Você está na página 1de 16

Disponível em www.scielo.

br/paideia

A experiência da sexualidade em jovens adultos na França:


entre errância e vida conjugal
Alain Giami
Institut National de la Santé et la Recherche Médicale, Paris, França

Resumo: Este estudo se baseia em uma pesquisa qualitativa realizada com 24 estudantes france-
ses de 18 a 22 anos. No período de transição de suas vidas, rapazes e moças atravessam uma
fase de errância, de experimentação afetiva e sexual, ao mesmo tempo em que aspiram a um
ideal de vida conjugal. A errância sexual e afetiva constitui a prática e o sentido dados à sua
experiência para uma importante parte das pessoas entrevistadas. A vida conjugal ou o estabele-
cimento de uma relação de casal monogâmica e estável constitui o ideal da maioria dos homens e
mulheres entrevistados. A sexualidade é vivida, ao longo desse período de transição, como uma
experiência de iniciação, às vezes difícil ou confusa e visa a construção de si e, mais a longo
termo, do casal, mais que a uma multiplicação de experiências “recreativas”.
Palavras-chave: Sexualidade. Amor. Relação sexual. Papéis sexuais.

The experience of sexuality among French young adults:


between wandering and married life
Abstract: This qualitative study was carried out with 24 French students, ages between 18 and
22 years. During this transitional period of their lives, young adults experience a sexual and affective
wandering phase, and at the same time, aspire to an ideal married life. Sexual and affective
wandering refers to the experience and its meaning for the most part of those interviewed. A
married life or establishment of a monogamous stable relationship is the ideal aspired by the
majority of men and women interviewed. Sexuality is experienced, throughout this transitional
period, as a sometimes difficult and confusing experience of initiation that aims the construction of
the self, and in the long term, the construction of the couple, beyond multiple “recreational”
experiences.
Keywords: Sexuality. Love. Sexual intercourse (human). Sex roles.

La experiencia de la sexualidad en jóvenes adultos en Francia:


entre errancia y la vida en pareja
Resumen: Este estudio se basa en una investigación cualitativa realizada con 24 estudiantes
franceses de 18 a 22 años. En este periodo de transición de sus vidas, los muchachos y las
muchachas atraviesan una fase de errancia, de experimentación afectiva y sexual, al mismo
tiempo aspirando a un ideal de vida en pareja. La errancia sexual y afectiva constituye la práctica
y el sentido dado a su experiencia para una importante parte de las personas entrevistadas. La
vida en pareja o, el establecimiento de una relación de pareja monogámica y estable, constituye el
ideal de la mayoría de los hombres y de las mujeres entrevistadas. La sexualidad es vivida, a lo
largo de este período de transición, como una experiencia de iniciación, a veces difícil o confusa e
tiene por objeto la construcción de si y, más a largo plazo, de la pareja, más que una multiplicación
de experiencias “recreativas”.
Palabras clave: Sexualidad. Amor. Relación sexual. Roles sexuales.
290 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

Introdução meio da transmissão sexual, seria importante trazer


Em uma revisão da literatura sobre as pesqui- respostas de peso para a questão das preocupações
sas feitas na França acerca da sexualidade e os relativas à aids nas experiências e nas práticas sexu-
comportamentos sexuais no contexto da aids, tínha- ais desta população.
mos colocado em evidência que um grande número Pareceu-nos, assim, necessário desenvolver
de trabalhos quantitativos, utilizando questionários, ti- pesquisas que possibilitem a compreensão da signifi-
nham sido realizados na população geral e que um cação da sexualidade no contexto da aids, no seio de
grande número de pesquisas qualitativas, utilizando uma amostra de população que não tenha sido cons-
entrevistas ou observações etnográficas, tinha sido tituída a partir de critérios relativos às características
realizado no seio de grupos populacionais considera- sexuais, mas a partir de critérios não sexuais, basea-
dos como mais expostos ao risco do HIV e dificil- dos na faixa etária e no fato de estar inserida em uma
mente acessíveis por meio de pesquisas utilizando instituição educativa, uma universidade localizada nos
questionários. Pudemos, assim, notar um hiato entre subúrbios (zona norte) de Paris.
as pesquisas feitas com a população geral (Analyse
Além do mais, e na mesma época, vacinas
des Comportements Sexuels en France [ACSF] –
contra o HIV começaram a ser testadas, sob os cui-
Análise dos Comportamentos Sexuais na França e
dados da Agência Nacional de Pesquisas sobre a aids,
Knowledge, Attitudes, Beliefs, Practices [KABP] –
e surgiram questionamentos sobre o desenvolvimento
Conhecimento, Atitudes, Crenças, Práticas, principal-
de métodos que permitissem a constituição, o acom-
mente), que permanecem centradas na questão dos
panhamento e a fidelização de redes de “voluntários
comportamentos sexuais (sobretudo os comporta-
sadios” que pudessem participar destes testes (Giami
mentos de risco), no uso do preservativo, nas atitudes
& Lavigne, 1998). É nesta perspectiva que elabora-
em relação às pessoas portadoras do vírus HIV e
mos um instrumento de pesquisa, contando com a
nas representações da doença aids, e as pesquisas
colaboração de um serviço de Medicina Preventiva,
qualitativas, que exploram em detalhes as significa-
que garantisse o recrutamento sistemático, a seleção
ções sociais e psicológicas da sexualidade e das rela-
e o acompanhamento da população pesquisada,
ções entre parceiros (Giami & Schiltz, 1996).
viabilizando, dessa maneira, a repetição da coleta de
A questão das mudanças na atividade sexual dados após certo intervalo de tempo.
permanece centrada na análise da evolução da utili-
Fizemos uma tentativa de associar, em um
zação do preservativo e sobre a redução do número
mesmo instrumento, uma pesquisa principalmente
de parceiros sexuais (Giami, 1998). Ao mesmo tem-
qualitativa, baseada na coleta de dados aprofundados
po, refletimos a respeito da enorme influência da re-
presentação epidemiológica da sexualidade nas e múltiplos no contexto de um pequeno número de
pesquisas sobre os comportamentos sexuais (Giami, indivíduos, e um enquadramento da amostra
1993), que têm como postulado implícito que a pre- pesquisada nas diferentes populações de referência
servação da saúde constitui a principal preocupação nas quais ela se situa: população geral da França,
dos indivíduos e a principal significação atribuída à população de estudantes universitários. Estudamos,
atividade sexual. Em 1994, em um relatório realizado entre outros temas, as motivações para participar
sob encomenda do Ministério da Saúde, a Rede Na- da pesquisa, domínio pouco explorado, que permite
cional de Saúde Pública se interrogava a respeito da aperfeiçoar a compreensão da participação em uma
aceleração da difusão da epidemia do HIV na popu- pesquisa sobre a sexualidade.
lação heterossexual (Brunet, Bourdillon, & Costagliola, Este artigo não aborda a questão das modifi-
1994). Do nosso ponto de vista, e tendo em conta que cações dos comportamentos sexuais com o impacto
a maioria dessas novas infecções se produziam por da aids, mas objetiva descrever e analisar a experiência
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 291

