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Aula nº6

REGISTO COMERCIAL:
O Código do Registo Comercial (1966) pretendeu dar lugar a um verdadeiro “código” e,
portanto, algo que assumisse “um caráter sistemático e sintético que legitime a sua
designação”. Para o efeito, retomou no seu corpo uma série de normas que constavam do
Código do Registo Predial, que deixou de ser considerado diploma subsidiário. Atente-se que o
CRC veio a ser sucessivamente alterado.

Reforma do registo comercial de 2006:


Aspetos gerais:

O DL nº 76-A/2006 de 29 de março, primacialmente virado para as sociedades comerciais, alterou


profundamente o CRC, republicando-o em anexo. Recorrendo ao preâmbulo, encontramos diversas
medidas relevantes para o registo. Assim:

 A possibilidade de praticar atos de registo on-line;


 A certidão permanente on-line;
 A redução e a clarificação dos custos da prática dos atos;
 A eliminação da competência territorial das conservatórias do registo comercial;
 A supressão de atos e práticas que não acrescentem valor, designadamente: reduzindo o
número de atos sujeitos a registo e adotando a possibilidade de praticar atos através de um
registo “por depósito”;
 A criação de um novo regime de registo de transmissão de quotas.

A eliminação da competência territorial das conservatórias:


Para efeitos do registo comercial, o país estava dividido em áreas encabeçadas por conservatórias. Cada
uma delas tinha competência para a prática de atos. A supressão da competência territorial das
conservatórias é tornada possível pela criação de uma base de dados nacional (art. 78º-B): esta
centraliza toda a informação relativa às entidades sujeitas a registo, de tal modo que se torna
indiferente o ponto concreto de recolha de informação.

Registo por transcrição e por depósito:


Ponto-chave do novo registo comercial é a contraposição entre o registo por transcrição e o
registo por depósito (art. 53º-A/1):

- No registo por transcrição, o conservador procede à extratação dos elementos que definem
a situação jurídica das entidades sujeitas a registo constantes dos documentos apresentados;

- No registo por depósito procede-se ao mero arquivamento dos documentos que titulam
factos sujeitos a registo.

No Direito anterior, a regra era a do registo por transcrição.


Processo do registo:
O processo do registo, no formato resultante da reforma de 2006, percorre o seguinte
caminho:

1º O pedido de registo é formulado verbalmente, quando efetuado por pessoa que tenha
legitimidade para o efeito (art. 4º/1). Nos restantes casos, é feito por escrito, em
modelo adequado (art. 4º/2).
2º Os registos por transcrição seguem a metodologia regulada nos arts. 8º a 13º. Assim:
3º A matrícula deve conter o número, a natureza da entidade, o nome ou firma do
comerciante individual ou a firma ou denominação da pessoa coletiva (art. 8º);
4º O extrato das transcrições compreende certas menções gerais (art. 9º) e,
eventualmente, especiais (art. 10º);
5º Os averbamentos são explicitados (art. 11º).

Quanto aos registos por depósito, há a salientar:

i. Menções gerais: data, facto, nome ou denominação (art. 14º);


ii. Menções especiais elencadas na lei (art. 15º).

Finalmente, o art. 16º determina que as notificações sejam efetuadas por carta registada.

Papel da informática, apresentação por notário e documentos:


No novo regime, a informática tem um papel decisivo – arts. 58º/1, 59º, 70º/2, 75º/3, 75º/5,
77º/3e 78º-B a 78º- L.

O pedido de registo é feito pelo interessado, ou apresentado diretamente pelo notário, na


conservatória competente (art. 27º-A). Tratando-se de sociedade, apenas esta tem
legitimidade para o pedido (art. 29º/5), podendo, quando ela não o faça, qualquer pessoa
solicitar junto do conservador a sua promoção (art. 28º-A/1).

