de predadores,
alimento e parceiros para a reprodução (HOAR, 1975), pois essa forma de energia
se propaga a longas distâncias em decorrência da sua baixa atenuação no meio
líquido (ROGERS E COX, 1988 apud FAPECO, 2003).

Richardson et al. (1995 apud MMA, 2003) estabeleceram uma classificação


de quatro zonas de influência sonora com efeitos distintos sobre a biota, de acordo
com a distância a partir da fonte e o decaimento sonoro (Figura 6.2-1),
evidenciando a possibilidade de ocorrência de danos físicos e fisiológicos nas
regiões mais próximas da fonte de emissão sonora. Afastando-se da fonte,
constatam-se distúrbios comportamentais (escape ou fuga) e, em áreas mais
afastadas, o pulso sonoro ainda é audível tendo, porém, seus efeitos limitados
pelo próprio nível de ruído ambiental (zona de audibilidade).

O aumento do nível sonoro durante a aquisição de dados sísmicos nos


oceanos tem vários efeitos potenciais sobre os organismos aquáticos, conforme
resumidos no Quadro 6.2-2 (MMA, 2003).

Devido às diferentes características biológicas de cada espécie, o distúrbio


sonoro produzido por um canhão de ar deve ser sentido de forma diferenciada
pelo plâncton, bentos, nécton, tartarugas marinhas, mamíferos marinhos e aves.
Também atuarão de forma distinta os impactos que relacionam o afugentamento
de recursos pesqueiros com as atividades de pesca industrial e artesanal, na
ocasião da operação dos air guns (ARTHUR D. LITTLE, 2001).

Durante as atividades de levantamento de dados sísmicos, através de


fontes sísmicas do tipo air gun, os principais impactos sobre a biota marinha são
gerados pelo uso desses canhões; os ruídos gerados pelos motores das
embarcações que realizarão os estudos de sísmica são irrelevantes devido à sua
baixa intensidade e abrangência (uma exceção seriam os impactos deste tipo de
ruído sobre sirênios).
Figura 6.2-1 – Esquema teórico demonstrando a inter-relação entre uma fonte antropogênica
de ruídos, a distância de decaimento sonoro, o ruído ambiente e o limiar de resposta, na
determinação das distâncias de detecção e de reação (adaptado de Richardson et.al., 1995)

Quadro 6.2-2 – Efeitos das ondas sísmicas sobre a biota (adaptado de Gordon et al. 1998).
Fonte: MMA, 2003.
A modelagem de decaimento de sinal sonoro usualmente evidencia que os
impactos mais significativos estão limitados a distâncias próximas das fontes de
emissão. Portanto, reconhece-se que o impacto negativo e direto da aplicação do
air gun sobre a biota marinha tem, tanto em termos temporais como espaciais,
pequena abrangência. Este impacto também pode ser caracterizado como
temporário e reversível, uma vez que a operação tem um curto prazo de execução
e ao término da mesma o distúrbio devido aos air guns não mais acontece. A
magnitude da exposição desses organismos aos impulsos sísmicos pode ser
classificada como média.

As empresas de levantamento sísmico marinho costumam seguir os


procedimentos obrigatórios pelo manual do IAGC (International Association
of Geophysical Contractors) durante a realização da atividade, a saber:

 Antes do início dos disparos de air gun são realizadas varreduras no


entorno da área para verificar a presença de cetáceos. A observação é
realizada a partir de um ponto localizado estrategicamente, permitindo
a observação de animais até um raio de 500 m da fonte;
 Caso sejam avistados mamíferos marinhos na área, o início do uso
das fontes sísmicas é atrasado até que eles tenham ido embora, e
reiniciadas as atividades após 20 minutos decorrentes da última
avistagem;
 São aplicados os procedimentos de soft start, onde a intensidade do
pulso sísmico é gradualmente incrementada, a partir de um pulso
baixo inicial, permitindo que os animais fiquem alertas e deixem a
área.
 Se um mamífero marinho é avistado dentro de um raio de 500 metros
da atividade enquanto os air guns estão sendo utilizados, a atividade é
interrompida. Tempo suficiente deve ser dado após a última avistagem
(pelo menos 20 minutos) para que os mamíferos marinhos deixem a
área.

