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psicose
organizador
Joel Birman
organizador
Sobre a psicose
,.
Copyright{) dos autores, 1999
CDD 150.195
CDU 159.964.2
1999
Todos os direitos desta edição reservados à
Contra Capa Livraria Ltda.
<ccapa@casynet.com.br>
Rua Barata Ribeiro, 370 - Loja 208
22040-040 - Rio de Janeiro - RJ
Tel (55 21) 236-1999 / Fax (55 21) 256-0526
Sumário
Repensando a psicanálise
Este livro é o resultado de um trabalho conjunto de pesquisa
estabelecido entre o Programa de Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica, do Instituto de Psicologia da Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro, e o Laboratoire de Psychopathologie
Fondamentale et Psychanalyse, da Universidade de Paris VII.
Este intercâmbio científico foi firmado pela CAPES, do lado
brasileiro, e pela COFECUB, do lado francês. O acordo de co-
laboração científica teve a duração de cinco anos; durante
este perído, foram realizadas a cada ano atividades tanto no
Rio de Janeiro como em Paris, que consistiram fundamen-
talmente na apresentação das investigações conduzidas pelos
diferentes pesquisadores, cm conferências e seminários para
os cursos de Mestrado e Doutorado. Além disso, bolsistas
brasileiros e franceses, que realizaram o doutoramento em
psicanálise, tiveram a possibilidade de permanecer um ano nas
instituições citadas, a fim de aprofundarem os seus projetos
de pesquisa.
A problemática central desta pesquisa bilateral foi a psicose.
Era esta a questão crucial que interessara aos dois centros de
pesquisa em colaboração, posto que a psicose por si própria
condensa uma série de indagações que põem cm questão os
sujeitos e os pressupostos da teoria psicanalítica. Assim, além
do interesse clínico e teórico que a psicose sempre represen-
tou para psicanálise - esta desde os seus primórdios procu-
rou realizar uma leitura original sobre a experiência das psi-
coses, assim como uma direção para a sua cura - ela nos
seduzia como tal ao apontar para os limites do discurso psica-
nalítico.
Isso não quer dizer, bem entendido, que nos conforma-
mos com a suposta impotência da psicanálise ante as psicoses.
Não é disso que se trata, pois não cremos nesta impossibilida-
de e impotência terapêutica da psicanálise. Longe disso, aliás.
Joel Birman (org.)
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Sohre a psicose
Joel Birman
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A psicose e a feminilidade
uma releitura do caso Schreber de S. Freud
Joel Birman
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Sobre a psicose
A recusa da feminilidade
Como afirmei, remexer a leitura de Schreber realizada por
Freud é para mim a fonte de uma certa inquietação, pois im-
plica a pretensão de lançar alguma luz nova sobre o que possa
ter passado desapercebido por uma longa tradição de
comentadores de grande corurno; ou então, mesmo que os
tópicos que pretendo destacar não tenham passado em bran-
cas nuvens para tais críticos, não deram no que se quer reve-
lar agora.
É preciso enunciar, contudo, que não se trata de
reinventar a roda. A leitura psicanalítica da psicose já foi rea-
lizada há quase cem anos. Não se trata tampouco de propor
uma outra interpretação para a psicose de Schreber. O que
pretendo é começar a explicitar as categorias de pensamento
valorizadas no discurso freudiano. Evidentemente tais cate-
gorias de pensamento não ficam restritas ao campo das psico-
ses, mas se articulam a outros campos da teoria freudiana.
Ora, o discurso freudiano se ordena segundo diferentes
eixos e pressupostos, de maneira que suas categorias de pen-
samento perpassam a totalidade da teoria psicanalítica, não
ficando regionalizadas em um dado campo temático. Portan-
to o que está em jogo é um trabalho de leitura do discurso
freudiano, a fim de surpreender neste as categorias de pensa-
mento colocadas em funcionamento interpretativo. Estas ca-
tegorias se relacionam, direta e intimamente, com a maneira
pela qual o discurso freudiano concebe o ser da sexualidade.
Sabemos que o pensamento freudiano sobre o sexual não é
nem linear, nem unívoco. Ao contrário, trata-se de uma mo-
dalidade de pensamento que não apenas se transformou ao
longo do percurso teórico de Freud - este teve que inventar
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Joel Birman (org.)
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Sobre a psicose
Paranóia e homossexualidade
A leitura de Freud das "Memórias de um neuropata" tem como
um de seus alicerces fundamentais a formulação de que a pa-
ranóia é uma forma de defesa do sujeito contra a homosse-
xualidade. Esta tese de Freud é crucial para que se possa interpre-
tar devidamente o que está em jogo na sua construção teórica,
tanto no que se refere à paranóia e à esquizofrenia, quanto no
que concerne ao estatuto do homossexualismo.
Quais são as condições de possibilidade dessa tese de
hcud? Em que lugares o discurso freudiano se inscreveu para
enunciar tal formulação? O que pressupõe esta proposição
teórica?
Antes de mais nada, é preciso reconhecer que essa tese
de Freud não advém primariamente de um convívio clínico
com as psicoses. Sua experiência clínica com as psicoses foi
algo bastante diferente do trabalho de alguns de seus discípu-
los diletos, tais como Jung, Abraham e Ferenczi. Não obstante
Jucl Birman (org.)
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Sobre a psicose
/t•oria sexual (1905), mas que havia sido criada por Fliess. Em
\lia leitura de Schreber, ele afirma que a potencialidade hu-
mana para o homossexualismo deriva de uma constituição
hissexual originária que, em função da impossibilidade de sa-
tisfação heterossexual por razões de economia libidinal,. pode
Sl' atualizar a qualquer momento (Freud, 191 la). Com isso,
dever-se-ia interpretar a homossexualidade como um destino
possível da economia sexual ante os impasses do sujeito no
exercício da heterossexualidade.
Porém não se trata apenas disso. Esta formulação seria
muito genérica para dar conta dos sofrimentos do sujeito na
relação com as suas tendências homossexuais advindas da
bissexualidade originária. É preciso dar um passo além para
examinar a dimensão da dor e de conflitos que estariam im-
plicados nesta experiência. Retomarei, pois, uma outra dire-
ção de leitura para sair desta generalidade.