Quanto aos documentos, a novidade é a de que podem ser aceites, sem tradução, quando
escritos em inglês, francês ou espanhol, quando o funcionário competente domine essas
línguas (art. 32º/2).

A impugnação de decisões:
O sistema da impugnação das decisões foi alterado, no sentido da eliminação dos passos
inúteis e demorados. Assim, foi suprimida a figura da reclamação para o próprio conservador.
Da decisão de recusa da prática do ato de registo cabe (art. 10º/1):

- Recurso hierárquico para o diretor-geral dos Registos e do Notariado;

- Impugnação judicial.
Impugnada a decisão, o conservador profere, em 10 dias, despacho a sustentar ou a reparara
decisão (art. 101º-B/1).

Sendo o recurso hierárquico improcedente, pode ainda o interessado impugnar judicialmente


a decisão: tem 20 dias (art. 104º/1).

Em 2007, 2008 e 2009 houve mais reformas, com alterações que visaram:

(i) Adaptar a terminologia à reforma de 2006, em pontos que então escaparam ao


legislador;
(ii) Resolver aspetos práticos, entretanto detetados;
(iii) Harmonizar melhor as novas soluções.

Âmbito e princípios do registo comercial


Âmbito:
O registo comercial é um esquema que visa dar publicidade a certos atos, à situação jurídica
dos comerciantes individuais, das sociedades comerciais, das sociedades civis sob forma
comercial e dos estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada, tendo em vista a
segurança do comércio jurídico (art. 1º/1 CRC).

Registo tem uma função de controlo- para saber quais os fatos que estão sujeitos a registo
consultamos art.º 2º e 3º. Se existirem ações que podem interferir nestas situações jurídicas -
ficam também sujeitas a registo nos termos do art.º 9º.

O art. 1º/2 alarga a publicidade comercial a entidades semelhantes a comerciantes:


cooperativas, empresas públicas, agrupamentos complementares de empresas, agrupamentos
europeus de interesse económico e outras pessoas singulares ou coletivas a ele sujeitas.
Quanto a comerciantes individuais, estão sujeitos a registo (art. 2º CRC):

a) O início, alteração e cessação de atividade do comerciantes individual;


b) As modificações do seu estado civil e regime de bens;
c) A mudança de estabelecimento principal.

As sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma comercial têm numerosas situações sujeitas a
inscrição comercial (art. 3º/1 CRC), sinteticamente:

i. O próprio contrato de sociedade;


ii. A situação jurídica das quotas das sociedades por quotas;
iii. A designação e cessação de funções dos administradores, gerentes ou diretores;
iv. As modificações societárias.

São ainda, grosso modo, esses mesmos fatores que devem ser publicitados no tocante a
sociedades anónimas europeias (art. 3º/2 CRC), a cooperativas (art. 4º CRC), a empresas
públicas (art. 5º CRC), a agrupamentos complementares de empresas (art. 6º CRC), a
agrupamentos europeus de interesse enconómico (art. 7º CRC) e a estabelecimentos
individuais de responsabilidade limitada (art. 8º CRC).
Estão ainda sujeitas a registo as ações que possam interferir nas situações que devam ser
inscritas, de acordo com a renumeração do art. 9º CRC. O art. 10º CRC submete também a
registo comercial situações como o mandato comercial.

 Os atos sujeitos a registo constituem uma tipicidade fechada. Podemos admitir que
outras leis submetam certos atos a registo comercial; podemos também aceitar que
algumas formulações legais admitam interpretação extensiva. Não é, porém, possível,
por analogia ou com recurso a princípios, ampliar a lista considerada.

 Paralelamente, há que recusar a redução teleológica da lista, de modo a retirar dela


factos que, atentos os fins das normas em jogo, já nada ganhem com a inscrição
comercial. Por exemplo, poderia ser desejável submeter a registo comercial o contrato
de concessão comercial ou o contrato de franquia; todavia, e a menos que, em
concreto, seja possível estabelecer que esses contratos envolvem no seu núcleo
essencial uma situação de agência, não há base legal para um dever de registo.