da sexualidade, como ela é relatada por um grupo ciências sociais constituiu uma atualização das ma-
de jovens adultos, no sentido de identificar se e como neiras anteriores de tratar a sexualidade, em referên-
a inquietação com a aids integra as preocupações em cia a um risco social ou a um risco de saúde, ou seja:
torno do estabelecimento e da consumação de rela- gravidez de adolescentes, doenças sexualmente
ções sexuais, além do significado – ou não – do sim- transmissíveis, disfunções sexuais (Ericksen &
bolismo da aids nesta experiência. Steffen, 1999; Gagnon, 2000; Giami, 1994; Michaels
Constatamos que a questão da aids, notadamente & Giami, 1999). Nesse contexto, a atividade sexual
a prevenção da infecção, não foi a principal preocu- foi reconceitualizada, principalmente sob o ângulo dos
pação evocada pelas pessoas que tinham sido riscos existentes em relação às possibilidades de con-
longamente entrevistadas a respeito da sua experiên- taminação pelo HIV (Bajos, 1998).
cia sexual, e que ela não serviu de fio condutor na Um lugar central foi assim atribuído ao tema
elaboração dos relatos de experiência dessas pesso- da aids em uma representação epidemiológica da se-
as. Usufruindo de um material de pesquisa bem deta- xualidade, na qual os comportamentos sexuais são
lhado sobre a experiência da sexualidade, analisamos considerados como fatores de risco. Esta represen-
certas dimensões: os relatos e biografias sexuais, as tação levou a pensar, em alguns casos, que o tema da
dificuldades e modalidades de iniciar a vida sexual e aids e, em contraponto, aquele da preservação da
de estabelecer relações com o outro, os modos de auto- saúde, constituía a principal significação atribuída à
proteção, os modos de comunicação sobre a sexualidade sexualidade. Esta maneira de pensar os problemas
entre gerações e entre pares e as motivações em parti- da sexualidade vem colocar em segundo plano ou
cipar de uma pesquisa sobre a sexualidade. Outros te- mesmo ocultar as diferentes funções, práticas e sim-
mas foram também explorados na pesquisa inicial: a bólicas que preenchem a atividade sexual no plano
utilização conjugada de contraceptivos e de preser- social e cultural (Manderson, Bennett, & Sheldrake,
vativos e sua evolução ao longo da relação, a influên- 1998), dando primazia a um discurso preventivo de
cia dos pares e irmãos. Entretanto, tais temas não Estado, enquanto matriz de significações culturais e
serão retomados no presente artigo. subjetivas da sexualidade, em relação a outros siste-
mas simbólicos (Henriksson, 1995). Por exemplo,
A construção da pesquisa enunciados como “o amor constitui um obstáculo à
utilização do preservativo” ou “amor: fator de risco”,
A influência do tema da aids nas pesquisas
ilustram perfeitamente a hierarquização e a organi-
sobre sexualidade
zação das significações associadas à sexualidade em
Desde o início da construção de estratégias de torno do ponto central que constitui a utilização do
prevenção contra o HIV, as ciências sociais e psico- preservativo e a preservação da saúde em relação a
lógicas trouxeram contribuições importantes para as outras significações associadas à sexualidade, tal como
pesquisas a respeito da sexualidade e, mais particu- o amor. Lembremos que para aproximadamente 80%
larmente, sobre a modificação dos comportamentos dos homens e das mulheres interrogados na pesquisa
sexuais (Bajos, Bozon, Ferrand, Giami, & Spira, 1998). ACSF, o amor permanece sendo a principal signifi-
Desde 1988, Gagnon notou que o desenvolvimento cação associada ao termo sexualidade (Spira, Bajos,
das pesquisas sobre a sexualidade, no contexto da & Groupe Analyse des Comportements Sexuels en
aids, geraria trabalhos voltados ao conhecimento da France [ACSF], 1993).
sexualidade através do prisma da aids, mais do que o Além disso, os trabalhos baseados na proble-
conhecimento dos problemas ligados à epidemia a mática da aids permitiram um desenvolvimento sem
partir de questões sobre a sexualidade (Gagnon, 1988). precedentes das pesquisas sobre a sexualidade. A
Esta reformulação das problemáticas de pesquisa em questão da aids permitiu, assim, desenvolver trabalhos
292 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

sobre as relações sociais, sexuais e de poder reveladas intencionalidade subentendida. Os mesmos auto-
com respeito à negociação do uso do preservativo res elaboraram ulteriormente o conceito de script
(Holland, Ramanazoglu, Scott, Sharpe, & Thompson, sexual para compreender como os enredos atuam
1991), sobre as identidades sexuais e as diferentes na orientação e na realização das condutas sexuais
formas de atividade sexual (Messiah & Mouret- (Gagnon, 2006).
Fourme, 1993) e contribuiu para dar maior visibilida- Foucault estabeleceu que o termo sexualidade
de para a questão da homossexualidade masculina foi inventado no âmbito médico (Foucault, 1976). Esse
(Pollak & Schiltz, 1991). termo, que apareceu na metade do século XIX, em
Um dos objetivos desta pesquisa foi desvincular francês, assim como em inglês, associa, em um mes-
a questão da experiência da sexualidade e da aids, no mo conceito, a diferença de sexos, os fenômenos re-
sentido de não mais examinar a sexualidade do ponto lativos à procriação e os comportamentos ligados à
de vista da aids, mas, ao contrário, de incluir o satisfação erótica, de acordo com o Dicionário
questionamento sobre a sexualidade em outros con- Robert. O discurso médico estabeleceu a norma do
juntos de significações e abordar a preocupação com instinto sexual submetido ao primado da genitalidade
a aids e a prevenção da infecção pelo vírus HIV em e da reprodução. As designações e intervenções
relação a um conjunto de significações sociais e psi- médicas consistiram sobretudo na repressão ou na
cológicas mais globais relacionadas à sexualidade. No inibição de outras condutas sexuais, ou seja, as con-
plano metodológico, esta concepção foi concretizada dutas sexuais que não visam a procriação, tais como
pela decisão de não fazer perguntas sobre o tema da a masturbação, a homossexualidade e as várias aber-
aids, por ocasião das entrevistas semi-estruturadas, rações sexuais. A heterossexualidade como tipo de
de maneira a dar às pessoas interrogadas a possibili- relações e de práticas entre pessoas de sexos dife-
dade de se expressarem livremente sobre o tema. rentes sem intenção procriadora foi assim incluída no
Por outro lado, o tema da aids foi objeto de questões registro das aberrações sexuais. Somente a partir de
detalhadas nos questionários, que foram utilizados em 1930, sobretudo com os trabalhos de Kinsey (Kinsey,
paralelo. Construímos, então, um instrumento de pes- Pomeroy, & Martin, 1948) que o conceito de
quisa no qual as pessoas recrutadas para as entrevis- heterossexualidade começou a designar a normalida-
tas foram informadas várias vezes, de maneira direta de sexual, ou seja, a forma de comportamento sexual
e indireta, de nosso interesse pelo tema da aids, sem mais comum na população (Giami, 1999). O compor-
que este fosse objeto específico de interrogação du- tamento sexual foi definido como toda prática sexual
rante as entrevistas. visando a obtenção do orgasmo.