COMUNIDADE NECTÔNICA

IMPACTOS SOBRE OS PEIXES JOVENS E ADULTOS

A percepção sonora é de grande utilidade para os peixes, pois no ambiente


oceânico os níveis de luminosidade são baixos, limitando o sentido da visão. A
maioria dos peixes marinhos apresenta sensibilidade auditiva, na faixa de
freqüência entre 500 a 800 Hz (MMA, 2003).

A sensibilidade dos peixes à pressão do som é dependente da presença de


uma bexiga natatória cheia de gás; este órgão exerce uma função chave na
percepção sonora (MACLENNAN & SIMMONS, 1992 apud MMA, 2003). Uma
ligação entre a bexiga e o sistema de percepção é característico de peixes que
são sensíveis à passagem de ondas de pressão (HAWKINS 1993 apud MMA,
2003).

Ainda existem discordâncias significativas de opiniões na comunidade


científica mundial sobre a real dimensão de danos decorrentes da atividade
sísmica sobre os peixes – efeitos subletais (fisiológicos e patológicos)
(THOMPSON et al., 2000 apud MMA, 2003).

Estudo em nível microscópico dos órgãos da audição em peixes (mácula)


antes e após a exposição sísmica (132-182 dB re 1 micro-Pascal), constatou uma
superfície esburacada (possivelmente em decorrência da remoção de algumas
células ciliares), mudanças na orientação das células remanescentes e uma
evidência de estruturas de respostas a processos inflamatórios (filamentos
ciliares), bem como danificação em otólitos de alguns exemplares (MMA, 2003).

Em estudos conduzidos por Trovarelli (1998 apud CONATURA, 2001)


foi demonstrado que apenas em distâncias inferiores a dois metros os
peixes sofriam atordoamento temporário após os disparos, não tendo sido
constatada a morte de peixes causada pela ação das frentes de ondas de
pressão das fontes sísmicas. Além disso, este estudo não evidenciou diferença
significativa entre as capturas efetuadas com redes antes e depois da campanha
sísmica. Também foi verificada uma redução da biomassa sem, no entanto, alterar
a distribuição vertical. Essas perturbações ocorreram apenas num período máximo
de dois dias após o encerramento das atividades.

Num experimento utilizando gaiolas, McCauley et al. (2000) filmaram as


alterações comportamentais na formação de cardumes e na velocidade de
natação em peixes expostos a diferentes intensidades sísmicas e concluíram que
existe um aumento na velocidade de natação e uma maior agregação na formação
de cardumes em direção ao fundo na medida em que se aproxima o air gun.

Ressalta-se que ainda não foi elaborado nenhum diagnóstico mais definitivo
sobre a total extensão da redução nas capturas e, particularmente, sobre a
duração e a extensão dos efeitos das atividades sísmicas nas espécies de peixes
que podem ser afetadas.

Classificação: Este impacto é classificado como negativo, de


abrangência na ADA, temporário, reversível, imediato, de magnitude média.

DANOS ÀS OVAS E LARVAS DOS PEIXES

Muitos estudos foram conduzidos para avaliar os efeitos potenciais que a


energia e a pressão acústica liberadas pelas pistolas de ar podem ter sobre peixes
em estágio de ovas e larvas. Isto é preocupante pelo fato das ovas e larvas
estarem freqüentemente concentradas na porção superior da coluna d’água,
dentro da profundidade de operação de uma rede de canhão de ar (HOLLIDAY et
al., 1987; BATTELLE, 1998 apud ARTHUR D. LITTLE, 2001). É provável a
ocorrência de morte a um metro da fonte representada pela pistola de ar,
contudo o dano é desigual a uma distância maior que dois metros dessa
fonte. A predação natural e outras fontes de mortalidade provavelmente
afetam por volta de 99% os estágios de vida prematura. Diversos estudos
concluem que mesmo se as ovas, larvas e alevinos forem totalmente danificados
na proximidade imediata dos canhões de ar, devido ao número de espécies
afetadas e ao grande índice de mortalidade natural das ovas e larvas, os
levantamentos sísmicos teriam efeitos insignificantes sobre as populações de
peixes da região estudada.

