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REGISTO COMERCIAL:
O Código do Registo Comercial (1966) pretendeu dar lugar a um verdadeiro “código” e,
portanto, algo que assumisse “um caráter sistemático e sintético que legitime a sua
designação”. Para o efeito, retomou no seu corpo uma série de normas que constavam do
Código do Registo Predial, que deixou de ser considerado diploma subsidiário. Atente-se que o
CRC veio a ser sucessivamente alterado.
- No registo por transcrição, o conservador procede à extratação dos elementos que definem
a situação jurídica das entidades sujeitas a registo constantes dos documentos apresentados;
- No registo por depósito procede-se ao mero arquivamento dos documentos que titulam
factos sujeitos a registo.
1º O pedido de registo é formulado verbalmente, quando efetuado por pessoa que tenha
legitimidade para o efeito (art. 4º/1). Nos restantes casos, é feito por escrito, em
modelo adequado (art. 4º/2).
2º Os registos por transcrição seguem a metodologia regulada nos arts. 8º a 13º. Assim:
3º A matrícula deve conter o número, a natureza da entidade, o nome ou firma do
comerciante individual ou a firma ou denominação da pessoa coletiva (art. 8º);
4º O extrato das transcrições compreende certas menções gerais (art. 9º) e,
eventualmente, especiais (art. 10º);
5º Os averbamentos são explicitados (art. 11º).
Finalmente, o art. 16º determina que as notificações sejam efetuadas por carta registada.
Quanto aos documentos, a novidade é a de que podem ser aceites, sem tradução, quando
escritos em inglês, francês ou espanhol, quando o funcionário competente domine essas
línguas (art. 32º/2).
A impugnação de decisões:
O sistema da impugnação das decisões foi alterado, no sentido da eliminação dos passos
inúteis e demorados. Assim, foi suprimida a figura da reclamação para o próprio conservador.
Da decisão de recusa da prática do ato de registo cabe (art. 10º/1):
- Impugnação judicial.
Impugnada a decisão, o conservador profere, em 10 dias, despacho a sustentar ou a reparara
decisão (art. 101º-B/1).
Em 2007, 2008 e 2009 houve mais reformas, com alterações que visaram:
Registo tem uma função de controlo- para saber quais os fatos que estão sujeitos a registo
consultamos art.º 2º e 3º. Se existirem ações que podem interferir nestas situações jurídicas -
ficam também sujeitas a registo nos termos do art.º 9º.
As sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial têm numerosas situações sujeitas a
inscrição comercial (art. 3º/1 CRC), sinteticamente:
São ainda, grosso modo, esses mesmos fatores que devem ser publicitados no tocante a
sociedades anónimas europeias (art. 3º/2 CRC), a cooperativas (art. 4º CRC), a empresas
públicas (art. 5º CRC), a agrupamentos complementares de empresas (art. 6º CRC), a
agrupamentos europeus de interesse enconómico (art. 7º CRC) e a estabelecimentos
individuais de responsabilidade limitada (art. 8º CRC).
Estão ainda sujeitas a registo as ações que possam interferir nas situações que devam ser
inscritas, de acordo com a renumeração do art. 9º CRC. O art. 10º CRC submete também a
registo comercial situações como o mandato comercial.
Os atos sujeitos a registo constituem uma tipicidade fechada. Podemos admitir que
outras leis submetam certos atos a registo comercial; podemos também aceitar que
algumas formulações legais admitam interpretação extensiva. Não é, porém, possível,
por analogia ou com recurso a princípios, ampliar a lista considerada.
Ana Perestrelo - Atenção que a interpretação extensiva deve ser muito cuidadosa, não sendo
de forma alguma permitida a analogia.
Princípios:
Os princípios do registo comercial são:
1) Princípio da instância (art. 28º CRC) – o registo efetua-se a pedido dos interessados,
ou seja, o registo é passivo. Apenas há registos oficiosos nos casos previstos pela lei. O
registo pode ser pedido pelos próprios, pelos representantes legais ou pelas pessoas
que nele tenham interesse (art. 29º CRC). O registo pode ainda ser solicitado por
“mandatário com procuração bastante”, por quem tenha poderes para intervir no
respetivo título e por advogado ou solicitador cujos poderes de representação se
presumem (art. 30º/1 CRC).