 Ana Perestrelo - Atenção que a interpretação extensiva deve ser muito cuidadosa, não sendo
de forma alguma permitida a analogia.

Exemplo: no contrato de agencia (pelo qual um sujeito, o agente se obriga a promover a


celebração de contratos por parte de outra pessoa) – o regime jurídico está previsto num
decreto lei e integra-se num contrato de distribuição, dentro destes temos outros contratos,
por exemplo o contrato de franquia (franchising – contrato pelo qual um sujeito desenvolve um
negocio exatamente nos mesmos termos que o franqueador, apesar de ter autonomia).
Agência está sujeita a registo (art.º 10º). Franquia não está sujeita a registo. Não posso
estender o registo da analogia à franquia.

Princípios:
Os princípios do registo comercial são:
1) Princípio da instância (art. 28º CRC) – o registo efetua-se a pedido dos interessados,
ou seja, o registo é passivo. Apenas há registos oficiosos nos casos previstos pela lei. O
registo pode ser pedido pelos próprios, pelos representantes legais ou pelas pessoas
que nele tenham interesse (art. 29º CRC). O registo pode ainda ser solicitado por
“mandatário com procuração bastante”, por quem tenha poderes para intervir no
respetivo título e por advogado ou solicitador cujos poderes de representação se
presumem (art. 30º/1 CRC).

2) Princípio da obrigatoriedade – o registo é obrigatório. Os interessados estão


obrigados a requerer a inscrição no registo, dos fatos sujeitos a registo Trata-se de um
princípio que comporta duas vertentes:
a. Obrigatoriedade direta – casos referidos no art. 15º/1 e 2 CRC. Os notários
devem remeter às conservatórias competentes, todos os meses, a relação dos
documentos que titulem factos sujeitos a registo obrigatório (art. 16º CRC). O
incumprimento do dever de requerer a inscrição é punido com as coimas do
art. 17º CRC.
b. Obrigatoriedade indireta – para todos os atos sujeitos a registo. Estes só
produzem efeitos perante terceiros depois da data da respetiva inscrição (art.
14º/1 CRC) ou depois da data da publicação, quando estejam sujeitos a registo
e a publicação obrigatória (art. 14º/2 CRC). Quanto às ações sujeitas a registo,
o essencial delas não tem seguimento, após os articulados, enquanto não for
feita prova de ter sido requerida a competente inscrição (art. 15º/4 CRC).

Constituem condição de eficácia. O registo é condição de eficácia perante


terceiros, art.º 14º/nº1, o interessado que não requeira registo fica numa
situação desfavorável.

3) Princípio da competência (só até 2007) – foi suprimido em 2006. Este princípio
determina que o registo se efetive na conservatória com cuja circunscrição territorial o
facto a inscrever tenha uma conexão relevante. As regras da competência constam dos
arts. 24º e ss. CRC. A sua observância é fundamental: de outro modo, os interessados
não saberão onde se dirigir para alcançar as informações que pretendam. O
desrespeito deste princípio é punido com a inexistência (art. 21º CRC) – o Prof. MC
defende que a sanção deveria ter sido a da nulidade.
O registo deve ser recusado nos casos elencados no art. 48º/1 CRC.

4) Princípio da legalidade - conservador não se limita a inscrever o fato no registo. Deve


existir uma avaliação, art.º 47º e 48º. Existem casos em que o registo pode ser
recusado. Mas são casos taxativos, art.º 42º. Nos outros casos o registo é feito na
mesma, mas pode ser provisório por duvidas.