Os quatro estágios de vida da anchova do nordeste (Engraulis mordax)


foram expostos à energia acústica liberada por pistolas de ar em níveis
representativos àqueles produzidos nos levantamentos geofísicos (HOLLIDAY et
al., 1987 apud ARTHUR D. LITTLE, 2001). Os experimentos foram destinados a
submeter ovas, larvas e peixes adultos a uma série de sinais de canhão de ar que
aumentavam e diminuíam sua magnitude numa simulação à exposição que seria
experimentada no caso de uma rede de canhão de ar rebocada ao longo de uma
linha sísmica e através de diferentes distâncias de um ponto fixo. Os dados sobre
a sobrevivência e duração sugerem que as larvas são o estágio de vida mais
sensível. Em um pico mais alto de pressão de 1,23 bar, a sobrevivência total ao
teste foi de 83,2% comparado a 91,4% do padrão. Os autores também
observaram reduções significativas no crescimento nas larvas maduras, assim
como que o decréscimo no crescimento está relacionado com o aumento da
energia.

Mesmo se as ovas, larvas e alevinos fossem totalmente danificados na


proximidade imediata dos canhões de ar do levantamento sísmico, e considerando
a temporalidade das operações de sísmica, ocorreria efeitos insignificantes sobre
as populações de peixes da região estudada.

Classificação: Este impacto é classificado como negativo, de


abrangência na ADA, temporário, reversível, imediato, de magnitude baixa.

DANOS AOS MAMÍFEROS MARINHOS (CETÁCEOS / SIRÊNIOS)

Cetáceos

Os mamíferos marinhos podem ouvir dentro de uma ampla faixa de


freqüência, apresentando espécies com sensibilidade a sons tão baixos quanto 75
a 125 Hz, alcançando até 105 a 150 KHz em outras espécies. A faixa de
freqüência de sensibilidade mais alta para algumas espécies de baleias cai entre
10 e 100 Hz. Contudo, deve-se observar que os chamados de baixa freqüência
das baleias estão na faixa de menos de 100 Hz a 30 Hz. A banda eficiente
produzida pela fonte sísmica (isto é, pistolas a ar) é de 3 a 128 Hz (200 metros
abaixo do centro da rede de pistola de ar), exatamente abaixo e na extremidade
mais baixa do espectro sensível da audição do mamífero marinho.

A obtenção de informações sobre o ambiente físico, incluindo a


orientação, comunicação intraespecífica e detecção de presas ou
predadores em potencial, são três das importantes funções dos cetáceos,
nas quais o som desempenha um papel fundamental no seu comportamento.
Impactos sonoros podem gerar distúrbios fisiológicos e comportamentais
em cetáceos, a exemplo da possibilidade de encalhe e alteração de rota
migratória (MMA, 2003).

Estudos foram realizados pela observação do comportamento em


situações reais de obtenção de dados sísmicos, ou pela utilização de
canhões de ar experimentais, buscando relacionar o comportamento de
várias espécies de cetáceos ao disparo de canhões de ar, sendo um dos
mais recentes o de MCCAULEY et al. (2000). Os resultados mostram-se
variados, indo de praticamente nenhuma reação até comportamentos de
evasão em graus diversos, alteração de tempos de respiração e mergulho,
redução e interrupção das vocalizações, e de procedimentos de alimentação
(MMA, 2003).