Sexualidade, atividade sexual e experiência As definições de atividade sexual


da sexualidade Na pesquisa ACSF a noção de atividade sexu-
A não ser em contextos particulares (situação al foi definida assim:
em laboratório, práticas sexuais em público, por- Uma atividade sexual designa toda ativida-
nografia), a atividade sexual não pode ser obser- de física ou mental ligada à excitação sexu-
vada diretamente. O que torna problemático e abusivo al de ao menos uma pessoa (carícias,
o uso do termo comportamento para designar o que é masturbação, penetração, sites de trocas de
observado, ou seja, as declarações do autor (Giami, mensagens sexuais, leitura de revistas eró-
1997). Os sociólogos americanos Gagnon e Simon ticas...). Entre as atividades, distinguem-se
elaboraram o conceito de conduta sexual (Gagnon as práticas sexuais, tipos de contatos cor-
& Simon, 1973) para entender a complexidade da porais não necessariamente mútuos, ligados
ação no campo da sexualidade, não excluindo a à excitação sexual, de ao menos uma pessoa
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 293

(carícia do corpo, masturbação, penetra- a dinâmica das relações e a influência de certos as-
ção...). Uma relação sexual é uma ativida- pectos sócio-mentais individuais e interindividuais.
de sexual que implica ao menos duas Entretanto, os aspectos qualitativos da atividade se-
pessoas e que compreende no mínimo uma xual e suas ancoragens ideológicas e fantasmáticas
prática sexual. Uma relação sexual é uma não foram sistematicamente levados em conta nessa
relação que liga duas pessoas que têm relações tentativa de definição. As ciências sociais se interes-
sexuais juntas. Um parceiro sexual é uma saram particularmente pelas variações da atividade
pessoa com a qual se tem, ao menos uma sexual segundo o ângulo das condutas (Kinsey e cols.,
vez, uma relação sexual (Bajos, Bozon, 1948). Os historiadores e os antropólogos trataram
Giami, & Ferrand, 1993, p. 33). das significações sociais e simbólicas dos atos sexuais.
Alguns psicanalistas se interessaram em estudar as
Essa definição de atividade sexual foi comple- motivações e as significações subjetivas da sexualidade.
tada pelas noções de script e de significações: Nesse contexto, Stoller propõe a distinção entre os
Cada script se apresenta como uma série aspectos que dizem respeito à identidade de gênero e
de atividades e de práticas sexuais, em um aqueles que dizem respeito ao registro erótico.
contexto dado, com um parceiro dado; tra- Pode-se, de uma maneira geral, dividir os fe-
ta-se de representações que os indivíduos nômenos comumente designados sob o termo vago
têm das experiências sexuais que eles vi- de “sexualidade” em duas classes diferentes de con-
veram ou desejaram viver, bem como da- ceitos: os estados que revelam o que se chama de
quelas que eles não viveram ou não “identidade de gênero” (masculino, feminino), e os
desejaram viver. Práticas e atividades se- que são “eróticos”. O termo “erótico” é utilizado em
xuais são organizadas em repertórios cujos um sentido ordinário e comum; ele diz respeito a uma
elementos podem ser encenados em palcos qualidade que alguém reconhece consciente ou pré-
distintos, segundo a natureza da relação conscientemente como agradável, sensual, e que, em
sócio-sexual. Por significação, entende-se um momento ou outro, será associado a uma excitação
os valores e as funções atribuídas, consci- genital, redobrada de um desejo de satisfação intensa,
entemente ou não, à atividade sexual. De cujo orgasmo é o melhor testemunho (Stoller, 1993).
acordo com as situações, pode-se conside- A questão do “erótico” não pode ser reduzida
rar que a atividade sexual exprime um de- somente às dimensões do prazer ou da sensação agra-
sejo de procriação, que ela contribui para dável. Stoller (1993) colocou em evidência a comple-
reforçar uma relação nascente, ou que ela xidade dos componentes que favorecem a excitação
permite a satisfação de um desejo ou de sexual e, principalmente, em certos casos, a presença
uma pulsão... Para certos indivíduos, ela é de hostilidade ou do desejo de prejudicar. A perver-
a ocasião de confirmar sua maturidade se- são é, assim, definida como a “forma erótica do ódio”.
xual ou seu poder social. Significações va-
Definir a sexualidade e suas diferentes signifi-
riadas, às vezes contraditórias, podem
cações: sociais, simbólicas, psicológicas; não seria li-
coexistir no repertório de um mesmo indiví-
mitar-se a uma redução da sexualidade aos atos
duo. Elas evoluem em função das diferen-
sexuais. Por um lado, a qualificação de certos atos
tes experiências e da cultura nas quais se
como sexuais é sujeita a variações sociais, históricas
encontram (Bajos e cols., 1993, p. 34).
e situacionais (Sanders & Reinisch, 1999). O caso
Essa definição é interessante porque estabele- Clinton-Lewinski colocou em evidência que se podia
ce uma abordagem multidimensional da atividade se- não considerar as práticas orais ou a exibição e as
xual, que leva em conta os aspectos comportamentais, carícias dos seios como sendo atos sexuais. Além do
294 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

mais, Devereux tinha relatado um caso no qual a pre- de decisão (Leridon & Villeneuve-Gokalp, 1994).
sença simultânea de um homem e de uma mulher no Villeneuve-Gokalp descreve, a partir de uma pesqui-
espaço fechado de uma consulta psiquiátrica, ao abri- sa feita com jovens de 18 a 25 anos, as modalidades
go de olhares, mostrou-se impossível devido à atri- de acesso à idade adulta, ou seja, um processo de
buição de uma significação sexual a esta situação, inserção profissional, familiar e social que começa
pelas pessoas que se encontravam nas proximidades com o fim da escolaridade e pode ser considerado
(Devereux, 1980). Partimos, então, de uma definição como terminado com a obtenção de um emprego es-
aberta e ampla da experiência de sexualidade, não tável e o casamento (Villeneuve-Gokalp, 1982).
reduzida aos comportamentos sexuais, a fim de estu- A autora analisa, entre outros temas, a signifi-
dar como a sexualidade é representada e vivida pelas cação da continuação da habitação entre gerações e
pessoas que entrevistamos. as modalidades de partida da família. A metade dos
Um período específico da vida jovens habita na casa dos pais porque eles encon-
tram nesta co-habitação mais vantagens do que in-
Se sabemos relativamente pouco sobre a vida convenientes. Outra metade, ao contrário, prefere
afetiva e sexual da faixa etária dos 18-22 anos, vários ter uma residência própria. Mas, tanto em um caso
trabalhos analisaram, em detalhes, os processos quanto no outro, a natureza do relacionamento entre
psicossociais que constituem a passagem da adoles- pais e filhos, mesmo se não é desprezível, não foi um
cência à idade adulta. A maioria desses trabalhos fo- elemento determinante na decisão que foi tomada.
ram realizados ao longo dos anos 1980. Le Bras falava Na maioria dos casos, a partida não foi motivada
de uma – interminável adolescência e de intrigas por “más relações” entre gerações (Villeneuve-
familiares – o prolongamento da adolescência, Gokalp, 1982).
marcado pela continuidade da moradia com os pais, Nos estudos qualitativos, Giami, Berthier e
o prolongamento da duração dos estudos, o aumento Gosselin (1987) analisaram como os pós-adolescen-
da idade da obtenção do primeiro emprego, do ca- tes ou jovens que estão se tornando adultos ainda não
samento e da procriação, testemunharam um pro- fixados em uma relação amorosa estável, não
longamento da dependência afetiva e social e a engajados no processo da procriação, se encontram
conservação das jovens gerações excluídas das em um momento crucial de sua evolução pessoal e
decisões (Le Bras, 1983). social. Neste período, obrigados a se afastarem da
Béjin (1993) evoca paralelamente os anos in- adolescência e se para esforçando para tal, eles
decisos da pós-adolescência, ao longo da qual a maior tateiam o terreno para se tornarem adultos e encon-
parte dos indivíduos passam, insensivelmente, da ado- trarem um lugar, uma identidade e ligações que reco-
lescência a uma aparente maturidade, atravessando nheçam como próprias, com uma relativa autonomia.
uma idade mal definida que podemos denominar pós- Sair da adolescência e tornar-se adulto é um proces-
adolescência. Período consagrado às experiências, so evolutivo de experiências, tentativas e erros, e não
mas durante o qual evita-se tomar decisões impor- uma modificação breve, socialmente marcada e re-
tantes (Béjin, 1983). Os demógrafos analisaram o conhecida. Analisando esse período de transição
processo por meio das transformações da entrada na em uma sociedade em evolução, os autores men-
nupcialidade principalmente com o aparecimento da cionados notam que é impossível compreender essa
co-habitação juvenil. Mais tarde os autores evoca- passagem sem levar em conta a experiência vivi-
ram a possibilidade de uma vida conjugal sem co- da por cada um, esta encruzilhada, este fosso onde
habitação, que marca a identificação de uma nova se elabora e pode se ver em ação o trabalho pri-
etapa no alongamento do desenvolvimento da entra- mordial que constitui a criação continua de si (Giami
da na idade adulta e de um retardamento na tomada e cols.,1987).
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 295