Sabe-se que Freud, em algum momento, afirmou que o
paranóico fracassa onde ele teve êxito. Esta formulação é
hastante rica, marcada pelas múltiplas ressonâncias que evoca.
A primeira questão é a de se saber o que são o "êxito" e o
"fracasso" neste registro. Em seguida, o que quer dizer o "ele"
neste contexto, pois presumo aí a existência de diversos sig-
nificados além da figura psíquica de Freud.
Antes de mais nada, Freud quer dizer que a psicanálise,
como saber, é sem dúvida uma construção interpretativa, mas
não é da ordem de uma construção delirante. Vale dizer, na
paranóia o delírio é uma produção psíquica logicamente per-
feita e irrefutável, mas se constrói a partir de uma intuição
originária que é falsa, ou seja, é a presença desta intuição o
que falseia toda a construção, e não a articulação lógica do
sistema, o que não quer dizer, bem entendido, que o delírio
não seja uma forma do sujeito poder dizer uma verdade sobre
a sua história e o seu desejo. Contudo a verdade em pauta é
dita de forma delirante e para apreender o alcance disso é
preciso não confundir a concepção de verdade pensada pela
oposição verdade/erro com a que figura através da noção de
desejo, pois a trama delirante é não apenas permeada pelo
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Joel Birman (org.)
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Sobre a psicose
Mctapsicologia
En, um pequeno artigo sobre a paranóia e o delírio de ciúmes
,,ostcrior ao ensaio sobre Schreber, Freud (1922) procurou
delimitar a fronteira tênue que existiria entre a interpretação
psicanalítica e o delírio paranóico. É interessante sublinhar
que Freud pense ser tênue tal fronteira, pois a figura do ana-
1iP1ta nunca está completamente segura de que a interpretação
que formula não seja da ordem do delírio. De antemão, nun-
..::1 pode estar absolutamente certo sobre isso. Somente a pos-
Nihilidade de duvidar permite a ele se diferenciar do sujeito
delirante, posto que este último é absolutamente tomado pela
terteza. As dúvidas do analista são o que lhe dá o seu potencial
crftico face a si mesmo e ao outro, já que suspendem as suas
certezas e relativizam sua posição de intérprete.
Com efeito, aquilo que está ausente no sujeito paranóico
é a sua impossibilidade de duvidar de seus enunciados, que se
tornam literais como verdades absolutas. Nesta certeza, o
sujeito torna absoluto o seu lugar de intérprete e não pode
criticar a si próprio cm seus enunciados. O eu do sujeito
paranóico é tomado pelo estilo megalomaníaco e disso é
possível depreender sua posição auto-referente e a centra-
lidade absoluta em que se inscreve no mundo. Está aí, pois, a
diferença em relação à interpretação psicanalítica, ou seja, é
pelo aprisionamento do sujeito na lógica do eu e do desejo
que a interpretação paranóica se diferencia radicalmente da
psicanalítica.
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Joel 8irman (org.)
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A feminilidade e o falo
Vou me deslocar no tempo da obra, indo agora para o final
do discurso freudiano, a fim de encontrar subsídios conceituais
para decifrar este horror da dispersão pulsional pelo sujeito.
O conceito de feminilidade, enunciado por Freud no final do
seu percurso, pode nos esclarecer sobre tudo isso, principal-
mente sobre o que se encontra latente na leitura freudiana da
experiência psicótica de Schreber.
Para Freud, a feminilidade é uma experiência psíquica
permeada pelo horror, tanto para os homens quanto para as
mulheres. Isso porque na feminilidade a subjetividade não está
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Sobre a psicose
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Desamparo
Porém para entendermos o que está em jogo aqui" é preciso
explorar um pouco mais a experiência da feminilidade e, para
isso, inquirirei o último Freud, lançando mão do conceito de
desamparo. Parece-me que, com a mediação deste, pode-se
vislumbrar com mais precisão o que está no fundamento da
feminilidade para o sujeito, ou seja, a relação deste com aquela.
O conceito de desamparo já está presente no início do
percurso freudiano em seu "Proíeto de uma psicologia cientí-
fica" (1895), todavia Freud só confere a ele um lugar estraté-
gico no funcionamento subjetivo no final de seu percurso teó-
rico (Freud, 1926). Com efeito, o desamparo está no funda-
mento do sujeito como aquilo que o constitui e como aquilo
que ele mais teme. É por isso que o sujeito o recusa, e o faz
com um afeto da ordem do horror e da angústia do real.
A figura do desamparo se identifica com a do trauma, visto
que nessa o sujeito se encontra diante de um excesso pulsional
que não consegue dominar, engolido e afogado que está pelas
intensidades. Para se contrapor a isso, ele busca a figura pa-
terna como proteção. Contudo a figura paterna não pode ser-
vir como uma barreira absoluta, apenas como uma barragem
relativa. Daí a nostalgia da figura do pai a que Freud se refere
no "Mal-estar na civilização" (1930) advinda da não existên-
cia de uma proteção absoluta ante este terror primordial.
Agora pode-se entender melhor que o falo seja o meio
pelo qual o sujeito procura se proteger de tal horror ao ofere-
cer, pela identificação primária, a barragem contra o desam-
paro. Todavia como também o falo não oferece uma proteção
absoluta mas apenas relativa, o sujeito necessita colar-se rigi-
damente a ele para não se perder nas trevas da dispersão
pulsional e da angústia do real. Neste sentido a figura do de-
samparo é o outro nome dado por Freud para o que ele
conceituou como sendo a feminilidade. São estas as duas faces
da mesma moeda, da problemática que está em pauta. Recu-
sar o desamparo e recusar a feminilidade significam a mesma
coisa já que remetem à m_esma experiência para o sujeito.