3) Princípio da competência (só até 2007) – foi suprimido em 2006. Este princípio
determina que o registo se efetive na conservatória com cuja circunscrição territorial o
facto a inscrever tenha uma conexão relevante. As regras da competência constam dos
arts. 24º e ss. CRC. A sua observância é fundamental: de outro modo, os interessados
não saberão onde se dirigir para alcançar as informações que pretendam. O
desrespeito deste princípio é punido com a inexistência (art. 21º CRC) – o Prof. MC
defende que a sanção deveria ter sido a da nulidade.
O registo deve ser recusado nos casos elencados no art. 48º/1 CRC.
1. Eficácia presuntiva do registo (art. 11º CRC) – o interessado que apresente certidão de
determinado facto inscrito fica exonerado de demonstrar a sua ocorrência e os seus
contornos; inversamente, o contra-interessado terá de fazer prova em contrário,
impugnando ainda o registo que considere erróneo. A presunção derivada do registo
comercial, de acordo com a regra geral do art. 350º/2 CC, pode ser ilidida mediante
prova em contrário (presunção iuris tantum).
Presunção que existe a situação jurídica nos termos definidos no próprio registo. A
ideia é quem apresenta uma certidão de registo, não tem de provar o fato
correspondente. Há uma presunção ainda que ilidível. É uma dispensa de prova.
No âmbito comercial, os atos produzem efeitos logo que tenham sido praticados,
tenham ou não sido registados (ainda que possam ter uma eficácia mais reduzida,
caso não tenham sido registados – art. 13º/1 CRC) e, por isso, à partida, o registo
comercial não produz efeitos constitutivos.
A regra é que a mera celebração do contrato produz eficácia translativa. Mas em
determinadas situações a lei determina eficácia constitutiva do registo.
Todavia, há certos casos em que parece haver eficácia constitutiva dos atos
comerciais, nomeadamente no domínio das sociedades comerciais: estas só adquirem
personalidade pelo registo (art. 5º CSC).
Este preceito complementa o do art. 13º/1 CRC, que determina que os factos
sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados entre as
próprias partes ou seus herdeiros.
Nota – terceiro para efeitos do registo comercial é qualquer pessoa estranha ao ato inscrito. O
art.º 14º/nº1 deveria no entendimento do prof MC ser completado com a seguinte expressão
“não produzem efeitos perante terceiros de boa fé”.
a) Quando for falso ou tiver sido feito com base em títulos falsos;
b) Quando tiver sido feito com base em títulos insuficientes para a prova legal do facto registado;
c) Quando enfermar de omissões ou inexactidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou
do objecto da relação jurídica a que o facto registado se refere;
d) Quando tiver sido assinado por pessoa sem competência funcional, salvo o disposto no n.º 2 do
artigo 369.º do Código Civil, e não possa ser confirmado;
e) Quando tiver sido lavrado sem apresentação prévia.”
Os registos nulos só podem ser retificados nos casos previstos na lei e isso se não estiver
registada a ação de declaração de nulidade (art. 22º/2 CRC).
Além disso, a nulidade de registo só é invocável depois de declarada por decisão judicial
transitada (art. 22º/3 CRC).
Perante outros vícios que não originem nulidade, o registo é considerado simplesmente
inexato (art. 23º CRC). Em princípio, a inexatidão dará lugar à retificação (arts. 81º e ss. CRC).
Havendo nulidade, nos termos do art. 22º/4 CRC, “a declaração de nulidade do registo não
prejudica os direitos adquiridos a título oneroso por terceiro de boa fé, se o registo dos
correspondentes factos for anterior ao registo da acção de nulidade”.
Assim, temos:
(a) Um registo nulo (que se tenha envolvido nalgum dos vícios do art. 22º CRC) não
corresponde à realidade substantiva;
(b) Um terceiro que, com base nele, adquire direitos;
(c) A título oneroso;
(d) De boa fé;
(e) E que registe, ele próprio, os correspondentes factos antes de ter sido registada a ação
de nulidade.
Ato sujeito a registo e não inscrito no registo, apenas produz efeitos inter partes,
porém o terceiro pode prevalecer-se dele.
O próprio que não tenha registado não pode vir a retirar vantagem.
Nestas condições, ocorre a Teoria das Passas: pode o terceiro, num complexo não
registado, escolher alguns dos aspetos que lhe convenham, remetendo os outros para
a realidade substantiva?
Exemplo – é eleito um conselho de administração não se procedendo à competente
inscrição, pode o terceiro concluir certos contratos com o conselho anterior e outros
com o novo, conforme lhe convier?
O Prof. MC diz que não deve haver uma resposta genérica, uma vez que as situações
podem ser muito diversas: o terceiro que tenha conhecimento de uma insuficiência
registal não é obrigado a conhecer todas as irregularidades eventualmente
perpetradas.