Esses autores mostram que, em um certo período Eles situam os jovens adultos em uma posição inter-
de extensão, de simultaneidade, de “vai-e-vem” das mediária e descrevem a passagem da juventude à
diversas etapas da passagem à idade adulta, esses idade adulta em termos de “idas e voltas”. Existe um
jovens adultos aparecem, no seu conjunto, como um adiamento no tempo do conjunto das etapas (prolonga-
sistema em tensão entre o engajamento e o desliga- mento de um período de latência entre a saída do
mento. Este estudo confirma que a pós-adolescência sistema escolar e a inserção no emprego, e entre a
parece ser um tempo de pesquisa de si, do outro, de saída da casa dos pais e a formação de uma família)
experiências múltiplas, tempo de crise para jovens e uma imbricação dos calendários escolares, profis-
adultos mantidos em uma dependência parental (alon- sionais e privados:
gamento da duração dos estudos, entrada na vida ati-
As gerações estão em posição intermediá-
va retardada) em contradição com seus desejos de
ria aos olhos das transformações globais dos
independência (Giami e cols., 1987).
modos de passagem à idade adulta; prolon-
Os relatos dos jovens adultos confirmam a idéia gamento da escolaridade, desenvolvimento
de que não se pode identificar uma ruptura nítida en- do status intermediário entre a escola e o
tre adolescência e estado adulto (Giami e cols., 1987). emprego e aumento do desemprego entre
Os ritos de passagem que outrora balizavam a vida, os jovens que procuram se inserir no mer-
dando os pontos de referência, tais como as primei- cado de trabalho; tendência a galgar mais
ras experiências sexuais, o casamento em vestido de tardiamente as etapas da vida privada e,
noiva branco, o fim dos estudos, o primeiro trabalho,
sobretudo, aquela da constituição da famí-
o serviço militar, não constituem mais os pontos
lia. (...) Os limiares de passagem clara-
de passagem ritualizados em referência aos quais
mente identificáveis e datados com
poder-se-ia tornar-se adulto. Entretanto, parece que
precisão, tendem a serem substituídos
“ter um filho” pode ser compreendido como um rito
pelas transições às fronteiras menos níti-
de passagem que conservaria toda a sua importância
das e desmistificadas. (...) Entre o fim da
e sua significação. O filho representaria uma ancora-
escolaridade e a obtenção de um emprego
gem identificável: “antes do filho”, “depois do filho”.
de mais de seis meses, tendem a se inter-
Esta dinâmica é imaginada como uma página que se
calar status mais incertos, como os estági-
vira, um passar de um estado a outro que pode ser
os ou os empregos arrumados. A saída da
pensado como: ser pai ou mãe é tornar-se adulto.
casa dos pais se torna mais progressiva, o
Battagliola, Brown e Jaspard (1997), no estu- casamento direto se faz raro e é, na maior
do sobre os “itinerários de passagem à idade adulta”, parte das vezes, precedido de formas mais
definem a juventude como uma fase de transição ao informais de vida conjugal. Somente o nas-
longo da qual se efetua uma dupla passagem: do fim cimento de uma criança pode ser datado
da escolaridade à entrada no mercado de trabalho, precisamente. Identificar os limiares signi-
da saída da casa dos pais à formação do casal e à ficativos, datá-los e organizá-los em uma
constituição de uma família. Mesmo se persistentes, cronologia coerente torna-se então mais di-
essas etapas não são ultrapassadas por todos os indi- fícil que anteriormente, quando os limiares
víduos; elas constituem, de todo modo, as balizas mais eram mais fortemente institucionalizados
significativas na direção da autonomia e as prerroga- (Battagliola e cols., 1997, p. 87).
tivas ligadas ao status de adulto. Os autores mos-
tram que os limiares de passagem evoluem: por um Bozon (1991), que estuda o novo lugar da se-
lado, eles se tornam menos nítidos e deixam de ser xualidade na composição do casal, aborda igualmen-
irreversíveis; por outro lado, eles são desmistificados. te os processos de constituição da vida conjugal em
296 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

termos de etapa, de fase, de passagem e de limiar. à tentativa de ter acesso a uma qualifica-
Este autor identifica um período de co-habitação par- ção profissional e a um emprego por parte
cial, que se traduz por uma latência mais longa entre das moças, que ocorre paralelo a um
as primeiras relações sexuais e a co-residência com- questionamento mais global das relações
pleta. De fato, as primeiras relações sexuais não le- entre os sexos no quadro familiar. (...) Nas
vam imediatamente à co-habitação, mas introduzem gerações recentes, as jovens mulheres
mais a uma fase de co-habitação parcial, durante a tentam levar adiante a rentabilização pro-
qual cada parceiro conserva sua moradia, mesmo se fissional de seu diploma e a vida conjugal
passam uma boa parte do tempo juntos. As relações e familiar. Socialmente autônomas, não
sexuais precoces introduzem uma forma intermediá- esperam que seus cônjuges lhes assegu-
ria de casal, que não co-habita, não funda uma vida rem o status social, nem prioritariamente,
comum (Bozon, 1991). nem desde o início da vida em comum
Levinson (1997) analisou as trajetórias sexuais (Battagliola e cols., 1997, p. 99).
dos jovens adultos com a ajuda de indicadores tem-
Nos diferentes trabalhos realizados ao longo
porais recolhidos por intermédio de um calendário das
relações sexuais com os diferentes parceiros. A au- das décadas de 1980 e 1990, a juventude é apreendi-
tora descreve a dinâmica do estabelecimento de uma da como um período intermediário, uma situação tran-
relação, desde os primeiros momentos do encontro, e sitória, de passagem, de crise, uma sucessão de etapas,
coloca em evidência que o tipo de relação entrevisto de status, que se caracterizam pelo vago e pela
orienta a seleção de um tipo, ou de outro, de parceiro, desmistificação das relações amorosas (simultanei-
como se se tratasse de um programa. A escolha do dade, “vai-e-vem”, imbricação e “ida-volta”).
parceiro pode ser efetuada em função do tipo de Interpretar os dados
relação desejado, segundo se trate de uma rela-
ção breve ou duradoura. Levinson mostra, assim, Muitos anos se passaram entre o momento em
que no contexto atual, a possibilidade de ter vários que o projeto de pesquisa foi elaborado (primavera
parceiros ao longo da vida é socialmente aceitável e de 1995), aquele no qual as entrevistas foram realiza-
freqüentemente desejável; esta pluralidade de encon- das (inverno de 1996 e primavera de 1997), e aquele
tros relativiza a importância simbólica da primeira em que a análise dos materiais recolhidos e a reda-
relação sexual. Ela indica, enfim, que a organiza- ção do relatório final foram feitas (em 2000). A evo-
ção temporal das primeiras relações sexuais é fun- lução do nosso ponto de vista de pesquisa acompanhou
dada sobre a distinção entre relação longa e o movimento cultural desses últimos anos, marcado
relação breve, e também sobre a diferenciação dos pela diminuição da referência à aids nos debates so-
sentimentos que estas recobrem. A relação amo- bre a sexualidade e pela aparição de novas proble-
rosa é uma relação durável, a relação curta é máticas sociais da sexualidade.
aquela da sexualidade por excelência. Esta dis- Desde a primavera de 1998, os discursos pú-
tinção é subjacente às trajetórias-tipo que carac- blicos sobre a sexualidade conheceram mudanças
terizam a passagem da primeira relação sexual à importantes nos diferentes domínios. A entrada no
segunda (Levinson, 1997). mercado do Viagra levou a uma renovação das ques-
Battagliola e cols. (1997) mostram que nos tões sobre a sexualidade. A atenção se voltou para os
meios populares e nas classes médias, as moças se temas da performance sexual e da atividade sexual
comprometem mais raramente do que os rapazes na das pessoas idosas, temas que tinham sido deixados
vida conjugal e familiar antes da obtenção do primei- de lado nos trabalhos e nos discursos realizados no contex-
ro emprego. Isso corresponde, para esses autores, to cultural da aids. Além disso, enquanto a problemática
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 297