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Em busca de uma metapsicologia
da melancolia1
Teresa Pinheiro
1
Algumas das idéias que exponho neste texto foram publicadas
anteriormente (1995a, 1995b, 1998a e 1998b) e mesmo que os aspectos
centrais e necessários para a construção de uma metapsicologia da
melancolia lenham sido trabalhados, a questão está longe de ter sido
totalmente abordada. A relação desses pacientes com o próprio corpo,
a questão da imagem corporal e a relação que estabelecem com o
lempo e a linguagem são pontos fundamentais que pretendo trabalhar
posteriormente.
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Sobre a psicose
A construção do narcisismo
Sem dúvida a contribuição de Ferenczi foi fundamental para
:i elaboração do conceito de narcisismo por Freud e pode nos
ser de grande valia para sua compreensão atual. Podemos di-
zer sem receio que nessa época estes dois autores trabalharam
11 quatro mãos. Era preciso construir teoricamente uma boa
resposta às questões levantadas por Jung ao descartar a im-
portância da sexualidade na ordenação do aparato psíquico.
O conceito de introjeção (cf. Pinheiro, 1995a) foi colo-
melo como primeiro movimento psíquico e traria o esboço da
formação egóica, sem que esta instância tivesse sido sequer
vislumbrada. A partir do movimento megalômano da libido
de apropriar-se de tudo, de a tudo unir-se, o psiquismo se
111,mifestaria pela primeira vez. Essa força libidinal responde-
ri,1 ou faria frente à questão da própria precariedade humana,
,,parentemente inevitável. Dito de outro modo, diria respeito
,\ luta entre a vida e a morte com a qual se depara o recém-
1111scido, ou seja, o reverso da ação da pulsão de morte.
Somente através da libido a fundação do edifício egóico
p,,rL·cc ser possível. Por conseguinte, por meio de aglutinação,
,1propriação de tudo, homogeneização dos componentes,
t rnnsformação do estranho em familiar. Eliminar diferenças,
turná-las semelhantes, derrubar barreiras, tapar vazios, trans-
lor111ar enigmas em obviedades, assim é a libido, assim é o
11,m:isismo. Fazer do outro cu próprio, do misterioso o mais
, l,1ro, pasteurizando as diferenças. Deste modo roma-se pos-
,1vcl a onipotência tão decantada do narcisismo. Espanta-se o
ilnamparo, a falta, a precariedade humana. É contra isso, afi-
11.II, que o narcisismo se ergue, como a outra face da pulsão
ti,· morte, da agressividade, esta dirigida para fora, para o
1111tro, para o que não aceita ser familiar e igual, isto é, aquilo
q111· insiste na dessemelhança e transforma o estranho em pe-
1 tw,so inimigo.
Em 1909 e 1912, Ferenczi não dispunha do conceito de
1111rci!lismo, introduzido por Freud em 1914, mas já é sobre
,·11° que fala em seus textos. O movimento do processo de
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A construção do ego
Freud define o ego, por um lado, como "um ego corporal,
1140 somente um ser de superfície, mas ele mesmo uma su-
pcrffcie [... ] a projeção mental da superfície do corpo" (1981
1t 923): 158); por outro, como um precipitado de identifica-
~c">es, ou seja, o resultado ou o conjunto de marcas de cada
investimento objetal abandonado. Para cada investimento
de objeto, a posse de um traço, uma identificação que traz a
marca do objeto. A couraça narcísica, capaz de fazer frente à
,:.,stração, é composta por essas identificações, ou melhor,
pela história dos investimentos objetais abandonados do su-
1cito.
Temos de um lado a unidade corporal dando a projeção
de um limite de superfície necessário. É a representação desta
imagem corporal ou a idéia de limite ou superfície corporal o
que funda o ego. Quem garante a noção de alteridade é a
representação de uma unidade corporal, ou seja, o ego nasce
desta noção de alteridade e investimento das figuras parentais
sobre a imagem corporal. Narcisismo e ego estão portanto
,melados e sem dúvida tudo o que Lacan nos escreveu sobre o
rema é fundamental para a compreensão do assunto.
A idéia do estádio do espelho (Lacan, 1936a) é apontar
para a prematuridade do ser humano, que se reconhece como
unidade corporal antes que a sua motricidade esteja
:1madurecida. Temos aí tanto uma capacidade do bebê humano
de reconhecer no adulto um semelhante, como a faculdade
de antecipação, que será muito importante na função egóica.
'fodavia tanto uma quanto outra podem ser entendidas como
resultado do investimento narcísico dos pais. A primeira pelo
olhar, a segunda pelo projeto de futuro que desde antes de
seu nascimento já lhe estava endereçado. Unidade corporal,
representação desta unidade corporal, alteridade e possibili-
dade de se representar no futuro são os pilares em que esse
ego é capaz de se fundar.
Portanto, já temos aí um esboço das funções egóicas.
Resultado do investimento do olhar dos pais e tendo sua pré-
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Sobre a psico~
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o que é não se sabe, mas de uma coisa se pode ter certeza: foi
perdida a possibilidade da subjetividade se constituir diale-
ticamente.
Cabe à identificação melancólica manter esse objeto, nem
que seja às custas do próprio ego. É impossível não estabele-
cer aqui a relação com o conceito de das Ding. A idéia de
objeto perdido da neurose parece clara e óbvia, ao passo que
na melancolia o sujeito parece pretender não só atestar a exis-
tência de das Ding como designá-la como único objeto de
investimento. Para o melancólico, a Coisa foi perdida não
por reconhecimento de que ela era pura miragem, inexistente,
indizível. Ele lamenta a perda do que nunca teve e não elege-
rá objetos para substituí-la. Portanto para o melancólico a
noção de perda está presente cm sua concrctude a mais absurda:
trata-se da perda de algo em cuja existência ele crê e o trágico
é que, para ele, a perda de fato ocorreu!