No caso dos cetáceos, diversos estudos têm sido realizados em busca dos
efeitos dos ruídos em seu ciclo vital (KETTEN, 1998 apud MMA 2003). Para os
sons produzidos pelos canhões de ar, o impacto principal é esperado na
ordem dos misticetos (baleias de barbatanas), já que se utilizam
principalmente dos sons de baixa freqüência na comunicação social. A
explicação para este fato pode estar relacionada tanto a questões fisiológicas
particulares, como a questões relativas à física da transmissão de sons de baixa
freqüência no meio marinho (RICHARDSON et al., 1995 apud MMA, 2003).

Algumas baleias de barbatanas, em certas situações, não apresentam


evasão quando expostas a pulsos sísmicos em níveis de aproximadamente 160-
170 dB re 1µPa-m (MALME et al. 1984, 1988). Estudos com baleia-jubarte
revelaram que o limite de reação aos pulsos sísmicos também está próximo dos
160-170 dB re 1mPa-m (MALME et al. 1985). As baleias de barbatanas
freqüentemente começam a reagir a sons contínuos de baixa freqüência em
níveis próximos dos 120 dB.

Quando expostas a fortes pulsos sísmicos, as grandes baleias tendem


a apresentar mergulhos curtos e subidas rápidas, fora do padrão normal, e
menos borrifadas (expirações) por vinda à superfície. Esse é um padrão
comum de alteração do comportamento de baleias perturbadas por
atividades humanas (RICHARDSON & WÜRSIG, 1997 apud MMA 2003).
Testes simulando navios de sísmica em operação apontam que os ruídos
dessas atividades podem alterar, temporariamente, as rotas migratórias das
grandes baleias (RICHARDSON et al., 1995 apud MMA 2003).
Em contraste, o comportamento dos odontocetos (golfinhos, baleias-
bicudas e cachalotes) expostos a pulsos sísmicos, foi pouco estudado.
MATE et al. (1994 apud MMA 2003) observaram que cachalotes podem se
afastar de navios de sísmica em operação. A maior parte da energia dos
pulsos sísmicos está concentrada abaixo dos 100 Hz, onde é pobre a
sensibilidade auditiva dos pequenos odontocetos. Entretanto, os pulsos
sísmicos são tão fortes que mesmo esses animais podem detectá-los a 50-
100 km das fontes emissoras. A falta de dados históricos sobre o
comportamento de pequenos odontocetos expostos a fortes pulsos sísmicos
representa uma lacuna no conhecimento atual.

Ainda não foram levantados indícios diretos que comprovem a


ocorrência de efeitos agudos em mamíferos marinhos a partir de pulsos
sísmicos. É notório que animais marinhos com espaços aéreos internos, como
pulmões e bexigas natatórias, são especialmente vulneráveis às ondas de choque,
devido à diferença de impedância entre o ar em suas cavidades, seus tecidos
corporais e a água do mar. Danos físicos indiretos também poderiam estar
relacionados à indução da formação de bolhas em tecidos hiper-saturados de
mamíferos mergulhadores (GORDON et al,1998 apud MMA, 2003).

Há preocupações também em relação à possibilidade de encalhes


individuais ou em massa de cetáceos submetidos a intensidades sonoras
anormais, embora sejam múltiplas suas possíveis causas de ocorrência,
como exposição a biotoxinas (marés vermelhas), desnutrição, doenças
crônicas, terremotos, vulcanismo, ferimentos causados por colisões com
embarcações, explosões (mesmo as distantes) e exposição a emissões de
baixa freqüência (principalmente as emitidas por sonares) (MMA, 2003).

Alguns dos efeitos de curto prazo do levantamento sísmico podem incluir a


fuga das espécies das proximidades dos navios sísmicos ou o início de respostas
de alarme. Efeitos críticos somente ocorreriam na faixa próxima às pistolas de ar.
Implicações de longo prazo podem incluir a interrupção das atividades normais,
tais como a alimentação, procriação, deslocamento ou o stress induzido. Algumas
baleias podem ocasionalmente adentrar ao polígono da área de pesquisa durante
o período de migração (ARTHUR D. LITLLE, 2001).