da prevenção da aids visava o estabelecimento de das mensagens de prevenção no abandono das práti-
controles restritivos sobre a atividade sexual carac- cas sexuais de risco.
terizada pela promiscuidade e pelos múltiplos parcei- Mais recentemente, outros temas ocuparam os
ros, e se felicitava pela redução do número de debates sobre a sexualidade, principalmente as ques-
parceiros, o Viagra (compreendido como fenômeno tões da pedofilia, da pornografia e dos impactos so-
cultural e simbólico) ocasiona, desde então, discursos bre os jovens que a elas se expõem precocemente,
que deixam entrever o desenvolvimento e o au- sobre as violências sexuais (estupros coletivos entre
mento das freqüências da atividade sexual, em um adolescentes e violências sexuais no seio do casal). Essa
contexto recreativo, podendo se associar à ingestão situação conduziu certos observadores a considerar
de substâncias lícitas e ilícitas. Nesse contexto, o que a sexualidade vem sendo, cada vez mais, percebida
restabelecimento de uma atividade sexual satisfatória e construída socialmente sob o ângulo da violência. Além
e o tratamento das perturbações sexuais das pessoas disso, as condutas sexuais minoritárias, tais como as
atingidas pelos vírus HIV constituiu uma reviravolta trocas de casais, o sadomasoquismo consensual, ou o
radical na perspectiva do seu tratamento. A diminui- extremismo dos múltiplos parceiros descritos no
ção da morbidade e o recuo da mortalidade precoce livro A vida sexual de Catherine M., conquis-
parecem ter dado à vida sexual um lugar central na taram as mídias e aumentaram a erotização da
vida dessas pessoas (Lallemand, Salhy, Linard, Giami, sociedade e da cultura.
& Rozenbaum, 2002). Os debates públicos relativos à homossexuali-
Assim, como recorda Dannecker (2000), as dade também deixaram o domínio da aids e aborda-
coisas mudaram desde o início da epidemia. A aids ram a questão da união entre pessoas de mesmo sexo
não é mais sistematicamente associada a uma repre- e adoção de crianças. O Pacs (contrato de união civil
sentação da morte e ao medo desta, que constituíam que pode ser feito entre parceiros homossexuais,
um elemento importante nas motivações que leva- amigos ou irmãos) foi definitivamente adotado pelo
vam à adoção de comportamentos preventivos. O apa- Parlamento francês em 1999. A questão da preven-
recimento das multiterapias e a diminuição da ção da aids entre homossexuais masculinos foi discu-
morbidade e da mortalidade que delas decorreram, tida por ocasião da difusão das teorias do bareback,
transformaram profundamente as representações da ou seja, da não-utilização voluntária do preservativo,
aids e da prevenção, nos planos coletivo e subjetivo. inclusive quando os indivíduos se sabem portadores
Por um lado, o estudo dos desejos, das fantasias se- do vírus HIV.
xuais e da dinâmica das relações reencontra certa Como podemos ver a partir deste breve resu-
legitimidade para compreender as significações da mo, a aids não é mais o principal tema a partir do qual
atividade sexual e, por outro lado, os poderes públi- a sexualidade é discutida e interpretada no espaço
cos manifestam uma incerteza em relação à evolu- público e nas pesquisas em ciências socais. Além disso,
ção – em baixa – dos comportamentos preventivos é surpreendente constatar que uma parte desses de-
no contexto do aparecimento dos novos tratamentos. bates gira em torno de situações apresentadas como
As campanhas de prevenção desenvolvidas ao extremas ou minoritárias em relação ao número de
longo do verão de 1998 parecem ter sido sensíveis a pessoas que as vivem efetivamente. Esses debates
um discurso que recoloca no primeiro plano a temática se inscrevem em uma retórica que associa e opõe a
do erotismo, do prazer sexual e da performance com valorização dessas situações extremas e a sua de-
conotações humorísticas. Estamos bem longe de certas núncia moral. As mídias contribuem assim para uma
mensagens de prevenção elaboradas no início dos erotização permanente da vida em sociedade, procu-
anos 1980, nos países anglo-saxões, que agitavam rando estímulos eróticos nas situações cotidianas de
o espectro da morte a fim de comprometer os destinatários trabalho, de deslocamento, de lazer e de consumação.
298 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

Método encontrar um espaço de expressão do tipo


psicoterapêutico, reforçado pelo fato de que fo-
Participantes
ram vários encontros.
Participaram do estudo 24 jovens, de ambos O instrumento desta pesquisa foi elaborado
os sexos (dezessete mulheres e sete homens), com associando uma equipe de pesquisadores com objeti-
idade entre 18 e 22 anos, estudantes de uma universi- vos científicos próprios, e um serviço de saúde públi-
dade da periferia parisiense. ca. Inscrevendo a seleção dos participantes em uma
Procedimento instituição de saúde, pudemos identificar as pessoas
que aceitaram essa proposição e aquelas que a recusa-
Os principais avanços metodológicos desta ram. Verificamos que a constituição de uma população
pesquisa dizem respeito à complementaridade dos de inquérito para uma pesquisa qualitativa pode ter uma
métodos utilizados. Utilizamos, conjuntamente, en- dimensão sistemática que permite identificar com pre-
trevistas semi-estruturadas e questionários com cisão as características da população estudada.
questões fechadas. Esta abordagem abriu aos pes- Enfim, nossa associação com o Centro de
quisadores a possibilidade de conduzir as entrevistas Medicina Preventiva permitiu a construção de um
com maior liberdade, pois eles puderam estar volta- instrumento que assegure a seleção e o acompa-
dos para a escuta da expressão das pessoas sobre os nhamento de voluntários que aceitem participar de
temas e os domínios de escolha delas, sem ter que se uma pesquisa sem benefício direto. O método ela-
preocupar de re-enquadrar prematuramente a explo- borado nesta ocasião poderia ser reproduzido por
ração na direção dos elementos identificados anteri- ocasião de outra pesquisa, necessitando da consti-
ormente nas hipóteses. Proposto no fim da entrevista, tuição de um recorte.
o questionário permitia a coleta de dados padroniza-
dos, principalmente comportamentais, de maneira a Resultados e Discussão
ter elementos para responder, sistematicamente, a
A diversidade das experiências da sexualidade
algumas de nossas preocupações. As motivações que
sustentam a aceitação da participação em uma pes- O que nos ensinam essas 24 entrevistas com
quisa são pouco conhecidas. Na medida em que a jovens, entre 18 e 22 anos, estudantes de uma univer-
maioria das pesquisas sobre a sexualidade são fun- sidade da periferia parisiense? Em primeiro lugar,
dadas na seleção, mais ou menos sistemática, de pes- essas pessoas se situam num período da vida pouco
soas que são voluntárias, ignoramos por quais razões estudado, aquele que se segue, para a maioria deles,
essas pessoas aceitam a proposição dos pesquisado- ao que nós chamamos de entrada na sexualidade: três
res. Inversamente, ignoramos as razões pelas quais quartos deles já haviam tido relações sexuais. Além
as pessoas recusam-se a responder às proposições disso, este período precede o estabelecimento da vida
de pesquisa. Análises posteriores colocam em evi- conjugal: se uma parte deles já conheceu relações
dência que as motivações apresentam traços co- amorosas continuadas durante certo tempo, nenhum
muns com aquelas que sustentam a participação deles ainda viveu casado, ou seja, co-habitou com
em pesquisas científicas sobre outros temas; ambas outra pessoa de maneira autônoma e prolongada.
são organizadas em torno de uma dialética sutil entre Neste período da vida, nós sabemos, graças
a procura de um benefício pessoal, suscitado pelo fato aos dados da pesquisa ACSF, que, de maneira global,
de poder se exprimir, e um certo altruísmo, ligado ao os estilos de vida sexual dos jovens franceses desta
sentimento de tornar-se útil para a coletividade. A si- faixa etária são muito diversificados: uma parte deles
tuação de entrevista, que foi construída em nossa não teve nenhuma experiência de relações sexuais,
pesquisa, pode ter permitido a alguns participantes outros só tiveram um único parceiro, e outros ainda
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 299