5) Princípio do trato sucessivo - art.º 47º. O conservador tem de verificar registos


anteriores de forma ao trato sucessivo. (não posso ter registado A como gerente de
sociedade e aparecer também um senhor B como gerente da mesma sociedade. devo
ter cessado as funções deste B).
Efeitos do registo:
Se existe um serviço público providenciado pelo Estado, que cumpre regras, hierarquias, etc,
para dar publicidade a determinados atos, então há que retirar daqui algumas
consequências:

1. Eficácia presuntiva do registo (art. 11º CRC) – o interessado que apresente certidão de
determinado facto inscrito fica exonerado de demonstrar a sua ocorrência e os seus
contornos; inversamente, o contra-interessado terá de fazer prova em contrário,
impugnando ainda o registo que considere erróneo. A presunção derivada do registo
comercial, de acordo com a regra geral do art. 350º/2 CC, pode ser ilidida mediante
prova em contrário (presunção iuris tantum).

Presunção que existe a situação jurídica nos termos definidos no próprio registo. A
ideia é quem apresenta uma certidão de registo, não tem de provar o fato
correspondente. Há uma presunção ainda que ilidível. É uma dispensa de prova.

E tem efeito constitutivo? No caso do registo predial, há a situação da hipoteca que


tem eficácia constitutiva.

No âmbito comercial, os atos produzem efeitos logo que tenham sido praticados,
tenham ou não sido registados (ainda que possam ter uma eficácia mais reduzida,
caso não tenham sido registados – art. 13º/1 CRC) e, por isso, à partida, o registo
comercial não produz efeitos constitutivos.
A regra é que a mera celebração do contrato produz eficácia translativa. Mas em
determinadas situações a lei determina eficácia constitutiva do registo.

Todavia, há certos casos em que parece haver eficácia constitutiva dos atos
comerciais, nomeadamente no domínio das sociedades comerciais: estas só adquirem
personalidade pelo registo (art. 5º CSC).

2. Efeito Indutor de Eficácia: os atos sujeitos a registo comercial só produzem efeitos


plenos depois de registados.
a. Publicidade negativa (art. 14º/1 CRC) – se o ato não for registado, não produz
determinados efeitos. A não publicação, opera a diminuição de efeitos. O art.
14º/1 CRC determina que os factos sujeitos a registo só produzem efeitos
contra terceiros depois da data do respetivo registo.

Este preceito complementa o do art. 13º/1 CRC, que determina que os factos
sujeitos a registo, ainda que não registados, podem ser invocados entre as
próprias partes ou seus herdeiros.

Assim, poderíamos construir a situação daqui emergente de uma de duas formas:


(i) Ou entendendo que os atos sujeitos a registo são atos de produção sucessiva
complexa, de tal modo que estariam incompletos antes do registo – teoria da
compleitude  Assim, para a teoria da compleitude, o ato pura e simplesmente
não está completo e, por isso, ele é incapaz de produzir efeitos perante terceiros,
seja qual for a situação
(ii) Ou aceitando que tais atos estão perfeitos; simplesmente cedem perante o
silêncio do registo. Ou seja, o ato está completo, mas não produz efeitos até ser
registado – teoria da publicidade.  Já para a teoria da publicidade, o ato é por si
oponível erga omnes; simplesmente, dada a proteção da aparência, os terceiros
que acreditem no silêncio do registo são protegidos, mas apenas se estiverem de
boa fé.

Nota – terceiro para efeitos do registo comercial é qualquer pessoa estranha ao ato inscrito. O
art.º 14º/nº1 deveria no entendimento do prof MC ser completado com a seguinte expressão
“não produzem efeitos perante terceiros de boa fé”.

O Prof. MC adere à teoria da publicidade negativa:

 Os atos produzem os efeitos previstos na lei logo que intrinsecamente completos;


 O registo nulo produz efeitos, em certos termos, perante terceiros de boa fé (art.
22º/4 CRP);
 Em geral, só se justifica a proteção de quem aja de boa fé, isto é, sem contundir,
conscientemente, com regras jurídicas ou posições alheias.

b. Publicidade positiva – o registo comercial assume um efeito indutor de


eficácia, com publicidade positiva, sempre que um terceiro se possa prevalecer
de um facto indevido, ou incorretamente registado. Algo que não existe,
mercê da fé pública registal, irá produzir efeitos apenas com base no registo.