O ego melancólico
Se, como vimos anteriormente, o ego é a projeção mental da
superfície do corpo, ou seja, a representação desta unidade
corporal que o funda, podemos dizer que esta função não é
assegurada pelo ego melancólico. Até aí nada demais, pois se
tomamos a melancolia como uma estrutura psicótica, nesta
estrutura sempre há uma ausência da noção de unidade. No
entanto o problema não é tão simples. A melancolia não se
enquadra nas premissas básicas do modelo da estrutura
psicótica. E mesmo que a noção de unidade corporal fracasse
na melancolia, ela é diferente da ausência desta unidade nas
psicoses em geral. Na melancolia, encontramos a noção de
uma representação corporal que não é capaz de se sustentar
no tempo. É como se em um determinado momento essa re-
presentação falisse e uma enorme angústia ocupasse então sua
função de alarme.
Nossa pesquisa atual tem por hipótese central tomar a
melancolia como uma organização psíquica semelhante à or-
ganização das personalidades narcísicas, dos casos limite, dos
somatizadores etc. Se nossa hipótese é correta, temos nessas
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O superego melancólico
Em A casca e o núcleo (1978), N. Abraham e M. Torok fazem
um paralelo entre a teoria do trauma na obra de Ferenczi e a
metapsicologia da melancolia em Freud e afirmam que a pró-
pria noção de ego deve ser repensada nessas duas propostas
metapsicológicas. Ferenczi fala de uma progressão traumáti-
ca como saída diante do trauma. Esta saída consiste em forjar
para si um ego quando ele ainda é mero esboço, como se o
traumatizado inventasse um aparelho egóico através da "iden-
tificação com o agressor adulto" ou com a apropriação da
"sombra do objeto", e com isso também inventasse um apa-
rente superego.
De todas as definições que o superego ganhou ao longo
da obra freudiana, poucas podem ser percebidas nessa orde-
nação psíquica melancólica. A função de herdeiro do complexo
de Édipo, que insere o sujeito no universo simbólico, parece
no mínimo bastante falha, pois o discurso melancólico pre-
tende ser precisamente um discurso unívoco, sem ambigüida-
des ou ambivalência. Na concepção melancólica, o mundo
pode ser facilmente dividido em compartimentos estanques
cm que o certo, o justo, o belo ou o verdadeiro jamais se
confundem, nem se mis~uram com o errado, o injusto, o feio
ou o falso. Não se pode conceber um superego híbrido ante
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As estruturas freudianas da psicose
e sua reinvenção lacaniana
Tania Coelho dos Santos
1
Em francês,/orcfusion, oup,ec/usion, é um termo de origem jurídica
que designa um direito perdido porque não exercido em tempo hábil.
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2
"A teoria da repressão é a pedra angular sobre: a qual repousa toda a
estrutura da psicanálise" (Freud, 1976[1914a]:26).
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Sobrr :a psicose
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1
Esse trecho acompanha a tradução escolhida pelo Vocabuldrio da
psica11álise de Laplanche & Pontalis (1991(1976):572) porque a
rradução brasileira da obra freudiana, em sua primeira edição de 1976
na qual nos baseamos, não inclui a palavra reieição. Vejamos: "uma
terceira corrente, a mais antiga e profunda, que nem sequer levantara
ainda a questão da castração, era ainda capaz de entrar cm atividade"
(Freud, 1976(1918):107).
so
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SJ
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Sobr" a psicos,e
ss
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u~ r:ç
E es te O do pai não configura, entretanto, uma ausência ra-
simbolização do desejo por meio da metáfora paterna.
dica Fce1.1d, podem_os concluir, o estatuto de uma não inscri-
P~ra, r or definição localizado: trata-se sempre de uma cor-
çao e P
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Sobr~ a psicose
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Joel P.irman (org.)
Meu avô é meu avô quer dizer que esse execrável pequeno
burguês que era tal homem, essa horrível personagem
graças à qual cheguei numa idade precoce a essa função
fundamental que é maldizer a Deus, este personagem é
exatamente o mesmo que aquele que consta no estado civil
como sendo demonstrado pelos laços de casamento, como
pai do meu pai" (Lacanapud Roudinesco, 1994[1993):24).
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A 'psicose lacaniana'
elementos fundamentais da abordagem lacaniana
das psicoses 1
Joel Dor
1
Período de 1953 a 1960 que cobre a primeira parte dos ensinamentos
de Lacan. "O sentido de um retomo a Freud, é um retorno ao sentido
de Freud" (Lacan, 1966(1956):405).
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) '
1
1-Hnrc4't;,w. Q.St v-v turo-Q,
ao problema das psicoses. De resto, é de fato este enraizamento
no soclo freudiano que confere à argumentação desenvolvida
por Lacan toda a sua importância.
Freud dispôs as balizas para uma etiologia psicogenérica
das psicoses absolutamente nova. Por um lado, ele abordou/
os processos psicóticos através de uma investigação teórico-
clínica destinada originariamente a dar conta da etiologia das
neuroses. Por outro, ele desde o início assenta tal abordagem '
sobre considerações estruturais, isto é, não apenas quantitati-
vas e diferenciais. Todavia Freud não consei)liP promover uroa
discriminação metapsicológica conseqüente baseada em fun-
damentos estruturais.
A significação freudiana dos processos psicóticos per-
maneceu em parte sobredeterminada elas conce õe
ps1copato ogicas e sua epoca. ara relembrar apenas alguns
de seus aspectos essenciais, pensemos na articulação entre a
noção de "perda da realidade" e a noção de "reconstrução
delirante". De fato, os processos psicóticos evidenciam uma
perda da realidade no sujeito, que parece induzir, por sua vez,
uma reconstrução delirante desta realidade da qual ele está
cortado. Sem sombra de dúvida Freud dá conta destes dois
aspectos da patologia psicótica no contexto de explicações
essencialmente psicanalíticas, porém ele permanece prisioneiro
de uma concepção que tende a associar "perda da realidade"
e "construção delirante", como se houvesse uma relação de
causa e efeito. Aliás, assim como a "perda da realidade", nem
a "denegação da realidade" nem a "clivagem do eu" consti-
tuirão critérios operatórios conseqüentes na discriminação
entre psicoses e neuroses. 4
Na realidade, ao acompanhar a evolução da reflexão
freudiana, assistimos ao surgimento progressivo de uma revi-
ravolta: a construção delirante compensatória tende a mudar
4
Para maiores esclarecimentos sobre os conceitos de "perda da
realidade•, "construção delirante", "denegação da realidade• e "clivagem
do eu•, ver Freud (1924c; 1927; 1938a; 1938b).
n
Joel Birman (org.)