tiveram dois ou mais parceiros. Nota-se também gran- séries de entrevistas, não foi raro verificar que rela-
des diferenças entre homens e mulheres (entre 20- ções tenham sido rompidas ou que as pessoas tenham
24 anos, 43% dos rapazes declaram ter tido mais de pensado em romper uma relação existente.
seis parceiras, contra somente 12% das moças; por A maioria dos entrevistados continuava a mo-
outro lado, 43% das moças declaram não ter tido ne- rar com os pais, no domicílio familiar; a entrada na
nhum parceiro ou somente um, contra 23% dos rapa- faculdade não constituiu ruptura com o grupo de ami-
zes dessa mesma faixa etária). gos do colégio e da adolescência. Nenhuma das pes-
As entrevistas biográficas e os questionários soas que entrevistamos tinha filhos; duas mulheres
aplicados refletem também a diversidade de práticas declararam terem feito uma interrupção voluntária da
e de relações, mas permitem, entre outras coisas, gravidez.
decifrar as significações que os indivíduos dão às Os métodos de prevenção do HIV se inscre-
suas experiências e os contextos biográficos nos quais vem na dinâmica da evolução da relação como uma
elas se inscrevem. passagem obrigatória no começo desta, antes de uma
Assim, observamos configurações de experi- estabilização da relação, indo da prática do teste de
ências sexuais muito diferentes. O que fez com que rastreamento ao abandono da utilização do preser-
alguns tenham permanecido virgens. Pode ter sido vativo, que marca um contrato de confiança e de fidelidade.
uma escolha pessoal ou ideológica, ou o resultado das O preservativo pode constituir, em certos casos, um
circunstâncias que fazem que esses jovens reconhe- elemento de discórdia entre os parceiros: quando as
moças declaram que os rapazes são reticentes em
cidamente manifestem uma incapacidade de manter
utilizá-lo, enquanto elas o fazem voluntariamente.
relações sexuais. Aqueles que tiveram alguns parcei-
Entretanto, esta forma de racionalização da sexuali-
ros (entre dois e quatro) dizem ter tido relações que
dade não é repartida de maneira homogênea entre
foram mais efêmeras e que tiveram lugar devido a
todas as pessoas estudadas e observamos que os
disposições psicológicas do momento, ou em circuns-
conflitos em matéria de utilização do preservativo
tâncias que favoreceram este tipo de encontro. En-
revelam, freqüentemente, um conflito ou uma insatis-
fim, no grupo, mais restrito, dos rapazes e das moças
fação com a relação considerada no seu conjunto.
que tiveram mais de dez parceiros sexuais, a multipli-
cação dos parceiros pode ter figuras bem diferentes: As diferenças segundo o gênero
pode tratar-se de relações efêmeras, entretidas nos
As mulheres representam dois terços das pes-
momentos de errância e descompromisso, na ausên-
soas que aceitaram ser incluídas na pesquisa. Esta
cia de uma relação amorosa, ou em períodos particu-
proporção aparece bem representativa da estrutura
lares, que se seguiram à ruptura de uma relação
da população discente da universidade na qual a pes-
amorosa, ou ainda, uma maneira de gerar “amizades quisa teve lugar, assim como a estrutura da popula-
coloridas”, de querer descobrir a sexualidade, ou de ção que utiliza o Serviço de Medicina Preventiva. Não
ter emoções fortes. observamos uma super-representação das mulheres
Além disso, enquanto algumas pessoas tive- entre os voluntários que participaram das entrevis-
ram relações com uma duração prolongada (um ano tas. No entanto, as mulheres e os homens diferem no
ou mais), em um contexto de monogamia, encontra- plano da experiência sexual. Uma maior proporção
mos outras pessoas que tiveram um grande número de rapazes nunca teve relações sexuais e amorosas.
de parceiros (uma dezena) no espaço de alguns me- Entre os que se declararam virgens, os rapazes
ses, antes de se abster de toda relação, ou de se com- constituíam a maioria nessa situação, seja devido
prometerem numa relação monogâmica duradoura. às circunstâncias ou devido aos seus problemas psico-
Ainda mais, ao longo do período que separa as duas lógicos, enquanto que as moças informaram tratar-se
300 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