Quando existem várias situações de invalidade, questiona-se se essas invalidades devem ser
todas invocadas em bloco. A resposta é sim.
Nota – quando seja perpetuada uma invalidade substantiva, o registo comercial que publicite o
inerente ato é pura e simplesmente incorreto (falso). Não confere a verdade.
O registo inerente é assim nulo, art.º 22º/nº1/al.a) CRC e segue-se regime normal da
publicidade positiva.
Nota da aula:
A Insolvência:
Noção ampla e analise dos regimes jurídicos em vigor por força do COVID-19.
A lei prevê que tem de receber proporcionalmente. Se quero fazer rateio tenho de reunir os
diversos credores no mesmo processo – por isso existe processo de insolvência – que serve
para pôr em prática o princípio da igualdade dos credores (não em função da pessoa, mas em
função do credito)
Origens ocidentais da falência remontam ao direito romano designadamente a lei das 12 tabuas. Previa-
se que se o devedor tivesse meios para pagar poderia haver ordem para apreensão dos meios do que a
prisão do devedor. Assim surgiu a mísio in possesion, os bens eram retirados e vendidos e assim se
ressarcia os credores.
Conceder moratória é permitir que seja pago depois, ou seja que o pagamento seja diferido
para momento posterior. Consiste em prorrogar a data final do prazo do contrato, pelo
período que dure a moratória.
Toda esta regulação visa a solidariedade. Ideia de repartir por toda a comunidade os prejuízos
generalizados. Funcionalização do direito privado ao interesse publico numa época de crise
Moratória das Rendas – lei 1 A 2020, de 19 de março, determinou que ficavam suspensos a
produção de efeitos de denuncia dos contratos de arrendamento habitacional e não
habitacional (comercial). A denuncia não produz efeitos. Se tiver em curso processo, fica
suspenso. O mais importante é suspender efeitos de denuncia e a suspensão de processos de
hipoteca. Importante que não sejam criadas condições desfavoráveis e que seja tirado o chão
às pessoas em alturas de crise.
Decreto nº2 C de 2020 de 17 de abril – visou a tutela dos arrendatários comercias, mas
também era importante acautelar a outra parte. O decreto veio evitar que o encerramento
pudesse ser invocado para pôr termo do contrato. Regra para proteger senhorios e donos de
espaços comercias. Vocação do decreto é o comercio.
Lei 4 C de 2020 de 6 de abril – este regime jurídico vem prever o regime excecional para
situações de mora em arrendamento não habitacional. Abrange também os contratos atípicos
semelhantes (exploração de lojas por exemplo). Veio permitir diferir o pagamento das rendas,
designadamente enquanto vigorasse o estado de emergência e no mês seguimento ao fim do
estado de emergência. mas não teria que o fazer de uma só fez no mês seguimento ao fim do
estado de emergência, o arrendatário dispunha de 12 prestações para regularizar as
prestações.
Arrendamentos não habitacionais – importante – os que aderiram à moratória (que foi uma
opção) só beneficiavam até ao mês posterior da cessação do estado de emergência. mas
houve uma alteração, pois conclui-se que o reinício da atividade económica não era
compatível com imediata capacidade de fazer fase às despesas. Alargou-se o prazo e permitir
que após o levantamento do enceramento, disponham de 3 meses para não pagar (de
suspensão). Exemplo: comercio que abre a 18 de maio, como a restauração, o diferimento das
rendas devidas entre abril e maio poderia ser feito. A partir de 1 de janeiro de 2021, quem
aderiu as moratórias tem que começar a pagar, mo máximo em 24 prestações (se a autonomia
privada outra coisa não estipular).
Em termos sintéticos tem uma proibição de revogação total ou parcial das linhas de crédito
que já tinham sido contratadas. A ideia de que num contexto como o que se vive seria abusivo
o exercício do direito de revogação. Atrt 4º nº1 /al.a)
3º medida – contratos com reembolso parcelar, são suspensos durante o período que vigora a
medida o capital, e juros são suspensos. Na prática, o plano contratual de pagamento das
parcelas é estendido automaticamente por período igual ao suspensão e é junto no final do
contrato. Não podem com isto os financiadores aplicar encargos adicionais.
Acesso a esta medida não depende de prova de necessidade de recorrer ao regime moratório.
LIVRO MC:
Insolvência:
Reconhecida a legitimidade para assumir obrigações com cumprimento diferido para o futuro,
há espaço para que essas venham a não poder depois ser cumpridas.