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Esquema R
~r------------••---
5
m 'S
A
I p
(l..acan, 1966(19S8):S53)
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1
Ex-sisrência: onografia que l..acan introduz para significar que o
sujeito como efeito do dizer tem uma estrutura de puro corte. Encon-
tramos a constatação muito explicita desta ex-sistênâa do sujeito do
inconsciente cujo lugar é colocado "fora de", cujo lugar é "excentrado"
pelo efeito do significante --e está ar, segundo l..acan, o próprio nó
da descoberta freudiana. Cf. Lacan (1955b: 11) "[ ... ) do que nós
havíamos chamado de insistblcia da cadeia significante [.. ] por nós
destacada como correlata da ex-sistência (isco é, do lugar exd!ntrico)
em que convém situarmos o sujeito do inconsciente". Ver também
Dor (1992:173-201).
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Esquema 1
M
(Lacan, 1966(1958):571)
c}.}-1
Este es uema I evidencia uma ru tura materializada el;
au- e
sência de continuidade entre os três registros Simbó ico, Real
e Imaginário. Na falta de uma simbolização metafórica que se
apoie sobre a substituição do significante do desejo da mãe
pelo significante Nome-do-Pai, um hiato se institui no
ordenamento da estruturação subjetiva por falha na media-
ção simbólica entre mãe e filho. Em outros termos, este hiato
traduz a persistência de uma relação mãe-filho que não está
referida ao pai simbólico, portanto ao significante fálico.
No esquema /, este hiato - ou seja, a descontinuidade
entre os três registros - é expresso pelos dois "furos" (cJ> e P)0
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A psicose e o discurso da ciência
Waldir Beividas
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1
Aqui o texto de Lacan faz um elo entre a ausência da Bejahung Oufzo
de atribuição) e a Verwerfung (foraclusão) que, confesso, não consegui
entender no seu presumível encadeamento (dialético?, lógico?,
estrutural?). Se a foraclusão "se articula nesse registro como a ausência
dessa Be;ahung" (idem), a foraclusão 'ocuparia' o 'vazio' estrutural
deixado por essa ausência? Isto é, em vn do juízo de atribuição, uma
recusa do Nome-do-Pai? Desse modo, a 'conexão' que apresento a
seguir é por minha conta e risco.
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Sobre a psicose
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Sobre a psicose
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Joel Birman (org.)
1
Basta olharmos para as definições modernas de epistemologia de
Bachelard (1938) ou de Granger para nos convencermos disso. Granger
nos lembra que Bachelard procurava atrãs dos conceitos (científicos)
o 'espectro epistemológico' das "motivações imaginárias" que os
alimentam (cf. Granger, 1985). Ora, como não entender que a hipótese
de Lacan opere exatamente nesse registro, que seja uma dessas
tentativas, na verdade aquela de determinar a primeira das 'motivações
imaginárias' que operam a cognição humana?
• Em seu "Diálogo com os filósofos franceses" Lacan o confirma: "Para
compreender um conjunto de fenõmenos como aqueles que se constituem
numa psicose, essa referência ao significante como tal, à assunção do
significante pelo sujeito, parece-me ser o único ponto de referência que
nos pernúte realmente prosseguir em todos os detalhes as incidências de
uma certa relação particular de carência do sujeito por referência a um
certo significante como tal. [... ] Para concluir, a noção de significante
deve ser tomada na acepção lingüística do termo (1985: 15).
96
Sobre a psicose
' Essas são a leitura e interpretação pessoais que posso apresentar sobre
como entendo os eixos fundamentais das duas hipóteses lacanianas e
uma passivei concatenação teórica entre elas. É apenas sob uma base:
interpretativa, digamos assim, reduzida, que me permito entrar no
vivo de minhas indagações.
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Joel Birman (org.)
Ciência e paranóia
Se a interpretação assim reduzida da(s) hipótese(s) de Lacan
sobre a paranóia pode ser considerada legítima, ela nos leva a
uma série de questionamentos sobre a vinculação da ciência
com a paranóia, com a psicose e com o mecanismo da
foraclusão. Não é fácil conduzir o questionamento sobretudo
quando ele parece se situar num terreno minado. Quero di-
zer: a conexão 'ciência-paranóia', 'ciência-psicose' ou 'ciên-
cia-foraclusão' é de tal maneira maciçamente difundida, enfa-
ticamente clirada e zelosamente repetida na literatura psica-
nalítica pós-lacaniana, que te.m todas as aparências de um dado
adquirido, tornado certo; de uma hipótese confirmada, tor-
nada tese; de uma tese testada, tornada dogma. E, como deri-
vação dessa conexão dogmatizada, qualquer busca de uma
possibilidade científica para a psicanálise ou qualquer tentativa
de nuançar a conexão, tudo isso logo é visto como um projeto
ardiloso de querer levar a psicanálise à morte, desativar o pavio
de sua subversão, impor-lhe um esforço suicida, ou então re-
sistir à verdade da 'coisa freudiana'.
No entanto essa conexão - ciência/psicose - cm todas
as vezes que transita nos argumentos não deixa de decepcionar
a leitura, sobretudo quando esta se nega a deixar-se levar apres-
sadamente por uma suposta 'evidência' que se queira aí impu-
tar pela manobra da repetição, isto é, pelo hábito corriqueiro
em psicanálise de martelar o déjà vu ou déjà dit. São muitas as
zonas de sombra, as passagens 'mágicas' e obscuras que desfi-
lam nos argumentos, só não faltam a ênfase com que a conexão
ciência-psicose é admitida e o caráter anatemático com que ela
é imputada ao discurso científico, o excesso da ênfase assim
como o peso do anátema indo talvez a reboque da explicação
frágil. De modo que tal conexão merece um exame com o
máximo da critica ao meu alcance, vital que ele é para a remo-
ção dos obstáculos que até hoje impedem uma reabertura do
diálogo teórico e metodológico entre a psicanálise e a ciência. 6
6
O leitor interessado no tema psicanálise e ciência pode consultar
também o texto "Psicanálise: entre ciência e miton (Bcividas, 1994).