de uma opção, baseada nos ideais amorosos ou nas à sua independência, nem à vontade de desenvolve-
crenças religiosas. A virgindade é então abordada rem experiências de diferentes naturezas (intelectuais,
mais serenamente pelas moças do que pelos rapazes sociais e sexuais). As moças que conheceram uma
e é vivida como uma escolha positiva na espera do grande ruptura, da qual tiveram a iniciativa, declararam ter-
amor ou de um parceiro sério e estável. se encontrado em uma situação sufocante, rotineira,
Algumas moças evocaram um episódio de abu- que ameaçava o desenvolvimento de sua indepen-
so sexual ao longo da infância ou em ocasião recente dência delas. Esta situação apareceu com muita
(3/17). Somente um rapaz se apresentou como ho- força naquelas provindas da imigração ou de depar-
mossexual, reivindicando a sua identidade gay e tamentos de além-mar, que rejeitam maciçamente o
retraçando o percurso do reconhecimento e da cons- modelo de submissão da mulher às exigências dos
trução de sua orientação sexual. Ele relatou homens e das famílias. Os rapazes reafirmaram as
longamente um episódio de violência homofóbica que virtudes do modelo do casal moderno, baseado na
sofreu quando adolescente, que o traumatizou seve- igualdade e na satisfação sexual e afetiva, e
compromissado na construção de uma família; mas
ramente e cujos efeitos ainda se faziam sentir. Duas
as moças pensam que é preciso aproveitar dessa fase
mulheres evocaram relações homossexuais passagei-
da vida marcada pela realização de experiências.
ras, sem se apresentarem nem se reivindicarem como
homossexuais e sem que os episódios tenham tido Apesar desta diversidade de tipos de relações
conseqüências notórias sobre a evolução das mesmas. sexuais e amorosas, pudemos observar a importância e
o impacto dos ideais amorosos tradicionais que asso-
De maneira mais geral, pudemos observar uma
ciam o amor, a atividade sexual, a vida em casal e o
certa diferença entre os homens e as mulheres. Com
projeto familiar. Esse modelo permanece igualmente
exceção de uma minoria entre as mulheres que de-
ainda muito impregnado nas moças e nos rapazes.
clarou ter permanecido virgem, as entrevistadas tive-
Esses ideais amorosos tiveram impactos diferentes
ram uma experiência sexual quantitativamente maior
nos dois sexos. Para algumas moças, o ideal pode ter
do que os homens. Elas tiveram mais freqüentemente
como função justificar a preservação da virgindade
a experiência de uma ou mais relações amorosas sig-
ou da abstinência temporária na espera do “príncipe
nificativas que terminou, na maioria dos casos, com
encantado”, enquanto que, para outras, trata-se de
uma ruptura. Algumas delas também tiveram a expe-
um projeto para o futuro, ao sair de um período no qual
riência de um maior número de parceiros (uma deze-
elas tiveram vontade de viver de maneira indepen-
na) do que os rapazes. Inversamente, uma maior
dente investindo nos estudos e no estabelecimento de
proporção de rapazes ainda era virgem e nenhum relações sociais. Diante de tal projeto, uma relação
rapaz heterossexual declarou ter tido um tão grande fechada demais, imposta pelo rapaz, parece
número de parceiras. inapropriada ou prematura. Inversamente, várias das
A maior diferença entre os homens e as mu- moças que entrevistamos se queixam da falta de sin-
lheres reside na diferença de atitude entre eles em ceridade e da mentira dos rapazes que mantêm rela-
relação à natureza das relações neste período da vida. ções paralelas sem dizer a elas. Os rapazes que ainda
Os rapazes e as moças exprimiram um ideal amoro- são virgens aparecem mais neuróticos ou inibidos nas
so baseado na constituição de um casal monógamo, suas capacidades de ter uma relação amorosa com
comprometido em uma vida comum e com um proje- uma moça e se fecham em um universo fantasmático
to de ter filhos. Porém, enquanto os primeiros consi- ou no vazio de uma posição depressiva. Não encon-
deram que suas relações devem desde já se inscrever tramos “paqueradores” inveterados, que procuram
nesta perspectiva, as segundas consideram, por sua acumular as relações umas depois das outras. No
vez, que o momento ainda não chegou. Elas desejam entanto, alguns rapazes pareceram desestabilizados
ter uma relação amorosa que não constitua obstáculo pelo desejo de independência das suas parceiras.
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 301

Enfim, as mulheres pareceram muito mais experiência sexual dos jovens estudantes podem sur-
implicadas na gestão de suas relações em função de preender no contexto atual, que coloca ênfase sobre-
exigências relativamente identificadas e exprimidas. tudo na diversidade de experiências sexuais,
Por sua vez, os homens pareceram muito mais ema- compreendendo notadamente a multiplicação dos
ranhados nos seus conflitos internos, enquanto alguns parceiros, as trocas de parceiros, o desenvolvimento
estão ainda muito aquém na capacidade de estabele- do interesse pelo fetichismo e pelo sadomasoquismo,
cer uma relação, tanto sexual como amorosa. os abusos e as violências sexuais. Todavia, os dois
termos, errância e vida conjugal, não devem ser com-
Considerações finais preendidos no mesmo nível de experiência. Se a
Tradicionalmente, as pesquisas norte-america- errância sexual e afetiva, que diz respeito à noção de
nas sobre a sexualidade foram construídas em tor- monogamia em série, constitui a prática e o sentido
no da noção de sexualidade conjugal (marital dado à experiência de uma parte importante das pes-
intercourse), considerada por Alfred Kinsey como a soas que interrogamos, a vida conjugal não se situa,
principal forma de atividade sexual para homens e ainda, no mesmo nível da prática efetiva. A vida con-
mulheres, e aquela que traria a maioria dos orgasmos jugal ou, mais precisamente, o estabelecimento de uma
ao longo da existência. A sexualidade conjugal repre- relação monógama e estável, lugar de uma relação
sentava, para Alfred Kinsey, entre outros autores, a amorosa consolidada, constitui o ideal e a aspiração
norma em relação a qual as outras formas de rela- da maioria dos homens e mulheres que entrevista-
ções sócio-sexuais eram definidas e avaliadas como mos. A vida conjugal estaria se impondo como norma
relações pré-conjugais ou extra-conjugais. Esta cons- ideal, na medida em que essas pessoas pensam e
trução científica da sexualidade reflete as normas analisam a atual experiência que vivenciam, ainda aquém
sociais da sociedade norte-americana, na qual o ca- de uma prática efetiva da vida conjugal almejada.
samento continua a constituir a principal forma de Essa pesquisa traz uma resposta mista a esta
organização social legítima da sexualidade, a institui- questão: a vida sexual dos jovens adultos não é
ção privilegiada na qual a atividade sexual se desen- redutível à vida conjugal. Entretanto, para a popula-
volve principalmente para a maioria da população ção dos jovens estudantes, que tivemos a oportu-
adulta (Gagnon, Giami, Michaels, & Colomby, 2001). nidade de interrogar longamente nesse trabalho, a
O emprego do conceito de sexualidade pré-conjugal vida de casal, a co-habitação, o casamento e a
implica, implicitamente, que o conjunto da atividade constituição de uma família representam os horizontes
sexual permanece orientado em torno da finalidade intransponíveis da vida sexual, o objetivo a alcançar
do casamento, que o casamento constitui a principal no fim do desenvolvimento e da ascensão à maturi-
ocasião na qual se desenvolve a atividade sexual, e dade. Trata-se de certa forma de um ideal a atingir.
que o casamento consiste na principal fonte de signi- Esse ideal tanto pode facilitar a experiência atual da
ficação atribuída à atividade sexual. Será que ainda vida sexual e afetiva das pessoas, colocando-a em
faz sentido hoje em dia, na França, considerar os ti- perspectiva, quanto pode constituir uma barreira que
pos de atividade sexual (heterossexual) que se desen- a desvalorize. Em outras palavras, a experiência se-
volvem fora do casamento como atividades sexuais xual dos jovens interrogados, que nós pudemos esta-
pré-conjugais? belecer como sendo representativa de sua faixa etária
A errância e a vida conjugal são dois termos e de seu grupo social, oscila entre a prática da errância,
que se impuseram a nós no final desta pesquisa para qualificada de monogamia em série, e a vida conjugal
designar a experiência da sexualidade dos estudan- idealizada.
tes nos tempos da aids. A referência e a predominân- Por fim, a utilização conjunta de dois métodos
cia da noção de vida conjugal para ponderar a fundados sobre princípios diferentes, entrevistas biográ-
302 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