O ato indevidamente registado ou incorretamente registado pode produzir


efeitos tal como emerge da aparência registal. Da mera publicitação
resultam efeitos de outro modo existentes.

Na sequência de diversas vicissitudes que marcaram a transposição de regras do registo


predial para o comercial, a lei veio a tratar esta matéria a partir das nulidades do registo. De
acordo com o art. 22º CRC:
“1 - O registo por transcrição é nulo:

a) Quando for falso ou tiver sido feito com base em títulos falsos;
b) Quando tiver sido feito com base em títulos insuficientes para a prova legal do facto registado;
c) Quando enfermar de omissões ou inexactidões de que resulte incerteza acerca dos sujeitos ou
do objecto da relação jurídica a que o facto registado se refere;
d) Quando tiver sido assinado por pessoa sem competência funcional, salvo o disposto no n.º 2 do
artigo 369.º do Código Civil, e não possa ser confirmado;
e) Quando tiver sido lavrado sem apresentação prévia.”
Os registos nulos só podem ser retificados nos casos previstos na lei e isso se não estiver
registada a ação de declaração de nulidade (art. 22º/2 CRC).

Além disso, a nulidade de registo só é invocável depois de declarada por decisão judicial
transitada (art. 22º/3 CRC).

Perante outros vícios que não originem nulidade, o registo é considerado simplesmente
inexato (art. 23º CRC). Em princípio, a inexatidão dará lugar à retificação (arts. 81º e ss. CRC).

Havendo nulidade, nos termos do art. 22º/4 CRC, “a declaração de nulidade do registo não
prejudica os direitos adquiridos a título oneroso por terceiro de boa fé, se o registo dos
correspondentes factos for anterior ao registo da acção de nulidade”.

Assim, temos:

(a) Um registo nulo (que se tenha envolvido nalgum dos vícios do art. 22º CRC) não
corresponde à realidade substantiva;
(b) Um terceiro que, com base nele, adquire direitos;
(c) A título oneroso;
(d) De boa fé;
(e) E que registe, ele próprio, os correspondentes factos antes de ter sido registada a ação
de nulidade.

3. Eficácia da Aparência – seja na forma da publicidade negativa, art.º 13º/nº1, seja na


forma da publicidade positiva, art.º 22º/nº4 CRC - é uma vantagem concedida aos
terceiros, estes poderão ou não a aproveitar, consoante lhes convenha.

Ato sujeito a registo e não inscrito no registo, apenas produz efeitos inter partes,
porém o terceiro pode prevalecer-se dele.
O próprio que não tenha registado não pode vir a retirar vantagem.

No caso da publicidade positiva, o mesmo se verifica, e ocorre ainda que o terceiro


que pretenda prevalecer-se da nulidade do registo, invocando-a terá de munir-se da
sentença prevista no art.º 22º/nº3.

Nestas condições, ocorre a Teoria das Passas: pode o terceiro, num complexo não
registado, escolher alguns dos aspetos que lhe convenham, remetendo os outros para
a realidade substantiva?
Exemplo – é eleito um conselho de administração não se procedendo à competente
inscrição, pode o terceiro concluir certos contratos com o conselho anterior e outros
com o novo, conforme lhe convier?

O Prof. MC diz que não deve haver uma resposta genérica, uma vez que as situações
podem ser muito diversas: o terceiro que tenha conhecimento de uma insuficiência
registal não é obrigado a conhecer todas as irregularidades eventualmente
perpetradas.
Quando existem várias situações de invalidade, questiona-se se essas invalidades devem ser
todas invocadas em bloco. A resposta é sim.

Nota – quando seja perpetuada uma invalidade substantiva, o registo comercial que publicite o
inerente ato é pura e simplesmente incorreto (falso). Não confere a verdade.