98
Sobre a psicose
A foraclusão
Convém deixar esclarecido que nenhuma incompatibilidade
entre ciência e psicanálise pode ser deduzida da primeira hi-
pótese de Lacan, a do conhecimento paranóico. Com efeito,
se todo o conhecimento humano é moldado, em sua origem,
por uma matriz paranóica, também a psicanálise não pode
fugir a esse molde matricial. Caso contrário, havendo um ripo
de saber que foge à paranóia primitiva, a hipótese de Lacan
como um todo cai por terra. Assim, por essa primeira hipóte-
se, ciência e psicanálise têm na paranóia inaugural do conhe-
cimento um ponto de simpatia, isto é, sofrem de um mesmo
'pathos' de origem, são compatíveis na alienação primeira.
É a segunda hipótese, a da paranóia-foraclusão, que de-
limita o campo que nos desafia aqui. Uma das constatações
imediatas que mais incomodam o exame desse tema é a ligei-
reza com que o termo foraclusão se desloca da sua acepção
estrutural mais fortemente conceituada em Lacan. Sem en-
trarmos no mérito do uso do termo Verwerfung em Freud,
uso preciso ou não, específico ou não, e não tendo nada a
questionar quanto à tradução que Lacan lhe deu, diria que
rodo o trabalho que este desenvolve no Semindrio, livro 3: as
psicoses parece-me orientado para dar uma definição precisa
à foraclusão. Lacan não só traduziu o termo freudiano,
conceituou-o, isto é, tornou-o um conceito específico,
fundante, para a psicose. No seminário, o conceito de
foraclusão passa a definir, ou seja, impor o limite e a precisão
estrutural da psicose: é a recusa do Nome-do-Pai que, por um
acidente na subjetividade do indivíduo, lhe instaura um vazio
(um buraco) de significante, tornando-lhe ausente a Bejahung
(juízo de atribuição) e levando-o ao desastre psicórico, com
rodas as seqüelas da manifestação delirante do seu estilo.
Porém o conceito não consegue a partir daí preservar o
ralhe. Torna-se cada vez mais elástico. Desloca-se da região
onde firmou o traço estrutural, adquire conotações nem sem-
pre fiéis à sua força conceptual. Através do próprio Lacan a
foraclusão se referirá à recusa pela ciência da "verdade como
causa" (1966[1966a]:874). Cabe então a pergunta: trata-se
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Foraclusão do Nome-do-Pai
Pode parecer uma observação ingênua, mas a foraclusão do
Nome-do-Pai stricto sensu esbarra de saída em uma caracte-
rística difícil de ser contestada no que diz respeito ao discurso
científico. Este não pára de convocar seus destinadores. Qual-
quer pesquisa científica na física, na matemática, na lógica, na
lingüística ou na semiótica não faz outra coisa a não ser citar
continuamente a paternidade das hipóteses e das teorias com
que se vai trabalhar ou criticar: 'segundo Frege', 'conforme o
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Sobre a psicose
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7
É certo que a brevidade com que trato aqui essas noções tão delicadas
em epistemologia (certeza, verdade, sentido) pode parecer um corte
raso na discussão. Penso mesmo que há aí matéria para um extenso
debate que urge se estabelecer entre epistemologia e psicanálise, ainda
que o seja para um ajuste na semãntica das noções. A 'verdade' de que
fala a aritmética pode ser transportada para conotar, sem mais, uma
ilusão de completude em psicanálise? Uma vez que tal discussão não
faz a liga do presente trabalho, só posso esperar que esse breve
comentário seja dado por suficiente para prosseguirmos adiante.
Joel Birman (org.)
1
De resto, a busca neológica é também urna característica da linguagem
poética, portanto não-científica. Guimarães Rosa ou os irmãos Campos
são disso exemplos suficientemente re1óricos e próximos de nos
desobrigar a buscá-los mais longe. E não podemos esquecer que se o
neologismo bastasse para caracterizar o discurso psicótico da ciência,
teríamos de incluir nele a teoria de Lacan, haja visto seus abundantes
e genuínos neologismos: ab-sens, joui-sens, ex-sistence, materna,
parlêtre.
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Sobre a psicose
Foraclusão do sujeito
Vimos acima que a paternidade das idéias é um valor sempre
reiterado e levado em alta conta pelo discurso científico.
O discurso científico move-se sob uma representação metonímica
do Nome-do-Pai, o que torna bastante problemático diagnos-
ticar nele uma foraclusão (no sentido forte do termo) desse
significante. Não seria legítimo então retomarmos a foraclusão
e a deslocarmos desse seu solo estrutural fértil, para fazê-la
caracterizar o fato de que na ciência, ou nos enunciados cien-
tíficos, não se leva em conta a subjetividade do homem da
pesquisa? Não seria lícito entendermos por foraclusão o fato
de a ciência, tal como o diz Lacan, não ter memória, esquecer
as peripécias de onde nasceu ou não se dar conta do drama
subjetivo que freqüentemente está por trás de cada descober-
ta sua? Não poderíamos admitir naturalmente como foraclusão
o fato de que a ciência apresenta-se nas comunicações cientí-
ficas sob a roupagem da mulher de César, que não deve ser
suspeitada - tal como Lacan o ironiza (1966[1936b]:86) -
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Pcrmiro-me cirar quase rodo o parágrafo da única menção que
Roustang faz da foraclusão do sujeito, que supõe como necessária ao
discurso científico. Nesse momento do texro, Roustang discorre sobre
a 'transmissibilidade' da teoria analítica e do papel que ai cabe à
'transferência': "Submeter-se à teoria de um outro já constituída
fazendo-a sua, tentando falar essa teoria, é colar sua própria
fantasmatizaçáo numa racionalidade ou racionalização que corresponde
aos fantasmas e desejos de um outro, ou a outros fantasmas e desejos
que não os seus, é pois ignorar os seus e recalcá-los, mas é mais
radicalmente ignorar que a teoria do outro se funda sobre uma
fantasmatização, mesmo se nessa teoria, ou naquilo que se compreenda
dela, se fale muito do fantasma. Recalca-se então não mais apenas
seus próprios fantasmas e ~esejos, mas até a possibilidade de se dar
112
Sobre a psicose
11
Estas reflexões terão continuidade no próximo volume da presente
série, na forma de uma investigação da genealogia do conceito de
foraclusão, importado por Lacan da teoria lingüística de Damourette
e Pichon, tudo sob o contexto mais amplo de uma perspectiva histórica
dos usos de Lacan dos conceitos estruturais da lingüística.