A possibilidade de alterações de rotas migratórias de baleias como


conseqüência de operações sísmicas foi estudada ao longo de três anos
(RICHARDSON apud THOMSON et al., 2000 apud MMA 2003), no mar de
Beaufort (no Ártico, próximo ao Alaska). O monitoramento, que contou com
observadores embarcados e avistagens aéreas, além de métodos de registro
acústico, constatou a existência de uma zona de evasão que abrangia cerca
de 20 Km em torno da área de levantamento sísmico, sendo o nível de
intensidade sonora de aproximadamente 130 dB re 1µ Pa-m rms (cerca de
146dB re 1 1µ Pa-m peak to peak level). Foi ainda observado que os animais
retomavam a sua rota inicial entre 12 h 24 h após o final das operações
sísmicas. Alguns exemplares de baleia corcunda (Balaena mysticestus)
demonstraram uma zona de evasão ainda maior, de cerca de 30 Km de
diâmetro (MMA, 2003).

Segundo McCauley et al. (2000), fêmeas de baleias jubarte (Megaptera


novaeangliae) com filhotes são mais suscetíveis a reações de fuga de ruídos
antropogênicos com os quais não estão acostumadas, sendo recomendável que a
maior sensibilidade dos animais nessa situação seja considerada na definição de
limites às atividades sísmicas (MMA, 2003).

Classificação: Esse impacto pode ser classificado, como negativo,


direto, na ADA, temporário, reversível, imediato, de média magnitude

Sirênios

A realização de atividades que incentivem o tráfego de embarcações durante


longos períodos nas áreas de ocorrência do peixe-boi marinho é considerada
indesejável (MMA, 2002). Essa ressalva diz respeito principalmente às atividades
que envolvam trânsito de embarcações de deslocamento mais lento, como é o
caso dos navios envolvidos na atividade de aquisição de dados sísmicos
marítimos em zonas de transição.

DANOS SOBRE A NIDIFICAÇÃO E OS PADRÕES DE MIGRAÇÃO DA


TARTARUGA MARINHA (QUELÔNIOS).

PENDOLEY (1997 apud FAPECO, 2003), ressalta que, em profundidades


maiores do que 15 m e em zonas de alimentação, a densidade de quelônios é
menor do que nas áreas de reprodução, onde o impacto é menor. Também afirma
que existem lacunas no conhecimento da biologia e hábitos reprodutivos de
tartarugas, embora já existam informações suficientes para gerenciar programas
de geofísica que minimizem os riscos para esses animais.

Em geral, os efeitos dos disparos de canhões de ar dos levantamentos


sísmicos sobre os quelônios ainda não foram completamente caracterizados.
RIDGEWAY et al. (1969 apud MMA 2003) demonstraram que as tartarugas podem
ouvir e têm sensibilidade auditiva bem desenvolvida. Embora todas as tartarugas
careçam de uma estrutura de ouvido externo, existe uma ampla evidência de que
elas não somente podem ouvir, mas muitas espécies têm alto grau de
sensibilidade para sons de baixa freqüência (WEVER, 1978 apud MMA 2003).

Apesar de existirem poucos dados, estudos eletrofisiológicos indicam que


as tartarugas têm uma sensibilidade máxima na faixa de 100H-700 Hz. A banda
eficiente produzida pela fonte sísmica (isto é, as pistolas de ar) é de 3 a 128 Hz
(200 metros abaixo do centro da rede de pistola de ar), exatamente abaixo da
extremidade inferior do espectro sensível de audição da tartaruga.
O universo sensorial das tartarugas marinhas é pouco conhecido (MATTOS
E SILVA, 1991). A maioria dos estudos realizados consiste em descrições
anatômicas (BARTOL et al., 1999; LENHARDT et al., 1985 apud FAPECO, 2003)
os quais fornecem pouca informação sobre a capacidade auditiva desses animais
e a importância da audição para sua sobrevivência.

Na bibliografia disponível sobre audição em tartarugas marinhas estão


inclusos alguns estudos osteológicos do aparelho auditivo, particularmente sobre a
estrutura do ouvido médio em espécies atuais e extintas. Em relação às partes
flexíveis do ouvido interno pouco se sabe e pouca atenção tem sido dada às
relações estruturais e funcionais dessas partes sobre a audição (BARTOL et al.,
op. cit.).