O registo inerente é assim nulo, art.º 22º/nº1/al.a) CRC e segue-se regime normal da
publicidade positiva.

Nota da aula:

 Sociedades comerciais- são sociedades que verdadeiramente se dedicam a prática de atos


comerciais.
 Sociedades civis - Sociedades que não praticam atos de comercio (porque são sociedades civis)
mas adotam a fórmula comercial.

A Insolvência:
Noção ampla e analise dos regimes jurídicos em vigor por força do COVID-19.

Anteriormente falava-se em falência ou quebra. Estamos a falar de situações em que o


devedor está impossibilitado de cumprir as suas obrigações pecuniárias. Art.º 601º (lembrar)

Se a obrigação não for voluntariamente cumprida, o credor tem o direito de exigir


judicialmente o cumprimento art.º 817º.

Ações executivas singulares – temos um devedor e um credor. Se alguém não cumpre


obrigação, havendo título executivo posso pedir ao tribunal que coercivamente execute a
obrigação.

Se património do devedor chegar, não há problema. Se o património não chega temos um


problema pois a lei substantiva manda proceder ao rateio do património, art.º 606º. Se não
houver causa de preferência temos os devedores todos em pé de igualdade art.º 604º.

A lei prevê que tem de receber proporcionalmente. Se quero fazer rateio tenho de reunir os
diversos credores no mesmo processo – por isso existe processo de insolvência – que serve
para pôr em prática o princípio da igualdade dos credores (não em função da pessoa, mas em
função do credito)

Origens ocidentais da falência remontam ao direito romano designadamente a lei das 12 tabuas. Previa-
se que se o devedor tivesse meios para pagar poderia haver ordem para apreensão dos meios do que a
prisão do devedor. Assim surgiu a mísio in possesion, os bens eram retirados e vendidos e assim se
ressarcia os credores.

Código de insolvência e recuperação de empresas – CIRE


Como é que se tem de evitar chegar a situações de insolvência? Qual a função do ornamento
jurídico neste sentido?

Conceder moratória é permitir que seja pago depois, ou seja que o pagamento seja diferido
para momento posterior. Consiste em prorrogar a data final do prazo do contrato, pelo
período que dure a moratória.

Matéria de impossibilidade de cumprir + matéria de alteração das circunstâncias + resolução


dos contratos  instrumentos que tem de ser convocados!

Toda esta regulação visa a solidariedade. Ideia de repartir por toda a comunidade os prejuízos
generalizados. Funcionalização do direito privado ao interesse publico numa época de crise

Moratória das Rendas – lei 1 A 2020, de 19 de março, determinou que ficavam suspensos a
produção de efeitos de denuncia dos contratos de arrendamento habitacional e não
habitacional (comercial). A denuncia não produz efeitos. Se tiver em curso processo, fica
suspenso. O mais importante é suspender efeitos de denuncia e a suspensão de processos de
hipoteca. Importante que não sejam criadas condições desfavoráveis e que seja tirado o chão
às pessoas em alturas de crise.

Decreto nº2 C de 2020 de 17 de abril – visou a tutela dos arrendatários comercias, mas
também era importante acautelar a outra parte. O decreto veio evitar que o encerramento
pudesse ser invocado para pôr termo do contrato. Regra para proteger senhorios e donos de
espaços comercias. Vocação do decreto é o comercio.

Lei 4 C de 2020 de 6 de abril – este regime jurídico vem prever o regime excecional para
situações de mora em arrendamento não habitacional. Abrange também os contratos atípicos
semelhantes (exploração de lojas por exemplo). Veio permitir diferir o pagamento das rendas,
designadamente enquanto vigorasse o estado de emergência e no mês seguimento ao fim do
estado de emergência. mas não teria que o fazer de uma só fez no mês seguimento ao fim do
estado de emergência, o arrendatário dispunha de 12 prestações para regularizar as
prestações.