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Prova de realidade e/ou rejeição
psicose e ciência 1
1
Texto anteriormente publicado cm Freire, A. B., Por que os planetas
não falam? (Rio de Janeiro: Revinter, 1997:169-76). Versão revista
pela autora. Agradecemos à Livraria e Editora Revinter a gentil
autorização para sua inclusão no presente livro.
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Sobre a p5icosc
Esquema R
~----------------~
15 1
·s
A
I p
(Lacan, 1966(1958]:553)
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do falo (tp) uma vez que este se define pela seta que sai, assim
como no esquema L, de A (lugar da lei) ou, no esquema R, do
Nome do Pai, em direção ao sujeito (S).
Na falta dessa dupla referência, o Nome-do-Pai (simbó-
lico) e o falo (imaginário), o que no esquema R formaria
'topologicamente' um quadrângulo da realidade abre-se pela
ausência dos pontos de referência desses cumes. No esquema
R, a metáfora paterna é o que desdobra o lugar do Outro em
M (o Outro primordial, a Mãe) e P (Nome-do-Pai), e o efeito
de significação do falo, o que delimita e mantém o campo da
fantasia (da realidade) com a qual o sujeito se abriga do real.
Em nota de 1966, ano da publicação dos Écrits, acres-
centada a esse texto de 1958, Lacan propõe uma reflexão
topológica sobre este quadrângulo ilustrada pela banda R. Ele
situa o corte do Real no segmento 1-M e a realidade encobre
esse ponto, pois o quadrângulo se estende sobre o triângulo
imaginário. Este encobrimento é determinado por uma estru-
tura, precisamente o que ele procura demonstrar com o triân-
gulo simbólico. O campo simbólico, triângulo homólogo ao
outro, imaginário, pode recobri-lo, projetivamente, ao girar
sobre a base 1-M.
Para Lacan, é este recobrimento o que indica o "privilé-
gio", ou melhor, uma sobredeterminação simbólica sobre o
imaginário e sobre a realidade nele gerada, como se nesse
momento de seu ensino o triângulo simbólico estivesse apon-
tando os limites e as condições estruturais, significantes, do
devaneio, da errância imaginária com que a fantasia ou o cam-
po de realidade encobre o Real. Na suposta ausência do sim-
bólico, seria possível sustentar que toda realidade é mera alu-
cinação de um sujeito que percebe (percipiens) sobre um Real,
entretanto este encobrimento imaginário segue uma estrutu-
ra, uma determinação simbólica e não pode ser concebido
como obra de um percipiens autônomo e indiviso. É assim
que, através dos limites que o delineiam como realidade,
encobridora do corte do Real, aparecem os significantes que
fazem deste pretenso percipiens um sujeito dividido.
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Sobre a psicose
(Lacan, 1966(1958):571)
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4
Cf. a conferência "A estrutura psicótica e o escrito" de Sergc André
em que ele mostra o efeito de construção do dcllrio de Schreber nesses
dois planos: do lado do falo ausente há, substituindo-o, as referências
cm relação ao eu (ponto m), ou seja, respectivamente, o sacriffcio, a
Virgem e a beatitude; do lado da falta do Nome-do-Pai, como
substitutos do Outro absoluto (o ponto M), a linguagem, o "deixado
de lado" e o idiota, que se ligam constituindo o ideal do eu (ponto (),
respectivamente por uma Lei, o mediador e a honra viril (André,
1982:34-5).
s Em O Semindrio, livro 11; os quatro conceitos fundamentais da
psicand/ise (1964), Lacan demonstra a impossibilidade de existir um
sujeito puro, sem divisão e, consequentemente, um sujeito que se
sustente no mundo através de uma Weltanschauung, por uma
totalização a priori, original, por uma verdade 101al. Nesse sentido,
ele conclui que quando há um sujeito, há aphanisis; de fato, para que
o sujeito seja representado, é preciso uma perda, uma parte do sujeito
que desapareça. Vale a pena transcrever seu argumento: "Claro, par.a
toda representação, é preciso um sujeito, mas esse sujeito nunca é um
sujeito puro. Se pensarmos que cada sujeito se sustenta no mundo
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Sobre a psicose
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6
Lacan, aliás, nunca excluiu a fantasia como uma das operações do
psicótico. Em O Semin4rio, livro 10: a angústia (1962-3), ele afirma:
"quer se trate do perverso ou do psicótico a relação da fantasia, S ◊ a,
se institui". (Lacan, 1962-3, aula de 30 de janeiro de 1963).
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1
Vale a pena conferir como Lacan comenta essa operação cm "A terceira":
"É aqui, no simbólico [... ] que o saber inscrito da língua que constitui, na
realidade, o inconsciente, se elabora, ganha terreno sobre o sintoma, o
que não impede que o círculo marcado do S corresponda a alguma
coisa que, desse saber, nunca será reduzida; trata-se do que Freud
chama de Urverdriingt, o que do inconsciente nunca será interpretado"
(Lacan, 1974b:664).
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Equilíbrio psicótico, praticável e
metáfora delirante 1
Ginette Michaud
1
Do original "Equilibre psychotique, praticable et métaphore
délirante". Texto escrito a partir de uma conferência sobre psicanálise
e clínica das psicoses em novembro de 1994.
2
rala-se também de função de suplência, termo que me parece não
muito apropriado.
Jod Birman (org.)