A sobreposição da banda de freqüências utilizadas na sísmica e percebidas


pelas tartarugas indica que as atividades sísmicas em áreas de ocorrência desses
animais marinhos podem potencialmente impactá-la. Em decorrência da
sobreposição no espectro de freqüência, os sinais acústicos podem interferir no
comportamento normal dos animais.

Gaustand (2000 apud FAPECO 2003) afirma que a exposição a sinais


intensos e de duração contínua pode causar danos físicos permanentes
possivelmente decorrentes das rápidas oscilações entre pressões positivas e
negativas da onda de pressão que se propaga, as quais são capazes de produzir
rápidas mudanças de volume em órgão que contém gás, causando rompimento de
tecidos e/ou órgãos. Sinais de intensidades menores podem causar alterações
auditivas temporárias, podendo influenciar na capacidade de navegação das
tartarugas alterando o seu comportamento.

Em relação a air guns, estudos realizados por O’HARA (1994),


descreveram alterações comportamentais em tartarugas cabeçudas (Caretta
caretta) confinadas, em respostas a intensos sinais acústicos, da ordem de 184
dBpap re 1µPa. As reações foram do tipo escape ou afastamento da fonte. Ao
estudarem as reações de tartarugas marinhas a ondas sísmicas McCauley et al.
(2000) verificaram reações a nível comportamental. Para pressões da ordem de
166 dBrms re Pa (ou 175 dBpap re 1µPa, as tartarugas aumentaram
comportamento de reação, e quando atingiram níveis de 175 dBrms re 1µPa (ou
184 dBpap re 1µPa) os animais apresentaram comportamento errático,
caracterizado pela mudança de direção de natação.

Segundo LENHARDT (1994), as tartarugas alteram o comportamento de


natação e ficam próximas da interface água/ar onde os efeitos do ruído são
amenizados. Com níveis mais intensos McCAULEY et al. (op. cit.) cita que as
tartarugas começam a apresentar um comportamento errático, evidência de
desorientação SANTULLI et al. (1999); ORCHINIK, (1998); BRENNAN et al.,
(2000) consideram a ocorrência de alterações fisiológicas: quando as tartarugas
são submetidas a situações estressantes investem uma quantidade significativa
de energia tentando recobrar o equilíbrio interno (homeostase), liberando alguns
hormônios indicativos do estresse.

Estudos realizados pelo Projeto TAMAR em áreas de atividade sísmica


no litoral do Rio Grande do Norte, onde existe uma maior concentração
desses animais, concluiu que ainda não foram observados impactos
associados à morte das tartarugas, decorrentes da atividade sísmica.

Ressalta-se, no entanto, que efeitos podem demorar anos para serem


detectados nas tartarugas marinhas, porém se não devido à ação acústica
interferir no comportamento das tartarugas, a simples presença das embarcações
sísmicas com movimentações freqüentes em uma área, iluminação concentrada e
ruídos diversos provocados pelas embarcações, podem comprometer a rotina
desses animais.

Classificação: este impacto é classificado como negativo, direto, na


ADA,
temporário, reversível, imediato e de média magnitude.

COMUNIDADE PLÂNCTONICA

DANOS AO PLÂNCTON

Os organismos fitoplanctônicos, como diatomáceas e algas azuis


esverdeadas, são na sua grande maioria unicelulares e não possuem órgãos
sensíveis às ondas de choque. Considerando que esses organismos têm períodos
muito curtos de procriação, que estão naturalmente expostos à cadeia trófica
formada pelo zooplâncton e pelos peixes, e que, caso danificados, ainda seriam
fonte de alimento para outros organismos, não se esperam conseqüências
significativas para os danos cumulativos causados pelos disparos dos canhões de
ar.