Arrendamentos não habitacionais – importante – os que aderiram à moratória (que foi uma
opção) só beneficiavam até ao mês posterior da cessação do estado de emergência. mas
houve uma alteração, pois conclui-se que o reinício da atividade económica não era
compatível com imediata capacidade de fazer fase às despesas. Alargou-se o prazo e permitir
que após o levantamento do enceramento, disponham de 3 meses para não pagar (de
suspensão). Exemplo: comercio que abre a 18 de maio, como a restauração, o diferimento das
rendas devidas entre abril e maio poderia ser feito. A partir de 1 de janeiro de 2021, quem
aderiu as moratórias tem que começar a pagar, mo máximo em 24 prestações (se a autonomia
privada outra coisa não estipular).

Moratória bancaria – situações de dificuldade de pagamento. Contratos de financiamento


são só que mais se sente o risco na moratória bancaria. As empresas em Portugal e as pessoas
singulares são extremamente dependente das bancas. Excessiva dependência da economia
portuguesa da banca.

Contratos de financiamento – área carente de medidas.


O regime da moratória bancaria dl nº 10/J de 26 de março (prof. Pestana Vasconcelos – Revista
de Direito Comercial + Madalena Perestrelo – Revista da FDUL).

DL 78 A 2020, 29 de setembro estendeu as medidas até 2021 setembro.

Em termos sintéticos tem uma proibição de revogação total ou parcial das linhas de crédito
que já tinham sido contratadas. A ideia de que num contexto como o que se vive seria abusivo
o exercício do direito de revogação. Atrt 4º nº1 /al.a)

2º medida prorrogação de todos os créditos de pagamento de capital art.º 4º/nº1/al.b) . o


contrato prolonga-se durante determinado período.

3º medida – contratos com reembolso parcelar, são suspensos durante o período que vigora a
medida o capital, e juros são suspensos. Na prática, o plano contratual de pagamento das
parcelas é estendido automaticamente por período igual ao suspensão e é junto no final do
contrato. Não podem com isto os financiadores aplicar encargos adicionais.

Acesso a esta medida não depende de prova de necessidade de recorrer ao regime moratório.

LIVRO MC:

Insolvência:

 Situação do devedor que se encontre impossibilitado de cumprir as suas


obrigações vencidas, art.º 3º/nº1
 À situação subsequente à sentença de insolvência, art.º 36º.

A insolvência traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas


obrigações, normalmente por ausência da necessária liquidez naquele momento, ou porque o
total das responsabilidades (passivo) excede os bens que poderia dispor para lhes fazer face
(ativo).

Reconhecida a legitimidade para assumir obrigações com cumprimento diferido para o futuro,
há espaço para que essas venham a não poder depois ser cumpridas.

Assim, o Direito de Insolvência surge para regular as consequências resultantes dessa


impossibilidade de cumprimento pelo devedor. Regula, ainda, as chamadas situações de pré-
insolvência – dá-nos, nestes casos, medidas de recuperação do devedor. Pode, com isto, dizer-
se que o Direito da Insolvência é o complexo de normas jurídicas que tutelam a situação do
devedor insolvente ou pré-insolvente e a satisfação dos direitos dos seus credores.
Há quem defenda que este ramo do Direito não merece, na verdade, qualquer autonomização, visto que
acaba simplesmente por ser um conjunto de normas de diferente natureza. Para MENEZES LEITÃO, essa
posição é exagerada: embora sejam recolhidos elementos de outras áreas, o Direito da Insolvência
possui dogmática própria, sendo essencialmente direito substantivo, de natureza privada.

Este assenta sobretudo numa responsabilidade patrimonial, característica do Direito das


Obrigações, tendo também uma forte vertente processual – é exigida a intervenção do
tribunal. É precisamente dessa componente processual que resulta a redação do art. 1º CIRE.

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