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Sobre 3 psicose
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Sobre a psicose
1
Os fragmentos das sessões, apesar de sua precisão ilustrativa para os
meus propósitos, não podem ser retomados no texto, pois não guardam
quase nenhuma legibilidade para a publicação.
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Sobre a psicose
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Conclusão
O equihôrio psicórico pode ser restaurado se o praticável resis-
tir à catástrofe delirante e permitir a continuação da análise.
Em determinados casos, todavia, as identificações do praticá-
vel podem desaparecer durante a análise, para estabelecer uma
estrutura em que os significantes dos Nomes-do-Pai se reco-
loquem; com isso, o sujeito pode aceder a seu desejo, o que
situa a questão da estrutura em um a posteriori. O sujeito era
psicótico ou se apresentava sob um modo psicótico? Há uma
baliza diagnóstica proposta por Lacan: a existência ou não de
neologismos no discurso do paciente. Para Josefina, numero-
sos neologismos brilhavam em sua linguagem, no entanto o
praticável permaneceu em seu lugar, e apesar de sua pesquisa
a respeito dos significantes paternos, a questão da estrutura, a
meu ver, permaneceu evidente.
138
Sobre a psicose
4
N. do E. No original,souflleur. Em francês, não só 'aquele que sopra',
por extensão, o 'ponto do teatro', como também alquimista.
139
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Sobre os autores
Ana Beatriz Freire
Professora do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica
(UFRJ). Autora de Porque os planetas não falam? (Revinter, 1997)
e A ciência e verdade: um comentário (Revinter, 1996).
Ginette Michaud
Psicanalista. Professora da Universidade Paris VII. Autora de La
Borde... um pari necéssaire (Gauthier-Villar, 1977) e Figures du
réel (Denoêl, 1999).
Joel Dor
Psicanalista. Professor da Universidade Paris VII. Autor de O pai
e sua função em psicanálise (Jorge Zahar, 1991), Introdução a
leitura de Lacan, tomos 1 e 11 (Artes Médicas, 1989, 1995) e Clí-
nica psicanalítica (Artes Médicas, 1996).
Joel Birman
Psicanalista. Professor do Programa de Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica (UFRJ) e do Instituto de Medicina Social (UERJ).
Autor de Por uma estilística da existência: sobre a psicanálise, a
modernidade e a arte (Editora 34, 1996), Estilo e modernidade
em psicanálise (Editora 34, 1997) e Cartografias do feminino (Edi-
tora 34, 1999).
Tania Coelho dos Santos
Psicanalista. Professora do Programa de Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica (UFRJ).
Teresa Pinheiro
Psicanalista. Professora do Programa de Pós-graduação em Teo-
ria Psicanalítica (UFRJ). Autora de Ferenczi: do grito à palavra
(Jorge Zahar, 1995) e As bases do amor materno (Escuta, 1991).
Waldir Beividas
Professor do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica
(UFRJ). Autor de Inconsciente et verbum: psicanálise, semiótica,
ciência, estrutura (Humanitas, 1999).
lkntrc lh desafios ,ltu,1lmt:ntt·
enfrcnudm pela psica1ülise, ,1s
ps1co,es têm um lugar dcusi,·o: ,1
esse rcspciro, é possín·l n>nsidt:r.ir
11,io sú o de,lo~·amt·nto de Ct-rt.ls
manifestaçües dínicas (1üo é r.1ro
o lamento de que ,1s h1stéric1s de
Freud náo mais existem). ,1 impro-
priedade pm11.:o ,1dn·rtida do-. que
pebs P"in,st's '-t' deix.1111 aÍl'Llr,
como também a "qu.1-..t'" certez,1 de
sua in,1dcqu,11.;.io ,ws procedimento-.
psicanalíti~·o.., (a qut· ,1111or de
transfrrênci,1 o ,m,1lista dt'sej,1
respondtT ~) L' a Pl'l'"'l'nç.1 rcn i rcnre
de um t''>tr.mho sofrimento ,1lhe10
,'is \'OI1r.1dc, do clínico.
St' aparentemente ui, LOll'>l,lla~·út·s
dcscrcn:m com adcqu,1\.io os
resulr ,1do, uhtido-., eh, 11.ill dci·urn
de re\'d,u os imp,1s,t'-.. cotid,anm,
ljlll' .JS p,t(OSL'S l!llpúcm n.io ,ú ,1
seu tr.ltamcnto como 1a111hé111 ao-.
pressupo,ro.., d ,1 tcori,1 p-.ican,1lític1.
Repetida-. vezn e~ úril dnconn·r,,H,
trazendo i1 h.1ib ,1s nTd,1dc,
adquiridas. Por q11c ,iknci,H, e
apn:ndcr, se pode ser comenicnte
- curio-..,1 invcrsáo de 11<>';-;os
credo, - 11,io rt'Lll,H e p.1,s,ir a
limpo os problema-. enfrenudo,
pelos pioneiros?
De modo bre,·t·: 11.10 ,e tr,1u nem
de ,1brir 111.10 do que nos trn kg,1do
por Freud e por todo, .1qt1clt·s que
insiqiram nas conseqüê1h:i,is de ,eu
dizer, nem de ccrr.1r o, pt111hos ,1
beir.1 do j.i s,1b1do no rraumento
das psicoses.
Pois bem, é disto que o presente
livro parte. Resultado de um
trabalho conjunto de pesquisa
estabelecido entre o Programa de
Pós-graduação em Teoria
Psicanalítica, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, e o
Laboratoire de Psychopathologie
Fondamentale et Psychanalyse, da
Universidade Paris VII, os sete
trabalhos aqui reunidos
desenvolvem parte da elaboração
realizada durante os cinco anos
deste acordo. Seus temas principais:
a interpretação freudiana do caso
Schreber, a metapsicologia da
melancolia, a 'psicose lacaniana' e as
relações entre a psicose e a ciência.
Buscando repensar a psicanálise a
partir da problemática das psicoses,
é portanto insistindo na construção
de novos modos de subjetivação que
seus autores tentam avançar um
pouco mais na resposta possível que
ao psicanalista cabe inventar.