Os organismos zooplanctônicos são multicelulares e muitos apresentam


estruturas que podem ser danificadas pelas ondas de choque criadas pelos
canhões de ar a uma distância imediata. Apesar de alguns adultos possuírem
órgãos que captam ondas de pressão da rede do canhão, não são capazes de se
afastar, podendo ocorrer danos fisiológicos a ovos e larvas. Demonstrou-se que
uma extensa rede de canhões de ar pode causar algum dano fisiológico ao
meroplâncton (ovos e larvas) a uma distância de 5 metros da rede
(KOSTYUCHENKO, 1971 apud ARTHUR D. LITTLE, 2001). Contudo, mesmo se
as pistolas de ar fossem rebocadas em áreas e tempos onde a rápida reprodução
ou a redução vertical tivessem resultado em altas densidades populacionais, na
profundidade do canhão de ar o dano cumulativo seria baixo comparado com a
mortalidade natural. Também o zooplâncton morto entraria na cadeia trófica como
alimento de peixes e organismos bênticos e seria rapidamente substituído por
reprodução.

Os estudos sobre os efeitos das atividades sísmicas sobre a


comunidade planctônica ainda são escassos. Embora a comunidade
científica não considere como prioridade a implementação de estudos,
medidas mitigadoras ou proibitivas já são adotadas em países como a
Noruega. Em áreas identificadas como de desova e corredores migratórios,
as operações de sísmica são proibidas de ocorrer a uma distância inferior a
50 Km das mesmas, durante os meses de verão (época da desova e
reprodução) (DALEN et al., 1996 apud THOMSOM et al., 2000).

A resposta da comunidade planctônica ao impacto causado pelas


ondas de pressão de air guns será limitada também pelo fato desses
organismos apresentarem pequena capacidade de deslocamento.

Classificação: Este impacto é negativo, direto, na ADA, temporário,


reversível, imediato, de média magnitude.

COMUNIDADE BÊNTONICA

DANOS AOS INVERTEBRADOS BÊNTICOS

Ainda são pouco conhecidos os efeitos da atividade sísmica sobre a


comunidade bentônica, particularmente sobre os crustáceos (camarões,
lagostas, caranguejos).

Invertebrados marinhos, e particularmente crustáceos, não possuem órgãos


elaborados para a recepção de som; dispõem de órgãos mecanoreceptores, que
não possibilitam a captação do som no sentido padrão. Com exceção dos
cefalópodes, os invertebrados não possuem espaços preenchidos de ar nas
cavidades de seus corpos e sua sensibilidade ao som é muito reduzida.

Há um interesse especial nos efeitos sobre a comunidade bentônica na


área de levantamento de dados de sísmica, quando ocorre a pesca de camarões.
Alguns estudos já foram realizados para avaliar a extensão desses efeitos.
STEFFE & MURPHY (1992 apud MMA, 2003) não encontraram diferenças nas
taxas de captura de camarão antes e após o levantamento sísmico.
Conclusão similar foi obtida em estudo realizado no Brasil em 2002, na Bacia de
Camamu/Almada (MMA, 2003). Nesse estudo também constatou-se a não
ocorrência de morte de camarões mesmo a distâncias inferiores a 5m dos
canhões de ar. Em distâncias ainda menores da fonte (1 m), WEBB & KEMPF
(1998 apud MMA, 2003) verificaram que não ocorre morte de camarões, nem
redução na taxa de captura das frotas pesqueiras, atribuindo este resultado
à existência de um exoesqueleto rígido nesses animais, além da ausência de
espaços aéreos internos (bexiga natatória, pulmões).
Há registros de danos significativos a lulas associados às atividades
de sísmica, com declínio significativo de captura após a realização de
prospecções (MMA, 2003). Isto é de importância na medida em que as lulas são
fonte de alimento de peixes pelágicos e demersais. McCauley et al. (2000)
registraram respostas significativas no comportamento de lulas (com liberação de
tinta como mecanismo de defesa) e alterações nos padrões de natação.

Classificação: Esse impacto pode ser classificado como negativo,


direto, na ADA, temporário, reversível, imediato e de média magnitude.

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