ficas e questionários, permitiu, entre outras coisas, Dannecker, M. (2000). Contre le déni du désir sexuel.
identificar incoerências e contradições em certas de- Infothek, 1, 4-10.
clarações que diziam respeito a temas precisos, tais Devereux, G. (1980). De l’angoisse à la methode
como a experiência de uma interrupção voluntária de dans les sciences du comportement. Paris:
gravidez (aborto feito legalmente na França), o nú- Flammarion.
mero de parceiros declarados, ou o fato de ter expe-
Ericksen, J., & Steffen, S. (Eds.). (1999). Kiss and
rimentado (ou não) relações sexuais. Esta abordagem
tell: Surveying sex in the twentieth century.
permitiu, assim, melhor compreender as vantagens e
Cambridge: Harvard University Press.
os limites de cada um dos métodos utilizados na pre-
sente pesquisa. Foucault, M. (1976). Histoire de la sexualité. Tome
1: La volonté de savoir. Paris: Gallimard.
Referências
Gagnon, J. (1988). Sex research and sexual conduct
Bajos, N. (1998). Les risques de la sexualité. In in the era of Aids. Journal of AIDS, 1, 593-601.
N. Bajos, M. Bozon, A. Ferrand, A. Giami &
Gagnon, J. (2000). Theorizing risky sex. In J. Bancroft
A. Spira (Eds.), La sexualité aux temps du
(Ed.), The role of theory in sex research (pp.
Sida (pp. 35-61). Paris: PUF.
149-176). Bloomington: Indiana University Press.
Bajos, N., Bozon, M., Ferrand, A., Giami, A., & Spira,
Gagnon, J. (2006). Uma interpretação do desejo:
A. (Eds.). (1998). La sexualité aux temps du sida. Ensaios sobre o estudo da sexualidade. Rio de
Paris: PUF. Janeiro: Garamond.
Bajos, N., Bozon, M., Giami, A., & Ferrand, A. (1993). Gagnon, J., Giami, A., Michaels, S., & Colomby, P.
Orientation de la démarche de recherche. In A. (2001). A comparative study of the couple in the
Spira, N. Bajos, & Groupe-Analyse des social organization of sexuality in France and the
Comportements Sexuels en France (Eds.), Les United States. Journal of Sex Research, 38(2),
comportements sexuels en France (pp. 29-44). 24-34.
Paris: La Documentation Française.
Gagnon, J., & Simon, W. (1973). Sexual conduct.
Battagliola, F., Brown, E., & Jaspard, M. (1997). Chicago: Aldine.
Itinéraires de passage à l’âge adulte: Différence
Giami, A. (1993). Le questionnaire ACSF: L’influence
de sexe, différence de classe. Sociétés
d’une représentation épidémiologique de la
Contemporaines, 25, 85-103.
sexualité. Population, 48, 1229-1256.
Béjin, A. (1983). De l’adolescence à la post- Giami, A. (1994). De Kinsey à AIDS: A evolução da
adolescence: Les années indécises. Le Débat, 25, construção do comportamento sexual em pesqui-
126-132. sas quantitativas. In M. A. Loyola (Ed.), Aids e
Bozon, M. (1991). La nouvelle place de la sexualité sexualidade: O ponto de vista das ciências
dans la constitution du couple. Sciences Sociales humanas (pp. 209-240). Rio de Janeiro: Relume.
et Santé, 9(4), 69-88. Giami, A. (1997). Description et observation. In R.
Brunet, J. B., Bourdillon, F., & Costagliola, D. (1994). Mendès-Leite & P. O. de Busscher (Eds.), Micro-
Evolution de l’épidémie à VIH en France dans géographie sexographique de deux back-
la population hétérosexuelle (Rapport au Mi- rooms parisiennes (pp. 5-11). Lille: Gay Kitch.
nistre délégué à la Santé). Saint-Maurice: Réseau Giami, A. (1998). Les impacts du sida sur la sexualité.
National de Santé Publique. Panoramiques, 34, 162-170.
Giami, A. (2008). Experiência da sexualidade em jovens adultos 303

Giami, A. (1999). Cent ans d’hétérosexualité. Levinson, S. (1997). L’organisation temporelle des
Actes de la Recherche en Sciences Sociales, premières relations sexuelles. In H. Lagrange
128, 38-45. & B. Lhomond (Eds.), L’entrée dans la
Giami, A., Berthier, F., & Gosselin, F. (1987). Emprise sexualité: Le comportement des jeunes dans
et dégagement de la famille d’origine: Post le contexte du sida (pp. 227-254). Paris: La
adolescents ou jeunes adultes? Bulletin de Découverte.
Psychologie, 382(18), 851-856. Manderson, L., Bennett, L., & Sheldrake, M. (1998).
Giami, A., & Lavigne, C. (1998). Recusa de Sex, social institutions and social structure:
engajamento nas testagens de vacinas contra o Anthropological contributions to the study of
HIV. Horizontes Antropológicos, 9, 203-235. sexuality. Annual Review of Sex Research,10,
184-209.
Giami, A., & Schiltz, M. A. (1996). Representations
of sexuality and relations between partners: Sex Messiah, A., & Mouret-Fourme, E. (1993). Homosexualité,
research in France in the era of AIDS. Annual bisexualité: Éléments de socio-biographie sexuelle.
Review of Sex Research, 7, 125-157. Population, 48, 1353-1379.
Henriksson, B. (1995). Risk factor love: Michaels, S., & Giami, A. (1999). Sexual acts and
Homosexuality, sexual interaction and HIV sexual relationships: Asking about sex in surveys.
prevention. Goteborg: Goteborgs Universitets Public Opinion Quarterly, 63, 385-404.
Skriftserien.
Pollak, M., & Schiltz, M. A. (1991). Six années
Holland, J., Ramanazoglu, C., Scott, S., Sharpe, S., & d’enquêtes sur les homos et bisexuels masculins
Thompson, R. (1991). Between embarrassment face au Sida: Questions de méthode. Bulletin de
and trust: Young women and the diversity of Méthodologie Sociologique, 31, 32-48.
condom use. In P. Aggleton, P. Davies & G. Hart
(Eds.), AIDS: Responses, interventions and care Sanders, S., & Reinisch, J. M. (1999). Would you say
(pp. 127-148). London: Farmer Press. you “had sex” if...? Journal of the American
Academy of Medicine, 281, 275-277.
Kinsey, A., Pomeroy, W., & Martin, C. (1948). Sexu-
al behavior in the human male. Philadelphia: Spira, A., Bajos, N., & Groupe-Analyse des
Saunders. Comportements Sexuels en France (Eds.). (1993).
Les comportements sexuels en France. Paris:
Lallemand, F., Salhy, Y., Linard, F., Giami, A., &
La Documentation Française.
Rozenbaum, W. (2002). Sexual dysfunction in
156 ambulatory hiv-infected men receiving Stoller, R. (1993). Dynamiques des troubles érotiques. In A.
highly active antiretroviral therapy combinations Fine, A. Le Guen &A. Oppenheimer (Eds.), Les troubles
with and without protease inhibitors. Journal de la sexualité (pp. 119-137). Paris: PUF.
of Acquired Immune Deficiency Syndromes,
Villeneuve-Gokalp, C. (1982). Quand vient l’âge
30, 187-190.
des choix. Enquête auprès des jeunes de 18
Le Bras, H. (1983). L’interminable adolescence ou à 25 ans: Emploi, résidence, mariage. Paris:
les ruses de la famille. Le Débat, 25, 116-125. INED.
Leridon, H., & Villeneuve-Gokalp, C. (1994).
Constance et inconstances de la famille.
Biographies familiales des couples et des Artigo recebido em 21/12/2007.
enfants. Paris: INED. Aceito para publicação em 15/08/2008.
304 Paidéia, 2008, 18(40), 289-304

O autor agradece à Profa. Dra. Laura Câmara


Lima, do Departamento de Psicologia do Instituto de
Educação da Universidade Federal do Mato Grosso-
UFMT, que gentilmente traduziu o manuscrito origi-
nal para a língua portuguesa.

Endereço para correspondência:


Alain Giami. Institut National de la Santé et la
Recherche Médicale-Inserm, U 822, 82 Rue du Ge-
neral - Leclerc - Le Kremlin Bicetre, f-94276, France.
E-mail: alain.giami@inserm.fr

Alain Giami é diretor de pesquisa do Institut


National de la Santé et la Recherche Médicale-Inserm,
Paris, França.

Você também pode gostar